primeiro turno

Nas áreas dominadas pelas milícias, no entanto, Bolsonaro, que possui ligações históricas com essas forças paramilitares | Foto: Folha de São Paulo

Bolsonaro é o preferido em áreas de milícia no Rio

Allan de Abreu,* Folha de São Paulo

No primeiro turno das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) teve 8 pontos percentuais a mais de votos do que seu principal oponente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na região metropolitana do Rio, que agrega dezenove municípios. Nas áreas dominadas pelas milícias, no entanto, Bolsonaro, que possui ligações históricas com essas forças paramilitares, expande essa vantagem para 14 pontos, de acordo com estudo inédito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) obtido pela piauí. “Embora à primeira vista a diferença pareça pequena, em uma eleição tão acirrada quanto essa ela é muito significativa”, afirma o cientista político e coordenador do Observatório Político e Eleitoral da UFRJ Josué Medeiros. Bolsonaro teve 53% dos votos nas áreas controladas por milícias, contra 39% de Lula. No Grande Rio como um todo, o presidente teve 50% dos votos, contra 42% do petista.

A vantagem de Bolsonaro diante de Lula cresce conforme aumenta o controle miliciano sobre o território. Para aferir essa tendência, os pesquisadores dividiram as áreas controladas pelas milícias em três níveis: baixo, médio e alto. Essa classificação baseou-se em dois fatores: a presença ou não de outros grupos criminosos no território e a extensão do controle territorial. Assim, Campo Grande e Santa Cruz, na Zona Oeste, são de alta presença miliciana, pois são bairros extensos em que há um monopólio dos paramilitares. Já em Bangu e Senador Camará, o domínio da milícia é baixo e médio, respectivamente, uma vez que os paramilitares convivem com facções do tráfico. 

Olhando o peso da votação de cada um por área, o estudo mostra que 3,52% dos votos de Bolsonaro na Região Metropolitana do Rio vieram das áreas com baixa presença de milicianos; no caso de Lula, essas áreas garantiram 3,14% dos votos do petista, uma diferença de 0,4 ponto percentual. Já nas áreas com alta concentração de paramilitares, a diferença entre os dois se amplia: o atual presidente conseguiu ali 27,51% do total de seus votos, contra 24,08% do petista. A diferença entre os candidatos sobe para 3,43 pontos percentuais, ou quase nove vezes a verificada nas áreas com baixo controle miliciano. Ou seja: na prática, Bolsonaro depende mais dos votos nas áreas de milícia que Lula, e tal dependência é tanto maior quanto mais forte for a hegemonia das milícias nessas áreas.

Infografia: Marco Vergotti

Esse curral eleitoral do bolsonarismo vem crescendo ao longo dos anos. Se em 2012 havia 833 mil eleitores em áreas dominadas pelos paramilitares (ou 9,6% do eleitorado de toda a região metropolitana), hoje são 1,4 milhão, ou 14,8% do total da região metropolitana, mais que o eleitorado de Recife. Já as áreas controladas pelas facções do tráfico de drogas (Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e Amigos dos Amigos), o eleitorado permaneceu estável, com 9,7%. Um estudo divulgado pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF), e pelo Instituto Fogo Cruzado em setembro mostrava que, de 2006 a 2021, as áreas controladas por forças paramilitares cresceram quase 400% no Rio. Os pesquisadores da UFRJ cruzaram os dados desse estudo com as estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Como são muitos os fatores de mediação entre o eleitor e o candidato, como a religião, a ideologia e o clientelismo tradicional, é muito difícil analisar somente o fator milícia isolado dos demais”, pondera Orlando Alves dos Santos Júnior, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) e integrante do Observatório das Metrópoles, ambos da UFRJ. “Mas a análise comprova que a presença ou não da milícia influencia diretamente no voto, disso não há dúvida.”

Em setembro, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), disse ao presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, que candidatos não apoiados pela milícia estavam sendo impedidos de acessar áreas controladas pelos paramilitares na capital – ele não disse quais seriam os candidatos. No dia 2 de outubro, primeiro turno das eleições, olheiros a serviço das milícias em Campo Grande e Santa Cruz tentaram impedir os fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de flagrar crimes como boca de urna e exibição de bandeira de candidatos próximos às seções eleitorais, de acordo com reportagem do jornal O Globo. No pleito de 2018, os fiscais foram atacados com pedras em áreas controladas pelos paramilitares na Zona Oeste – não houve feridos. Atualmente, as maiores milícias do Rio são comandadas por Danilo Dias Lima, o Tandera, e Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho.

No livro A república das milícias, Bruno Paes Manso narra que em 2003, com a eleição do filho Flávio para a Assembleia Legislativa do Rio, Jair Bolsonaro começou a se aproximar de grupos milicianos que surgiam na época por meio de Fabrício Queiroz, um policial militar próximo desses paramilitares que era amigo de Jair. Querendo se vender como representante das milícias no Parlamento fluminense, Flávio nomeou Queiroz para o seu gabinete e passou a laurear policiais suspeitos de integrar milícias e grupos de extermínio, como Adriano da Nóbrega, morto em 2020. No total, foram 32 medalhas. Além disso, segundo o Ministério Público, Flávio financiou a construção de prédios da milícia em Rio das Pedras, berço dos paramilitares, com dinheiro das “rachadinhas” (parte dos salários que os funcionários do gabinete do deputado, incluindo parentes de Nóbrega, eram obrigados a devolver ao parlamentar).

Além dos negócios em comum, o discurso militarista dos Bolsonaro, dizem os pesquisadores, combina com o ethos miliciano, de valorização da lei e da ordem – os paramilitares surgiram com a proposta de expulsar ladrões e narcotraficantes dos bairros, em troca de “taxas de segurança” e do monopólio de determinados serviços, como gás e tevê a cabo irregular. “A solução paramilitar de controle dos territórios é altamente convergente com a imagem de uma sociedade armada como forma de proteção à escalada da violência urbana”, diz Filipe Souza Corrêa, pesquisador do Observatório das Metrópoles. Procurada pela piauí, a assessoria da Presidência da República não se manifestou.

Para o cientista político Medeiros, se nada for feito, a milícia ganhará cada vez mais poder político no estado do Rio, o terceiro maior do país depois de São Paulo e Minas Gerais. “Sabemos que os milicianos sempre buscaram ter representação política. Por isso, se não fizermos nada agora, aonde vamos chegar? A sociedade fluminense precisa fazer essa reflexão”, afirma.

Texto publicado originalmente em Folha de São Paulo Piauí.


(crédito: Reprodução/Twitter)

Ataques aos nordestinos se multiplicam nas redes sociais após 1º turno

Correio Braziliense*

A central da ONG de proteção aos Direitos Humanos Safernet Brasil recebeu cerca de 14 denúncias de xenofobia por hora na última segunda-feira. Ao todo, foram 348 registros no dia após o primeiro turno das eleições. O número quase supera o total de reclamações registrado nos primeiros seis meses do ano passado (358). No domingo, dia do pleito, foram registradas 10 denúncias.

Uma onda de ataques a nordestinos nas redes sociais se estabeleceu conforme a apuração dos votos mostrou o favoritismo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos nove estados que compõem a região. As mensagens partiam principalmente de perfis anônimos, mas que se identificam como apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), e reduziam o Nordeste a uma imagem de pobreza e subdesenvolvimento.

Ontem, viralizou um vídeo no qual a advogada Flávia Moraes, então vice-presidente da Comissão da Mulher da OAB de Uberlândia (MG) — depois da repercussão, ela deixou o cargo —, ataca os nordestinos e diz que vivem de migalhas.

"Nós que geramos empregos, nós que pagamos impostos, vocês sabem o que a gente faz? Nós gastamos o nosso dinheiro lá no Nordeste. Não vamos fazer isso mais. Vamos gastar dinheiro com quem realmente merece. A gente não vai mais alimentar quem vive de migalhas. Vamos gastar nosso dinheiro no Sudeste, no Sul ou fora do país", disse, ao lado de duas amigas. O presidente da OAB/MG, Sérgio Leonardo, disse que vai haver processo disciplinar, cujas penas vão da advertência até a expulsão.

Comparando o primeiro semestre deste ano com o de 2021, a organização já havia observado aumento de 520,6% nas denúncias de xenofobia: pulou de 358 para 2.222 este ano.

Texto publicado originalmente no Correio Braziliense.


Simone Tebet e Bolsonaro durante debate da Globo | Foto: Marcos Serra Lima/g1

Tebet declara hoje apoio a Lula; Temer deve escolher Bolsonaro

Ricardo Abreu, Guilherme Balza e Julia Duailibi*, Globo News

Após o resultado do último domingo (2), apesar de já ter dado sinalizações de que não apoiaria em hipótese alguma o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), Simone Tebet (MDB) se reservou, aguardando uma decisão oficial do MDB. O partido liberou seus diretórios a apoiarem quem quiserem (veja íntegra da nota abaixo). Assim, o caminho fica livre para Simone declarar que está com Lula.

Já o ex-presidente Michel Temer deve se encontrar com Bolsonaro no fim de semana, e há expectativa de que anuncie apoio a ele.

No entanto, a forma de fazer o anúncio ainda é um entrave. Para fazer frente a Bolsonaro, que na terça (4) fechou apoio dos governadores de SP, MG e RJ, o PT quer logo uma foto de Lula e Simone. O petista terá hoje um encontro com lideranças políticas e parlamentares do congresso nacional, que demonstrarão apoio à candidatura. A ideia era mostrar a união e explorar a adesão da força de Simone.

No estado de São Paulo, o MDB anuncia apoio a Tarcisio de Freitas (Republicanos) nesta quarta (5) ao meio-dia, com participação do prefeito da capital, Ricardo Nunes.

Mas uma ala do MDB segue reticente sobre o encontro, e prefere um anúncio solo. Como o partido não vai completamente para o lado de Lula, seria uma forma de se resguardar, e mostrar que o apoio é crítico. Até a tarde desta quarta-feira (5), ligações, pedidos e acertos devem acontecer, de olho no anúncio.

A senadora Mara Gabrilli (PSDB), candidata a vice na chapa de Tebet, declarou na terça (4) que votará em branco no segundo turno.

Leia íntegra da nota divulgada pelo MDB

O MDB é o maior e mais democrático partido do País, o único com presença em quase todos os municípios. Tem convicções claras a favor da Liberdade, da Democracia e da Soberania do povo brasileiro, exercida por meio do voto direto.

Nesta eleição geral, apresentamos um projeto independente e equilibrado, fora da polarização, brilhantemente liderado por nossa candidata Simone Tebet. Não há a menor dúvida de que ela se consolidou como uma liderança nacional.

Nos Estados, reelegemos os governadores do Pará e do Distrito Federal, em primeiro turno. E vamos disputar o segundo turno no Amazonas e em Alagoas. Aumentamos nossa bancada na Câmara e mantivemos uma grande bancada no Senado.

Nas últimas 48 horas, dirigentes, congressistas, governadores e prefeitos externaram sua posição em relação à disputa nacional em segundo turno. Por ampla maioria, o MDB decidiu dar liberdade para que cada um se manifeste conforme sua consciência.

Em qualquer cenário, o MDB deixa claro que cobrará do vencedor o respeito ao voto popular, ao processo eleitoral como um todo e, sobretudo, a defesa intransigente da Constituição de 1988 e do Estado Democrático de Direito.

Deputado Baleia Rossi

Presidente da Executiva Nacional do MDB

Texto publicado originalmente no g1.


Roberto Freire, presidente do Cidadania, durante sessão na Câmara dos Deputados em 2015 | Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Cidadania declara apoio a Lula no segundo turno

Hamanda Viana e Beatriz Borges,* g1

Cidadania anunciou nesta terça-feira (4) apoio do partido ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno da disputa pela Presidência da República.

A decisão de dar apoio ao petista contra o presidente Jair Bolsonaro, candidato do PL à reeleição, foi tomada em uma reunião da Executiva do Cidadania.

"[O partido] decidiu pelo apoio ao candidato do PT no segundo turno. Uma decisão que foi quase por unanimidade. Tivemos três votos defendendo neutralidade. E unanimidade contra Bolsonaro", declarou Roberto Freire, presidente da legenda.

"Bolsonaro, nesses quatro anos, demonstrou o seu total desrespeito às instituições democráticas. Por causa de todo esse risco, vamos votar no número 13", completou.

O presidente do Cidadania já havia declarado apoio pessoal à candidatura de Lula na última segunda-feira (3).

segundo turno das eleições de 2022 será disputado entre Lula, que no primeiro turno obteve 48,4% dos votos válidos, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição e ficou com 43,2%. A votação será no próximo dia 30.

No primeiro turno, o Cidadania apoiou a candidata derrotada do MDB à Presidência, Simone Tebetque ficou em terceiro lugar com 4,16% dos votos válidos.

Durante entrevista em Brasília, Roberto Freire disse que na reunião chegou a ser levantada a hipótese de o Cidadania declarar "apoio crítico" ao candidato do PT. No entanto, a ideia foi rejeitada.

"Tenho muita clareza de que precisamos vencer as eleições pra afastar qualquer risco futuro às liberdades", disse Freire.

Questionado se a declaração de apoio é uma sinalização de que o Cidadania poderá integrar um eventual governo Lula, Freire declarou: "Não. Trata-se de um voto em segundo turno nas eleições presidenciais."

Primeiro turno

No primeiro turno, o Cidadania se coligou com o MDB, o Podemos e PSDB em torno da candidatura da senadora Simone Tebet.

Na noite do domingo (2), em um breve pronunciamento após o resultado do primeiro turno, Tebet afirmou que não ficará neutra no segundo turno. No entanto, ela disse que esperaria as manifestações dos partidos dos partidos da sua coligação para anunciar seu posicionamento.

A executiva do PSDB tem uma reunião marcada para a tarde desta terça-feira (4) e também divulgará sua posição no segundo turno.


Foto: reprodução/TV Globo

PDT declara apoio a Lula no 2º turno; Ciro endossa decisão da sigla

Sandy Mendes e Mariana Costa, Metrópoles*

Mesmo com as diferenças políticas, o PDT, partido do ex-governador do Ceará Ciro Gomes, decidiu apoiar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da disputa presidencial, que ocorrerá no dia 30 de outubro. Segundo o presidente da sigla, Carlos Lupi, Ciro seguirá a decisão.

Em coletiva de imprensa, nesta terça-feira (4/10), Lupi oficializou o apoio ao petista e disse que a decisão foi unânime.

“Todos os partidários vão seguir o partido. Se o partido decide e os partidários não seguem, para que ter partido?”, falou Lupi. “Ciro participou da reunião e disse que endossa integralmente a decisão do partido”, concluiu.

Veja a declaração de Lupi:

Derrotado pela quarta vez na corrida ao Palácio do Planalto, Ciro já foi ministro da Integração Nacional durante o governo do petista.

Para a costura do acordo com o ex-presidente, o partido condicionou a implementação de pelo menos três projetos do pedetista no plano de governo do PT. Entre eles:

  • O programa de zerar dívidas do SPC.
  • O plano de renda mínima; proposto, inicialmente, por Suplicy.
  • O projeto Educação em Tempo Integral.

Primeiro turno

Ao fim do primeiro turno, Ciro Gomes ficou em quarto lugar, atrás de Simone Tebet (MDB), com 3,5 milhões de votos, o que representa 3% dos votos válidos. Na primeira fala após a apuração, ele se disse “profundamente preocupado com o que acontece no Brasil”.

“Eu nunca vi uma situação tão complexa, tão desafiadora, tão potencialmente ameaçadora sobre a nossa sorte como nação”, pontuou Ciro durante entrevista coletiva.

Ele ainda salientou que primeiro conversaria com a sigla para definir eventuais apoios. “Eu peço a vocês que me deem mais algumas horas para conversar com os meus amigos, com o meu partido, para que a gente possa achar o melhor caminho para bem servir à nação brasileira.”

Quarta e última tentativa

Ciro Gomes teve a sua pior votação para o Planalto nesta eleição, que foi a quarta e, segundo o pedetista, última ao cargo.

“O futuro a Deus pertence. Se eu ganhar, quero trocar a minha reeleição pela reforma que o país precisa ter, e que foi jogada na lata do lixo. Se eu não vencer, quero ajudar a juventude a pensar as coisas, sem a suspeição de uma candidatura. Essas coisas sempre podem mudar, mas tenho 64 anos, dei a minha vida inteira à causa do povo brasileiro”, declarou.

Antes, Ciro tentou o Planalto em 1998 e 2002, pelo PPS, e em 2018 pelo seu atual partido, o PDT. Em 1998, teve 7,4 milhões de votos. Em 2002, 10,2 milhões de votos. Em 2018, obteve 13,3 milhões de votos. Agora, foi votado por 3,5 milhões de brasileiros.

Foi deputado, prefeito, ex-governador do estado do Ceará, ministro da Fazenda, durante o governo Itamar Franco, e da Integração Nacional, no governo do ex-presidente Lula.

Texto publicado originalmente no Metrópoles.


Homepage of Economist website on the display | Imagem: Sharaf Maksumov/shutterstock

Eleições 2022: 'Economist' fala em 'vitória com gosto de derrota'

BBC News Brasil*

A eleição presidencial brasileira ocupou posições de destaque em portais da imprensa internacional — com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em geral, sendo apresentado como vitorioso, mas sem força suficiente para garantir uma vitória no primeiro turno sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL).

A seguir, confira como alguns dos principais veículos de imprensa do mundo noticiaram a eleição presidencial brasileira, cujo segundo turno será disputado em 30 de outubro.

'Vitória com gosto de derrota'

A revista britânica The Economist, que deu destaque em seu site para o resultado do primeiro turno da eleição presidencial brasileira, abre sua reportagem principal afirmando que para o ex-presidente Lula, foi uma "vitória com gosto de derrota".

Reprodução do site The Economist

O texto destaca que Bolsonaro se saiu melhor do que o esperado, e que o momentum agora está com ele, e não com Lula — lembrando que muitos aliados do presidente foram eleitos para o Congresso.

Diante deste cenário, a reportagem afirma que se Lula vencer, pode ter dificuldades para governar.

"Isso terá implicações a longo prazo. Mesmo que Bolsonaro perca a presidência, o bolsonarismo parece uma força que chegou no Brasil para ficar."

E diz ainda que o "segundo turno será um teste para as instituições brasileiras".

"Especialmente se Lula acabar vencendo por uma margem estreita, e Bolsonaro se recusar a aceitar o resultado."

'Grande golpe para brasileiros progressistas'

O jornal The Guardian, também do Reino Unido, destacou que Lula foi vitorioso no primeiro turno, mas com desempenho insuficiente. O título de uma das matérias principais do site, que transmitiu os resultados da eleição brasileira em tempo real, dizia: "Ex-presidente Lula ganha em votos, mas não com vitória definitiva".

"O resultado da eleição foi um grande golpe para os brasileiros progressistas que estavam torcendo por uma vitória enfática sobre Bolsonaro, um ex-capitão do Exército que atacou repetidamente as instituições democráticas do país e vandalizou a reputação internacional do Brasil", diz um trecho da reportagem.

Pesquisas julgaram mal força dos conservadores

O jornal americano The New York Times, que criou uma página de transmissão ao vivo de informações sobre a eleição brasileira em seu site no domingo, destacou na página principal que Bolsonaro e Lula vão para o segundo turno.

A reportagem do site do jornal começa afirmando que Bolsonaro teve um desempenho melhor do que o previsto por analistas e pesquisas de intenção de voto — que, nas últimas semanas, "sugeriram que ele poderia até perder no primeiro turno".

"Durante meses, pesquisadores e analistas disseram que o presidente Jair Bolsonaro estava fadado ao fracasso."

"Em vez disso, Bolsonaro estava comemorando. Embora seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente de esquerda, tenha terminado a noite na frente, Bolsonaro superou em muito as previsões e levou a disputa ao segundo turno", acrescenta o texto.

A reportagem cita ainda as eleições estaduais e legislativas, dizendo que "as pesquisas pareceram julgar mal a força dos candidatos conservadores em todo o país."

Ainda assim, o jornal afirma que, nas próximas quatro semanas, Bolsonaro terá que abrir vantagem sobre Lula, que saiu na frente no primeiro turno.

"O presidente de direita está tentando evitar se tornar o primeiro presidente no cargo a perder sua candidatura à reeleição desde o início da democracia moderna no Brasil em 1988."

A publicação destaca ainda que a eleição de 30 de outubro é considerada "a votação mais importante em décadas para o país" — "vista como um grande teste para uma das maiores democracias do mundo".

Para muitos brasileiros, o impensável aconteceu

O Washington Post também destacou no topo de sua página principal que o Brasil teria um segundo turno, afirmando que "o próximo turno colocará Bolsonaro, um incendiário contrário a regulações (pelo Estado) que é chamado de versão brasileira de Donald Trump, contra seu inimigo político, da Silva, líder do Partido dos Trabalhadores".

"A eleição chamou atenção global como o mais novo palco para a luta mundial entre a democracia e o autoritarismo", diz uma parte do texto.

O jornal também mencionou a disparidade entre as pequisas de intenção de voto, que "mostraram consistentemente que Bolsonaro perderia — e perderia feio", e o resultado nas urnas.

"Para muitos brasileiros, o impensável já aconteceu", afirma o texto.

E avalia que o Brasil entra agora em um período "potencialmente desestabilizador" até o segundo turno.

"O país mergulhará agora no que pode ser seu momento politicamente mais incerto desde que deixou o jugo da ditadura. O medo que muitas pessoas já sentiam ao entrar nesta eleição — medo da violência, medo do futuro do país — só aumentará nas próximas semanas."

Feridas continuam abertas

O jornal Público, de Portugal, destacou na manchete "Brasil vai ao 2º turno. Lula vence por 6 milhões de votos" — e trouxe ainda no topo do seu site várias matérias e artigos, além de um editorial com título "Brasil: as feridas continuam abertas".

O Diário de Notícias também publicou no site várias notícias sobre a eleição brasileira, incluindo a manchete "Lula e Bolsonaro vão ao segundo turno".

Já o francês Le Monde destacou o resultado no Brasil como manchete do site: "Eleição presidencial no Brasil: Lula à frente de Bolsonaro, com segundo turno a ocorrer em 30 de setembro".

O subtítulo acrescentava: "Com 48% dos votos, o representante do Partido dos Trabalhadores, antigo chefe de Estado de 2003 a 2010, tem quatro pontos e meio de vantagem em relação ao presidente de extrema direita".

Página principal do Le Monde
Resultado do primeiro turno no Brasil foi manchete no site do Le Monde

Na América Latina

No México, maior país da América Latina depois do Brasil, um dos principais jornais do país, o El Universal, também colocou como manchete o resultado da eleição brasileira: "Lula e Bolsonaro definirão a presidência do Brasil em segundo turno".

O colombiano El Tiempo manchetou que "Lula da Silva e Jair Bolsonaro irão ao segundo turno".

Eleição surpreendente e apertada

Colagem com imagens dos sites do Clarin e La Nación
Jornais argentinos destacaram resultado da eleição brasileira como surpreendente

Na Argentina, o jornal Clarín destacou na manchete o resultado da eleição brasileira como inesperado: "Eleição surpreendente e apertada: Lula ganhou mas irá a disputa com Bolsonaro". O jornal trouxe ainda no topo do site uma seção com informações em tempo real sobre a eleição brasileira.

Final com suspense

O La Nación também trouxe na manchete a surpresa do resultado:

"Final com suspense no Brasil. Lula ganhou, mas a surpresa foi Bolsonaro e haverá mais uma rodada de votação."

*Texto publicado originalmente no site BBC News Brasil


Foto: reprodução/Shutterstock

Revista online | Editorial: O calendário da democracia

Estamos às vésperas do primeiro turno das eleições gerais deste ano, momento propício para fazer o balanço das tarefas postas para candidatos, partidos e eleitores situados no campo da democracia, na resistência, portanto, aos esforços governistas de romper ou avariar os pilares do estado democrático de direito no país. Essas tarefas se distribuem ao longo do tempo, em etapas bem demarcadas pelo calendário eleitoral.

Veja todos os artigos desta edição da revista Política Democrática online

O primeiro objetivo consiste na vitória eleitoral sobre o candidato do governo, no primeiro ou no segundo turno. Para tanto, é urgente, em primeiro lugar, praticar a campanha em prol do comparecimento às urnas, combater, consequentemente, o absenteísmo eleitoral no círculo de parentes, amigos e conhecidos. Em segundo lugar, persistir nos argumentos em favor do voto válido. Convencer o maior número possível de concidadãos a fugir do voto em branco e do voto nulo, uma vez que atitudes de recusa do conjunto de partidos e candidatos não são compatíveis com o momento presente, de alto risco para a democracia. Finalmente, levar com empenho, para o maior número possível de pessoas, o argumento do verdadeiro voto útil: toda opção é legítima e louvável, do ponto de vista da democracia, exceto o voto no candidato do governo.

A presente eleição é singular, ou seja, ao contrário das anteriores, o inesperado pode ocorrer, entre a proclamação dos resultados e a posse dos eleitos. Não faltaram, ao longo dos últimos quatro anos, ameaças, abertas e veladas, de confronto com a vontade dos eleitores, a pretexto da possibilidade fantasiosa de fraude eleitoral em benefício de candidatos da oposição. É fundamental, portanto, apoiar com serenidade e firmeza a Justiça Eleitoral, ao longo da apuração e após o anúncio dos resultados. Toda tentativa de contestação a esses resultados deve ser repudiada de público por todos os atores do campo democrático.

Confira, a seguir, galeria de fotos:

previous arrow
next arrow
previous arrow
next arrow

Finalmente, o sucesso na eleição e na garantia do seu resultado resultará na posse dos eleitos. Abre-se então a terceira fase de recuperação da democracia no país, a reconstrução das instituições. Essa etapa exigirá um acordo amplo, construído de forma aberta e transparente, em torno dos pontos cruciais da agenda democrática, pontos que devem unificar todas as forças desse campo, independentemente de seu posicionamento enquanto governo ou oposição.

Há que reparar a arquitetura institucional do país, com um esforço de reforma direcionado com maior ênfase para todos os setores que demonstraram vulnerabilidades, após três décadas de operação à sombra das regras da Carta de 1988.

Leia também

Revista online | “Brasil precisa de choque para economia de carbono neutro”

Revista online | Confira charge de JCaesar sobre eleições 2022

Revista online | Godard, o gênio exausto

Revista online | Sete meses de guerra e um sistema internacional em transição

Revista online | Militares e o governo Bolsonaro: política ou partidarização?

Revista online | Por que eu voto em Simone?

Revista online | O Chile do pós-plebiscito

Revista online | Um Natal com Darcy Ribeiro

Revista online | Os desafios fiscais para 2023

Revista online | Eleições atrás das grades

Revista online | Não! Não Olhe! Sim! Enxergue!

Revista online | 1789 e 1822: duas datas emblemáticas

Acesse a 46ª edição da Revista Política Democrática online

Acesse todas as edições (Flip) da Revista Política Democrática online

Acesse todas as edições (PDF) da Revista Política Democrática online


Atrás nas pesquisas, Bolsonaro questiona credibilidade das sondagens eleitorais

Eleições 2022: pesquisas 'erraram tudo em 2018' como diz Bolsonaro?

A menos de dez dias do primeiro turno das eleições, os principais institutos de pesquisa do país — como Ipec, Datafolha, Ipespe e Quaest — continuam mostrando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com uma vantagem folgada na corrida presidencial ante seu principal oponente, o presidente Jair Bolsonaro (PL), inclusive com chances de vencer no primeiro turno

O atual mandatário, porém, questiona a credibilidade dessas sondagens e diz que ele que vencerá já no próximo domingo (2 de outubro, dia de votação do primeiro turno). "Essas pesquisas não valem de nada. Erraram tudo em 2018 e agora, obviamente, potencializam o outro lado", disse Bolsonaro na terça-feira (23/09), durante viagem à Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU.

O argumento do presidente e de seus apoiadores para contestar o cenário desfavorável captado pelas pesquisas nesta eleição é dizer que os institutos também não apontaram sua vitória no pleito de 2018. Além disso, também acusam supostos erros das pesquisas em outras disputas daquele ano, como eleições para governos estaduais e vagas no Senado.

Especialistas no assunto ouvidos pela reportagem questionam a argumentação de Bolsonaro, já que as sondagens de 2018 próximas ao dia da votação mostravam a vitória do atual presidente.

Esses especialistas ressaltam ainda que pesquisas não são "prognóstico da eleição", mas apenas um retrato do momento. Isso significa que o resultado das urnas pode ser diferente das sondagens eleitorais, na medida em que a decisão de voto do eleitor pode mudar entre o momento de realização da pesquisa e o dia da votação.

"Mesmo que algumas pesquisas eleitorais divulguem seus resultados no dia anterior à eleição, elas ainda podem não captar certas mudanças ou decisões de voto ocorridas no dia da eleição, no dia anterior ou até mesmo dois dias antes, uma vez que muitas pesquisas começam sua coleta de dados de dois a três dias antes de sua divulgação", reforça o estatístico Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Survey Research Center, da Universidade de Michigan.

Um fator, por exemplo, que pode influenciar a decisão de última hora é o chamado "voto útil", quando o eleitor decide votar num candidato que não é sua escolha inicial porque avalia que ele tem mais chances de derrotar um outro concorrente com mais rejeição.

Neste ano, Lula tem tentado atrair para si ainda no primeiro turno os eleitores de outros candidatos como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) com o discurso de que o voto útil no petista pode garantir sua vitória contra Bolsonaro já no dia 2 de outubro.

Adversários de Lula têm reagido, criticando a iniciativa como antidemocrática, enquanto apoiadores do petista dizem que faz parte da democracia tentar atrair o eleitor dos concorrentes e que seria importante vencer no primeiro turno para enfraquecer possíveis tentativas de Bolsonaro de questionar o resultado das urnas.

Uma das principais bandeiras do presidente tem sido levantar suspeitas infundadas sobre a segurança da urna eletrônica. Para críticos de Bolsonaro, o discurso contra o sistema eletrônico de votação e os ataques contra os institutos de pesquisa fazem parte da estratégia de preparar o terreno para questionar depois o resultado da eleição, em caso de derrota.

Mas o que diziam as pesquisas de 2018?

As pesquisas de 2018 mostram que as sondagens sobre a disputa presidencial realizadas pelos principais institutos de pesquisa captaram com antecedência a vantagem de Bolsonaro no primeiro turno da corrida eleitoral. Na campanha de segundo turno, as sondagens também sempre mostraram Bolsonaro bem à frente de seu adversário, o petista Fernando Haddad (confira os números ao longo da reportagem).

Já antes da votação do primeiro turno, quando os institutos testavam em seus levantamentos possíveis confrontos no segundo turno, as pesquisas mostraram diferentes resultados. Em alguns momentos indicavam que Bolsonaro perderia de Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT). Apenas uma pesquisa, divulgada no dia 28 de setembro, mostrou Haddad (PT) na frente de Bolsonaro num cenário de disputa no segundo turno. As outras sondagens após essa data já mostravam Bolsonaro à frente de Haddad em eventual segundo turno.

Após definição do segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, pesquisas mostraram atual presidente como favorito na disputa

Apoiadores do presidente usam essa pesquisa que, inicialmente, indicava derrota de Bolsonaro no segundo turno para contestar a credibilidade das sondagens, argumento contestado pelos institutos.

"Cabe esclarecer que as simulações de 2º turno feitas no 1º turno das eleições são hipotéticas e nem sempre refletirão o que acontecerá de fato no 2º turno", explicou à BBC News Brasil Márcia Cavallari, diretora do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), instituto fundado por parte da equipe que atuava no antigo Ibope.

"O próprio resultado do 1º turno das eleições tem impacto no posicionamento dos eleitores no 2º turno, além da reacomodação das forças políticas. É uma nova eleição. Não se pode comparar as simulações de 2º turno feitas no 1º turno com as do 2º turno de fato. Os eleitores vão se posicionando ao longo da campanha eleitoral", acrescentou.

Já em alguns pleitos estaduais, os resultados das urnas surpreendeu. Para especialistas, isso foi reflexo de uma eleição atípica, marcada por uma forte rejeição ao sistema político, em que uma onda bolsonarista ganhou força muito próximo do pleito, impulsionando a votação de concorrentes até então pouco conhecidos, como Wilson Witzel (PSC) e Romeu Zema (Novo), eleitos, respectivamente, governadores do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.

O cientista político Antonio Lavareda, que é presidente do Conselho Científico do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), ressalta que, embora as pesquisas não tenham apontado a vitória dos dois, elas já apontavam uma tendência de crescimento.

"Nas pesquisas de véspera da eleição, pelo menos, já havia sinalização de crescimento do Witzel, do Zema, etc. Na verdade, o que houve nas últimas 48 horas, 24 horas antes da votação em 2018 — uma eleição crítica, uma eleição de mudança de paradigma de comportamento — foi uma onda bolsonarista que arrastou [para o cargo] alguns candidatos na reta final em alguns Estados", nota Lavareda.

Os números das pesquisas presidenciais

Vamos relembrar a evolução das pesquisas na última eleição presidencial.

Há quatro anos, as sondagens dos institutos brasileiros mais tradicionais indicavam, inicialmente, Lula como favorito para vencer a eleição. No entanto, o petista foi barrado daquela disputa presidencial em 1º de setembro de 2018 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) porque estava condenado em segunda instância (as condenações foram anuladas em 2020).

Assim que o ex-presidente foi substituído por Fernando Haddad como candidato do PT na corrida presidencial daquele ano, Bolsonaro passou liderar as principais pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno.

Vejamos os dados de 2018 do Ibope, instituto de longa tradição no Brasil que fechou as portas em 2021 e cujos executivos fundaram o atual Ipec.

No levantamento Ibope divulgado em cinco de setembro, Bolsonaro aparecia com 22% das intenções de voto, seguido por Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), cada um com 12%. Logo atrás vinha Geraldo Alckmin (PSDB), com 9%, e Haddad, com 6%. Outros concorrentes somavam 11%. Havia ainda 21% de pessoas com intenção de votar branco ou nulo, e outros 7% que ainda não sabiam em quem votar ou não responderam.

Nas semanas seguintes, as intenções de voto de Bolsonaro e Haddad cresceram continuamente, deixando para trás os demais concorrentes. No levantamento Ibope divulgado em 6 de outubro, véspera do primeiro turno, Bolsonaro aparecia com 36% ante 22% de Haddad.

Já Ciro aparecia quase estável, com 11%, Alckmin havia caído um pouco mais para 7%, e Marina havia derretido para 3%. A soma dos demais candidatos também recuou para 8%. O percentual dos que pretendiam votar branco ou nulo também teve queda expressiva (7%), enquanto os que não sabiam em quem votar ficou em 5%.

Ou seja, ao longo da campanha de primeiro turno, Bolsonaro e Haddad conseguiram atrair votos de outros candidatos, assim como eleitores que antes estavam indecisos ou pretendiam anular seu voto.

Considerando apenas os votos válidos (sem contabilizar brancos e nulos, dado que é usado pelo TSE para definir os eleitos), Bolsonaro tinha naquela pesquisa 41%, enquanto Haddad tinha 25%.

Já na pesquisa de boca de urna, que é realizada no dia da votação, o desempenho dos dois candidatos ficou muito próximo do resultado final. O levantamento do Ibope de sete de outubro mostrou o então candidato do PSL com 45% dos votos válidos, e o petista com 28%. Já o resultado do TSE foi 46% para Bolsonaro e 29% para Haddad, ou seja, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais da pesquisa de boca de urna.

"A pesquisa não tem o papel de antecipar o resultado eleitoral. A pesquisa eleitoral capta atitudes e as intenções de voto, não mede o comportamento do eleitor. Apenas as pesquisas de boca de urna (feitas no dia da votação, logo que as urnas fecham) podem ser comparadas com os resultados oficiais, pois estas estão medindo comportamento", afirma Cavallari.

Embora as pesquisas não tenham a função de prever o resultado das urnas, elas costumam captar bem qual a tendência da evolução do voto. "Via de regra, observamos que os resultados oficiais são um ponto a mais nas curvas de tendência apontadas pelas pesquisas", ressalta a diretora do Ipec.

Fonte: Ibope

A evolução das intenções de voto para o primeiro turno de 2018 captada nas pesquisas Ibope foi a mesma de outros institutos, como Datafolha e Ipespe.

Para Lavareda, Haddad cresceu e chegou ao segundo turno devido a uma transferência dos votos de Lula para o novo candidato do PT.

Já Bolsonaro foi capaz de catalisar o forte sentimento contrário aos partidos políticos mais tradicionais, em especial o antipetismo, que marcou a disputa de 2018. Na medida em que ele despontou como o o candidato mais forte para derrotar o PT, partido que havia ganhado as quatro eleições presidenciais anteriores, Bolsonaro cresceu na preferência do eleitor que não desejava um novo governo petista naquele momento, analisa o cientista político.

As pesquisas sobre segundo turno

Ao questionar a credibilidade das pesquisas, apoiadores de Bolsonaro costumam dizer que os levantamentos sobre o segundo turno de 2018 mostravam que o atual presidente perderia contra todos os outros principais concorrentes.

Nas redes sociais, o argumento costuma vir acompanhado de uma pesquisa do Datafolha de 28 de setembro de 2018, ou seja, mais de uma semana antes do primeiro turno (7 de outubro).

Essa sondagem mostrava que, naquele momento, as intenções de voto indicavam a derrota de Bolsonaro para Haddad (45% a 39%), Alckmin (45% a 38%) e Ciro (48% a 38%).

As três pesquisas seguintes do Datafolha, porém, já mostravam Bolsonaro numericamente à frente de Haddad em um possível segundo turno, embora empatados dentro da margem de erro. Na última delas, na véspera do primeiro turno de 2018, o então candidato do PSL aparecia com 45% das intenções de voto em um eventual segundo turno contra o petista, que, por sua vez, marcava 43%.

Com o resultado da votação do primeiro turno confirmando a disputa entre Bolsonaro e Haddad, todas as pesquisas realizadas durante a campanha do segundo turno passaram a captar uma larga vantagem do atual presidente sobre o candidato petista.

"Nós fazemos as simulações de segundo turno no decorrer do primeiro turno, elas refletem a opinião do eleitor nesse momento de primeiro turno. O segundo turno é outra eleição, nós começamos do zero, não consideramos os resultados dessas simulações obtidas no primeiro turno", disse à reportagem Luciana Chong, diretora do Datafolha.

Fonte: Datafolha

O último Datafolha, divulgado na véspera do segundo turno, indicava Bolsonaro com 55% dos votos válidos e o petista com 45%. O resultado das urnas contabilizado pelo TSE foi: Bolsonaro eleito com 55,13% dos votos válidos, Haddad derrotado com e 44,87%.

"Pesquisa não é prognóstico, mas a pesquisa deve dar pelo menor uma ideia de ordem de colocação (dos candidatos) e de uma certa distância (entre eles). E as pesquisas de segundo turno (de 2018) apresentaram isso: ordem correta e uma certa distância parecida com o que deu", nota Lavareda, do Ipespe.

Surpresas nas disputas estaduais

A credibilidade dos institutos de pesquisa também tem sido questionada devido a grandes diferenças observadas em 2018 entre o resultado das urnas e as pesquisas de intenção de voto em algumas disputas estaduais.

No Rio de Janeiro, por exemplo, o governador que acabou eleito, Wilson Witzel (PSC), aparecia na pesquisa Ibope divulgada na véspera do primeiro turno empatado em terceiro lugar com Índio da Costa (PSD), com 12% das intenções de votos válidos, atrás de Eduardo Paes (DEM), com 32%, e Romário (Podemos), com 20%.

Já a pesquisa de boca de urna do mesmo instituto, feita no dia da votação, já mostrava ele em primeiro lugar, com 39% da preferência do eleitor (considerando votos válidos), seguido de Paes (21%), números muito próximos do resultado das urnas (41,28% para Witzel e 19,56% para Paes).

Witzel acabou derrotando Paes no segundo turno, cenário antecipado pelas pesquisas dos principais institutos realizadas após o primeiro turno.

Fonte: Ibope e TSE

Movimento semelhante aconteceu em Minas Gerais, em que o atual governador, Romeu Zema (Novo), também saiu de terceiro na pesquisa Ibope da véspera da eleição para primeiro lugar no resultado do TSE para o primeiro turno. Na etapa final, ele enfrentou e derrotou Antonio Anastasia (PSDB), resultado antecipado pelas pesquisas do segundo turno.

Também chamou atenção a disputa mineira pelo Senado. As pesquisas indicavam que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) seria eleita. Ela terminou em quarto lugar e foram eleitos Rodrigo Pacheco (DEM) e o Jornalista Carlos Viana (PHS).

Algo em comum entre Witzel, Zema, Viana, e outros candidatos eleitos em 2018, é que eles disputavam um cargo político pela primeira vez e venceram colando suas candidaturas na de Bolsonaro.

Conforme explicou Lavareda, houve uma onda bolsonarista na eleição de quatro anos atrás que impulsionou uma série de candidatos desconhecidos. Além disso, ele ressalta que é mais comum o resultado das urnas divergir das pesquisas para eleições estaduais, que medem as intenções de voto para o governador e Senado, do que das pesquisas para presidente.

Isso ocorre não por causa de "erros" das pesquisas, ressalta Lavareda, mas porque nas eleições estaduais é mais comum que uma parcela maior de eleitores só defina seu voto muito próximo do pleito ou mesmo no dia da votação.

A pesquisa do Ibope para o Senado de Minas Gerais divulgada dia 6 de outubro (véspera do primeiro turno), aquela que dava vitória para Dilma, indicava que 31% dos eleitores não sabiam ainda em quem votar, por exemplo.

Para Lavareda, a eleição de 2022 terá menos surpresas porque neste ano não há mais aquela onda antipolítica que marcou o pleito de 2018.

"Teremos muito menos mudanças abruptas de última hora, mas pode acontecer. Nas eleições para Senado, por exemplo, em que é baixíssima a taxa de interesse do eleitor, o que podemos ver pela intenção de voto espontânea (quando a pesquisa pergunta a intenção de voto antes de apresentar os nomes dos candidatos)", nota Lavareda.

"A intenção de voto espontânea na pesquisa para eleição presidencial é elevadíssima. Já para governador é menos elevado e para senador é baixo. As pessoas vão formar sua preferência na última hora", reforça.

*Texto publicado originalmente no portal da BBC News Brasil.


(Crédito: Caio Gomez)

Nas entrelinhas: Pesquisas refletem disputas na campanha de Bolsonaro

Luiz Carlos Azedo | Nas entrelinhas | Correio Braziliense

A 11 dias da eleição, a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) vive o momento de maior tensão até agora, em razão da estagnação — e até mesmo de recuo — nas pesquisas de intenção de votos divulgadas nesta semana. Ontem, a da Genial/Quaest mostrava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente, com 44% das intenções de voto no primeiro turno, seguido por Bolsonaro (PL), com 34%. Depois aparecem Ciro Gomes (PDT), com 6%, e Simone Tebet (MDB), com 5%, e Soraya Thronicke (União Brasil), com 1%. Os demais candidatos não pontuaram. O primeiro turno das eleições está marcado para 2 de outubro.

Dez pontos de vantagem não são suficientes para Lula vencer o pleito no primeiro turno. Mas a campanha deflagrada pelo PT e seus aliados em favor do voto útil, com a mobilização de artistas, intelectuais e personalidades da sociedade civil, começa a tirar votos de Ciro e pode também atingir uma parcela de eleitores de Simone. Essa possibilidade aumenta a tensão na campanha de Bolsonaro, onde as disputas políticas estão ocorrendo em duas frentes — o marketing político e a gestão da economia.

Na área do marketing, há praticamente duas campanhas. Uma é comandada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL), com apoio do ex-secretário especial de Comunicação Social (Secom), Fabio Wajngarten, e do ministro das Comunicações, Fábio Faria, que não esconde o desconforto com as pesquisas. No começo da semana, questionou os resultados da última pesquisa Ipec (Antigo Ibope), que indicavam Lula com 47% das intenções de voto, 16 pontos percentuais à frente de Bolsonaro, 31%.

“TSE, anote esses números que o Ipec está dando, que no dia 2 de outubro a população vai cobrar o fechamento desse instituto. Chega desses absurdos com pesquisas eleitorais!!! A hora da verdade está chegando”, tuitou o ministro.

Os três discutem a estratégia com o marqueteiro Duda Lima, um especialista em campanhas eleitorais contra o PT no interior de São Paulo, mas que não tem o menor acesso a Bolsonaro. Sequer participou do assessoramento durante o debate da Band. Seus programas eleitorais seguem o manual de marketing político, com base em pesquisas qualitativas, mas parecem não surtir o efeito esperado pelo presidente.

Isso leva Bolsonaro a fazer o que lhe vem à cabeça, principalmente nas entrevistas coletivas e nos palanques, para alegria do vereador Carlos Bolsonaro (PL), que cuida das redes sociais. Por exemplo: não estava no script da viagem a Londres o discurso na sacada da embaixada do Brasil, como também não havia sido programado o novo “imbrochável” declarado em Nova York, após ter participado da Assembleia Geral das Nações Unidas.

A bolha bolsonarista nas redes sociais delira com as tiradas do “mito”, mas o efeito junto aos demais eleitores, que Bolsonaro precisa conquistar, é zero ou negativo, conforme atestam as pesquisas. A distância de Lula para o presidente no Nordeste e na faixa de renda de até dois salários mínimo é abissal. Entre as mulheres, também parece ser irreversível. A campanha não consegue romper essas barreiras.

Estresse político

É aí que as tensões aumentam na frente política, capitaneada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), e pelo presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto. Em tese, com a redução da inflação, o aquecimento da economia e a geração de novos empregos, Bolsonaro deveria estar melhorando os índices de aprovação do seu governo e reduzindo a própria rejeição, mas não foi o que se observou na penúltima semana que antecede o pleito.

Com isso, o estresse entre Ciro Nogueira e o ministro da Economia, Paulo Guedes, aumentou muito. Os políticos do Centrão, liderados chefe da Casa Civil e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), queriam que o Auxílio Brasil fosse de R$ 800, mas Guedes se opôs, aceitando no máximo R$ 600.

À época, porém, imaginavam que o pagamento de dois meses do benefício em agosto, ou seja, R$ 1,2 mil, seria suficiente para mudar o cenário eleitoral. Ainda mais com a política de redução de preços dos combustíveis, que realmente teve impacto na classe média, principalmente na faixa de dois a cinco salários mínimos.

A outra frente de batalha são os candidatos do Centrão nos estados, principalmente do PL. Valdemar Costa Neto imaginava reeleger 75 deputados na aba do chapéu de Bolsonaro, mas, hoje, o cacique do Centrão refaz o cálculo otimista: acredita de que a legenda encabeçada pelo presidente elegerá em torno de 60 deputados.

Dois fatores estão influenciando esse cenário: um é o poder de atração de Lula junto aos eleitores, principalmente no Nordeste; outro, a falta de dinheiro para financiar as campanhas de 1.500 candidatos do PL em todo o país.

Bolsonaro drenou grande parte dos recursos do Fundo Eleitoral do PL para sua campanha, embora suas despesas pessoais estejam fora desse orçamento. O resultado é que os candidatos do partido, principalmente nos estados onde Lula tem grande vantagem, não estão se empenhando na campanha do presidente. Casa onde falta pão, todos brigam.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-pesquisas-refletem-disputas-na-campanha-de-bolsonaro/

Eleições 2022 | Crédito: Maurenilson Freire

Nas entrelinhas: Voto útil não leva ninguém a votar puxado pelo nariz

Luiz Carlos Azedo | Nas entrelinhas | Correio Braziliense

Um card petista em forma de versos destila veneno nas redes sociais. A primeira frase não tem nada demais numa campanha de voto útil: “Se você votar no Lula,/ Lula vence no primeiro turno”. Logo a seguir aparece um gráfico ilustrado com a foto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma barra vermelha, representando 52% dos votos. Ao lado, uma barra amarela, com as fotos, lado a lado, de Simone Tebet (MDB), Ciro Gomes (PDT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que corresponderiam a 48% dos votos. Essa é a meta da campanha de voto útil iniciada, nesta semana, pelo próprio Lula, com apoio de artistas e formadores de opinião engajados na sua campanha, para vencer no primeiro turno.

A colagem das fotos já é mal-intencionada, mas o veneno mesmo vem logo a seguir: “Mas se votar em Ciro ou em Simone Tebet, quem vai para o segundo turno é ele”, diz o texto, seguido da imagem de uma mão com o indicador apontando para Bolsonaro, com cara de buldogue e faixa presidencial. Como assim? Quem está votando em Ciro ou em Simone não está votando em Bolsonaro, tem uma preferência legítima numa eleição em dois turnos, que foi bandeira de Lula e do PT durante a votação da Constituição de 1988. Porque isso garantiria a possibilidade, como ocorreu, de que o partido de base operária surgido no ABC paulista se tornasse uma alternativa de poder.

O card é munição de baixo custo e alto impacto da campanha de Lula nas redes sociais, nas quais um vídeo do petista orienta seus apoiadores a intensificar a campanha, com aquele estilo inconfundível de líder sindical acostumado a agitar assembleia de trabalhadores com palavras de ordens e tiradas irônicas. “Quem gosta muito de telefone celular, quem fica agarrado o dia inteiro no celular, quem fica usando ‘zap’, fazendo tuíte, quem fica no Tik Tok, no Toc Toc, quem fica… sabe… é utilizar essa ferramenta para a gente conversar com as pessoas indecisas neste país, e pra gente mostrar a responsabilidade de mudar este país.”

Trecho de um discurso de palanque, o vídeo não é dos mais sedutores, mas funciona. A ordem é reproduzir cards, depoimentos, vídeos, tudo que possa de alguma forma esvaziar as candidaturas de Ciro e Simone. O problema é que o cidadão comum não vai votar levado pelo nariz por nenhum candidato. Não adianta terceirizar a responsabilidade. Não são as candidaturas de Ciro e Simone que vão inviabilizar uma vitória de Lula no primeiro turno.

Se o raciocínio for tão simples assim, Ciro e Simone também estão inviabilizando a vitória de Bolsonaro no primeiro turno, no pressuposto de que os eleitores da chamada terceira via não têm preferência pelo petista. Essa é uma matemática que simplifica, mas não resolve, o problema eleitoral.

Lula queimou os navios com Ciro e vice-versa. O resultado prático pode ser o deslocamento do eleitor não-ideológico do pedetista para os braços de Bolsonaro. Simone está mais ao centro e vem fazendo uma campanha claramente anti-Bolsonaro. Seus eleitores poderiam derivar por gravidade para Lula no segundo turno. Mas como reagirão a esse tipo de ataque petista?

Para vencer no primeiro turno, tanto Lula como Bolsonaro teriam que seduzir os eleitores de centro. O presidente começa a se movimentar nessa direção, empurrado pelo fracasso da estratégia de confrontação ideológica, pelo resultado das pesquisas, pela orientação de seus marqueteiros e pelas pressões do Centrão, cujos políticos não são de pular na cova com o caixão.

Compromissos

Lula não quer conversa antes do segundo turno. Acredita que vencerá no primeiro sem ter que assumir compromissos políticos com essas forças, nos mesmos termos que assumiu com o ex-governador Geraldo Alckmin, seu vice, e com Marina Silva. Qual a razão?

O Brasil é uma democracia de massas, com uma Constituição democrática de viés social liberal, e não social-democrata. Seu gesto em direção ao centro seria assumir compromisso com a democracia representativa e suas instituições de caráter liberal, não apenas abrir espaço para barganhas de natureza fisiológica, que serão inevitáveis quando precisar dos votos do Centrão, se for eleito.

Ciro tem um projeto neonacionalista, de viés desenvolvimentista, que estaria mais próximo do governo de Dilma Rousseff, que fracassou na política e na economia, do que do próprio governo Lula. A proposta mais populista de Ciro — renegociar as dívidas da população de baixa renda e “limpar” o nome no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) — foi encampada por Lula, antecipando-se a qualquer acordo que justificasse uma aliança entre ambos no segundo turno. Dificilmente haverá uma reaproximação entre ambos.

Simone tem um programa liberal social e um compromisso claro com o combate às desigualdades e à defesa dos direitos humanos. Sua agenda social é plenamente coincidente com a de Lula, mas a política econômica, não. O petista faz disso um mistério, mas todo mundo sabe que só há duas maneiras de enfrentar a crise fiscal: reduzindo gastos ou aumentando os impostos.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-voto-util-nao-leva-ninguem-a-votar-puxado-pelo-nariz/

PEC dos Precatórios: PDT, de Ciro Gomes, decide vitória de Bolsonaro

Partido deu 15 votos a favor da emenda constitucional e apenas 6 se posicionaram contra; na saída, pedetistas se desentenderam

Evandro Éboli e Bruno Góes / O Globo

BRASÍLIA - Decisivo para a vitória do governo na madrugada desta quinta-feira,  na votação da PEC dos Precatórios, o PDT, do presidenciável Ciro Gomes,  contribuiu com 15 fundamentais votos a favor do Palácio do Planalto. Apenas seis parlamentares da legenda apertaram o "não" à emenda constitucional.

O texto principal da PEC foi aprovado em primeiro turno com 312 votos a favor, apenas quatro a mais que o mínimo necessário, que são 308 adesões.

Entenda:  Os principais pontos da PEC dos Precatórios, aprovada na Câmara

O partido foi convencido durante o final da tarde de ontem a votar a favor e pesou um acordo feito com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que irá colocar para votar um projeto de lei que destina aos professores 60% do que a categoria tem direito dessas dívidas, mas que será escalonada em três anos.VEJA 5 EFEITOS DO AFROUXAMENTO DE REGRAS FISCAIS COMO O TETO DE GASTOS1 de 5 

Após a votação, dois parlamentares do PDT bateram boca na saída do plenário, cena testemunhada pelo GLOBO. Paulo Ramos (RJ), que foi contrário à PEC,  saiu gritando com André Figueiredo (CE), ex-líder do partido, que votou a favor da PEC.

— Que vergonha — gritava Ramos para Figueiredo.

— Ah, tá certo. Você que é puxadinho da esquerda — rebateu Figueiredo.

— Quero ver agora o Ciro Gomes defender isso (a aprovação da PEC) na campanha, no palanque — afirmou Ramos.

Estratégia:  Os 'atalhos' de Lira para votar a PEC dos Precatórios na madrugada

O papel crucial do PDT na vitória do governo foi alvo de ataques da esquerda. A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), logo após conhecido o resultado, foi para as redes sociais e lamentou a posição do partido fundado por Leonel Brizola.

Partidos de oposição que votaram a favor

"Vitória de Pirro. É assim o resultado da vitória do governo na PEC do Calote, por apenas 4 (votos). E só ganharam porque meus amigos do PDT votaram com Bolsonaro" - provocou a deputada comunista nas redes.

Social:  Líder do governo compara Bolsonaro a Lula ao falar sobre Bolsa Família

O PDT não foi o único partido da oposição a votar a favor do PEC. No PSB foram 21 votos contra a emenda e 10 a favor do texto.

Nas redes, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos principais articuladores do governo nessa votação, comemorou a aprovação da PEC em primeiro turno, com ataques ao PT.

"Nunca pensei que chegaria o dia em que veria o PT votar contra um auxílio aos 20 milhões brasileiros vítimas da fome. Vergonha alheia" - postou Nogueira

Benefícios:  Além do Auxílio Brasil, governo quer usar recursos dos precatórios para bancar vale-gás

Arthur Lira, após a votação, comemorou o resultado e afirmou que o placar apertado "é do jogo". Antes da votação do mérito, foram dois placares de 307 votos contrários a retirada da proposta.

- Tivemos importantes 25 votos da oposição e o líder do PDT (Wolney Queiroz) participou de um acordo com os professores do Nordeste. Houve muita pressão de governadores nos estados, mas os deputados se mantiveram firmes e votaram a favor - disse Lira.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/economia/macroeconomia/pec-dos-precatorios-pdt-de-ciro-gomes-decide-vitoria-do-governo-bolsonaro-vira-alvo-da-esquerda-gera-bate-boca-25263453


Câmara aprova em primeiro turno texto-base da PEC dos Precatórios

Proposta dribla o teto de gastos, abre espaço de mais de R$ 90 bilhões no Orçamento 2022 e viabiliza o Auxílio Brasil em ano de eleição

DW Brasil / Agência Câmara

A Câmara dos Deputados aprovou na madrugada desta quinta-feira (04/11), em primeiro turno, o texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, que altera o teto de gastos e viabiliza o financiamento do Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, em ano eleitoral.

Em vitória para o governo, o texto foi aprovado por 312 votos a 144, apenas quatro votos a mais que os 308 necessários para admitir uma emenda à Constituição. Outros 57 deputados não votaram.

Após ato editado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado do governo, parlamentares em viagem autorizada pela Casa puderam votar de maneira remota, o que beneficiou a aprovação da proposta. A oposição ainda se dividiu, e somente o PDT deu 15 votos favoráveis ao texto.

Para fazer passar a medida controversa e em meio à pressão de partidos, o governo precisou fazer alterações no texto e chegou a ameaçar cortar emendas de deputados que não votassem a favor da PEC, segundo relatou o jornal Folha de S. Paulo.

O próximo passo é votar os destaques, que são sugestões de alteração em pontos do texto-base, e depois o segundo turno, o que pode ocorrer ainda nesta quinta ou na próxima terça-feira. Em seguida, a proposta é enviada ao Senado, onde precisará do apoio de 49 dos 81 senadores.

O que propõe a PEC

A PEC dos Precatórios foi uma saída encontrada pelo governo para ampliar o seu limite de gastos em 2022, ano de eleições, sem cortar outras despesas. Essa estratégia, que abriria um espaço de mais de R$ 90 milhões no Orçamento do próximo ano, é baseada em dois pilares.

O primeiro é permitir que o governo federal atrase o pagamento de algumas de suas dívidas judiciais, os precatórios. Isso ampliaria em mais de R$ 44 bilhões o espaço no Orçamento de 2022, segundo estimativas do governo.

Precatórios são dívidas do governo com sentença judicial definitiva, podendo ser em relação a questões tributárias, salariais ou qualquer outra causa em que o poder público seja o derrotado.

O segundo pilar é alterar a forma como o teto de gastos é calculado. Hoje, considera-se a inflação dos últimos 12 meses até junho do ano anterior para definir o teto do ano seguinte. A proposta do governo é considerar a inflação de janeiro a dezembro, e fazer um cálculo retroativo desde o início do instrumento de ajuste fiscal. Isso criaria uma folga de mais R$ 47 bilhões para o ano que vem.

Essas mudanças são interpretadas por operadores do mercado financeiro – dos quais muitos apostaram na candidatura de Jair Bolsonaro em 2018 pelo compromisso expresso por ele e por Guedes com o ajuste fiscal – como um desrespeito à regra do teto de gastos.

Para eles, o teto é fundamental para que o governo indique sua disposição de reduzir o déficit e seguir capaz de honrar o pagamento de sua dívida.

Por que o governo quer alterar o teto

Segundo o governo federal, cerca de R$ 50 bilhões da folga no Orçamento devem ir para o programa Auxílio Brasil, que substituirá o Bolsa Família e visa pagar no mínimo R$ 400 por mês às famílias beneficiadas. O Bolsa Família pagava, em média, R$ 190 por mês antes de ser extinto pelo governo Bolsonaro.

A discussão sobre a substituição ou ampliação do Bolsa Família era ativa no governo e no debate público desde o início do auxílio emergencial, em abril de 2020, que demonstrou os efeitos benéficos de uma maior transferência de renda no combate à pobreza e no desempenho da economia.

Porém, nesse período o governo e o Congresso não fizeram reformas ou cortaram despesas que permitiriam a ampliação do programa. Pelo contrário, foi ampliado o valor destinado a emendas parlamentares e não houve redução de subsídios a setores da economia e nem o enfrentamento de privilégios salariais de parte do funcionalismo público.

Como consequência, quando Bolsonaro confirmou que criaria o Auxílio Brasil, não havia espaço no Orçamento do ano que vem para financiá-lo e, ao mesmo tempo, respeitar o teto de gastos.

O teto de gastos foi criado no governo Michel Temer com a justificativa de reduzir a dívida pública, mas seu modelo desperta controvérsia entre economistas. Ele estabelece que o governo não pode gastar mais do que gastou no ano anterior, corrigido pela inflação.

Os efeitos políticos

A mudança no teto de gastos é defendida por uma ala importante do governo, que considera crucial ampliar as despesas no ano que vem para aumentar a chance de Bolsonaro se reeleger. Pesquisas eleitorais mostram que o presidente seria derrotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a folga no Orçamento viabilizada pela PEC e o pagamento do Auxílio Brasil, o Planalto espera ampliar a popularidade de Bolsonaro, especialmente nas regiões mais pobres do país, onde Lula tem suas maiores taxas de intenção de voto.

Com a verba extra, seria possível ainda ampliar o valor das emendas parlamentares, importantes para Bolsonaro conquistar o apoio de deputados e senadores, e ainda criar outros programas. Em outubro, o presidente prometeu que daria também um auxílio a caminhoneiros para compensar pela alta do diesel.

Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/c%C3%A2mara-aprova-texto-base-da-pec-dos-precat%C3%B3rios/a-59717213