PSDB
O Estado de S.Paulo: 'Não temos um De Gaulle', diz FHC sobre ausência de líder capaz de unir a sociedade
Em Nova York, ex-presidente FHC evita se posicionar de maneira clara sobre sua preferência na corrida pelo Palácio do Planalto
Cláudia Trevisan, enviada especial, O Estado de S.Paulo
NOVA YORK - A menos de um ano da eleição presidencial brasileira, ainda não há na disputa um líder capaz de conquistar o apoio de vários partidos e da sociedade, afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, nesta terça-feira, 14, em Nova York. Em duas horas de discussão com alunos da Universidade de Columbia, ele evitou se posicionar de maneira clara sobre sua preferência na corrida pelo Palácio do Planalto.
“Não temos um De Gaulle”, disse FHC, em referência ao general que presidiu a França de 1959 a 1969 e liderou o país europeu durante a Segunda Guerra Mundial. “Alguém capaz de dar um sentimento de que estamos juntos.” O tucano lembrou que Charles de Gaulle enfrentou uma situação ainda mais difícil que a vivida pelo Brasil e conseguiu reorganizar a sociedade e fundar a Quinta República, em vigor até hoje.
FHC disse que a eleição se dará em um cenário de descrédito dos partidos políticos, em uma disputa na qual a questão moral estará no centro da motivação dos eleitores. Perguntado como o PSDB poderá enfrentar essa questão tendo o senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado da legenda, como um de seus líderes, o ex-presidente respondeu: “Como todos os outros partidos, como todos os outros partidos. Não há diferença nisso aí. Há uns piores que os outros. O meu é o melhorzinho até”.
A chegada de FHC nos Estados Unidos, nesta segunda-feira, 13, coincidiu com o agravamento da crise interna do PSDB, motivada pela disputa em torno da presidência da legenda e sua permanência no governo Michel Temer. O ex-presidente limitou seus contatos com a imprensa a declarações relâmpago, de no máximo 1 minuto.
Fonte ouvida pelo Estado afirmou que FHC está em contato com líderes do PSDB, na busca de um caminho consensual para definir o comando do partido. Havia a possibilidade de ele se reunir com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que está em Boston, mas o encontro ainda não havia sido marcado nesta terça-feira.
Demagogo. Segundo FHC, o descrédito nas instituições políticas no Brasil se reflete na apatia da população. “Agora não há mais pessoas nas ruas, porque as pessoas não acreditam mais.” A emergência de candidatos vindos da extrema direita é um dos novos fatores da disputa presidencial no Brasil, afirmou FHC, que vê o risco de fortalecimento de um líder demagogo.
Para contrapor essa probabilidade, o tucano defendeu a necessidade de um candidato que seja capaz de se cercar de pessoas competentes, apresentar ideias e se comunicar com emoção. “Os partidos normalmente oferecem essas pessoas. Temos várias pessoas. Mas todos os partidos estão em um mau momento.”
Eliane Cantanhêde: Em vez do centro, o Centrão
Racha no PSDB, saída do governo e confronto com o PMDB implodem o centro em 2018
A saída de Bruno Araújo do Ministério das Cidades é mais uma confirmação do que a de José Serra do Itamaraty já indicara: o sonho de boa parte dos tucanos de reviver as glórias da transição com Itamar Franco desfez-se melancolicamente, reavivando o ensinamento de Karl Marx de que a história só se repete ora como tragédia ora como farsa.
Itamar também teve um início atribulado, com sucessivas trocas de ministros da Fazenda, mas chegou ao fim do mandato com gosto de vitória, lugar garantido na história e um candidato imbatível à sua sucessão. Para esse resultado, ele (baiano de nascimento) contou com sua astúcia mineira e com a participação efetiva dos políticos e economistas tucanos, liderados por Fernando Henrique.
Michel Temer também ascendeu à Presidência por um impeachment e com dois trunfos semelhantes ao de Itamar: alta (apesar de disfarçada) capacidade política, aliada a uma baixa pretensão futura. Foi assim, comparando condições e personagens, que José Serra liderou a ala tucana favorável à tese do “quem pariu Matheus que o embale”: se o PSDB foi decisivo ao tirar Dilma Rousseff para estancar a quebradeira do País, tinha responsabilidade com a gestão Temer. Não poderia simplesmente aboletar-se no conforto da arquibancada.
À constatação somou-se o cálculo político: Temer tinha os predicados para dar certo, uma base sólida no Congresso, os quadros técnicos tucanos e, no final das contas, boas chances de interferir ativamente na sucessão de 2018. A favor de quem, se o PMDB tem tamanho, mas não tem nomes? Do PSDB.
O sonho, portanto, era que Temer se transformasse num cabo eleitoral e tanto e apoiasse o próprio Serra, por exemplo, repetindo a relação de Itamar com Fernando Henrique. Mas sonhos são sonhos. A realidade é muito diferente e pode virar pesadelo.
Temer não era Itamar, Serra não era FHC, não havia Plano Real a ser inventado, a Lava Jato se voltou pesadamente contra o PMDB e as duas denúncias de Rodrigo Janot contra o presidente fizeram o resto. Em vez de batalhar para ser um protagonista de 2018, Temer teve de lutar para salvar o pescoço e foi perdendo apoios no PSDB e ganhando mais e mais pressões do Centrão.
Serra saiu de fininho do Itamaraty, acossado por dores de coluna e revelações da Lava Jato, e a situação no PSDB inverteu-se: Serra passou a lavar as mãos para os destinos do governo e Aécio Neves – que operado contra a participação dos tucanos no governo – assumiu o comando da ala favorável a continuar no primeiro escalão. Geraldo Alckmin? Esteve em cima do muro quando o partido entrou e continua em cima do mundo quando está pulando fora.
A demissão de Bruno Araújo abre a porta de saída do PSDB do governo e deixa Temer à mercê do Centrão – PP, PTB, PR, PSD – dando novos contornos para 2018. Uma coisa é um governo Temer com o PSDB, outra muito diferente é sem ele. Assim como uma coisa é uma campanha com PSDB e PMDB do mesmo lado, outra muito diferente é os dois concorrendo entre eles.
Temer conta com a recuperação da economia e dos empregos para entrar em campo, firme e forte, a favor de seu candidato. Nesse caso, ainda incerto e não sabido, Temer e o PMDB serão “players” muito importantes, mas sem um nome considerado realmente competitivo. E o PSDB viverá uma angústia oposta: terá um candidato forte, mas com que unidade, com quais forças políticas, com alguma convicção de vitória?
Assim como Temer não repete Itamar, dificilmente surgirá um novo Fernando Henrique nessa barafunda entre tucanos e tucanos, tucanos e peemedebistas e tucanos e governo. Enquanto o PSDB racha ao meio e o centro se pulveriza, Lula consolida sua liderança pela esquerda e Bolsonaro cristaliza sua imagem de anti-Lula pela direita.
Merval Pereira: PMDB do B
O PSDB, que já representou o novo na política, corre o risco de um triste fim, novamente se aliando ao PMDB velho de guerra. Interessante a estratégia do grupo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) para não caracterizar a saída de Bruno Araújo do ministério de Temer como um protesto. Ele se antecipou a seus colegas, e foi anunciado que coordenará a campanha do governador de Goiás, Marconi Perillo, à presidência do partido.
Ao mesmo tempo, abre caminho para uma reorganização ministerial, deixando Temer com o cobiçado Ministério das Cidades livre para negociações. Com a decisão do governador de Goiás de não aceitar uma candidatura de consenso para a presidência do PSDB, insistindo em permanecer na disputa, fica claro que a candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, à Presidência da República não é consensual.
A disputa pela presidência do partido será um divisor de águas, e se o grupo do senador Aécio Neves demonstrar que ainda controla as bases partidárias, provavelmente, aliado ao governo Temer, apresentará outro candidato, que poderá ser o prefeito João Doria ou o próprio Perillo, que há muito tem o sonho de se candidatar à Presidência da República.
Ou se aliar a uma candidatura que represente uma eventual retomada econômica, como a do ministro da Fazenda Henrique Meirelles, filiado ao PSD de Kassab. Que, aliás, poderia apoiar também seu velho aliado, o senador José Serra, que pretende disputar o governo de São Paulo.
O centro da disputa passou a ser o futuro do PSDB visto pelas lentes do grupo do senador Aécio Neves, que já anunciou que pretende se candidatar a um cargo majoritário nas próximas eleições, governador de Minas ou senador.
Mesmo tendo o controle da maior base eleitoral do partido, o governador Geraldo Alckmin não tem influência importante nas demais máquinas estaduais, o que aparentemente o senador Aécio Neves mantém, apesar dos percalços por que vem passando. Se a opção desse grupo for mesmo por um candidato paulista, como Doria, em oposição a Alckmin, não restará ao governador outra saída que ir para o PSB, uma alternativa que estava em cogitação já desde que escolheu Márcio França para seu vice.
O PSB ganhará de qualquer maneira um governador de São Paulo, em troca de apoio a Alckmin numa coligação ou, no limite extremo, lançando-o à Presidência da República. A montagem prevista por Fernando Henrique, com a indicação de Alckmin como candidato de consenso à presidência do PSDB, levaria a uma decisão antecipada do candidato do partido à Presidência, e a um ambiente mais pacificado.
A resistência até o momento de Marconi Perillo, e agora o anúncio de que a saída de Bruno Araujo não significa o início da debandada tucana, mas o reforço de uma candidatura a presidente do PSDB com o apoio do Palácio do Planalto, demonstra que a estratégia do grupo de Aécio Neves é mais ampla.
Controlando o partido no ano da eleição, esse grupo poderá impor as soluções que lhe convierem. A destituição do presidente interino, senador Tasso Jereissati, combinada com o próprio presidente Michel Temer, faz parte de um acordo que certamente coloca o PMDB mais uma vez em uma coligação eleitoral que, se será prejudicada pela baixa popularidade governista e pela imagem fisiológica do partido, terá recompensas com o tempo de televisão e a máquina governamental.
Além da esperança de que a economia estará em melhores condições em 2018, beneficiando os aliados do governo. Resta saber se os mecanismos da velha política ainda serão úteis em um país que está polarizado entre posições radicalizadas à esquerda e à direita, e ansiando pelo novo, que tenta surgir, apesar do ambiente adverso.
O PSDB, que já representou o novo na política, corre o risco de um triste fim, novamente se aliando ao PMDB velho de guerra, transformando-se numa espécie de PMDB do B.
Folha de S. Paulo: Para evitar descontrole, FHC e Goldman articulam chapa única em convenção
Para evitar o descontrole total do racha no PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador paulista Alberto Goldman, presidente interino do partido, atuam para garantir a formação de chapa única na convenção em dezembro.
Thais Bilenky
A chance de fracassarem é aventada pela primeira vez na história do partido, em meio à divisão que se explicitou na formação da ala que advoga pelo desembarque do governo Temer e aquela que defende a permanência.
O objetivo de FHC e Goldman é restringir a disputa à Executiva, composta por cargos como presidente, vices, secretário-geral e tesoureiro.
Candidato a presidente do PSDB, o governador de Goiás, Marconi Perillo, disse nesta segunda-feira (13) que "Fernando Henrique me consultou, isso já tinha sido feito por Goldman, se eu concordaria com uma chapa única. Sim, porque quero unidade."
Procurado, seu adversário, o senador Tasso Jereissati (CE), não se manifestou.
A convenção do PSDB terá duas etapas. Primeiro se elegerá a chapa para formar o diretório, composta por 177 titulares e 53 suplentes. Uma vez eleito, o diretório mais os deputados e senadores escolherão a Executiva.
Em geral, a convenção é mera formalidade e tanto diretório quanto Executiva e presidente são acertados previamente. Neste ano, membro da Executiva admitiu a possibilidade de duas chapas se apresentarem.
À Folha, Goldman disse que ambos os candidatos e outras lideranças concordam com a chapa única, mas está trabalhando para garanti-la, dada toda a indefinição. "Seria um desgaste muito grande termos duas chapas, não se pode negligenciar nada."
Além das dificuldades de se preencher chapa tão grande, o constrangimento de caciques em se posicionarem para um ou outro grupo geraria um clima de "vencidos versus vencedores", que aprofundaria o racha, dizem dirigentes tucanos.
Por isso, trabalha-se com a alternativa de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ser aclamado presidente do PSDB.
A equipe de Perillo calcula que ele tenha maioria entre os delegados de Santa Catarina, Minas e Pernambuco, além de Goiás. Conta com o apoio dos governadores Pedro Taques e Reinaldo Azambuja para ampliar votos no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, respectivamente.
Auxiliares reconhecem chance de derrota no Rio Grande do Sul e a divisão em São Paulo e Paraná.
Por sua vez, aliados de Tasso dizem ter os votos da Paraíba, Alagoas, Bahia, Rio, Paraná e boa parte do Rio Grande do Sul, salvo pela deputada Yeda Crusius, que se posicionou a favor de Perillo.
O peso de cada Estado é calculado por fatores como o número de diretórios municipais e sobretudo o tamanho das bancadas na Câmara e no Senado (conta em dobro).
A atual Executiva estima que terá cerca de 550 delegados para votar, sendo que São Paulo é o maior colégio eleitoral, seguido por Minas. Depois Goiás e Paraná estão embolados. Bahia, Santa Catarina e Rio Grande do Sul aparecem na sequência.
Valor Econômico: "O povo não está nem aí para o fato de estarmos ou não em governos", diz José Aníbal
SÃO PAULO - Presidente do Instituto Teotônio Vilela, centro de estudos do PSDB, José Aníbal diz que falta autoestima aos tucanos que criticam a participação do partido no governo Michel Temer. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor.
Valor: Como o senhor avalia a atitude de Aécio ao destituir Tasso?
José Aníbal: Não vejo como destituição. Foi a substituição de um vice-presidente indicado pelo Aécio por outro vice que não está no processo sucessório. Aécio viu que havia o desejo de ter uma condição mais isonômica, de que a presidência fosse exercida por alguém que não é parte da disputa.
Valor: Mas em 2016 Aécio prorrogou seu mandato por dois anos sem deixar a presidência do partido. São dois pesos e duas medidas?
Aníbal: De jeito nenhum. Aécio era presidente eleito do partido e cumpriu o que manda o regimento. Chamou a Executiva e usou os procedimentos previstos. São situações diferentes. Ele até antecipou o fim de seu mandato, que estava previsto para terminar em maio de 2018, e convocou as eleições para este ano. Tem um mal-estar no partido, mas vamos caminhar para o apaziguamento.
Valor: A crise do PSDB se intensifica a menos de um ano das eleições. Essa articulação do Aécio não prejudica a candidatura de Alckmin?
Aníbal: Não acho que agravou a crise. O partido já está mais pacificado. Essa insistência feita pelos 'cabeças pretas' de reduzir a disputa dentro do PSDB a ficar ou sair do governo Temer é algo completamente estapafúrdio, equivocado. O grande desafio é enfrentar os nossos problemas, construir a nossa unidade e fazer o Brasil avançar. O PSDB tem um compromisso firme com as reformas e deve assumir protagonismo nisso. Quanto melhor estiver o país, com a recuperação da economia, menos chances terá uma candidatura salvacionista. A crise interna é um problema nosso e a sociedade não está preocupada com isso.
Valor: Temer deve fazer a reforma ministerial neste mês e poderá tirar o PSDB. O partido não pode ficar isolado se sair do governo por decisão do presidente?
Aníbal: O partido está construindo a sua saída. Essa questão não pode ser uma questão presente na nossa convenção. É resultado de um compromisso: apoiar o governo em direção das reformas. O governo vinha operando as reformas, aprovou a trabalhista e já ia entrar na previdenciária. Vamos sair do governo, mas é uma relação civilizada, foi um compromisso em função de um programa de quinze pontos que apresentamos. Questões internas têm de ser trabalhadas não para a fragmentação do partido, mas para o fortalecimento. A convenção tem que discutir a revitalização das nossas diretrizes, a construção das premissas de um governo a ser adotado pelo candidato à Presidência.
Valor: Tucanos históricos têm dito que o partido voltou a ser o velho PMDB que o PSDB criticava. O lema de "estar longe das benesses do poder, mas perto do pulsar das ruas" vai ser revisto?
Aníbal: Esses tucanos é que estão longe das ruas. Eles não estão entendendo nada, lamentavelmente. O povo não está nem aí para o fato de estarmos ou não em governos. Falam como se a gente tivesse no governo para tirar proveito pessoal. Não é o caso de nenhum dos nossos companheiros. É totalmente diferente. Eles estão totalmente equivocados. Temos esse compromisso de não nos lambuzarmos, de não nos envolvermos com aquilo [governo]. Se acontecer, tem que punir. O que esses tucanos fazem é um diagnóstico fácil, ligeiro, que não ajuda o PSDB a crescer. Pelo contrário. É um rebaixamento. É uma baixa autoestima desses companheiros. Lamento por eles. Tem que prevalecer no PSDB a posição de encarar os desafios e não viver de 'cutucar' os outros. Eles são incapazes de formular uma posição política, que nos associe com os anseios da população. Querem ficar com luta interna. Luta interna, dissociada das questões da população é briga. É isso o que estão querendo fazer. Não vamos deixar.
Valor: O PSDB pode se enfraquecer como alternativa anti-PT e abrir espaço para um nome mais conservador como do Bolsonaro?
Aníbal: Não. Bolsonaro não tem condições de ser presidente do Brasil. É uma aventura, de todos os pontos de vista. Temos que evitar os aventureiros. Lula é uma aventura que a gente já conhece. Bolsonaro é uma aventura que a gente tem memória. É a memória do 'eu prendo e arrebento', 'eu acabo com a inflação com um tiro'. Lembra o Collor. E deu no que deu. O Brasil tem que construir uma posição que aproxime os brasileiros, promova a convergência no propósito de enfrentar esse grande desafio que vivemos hoje. O Brasil tem que voltar a crescer, duplicar a renda da população no médio prazo, crescer a taxa de dois dígitos. É possível. Precisa de racionalidade, temperança. Precisamos de um presidente que seja agregador. O PSDB tem candidato para isso, que é Alckmin. E quem abre caminho para uma candidatura como a do Bolsonaro é o PT e não o PSDB. Lula e Bolsonaro são as duas faces da mesma moeda.
Valor: Quem é seu candidato à presidência do PSDB? Alckmin é uma solução pacificadora?
Aníbal: Alckmin sempre será solução pacificadora. É o estilo dele. Agregador, pacificador. Essa questão pode se colocar. No momento temos dois candidatos. Não vou declarar preferência porque presido o instituto do PSDB. A convenção deve revitalizar os nossos pressupostos e premissas partidários e fornecer elementos para a construção de um governo.
Valor: O resultado da convenção pode levar a debandada do PSDB?
Aníbal: Não há menor hipótese.
Alon Feuerwerker: Para entender 2018 convém olhar a luta entre os dois cansaços: 1) com os políticos e 2) com a confusão
É cômodo caracterizar a disputa interna do PSDB como uma luta de éticos contra fisiológicos, puros contra impuros, tucanos originais contra tucanos perdidos. Uma guerra em que todos sairão mais fracos. Nesta era de ditadura das narrativas e de opressão sobre os fatos, é uma narrativa confortável. Como toda narrativa confortável, convém desconfiar, ao menos para testar.
Também teria sido razoável desconfiar da ideia de que o governo Michel Temer tinha desistido da reforma da previdência. Pela simples razão de que a única razão de o governo Temer existir é tentar fazer as reformas assepticamente chamadas de pró-mercado. Sem apontar para elas, ele não teria ultrapassado as duas votações na Câmara.
O contra-ataque do establishment tucano e o apego do governo Temer às reformas são os dois movimentos fundamentais na dança-tentativa de construir uma candidatura antipetista capaz de ganhar a eleição e também governar. Diferentemente de outras ocasiões em que se buscou um “novo”, é provável que desta vez o segundo vetor tenha um protagonismo relevante.
A sucessão presidencial será decidida num combate entre candidatos, partidos e blocos, sim. Mas também num braço de ferro entre dois cansaços: o cansaço com os políticos e o cansaço com a confusão. Seria um erro subestimar tanto um como outro. O Brasil parece querer livrar-se de ambos num único movimento, num único voto. Mas, e se não for possível?
Se, na eleição, o cansaço com os políticos estiver maior que o cansaço com a confusão, é provável que o eleitor decida por mais confusão para finalmente tentar dar cabo da atual elite política. Mas, se o cansaço com a confusão prevalecer, é possível que ele se incline para um dito político, na esperança de acabar com a confusão, ou impedir sua volta.
O apelo pelo “novo” é periodicamente sexy, mas enfrentará agora pelo menos dois problemas. 1) Os dois últimos presidentes, cada um à sua moda, “novos” foram derrubados e 2) a economia parece ter saído do estado de depressão profunda. Se o medo sempre tem um papel a desempenhar em campanhas eleitorais, não é tão difícil projetar que ele terá aqui uma oportunidade. Inflação baixa e algum crescimento não são de se jogar fora.
Eis por que há espaço para a movimentação de Lula e de Alckmin. Ambos buscam o perfil ideal, cada um em seu campo. Tentam consolidar a ideia de que conseguirão governar, sem entretanto deixar de se colocar como força de renovação. O tucano cultiva suas conexões com os cabeças-pretas, enquanto o petista lança sinais de que governará com menos compromissos.
Claro que a vida real é mais complicada. Nem Alckmin pode simplesmente lançar o velho PSDB ao mar, nem Lula pode se dar ao luxo de desprezar possíveis alianças. Sendo ele próprio candidato ou com outro nome, Lula sabe que uma coisa é ir ao segundo turno numa onda vermelha, outra coisa é fechar a eleição com metade mais um do voto válido. A lembrança de 1989 está disponível.
Observemos os fatos. Já disse algumas vezes: eles costumam ser teimosos.
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A reforma da previdência será aprovada. Agora. Ou em 2018. Ou em 2019. Nenhum futuro governo escapará de fazê-la, ou continuá-la, pela simples razão de que se alguma reforma da previdência não for feita o teto de gastos garroteará o orçamento e não será possível governar. O teatro da política talvez imponha ao eleitor um novo estelionato. Com os riscos nele embutidos.
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É da política que se tente aproveitar a fragilidade jurídica de Lula para recolher parte do capital político dele, eventualmente desgarrado. Vêm desse fato tanto ensaios como Luciano Huck, com sua suposta penetração entre os pobres, como as candidaturas de esquerda supostamente críticas ao PT.
É da política, mas tanto num como noutro caso será preciso avaliar se foi a tática mais inteligente. Dispersar forças não costuma ser inteligente.
* Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação
O Globo: ‘O PSDB tem imperadores e não decisões coletivas’, diz Alberto Goldman
Ruy Fabiano: O declínio da esquerda
PT e PSDB, que por décadas simularam um antagonismo de fachada, chegam juntos ao ocaso político. Enquanto o PT padece as consequências do desastre que impôs ao país, o PSDB, que lhe oferecia falso contraponto, perde suas referências existenciais.
Sua identidade vincula-se à do PT, que protagoniza a esquerda carnívora, enquanto os tucanos posam de socialistas vegetarianos, no melhor estilo da estratégia das tesouras, concebida por Lênin.
Ambos, porém, são faces da mesma moeda, que ora sai de circulação, sob o desgaste da Lava Jato e da debacle institucional do país. Se o povo ainda não sabe o que quer, já sabe, no entanto, o que não quer. E o projeto esquerdista, lastreado no politicamente correto, que busca minimizar ou ultrajar os que se lhe opõem, se empenha em refundar-se sem dispor de lideranças que o renovem.
FHC chegou a dizer que Luciano Huck, o animador de auditório de TV, representa o novo na política brasileira. É um diagnóstico de desespero, que expõe o estado de indigência política do partido.
O nome que despontava entre os tucanos, João Doria, prefeito de São Paulo, é alvo do fogo amigo, que cresce na razão direta de sua compulsão marqueteira. Seus maiores detratores estão dentro de casa – e seu maior concorrente é quem o apadrinhou: o governador Geraldo Alckmin. Parecem destinados ao abraço dos afogados, já que imersos num ambiente sem sinais de consenso.
Lula continua sendo o único nome no horizonte do PT, mas sua popularidade perde cada vez mais para os crescentes índices de rejeição. Seu projeto político hoje é escapar da cadeia. Não é pouco.
Dificilmente conseguirá registrar sua candidatura, como, aliás, já sinalizou o futuro presidente do TSE, ministro Luís Fux. Os petistas, por isso mesmo, passaram a conspirar contra as próprias eleições, como se depreende de reiteradas declarações da presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann. Sem Lula, disse ela, as eleições não terão legitimidade. Órfão de candidato, o partido joga no caos.
Daí o retorno de ações predatórias, de teor criminoso, cada vez mais violentas, sob o patrocínio do MST e do MTST, os “exércitos” de Stédile e Boulos, braços armados do partido, a invadir propriedades e detonar redes elétricas e patrimônio público.
Ambos parecem desejar uma intervenção militar, dada a estratégia de desafio à lei e à ordem que protagonizam.
Lula, como se sabe, prometeu “tocar fogo no país”, sob os auspícios daquelas milícias, caso não possa se candidatar. Ao que parece, é a única promessa que está disposto a cumprir.
Os tucanos, antevendo o drama que ora vivem, tudo fizeram para evitar o impeachment de Dilma Rousseff. Aderiram aos 44 minutos do segundo tempo, e embarcaram no governo Temer na expectativa de dominá-lo. Perderam para as raposas do PMDB.
Coadjuvantes de um governo que já nasceu fadado à impopularidade, discutem agora se dele devem desembarcar. Aécio Neves, presidente afastado, às voltas com a Justiça, quer ficar.
Precisa do guarda-chuva do Planalto. Tasso Jereissati, que o substituía interinamente, quer sair. E tem FHC a seu lado - o que, até há pouco, era um trunfo; hoje talvez já não seja. Aécio, ainda com os poderes formais do cargo, o afastou, abrindo nova crise, que não tem prazo para acabar – e talvez não acabe nunca.
Alberto Goldmann, ex-governador paulista e crítico feroz de João Doria, substitui provisoriamente Tasso e fala em união, vocábulo que, no PSDB, tornou-se uma abstração metafísica. Marcone Perillo, governador de Goiás, disputará com Tasso a presidência efetiva, convicto de que nenhum dos dois dará jeito na encrenca.
As eleições do ano que vem (se o ano realmente vier) já não serão bipolares, como as anteriores. Prometem um vasto elenco de candidatos, o que está longe de significar grandes alternativas ao eleitor. Quantidade, desta vez, será antônimo de qualidade.
O descrédito – que vai dos partidos às urnas eletrônicas – permeia todo o processo, que se antevia precedido de profunda reforma eleitoral. A reforma não veio - e a esperança de renovação do país muito menos. O candidato que mais cresce nas pesquisas, Jair Bolsonaro, evoca no imaginário popular uma ruptura com a conjuntura presente, seja lá em nome do que for.
O eleitor, desencantado, parece dizer que aceita qualquer coisa, desde que não seja o que aí está. O cenário não é dos mais promissores, para dizer o mínimo.
* Ruy Fabiano é jornalista
Míriam Leitão: Os entregadores
Os sete homens fizeram discursos sequenciais em que a palavra mais repetida foi “entrega”. Disseram que vão entregar o que foi prometido por administrações anteriores em exatos 7.439 projetos. Apesar do esforço do governo para construir, com o anúncio de ontem, uma agenda positiva, o que teve destaque foi a ordem de despejo que Aécio entregou a Tasso.
O governo não tem tempo nem dinheiro para entregar o que prometeu nos discursos de ontem do presidente e de seis ministros, mas pelo menos fez uma proposta cuja filosofia é interessante: a de completar obras paradas que se espalham pelo país. Os ministros apresentaram uma coleção de projetos iniciados, alguns há 13 anos, como disse o ministro Bruno Araújo, das Cidades, e disse que o governo vai completá-los. Não iniciar novas obras, mas terminar as antigas.
Isso tem o poder de atrair políticos pelo Brasil afora. Em cada uma dessas obras paralisadas há um grupo de pessoas interessadas. Quem viaja pelo Brasil vê pontes suspensas no ar, duplicações de estradas perigosas que ficaram pelo caminho, puxadinhos de aeroportos mal escondidos atrás de tapumes. Completar o que foi começado é, na maioria dos casos, uma boa ideia. Difícil é combinar isso com a realidade fiscal, administrativa e de governança da administração Temer em seus últimos 13 meses e 20 dias.
O primeiro objetivo que o governo tinha com o anúncio do programa Avançar ele não conseguiu: era o de ocupar com boas notícias, de recomeço de obras, e de investimento, o noticiário do dia. Quem saltou para as manchetes dos portais foi o aliado senador Aécio Neves, pelo golpe dado contra o senador Tasso Jereissati. Com um gesto apenas, Aécio entregou vários recados: que o PSDB não é um partido, é um feudo com dono; que a impunidade subiu-lhe à cabeça; que a proposta de renovação do partido e a autocrítica foram enterradas; que o afastamento do senador, quando ele entrou em apuros por receber dinheiro de um empresário investigado, era puro teatro. Ele era o verdadeiro presidente da tucanolândia, tanto que teve força para destituir o seu suposto substituto e nomear outro para o lugar. Se o partido precisava de mais um sinal de decrepitude, ele foi entregue ontem pelo senador que deveria estar ocupado em explicar as entregas de dinheiro de Joesley Batista feitas através do primo.
O palco montado pelo governo ontem era para dizer em resumo o que o presidente Temer disse: que a crise acabou e que agora o país vai retomar o crescimento. Na narrativa do presidente, seu governo enfrentou um problema há cinco meses, que ele denunciou desde o começo dizendo que era “assim, assim e assado” e que agora “o assado” está aparecendo. Quem assimilou o sentido dessa mensagem ficou assim com impressão de que ele quis dizer que conspiraram contra ele, mas ele descobriu tudo antes. A verdade como se sabe é que ele teve uma conversa de teor indefensável com o empresário Joesley Batista, numa noite do Jaburu, e que se livrou das denúncias com todas as entregas que fez aos grupos de interesse da base do governo.
O argumento usado por Aécio para defenestrar Tasso do posto de presidente do PSDB poderia até ser cômico se estivéssemos em momento de achar graça na política. Disse que Tasso precisava sair do cargo para disputar com seu concorrente em igualdade de condições a presidência do partido. Ou seja, quem está no cargo tem vantagens. E isso dito no partido que inventou a reeleição.
No cenário traçado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o governo vai entregar um crescimento de 3% ao fim do ano que vem. Há sinais de melhora da economia, sem dúvida, mas dificilmente isso entregará ao governo a melhora da popularidade. Também há poucas chances de o programa de ontem, de reapresentar um cozido de obras inacabadas, entregar a agenda positiva que o governo quer.
Esse governo permanecerá sob o sinal da crise até o final, tentando, com nomeações como a desta semana para a Polícia Federal, entregar um salvo conduto para os seus integrantes ou aliados fiéis. O problema é que a encomenda desejada talvez não chegue a tempo.
Merval Pereira: No precipício
O PMDB é um fator decisivo na vida do PSDB, desde sua fundação em junho de 1988, fruto justamente de uma dissidência do PMDB, à época dominado por Orestes Quércia, governador de São Paulo, o principal expoente da ala fisiológica do partido, até o momento da implosão atual, que tem justamente no fisiologismo peemedebista sua razão mais explícita.
Os tucanos hoje se encontram presos a uma contradição de sua própria história, pois não conseguem se desvencilhar de uma aliança carcomida com o PMDB, envolvido, como quase sempre, em acusações de corrupção e fisiologismo político, depois de ter vivido uma história de resistência e luta contra a ditadura em que políticos como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves davam o tom do partido.
Com a indecisão característica de um partido que só encontra posição majoritária quando um fato consumado se apresenta, o PSDB perdeu o timing de sair do governo, e pode morrer afogado, não com Temer, como se temia, mas por Temer e sua aliança de bastidores com o grupo de Aécio Neves, os dois pensando apenas em salvarem as próprias peles.
O interessante nessa situação atual é que o senador Aécio Neves, quando armava sua candidatura à presidência da República, mesmo antes de 2014, se recusava a projetar alianças com o PMDB justamente para se livrar da imagem fisiológica do partido. Queria assumir uma posição mais social-democrata, a mesma que hoje o senador Tasso Jereissati pretende preservar.
O PSDB, aliás, foi salvo de aderir a outro governo tóxico na época de Collor, que convidou seus principais líderes para seu ministério. A adesão, como agora, enfeitiçava uma ala do partido, mas a ação decidida de alguns, principalmente de Mário Covas, ex-candidato à presidência contra Collor, estancou essa possibilidade.
Desta vez a decisão correta de apoiar o governo legítimo de Michel Temer, que substituía a presidente Dilma Rousseff por ter sido escolhido vice-presidente pelo próprio PT, terminou sua validade no dia em que a gravação da conversa de Temer com Joesley Batista veio à tona, tirando completamente a legitimidade de seu governo.
Com a disputa interna para ficar no governo liderada pelo senador Aécio Neves, que, como disse Tasso Jereissati, está “agarrado ao cargo” sem pensar na coletividade, mas em seus interesses pessoais, o partido perde o significado, a identidade e a razão de ser, como já escrevi aqui. Qual é o projeto do partido hoje? Ficar no governo? Ter um bom candidato para 2018?
Essas angústias racham o partido, e o último lance dessa divisão profunda foi a escolha seguida de dois deputados ligados ao grupo de Aécio para serem relatores dos dois processos contra Temer, garantindo o apoio institucional do partido ao presidente, mas não a maioria dos votos.
As digitais do senador Aécio Neves, presidente afastado do PSDB, podem ser encontradas nessa manobra política que desmoralizou a posição majoritária no partido de abandonar o governo Temer.
Majoritária mas não decisiva. O senador Jereissati tem o apoio da maioria dos caciques e ganhou a simpatia dos chamados “cabeças pretas”, os jovens parlamentares e prefeitos que querem decisões mais agudas, como a saída do governo, como defendia o presidente interino. A pressão para que o partido decida logo sua nova direção e parta para uma posição de autonomia diante do governo Temer, apoiando as reformas, mas não com cargos no governo, permanece na disputa pela presidência do PSDB.
Tudo indica, porém, que o partido está ferido de morte e, pior do que da primeira vez em 1988, os dissidentes não têm para onde correr, pois não há tempo para criar um novo partido e nem parece à disposição uma legenda para abrigá-los até abril, data limite para os que quiserem se candidatar a algum cargo em 2018.
É previsível que as lideranças partidárias que se colocaram contra Aécio, se não tiverem força interna para derrotá-lo, se dispersarão no apoio às várias candidaturas já colocadas ou a serem colocadas. Mesmo com uma capilaridade grande pelo país, e uma força grande em São Paulo, o PSDB não terá condições de sobreviver politicamente a esse revés.
Murillo de Aragão: O rumo dos Tucanos
Enquanto arde alta a fogueira nos bastidores do PSDB em torno da disputa entre Tasso Jereissati e Marcone Perillo pela presidência do partido e ainda ecoam os movimentos de João Doria pelo país, em em declaração exclusiva à Arko Advice, Fernando Henrique Cardoso deu o norte para o tucanato nas eleições de 2018.
Foram apenas três aspectos apontados na curta entrevista. Todos de suma importância. O primeiro deles é que o PSDB estará unido em torno de uma candidatura presidencial. Para ele e como sempre, o PSDB - depois de muitas rusgas - convergirá para o apoio majoritário em torno de um candidato.
Foi assim em 2002 com José Serra. Também o foi em 2005 com Geraldo Alckmin. Em 2010, Serra voltou a ser candidato após disputa com Aécio Neves. Em 2014, Serra ensaiou uma disputa com Aécio. Mas a vez era do mineiro. Enfim, apenas FHC se livrou de disputas para ser eleito presidente em duas ocasiões.
No momento, as rusgas do PSDB são outras. Referem-se sobre que vai comandar o partido. João Dória, cujo desempenho mediático o colocava em posição de destaque, perdeu energia. Até a infeliz declaração sobre Alberto Goldman, tudo dava certo para Dória. Não mais. Alckmin ganha terreno e tal fato é reconhecido por FHC que o considera estar melhor posicionado para ser o candidato presidencial do partido.
Na semana passada, ao participar de um evento na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Doria defendeu a unidade do partido em torno de uma candidatura que possa fazer frente ao ex-presidente Lula (PT) e ao deputado federal Jair Bolsando (PSC-RJ).
O prefeito de São Paulo defendeu também a construção de um amplo arco de alianças para garantir um bom tempo de TV no horário eleitoral gratuito. Afirmou, ainda, que não será um agente “fracionador”. Faltou dizer que a preferência é de Alckmin.
O terceiro aspecto de relevância nas palavras de FHC é o apoio que o partido deve dar à agenda de reformas de Michel Temer. Para ele o apoio deve continuar a existir desde que o processo inclua políticas de redução das desigualdades. Porém, e como em política sem existem muitos poréns, tal condicionante termina dando uma porta de saída caso o apoio se torne eleitoralmente indesejável.
Resumindo a ópera tucana: o PSDB vai unido em torno de Geraldo Alckmin e irá tentar atrair um amplo grupo de partidos para constituir uma grande coalizão. Resta combinar com os outros e qual partido irá indicar um candidato a vice-presidente. De preferência bom de voto e do Nordeste.
Luiz Carlos Azedo: Adeus, mudanças!
Bem que Temer tentou convencer os líderes da base aliada, mas não teve sucesso. “Alguns líderes disseram realmente que está difícil, que não temos votos para aprovar a reforma hoje”, disse
O presidente Michel Temer admitiu ontem que o seu governo não tem força para aprovar a reforma da Previdência: “Vou insistir, vou me empenhar, mas concordo que, sozinho, o governo não tem condições de aprovar a reforma da Previdência”, disse. Resultado: o principal índice da bolsa paulista caiu mais de 2% e fechou abaixo dos 73 mil pontos pela primeira vez em dois meses. Foi a reação do mercado, ressabiado por causa do potencial de impacto da não aprovação da reforma nos índices de risco do Brasil.
Bem que Temer tentou convencer os líderes da base aliada, mas não teve sucesso. “Alguns líderes disseram realmente que está difícil, que não temos votos para aprovar a reforma hoje”, disse. Segundo ele, a questão da Previdência não é algo de interesse do governo, mas do país, admitiu. O presidente da República, ao manter o discurso a favor da mudança das regras da Previdência, compartilha o desgaste político de não aprová-las com os aliados, principalmente os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE). Ambos avaliam que o governo não tem votos para aprovar a reforma, a não ser que seja muito mitigada, com objetivo apenas de dizer que o governo fez o que prometeu.
Temer mal metabolizou o desgaste das votações das duas denúncias do ex-procurador-geral Rodrigo Janot contra ele, que foram rejeitadas pela Câmara, e já se vê às voltas com o desembarque iminente do PSDB, anunciado para dezembro pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, num artigo de jornal. Temer foi pego de surpresa pelo aliado “mui amigo”, que aprofundou o racha no PSDB a favor dos que desejam romper com o governo. FHC também tirou o tapete do presidente licenciado da legenda, senador Aécio Neves (MG), aliado de Temer, que recentemente conseguiu não só recuperar o exercício do mandato, do qual havia sido afastado por uma decisão da segunda turma do Supremo Tribunal Federal, como se blindou contra um possível processo de cassação no Senado. Para isso, foi fundamental a solidariedade da bancada do PMDB e de Temer.
A eleição do senador Tasso Jereissati (CE) para a presidência do PSDB será um golpe de morte na aliança do partido com Temer, apesar da indignação dos tucanos que ocupam posições no ministério. É o caso, por exemplo, do ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (SP), que não esconde a irritação com a cúpula do partido. A posição de FHC foi corroborada por declarações do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para quem o PSDB não precisa estar no governo para aprovar as reformas.
É uma boa senha para Temer antecipar a reforma ministerial, que ocorreria naturalmente em abril, reorganizando a base. As votações na Câmara mostraram que o presidente da República conta com 240 deputados para o que der e vier. É com eles que pretende recompor sua equipe, jogando ao mar os representantes dos partidos infiéis, processo que já começou. Experiente no jogo parlamentar, pois presidiu a Câmara por três mandatos, Temer sabe que é mais fácil negociar a aprovação das suas propostas com os antigos partidos de oposição, que estão demarcando distância regulamentar de seu governo, do que com uma base mais fisiológica insatisfeita.
Outro problema de Temer é a deriva eleitoral dos caciques da legenda, que já começam a aderir à candidatura de Lula. Sem um nome competitivo que possa chamar de seu, Temer corre o risco de ter um fim de governo semelhante ao do ex-presidente José Sarney. Tanto que muitos já comparam as eleições do próximo ano com a de 1989, mas há pelo menos duas diferenças importantes no plano institucional: primeira, a sucessão de Sarney ocorreu numa eleição solteira, o que não é o caso agora; segunda, Sarney não podia ser candidato à reeleição, o que não é o caso de Temer.
Mãos pesadas
A 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) ontem aumentou em 14 anos a pena de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT. Foram condenados mais cinco réus na Lava-Jato, entre eles o casal Mônica Moura e João Santana— ex-marqueteiro da legenda. Vaccari, que cumpre prisão preventiva em Curitiba, havia sido condenado em fevereiro a 10 anos de prisão por corrupção passiva, em decisão de primeira instância. A pena agora aumentou para 24 anos.
O desembargador Leandro Paulsen, que absolveu Vaccari nas duas apelações criminais julgadas anteriormente, destacou que “neste processo, pela primeira vez, há declarações de delatores, depoimentos de testemunhas, depoimentos de corréus que à época não haviam celebrado qualquer acordo com o Ministério Público Federal e, especialmente, provas de corroboração apontando, acima de qualquer dúvida razoável, no sentido de que Vaccari é autor de crimes de corrupção especificamente descritos na inicial acusatória”.