tratamento precoce

CPI ouve presidente da ANS sobre denúncias contra Prevent Senior

Relator da CPI suspeita que a Prevent Senior foi blindada pela ANS enquanto executava o protocolo de "tratamento precoce" contra a covid-19

Mário Scheffer / O Estado de S. Paulo

Sem nada de novo para apresentar na sessão desta terça-feira, 5, a CPI da Covid exibiu involuntariamente outro “merchan”, nome que se dá à propaganda comercial feita dentro de um programa de TV pelos próprios apresentadores.

Após o vídeo com o programa motivacional da Havan para funcionários, foi a vez da VTCLog mostrar como funciona o sistema de empacotamento de encomendas da empresa.

“O senhor confirma que foi condenado por corrupção ativa, entre 2004 e 2009, envolvendo dois servidores da extinta Cenadi?”, indagou o senador Renan Calheiros ao depoente, Raimundo Nonato Brasil, na última sessão pública destinada a esmiuçar a corrupção no Ministério da Saúde.

Se confirmada a nova promessa do relator – “não vamos falar grosso na investigação e miar no relatório” – a CPI poderá esclarecer porque o setor de logística do SUS federal tem sido particularmente suscetível à corrupção ao longo dos anos.

A atividade é essencial, foram os aviões e caminhões fretados pela empresa investigada que entregaram, em cada canto do País, 300 milhões de doses de vacinas contra a covid. O volume de dinheiro reservado é alto, há muitos CNPJs e pessoas envolvidas em armazenagem, separação, distribuição e transporte de insumos. Ou seja, uma área de risco para más condutas com fins ilícitos.

A Cenadi mencionada foi a Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos, que funcionou por duas décadas antes de sua discutível troca pela VTCLog, decisão de Ricardo Barros à frente da Saúde.

Caso se confirme, o fato de existir um mesmo personagem envolvido em desvios, passados mais de dez anos, pode ser indício de corrupção estrutural, profundamente arraigada, de permissões dadas aos mesmos grupos em diferentes governos e ocasiões.

A CPI reviu detalhes sobre possíveis subtrações milionárias, embutidas na relação mais recente entre VTCLog e governo federal, que firmaram contrato “multimodal sob demanda” , aditivos sem licitação, sem contar os esqueletos no armário, da época em que Barros era ministro.

Espera-se, contudo, que o rol de indiciados sugeridos pela CPI seja acompanhado de estratégias de mitigação da ladroeira de recursos do SUS daqui em diante.

Brandida por Calheiros, a diferença de decibéis, entre a voz grossa do homem e o miado do gatinho, poderá ser medida com mais precisão na sessão da CPI desta quarta-feira, quando é aguardado o depoimento do diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Rebello.

Em seu novo livro, Catástrofe, fundamental para nossos dias, o britânico Niall Ferguson, após percorrer várias desgraças da humanidade, oferece nova perspectiva sobre responsabilidades na pandemia do coronavírus.

O autor argumenta que existe uma geometria fractal dos desastres. Como um cristal de neve que se amplia, há várias versões menores aninhadas em um evento gigante devastador.

No finalzinho da prorrogação da CPI, eis que surge a ANS, a exibir seu quinhão lúgubre do enterro de 600 mil corpos.

Caso fosse superada a arguição diagonal, o uso do presidente da ANS só para chegar à Prevent Senior, a CPI ampliaria a linha das responsabilizações sobre a catástrofe sanitária.

Num exercício imaginário, o blog Diário da CPI preparou um roteiro de 10 questões dirigidas ao presidente da ANS:

  • Por que a ANS acobertou, durante tanto tempo, a propagação criminosa do “tratamento precoce”, feita não só pela Prevent, mas por outros planos de saúde como Hapvida e Unimed, segundo documentos da CPI?
  • Por que nada foi feito pela ANS quando, em março de 2020, a Prevent ocupava o noticiário ao divulgar dados de óbitos de idosos por covid à revelia da vigilância epidemiológica do SUS?
  • A ANS pretende decretar o regime de direção técnica na Prevent, assegurando a portabilidade dos clientes da empresa para outros planos?
  • ANS irá providenciar a saída de atuais clientes da Prevent Senior, se assim desejarem, para outros planos ou retorno a seus planos anteriores, sem carência, garantindo as mesmas condições de cobertura e preço?
  • A CPI tem dados que indicam a morte de mais de 20 mil pessoas por covid em UPAs no Brasil, devido à falta de leitos para internação. Por que a ANS emitiu posição contrária ao uso público de leitos hospitalares privados durante a pandemia?
  • Por que a ANS desobrigou os planos de saúde, até agosto de 2020, de cobrir a realização de testes para covid?
  • Por que a ANS permitiu reajustes de mensalidades, sem concessões, de março até agosto de 2020, o que levou pessoas e empresas a perderem seus planos nos momentos mais críticos da pandemia?
  • Por que a sabatina no Senado, em julho de 2021, que aprovou Rebello para a ANS, foi antecedida da retirada de sua indicação por Bolsonaro e, mesmo assim, seu nome foi imposto por Ricardo Barros, pelo Progressistas e Centrão?
  • Por que na ANS é tão comum a indicação, por parlamentares e partidos políticos, de diretorias e cargos, ocupados por pessoas sem competências e habilidades na saúde?
  • Por que tantos presidentes e diretores da ANS praticam a “porta giratória”, vêm do setor privado e voltam imediatamente a trabalhar para empresas que antes eram fiscalizadas por eles?

Assista!



Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/blogs/diario-da-cpi/cpi-da-covid-o-que-a-ans-precisa-explicar/


O Globo: Ministério da Saúde encomendou manual para ‘tratamento precoce’

Leandro Prazeres, O Globo

BRASÍLIA — O Ministério da Saúde encomendou, em novembro do ano passado, à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) a produção de um manual para o suposto “tratamento precoce” contra a Covid-19. Por indicação da pasta, o escolhido para fazer o manual foi o médico Ricardo Zimerman, conhecido nas redes sociais por ser a favor do uso de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19. Ele participou da equipe de profissionais que foi mandada para Manaus em janeiro deste ano pelo governo federal, durante o caos na área da Saúde no Amazonas.

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O manual, que nunca foi divulgado, vai na contramão de pesquisas e até da própria Organização Mundial de Saúde (OMS), à qual a Opas é ligada. O texto recomenda abertamente o uso de cloroquina, ivermectina e azitromicina em pacientes com Covid-19. As informações constam de documentos sobre a contratação aos quais o GLOBO teve acesso.

A aposta do governo no chamado “tratamento precoce” é um dos pontos que são alvo da CPI da Covid no Senado. O pedido para a contratação do manual foi feito pelo secretário de Ciência e Tecnologia, Inovações e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, Helio Angotti Neto. No dia 9 de novembro do ano passado, ele enviou um ofício à representante da Opas no Brasil, Socorro Gross, pedindo que a organização fizesse a contratação de uma consultoria técnica para a elaboração de três produtos, entre eles um manual de orientações sobre a aplicação do suposto tratamento precoce para a Covid-19.

A Opas acatou o pedido e deu início à contratação de Ricardo Zimerman. O valor do contrato com o médico é de R$ 30 mil. Zimerman é conhecido por suas postagens favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro, sua ligação com parlamentares governistas, e por defender veementemente o uso de drogas como cloroquina contra a Covid-19.

Apesar de ter sido aceita pela cúpula da Opas, a contratação do médico causou desconforto entre funcionários da entidade. O manual foi entregue tanto à Opas quanto ao Ministério da Saúde em janeiro deste ano. Com 87 páginas, o manual produzido pelo médico recomenda abertamente o uso de cloroquina e hidroxicloroquina e também defende o uso da ivermectina e azitromicina no “tratamento precoce” da Covid-19. Os quatro medicamentos fazem parte do chamado “kit covid” enviado pelo Ministério da Saúde a estados e municípios. Em seu manual, Zimerman propõe uma série de combinações de drogas para o “tratamento precoce” da Covid-19. Há casos em que ele recomenda o uso de uma mistura contendo sulfato de hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, dutasterida e bromexina.

Zimerman também recomenda o uso de um método de diagnóstico clínico baseado em uma pontuação para determinar se um paciente tem ou não Covid-19. Normalmente, o diagnóstico para a doença só é confirmado por meio de exames como o sorológico ou o RT-PCR.

O método defendido por Zimerman é o mesmo utilizado no aplicativo TrateCov, que chegou a ser liberado pelo Ministério da Saúde em janeiro deste ano, mas foi retirado do ar após críticas de entidades médicas. O aplicativo fazia recomendações sobre medicamentos a serem tomados em caso de sintomas de Covid-19. Atualmente, o Ministério da Saúde é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) em razão do TrateCov.

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A contratação do médico pró-cloroquina pela Opas aconteceu a partir de novembro. Na época, porém, as evidências científicas divulgadas pela OMS eram contra o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina no tratamento da Covid-19. Em 30 de outubro, a própria Opas divulgou uma revisão de estudos realizados em todo o mundo que apontava que o uso de cloroquina e hidroxicloroquina não mostrava benefícios na redução das taxas de mortalidade, tempo de internação ou necessidade de intubação.

Procurado, o Ministério da Saúde disse que “procede constante levantamento de evidências científicas” e que pode contar com o “aporte de consultores externos ad hoc para eventuais avaliações de expertise técnica”. Quanto ao critério de escolha de Zimerman, o ministério não se manifestou. A Opas, por sua vez, disse que se “resguarda o direito de manter a privacidade das pessoas contratadas para fazer parte de sua equipe e daquelas que prestam serviços pontuais”. Zimerman foi procurado por telefone e por mensagens de texto, mas, até o fechamento desta edição, não respondeu aos contatos e bloqueou o contato com seu celular.

Fonte:

O Globo

https://oglobo.globo.com/brasil/ministerio-da-saude-encomendou-manual-para-tratamento-precoce-25020918


O Estado de S. Paulo: Grupo da OMS publica 'forte recomendação' contra uso de hidroxicloroquina na prevenção à covid-19

Painel de especialistas divulga posição nesta segunda como parte de nova diretriz que analisa eficácia de medicamentos. Estudos não mostraram efeitos sobre morte ou internações e apontam riscos de efeitos adversos

Marco Antônio Carvalho, O Estado de S.Paulo

Um painel de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou nesta segunda-feira, 1º, uma recomendação contrária ao uso da hidroxicloroquina como método de prevenção para a covid-19. Eles dizem que os estudos não mostraram efeitos significativos sobre mortes ou internações e apontaram riscos de efeitos adversos provocados pela substância. O presidente Jair Bolsonaro defendeu o uso do remédio ao longo da pandemia, embora várias pesquisas tenham mostrado que ele não tem eficácia contra o vírus. 

A nova recomendação é de autoria do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes (GDG, na sigla em inglês) da OMS. Os especialistas dizem que a “forte recomendação” é baseada em evidências de alta certeza obtidas em seis estudos randomizados e controlados com 6 mil participantes.

“A evidência de alta certeza mostrou que a hidroxicloroquina não teve efeito significativo em mortes e admissões em hospitais, enquanto evidência de certeza moderada mostrou que a hidroxicloroquina não teve efeito significativo sobre infecções confirmadas em laboratório e provavelmente aumenta o risco de efeitos adversos”, declarou a OMS em nota à imprensa.

O grupo, diz a organização, considera que a droga não tem mais prioridade para pesquisa e que os recursos devem ser usados para avaliar outras drogas mais promissoras na prevenção contra o vírus. “Essa diretriz se aplica a todos que não têm covid-19, independentemente da exposição a uma pessoa com a infecção”, reforçou.

A recomendação desta segunda é a primeira versão de uma diretriz voltada a medicamentos capazes de prevenir a doença. O objetivo da OMS é promover orientação confiável sobre a gestão da covid e ajudar médicos a tomarem melhores decisões para seus pacientes. A diretriz poderá ser atualizada diante de evidências. Novas recomendações serão acrescentadas no momento em que estudos de relevância se tornarem disponíveis.

A cloroquina e a hidroxicloroquina integram orientação oficial emitida pelo Ministério da Saúde no ano passado, com recomendação voltada a casos leves, moderados e graves. Neste ano, um aplicativo da pasta chegou a sugerir os remédios até a bebês, e foi retirado do ar. O Estadão mostrou que as prefeituras que receberam a doação do ministério agora querem devolver os medicamentos sem eficácia.

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