SERGIO BESSERMAN
Entrevista com Dina Lida Kinoshita
Confira a entrevista com Dina Lida Kinoshita para o evento virtual “Os judeus comunistas na história brasileira”, realizado ontem (29/7) pela Fundação Asatrojildo Pereira (FAP) e mediado pelo economista Sérgio Besserman Vianna. O debate virtual faz parte da série de eventos on-line da Fundação em pré-celebração do centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e teve transmissão em tempo real no portal da FAP, na página da entidade no Facebook e no canal dela no Youtube.
Sérgio Besserman: Narrativa do comunismo caiu com o Muro de Berlim
Economista vai mediar debate em pré-celebração ao centenário do PCB, no dia 29 de julho, a partir das 19h
Cleomar Almeida, da equipe da FAP
O economista Sérgio Besserman Vianna afirma que a narrativa do comunismo do século 20 desabou com o Muro de Berlim, em 1989, e pertence ao passado da história da humanidade. “Essa narrativa, estruturalmente, morreu de morte morrida, foi enterrada com estaca de madeira”, afirma ele, neto de judeus comunistas, ao portal da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília
Confira o vídeo:
Besserman vai mediar debate virtual sobre judeus comunistas na história brasileira, na quinta-feira (29/7), a partir das 19 horas, como parte da série de eventos on-line da FAP em pré-celebração do centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O evento terá transmissão em tempo real no portal da FAP, na página da entidade no Facebook e no canal dela no Youtube.
“Judeus que vieram para o Brasil antes da ascensão de Hitler ao nazismo, como meu avô e minha avó, tiveram uma experiência no leste europeu que assistiram a episódios revolucionários”, afirma. Ele é presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O economista lembra que alguns judeus anteciparam a vinda para o Brasil por perceberem que “o clima era muito desfavorável, com controle horroroso, perseguição, muitas mortes na Rússia do final do século 19, e nas primeiras décadas do século 20”.
“Alguns decidiram imigrar. Meu avô, por exemplo, antevendo os acontecimentos. Meu avô era polonês, numa parte que atualmente é Rússia, e minha avó era alemã, da parte que atualmente é Polônia”, relata o economista. No Brasil, segundo estimativas do IBGE, cerca de 120 mil pessoas se identificam como judeus.
Além dos partidos comunistas daquela região, havia também partido de judeus de esquerda, mas que não aderiam ao leninismo propriamente e não tinha diálogo com o sionismo. “Esses judeus, quando aqui chegam por São Paulo e Rio de Janeiro, vários deles trouxeram um lançamento dessa tradição de esquerda e aqui se organizaram”, lembra.
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“Mais ganancioso”
Besserman também observou que havia narrativa de um sistema estatal, “voltado para maximizar a acumulação da mesma forma do mais ganancioso dos capitalismos, mas com a única peculiaridade de ser estatal”.
“Ela também morreu, ficou moribunda, porque todas as experiências, sem nenhuma exceção, daquele socialismo real deram origem a ditaduras horrorosas e totalitarismos que, às vezes, foram responsáveis pela morte de dezenas de milhões de pessoas”, ressalta o economista.
O chamado socialismo real, segundo Besserman, foi incapaz de competir com o sistema de mercado, ao longo das décadas de 1970 e 1980, “terminando por desaparecer completamente como narrativa não apenas sobre a história da humanidade, mas como narrativa sequer de esquerda, porque não se pode, no século 21, chamar regimes antidemocráticos e pouco progressistas, do ponto de vista da cultura, de esquerda”. “Não era esquerda, era engano”.
Judeus e Marxismo
O estudo Judeus e Marxismo no Brasil: 1922 – 1960, do professor adjunto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Sydenham Lourenço Neto, mostra que, após a primeira guerra, sob o impacto da revolução russa, formaram-se no Brasil distintos grupos comunistas, reunindo principalmente militantes sindicais e intelectuais.
“Em 1921, na cidade do Rio de Janeiro, foi formado um grupo político, visando constituir um partido comunista de acordo com as 21 condições de adesão à III Internacional. No ano seguinte, este grupo fundou o PCB, em um congresso clandestino realizado na cidade de Niterói-RJ. Entre os fundadores destacavam-se Astrojildo Pereira e Otávio Brandão. Dois intelectuais de origem pequeno-burguesa”, escreveu Lourenço.
O pesquisador conta que, ainda nos primórdios da história do PCB, ingressaram no partido, alcançando rapidamente posto na direção do mesmo, indivíduos de origem judaica como Leôncio Basbaum, Mário Schenberg, Mauricio Grabois, José Gutman e um pouco mais tarde Jacob Gorender, Salomão Malina e Moises Vinhas.
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“Especialmente durante o episódio que ficou conhecido como a intentona comunista, a presença de judeus foi bastante expressiva. Estiveram envolvidos na preparação da rebelião, Olga Benário, Nute e Liuba Goifam, Guralski e Arthur Ernst Ewert, militantes que foram destacados pelo movimento comunista internacional para apoiar a ação liderada por Luis Carlos Prestes”, observou o pesquisador.
De acordo com a pesquisa, a prisão de alguns desses militantes ajudou a fomentar o mito do complô judaico bolchevique. O estudo atesta ser bastante complexo obter o número exato de militantes do PCB que tinham origem judaica para as duas primeiras décadas de vida desse partido.
“Em primeiro lugar, porque na maior parte desse período o PCB esteve na clandestinidade e evitava guardar registros precisos e centralizados com a identidade de seus militantes, em segundo lugar porque esses registros, quando existem, raramente fazem uma menção explicita a condição de judeu”, diz a pesquisa.
Para o período posterior este dado é mais facilmente encontrável e já existe pelo menos um estudo completo sobre a presença de judeus em uma seção estadual do PCB.
“Nesse estudo, verificamos que entre os dirigentes do PCB do Paraná, entre os anos de 1945 e 1964, os judeus declarados somavam dez por cento do total. O dado é ainda mais revelador se lembrarmos que a maioria (70%) se declarava ateus, e os judeus formavam o maior grupo religioso, bem superior aos que se declaravam católicos”, diz a pesquisa.
Webinar da série sobre pré-celebração do centenário do PCB
Os judeus comunistas na história brasileira
Data: 29/7/2021
Transmissão: a partir das 19 horas, no portal da Fundação Astrojildo Pereira, página da entidade no Facebook e canal no Youtube
Realização: Fundação Astrojildo Pereira (FAP)
‘Quem mais vai perder é o povo pobre’, diz ex-presidente do IBGE sobre atraso do Censo
Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP
Ex-diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o economista Sergio Besserman critica a suspensão do Censo nacional e relaciona essa medida com o que chama de “negacionismo do atual governo”. Ele publicou sua análise na revista mensal Política Democrática Online de maio (edição 31).
Produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), vinculada ao Cidadania, a publicação disponibiliza todos os seus conteúdos, gratuitamente, para os internautas, no portal da entidade.
Veja a versão flip da 31ª edição da Política Democrática Online: maio de 2021
Na última sexta-feira (14/5), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por maioria de votos, que o governo federal está obrigado a tomar as medidas necessárias para realizar o Censo Demográfico no ano que vem. “O Brasil já vive sob apagão estatístico há bastante tempo”, observa Besserman. “Quem mais vai perder é o povo pobre”, alerta, sobre a demora do censo.
Em seu artigo publicado na revista mensal da FAP, o economista lembra que a Comissão de Estatística da Organização das Nações Unidas recomenda o Censo decenal, de preferência, nos anos de final zero. “O objetivo é comparar todos os censos entre si. Países que têm registros administrativos ruins, segundo a ONU, devem realizar, como melhor prática estatística, um minicenso entre os dois censos decenais”, diz.
No Brasil, conforme ele explica, o censo era chamado de “contagem populacional”, mas o levantamento também fazia outras perguntas. “Por razões de economia fiscal, não fazemos esse censo intermediário desde os anos 90. Os registros administrativos brasileiros são ruins”, analisa. Ele também é coordenador estratégico do Climate Reality Project no Brasil.
http://fundacaoastrojildo.com.br/revista-pd31/
No governo federal, de acordo com o autor do artigo, há alguns poucos melhores, como o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, e dados relacionados ao Sistema Único de Saúde (SUS). “Mas a maior parte é inexistente ou ruim. Nos estados e municípios, a mesma coisa”, lamenta, na revista Política Democrática Online.
Segundo Besserman, a decisão de suspender o censo sem sequer anunciar, imediatamente, quando ele será realizado, “foi pautada pelo negacionismo do atual governo, seu desprezo pela informação e pelo conhecimento”. “Vamos perder muito mais dinheiro com esse adiamento do que aquilo o que será economizado”, salienta.
Veja todos os autores da 31ª edição da revista Política Democrática Online
Muitos países, como Canadá e Estados Unidos, aplicam o Censo a distância – seja pela internet seja pelos correios. O economista diz que a combinação do censo presencial com melhorias nas informações de registros administrativos e a conexão desses tipos de metodologias remotas deve ser prioridade, e o IBGE está trilhando esse caminho com excelência, como sempre.
“Afinal, a tecnologia existe e pode muito bem ser integrada com o trabalho dos recenseadores, que serão sempre importantíssimos em um país tão desigual e de proporções continentais como o Brasil”, assevera.
A íntegra da análise de Besserman está disponível, no portal da FAP, para leitura na versão flip da revista Política Democrática Online, que também tem artigos sobre política, economia, tecnologia e cultura.
O diretor-geral da FAP, sociólogo Caetano Araújo, o escritor Francisco Almeida e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques compõem o conselho editorial da revista. O diretor da publicação é o embaixador aposentado André Amado.Leia também:
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RPD || Sergio Besserman: Censo 2021 – Vamos perder mais dinheiro do que será economizado agora
O governo federal anunciou que o Censo 2021, que estava previsto para 2020, será novamente suspenso; desta vez, por falta de recursos no orçamento deste ano. Não há prazo para um novo levantamento. Os prejuízos para implementação de políticas públicas são incalculáveis, especialmente para a população mais pobre.
De certo modo, o Brasil já vive sob apagão estatístico há bastante tempo. A Comissão de Estatística da Organização das Nações Unidas recomenda o censo decenal, de preferência, nos anos de final zero. O objetivo é comparar todos os censos entre si. Países que têm registros administrativos ruins, segundo a ONU, devem realizar, como melhor prática estatística, um minicenso entre os dois censos decenais.
No Brasil, chamávamos de “contagem populacional”, mas o levantamento também fazia outras perguntas. Por razões de economia fiscal, não fazemos esse censo intermediário desde os anos 90. Os registros administrativos brasileiros são ruins. No governo federal, há alguns um pouco melhores, como o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, e dados relacionados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Mas a maior parte é inexistente ou ruim. Nos estados e municípios, a mesma coisa.
Nós vivemos no século da informação e do conhecimento. Ter dados sólidos sobre a real situação dos brasileiros é importante para a implementação de políticas públicas eficazes. O Brasil é um país dinâmico, muda muito, especialmente desde a última década. Perceba-se que 10 anos já é um tempo bastante longo. Áreas fundamentais, como transporte urbano, saúde, educação, segurança pública, sofrem com o atraso no Censo Demográfico por mais de uma década. Prejudica, inclusive, todas as outras pesquisas, pois diversos institutos do setor público e privado utilizam esses dados. Todas as pesquisas perdem em qualidade em razão da ausência de informação censitária atualizada.
Outro ponto a se destacar é que a grande maioria dos municípios depende de Estados e do governo federal para fechar as contas. Esta suspensão afeta diretamente a população mais pobre. Para 80% dos municípios do Brasil, a principal fonte de receita é o Fundo de Participação (FPM). O critério utilizado para a distribuição desses recursos é a população. Anualmente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) faz uma estimativa da população nacional, por Estados e municípios. Com esse longo espaçamento no tempo, aos poucos, o fundo de participação vai deixando de cumprir um dos objetivos, que é justamente combater a desigualdade. As estimativas não conseguem capturar situações de mudanças dinâmicas em diversos municípios.
Com os dados do censo, teríamos a oportunidade de mapear informações sobre a miséria e a extrema pobreza. Esse, talvez, seja o impacto mais danoso do ponto de vista social. Não teremos as informações e o conhecimento necessário para fazer esse trabalho tão indispensável de reconstrução econômica, social e política do Brasil, que será preciso a sociedade conseguir após 2022.
Destaco, ainda, que a principal conquista histórica do Censo Demográfico foi a consolidação do IBGE como órgão de Estado. Ele foi uma grande conquista democrática. Atravessou ditaduras, sempre mantendo sua característica de órgão de Estado, sem jamais ter sofrido qualquer tipo de intervenção, e sendo, principalmente, reconhecido quanto ao princípio do sigilo das informações obtidas.
Entendo que a decisão de adiar o censo sem sequer anunciar, imediatamente, quando ele seria realizado, foi pautada pelo negacionismo do atual governo, seu desprezo pela informação e pelo conhecimento. Vamos perder muito mais dinheiro com esse adiamento do que aquilo o que será economizado. E quem mais vai perder é o povo pobre.
Muitos países, como Canadá e Estados Unidos, aplicam o Censo a distância – seja pela internet ou mesmo pelos correios. A combinação do censo presencial com melhorias nas informações de registros administrativos e a conexão desses tipos de metodologias remotas deve ser prioridade, e o IBGE está trilhando esse caminho com excelência, como sempre. Afinal, a tecnologia existe e pode muito bem ser integrada com o trabalho dos recenseadores, que serão sempre importantíssimos em um país tão desigual e de proporções continentais como o Brasil.
*Sergio Besserman é economista, é professor do Departamento de Economia da PUC e coordenador estratégico do Climate Reality Project no Brasil. Ex-diretor do BNDES, ex-presidente do IBGE, do Instituto Pereira Passos, e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RJ).
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de maio (31ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
Ex-presidente do IBGE avalia os prejuízos da suspensão do Censo 2021
O governo federal anunciou que o Censo 2021 será suspenso por falta de recursos no orçamento previsto para este ano. Na última quarta-feira (28), o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello determinou que a União tome as providências para realização do Censo demográfico. Porém, não há prazo para um novo levantamento.
Ouça o podcast!
Com o objetivo de analisar as consequências para o futuro da nação com o adiamento da coleta de dados, o podcast da Fundação Astrojildo Pereira conversa com Sérgio Besserman, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
O risco de apagão estatístico no Brasil, os prejuízos para implementação de políticas públicas e os impactos para a população mais pobre estão entre os principais assuntos abordados. O episódio conta com áudios do Jornal da Globo e da Rádio Bandeirantes.
O Rádio FAP é publicado semanalmente, às sextas-feiras, em diversas plataformas de streaming como Spotify, Google Podcasts, Youtube, Ancora, RadioPublic e Pocket Casts. O programa tem a produção e apresentação do jornalista João Rodrigues. A edição-executiva é de Renato Ferraz.