Revista Veja
Ricardo Noblat: Bolsonaro e o seu labirinto
O que os números falam
Antes do atentado de Juiz de Fora no último dia 6, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) tinha uma rejeição de 44% em pesquisa de intenção de voto do Ibope.
Depois do atentado, a rejeição caiu para 41%, oscilou para 42% e agora cresceu para 46%, segundo a pesquisa Ibope de ontem. Quer dizer: o efeito do atentado, que o beneficiara, passou.
Daqui até domingo mais cinco pesquisas de intenção de voto para presidente da República serão conhecidas – a mais importante delas, do Datafolha, na noite da sexta-feira.
Sim, e haverá dois debates na televisão entre os candidatos – e sem Bolsonaro. Nesta quarta-feira (26), no SBT; no domingo (30), na TV Record. Está bom ou querem mais?
O último debate será o da TV Globo, no dia 4 de outubro – e a eleição no domingo dia 7. Até lá, novas pesquisas poderão confirmar o que por enquanto ainda não passa de um esboço.
Por uma ou duas vezes, Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) disputarão a vaga de Michel Temer. Bolsonaro segue como favorito. Haddad ameaça alcançá-lo.
Quem não quiser ver Haddad ou Bolsonaro presidente tem Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (REDE) para votar, mas os três estão empacados, como Bolsonaro.
Haddad subiu. E tem mais espaço para subir a levar-se em conta o tamanho que alcançou se comparado com o que tinha Lula nas pesquisas de pouco mais de um mês.
Em 2002, ao fim do primeiro turno, Lula tinha 41% dos votos. Naquela ocasião, para a Câmara e o Senado, o PT havia obtido 19% dos votos. Haddad, hoje, está com 23% na pesquisa Ibope.
Como xerife da economia nacional na época da ditadura militar de 64, o ministro Delfim Netto costumava dizer: se torturados, os números confessam o que interessar aos seus algozes.
Sem tortura, os números indicam que esta será a mais acirrada eleição presidencial de nossa história.
Ricardo Noblat: Haddad ou Ciro, eis a questão!
Cada um sabe de si
A eleição continua aberta, observam aplicados estudiosos da história das eleições e leitores atentos de pesquisas de intenção de voto – e não sem motivos.
Mas esta eleição começa a ficar cada vez menos aberta. No momento, estreita-se em torno de três nomes: Jair Bolsonaro (PSL), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT).
Que país! O segundo turno da eleição presidencial poderá ser disputado por um candidato preso a um leito de hospital entre a vida e a morte, e um laranja de um preso condenado por corrupção.
Bolsonaro melhorou seu desempenho nas simulações de segundo turno. Mas perde para Marina Silva (REDE), que está em queda; perde feio para Ciro; perde até para Alckmin e empata com Haddad.
Funciona a transfusão de votos de Lula para Haddad. Porém, junto com os votos, vai a rejeição a Lula e ao PT. Haddad subiu quatro pontos. Sua rejeição, quatro pontos, segundo o Datafolha.
A seguir assim, o voto de parte da esquerda que acompanha tudo a prudente distância poderá garantir Ciro no segundo turno, com medo de que Bolsonaro derrote Haddad. Ou não.
Eis a questão: Haddad presidente, mesmo que ele não queira, serão mais quatro anos de país dividido e à espera de um Bolsonaro mais forte ou de coisa pior.
Bolsonaro presidente… Será um general de vice que admite o autogolpe e uma nova Constituição feita por encomenda. De volta ao passado, sem a presença ostensiva de brucutus.
Bolsonaro venceu
Até aqui, a eleição deste ano já tem um claro vencedor e um claro perdedor. O deputado Jair Bolsonaro (PSL) sairá dela como o vencedor, ganhe ou perca no final, não importa. O PSDB, como derrotado.
Só não será assim se Bolsonaro, por questão de saúde, não disputar o segundo turno da eleição onde tem lugar garantido. Ou o PSDB operar o milagre de por Geraldo Alckmin no segundo turno. Difícil.
Antes um deputado irrelevante, histriônico, defensor de causas que soavam impossíveis, Bolsonaro soube se apropriar de uma agenda difusa de temas que estava no coração e mente de parte dos brasileiros.
Deu voz a toda essa gente. Soube manipular seus instintos mais primitivos, oferecendo-lhe soluções simples para problemas complexos. E não teve medo de se expor à incompreensão do resto da sociedade.
Poderá não ter sido o suficiente para se eleger – disso só se saberá nas próximas e decisivas semanas. Mas suficiente será para catapultá-lo à condição de líder inconteste da oposição ao futuro governo.
O PSDB perdeu para Bolsonaro uma fatia expressiva dos seus eleitores. Por causa dos muitos erros que cometeu na Era PT e mesmo depois dela, ficou sem discurso, sem rumo, e sem rosto.
Corre sério risco de perder o governo do Estado mais importante do país. E de no Congresso, a emergir das urnas, contar com menos representantes. Será mais um partido de médio porte, como outros.
Quanto ao PT, ainda é muito cedo para dizer-se alguma coisa. Até mesmo para dizer que seu candidato participará ou não do segundo turno. Ele cresce. Mas sua rejeição cresce na mesma medida.
Ricardo Noblat: A falta que faz o capitão
O que será da campanha de Bolsonaro sem ele
O deputado Jair Bolsonaro (PSL), alvo de um atentado há 12 dias e internado em um hospital de São Paulo, tem um problema. Um baita de um problema.
Para ser preciso, Bolsonaro, que segundo os médicos está proibido de falar, não sabe que tem um problema. Seus companheiros de aventuras é que sabem e têm.
Como disputar o primeiro turno da eleição com um candidato que talvez não se recupere até lá por mais que seus filhos digam que ele é tão forte quanto “um cavalo”?
E se a saída de cena de Bolsonaro se estender por parte do segundo turno, quer ele o dispute como parece certo, ou caso fique de fora?
Bolsonaro é ele mesmo e suas circunstâncias. Deu voz a um Brasil conservador, repleto de preconceitos e em parte saudoso do regime da lei e da ordem.
Como Donald Trump, nos Estados Unidos, jamais imaginou que poderia chegar lá, nem se preparou para tal. Agora, sequer pode refletir a respeito.
O que se apresenta como o estado maior da campanha de Bolsonaro pode ser um estado, mas de baixa estatura e formado à base do improviso.
O vice, um general que admite o autogolpe e que defende uma nova Constituição escrita a poucas mãos, não foi a primeira escolha de Bolsonaro, nem a segunda.
O presidente do partido ao qual o candidato se filiou é um evangélico ensandecido, capaz de disparar os mais chocantes absurdos sem franzir o cenho.
Os filhos… Três dependem do pai para se eleger. O quarto se prepara para entrar na política surfando na popularidade do pai. São toscos como Bolsonaro.
Sobra o economista Paulo Guedes, a quem Bolsonaro delegaria a condução do governo uma vez eleito. Guedes considera Bolsonaro um cara domesticável, ou a domesticar. Veja só…
Enquanto permanecer sem voz, entre a vida e a morte, quem comandará uma tropa dessas? Quem arbitrará as divergências? Quem falará para a turba inquieta e sem líder no momento?
O atentado serviu para dar coesão aos eleitores do capitão que baixou ao hospital para se curar de ferimentos. Mas eles não são suficientes para Bolsonaro se eleger.
Quem negociará apoios a Bolsonaro em um eventual segundo turno? Quem firmará compromissos em seu nome? Como os eleitores reagirão à sua ausência?
O dia D de Alckmin
É fato que muitos políticos abandonaram Geraldo Alckmin (PSDB) mal os nove partidos que o apoiam oficializaram seu apoio. E que Alckmin sabia que isso iria acontecer.
É fato que embora Alckmin se arraste sem conseguir decolar, ainda restam 24 dias até que os eleitores possam definir que candidatos disputarão o segundo turno da eleição presidencial.
Pode não parecer, mas isso significa muito tempo. Em 2006, por essa época, Lula, que tentava se reeleger, tinha uma vantagem de 22 pontos percentuais sobre Alckmin.
A vantagem evaporou-se rápido. Alckmin foi para o segundo turno com pinta de quem talvez vencesse. Tornou-se autor de uma proeza notável: teve menos votos do que no primeiro turno.
Mas políticos ávidos por votos não querem saber de nada disso. O prazo que deram para que Alckmin se mexa convincentemente para cima deverá se esgotar hoje, dia de nova pesquisa Datafolha.
ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente do DEM, aliado sincero de Alckmin, assiste a ameaça de debandada de suas bases eleitorais na Bahia e tenta contê-la.
Aos candidatos do seu partido irredutíveis em tal propósito, ele deseja felicidades e renova o compromisso de estarem sempre juntos. Aos que não são candidatos, pede que fiquem com Alckmin.
A questão não é simples assim. Os não candidatos, do DEM ou de qualquer outro partido, disputam indiretamente a eleição por meio dos que são candidatos. Tem interesse que eles se elejam.
A um político, pode-se pedir tudo – menos que se suicide. Daí… Pois é. O relógio corre contra Alckmin.
Ricardo Noblat: Eleição sem comoção
Jogo aberto
O atentado contra a vida do deputado Jair Bolsonaro (PSL) foi “um ataque à democracia”.
(Se foi, o eleitor não avaliou assim. Se avaliou, não está preocupado com a sorte da democracia – ou por que não liga para ela ou por que acha que ela resistirá ao golpe sofrido.)
O atentado de Juiz de Fora irá produzir uma profunda comoção.
(Aparentemente, não produziu. Do contrário, a comoção certamente teria impulsionado a candidatura de Bolsonaro – para o céu ou para o inferno.)
A história da eleição de 2018 foi uma até o dia 6 de setembro. Será outra a partir de então.
(A conferir, no futuro, se o atentado de fato mudou a história da eleição.)
Bolsonaro ficou onde estava nas intenções de voto do distinto público ouvido pelo Datafolha. Oscilou míseros dois pontos percentuais para cima, dentro da margem de erro da pesquisa.
É o campeão da rejeição, mas não se pode dizer que ela aumentou. A pesquisa anterior do Datafolha ainda contou com o nome de Lula, a de ontem não. Nesse aspecto, são incomparáveis.
Ciro Gomes (PDT) cresceu para além da margem de erro da pesquisa? Marina Silva (REDE) caiu para além da margem de erro? Geraldo Alckmin (PSDB) não saiu do lugar?
Ensina a ciência da pesquisa que se deve esperar que a próxima, aplicada pelo mesmo instituto, confirme ou não os resultados da anterior. Só assim se poderá falar em tendência de crescimento de uns e de queda de outros. Do contrário, terá sido um soluço.
O Datafolha voltará a campo amanhã, quinta e sexta-feira. E na própria sexta-feira divulgará os resultados de nova pesquisa. Esta noite será a vez do Ibope informar o que apurou desde sua última pesquisa da semana passada.
A eleição presidencial continua aberta. Só agora o eleitor começa a despertar para ela.
A hora e a vez do figurante
Que seja feita a sua vontade
No início dos anos 70 do século passado, ao entrevistar em Salvador o escritor Jorge Amado sobre seu processo de criação, ouvi dele o que aqui reproduzo de memória.
Disse-me que com frequência a história e os personagens que inventava escapavam ao seu controle. Simplesmente ganhavam independência. E a ele só restava cumprir suas vontades.
Na política como na literatura – por que não?
Lula e Jair Bolsonaro criaram enredos dramáticos para sustentar suas candidaturas a presidente.
Uma a do encarcerado de Curitiba, banido injustamente da vida pública por uma conspiração das elites, e que clama para ser julgado pelo povo em eleição livre.
A outra do ex-capitão disposto a pegar em armas para defender o povo de uma classe política corrupta, de um Estado incapaz de protegê-lo dos bandidos e de uma esquerda perigosa.
Um dos enredos poderá vingar ou não – o de Bolsonaro tem mais chances. Os ou dois poderão ceder o lugar a outro. Dependerá da vontade de quem sempre é tratado como mero figurante.
Em poucas ocasiões o figurante ocupa a boca do palco. Essa é uma. E de sua interpretação dependerá o desfecho da peça.
Ricardo Noblat: O grave erro de Bolsonaro
Pediu para ser atacado – e será
Exibir-se como um paciente em veloz estado de recuperação, dando-se inclusive ao luxo de repetir o gesto de quem simula atirar com uma arma, pode ter servido a Jair Bolsonaro para reforçar a imagem de candidato indestrutível e valente, mas pôs fim à trégua que seus adversários haviam lhe concedido.
Quem ousaria criticar o recente alvo de um atentado que quase resultou em tragédia, e que jaz enfermo em um leito de hospital a precisar de urgentes cuidados médicos? Bolsonaro, digamos, ficou bom depressa demais. E, como mostra foto tirada por seu filho Eduardo, voltou a disparar. Pediu para ser baleado em troca.
A demora em sair do hospital e os boletins médicos diários fariam por Bolsonaro o que ele ficara dispensado de fazer. O país permaneceria em suspense enquanto não o visse plenamente bem disposto. Ninguém o acusaria de aproveitar-se do próprio sofrimento para faturar votos a qualquer preço.
Tal comportamento é próprio de políticos comuns, demagógicos, sem caráter, e Bolsonaro decididamente não seria um deles. O senador Magno Malta, candidato à reeleição no Espírito Santo, talvez fosse. Apressou-se a ser filmado em uma roda de orações ao pé da cama de Bolsonaro ainda em Juiz de Fora.
Melhor para os que disputam uma vaga no segundo turno foi o retorno relâmpago de Bolsonaro à caça de votos. Se o imprevisto não aprontar novamente, só haverá uma vaga de fato em jogo a ser preenchida por Marina Silva (REDE), ou Ciro Gomes (PDT) ou Geraldo Alckmin (PSDB). A outra vaga já tem dono.
Eleitorado algum é mais fiel a um candidato do que o de Bolsonaro, conferiu a mais recente pesquisa de intenção de voto do Ibope aplicada antes do atentado de Juiz de Fora. Não tem para ninguém em matéria de voto cristalizado. E ele cresceu depois de ter sido esfaqueado, como atestarão as próximas pesquisas.
Esta será a eleição das vítimas. Uma de verdade: Bolsonaro. A outra falsa vítima de um golpe: Lula, condenado e preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Não merecíamos uma eleição melhor?
A eleição dos generais
Quando culpa a mídia pelo atentado a Jair Bolsonaro, o que pretende o general da reserva Augusto Heleno, ex-comandante das tropas brasileiras no Haiti, e conselheiro do candidato?
Intimidar a mídia, jogar a população contra ela, calá-la ou torná-la irrelevante. É o sonho da direita extremada que aqui nunca chegou ao poder pelo voto, mas parece próxima disso.
Quando defende o coronel Brilhante Ulstra, o único militar acusado pela Justiça de torturar presos da ditadura de 64, o que pretende o general da reserva Antonio Mourão, vice de Bolsonaro?
Primeiro expor o que de fato pensa a respeito de ditadura e tortura. Segundo assustar os que apoiam os demais candidatos a presidente ou que possam apoiá-los.
A propósito de Ulstra, Mourão disse que “os heróis também matam”. Em entrevista a GloboNews, admitiu que Bolsonaro eleito poderá aplicar o “autogolpe”, provocando nova intervenção militar.
Desde o fim da ditadura que durou 21 anos, os militares jamais tiveram um candidato a presidente para chamar de seu. Agora, tem. Um paisano disposto a governar em nome deles.
Outro drible do PT na Justiça
O programa de propaganda do PT exibido ontem à noite na televisão foi mesmo de quem?
De Lula, que teve negado pela Justiça o pedido de registro de sua candidatura a presidente? Ou de Haddad, por ora apenas vice?
Outra vez o PT burlou a determinação da Justiça. E como essa só age quando provocada, está à espera de ser.
Ricardo Noblat: Como vai Lula
Vai mal
Desde que foi preso, apesar de os seus visitantes dizerem o contrário para efeito de propaganda, Lula convivia com três sentimentos: a raiva, o inconformismo e a esperança na libertação rápida e na candidatura a presidente.
A esperança se foi, embora ele saiba que o ministro Dias Toffoli, tão logo assuma a presidência do Supremo Tribunal Federal, tentará dar um jeito para soltá-lo a partir do início do próximo ano. Ou antes, se for possível.
Acentuou-se a inconformidade de Lula. Ele não cansa de repetir que venceria a eleição presidencial direto no primeiro turno.
Continua com raiva, muita raiva. Nem o PT escapa dela. Quase nada escapa.
Bolsonaro cresce
Efeito atentado
Sondagem eleitoral por telefone feita nas últimas 24 horas sob a encomenda de uma importante instituição do mercado financeiro trouxe duas boas notícias para o deputado Jair Bolsonaro (PSL).
A rejeição ao nome dele, a maior de um candidato a presidente da República segundo a mais recente pesquisa do Ibope, parou de crescer. A intenção de voto em Bolsonaro cresceu cinco pontos.
Geraldo Alckmin, candidato do PSDB, está onde sempre esteve. E Fernando Haddad (PT), que por enquanto Lula e o PT evitam chamar de seu, está na casa dos 8%.
É de vitória o clima que se respira na suíte do quinto andar do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde Bolsonaro se recupera do atentado sofrido em Juiz de Fora.
Bolsonaro torce para enfrentar Haddad no segundo turno. Haddad torce para enfrentar Bolsonaro. Um dos dois está errado.
Ricardo Noblat: Ciro morde e assopra
Sem outro caminho para chegar lá
Que situação, a de Ciro Gomes, candidato do PDT a presidente da República. O PT deu-lhe as costas. Nem com reza braba o apoiaria, como observou certa vez a senadora Gleisi Hoffman, presidente do partido. Na última hora, sabotou a pretensão de Ciro de unir-se ao PSB. Deu ao PSB tudo o que ele queria em troca de o PSB não dar a Ciro seu tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão.
Mas como precisa desesperadamente do voto de pelo menos parte do PT para disputar o segundo turno, Ciro finge não passar recibo do que lhe fizeram. Não perde oportunidade de elogiar Lula. E lamenta que a justiça o tenha impedido de visitá-lo em Curitiba. Assopra Lula e o PT dia sim e o outro também. Morde de leve seus calcanhares. Morde com gosto os de Geraldo Alckmin (PSDB).
Em um eventual segundo turno contra Alckmin ou o ex-capitão Jair Bolsonaro (PSL), Ciro aposta que o PT cairá de graça no seu colo. De graça é exagero.
Algum preço ele terá de pagar.
A volta dos aloprados do PT
É assim a cada eleição
A contratação de internautas para elogiarem o governador do Piauí, candidato à reeleição, é o primeiro ato conhecido nesta eleição dos aloprados do PT, encarregados do trabalho sujo.
Foi Lula que batizou de aloprados seus companheiros de partido como se nada tivesse a ver com eles. Em 2006, quando tentava se reeleger, gente de sua campanha forjou um dossiê contra o PSDB.
Com ele pretendia-se ligar bandidos que superfaturavam os preços de ambulância a Geraldo Alckmin (PSDB), candidato a presidente, e a José Serra (PSDB), candidato a governador de São Paulo.
A Polícia Federal prendeu militantes do PT e uma mala de dinheiro que pagaria pela confecção do dossiê. Como sempre, Lula mostrou-se indignado e surpreso. O caso deu em nada.
Em 2010, nova patifaria foi descoberta, dessa vez envolvendo gente ocupada em eleger Dilma Rousseff. Abortou-se a tempo mais um golpe contra Serra, então candidato a presidente.
Uma coisa é dispor de elementos para investigar a vida dos adversários – todo candidato dispõe. Outra bem diferente é dispor de elementos para falsificar fatos e influir no resultado das urnas.
As redes sociais estão repletas de mentiras. Mas em tempo de eleição, a lei proíbe que propaganda a favor de candidatos seja apresentada como se propaganda não fosse.
Internautas receberam dinheiro para fazer de conta que elogiavam espontaneamente o governador do PT no Piauí. Ele mesmo declarou que isso fora iniciativa “da moçada da direção do PT”.
Os aloprados da estrela voltaram. Ou melhor: eles jamais saíram de cena.
Ricardo Noblat: Eunício Oliveira derrota Ciro no Ceará
Com a ajuda do governador do PT
Foi infernal o último fim de semana do candidato Ciro Gomes (PDT). Sem sucesso, ele tentou até o último momento desmontar a coligação do seu partido com o PT do governador do Ceará Camilo Santana e com o PMDB do senador Eunício Oliveira.
O problema de Ciro é com Eunício. Ele o detesta e não o quer no seu palanque. Ocorre que Cid Gomes, ex-governador do Ceará e irmão de Ciro, é candidato ao Senado e ocupará uma das vagas na chapa de Camilo, candidato à reeleição. Eunício ocupará a outra.
Foi com a autorização dos irmãos Gomes que Camilo, sucessor de Cid no governo, atraiu Eunício para sua chapa. Depois disso, Ciro deu para trás. Cid não deu para não se arriscar a perder uma eleição tida como certa. Então Ciro ficou sozinho na sua rejeição a Eunício.
No último sábado, Ciro ficou indignado ao saber que na convenção do PMDB havia dois enormes retratos – um do irmão Cid, outro de Eunício. No domingo, na convenção do PT, mais dois retratos gigantes – um dele, Ciro, o outro de Lula.
Na ocasião, Camilo exaltou as qualidades de Lula e não se referiu a Ciro. Eunício, que apareceu por lá, desfilou com um adesivo de Lula – e desde então tem repetido diariamente que apoia Lula para presidente e que espera vê-lo livre antes das eleições.
A vida de Ciro está difícil até mesmo no seu Estado.
Ciro cumpre tabela
É de desânimo e muita confusão o clima dentro do alto comando da campanha de Ciro Gomes (PDT) à presidência da República. A amigos próximos, Cid, irmão do candidato e coordenador de sua campanha, admite que Ciro perdeu a chance de disputar o segundo turno quando os partidos que se abrigam sob a sigla do Centrão preferiram apoiar Geraldo Alckmin (PSDB).
Essa foi a maior de todas as perdas. A perda da companhia do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que se declarou neutro na eleição presidencial, representou apenas 44 segundos de tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão que seriam acrescentados ao tempo do PDT. Lamentável. Não foi, porém, uma perda tão ruinosa, na avaliação dos que cercam Ciro.
O PSB jamais iria por inteiro com Ciro. Sua face nordestina é lulista. E a do sudeste e sul está mais próxima de Alckmin. Se tivesse fechado com o Centrão, não só Ciro ocuparia uma fatia expressiva do tempo de propaganda no rádio e na televisão como ganharia uma estrutura partidária com raízes em todas as regiões do país. O apoio eventual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) só serviria para que Ciro dissesse que conseguira isolar o PT à esquerda.
O que fazer daqui para frente? Cumprir tabela. Na esperança que por artes da política e da sorte os ventos acabem soprando a seu favor.
Ricardo Noblat: Lula candidato é fraude
Por que ele não pode cumprir pena como outro preso qualquer?
Que sinuca de bico está o Supremo Tribunal. Se mandar Lula para casa agora, se dirá que o fez a tempo de ele poder ser candidato. Se mandar imediatamente depois da eleição, se dirá que o manteve preso só para impedi-lo de ser candidato. Não seria o caso então de deixá-lo simplesmente cumprir a pena como outros presos?
O ex-governador Sérgio Cabral, do Rio, foi condenado e está preso. Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, também. Assim como está preso o ex-ministro Geddel Vieira Lima, sequer julgado, e o ex-ministro Antônio Palocci, empenhado em delatar para diminuir seu tempo de cadeia. Por que Lula, condenado três vezes, não pode?
Ele foi condenado pelo juiz Sérgio Moro. Apelou então para o tribunal de Porto Alegre. Ali, a sentença do Moro foi até aumentada, e por unanimidade. Lula então apelou de novo. E o mesmo tribunal confirmou a sentença ampliada. Todos os recursos de defesa para libertá-lo foram negados por tribunais superiores. Fazer o quê?
Quem acha que eleição sem Lula é uma fraude tem todo o direito de achar, mas, por coerência, não deveria participar das eleições para não coonestar com a fraude. Mas o PT participará, sim. Como participou de todas as fases do impeachment de Dilma mesmo dizendo que o impeachment era uma fraude. Ou melhor: um golpe.
O impeachment do ex-presidente Fernando Collor, liderado pelo PT, não foi considerado golpe por Lula e os que o apoiaram. Lula liderou a chamada “Marcha dos Cem Mil” a Brasília para exigir o impeachment do então presidente Fernando Henrique Cardoso. O ex-ministro Tarso Genro publicou na Folha artigo a respeito.
Vida que segue. E para que siga com algum grau de ordenamento, cumpra-se a lei que deve servir igualmente para todos, e obedeça-se à Justiça, uma vez que nada de melhor foi inventado. Seria desejável que não se tentasse enganar as pessoas com falsas promessas – mas aí é cobrar demais a muita gente.
No próximo dia 15, quando requerer o registro da candidatura de Lula, o PT não mandará o documento que deveria informar se ele já foi ou não condenado pela Justiça. É o que basta para o registro ser negado. Quer dizer: para tirar vantagem, o PT está empenhado em frustrar milhões de brasileiros com essa história de Lula candidato.
Fazer o quê?
Por que ele não pode cumprir pena como outro preso qualquer?
Que sinuca de bico está o Supremo Tribunal. Se mandar Lula para casa agora, se dirá que o fez a tempo de ele poder ser candidato. Se mandar imediatamente depois da eleição, se dirá que o manteve preso só para impedi-lo de ser candidato. Não seria o caso então de deixá-lo simplesmente cumprir a pena como outros presos?
O ex-governador Sérgio Cabral, do Rio, foi condenado e está preso. Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, também. Assim como está preso o ex-ministro Geddel Vieira Lima, sequer julgado, e o ex-ministro Antônio Palocci, empenhado em delatar para diminuir seu tempo de cadeia. Por que Lula, condenado três vezes, não pode?
Ele foi condenado pelo juiz Sérgio Moro. Apelou então para o tribunal de Porto Alegre. Ali, a sentença do Moro foi até aumentada, e por unanimidade. Lula então apelou de novo. E o mesmo tribunal confirmou a sentença ampliada. Todos os recursos de defesa para libertá-lo foram negados por tribunais superiores. Fazer o quê?
Quem acha que eleição sem Lula é uma fraude tem todo o direito de achar, mas, por coerência, não deveria participar das eleições para não coonestar com a fraude. Mas o PT participará, sim. Como participou de todas as fases do impeachment de Dilma mesmo dizendo que o impeachment era uma fraude. Ou melhor: um golpe.
O impeachment do ex-presidente Fernando Collor, liderado pelo PT, não foi considerado golpe por Lula e os que o apoiaram. Lula liderou a chamada “Marcha dos Cem Mil” a Brasília para exigir o impeachment do então presidente Fernando Henrique Cardoso. O ex-ministro Tarso Genro publicou na Folha artigo a respeito.
Vida que segue. E para que siga com algum grau de ordenamento, cumpra-se a lei que deve servir igualmente para todos, e obedeça-se à Justiça, uma vez que nada de melhor foi inventado. Seria desejável que não se tentasse enganar as pessoas com falsas promessas – mas aí é cobrar demais a muita gente.
No próximo dia 15, quando requerer o registro da candidatura de Lula, o PT não mandará o documento que deveria informar se ele já foi ou não condenado pela Justiça. É o que basta para o registro ser negado. Quer dizer: para tirar vantagem, o PT está empenhado em frustrar milhões de brasileiros com essa história de Lula candidato.
Fazer o quê?
Ricardo Noblat: A arma do PT para tocar fogo no país
O perigo do caos institucional
Uma coisa é o PT, ante a possível decisão do Tribunal Superior Eleitoral de barrar a candidatura de Lula, lançar de imediato outro candidato a presidente para substituí-lo. Ou apoiar um nome de outro partido, o que parece improvável.
Outra, bem diferente, será o PT travar a partir daí uma batalha de recursos judiciais que poderá levar Lula a ser candidato, para que só depois das eleições se saiba se os votos colhidos por ele serão considerados válidos ou nulos.
O primeiro caminho é razoável, seja para dar conforto ao próprio Lula, condenado a 12 anos de prisão e encarcerado em Curitiba, seja para reforçar suas chances de transferir o maior número de votos para o candidato que venha a merecer sua benção.
O segundo caminho seria uma aposta no caos institucional. Imagine que Lula dispute a eleição e que se eleja. O que aconteceria mais tarde se a Justiça, em última instância, anulasse seus votos? Tomaria posse o candidato derrotado por ele. Que tal?
Há uma fatia grande do PT que investe no quanto pior, melhor. A prevalecer, é o que acontecerá. Salvo se a Justiça der um jeito de liquidar a situação no prazo mais curto possível. Por lenta e sujeita a injunções políticas, não será tão simples assim.
A estabilidade política do país – ou o risco de uma ruptura – está nas mãos do PT
Dora Kramer: Ilusão verde-oliva
A força das Forças Armadas é menor do que supõem alguns civis
Constatação provada e comprovada: gente fraca (governante ou governada) vivencia a própria fraqueza na ilusão de que possa importar fortaleza da gente autorizada e legalmente armada na sociedade, seja tal força oriunda da polícia, do Exército, da Marinha e/ou da Aeronáutica.
Daí termos hoje não só um governo fraco, mas também uma boa parcela da sociedade frágil, aquela que acredita no chamado “ao general” para resolver as coisas. No que tange ao Planalto, ele não resolveu a situação do Rio de Janeiro nem deu o jeito esperado na esquisitíssima greve dos transportadores de insumos essenciais ao funcionamento das cidades.
No tocante a boa parte do eleitorado que aparece nas pesquisas justificando a intenção de voto em Jair Bolsonaro pelo desejo de “volta dos militares” ao comando do país, a História conta a história de um equívoco, como a recente divulgação dos documentos da CIA que revelam o envolvimento direto do presidente-ditador Ernesto Geisel no assassinato de dezenas de brasileiros combatentes do regime militar.
Garotos e garotas precisam ser muito bem ensinados a respeito disso. Esse pessoal não viveu nem sofreu os horrores dos medonhos anos da ditadura. Algo diferente ocorre com os integrantes do atual governo, todos contemporâneos dos anos duros; embora nem todos tenham sofrido torturas, todos sabiam o que acontecia. Entusiastas do regime, colaboradores voluntários ou involuntários, quando não entusiastas do regime fechado.
É o caso dos integrantes da cúpula do atual governo. Quase todos filiados ao MDB, mas não praticantes do MDB de Ulysses Guimarães e companhia. Alguns são oriundos da Arena, outros emedebistas de ocasião, nenhum deles herdeiro da luta contra a ditadura. De onde se relacionam sem medo nem limites com os militares, dando a eles mais poderes do que seria aconselhável.
Por anos o Brasil precisou se igualar a nações civilizadas em que não havia Ministério do Exército, mas Ministério da Defesa sob o comando civil. Mediante intensas negociações, no final dos anos 90 o então presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu criar o Ministério da Defesa, a fim de que ficasse patente o poder civil sobre a circunstância de atos e fatos atinentes ao mundo dos militares. Houve resistência, mas prevaleceu a persistência.
De modo muito rápido, o presidente Michel Temer deu fim a esse conceito ao nomear como interino e depois manter um militar no comando da pasta da Defesa, na condição de titular. Era o que os militares queriam, não era o que o agora deslocado para o Ministério da Segurança, Raul Jungmann, achava o mais adequado, não é o melhor para a democracia de supremacia civil.
Deu-se, portanto, um retrocesso. Mas sempre podemos transformar o reverso em progresso, desde que a opção seja pôr para andar a carruagem da vida, avançando na direção do viver melhor, até que a sociedade como um todo se convença das vantagens da liberdade, ativo imprescindível das boas democracias, e das desvantagens da maneira autoritária dos regimes de força militar.