Revista Veja

Ricardo Noblat: O maior desafio de Bolsonaro

Guerra à vista

Ou até o final de fevereiro próximo os Estados Unidos e a China chegam a um acordo ou a partir do primeiro dia de março o mundo sofrerá as consequências inimagináveis da guerra comercial a ser travada pelos dois países.

Juntos, eles são responsáveis por dois terços do comércio mundial. É para os dois que o Brasil vende mais ou menos dois terços do que exporta. Se a guerra não for evitada, como se comportará o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro?

Esse será seu maior desafio inicial. Reforma da Previdência Social, relações com os partidos, combate corrupção, ofensiva contra o crime organizado, Escola sem Partido, Acordo de Paris sobre o Meio Ambiente – tudo isso pouco importará.

A Argentina, por exemplo, é o maior comprador dos produtos industrializados do Brasil. Cerca de 80% do que ela produz para exportação é comprado pela China. Numa economia globalizada, o choque entre gigantes não deixará nenhum país a salvo.

O governo do presidente Donald Trump ameaçou elevar de 10% para 25% os impostos sobre os produtos chineses comprados pelo seu país. O governo chinês reagiu dizendo que a ser assim ele faria a mesma coisa e na mesma proporção.

É de supor que o governo Bolsonaro tenha um plano para enfrentar o que possa acontecer. Ainda há tempo para providenciar um. Será um duro teste para a retórica de alinhamento radical do Brasil com os Estado Unidos e de um certo distanciamento da China.


Ricardo Noblat: Bolsonaro sai em defesa do filho

Não pode ficar por isso mesmo

Depois da facada que Jair Bolsonaro levou em Juiz de Fora em 6 de setembro último, o Ministério da Segurança Pública abriu dois inquéritos para apurar se o agressor Adélio Bispo de Oliveira agira sozinho, por conta própria, ou se a mando de alguém.

O primeiro inquérito concluiu que ele agira sozinho. Adélio foi apontado como um homem mentalmente desequilibrado, que se opunha a Bolsonaro pelo que o então candidato a presidente dizia, e também porque supunha que ele era apoiado pela Maçonaria.

Sobre o segundo inquérito, nunca mais se ouviu falar. Dele se encarrega a Polícia Federal. Em outubro, foi prorrogado sem que se definisse uma data para seu termino. É preciso que chegue ao fim. Enquanto não chegar dará margem a todo tipo de especulação.

A polícia pretendia analisar mais de 6 mil conversas de Adélio no celular, e mais de mil e-mails disparados por ele em seu laptop. Bolsonaro, ontem, voltou a referir-se ao episódio – no caso, em uma tentativa canhestra de aliviar a barra do seu filho Carlos.

“Minha morte interessa a muita gente”, afirmou o presidente eleito. Quando lhe perguntaram por que Carlos, no Twitter, escrevera que pessoas próximas a ele desejam sua morte, se possível depois da posse, Bolsonaro desconversou.

Imagine se Ivana, filha do presidente Donald Trump, tivesse postado em uma rede social que gente ligada ao seu pai desejava a morte dele… O mundo desabaria sobre sua cabeça. Ou ela pediria desculpa pelo que havia postado ou seria intimada a confessar o que sabia a respeito.

O que escreveu Carlos, vereador no Rio desde 2011, é muito grave. Ou ele então foi leviano. Não deveria ficar por isso mesmo.


Dora Kramer: Forte apache

O Congresso é melhor em levar na conversa que em bater continência

Com seus quase trinta anos de mandato como deputado, Jair Bolsonaro não é alguém a quem se possa atribuir desconhecimento sobre os caminhos em que as cobras andam no Congresso. Tendo sido o presidente eleito durante aquele período de sócio atleta do clube de um baixo clero catedrático nas manhas e artimanhas do Parlamento, por mais razão não se devem subestimar seus conhecimentos na matéria.

Mais do que você, eu ou qualquer um dos brasileiros tidos como expertos no tema, Jair Bolsonaro tem ciência de que a guarda compartilhada das relações com deputados e senadores entre o deputado Onyx Lorenzoni e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz não é uma aposta necessariamente certeira.

Portanto, ele deve ter um plano cujas informações essenciais garantidoras da eficácia do projeto ainda reserva para si. Se não tiver, pior para todos nós, tripulantes do mesmo barco, sobretudo considerando que o novo mandatário passou muito menos tempo no quartel do que na Câmara e, por isso, percebe (ou deveria perceber) com nitidez que na vigência da democracia é mais fácil o Congresso levar o general Santos Cruz na conversa que os parlamentares aceitarem submeter-se à disciplina militar.

A nomeação de quantidade inédita de militares em governo civil em si não configura risco ao regime nem uma ameaça ao estado de direito, reconquistado a penas duríssimas. É evidente que militares formados (alguns até nascidos) nos anos posteriores à ditadura são diferentes daqueles forjados em critérios anteriores à reformulação constitucional que desde 1988 sustenta o Brasil democrático e que o submeteu a reiterados e exitosos testes de firmeza institucional.

O problema pode vir a ser o método. Militares têm uma dinâmica própria, cuja pedra de toque está fundada na obediência cega à hierarquia. Outra muito diferente (para não dizer oposta) é a lógica condutora do sistema de poder predominantemente civil. Neste, a palavra de ordem é negociação; naquele, a base reside na garantia da ordem pela obediência cega aos ditames da hierarquia.

Militar algum negocia coisa nenhuma com superiores ou com subalternos. Pois bem: parlamentar nenhum presta reverência a ordens-unidas sem que a isso corresponda uma contrapartida, seja ela lícita, ilícita, programática ou de mera conveniência. É da natureza da função, assim como é inerente ao militar o respeito irrestrito à hierarquia funcional.

Na complexidade das relações democráticas entre Poderes, mais importante que a obediência ao comandante é a submissão ao abecedê da mandante de campo hoje, e de modo consolidado para sempre, que responde pelo nome de Constituição do Brasil.

O mantra do avô.
Tão atual quanto inesquecível é a frase que ouvi ainda bem jovem de Roberto Campos em 1999, cujo neto ocupará o Banco Central a partir de 2019: “Minha filha, não é a lei que precisa ser forte, é a carne que não pode ser fraca”.


Revista Veja: FHC - “O centro radical”

FHC diz que eleição explodiu o sistema, afirma que “fascismo” e “comunismo” são apenas fantasmas e que partido sem conexão com a sociedade estará liquidado

Por Ana Clara Costa, da Revista Veja

Prestes a terminar o quarto volume de suas memórias do período em que ocupou a Presidência da República (1995-2002), Fernando Henrique Cardoso, de 87 anos, acredita que o momento político do Brasil requer “paciência histórica”. Diz que o país vive um período de transição, com o fim de um ciclo iniciado na Constituição de 1988, em que os partidos criados falharam em representar os anseios da sociedade. FHC afirma ser exagero ligar o governo Bolsonaro a um movimento “fascista”, apesar da migração das forças políticas para a direita. O tucano prega a construção de um “centro radical” para se opor a medidas extremas e declara que, se o PSDB não ocupar esse papel, ele não vê razões para continuar no partido. “Se o PSDB virar uma sublegenda do governo, qualquer governo, estou fora.”

O senhor tentou, no período eleitoral, criar uma força democrática de centro, e não deu certo. O que aconteceu?
Não houve interesse do eleitor em escolher o centro porque ele achou melhor botar ordem na casa. Quem simbolizou segurança, ordem e combate à corrupção ganhou. Não houve discussão econômica.

Como ocorreu essa tentativa de costurar uma frente?
Estou mais fora da política do que as pessoas pensam. Mas eu acho o seguinte: quando há uma polarização como houve no Brasil, o medo prevalece acima de tudo. A razão perde sentido prático. As pessoas que querem ser razoáveis, como é meu caso, ficam sem espaço. Uns dizem “Eu sou o bem e quero extirpar o mal”. E, quando você diz “Cuidado, o bem e o mal são relativos, é preciso conviver”, você fala sozinho.

Mas o senhor chegou a fazer um movimento concreto nesse sentido?
Eu falei com algumas pessoas, fiz uma ou outra reunião. Mas não estou no cotidiano do partido e acho também que não tinha mais espaço. A polarização não depende de você querer. Ela acontece. Quando a população descobriu as bases podres do poder, ficou contra o poder e quem o simboliza. Acho um absurdo que alguns tenham sido derrotados, gente séria, competente. Mas é assim que funciona. Política não é uma escolha de quem é mais competente, quem é melhor. É de quem, naquele momento, bate com o sentimento do eleitor.

Como chegamos a esse estado de coisas?
Nossa visão do mundo político nasceu no século XIX e se consolidou no XX. Havia as classes, não necessariamente opostas umas às outras, e os partidos, que representavam uma ideologia pertinente aos interesses e valores dessas camadas. O mundo atual rompeu isso porque a mobilidade social aumentou, a coesão entre esses grupos diminuiu e há fluxos de dinheiro e comunicação muito grandes. O primeiro sociólogo que viu esse movimento chama-se Manuel Castells, meu colega em 1968 em Nanterre (na Universidade Paris X, na França, onde FHC lecionou) e meu amigo até hoje. A Sociedade em Rede, livro que Castells lançou em 1996, é, no fundo, isso. Estamos em um momento de transição, e a nova sociedade é dos que estão conectados. Essa conexão salta estruturas e até instituições nacionais.

“Os dois lados estão inventando fantasmas. Um vê fascismo, o outro acha que o comunismo está à porta. Há uma guerra de narrativas. E narrativas em que não entra o povo”

O Brasil vive um momento de desmonte das estruturas, ou, como o senhor diz em seu último livro, “uma nova era”?
Sociologicamente, eu diria que, nestas eleições, “a história se manifestou estourando tudo de maneira cega”. Há momentos em que há explosões, e aqui houve uma explosão limitada, mas foi uma explosão do sistema anterior. Então, há um processo geral que permeia todas as sociedades que estão conectadas. É preciso agregar a tremenda corrupção que houve ao horror que ela produziu. O povo se assustou e disse “basta!”

Houve uma “direitização” do Brasil?
No espectro direita-esquerda, é claro que estas eleições foram mais para a direita. Antes, os partidos polares eram o PT e o PSDB, e quem fazia o meio de campo era o PMDB, que era o partido de Estado, das estruturas políticas. Na verdade, PT-¬PSDB foi uma polarização forçada. O PT dizia que a direita era o PSDB. Agora viu que não é. A sociedade mudou muito, e aqueles que se supunham progressistas não foram capazes de simbolizar algo que o povo aceitasse. Isso quer dizer que o país é conservador? Pode ser. A tendência dos países em geral é se conservar. Todo mundo fala em mudança, em evolução, mas as pessoas têm medo de mudar. Aqui, vão conservar o quê? Não está claro, porque o governo não existe ainda.

A campanha eleitoral foi amparada em valores mais conservadores, como Igreja, família.
Nesse aspecto, seria um conservadorismo que eu diria que a maioria dos brasileiros aceita. Mas a verdade é que o mundo contemporâneo tem muita diversidade. O que se entendia como família era marido, mulher e filhos. Os líderes hoje — não é o meu caso — têm ou tiveram várias mulheres. Como compatibilizar isso com um valor tradicional? Não sei. Porque a realidade mudou, a diversidade passou a ser parte da vida. Como impedir a diversidade? Pode falar que vai, mas, na hora de fazer, não é tão simples.

O Brasil nunca foi território de êxito para posições fanáticas. Considerando-se o acirramento dos ânimos nas eleições, o senhor acha que esse traço da sociedade brasileira pode se transformar em fascismo diluído?
Não. Olha, os dois lados estão inventando fantasmas. Um vê fascismo, o outro acha que o comunismo está à porta. Isso era na época da Guerra Fria, quando o comunismo existia, havia a União Soviética. Onde está isso hoje? Na China? A China está vendendo, comprando, utilizando os instrumentos de mercado para tomar conta do mundo. Na Coreia? A Coreia do Norte é força que imanta alguém? Não. E o fascismo? O fascismo era uma organização que tinha um pensamento, uma concepção corporativa e que se opunha ao comunismo. Então, o que se vê frequentemente são duas imagens do passado. Há uma guerra de narrativas. E narrativas em que não entra o povo, que não está em uma nem em outra. O povo quer trabalho, proteção contra a violência, essas coisas mais normais.

Seria, então, um movimento cíclico de alternância de poder?
De certa forma, porque Jair Bolsonaro representou o encerramento de um ciclo. Talvez o que tenha terminado agora seja o ciclo que inauguramos na Constituição de 1988, quando tivemos uma visão de pluralidade partidária mas acabamos não criando partidos, e sim corporações de interesses de grupos, de pessoas. Mas isso quer dizer que o novo ciclo vai ser permanentemente como ele é hoje? Não. O importante é entender que o momento que vivemos não tem nada a ver com o que ocorreu em 1964. É outro momento. As Forças Armadas não estão pressionando pelo autoritarismo.

“O PSDB ganha quando ele não é ideológico, quando tem pragmatismo com valores. Será que o PSDB vai ser capaz de se reorganizar de forma mais equilibrada? Se não for, estou fora”

Há declarações de generais sugerindo temor de politização dos quartéis.
Mas eles tentam controlar também. E nem sei se vai haver, porque, na verdade, depende um pouco do que o governo faça e de como a sociedade reaja ao que ele fizer. Não há uma teorização de que chegou a hora de quebrar o Estado e fazer outro.

O senhor vê alguma tendência de autoritarismo, como ocorre na Hungria?
Creio que não. O que não quer dizer que eu não tenha preocupação. Acredito que democracia não é dada para sempre, é preciso que ela esteja ativa. Mas nós vivemos uma situação em que, primeiro, eu não votei em quem ganhou, e quem ganhou, ganhou eleitoralmente. Não tem golpe aí. Segundo, a imprensa continua existindo como ela é. Com sua natureza crítica. Em uma sociedade aberta, a imprensa só sobrevive criticando.

Diante das mudanças de estruturas, que papel deverá ter a oposição no novo governo?
Há espaço para o PT? Primeiro, temos de ver o que sobra nesses escombros. Não creio que o PT vá sumir, porque ele expressa setores da sociedade. É preciso que todos os partidos que quiserem sobreviver entendam que o resultado eleitoral é consequência de atos também deles. Essa repulsa é porque os partidos não funcionaram. Mas, mais que uma oposição, é necessário o fortalecimento do que eu chamo de “centro radical”.

O que seria um “centro radical”?
Um centro que não seja amorfo, mas que tenha posições, e que elas não sejam extremadas. E mais: não adianta juntar apenas deputados. Ou tem a sociedade no meio — líderes empresariais, sindicais, religiosos e universitários — ou não existe. Se for mantida a separação entre política e sociedade, a rede vai acabar ligando a sociedade e a política ficará de fora.

Como fazer essa ligação em meio a tanta frustração com a política?
Esses movimentos que apareceram nestas eleições, o Agora, o RenovaBR, o Acredito, são muito importantes, porque é uma nova geração que surge. E chegou o momento em que a geração que estava no mando precisa passar o bastão — não a geração à qual eu pertenço, que já está há muito tempo fora. Mas isso não é uma decisão pessoal, é preciso que a geração seguinte queira pegar o bastão, que tenha energia para isso. Mas tem de dar um pouco de tempo ao tempo. Não se muda de repente tudo. Tem de ter o que eu chamei, num artigo que escrevi, de paciência histórica. Sei que é fácil dizer isso para quem não está no jogo. Mas é necessário.

O PSDB não sabe se ficará no governo ou se será oposição. O senhor antevê um racha e a criação de uma nova legenda?
É possível, mas não é conveniente. Se o PSDB cometer o erro de ser uma sublegenda do governo, acabou. É mais um. Se ele fizer, pelo lado contrário, oposição sistemática estilo PT, também acabou. Ou ele atua realmente como centro radical, na forma como eu defini, ou ele não tem mais sentido. Acho que o PSDB ganha quando ele não é ideológico, quando ele tem pragmatismo com valores, não o pragmatismo do oportunismo clientelístico. Mas neste momento isso não é aceito, porque o pessoal não está equilibrado. Será que o PSDB vai ser capaz de se reorganizar de uma forma mais equilibrada? Se ele não for, eu estou fora.

O senhor sairá do partido se houver adesão ao governo?
Se o PSDB virar uma sublegenda do governo, qualquer governo, estou fora.

O senhor se desfiliará?
Por enquanto não, por enquanto estou fora da posição, mas vamos ver, não sei qual vai ser a dinâmica no PSDB. Perdemos a eleição por erros também nossos. Temos de ser capazes de fazer autocrítica. Sobreviver porque vai ter um carguinho, sobrevive-se, mas com migalhas. Não com voto da maioria, não com o coração nem com a mente da maioria. Ah, para que vou me meter nisso a esta altura da vida?


Ricardo Noblat: Cheiro de naftalina

Por ora, sem razão para susto

Depois dos 21 anos da República dos Generais de 64, nada haverá de mais falsamente parecido com um governo militar do que o próximo do capitão Jair Bolsonaro a ter início daqui a exatos 33 dias.

O último governo dos generais foi presidido por João Baptista de Oliveira Figueiredo, um cavalariano esforçado, namorador, briguento, mas frouxo quando a linha dura do regime o encarou.

Figueiredo contou com 9 ministros militares da ativa e da reserva, incluídos nessa conta os do Exército, Marinha e Aeronáutica, e o chefe do Gabinete Militar da presidência da República.

Ou seja: dos nove, quatro deveriam ser militares dada à natureza das funções que exerceriam. Militares da reserva cuidaram da Casa Civil, da Educação, Interior, Previdência Social e Minas e Energia.

Bolsonaro, ontem, indicou mais um militar como ministro de governo, Tarcísio de Freitas. Ele já foi engenheiro do Exército. Abandonou a farda quando era capitão.

Os outros: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa)

São cinco até aqui, fora o presidente e o vice-presidente. Bolsonaro não descarta a possibilidade de recrutar mais militares para ministérios ou cargos de segundo e terceiro escalões.

“É possível. Quando o PT escalava terrorista, ninguém falava nada”, comentou o presidente eleito, que por ora insiste em não descer do palanque de uma campanha encerrada há um mês.

Lula governou com uma dezena de ex-sindicalistas. Empregou-os porque era sua turma. Bolsonaro emprega a dele. Ex-sindicalista e militar da reserva têm algo em comum: carecem de tropas.


Ricardo Noblat: Como fazer os eleitores de idiotas

Pode isso?

Em vídeo postado no Youtube, André Marinho, filho do empresário Paulo Marinho, por sua vez suplente de Flábio Bolsonaro eleito senador pelo PSL do Rio de Janeiro, confessa que distribuiu “mihares de áudios imitando e se fazendo passar pelo presidente Jair Bolsonaro durante a recente campanha eleitoral.

Foi na casa dos Marinhos, no alto Leblon, que Bolsonaro passou a gravar parte dos seus pronunciamentos veiculados nas redes sociais e na televisão depois de ter-se recuperado do atentado a faca em Juiz de Fora. No vídeo, André parece ao lado dos amigos Kim Kataguiri e Arthur do Val, representante do Movimento Brasil Livre.

Fux mata no peito
Barganha quase completa

Uma vez que o presidente Michel Temer sancionou a decisão do Senado de aumentar de R$ 33,7 mil para R$ 39 mil o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), em troca o ministro Luiz Fux revogou a liminar de sua autoria que garantia o pagamento de auxílio-moradia a juízes de todo o país.

Mas como o aumento só cairá no contracheque dos ministros a partir de janeiro, Fux teve a cautela de determinar que só a partir daí seja suspenso o pagamento do auxílio-moradia. A assinatura de Temer no ato de sanção não bastou, pois. Em janeiro, o presidente da República será outro. Vai que ele dá o dito pelo não dito…

A liminar de Fux data de 2004. Ele a justificou à época com o argumento que o benefício estava previsto na Lei Orgânica da Magistratura Nacional Ao revogá-la, o ministro ressaltou que o benefício era justo, mas que o magistrado precisa “levar em conta a situação econômica do país.” Um drible de corpo…

Se o benefício era justo e estava previsto em lei, não deveria ser retirado. A ser retirado, que jamais fosse em troca de um aumento de salário para os servidores mais bem pagos da República. Quando nada porque há um rombo bilionário nas contas públicas, a situação econômica do país é péssima e cobra sacrifícios de todo mundo.

Não é só a insensibilidade social da toga que espanta, embora não surpreenda. É a barganha conduzida pela mais alta corte de justiça do país e a maneira como a lei é interpretada de modo muitas vezes a favorecer hoje o que se contraria amanhã. Isso explica porque está em queda a confiança dos brasileiros na justiça.


Ricardo Noblat: Por que não te calas, general!

Para atiçar os radicais

A essa altura, no limiar de um governo de ultradireita comandando por um capitão cercado por fardas da reserva e eleito com grande apoio dos quartéis, a quem pode interessar a ordem dada pelo Comandante do Exército, o general Eduardo Villas Boas, para que seus subordinados façam uma reanálise da Intentona Comunista que aconteceu há 83 anos?

Porque é disso que se trata. O Exército já estudou à exaustão o movimento deflagrado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1935 para depor o presidente Getúlio Vargas que chegara ao poder cinco anos antes por meio de uma revolução, e que logo em seguida se transformaria em ditador, assim governando até 1945. A Intentona é uma página virada da história. Os culpados foram punidos.

A ditadura militar de 1964, que durou 21 anos, é outra página virada, com a diferença de que os culpados por ela jamais foram punidos. Pelo contrário: beneficiaram-se de uma anistia para os chamados crimes de sangue. Os que à ditadura a se opuseram, esses foram presos, cassados, torturados e até mortos. Muitos acabaram proibidos de trabalhar. Outros escaparam para o exílio.

Villas Boas está a 40 dias de deixar o posto. Seu substituto já foi escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro. A desculpa que ofereceu para justificar seu ato bizarro foi o de evitar o derramamento de “sangue verde e amarelo” em “nome de uma ideologia diversionista”. Ideologia, por sinal, sepultada no berço onde nasceu, e que na China deu lugar a um capitalismo de Estado.

De onde o comunismo ainda pode se espraiar? Da Coreia do Norte? De Cuba que clama por uma reaproximação com os Estados Unidos? Da Venezuela bolivariana quebrada? O ato de Villas Boas, se não esconde outros objetivos, só servirá para acirrar o ânimo dos que enxergam fantasmas onde eles não existem, uma parcela tresloucada dos eleitores de Bolsonaro que defendem um Estado autoritário.


Ricardo Noblat: Mudar para não mudar

A linha frouxa de corte do capitão

À vontade até então entre lutadores de jiu-jítsu que disputavam uma competição no Parque Olímpico da Barra, na zona oeste do Rio de Janeiro, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) foi importunado por um repórter que lhe perguntou sobre a situação da futura ministra da Agricultura, a deputada Tereza Cristina (DEM-MS).

Quando foi secretária do agronegócio do Mato Grosso do Sul, a deputada concedeu incentivos fiscais ao Grupo JBS apesar de ser sua parceira em negócios de pecuária. O grupo processa Tereza por ter-se sentido lesado por ela. Quer ser ressarcido em um total de R$ 14 milhões, em valores atualizados.

A resposta de Bolsonaro: “Eu também sou réu no Supremo, e daí?”. De fato, Bolsonaro responde no Supremo Tribunal Federal a ação por incitação ao estupro. E acrescentou: “Afinal de contas sou um ser humano, posso errar, e, se qualquer ministro tiver uma acusação grave e comprovada, a gente toma uma providência. Neste momento, ela goza de toda a confiança nossa”.

Se a condição de réu na mais alta corte de justiça do país não impedirá Bolsonaro de assumir e exercer as funções do seu cargo, é legítimo supor que ele não terá motivos para afastar ministros que porventura sejam denunciados e virem réus. Assim, a regra de corte de Bolsonaro que se ofereceu para “mudar tudo o que está aí” dificilmente mudará grande coisa.

Em fevereiro do ano passado, o presidente Michel Temer anunciou que afastaria do governo qualquer ministro que fosse denunciado pela Lava Jato. O afastamento seria provisório se o ministro fosse apenas denunciado pela Procuradoria Geral da República ao Supremo. Mas se a denúncia fosse aceita, o que transformaria o ministro em réu, o afastamento seria definitivo.

Menos de sete meses depois, Temer deu o dito pelo não dito. Dois de seus ministros foram denunciados e continuaram onde estavam. Temer alegou que a denúncia se baseava em “delações fraudadas”. Por duas vezes, ele mesmo foi denunciado, virou réu e o Supremo pediu licença à Câmara dos Deputados para processá-lo. A Câmara negou sob a intensa pressão de Temer.

O presidente que se elegeu faz pouco prometendo “quebrar o sistema” acabará sendo obrigado a engolir o que dizia.


Ruy Fabiano: A reinvenção da esquerda

O PT desgastou-se demais

A esquerda quer se reinventar (o termo é o que tem sido usado por ela própria). O primeiro passo é descolar-se de Lula e do PT, providência já em curso, sob a batuta de Ciro Gomes, do PDT.

Frustrado em seu sonho de encabeçar, nas eleições de outubro passado, uma chapa única das esquerdas, tendo o PT como vice, Ciro não se cansa de acusar Lula de “traição” – e burrice.

O acordo chegou a ser selado verbalmente, na cadeia, mas, na hora H, Lula, temendo o protagonismo de Ciro, optou por Haddad.

Muita gente na esquerda (até no PCdoB), chocada com a vitória acachapante de Bolsonaro – e com a perspectiva de longo jejum de poder -, subscreve a análise de Ciro, que, para além da mágoa, age pragmaticamente. Tanto assim que já baixou o facho de sua retórica.

O raciocínio é simples: o PT desgastou-se demais, associou-se de modo irreversível a corrupção e incompetência e não tem mais condições de cobrar do governo (qualquer governo) o que quer que seja. Pior: perdeu seus quadros principais.

Seu líder, Lula, está preso, ao lado de outros protagonistas do partido – e outros mais, como José Dirceu, devem lhes fazer companhia em breve. A Lava Jato, fortalecida com a presença de Sérgio Moro no Ministério da Justiça, deve expor mazelas ainda ocultas dos 13 anos em que o partido reinou sobre o país.

Resumindo: o desgaste da sigla tende apenas a aumentar. O PT que hoje sobrevive é uma caricatura do original. O partido que, na sua origem, reunia a elite do sindicalismo e intelectuais da USP, Unicamp e PUC, hoje se vê reduzido a um baixo clero iletrado, que busca compensar suas limitações com pantomimas e insultos.

De Sérgio Buarque de Hollanda, Florestan Fernandes, Hélio Bicudo, Paul Singer, entre outros, o partido desembocou em Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Maria do Rosário e Dilma Roussef.

A decomposição qualitativa deu-se no curso do exercício do poder, em que o partido pôs em prática tudo o que condenara, com veemência, em mais de duas décadas de oposição: aliança com as oligarquias mais atrasadas e corrupção, muita corrupção.

O país que recebeu dos tucanos estava bem melhor que o que entregou a Temer, que, apesar de todos os pesares, conseguiu reduzir danos e o repassará a Bolsonaro em melhores condições que as em que o recebeu. A reinvenção parte deste princípio: é preciso mudar a fisionomia da esquerda, torná-la propositiva e idônea – tarefa gigantesca, para dizer o mínimo.

Não basta insultar os adversários, como o próprio Ciro tem o hábito de fazer. José Dirceu, esta semana, constatou que não será curta a passagem de Bolsonaro (e do que genericamente chama de direita) pelo poder. Reconheceu que o novo presidente tem base social e meios para pôr em cena os dois compromissos centrais de sua campanha: combate à corrupção e ao crime.

É cedo para saber a eficácia da estratégia da esquerda. O próprio Ciro, sem mandato, pode vir a ser ultrapassado por outras lideranças. O certo é que o primeiro passo – o descolamento de Lula e PT – indica que já está em curso um processo de autocrítica, indispensável à sobrevivência de quem sai politicamente nocauteado.

*Ruy Fabiano é jornalista


Ricardo Noblat: O que Moro acha disso?

Um problema vultoso ou não

Sabia-se que o deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS), futuro chefe da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro, havia recebido em 2014 do Grupo JBS e por meio de caixa 2 o que Lula chamaria de titica – R$ 100 mil. Descoberto, ele devolveu a metade e prometeu devolver a outra mais tarde.

Descobre-se agora que em 2012, como presidente da seção gaúcha do DEM, Lorenzoni recebeu do mesmo grupo mais R$ 100 mil. Como ele reagiu? Em pronunciamento inflamado, disse tratar-se de uma “denúncia requentada”, mas não explicou por que uma vez que não se sabia dela.

À moda de Lula, acrescentou que poucos políticos ou talvez nenhum tenha se batido tanto contra a corrupção como ele. E que ao ser atingido pela denúncia de 2014, fez em seguida o que “uma pessoa certa” faria: devolveu o dinheiro. Uma “pessoa certa” não teria recebido, mas em todo caso…

O juiz Sérgio Moro, ministro da Justiça escolhido pelo presidente eleito, já havia perdoado Lorenzoni no caso da denúncia mais antiga. Até o elogiou. No caso da denúncia mais nova, ainda não foi ouvido a respeito. Mas Bolsonaro foi ouvido. E respondeu assim:

– É muito difícil você pegar alguém que não tenha alguns problemas, por menores que sejam. Os menores nós vamos ter que absorver. Se o problema ficar vultoso, você tem que tomar uma providência.

Duas denúncias de caixa 2 contra um ministro que ainda nem assumiu o cargo configuram um problema vultoso? Esqueceu-se de perguntar a Bolsonaro.

Bolsonaro com pena dos cubanos

Para acabar com a crueldade do PT

À falta de um porta-voz, cabe muitas vezes aos filhos de Jair Bolsonaro explicar as suas decisões. Assim fez, ontem, no Twitter, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) a propósito da volta dos médicos cubanos ao seu país. Foi um ato humanitário do pai, segundo o filho.

Ele escreveu: “Imagine você receber seu salário e o governo lhe tributar em 70% na fonte. Some a isso um longo período sem poder ver seus filhos. Imaginou? Essa é a realidade dos médicos cubanos. Isso é humano? Claro que não. Jair Bolsonaro quer combater essa crueldade instalada pelo PT”.

São 8.500 os médicos cubanos que deverão deixar o Brasil até o próximo dia 31 de dezembro. Não há de ser nada. O futuro governo certamente já sabe como o que fazer para não deixar na mão os brasileiros atendidos pelos cubanos em 2.885 cidades. Em 1.575 delas, só havia os cubanos.

Em breve, uma vez que o Ministério da Saúde lançará edital para a contratação de quem queira substituir os cubanos nas regiões mais pobres e remotas do país, deverá chover médicos brasileiros interessados. Foi por falta deles que os cubanos vieram. Mas tudo mudará. Deus seja louvado.


Ricardo Noblat: Moro, de servidor a serviçal

Passo em falso

Dê-se de barato, quando nada só para argumentar, que havia prova de sobra no processo do tríplex do Guarujá para condenar o ex-presidente Lula como o fez o juiz Sérgio Moro. Não é o que dizem centenas de juristas, mas tudo bem. É jogo jogado. Sobre o sítio de Atibaia, caso a ser julgado em breve, até petistas coroados admitem que o processo esteja estufado de provas e que Lula não escapará a outra condenação.

Mesmo assim, convenhamos: ao aceitar ser ministro da Justiça do futuro governo de Jair Bolsonaro, Moro ofereceu de graça aos seus detratores farta munição para que o ataquem, e também à Lava Jato. E para que lancem dúvidas sobre sua isenção. O juiz que removeu Lula do caminho de Bolsonaro acolhe feliz da vida o convite para servir àquele que mais se beneficiou de suas sentenças. Esquisito, não? Para dizer o mínimo.

Moro havia jurado mais de uma vez nos últimos anos que jamais entraria para a política e que sua vocação era de magistrado. Deu o dito pelo não dito, mas até aí problema dele. Cada um emporcalha ou lustra ao seu gosto a própria imagem. Acontece que Moro de há muito deixara de ser apenas um juiz destemido que teve a coragem de bater de frente com a corrupção. Por seus méritos, fora alçado à condição de uma ideia.

A saber: ideia de que a força de vontade, se amparada em bons propósitos, pode vencer o mal; ideia de que a justiça, por mais que subordinada a interesses poderosos, preserva a capacidade de se impor em momentos exemplares; por fim, ideia de que apesar da vergonha e da frustração com seus líderes, o povo conserva a força de varrê-los e de promover mudanças na hora que quiser.

É cedo para concluir que tais ideias foram ou irão pelo ralo. Mas não é cedo para supor que elas possam ter sofrido um forte abalo. Um dos atributos da magistratura é sua independência. Outra, o apartidarismo. O juiz que se descobre mais afinado com a política do que com a toga tem o direito de trocar de lado. Mas para que faça isso sem ferir a sensibilidade coletiva há que se dar algum tempo. Moro não se deu, e nem a ninguém.

O juiz que outro dia deu as costas no aeroporto de Brasília ao capitão faminto por notoriedade que lhe batia continência foi o mesmo que voou apressado ao encontro do capitão eleito presidente para lhe bater continência como um soldado raso diante de um superior. Conceda-se que não o fez encantado com o posto que lhe ocupará por dois anos, mas sim com a vaga de ministro a ser aberta no Supremo Tribunal Federal.

E daí? Só jogador de futebol muda de camisa da noite para o dia à primeira proposta de subir na carreira. A Lava Jato, por artes e manhas do próprio Moro, ganhou uma dimensão histórica que não deveria ter sido maculada por qualquer ação do seu principal responsável. Ela vai muito além da roubalheira que descobriu, da dinheirama que recuperou e dos criminosos de alto quilate que puniu recolhendo-os ao xilindró.

Gerações de juízes em formação, e as futuras, ouvirão falar muito do momento em que um grupo de servidores da lei ousou escancarar os vícios de um sistema político em acelerado processo de degradação. Infelizmente, também ouvirão falar do momento em que o esforço tão admirável de passar o país a limpo levou um tranco formidável por conta do ato de um servidor que decidiu se servir e foi promovido a serviçal.


Ricardo Noblat: Bolsonaro preside e Guedes governa

De um único posto a uma rede de postos

Nem Delfim Netto em certo período da ditadura militar de 64, ou talvez somente foi ou aparentou ser mais poderoso do que será a partir de janeiro próximo o economista Paulo Guedes, que de uma só tacada acumulará os ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro.

A confirmar-se o que ontem foi anunciado, Bolsonaro presidirá o país – para isso se elegeu no último domingo com expressiva votação. Mas quem governará será Guedes, o Posto Ipiranga ungido por Bolsonaro, que de simples posto não terá nada. Guedes estará mais para uma rede de postos, a única do mercado, da qual dependerá tudo mais.

Será um tremendo desafio para um economista que nunca serviu a governos em cargos executivos, não tem experiência em lidar com políticos e nem mesmo é reconhecido como uma sumidade por seus pares. Eles reverenciam sua inteligência e seu reconhecido dom para a polêmica, e é só. Caberá a Guedes provar as demais qualidades que imagina ter.

Os ministérios da Fazenda e do Planejamento já foram um só no passado. Deixaram de ser quando o conhecimento avançou e a administração pública se tornou muito mais complexa. A fusão dos dois é considerada um retrocesso por economistas de grosso calibre. Juntá-los com Indústria e Comércio, uma temeridade. Mas vamos que vamos. Bolsonaro tem muitas fichas para gastar.

Se a experiência, afinal, for malsucedida como se teme, ou se o temperamental Guedes acabar se desentendo no futuro com parte dos demais ministros, Bolsonaro sempre poderá dizer que tentou o que lhe parecia o melhor para o Brasil, que não tem e jamais terá a obrigação de entender de tudo, engatando em seguida uma meia volta, volver.

Moro, o Pelé de Bolsonaro
Jogada brilhante
O juiz Sérgio Moro já deu todas as indicações possíveis de que aceitará o convite do presidente Jair Bolsonaro para ser ministro da Justiça e daqui a dois anos ou menos ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) na vaga a ser aberta com a aposentadoria compulsória do ministro Celso de Mello.

Se o convite para ministro da Justiça não trouxesse embutido o acerto para que dali ele saltasse para o STF, até que Moro o recusaria. Mas esse não é o caso. Um lugar na mais alta corte de justiça do país é o sonho de qualquer juiz. Moro acha que sua obra como juiz federal está completa. E sua mulher também concorda.

Quem o suceder no comando do braço original da Lava Jato no Paraná estará obrigado a ser tão rigoroso quanto ele tem sido. E Moro considera que seu trabalho ali está praticamente concluído. Pouco se lhe dá que o PT possa aproveitar sua entrada no governo Bolsonaro para tentar desacreditá-lo. Ele se acha blindado.

Um amigo de Moro, que ainda duvida que ele aceite o convite, lembrou ontem à noite que Fernando Henrique Cardoso, no seu primeiro governo, teve Pelé como ministro dos Esportes. Moro seria o Pelé do governo Bolsonaro. Só que Pelé não desfalcou a Seleção para ser ministro, ele já aposentara as chuteiras.

Moro desfalcará o combate à corrupção como seu líder inconteste. Enfraquecerá a operação da qual se tornou um símbolo. Porá em dúvida sua imagem de juiz isento de paixões políticas. E dará forte munição para que desafetos tentem desqualificar suas decisões. Um prato cheio a ser devorado por um PT faminto.

Quanto a Bolsonaro, será aplaudido pelos seus devotos e também por aqueles que sempre quiseram ver Moro removido de onde está. Uma jogada brilhante de um político que muitos ainda subestimam.