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Quem são os (poucos) jogadores progressistas na lista de convocados de Tite para a Copa?
Felipe Mendes*, Brasil de Fato
Passadas as eleições, o noticiário começa, aos poucos, a dar espaço a outros assuntos de maior ou menor relevância. Entre eles, a Copa do Mundo do Catar, que começa em menos de duas semanas. Nesta segunda-feira (7) o treinador Tite anunciou a lista de convocados da Seleção Brasileira. E, como política e futebol se discutem, o Brasil de Fato buscou juntar as duas coisas: quem são os jogadores progressistas chamados para a Copa?
Uma certeza: são poucos. A minoria entre os 26 convocados.
Entre eles, o mais engajado provavelmente é o atacante Richarlison, atacante do Tottenham, clube da Inglaterra. Campeão olímpico, ele chega à Copa com moral. E quando o assunto é política, ele marca posição.
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Capixaba de Nova Venécia, Richarlison tem história de vida comum a muitos jogadores: infância pobre, ascensão social rápida por causa da bola. Sem esquecer do passado, ele procura colaborar em diversas causas sociais e políticas.
"Cara, eu já passei muito perrengue na minha vida. Eu acho que é só uma questão de se colocar no lugar de quem tá passando por uma situação difícil, ter empatia. E quem sou eu pra medir a dor dos outros? Mas acredito que, no momento, o que mais tem me chocado são os casos de racismo, além da causa ambiental", disse, em entrevista recente ao portal UOL.
No auge da pandemia de covid-19, por exemplo, o jogador se aliou à Universidade de São Paulo (USP) e ajudou a arrecadar recursos para desenvolvimento de pesquisas científicas.
"Quando a pandemia começou a gente tinha pouca informação e não sabia muito bem o que estava acontecendo. Eu fiquei muito inquieto preso dentro de casa sem saber direito o que fazer. Aí junto com meu staff resolvi concentrar as ações em um só lugar e na divulgação de informação correta e útil para o povo, usando minhas redes sociais e as minhas aparições na imprensa também", contou ao UOL.
Na mesma entrevista, Richarlison deixou claras algumas de suas referências. Atletas como o piloto de fórmula 1 britânico Lewis Hamilton e o jogador de basquete estadounidense LeBron James, que também se dedicam a causas sociais e políticas.
Hora certa para votar
A entrevista que Richarlison deu ao UOL, citada neste texto, tem o título "Fora da curva". Nada mais justo. Posicionamentos progressistas entre jogadores brasileiros são minoria.
Entre os 26 convocados por Tite, são raros os que ao menos deixam escapar alguma tendência à esquerda.
O meia Everton Ribeiro, jogador do Flamengo, é discreto de maneira geral. Na família, quem costuma se expressar bastante nas redes sociais é a esposa, a publicitária Marília Nery, com quem é casado há 15 anos.
Em vários momentos, Nery já deixou claro o posicionamento contra o presidente Jair Bolsonaro (PL): "Gente, eu nunca escondi que sou contra esse governo desde que vi a primeira entrevista do atual presidente no extinto CQC", postou no Twitter em 2020. Se não confirma o apoio às posições políticas da esposa, o jogador ao menos não foge de estar ao lado dela em algumas manifestações.
No último dia 30, dia da votação em segundo turno que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o terceiro mandato à presidência, o casal apareceu junto em imagem no Instagram comemorando o terceiro título flamenguista na Taça Libertadores. Ela fez questão de dizer que precisavam "correr para votar", e deixou registrado o horário: "10:03". Os torcedores progressistas mais atentos identificaram (ou desejaram ver) uma referência ao 13 de Lula.
No mesmo dia, Ribeiro foi um dos poucos jogadores do Flamengo que não posou ao lado de Bolsonaro, que foi à base aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, recepcionar o time após a conquista da Libertadores. O jogo decisivo, contra o Athletico-PR, foi realizado no Equador.
Esposa de Everton Ribeiro, Marília Nery posa com o jogador e diz que quer "correr para votar" / Reprodução/Instagram
Se os (possíveis) votos em Lula entre os jogadores foram envergonhados, muitos atletas bolsonaristas não tiveram o mesmo pudor. Basta falar de Neymar, que se engajou na campanha à reeleição do hoje candidato derrotado, tendo feito postagens com dancinhas e participado de lives com o ainda presidente.
Outros jogadores da seleção, como o zagueiro Thiago Silva, também declararam voto no candidato que viria a ser derrotado. Companheiro de time de Everton Ribeiro, o atacante Pedro, também chamado à Copa, foi um dos jogadores do Flamengo que embarcaram com Bolsonaro em um passeio de helicóptero pelos céus do Rio de Janeiro após a chegada ao Brasil do elenco campeão da Libertadores no dia do segundo turno da eleição.
E Tite?
O treinador da Seleção, que vai para sua segunda Copa, já falou mais de uma vez que não pretende se encontrar com Bolsonaro "nem se ganhar, nem se perder" o Mundial. O treinador afirma que não gosta de misturar futebol e política, e procura postrar postura isenta.
Uma imagem gravada após a final da Copa América de 2019, porém, deixou alguns indícios. O presidente tentou dar um abraço efusivo no treinador, que recebia premiação pela conquista no estádio do Maracanã. Tite permitiu apenas um cumprimento protocolar, que contrastou com o caloroso abraço que teve na sequência com o então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo.
Pode não dizer nada, mas também pode dizer alguma coisa.
Confira abaixo a lista completa de jogadores brasileiros convocados para a Copa do Mundo do Catar:
GOLEIROS
Alisson - Liverpool (ING)
Ederson - Manchester City (ING)
Weverton – Palmeiras (BRA)
LATERAIS
Alex Sandro - Juventus (ITA)
Alex Telles - Sevilla (ESP)
Dani Alves – Pumas (MEX)
Danilo - Juventus (ITA)
ZAGUEIROS
Bremer - Juventus (ITA)
Éder Militão - Real Madrid (ESP)
Marquinhos - Paris Saint Germain (FRA)
Thiago Silva - Chelsea (ING)
MEIAS
Bruno Guimarães - Newcastle (ING)
Casemiro - Manchester United (ING)
Everton Ribeiro - Flamengo (BRA)
Fabinho - Liverpool (ING)
Fred - Manchester United (ING)
Lucas Paquetá - West Ham United (ING)
ATACANTES
Antony - Manchester United (ING)
Gabriel Jesus – Arsenal (ING)
Gabriel Martinelli – Arsenal (ING)
Neymar Jr. - Paris Saint Germain (FRA)
Pedro – Flamengo (BRA)
Raphinha - Barcelona (ESP)
Richarlison - Tottenham (ING)
Rodrygo - Real Madrid (ESP)
Vinicius Jr. - Real Madrid (ESP)
*Texto publicado originalmente no site Brasil de Fato
O Estado de S. Paulo: 'Maracanazo', ferida que doeu no Brasil durante décadas, completa 70 anos
Derrota na decisão da Copa de 1950 ainda é lembrada como uma das mais sofridas da história do futebol brasileiro
Pelé conta que quando o Uruguai marcou o gol da vitória na Copa do Mundo de 1950 contra o Brasil, seu pai chorou e o menino, com apenas 9 anos de idade, prometeu que um dia conquistaria um Mundial. Em 16 de julho de 1950, o Uruguai venceu sua segunda copa ao derrotar o Brasil de virada por 2 a 1, com gols na reta final de Schiaffino e Ghiggia, no Maracanã, o gigantesco estádio construído no Rio de Janeiro especialmente para o torneio.
'Maracanazo' teve um impacto muito maior do que outras decepções do futebol, como a derrota do Brasil na final da Copa do Mundo de 1998 contra a França ou o 7 a 1 que a Alemanha lhe aplicou em pleno Mineirão, em Belo Horizonte, na semifinal da Copa de 2014.
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Para o sociólogo Ronaldo George Helal, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o "trauma" é explicado em grande parte porque o Brasil era, em 1950, um país que procurava se posicionar no mundo, numa época de consolidação do Estado-nação.
O resultado dessa partida era vivido então como "a vitória ou derrota de um projeto da nação brasileira", baseado na história de um país de harmonia racial, unido em torno da bola, disse Helal em entrevista à AFP.
Veja como o Estadão contou o trágico jogo para o futebol brasileiro
"Até a década de 1930 não tínhamos aqui no Brasil uma ideia do que era a nação brasileira", e esta noção foi elaborada em grande medida pelo sociólogo Gilberto Freyre, que em sua obra "Casa Grande e Senzala", de 1933, "traz a miscigenação como um atributo de valor positivo para o brasileiro" e que segundo autores que surgiram depois encontrou um claro expoente nas chuteiras do futebol.
Essa idealização já havia sido questionada em 1950 pelo Projeto Unesco, que pretendia entender como funcionava uma "democracia racial, porque aqui não tinha segregação sistemática das raças como tinha nos Estados Unidos ou na África do Sul". Mas "descobrimos que havia sim racismo, um racismo velado, com a questão do empobrecimento".
A pena eterna do goleiro Barbosa
Para a opinião pública nacional, o grande culpado do Maracanazo foi o goleiro negro Moacir Barbosa. Essa cruel 'condenação' cresceu ao longo dos anos e pesou sobre o próprio jogador, apesar de ele continuar atuando em grandes clubes.
"A pena máxima no Brasil é de 30 anos, e eu estou há 40 anos pagando" por essa derrota, disse Barbosa nos anos 90. Para Helal, o trauma se arrastou até a conquista do tricampeonato, na Copa do México-1970, que foi vivida "como uma vitória da nação brasileira". A pena máxima no Brasil é de 30 anos, e eu estou há 40 anos pagandoBarbosa, goleiro na Copa de 50, em entrevista nos anos 90
E com o passar do tempo, a sociedade brasileira entendeu que "os jogos da seleção são vitórias ou derrotas esportivas", incluindo o 7 a 1 de 2014 em casa. "Em 1950 foi uma tragédia, em 2014 um vexame, que virou meme, porque as pessoas não deram tanta importância", disse Helal, acrescentando que isso mostra "uma maior maturidade da sociedade".
Além disso, os torcedores tendem a se identificar mais com seus clubes do que com a seleção, segundo ele. "Eu sou Flamengo, e se me perguntam se prefiro que o Flamengo ganhe a Libertadores ou a seleção conquiste a Copa do Mundo, respondo sem hesitar: prefiro que o Flamengo ganhe a Libertadores", confessa.
Quanto a Pelé, ele conseguiu cumprir rapidamente a promessa que fez para seu pai. Apenas oito anos depois, o jovem prodígio conquistou a Copa do Mundo na Suécia em 1958, a primeira das cinco erguidas até hoje.
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