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FAP e Cidadania formam 289 líderes em gestão pública no país

Curso on-line Gestão Cidadã continua disponível para os interessados, com aulas na plataforma Somos Cidadania

Cleomar Almeida, da equipe da FAP

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, disse neste sábado (31/7), durante a formatura do curso Gestão Cidadã, que a formação política dos primeiros 289 líderes de todos os estados e o Distrito Federal atesta a “responsabilidade na utilização dos recursos públicos” e o compromisso “fundamental para o processo democrático brasileiro”. O coordenador do curso, ex-prefeito de Vitória (ES) Luciano Rezende, destacou que essa é mais uma etapa para que o país avance, já que, segundo ele, “o Brasil precisa de líderes políticos capacitados”.





Realizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em parceria com o Cidadania, o curso teve aulas telepresenciais e 1.236 inscritos até o momento. Desse total, 70% são filiados ao partido e 30%, simpatizantes. Além disso, a capacitação de líderes também teve 61% de mulheres, o que, segundo a organização, mostra o compromisso com a paridade de gênero, com o potencial aumento delas na política. Os certificados serão enviados a todos os demais inscritos, assim que concluírem a capacitação.

O curso, que recebeu nota 9,4 dos alunos, continua disponível, para os interessados, na plataforma Somos Cidadania, com acesso totalmente on-line e gratuito. Os estados que tiveram o maior número de inscritos foram Roraima (145), Minas Gerais (104), Rio de Janeiro (99) e Paraná (74).





Coletividade
De acordo com o presidente nacional do Cidadania, o curso comprova que o partido e a FAP estão cumprindo com o seu dever no uso de recursos públicos. “A legislação definiu que os partidos deveriam ter organização, fundação ou instituto que fosse dedicado à formação profissional, política, de liderança e gestão pública, como este que estamos fazendo para justificar, concretamente, essa atuação recebendo recursos da coletividade”, observou.

O curso, na prática, segundo Freire, além de formar líderes, mostra a preocupação da FAP e do Cidadania não apenas com filiados ao partido, mas também com todos os interessados que queiram ter formação e qualificação e se prepararem para suas atividades. “É o cumprimento da nossa função. Nossos objetivos estão sendo atendidos. Quero parabenizar a todos que participaram”, ressaltou o presidente nacional da sigla.

O coordenador do curso, que também é presidente do Conselho Curador da FAP, destacou que a primeira fase do curso, com os alunos já formados, “foi um sucesso total”. Segundo ele, a participação de pessoas que também não são filiadas ao Cidadania comprova “o caráter amplo e cívico” da formação de líderes.

Nova política X Boa política
Rezende aproveitou para explicar a diferença de nova política, que, para ele, carrega dois preconceitos, e boa política, na qual se baseia o curso de formação da FAP em parceria com o Cidadania. “O termo nova política não define, com precisão, o que o Brasil precisa, porque traz dois preconceitos embutidos. O primeiro é o de que tudo que é novo é bom.  O segundo é o de que tudo que é velho é ruim”, comparou.

“Mas estamos cansados de ver lideranças novas que decepcionam, e, por outro lado, há governantes com longas carreiras que nos orgulham. A boa política se faz com comprometimento. Sem ele, não tem como fazer algum projeto que envolva decisões importantes”, destacou o ex-prefeito de Vitória por dois mandatos e que terminou o governo com alta popularidade. Ele acrescentou que “a capacitação é um processo permanente e contínuo”.



Diretor-geral da FAP, sociólogo e consultor do Senado, Caetano Araújo parabenizou todos os concluintes do curso, assim como o fez os demais integrantes da mesa, oficialmente. “Concluir um curso desta qualidade e extensão é um feito que deve ser bastante apreciado e valorizado”, reconheceu ele, ressaltando que um dos maiores compromissos da fundação é fortalecer a trajetória de educação a distância.

“Grande parte do sucesso deste curso se deve à experiência acumulada em gestões anteriores. O alto nível alcançado se deve, além disso, à coordenação competente do Luciano, à qualidade dos professores e ao intenso trabalho de toda a equipe da FAP envolvida neste projeto. Nossos cursos não vão parar por aqui. Neste próximo semestre, vamos fazer novos cursos e, no próximo ano, mais ainda”, adiantou.

Resultados
Idealizador do projeto pedagógico do curso, advogado, doutor em Direito do Estado e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Marco Marrafon, que também é diretor executivo da FAP, disse que, com a formação de líderes, o curso cumpre seu objetivo de atender à crescente demanda por resultados na gestão pública.

“Especialmente em tempos tão obscuros e difíceis, a principal demanda da sociedade hoje é por resultados. Os arroubos autoritários estão destruindo nossa democracia. Também é preciso que as instituições cumpram o seu dever de funcionar melhor para o bom aprimoramento da democracia”, disse Marrafon. “Com esta formatura, o Cidadania mostra que, para além da polarização, está preocupado em melhorar a vida das pessoas, concretamente. A democracia e as instituições precisam funcionar”, asseverou.





Em vídeo enviado aos concluintes, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), uma das maiores críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), parabenizou todos os envolvidos no curso e, principalmente, as novas lideranças. “Reconheço muito a importância desse curso que está sendo destinado à capacitação de futuras lideranças, com a finalidade de aprimorar o padrão da administração pública”, acentuou.

A parlamentar destacou, especialmente, o índice de participação de mulheres na formação a distância. “As dificuldades que a mulher enfrenta na política acabam sendo um combustível para mim. Para todas nós, aliás. Não desista, persista, o lugar da mulher também é na política. O lugar da mulher é onde ela quiser”, afirmou, antes de parabenizar os homens que também concluíram o curso.

Continuidade
Ex-diretor-geral da FAP, jornalista e colunista político, Luiz Carlos Azedo demonstrou muito orgulho e felicidade ao dizer que o curso é a continuidade de uma política de formação iniciada na gestão anterior à dele, que terminou em 2020. Durante a gestão de Azedo, a fundação realizou os cursos Jornada da Cidadania e Jornada da Vitória, com participação de alunos de todo o país.


Passo a passo para sua inscrição no curso Gestão Cidadã





Curso Gestão Cidadã: Fundação celebra conclusão da primeira turma

Evento online contou com a participação do presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire; o presidente do Conselho Curador da FAP e coordenador do curso Gestão Cidadã, Luciano Rezende e do diretor-geral da FAP, Caetano Araújo

A solenidade de conclusão da primeira turma do curso Gestão Cidadã foi realizada por meio do aplicativo Zoom a partir das 11h deste sábado (31/07), com transmissão na página da FAP no Facebook e no canal da entidade no Youtube.

Além de alunos dos 26 estados e do Distrito Federal, participaram do evento virtual o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire; o presidente do Conselho Curador da FAP e coordenador do curso Gestão Cidadã, Luciano Rezende; o diretor-geral da FAP, Caetano Araújo; e Marco Marrafon, um dos professores mais bem avaliados pelos estudantes.

A formatura On-line também teve a participação especial da Senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que pabenizou os formandos por meio de uma mensagem em vídeo (veja no link abaixo).

TV FAP | Homenagem da senadora Eliziane Gama aos concluintes do curso Gestão Cidadã

Cerca de 300 alunos já concluíram o curso Gestão Cidadã, destinado à formação política on-line e gratuita de novos líderes, prefeitos, vereadores e demais gestores filiados ao Cidadania, segundo levantamento preliminar. Confira, no link abaixo, alguns depoimentos de alunos do curso.

TV FAP | Depoimentos de concluintes da 1ª turma do curso Gestão Cidadã

A capacitação continua disponível na plataforma de educação a distância Somos Cidadania, lançada em maio.

Confira, abaixo, o vídeo da transmissão da cerimônia virtual de formatura da primeira turma do curso.




Para mais informações sobre o curso, uma equipe está à disposição para sanar dúvidas ou repassar mais informações por meio do WhatsApp (61 9 8279-3005). (Clique no número para abrir o WhatsApp Web).

TV FAP | Homenagem da senadora Eliziane Gama aos concluintes do curso Gestão Cidadã

TV FAP | Depoimentos de concluintes da 1ª turma do curso Gestão Cidadã

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‘Lutar pelo SUS é a tarefa imediata da esquerda democrática’, diz Luiz Sérgio Henriques

Ensaísta é um dos organizadores do lançamento da série de debates on-line sobre o centenário do PCB, a partir das 19h desta quinta-feira (25/3)

Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP

A esquerda democrática deve focar sua atuação em defesa do fortalecimento e aumento da eficiência do SUS (Sistema Único de Saúde) no momento em que o país ultrapassa a triste marca de 300 mil mortos por conta da Covid-19. De acordo com dados oficiais, é o próprio SUS que socorre a maioria absoluta de vítimas da doença no país. A avaliação é do tradutor e ensaísta Luiz Sérgio Henriques.

Levantamento do Conass (Conselho Nacional dos Secretários Estaduais da Saúde), com dados até 20 de janeiro, mostra que 13.045 leitos foram desabilitados pelo governo federal em plena pandemia. Mesmo com a alta disseminação do coronavírus, o Ministério da Saúde reduziu R$1,5 bilhão no repasse para financiamento de leitos para Covid em São Paulo, por exemplo.

Cidadania - 99 anos de lutas e conquistas



“Lutar pelo SUS é a tarefa imediata da esquerda democrática”, destaca Henriques, que é um dos organizadores da série de webinários mensais sobre os 100 anos de PCB (Partido Comunista Brasileiro). O lançamento dos eventos on-line será realizado a partir das 19h desta quinta-feira (25/3), a exatamente um ano da data de celebração do centenário. Confira mais detalhes ao final desta reportagem.

Oito personalidades, entre dirigentes e intelectuais, confirmaram presença no evento on-line, organizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), para discutir “a lição de 1964” como caminho para defesa da democracia e combate aos riscos protagonizados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O governo brasileiro tem sido criticado pela falta de ações articuladas para enfrentamento à pandemia.

“Melhorar serviços de saúde”

No Brasil, segundo o organizador, “o SUS é uma coisa extraordinária”. “Uma grande luta da esquerda democrática que defendo é melhorar, aprofundar, tornar mais eficiente, racionalizar o SUS, os serviços de saúde”, ressalta Henriques.

 “Isso melhoraria a nossa sociedade e nos melhoraria como indivíduos, tornando-nos menos egoístas e mais fraternos”, acredita o ensaísta. Ele também é editor do site Gramsci e o Brasil e da página Esquerda Democrática no Facebook.

Henriques: “Lutar pelo SUS é a tarefa imediata da esquerda democrática”
Foto: Arquivo pessoal

É consenso que a trajetória do PCB está relacionada ao comunismo histórico, fixado nos modelos da Revolução Russa (1917) ou, secundariamente, da Revolução Chinesa (1949), mas paulatinamente o partido evoluiu para a adesão ao reformismo democrático.

“Ligado, inicialmente, à chamada Terceira Internacional, o PCB iria enraizar-se no país, agitando e promovendo a chamada ‘questão nacional’ em chave anti-imperialista, mas a partir de meados dos anos 1950 iria redefinir o elemento nacional em função da ‘questão democrática’ e da necessidade de afirmar a democracia como via mestra da civilização brasileira”, diz.

Henriques ressalta que o partido, logo depois de 1964, assumiu protagonismo na luta pela redemocratização, o que, segundo ele, continua a ser uma das principais referências para superar a atual crise. “O grande legado do velho PCB para as forças progressistas no seu conjunto é a centralidade da questão democrática”, afirma.

“Crise aguda”

“Este é o momento de crise muito aguda da civilização brasileira. Nós temos a obrigação de refletir sobre o passado, sobre a nossa identidade como nação, e vermos as raízes da modernidade brasileira, tanto em sua grandeza como nas suas misérias”, assevera o ensaísta. “O Partido Comunista Brasileiro é uma dessas raízes”, acrescenta.

Henriques lembra que o PCB participou das mais importantes mobilizações populares para definição de diretrizes destinadas ao desenvolvimento do país, corporificadas no nacional-desenvolvimentismo dos governos de Getúlio Vargas (1930-1945) e Juscelino Kubitschek (1956-1961).

“A contribuição dos comunistas para a chamada questão nacional foi muito grande. E está aí até hoje, ainda que muitas vezes boa parte da esquerda atual se limite a repetir slogans e argumentos dos anos 50”, acentua o tradutor.

Segundo Henriques, o PCB teve “duas faces” desde o princípio: uma externa e outra interna. O partido, de acordo com o ensaísta, nasceu em função de um acontecimento externo, a Revolução Russa, que teve impacto global na esquerda.

No Brasil, por exemplo, o movimento anarquista, com implantação considerável em São Paulo, Rio e outros estados, se dividiu, e parte dos anarquistas filiou-se ao Partido Comunista, em razão do mito da revolução dos sovietes. “A presença de intelectuais, como Astrojildo Pereira, é outra marca da sua fundação. E até se pode dizer que é incalculável a presença do PCB e dos comunistas na cultura brasileira”, lembra.

Ditadura de Stalin

Ao longo dos anos, porém, o modelo externo entrou em decadência. “A Rússia era um país muito atrasado do ponto de vista industrial e, em geral, como sociedade. A industrialização foi muito custosa, em termos inclusive de vidas humanas. Um processo concentrado em pouquíssimos anos sob a ditadura de Stalin”, observa.

Em alguns momentos, a União Soviética voltaria a brilhar, por exemplo, na luta contra o nazismo, mas, em seguida, começou a se ofuscar de novo. “Houve tentativas de reforma e renovação, mas, ao fim, essas tentativas não se traduziram em reformas reais, num novo início. Este fracasso selou o fim do comunismo histórico”, explica o ensaísta.

Com a implosão da União Soviética, os partidos que tinham aquela dupla face também sofreram um esvaziamento em todo o mundo. “Quando falha a face externa, quando perde o poder de atração e desaparece, desaparece também certo tipo de ideal que orientava a história do PCB. Ele morreu, mas é importantíssimo dizer que não morreu a ideia de esquerda política”, analisa.

A seguir, confira a relação de participantes do webinário:

Roberto Freire: presidente nacional do Cidadania e advogado;

Dina Lida Kinoshita: professora aposentada do IF-USP (Instituto de Física da Universidade de São Paulo) e autora do livro “Mário Schenberg: o Cientista e o Político”;

Jarbas de Holanda: jornalista, analista político e vereador com mandato cassado pela ditadura militar

Luiz Carlos Azedo (mediador): jornalista, analista político e colunista do Correio Braziliense;

Luiz Werneck Vianna: cientista social e doutor em Sociologia pela USP (Universidade de São Paulo);

Marcelo Cerqueira: advogado e ex-deputado federal;

Moacir Longo: jornalista e vereador com mandato cassado pela ditadura militar;

Sergio Augusto de Moraes: engenheiro eletricista e militante do PCB.

SERVIÇO
Webinar 100 Anos de PCB: A lição de 1964
Dia: 25/3/2020
Horário: a partir das 19h
Transmissão:
Site da FAP: www.fundacaoastrojildo.com.br
Facebook: https://www.facebook.com/facefap
Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCg6pgx07PmKFCNLK5K1HubA

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Especialistas começam a discutir centenário do partido, celebrado em março de 2022, em série de webinars da Fundação Astrojildo Pereira que será lançada no próximo dia 25/3

Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP

Perto de completar 100 anos, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) volta a ser reforçado por especialistas como referência na luta pela defesa e rearticulação de ampla frente democrática para conscientizar a população e vencer o autoritarismo no país.

Ao longo dos anos, a autocrítica fez o partido político avançar com sua identidade, passando a se chamar hoje Cidadania, e, sobretudo, fortalecer o combate a retrocessos pela via institucional.

Arte: FAP

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, é um dos oito especialistas que confirmaram presença no lançamento da série de webinar mensal sobre os 100 anos de PCB, a partir das 19h da próxima quinta-feira (25/3), a exatamente um ano da data de celebração do centenário. Começa a contagem regressiva.

Em seu portal, canal no Youtube e em sua página no Facebook, a FAP (Fundação Astrojildo Pereira) vai transmitir todos os debates da série. O primeiro vai abordar “as lições de 1964” como caminho para defesa da democracia e combate aos riscos protagonizados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“Negação de governo”

Tomado pelo negacionismo da pandemia da Covid-19, que está perto de fazer 300 mil vítimas no Brasil, o presidente já é considerado por 56% dos brasileiros como incapaz de liderar o país, segundo a mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na quarta-feira (17/3).

Roberto Freire: "A história do PCB é de se pensar um Brasil mais justo, mais igualitário"
Foto: Cristiano Mariz/VEJA

“Bolsonaro é a negação de um governo, até do ser humano. É um genocida”, critica Freire, em entrevista ao portal da FAP. De acordo com ele, é urgente a união de forças democráticas “daqueles que viveram a história recente do país e que ainda têm perspectivas do Brasil do século 21”.

“A história do PCB é de se pensar um Brasil mais justo, mais igualitário, e esse esforço continua. Evidentemente, o mundo é outro, e não podemos imaginar e repetir tudo que fizemos. É a história que nos ajuda a saber como continuar construindo o futuro”, diz o presidente nacional do Cidadania, que deu nova identidade política ao PPS (Partido Popular Socialista), originado do PCB (Partido Comunista Brasileiro), fundado em 1922.

“Intuito golpista”

Diretor-geral da FAP, Caetano Araújo, doutor em Sociologia e consultor legislativo do Senado, observa que, a partir do golpe militar de 1964, existem lições que precisam ser apreendidas e são válidas para compreender o contexto político brasileiro.

Caetano: “Temos que procurar forças de resistência semelhantes as que foram empregadas no período pós 64"
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

“É preciso enxergar a direção de uma conjuntura semelhante ao pré-golpe, quando setores importantes da política e da sociedade se articularam em claro intuito golpista”, alerta Araújo. Ele também é autor de livros como Política e Valores, publicado pela UnB (Universidade de Brasília).

Para o sociólogo, Bolsonaro é um grave risco à democracia. “Temos que procurar forças de resistência semelhantes as que foram empregadas no período pós 64, unindo todas as forças democráticas contra o golpe. No nosso caso, unir forças contra movimentos golpistas que emanam do presidente da República e de ciclos próximos a ele”, afirma.

Após o golpe militar, conforme destaca Araújo, o PCB firmou ainda mais sua atuação em defesa de anistia, eleições diretas e constituinte, as quais, segundo ele, “eram três palavras de ordem definidas em resoluções do 6º Congresso do PCB, realizado em 1967."

Registro histórico

Para ter o registro histórico das lutas do grupo político, o Órgão Central do Partido Comunista publicou o jornal mensal Voz Operária até 1979. O objetivo, conforme registrado em um de suas edições, era propor ação conjunta e fortalecimento das massas.

Hoje, segundo os especialistas, a publicação permite resgate político da luta pela redemocratização do Brasil na segunda metade dos anos 1970 e serve como documento de referência para consolidação da esquerda democrática.

Em continuidade ao projeto de publicação dos anos 1970, cessada com o retorno de anistiados ao Brasil, o partido publicou novo jornal, de 1980 a 1991. Ao longo desse período, o Voz da Unidade manteve acesos os valores democráticos e republicanos defendidos, na época, pelo então PCB, e deu mais combustível à luta pela legalização do partido.

Pilar essencial

Segundo os participantes do webinar sobre os 100 anos de PCB, os jornais serviram como pilar essencial para a construção da unidade das forças democráticas que derrotaram o regime militar.

Os dois jornais foram veículos de comunicação corajosos, comprometidos com as lutas sociais e a democratização do país. As edições digitalizadas deles estão disponíveis, para acesso gratuito, no portal da FAP.

Veja arquivo digitalizado do Voz Operária

Veja arquivo digitalizado do Voz da Unidade

A seguir, confira a relação de participantes do webinar:

Roberto Freire: presidente nacional do Cidadania e advogado;

Dina Lida Kinoshita: professora aposentada do IF-USP (Instituto de Física da Universidade de São Paulo) e autora do livro “Mário Schenberg: o Cientista e o Político”;

Jarbas de Holanda: jornalista, analista político e vereador com mandato cassado pela ditadura militar

Luiz Carlos Azedo (mediador): jornalista, analista político e colunista do Correio Braziliense;

Luiz Werneck Vianna: cientista social e doutor em Sociologia pela USP (Universidade de São Paulo);

Marcelo Cerqueira: advogado e ex-deputado federal;

Moacir Longo: jornalista e vereador com mandato cassado pela ditadura militar;

Sergio Augusto de Moraes: engenheiro eletricista e militante do PCB.

SERVIÇO
Webinar 100 Anos de PCB: A lição de 1964
Dia: 25/3/2020
Horário: a partir das 19h
Onde: https://www.facebook.com/facefap, site e no canal do Youtube da FAP


Valor Econômico: Volta de Lula deve apressar Huck, diz Roberto Freire

Apresentador mostrou interesse no atual cenário eleitoral e na viabilidade de uma candidatura de Mandetta

Por Cristian Klein, Valor Econômico

RIO - A volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jogo eleitoral fortalece a polarização entre o PT e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas atores políticos ligados ao apresentador de TV Luciano Huck (sem partido) ainda consideram que haja espaço para uma candidatura competitiva mais centrista, na disputa pela Presidência do ano que vem.

Logo depois da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, que devolveu os direitos políticos a Lula, na segunda-feira, Huck conversou com o presidente nacional do Cidadania, o ex-deputado Roberto Freire, sobre a nova conjuntura. O Cidadania é um dos partidos cotados para abrigar o apresentador, caso ele decida concorrer.

Segundo Freire, os dois não trataram de filiação, mas Huck se mostrou interessado em saber da avaliação do dirigente sobre o cenário eleitoral e a quantas anda a possibilidade de fusão entre o Cidadania e o Partido Verde, legendas ameaçadas pela cláusula de barreira. Também abordaram a viabilidade de uma candidatura do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS).

Para Freire, a entrada de Lula não muda, em essência, a polarização que estava desenhada entre Bolsonaro e o PT. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, derrotado em 2018, já havia começado a circular em pré-campanha pelo país, mas cancelou a visita que faria hoje e amanhã ao Rio, depois do pronunciamento feito ontem em que Lula falou como candidato.

Freire disse que Lula elegível só torna “a polarização mais explícita”, o que “viabiliza melhor a alternativa do campo democrático”. “Ajuda a busca por unidade nas articulações feitas hoje”, afirmou ao Valor o dirigente, para quem Huck “é o melhor candidato para discutir o Brasil do século 21”.

O presidente do Cidadania diz que seu partido é o único em que Huck tem a garantia de concorrer, enquanto em outras siglas, como o DEM, isso não é certo. “Nem para o Mandetta há garantia”, diz, afirmando que a sigla está dividida entre os que querem apoiar Bolsonaro ou outras candidaturas, como a do governador de São Paulo João Doria (PSDB) ou do também tucano Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. Por causa da reviravolta no cenário, o PSDB antecipou as prévias que seriam realizadas no ano que vem para outubro.

Freire diz que o apresentador ainda tem tempo para definir se concorre ao Planalto ou permanece na TV Globo, mas a volta de Lula vai acelerar a tomada de decisão. No entorno de Huck, segundo apurou o Valor, a expectativa é que uma decisão possa ser tomada "mais para o fim do segundo semestre". "Até o prazo limite de filiação, em 4 de abril, é uma eternidade", conta esta fonte.

Na visão do Freire, Lula e Bolsonaro são fortes candidatos para chegarem ao segundo turno, mas o antipetismo continua em alta, acrescido do forte antibolsonarismo. As rejeições favoreceriam a candidatura centrista. Para o outro interlocutor do apresentador, Lula "está sem conexão com a classe média e o centro da política brasileira" pois teve que se "abraçar com a esquerda tradicional, o corporativismo", durante o período em que se defendia dos processos da Lava-Jato e dos 580 dias em que passou na prisão em Curitiba, apoiado pela militância. Isso o impediria de fazer um movimento em direção ao centro, como esboçado pelo ex-presidente no discurso de ontem. "A candidatura do Lula não esmaga o centro", afirma.

Por outro lado, acrescenta, Bolsonaro também tem perdido eleitores mais centristas. E Ciro Gomes (PDT) vai ser um candidato com discurso muito similar ao de Lula, "contra as reformas". "Vai ter uma dissidência do outro lado também", diz a fonte, minimizando a necessidade ou a possibilidade de que haja uma unidade grande do centro, em torno de um só candidato, numa composição improvável entre os tucanos, Huck e Mandetta.

Freire conta que as conversas sobre fusão envolvem o presidente do Partido Verde, José Luiz Penna, e Eduardo Jorge, que concorreu à Presidência pelo PV em 2014 e foi vice na chapa de Marina Silva (Rede) em 2018. Desse projeto também está próximo o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), que rompeu com o partido e procura nova legenda.

Segundo apurou o Valor, Huck já recebeu convites oficiais de pelo menos cinco partidos: PSB, PSD, Cidadania, Podemos e DEM, além de uma sondagem do MDB.


Roberto Freire: Huck deve decidir até o meio do ano sobre candidatura presidencial

O presidente nacional do Cidadania defende uma alternativa a Bolsonaro e ao PT em 2022

Alessandra Kormann, Brasil Independente

Em entrevista exclusiva ao Brasil Independente, Roberto Freire falou sobre as possibilidades atuais da candidatura de Luciano Huck à Presidência da República em 2022 pelo Cidadania, depois dos rachas em outros partidos nas eleições no Congresso Nacional.

Segundo o presidente nacional do Cidadania, a decisão de Huck deve ser tomada até o meio do ano para que se possa começar a trabalhar a pré-campanha. “Não cabe a gente pressionar, o tempo é dele. Ele é que sabe quando terá que decidir. Ele também está consciente de que não tem todo o tempo do mundo.”

Freire é um entusiasta da candidatura do apresentador da Globo. “O Cidadania imagina que Huck seja a melhor alternativa que nós tenhamos para derrotar Bolsonaro. E ao mesmo tempo não queremos o retorno do lulismo, isso não dá, é passado, o país tem que olhar para a frente.”

No caso de Huck não se candidatar, Freire ainda não sabe quem o seu partido deve apoiar. “Uma coisa eu digo: não será nenhum lulista e será uma candidatura de oposição clara e firme a Bolsonaro.”

Freire falou ainda sobre a possibilidade de filiação ao Cidadania de Rodrigo Maia e, para disputar o governo de São Paulo, de Geraldo Alckmin.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista, concedida por telefone.

Como o senhor avalia o governo de Jair Messias Bolsonaro? Podemos esperar o Cidadania na oposição ao governo nos próximos dois anos e na eleição de 2022?

Claro. É um péssimo governo. O Cidadania inclusive está defendendo o impeachment. É um governo irresponsável, por todos os seus atos, o negacionismo, propostas antidemocráticas, desrespeito à Constituição. O que não faltam são crimes de responsabilidade, alguns crimes comuns no enfrentamento da pandemia, que demonstram um governo desastroso, o que torna imperioso um impeachment.

O Cidadania chegou a entrar com algum dos mais de 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro?

Não, porque não é momento disso. A gente está no momento de ter um pedido de impeachment aceito e tramitando no Congresso.

Agora com a eleição da nova Mesa Diretora, como o senhor avalia a possibilidade do novo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), pautar o impeachment?

Agora não tem nenhuma condição. Ninguém está propondo o impeachment para hoje ou amanhã, ainda não tem condições objetivas para isso. Falta mobilização, falta a maioria ampla da sociedade concordar com a tese de que é melhor encurtar esse mandato para que nos próximos dois anos o país tenha um outro governo, tal como a sociedade brasileira viu isso com Collor e com Dilma. No momento em que isso ocorrer no seio da sociedade, não tenha dúvida de que você terá mudanças também no Congresso Nacional.

O senhor acredita que, depois que a grande maioria do povo estiver vacinada e puder voltar para a rua, vai haver uma pressão popular e esse tipo de manifestação tende a ganhar corpo?

Acredito que sim, porque você vê hoje a sociedade brasileira se mobilizando para ter vacina. E está percebendo que a ação desidiosa e criminosa de Bolsonaro gera problemas, como o ritmo da vacinação, que é lento porque o governo não cuidou de ter vacina, de tornar o processo ágil e rápido.

Como o senhor avalia a importância de uma frente ampla para combater esse governo? O Cidadania vem participando do movimento “Janelas Pela Democracia” junto com PDT, PSB, Rede e PV. Pode estar se desenhando uma aliança em torno desses cinco partidos para 2022?

Não. A questão da luta contra o governo Bolsonaro não implica que em 2022 vai haver essa unidade. Se for possível, ótimo. Agora, num segundo turno, se houver uma disputa contra Bolsonaro, vai ter essa unidade sem nenhuma dúvida.

Mas para o primeiro turno o senhor não acredita que seja possível?

Para o primeiro turno, não se pode dizer. O que se pode afirmar é segundo turno. Para o primeiro, se você tivesse condições de unir todas essas forças, seria ótimo. Mas não adianta a gente falar, por exemplo, com o PT, que não consegue nem dialogar antes com seus aliados históricos, como o PSOL, e já lançou um candidato.

Como o senhor viu o lançamento da candidatura de Fernando Haddad, no caso de Lula não recuperar os seus direitos políticos?

Ele tem todo o direito de fazer o que quer. Agora, respondendo à sua pergunta anterior, ele não faz nenhuma questão disso [a formação de uma frente ampla]. O Cidadania não está muito preocupado com essa posição. Agora não tenha dúvida de que o PSOL está preocupadíssimo, provavelmente PDT, PSB, PC do B, que estavam todos na base do governo Lula e Dilma, embora Ciro tenha se afastado na última eleição em 2018. E continuam juntos na oposição a Bolsonaro. Nós estávamos numa articulação que foi desarranjada agora, com as atitudes do DEM, do PSDB, as suas divisões internas [na eleição no Congresso Nacional] criaram problema para uma aliança mais ao centro contra Bolsonaro.

Uma aliança possivelmente em torno do Luciano Huck como candidato? O senhor já demonstrou simpatia e entusiasmo com a candidatura do apresentador. Como estão essas conversas?

Não dá para dizer que Luciano Huck seria o candidato porque o PSDB está discutindo se terá Doria ou não. O Cidadania imagina que Huck seja a melhor alternativa que nós tenhamos para derrotar Bolsonaro. E ao mesmo tempo não queremos o retorno do lulismo, isso não dá, é passado, o país tem que olhar para a frente. Nós achamos que quem melhor pode representar essa alternativa é o Luciano Huck, pela sua capacidade, pela sua visão de mundo e da realidade brasileira, pelo seu entendimento concreto da nova economia e da necessidade de lutar contra a desigualdade na sociedade. Ele nos parece um excelente candidato, com chance de crescer e disputar a eleição.

Após todo o processo da eleição no Congresso, o racha no DEM, como o senhor vê hoje a possibilidade de o Luciano Huck disputar a eleição pelo Cidadania?

Não sei, é bom perguntar para ele [risos]. O que eu posso dizer da nossa parte é que a gente gostaria e trabalha para isso, para que ele se vincule ao Cidadania e com toda certeza criaremos as condições de ser uma ampla frente democrática. Não temos a ideia de que seremos sozinhos, temos que estar abertos. Mas estamos trabalhando muito para que ele faça essa opção pelo Cidadania.

O senhor conversou com ele recentemente?

Tenho conversado sim. Mas não há nenhuma decisão, e não cabe a gente pressionar, o tempo é dele. Ele é que sabe quando terá que decidir. Ele também está consciente de que não tem todo o tempo do mundo. Ele vai ter que tomar uma decisão num prazo razoável, até o meio do ano. Em meados de maio, junho, ele tem que já estar decidido.

Em qual espectro o senhor colocaria a candidatura de Luciano Huck?

Eu tenho uma compreensão de que esse referencial de direita e esquerda está passando por um momento em que não se tem nenhuma clareza do que isso significa. Você tem forças que se dizem de esquerda e que estão em posições bem reacionárias e atrasadas. E tem outras que se fala que são de direita e que estão sendo vanguarda nas mudanças que estão ocorrendo no mundo. Nós estamos em uma sociedade pós-industrial, pós-capitalista até. Então, nesse sentido está tudo muito misturado, e o que eu acho melhor dizer aonde Luciano se situa é isto: ele é um candidato progressista. Pronto. Não tem mais a direita e a esquerda tradicional do sistema capitalista. Isso acabou. Agora mesmo estava lendo que Cuba está abrindo mais de 200 setores da economia pra inciativa privada. Há quanto tempo a União Soviética foi derrotada historicamente? O que a China ensinou, depois da derrota da URSS, da queda do muro de Berlim? A China fez reformas e é hoje uma economia que está disputando no mundo a hegemonia com os Estados Unidos. Com desenvolvimento acelerado, melhoria na qualidade de vida, é um case pra se estudar. Quanto tempo Cuba perdeu até entender que o que existia já não tinha mais futuro? Então é um pouco o que está acontecendo com certas esquerdas, prisioneiras de um tempo que já não mais existe. Eu posso ainda dizer que sou de esquerda, historicamente, pelos meus valores. Agora, se eu falar isso, tem essa esquerda tradicional que vai dizer: “você não é mais de esquerda!”. E aí eu respondo que quem não é mais de esquerda é ele, que ficou perdido na história.

O senhor já foi comunista. Como vê as pessoas que chamam de comunista todo mundo de esquerda?

E há do outro lado aqueles para quem tudo que for de direita é fascista. Mas, para nós que militamos no comunismo, inclusive num tempo em que não era nada fácil ser comunista, ver os outros chamando de comunistas alguns que estiveram no governo e não mudaram nada a realidade brasileira, eu digo que é um deboche. Não estou dizendo que esses referenciais não têm importância, mas eles não estão encontrando na realidade algo concreto para que se saiba bem onde está a direita e a esquerda neste momento de transformação, de disrupção. Uma confusão muito evidente é a junção entre a esquerda mais tradicional com os mais radicais extremistas de direita na questão da globalização – ambos são contra.

Surgiu na semana passada a informação que o Cidadania poderia se fundir à Rede Sustentabilidade e ao PV para abrigar uma possível candidatura de Luciano Huck. A informação procede? Como estão as conversas?

Isso se deu muito em função desses desarranjos em alguns partidos, e aí veio a especulação de que Rodrigo Maia iria patrocinar alguma fusão. Nesse caso, lá atrás tentamos isso. Estava definido que a Rede e o Cidadania iríamos para a fusão, mas a Rede desistiu. Com o PV não avançamos muito, mas eu diria que há uma maior identidade, desde o PPS [antigo nome do Cidadania], com o PV. É uma ideia que sempre esteve nas nossas elucubrações e de alguns setores do PV, mas não tem nada de concreto neste momento. O que posso dizer da parte do Cidadania é que não temos nada a opor se porventura isso começar a se transformar em algo concreto, pelo contrário. Nós estamos abertos a esse diálogo e quem sabe pode ser uma coisa importante para o país.

Caso Huck não tope se candidatar, o Cidadania deve ir com quem? Ciro Gomes, Doria, Flávio Dino, algum nome do PT?

Não sei. Aí vamos ter que analisar. Uma coisa eu digo: não será com nenhum lulista e será uma candidatura de oposição clara e firme a Bolsonaro.

Como está hoje a sua relação com Ciro Gomes?

Não tenho nenhum problema com ele, nenhum obstáculo maior. Temos alguns desencontros de pontos de vista. O principal é que ele tem uma concepção muito nacionalista, como se as economias ainda pudessem estar prisioneiras das fronteiras dos Estados nacionais. Isso é uma tese política que pra nós do Cidadania é impeditiva para o Brasil buscar uma maior integração na economia globalizada, que pra nós é o futuro. O Brasil tem que saber como se integrar e não ter uma visão pra dentro, de proteção. Fala-se muito em soberania nacional, dentro dessa visão que o PDT tem, de defesa de algumas estatais como se fossem representantes da nossa soberania.

Então o senhor apoia a agenda de privatizações?

Eu vou contar uma história que resume tudo. Eu fui líder do governo de Itamar Franco na Câmara. E nós fomos o governo que fez as primeiras grandes privatizações no país, da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda e da Cosipa em Cubatão. Sou favorável às privatizações quando são justificáveis, não temos a questão da privatização ou estatização como princípios, mas sim como melhor eficácia da economia. Itamar Franco não era muito aberto a isso, depois foi convencido pela necessidade e fez. Alberto Goldman, já falecido, que foi do PCB como eu, era parte também do governo. Estávamos lá, eu líder e ele ministro [dos Transportes]. Então, em uma ocasião, quando nós defendíamos a privatização, Itamar brincou: “Não se fazem mais comunistas como antigamente”.

Como o senhor vê a agenda do Paulo Guedes, que inclui privatizações?

Ele não tem agenda, ele só fala em privatização e esse é um dos governos que menos privatizou, talvez com exceção de Lula, que criou muita estatal, até porque muitas delas eram facilitadoras de negociatas e corrupção. A única coisa que foi feita fora do governo Bolsonaro, algo que estava tramitando há tempo no Congresso, foi o marco regulatório do saneamento, um avanço importante. Que não é privatização, mas permite que possa haver privatizações. E a outra coisa que Paulo Guedes sabe fazer é falar de CPMF, pra ele tudo se resume a isso, e no resto é um blablablá. Ele fala bem, é um bom palestrante, agora como gestor é um desastre completo.

Mas com a eleição do Arthur Lira na Câmara e Rodrigo Pacheco no Senado, apoiados por Bolsonaro, existe a possibilidade de que eles consigam avançar com essa agenda liberal?

É o contrário. Esse centrão é estatizante, pois é nas estatais que estão os seus cargos. O centrão dificilmente vai pra privatização porque gosta, só vai se tiver um governo que faça. O centrão estava junto com o Lula estatizando. Isso é um discurso de Bolsonaro, como se o Congresso o tivesse impedido de governar. É o contrário. Ai do governo Bolsonaro se não fosse o Congresso, porque talvez nem auxílio emergencial nós tivéssemos. Esse governo é completamente incompetente. A reforma da Previdência só foi feita porque começou lá atrás, no governo Temer, e Rodrigo Maia foi o grande responsável por ela ter sido votada na Câmara dos Deputados, e no Senado Davi Alcolumbre ajudou também. Não tem nada a ver com Bolsonaro nem com Guedes, que é um incompetente.

Depois das traições na eleição para a presidência da Câmara, Rodrigo Maia pode estar de saída do DEM. Há possibilidade de ele ir para o Cidadania?

Eu conversei com ele depois da eleição, coloquei o Cidadania aberto para ele. Quem vai decidir é ele. Rodrigo Maia ainda deve demorar um tempo para decidir, não é uma coisa fácil. Quer dizer, eu não tenho nenhuma experiência nisso, nunca saí de partido. Eu era do PCB, mas como ele foi proibido na época da ditadura, aí fui pro MDB, sou fundador do MDB lá em Pernambuco. Continuei no PCB, depois mudamos pra PPS e agora Cidadania, são sucessores.

O senhor aceitaria disputar novamente uma eleição presidencial na cabeça de chapa ou como vice?

Não. É a nova geração que tem que assumir. O meu papel é articular essa nova candidatura Huck, como uma alternativa capaz de derrotar o bolsonarismo e evitar o retrocesso do retorno do lulismo.

Surgiu nas últimas semanas a informação de uma possível filiação do ex-governador Geraldo Alckmin ao Cidadania para disputar o governo de São Paulo. A informação procede? Alckmin seria bem-vindo ao Cidadania?

Muito bem-vindo. O Alckmin é uma das figuras que merece todo o nosso respeito. Foi excelente governador. Uma pena a eleição de 2018, que foi uma surpresa. Estávamos juntos e fomos derrotados. Não estou sabendo muito disso porque ainda não conversei com ele, não sei se isso corresponde a um interesse dele. Eu não sabia disso, estou surpreendido. Mas vou até procurar saber, pra mim é motivo de muita satisfação. Nem conversei com o partido, mas não tenho dúvida de que pode ser algo muito importante se ele realmente tiver ideia dessa possibilidade.

Depois do levantamento do sigilo das mensagens da Lava Jato pelo STF, aumentaram as possibilidades de os julgamentos de Lula por Sergio Moro serem anulados, restaurando os direitos políticos do ex-presidente. Como o senhor vê isso?

Eu acho um absurdo um país que não permite o uso de provas ilícitas estar discutindo isso no Supremo Tribunal Federal, quando há uma jurisprudência consolidada de que não cabe prova ilícita em nenhum momento de qualquer processo na Justiça brasileira. Isso evidentemente é vergonhoso.

O deputado estadual Fernando Cury, acusado de assediar a deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP), conseguiu suspender na Justiça o seu processo de expulsão do Cidadania. O conselho de ética do partido já opinou pela expulsão. O senhor defendeu que a questão fosse julgada pelo Diretório Nacional. Por quê? A permanência dele no Cidadania compromete a imagem do partido?

As pessoas imaginam que o partido político vai ter que fazer suas normas como se fosse um tribunal do Poder Judiciário. Não é. Nós temos que ter a ação política. Nós temos que garantir o direito à ampla defesa, e isso foi garantido a ele, agora a Justiça não pode determinar como vamos agir. Nós não vamos processar ninguém, nós podemos tomar a medida política que for indicada para que o partido tome. Eu não estou condenando ninguém, eu estou dizendo que não queremos conviver com um determinado militante, com um determinado parlamentar, com um determinado filiado. Isso é um direito do partido. O partido não tem a autonomia de dizer que não quer determinado filiado? Então entramos com recurso para suspender essa liminar que paralisou o processo, um processo político interno. Esperamos que seja derrubada essa liminar para que a gente possa decidir isso no Diretório Nacional, que é o órgão máximo do partido. O que ele fez é um fato com repercussão nacional e até internacional. Isso não é um tribunal, não é o Poder Judiciário, com primeira instância, segunda instância, tem a ver com a política, em função da repercussão. Se for alguém do Diretório Estadual, mas se o que ele praticou é de tal ordem que repercute nacionalmente, é o Diretório Nacional que tem que cuidar. A conduta dele não tem justificativa, é claramente um crime.


Roberto Freire: ‘Vitória de Lira atrapalha a frente de centro’

Para Roberto Freire, eleição na Câmara 'desarranjou' articulações para candidatura única de centro, gerando problemas para PSDB, DEM e Huck, mas deputado reitera hipótese de apresentador disputar eleição

Paula Reverbel, O Estado de S. Paulo

Presidente do Cidadania, o ex-deputado Roberto Freire disse que a vitória de Arthur Lira (Progressistas-AL) na Câmara – em uma derrota do ex-presidente da Casa Rodrigo Maia (DEM-RJ), que não conseguiu eleger sucessor –, causou um “desarranjo” na construção de uma frente de centro e afetou a articulação do apresentador Luciano Huck, cotado como presidenciável em 2022.

“Esse processo que estava existindo do ponto de vista de 2022, discussões sobre alternativas, que tipo de articulação e de aliança que estava surgindo, isso mudou, sofreu um retrocesso, claro. O que ocorreu com o DEM e com o PSDB gerou problemas para o PSDB, para o DEM, para a articulação do Huck e para setores da esquerda”, afirmou Freire em entrevista ao Estadão.

Como o sr. avalia o resultado das eleições no Congresso?

O episódio dessa eleição foi superdimensionado, com uma certa razão, porque se assumiu uma disputa da oposição com o (presidente Jair) Bolsonaro. Muda uma correlação de forças do Congresso. Dá uma sinalização de que o Executivo e o presidente rearticularam forças políticas. Mas não tem o dom de mudar a realidade e o processo que estamos vivenciando. Continuamos tendo um presidente negacionista na pandemia. Temos um presidente e um ministro da Fazenda ineptos no enfrentamento da crise econômica. E não muda a expectativa que começa a surgir na sociedade de que talvez seja melhor um impeachment.

Como o sr. vê as manifestações pró-impeachment?

O problema é que aqueles que são a favor (do impeachment) ficam achando que tem que fazer aqui e agora. Tem que ter calma. Ninguém sabe como vai acontecer esse processo, mas que ele está sendo discutido, não tenha dúvida. Grande parte dessa articulação que Bolsonaro fez, com esse toma lá, da cá absurdo de R$ 3 bilhões prometidos para ganhar a presidência da Câmara e do Senado, foi um ensaio para quando ele for impedir que um impeachment ocorra, mesmo com a sociedade se manifestando. Ele está na luta.

O Cidadania aguarda a filiação de Luciano Huck?

Esse processo que estava existindo do ponto de vista de 2022, discussões sobre alternativas, que tipo de articulação e de aliança que estava surgindo, isso mudou, sofreu um retrocesso, claro. O que ocorreu com o DEM e com o PSDB gerou problemas para o PSDB, para o DEM, para a articulação do Huck, para setores da esquerda. Alguns partidos com dissidências internas (na eleição da Câmara), tudo isso. Foi desconstruído um pouco do que você já tinha acumulado, vai ter que ser retomado. Precisa ver o rescaldo desse episódio para começar a saber como você vai retomar. Há algumas questões complicadas, inclusive no DEM, com o processo que você teve de um certo constrangimento em relação a Rodrigo Maia, que era um dos líderes dessa articulação.

Qual será o caminho?

Tem que dar tempo ao tempo para ver. Vai ter que refazer contatos, articulações. Mas não vamos ficar imaginando que seja bicho de sete cabeças e que acabou. Agora a oposição a Bolsonaro tem que dizer: “Temos que continuar a luta pelo impeachment”.

E qual a expectativa sobre uma candidatura de Huck?

A luta para construir essa alternativa para 2022 é paralela. Não se luta em uma frente só, são várias: crise econômica, pessoas contra a vacina. Junta a isso a luta de discutir candidaturas e a do impeachment.

Mas Huck não tem um prazo para dizer se vai ser candidato?

Ele tem tempo para analisar tudo isso, depois desse desarranjo ocorrido. Ele vai decidir se é agora, se é mais adiante. Houve um certo desarranjo. Mas o processo continua nessa hipótese da candidatura do Luciano Huck e o Cidadania continua firme imaginando que essa pode vir a ser a grande alternativa para derrotar tanto Bolsonaro quanto qualquer retrocesso de uma volta ao lulismo.

Uma filiação de Luciano Huck ao DEM se tornou mais remota depois da eleição no Congresso?

Olha, nem se falava (disso) antes, foi pura especulação. Com o que ocorreu com o DEM (na eleição na Câmara), tem que reavaliar qual é a posição dele. O DEM, com essa postura que adotou, você pode até admitir que ele tenha uma relação com Bolsonaro. E nós somos oposição a Bolsonaro. Huck é. Não vamos ficar pensando que o episódio tenha apenas efeito interno (do partido), não. Tem impacto na política em geral.

Como vê o papel de Rodrigo Maia na articulação para 2022?

Não tenho dúvida de que ele vai estar nessa articulação. Não será aliado nem do bolsonarismo nem do lulismo. Vai estar no campo que se opõe a esses dois polos, criando um outro polo que agregue forças, social-democrata, de esquerda democrática, liberal e direita democrática, que diminuiu de tamanho com essa desorganização que aconteceu no DEM.

Paulo Hartung afirma que Luciano Huck é de centro-esquerda. O sr. concorda?

Eu digo que Huck é uma pessoa que está olhando para o futuro. Ele pensa em uma sociedade em que o Brasil precisa voltar a ter relevância no mundo globalizado, digital, do futuro. Não pode ser candidato pensando em relações do passado, em ser esquerda ou direita do passado. Ele tem que ser um progressista.

Huck está no campo progressista, então?

Claro. Por isso que estamos com ele. Hoje, se fizermos o que fazíamos no passado ou pensarmos como pensávamos no passado, somos reacionários. Esse entendimento Huck tem por causa de sua geração e sua compreensão de mundo.

Há espaço para Sérgio Moro e João Doria nessa alternativa de centro?

Tem. Como tem espaço para a esquerda democrática. Não tenho dúvidas de que, qualquer um desses que chegar ao segundo turno (na eleição presidencial de 2022) contra o bolsonarismo e o lulismo, você terá todos eles juntos.


O Estado de S. Paulo: Executiva nacional do Cidadania aprova defesa de impeachment de Bolsonaro

Partido reúne sete deputados e três senadores; presidente da sigla, Roberto Freire diz que governo é um ‘desastre nacional’

 Camila Turtelli, O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – O Cidadania, que reúne sete deputados e três senadores, decidiu engrossar o coro pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. A Executiva Nacional da sigla aprovou na manhã desta segunda-feira, 20, a defesa do processo no Congresso. Segundo o presidente da legenda, Roberto Freire, foram 13 votos favoráveis e 4 contrários. 

“Ninguém se pronunciou contra o impeachment, os quatro votos foram questão de oportunidade, avaliação de que talvez não seja esse o exato momento”, disse Freire ao Estadão/Broadcast.

A defesa da saída de Bolsonaro, no entanto, precisa ainda ser aprovada pelo Diretório Nacional do partido, com 112 titulares, em uma reunião agendada para o dia 4 de fevereiro. “O partido está unido na ideia de que esse governo é um desastre nacional”, disse Freire. 

A sigla já declarou apoio na Câmara à candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) para sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ). No Senado, são três senadores ao lado da candidatura de Simone Tebet (MDB-MS).

Atualmente há mais de 60 pedidos de impeachment protocolados na Câmara e caberá ao próximo presidente da Casa, a ser eleito no dia 1º de fevereiro decidir sobre o destino desses pedidos.

Nesta quarta-feira, 20, o líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), candidato do Palácio do Planalto na disputa da Câmara, disse que a discussão sobre eventual processo de impeachment de Bolsonaro não é assunto de sua campanha. “Impeachment é tema pertinente ao presidente atual da Casa. Não vou usurpar nem um dia do mandato dele”, declarou Lira, em visita ao Rio. “Se eu me eleger no dia 1°, eu falo dessa questão.”

Na semana passada, partidos de oposição da Câmara anunciaram um pedido coletivo de impeachment, sob o argumento de que ele cometeu “crimes de responsabilidade em série” na condução da pandemia do coronavírus. Assinado por Rede, PSB, PT, PCdoB e PDT, que reúnem 119 deputados, o pedido cita o colapso da saúde em Manaus e diz já ter passado a hora de o Congresso reagir.

“O presidente da República deve ser política e criminalmente responsabilizado por deixar sem oxigênio o Amazonas, por sabotar pesquisas e campanhas de vacinação, por desincentivar o uso de máscaras e incentivar o uso de medicamentos ineficazes, por difundir desinformação, além de violar o pacto constitucional entre União, Estados e Municípios”, diz nota conjunta dos partidos, que defendem a volta imediata dos trabalhos do Congresso.


Roberto Freire divulga nota de pesar pelo falecimento de Jorge Espeschit

Recebemos consternados a notícia do falecimento do companheiro de longa data Jorge Espeschit. Esse mineiro de Belo Horizonte sempre partilhou dos valores mais caros ao antigo PCB – o humanismo, a igualdade, a liberdade, o respeito ao próximo – , ajudando a transformar o partido no PPS, a partir das mudanças históricas vividas pela esquerda, e depois no Cidadania.

Antes, já havia fundado o Partido Humanista e militado pela redemocratização. Foi um ambientalista antes que muitos de nós despertássemos para a importância dessa pauta como valor humano fundamental.

Tem inúmeros serviços prestados à população belo-horizontina, aos mineiros e aos brasileiros, sempre na vanguarda. Era um amigo correto, gentil, de raras tolerância e generosidade, desses que, como Adélia Prado, nos lembram que a coisa mais fina do mundo é o sentimento.

Aos familiares desse grande ser humano, os nossos mais sinceros sentimentos. Que a vida dedicada às luzes lhes sirva de conforto nesse momento de partida. Salve, Jorge!

Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania


Roberto Freire: Os democratas saúdam Biden (um recado para Bolsonaro)

Vitória democrata mostra que há caminho para derrotar um líder autoritário

Os democratas de todos os matizes, em todos os lugares do mundo, saúdam a vitória de Joe Biden, o 46º presidente eleito dos Estados Unidos da América. Com ele, a primeira vice-presidente da história do país, a senadora Kamala Harris, uma mulher negra, símbolo de que a luta contra o racismo e pelo processo de integração étnica, apesar dos pesares, continua naquele país.

E, ao saudarem a vitória, comemoram a derrota do obscurantismo, do negacionismo, do preconceito e da xenofobia de Donald Trump e de sua retórica tão divisa quanto corrosiva para os valores universais e democráticos – não apenas nos EUA, mas em todo o mundo. O baguncismo trumpista, como se sabe, estendia seus tentáculos para além de suas fronteiras, inspirando líderes extremistas em outros países e ameaçando o concerto entre as nações.

O muro de hipocrisia entre os EUA e o México; os campos de detenção de imigrantes, separados de seus filhos e deportados; as sinalizações a grupos supremacistas brancos dentro e fora de seu país; a saída dos norte-americanos do Acordo de Paris; os ataques à Organização Mundial da Saúde; a verdadeira cruzada contra os direitos das mulheres na Organização das Nações Unidas; as medidas protecionistas e a paralisação da Organização Mundial do Comércio; a ameaça, enfim, à governança global.Tudo isso é um resumo incompleto das razões por que um pouco mais de sensatez, racionalidade e humanismo à frente daquela que ainda é a maior potência mundial é salutar.

É um passo adiante no processo civilizatório, certamente com imensos desafios pela no porvir, mas deixando para trás um período sombrio e os riscos mais iminentes de uma convulsão social de desdobramentos incalculáveis.Para nós, brasileiros, as relações diplomáticas entre os dois países não mudariam substancialmente. Não fosse a condução desastrosa, pessoal e sabuja da política externa pela trinca formada por Ernesto Araújo, o ministro das Relações Exteriores; Filipe Martins, assessor internacional e vidente de filme B que garantira aos bolsonaristas a vitória de Trump; e Jair Bolsonaro, o presidente que pensa ser amigo, mas é constantemente humilhado em sua subalternidade ao norte-americano.

O país nada ganhou com a histeria fanática de Bolsonaro, que colocou seus interesses pessoais com Trump acima dos interesses de Estado. Falam por si as sobretaxas ao aço brasileiro, um déficit explosivo na balança com os EUA, retaliações da China, nosso maior parceiro comercial, e um crescente isolamento no exterior. Ao ponto de a nulidade que comanda o Itamaraty ostentar orgulhosamente o título de pária internacional.

Mas esse alinhamento bisonho a Trump terá ao menos um efeito colateral positivo mais imediato: a pressão que Biden certamente passará a fazer contra a ação de criminosos na Amazônia e no Pantanal, que continuam a ser destruídos pelo fogo, e pela leniência de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, e Bolsonaro.Para a política, o exemplo da vitória democrata mostra que há um caminho para derrotar um líder autoritário, extremista e populista. Os democratas trilharam o caminho do centro, reunindo todas as forças do partido, a esquerda, os liberais, de Bernie Sanders a Pete Buttigieg, e venderam união e esperança.

Em seu protofascismo, Bolsonaro é um seguidor e imitador barato de Trump. Caberá a nós, aqui, reunirmos o pólo democrático, buscando mais as nossas convergências do que as divergências, para oferecer aos brasileiros, em 2022, um projeto alternativo aos extremos. Que ouça e enxergue os que se sentem esquecidos, fale a todos os brasileiros em sua diversidade e lhes dê esperança de um futuro melhor.

Quanto a Biden, seguiremos vigilantes. Como pedem as democracias.

*Roberto Freire é presidente nacional do Cidadania