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Portal PPS: Em lançamento de manifesto, lideranças afirmam que Brasil precisa se unir para evitar desastre político
No evento, Roberto Freire alertou que o País precisa superar o "nós contra eles"
O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, advertiu os presentes ao lançamento do “Manifesto por um Polo Democrático e Reformista”, nesta terça-feira (05), para a preocupação de, ao reunir forças nessa iniciativa, não se criar inimigos também. “Temos que superar a ideia que, infelizmente, tomou conta do Brasil, do nós contra eles”, afirmou, ao discursar na solenidade, que ocorreu no Salão Verde da Câmara dos Deputados. “Estamos fazendo uma opção política, não criando inimigos”, insistiu.
Segundo o presidente do PPS, se vai haver apenas um candidato representando o espectro que se formou em torno das ideias do manifesto, “só o processo vai dizer; mas hoje demos o primeiro passo”. Freire sugeriu uma reunião com os partidos políticos para discutir com os candidatos, levando o manifesto. “Será passo a passo. Se não conseguirmos, algo de importante daqui sai: tem que ter pacto de não-agressão, tem que ter compromisso com princípios fundamentais da República, das instituições republicanas, da democracia, das liberdades, coisa que o bolsonarismo e o lulopetismo não têm”.
Cristovam alertou para risco dos brasileiros escolherem entre o desastre e a catástrofe
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) foi quem elaborou, junto com o secretário-geral do PSDB, deputado Marcos Pestana (MG), o texto do manifesto. Cristovam disse que o que trazia ele e aqueles que “não estão nos extremos populista e autoritário” a lançar o documento era a percepção do processo de desagregação do tecido social brasileiro. “Basta ver o incêndio de ônibus na semana seguinte a uma greve de caminhoneiros”. Além dessa desagregação, disse, há um vácuo político. “É um cenário terrível. Não seria assim se a sociedade brasileira pudesse ir às urnas com esperança, mas ela vai com raiva, que não é uma boa conselheira das urnas”, acrescentou. Para ele, o perigo é o brasileiro ter que escolher entre catástrofe e desastre.
“Por isso, estamos aqui, lançando esse apelo aos candidatos que têm compromisso social, espírito democrático e responsabilidade econômica; que não são autoritários, nem fecham os olhos à nossa população”, declarou Cristovam. A ideia, definiu, é sugerir aos candidatos com esse perfil que se unam, escolham entre eles um candidato para que o Brasil possa ter uma campanha com esperança. “A bola está com os candidatos, mas vamos querer estar junto deles para ver como fazem o gol, não para fazer pressão, mas para conversar, parlamentar”. O senador acrescentou que os presidentes de partidos e os parlamentares também são importantes no projeto. “Quem sabe esse manifesto tenha uma consequência, de unir os que não são extremos”.
O deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR) disse que a escolha de um candidato de vários partidos pode evitar o que ocorreu na eleição de 1989, quando foi eleito Fernando Collor de Mello. “A história quando se repete o faz como tragédia. Não podemos deixar que ela nos abata”. Ele informou que há alguns meses um grupo de parlamentares vem discutindo a criação do polo democrático.
Bueno se disse preocupado com a crise econômica, política e social que o país atravessa. “Temos que dar a resposta, encontrar um nome que possa reunir vários outros e seus respectivos partidos e então ver quem vamos apoiar com um programa consistente, a começar da liberdade e da democracia”.
A deputada federal Carmen Zanotto (PPS-SC), que também assinou o documento, disse que “o manifesto é uma contribuição inicial importante para deslanchar o debate em torno do que queremos para o nosso País”.
Veja abaixo a íntegra do manifesto.
“POR UM POLO DEMOCRÁTICO E REFORMISTA
O Brasil vivenciou recentemente uma das maiores crises de sua história com múltiplas faces que interagem e se retroalimentam. Instabilidade política aguda, recessão econômica profunda, estrangulamento fiscal, corrupção endêmica e institucionalizada, radicalização em um ambiente social marcado pela desesperança, a intolerância e o sectarismo, conflitos e desarmonia entre os poderes republicanos. Faltam pouco mais de quatro meses para as eleições presidenciais. É uma oportunidade rara e única de recolocar o país nos trilhos, desenhando uma trajetória de retomada dos valores fundamentais da ética, do trabalho, da seriedade, do espírito público e dos compromissos com a liberdade, a justiça social e o desenvolvimento sustentável.
A eleição de 2018 se apresenta talvez como a mais complexa e indecifrável de todo o período da redemocratização. Existem ameaças e oportunidades, interrogações e expectativas, perplexidades e exigências da realidade povoando o ambiente pré-eleitoral.
Tudo que o Brasil não precisa, para a construção de seu futuro, é de mais intolerância, radicalismo e instabilidade. Para nos libertarmos dos fantasmas do passado, superarmos definitivamente a presente crise e descortinarmos novos horizontes é central a construção de um novo ambiente político que privilegie o diálogo, a serenidade, a experiência, a competência, o respeito à diversidade e o compromisso com o país.
É neste sentido que as lideranças políticas que assinam este manifesto conclamam todas as forças democráticas e reformistas a se unirem em torno de um projeto nacional, que a um só tempo, dê conta de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento social e econômico, a partir dos avanços já alcançados nos últimos anos, e afaste um horizonte nebuloso de confrontação entre populismos radicais, autoritários e anacrônicos.
Esta iniciativa, e isso é vital para seu sucesso, deve agregar, de forma plural, liberais, democratas, socialdemocratas, democratas cristãos, socialistas democráticos, numa discussão franca e aberta, sobre os nossos atuais dilemas e os caminhos para a construção do futuro desejado para o Brasil.
Este projeto nacional, visando à construção da necessária e urgente unidade política nas eleições, não deve ser obra de uma dúzia de líderes políticos e intelectuais. Para pavimentar o caminho da unidade terá obrigatoriamente de ser obra coletiva, envolvendo partidos políticos, lideranças da sociedade civil e todos aqueles que pensam o Brasil fora do paradigma autoritário, populista e atrasado.
Os que assinam esse manifesto lançam, como contribuição inicial ao debate e ao esforço coletivo que poderá ser desencadeado, pontos essenciais que podem gerar consensos progressivos em torno da agenda nacional e dos avanços necessários, a partir de uma perspectiva democrática e reformista. Vão aí ideias iniciais para alimentar o debate:
1) A defesa intransigente da liberdade e da democracia como caminho para a construção do futuro do país, com o fortalecimento das instituições republicanas em sua harmonia e independência, dos direitos individuais e das minorias e da reforma profunda do sistema político com vistas a recuperar os laços perdidos com a sociedade brasileira, erguendo um sistema de representação efetivo submetido a controles sociais eficientes e com suas relações com a população presididas pela transparência e a participação.
2) A luta contra todas as formas de corrupção, seja no comportamento de servidores públicos, seja na definição de prioridades que não reflitam o interesse público.
Reafirmamos o compromisso inflexível com a ética e a honestidade. Tornar cada vez mais público e transparente o espaço público. E desencadear um processo profundo e irreversível de avanços institucionais na consolidação dos mecanismos de controle internos, externos e sociais.
3) Prioridade absoluta para a transformação inadiável de nosso sistema educacional como elemento central do desenvolvimento nacional na era do conhecimento e da inovação. Todos os esforços governamentais devem ser voltados e a mobilização da sociedade deve ser concentrada no desenvolvimento da educação na primeira infância e na qualificação do ensino fundamental. Esse é o principal desafio brasileiro. Não adianta universalizar sem qualidade. É preciso democratizar as oportunidades garantindo às crianças e aos jovens brasileiros o acesso ao conhecimento e aos valores necessários para enfrentarem as demandas da vida contemporânea, preparando-os para a cidadania e para uma inserção inclusiva no mundo da produção. Devem merecer atenção especial ainda o combate à evasão escolar no ensino médio, o fortalecimento do ensino técnico e a inserção das Universidades no esforço de desenvolvimento nacional. Se é verdade que saúde e segurança defendem a vida, só a educação de qualidade pode transformar a vida, combinada com estratégias inteligentes, criativas e eficazes de desenvolvimento científico e tecnológico. Sem isso o Brasil perderá mais uma vez o “bonde da História”.
4) A busca incansável do equilíbrio fiscal, sem o que não se sustentarão os atuais baixos patamares de inflação e da taxa de juros e não serão recuperadas a qualidade e a efetividade das políticas públicas essenciais. Isto passa inevitavelmente pela Reforma do Estado, com a diminuição do tamanho da máquina estatal, com ganhos de eficiência e produtividade, fechando as portas para o clientelismo, o patrimonialismo e a corrupção. Este esforço deve ser presidido por um grave sentimento de priorização na alocação dos escassos recursos públicos privilegiando os setores essenciais da educação, saúde, segurança pública, moradia, saneamento, inovação científica e tecnológica e combate às desigualdades regionais e pessoais de renda. O Estado deve cuidar dos trilhos, liberando as energias da sociedade, da iniciativa privada, dos indivíduos empreendedores, que devem assumir o comando da locomotiva. O Estado deve ser menos fazedor e mais indutor, regulador, coordenador, catalizador das energias da sociedade. O estímulo aos empreendedores da indústria, do agronegócio e do setor serviços deve se dar dentro de novo marco, onde a intervenção estatal deva ser seletiva e muito bem calibrada, e sempre calcada em diretrizes universais, longe da concessão de benesses aos “amigos do Rei”.
5) A reconstrução de nossa Federação, com uma radical descentralização, fortalecendo o poder local e regional num país de dimensões continentais. A clara definição dos papéis a serem desempenhados por cada uma das três esferas de poder é urgente. Assim como a correta e equilibrada distribuição das receitas oriundas dos impostos pagos pela população.
6) A mudança estrutural de nosso sistema tributário tornando-o mais simples, justo, desburocratizado e eficiente. Não é possível mais conviver com um sistema tributário irracional, regressivo e inibidor do crescimento econômico. O ajuste fiscal não pode se dar com o aumento da já alta carga tributária. A reforma tributária deve ser elemento central na agenda do aumento da competividade e da produtividade nacional.
7) Reformar nosso sistema previdenciário injusto e insustentável. Precisamos de um sistema único que elimine privilégios e assegure o equilíbrio atuarial, sob pena de colocarmos em risco o pagamento de aposentadorias e pensões no curto prazo e impedir o necessário equilíbrio das contas públicas.
8) Incentivo radical à promoção da ciência e tecnologia, fazendo o Brasil caminhar para ser um país líder nessas áreas, utilizando-se o potencial das universidades e centros de pesquisas públicos e privados.
9) O combate a todas as formas de autoritarismo e populismo. A demagogia e atitudes hostis à vida democrática devem definitivamente ser afastadas do cenário nacional. À direita, se esboça o surgimento de um inédito movimento com claras inspirações antirrepublicanas e antidemocráticas. À esquerda, uma visão anacrônica alimenta utopias regressivas de um socialismo autoritário e antidemocrático e de um Estado intervencionista e onipresente. A união das forças do polo democrático e reformista é essencial para que o futuro do país não seja espelhado em experiências desastrosas como a vivenciada pelo povo venezuelano ou projetos que pareciam já arquivados de inspiração protofacista.
10) A defesa de um alinhamento internacional que resgate, como vem sendo feito recentemente, as melhores tradições do Itamaraty, com uma política externa que privilegie os verdadeiros interesses nacionais, e não ultrapassadas e equivocadas identidades ideológicas. As ações multilaterais e bilaterais têm que ser dosadas com o necessário pragmatismo e com vistas a resultados concretos para o desenvolvimento nacional, mas tendo como pano de fundo o inarredável compromisso com a democracia, aqui e lá fora. É inadiável e inevitável a abertura externa de nossa economia.
11) Uma postura firme no setor de segurança pública baseada no princípio de tolerância zero com o crime organizado. Ações de inteligência, prevenção, repressão, mobilização social e integração no âmbito do recém-criado Sistema Único de Segurança Pública, devem devolver a paz às cidades e ao campo e garantir a cada cidadão os seus direitos fundamentais de ampla convivência na sociedade.
12) Aprofundar o esforço de qualificação do Sistema Único de Saúde, assegurando os direitos constitucionais de cidadania ao acesso a uma saúde de qualidade, avançando na reestruturação do padrão de financiamento, aprimorando o pacto federativo setorial, definindo claramente a carteira de serviços e o padrão de integralidade a serem ofertados à população, o uso intensivo de ferramentas tecnológicas na gestão e regulação do sistema, o aumento da resolutividade da atenção primária e a reestruturação do mercado de trabalho no setor.
13) Adotar soluções criativas e eficazes na moradia e no saneamento, aprendendo com a experiência acumulada pelo “Minha Casa, minha vida” e democratizando o acesso da população à agua tratada, à coleta de esgoto e lixo e ao tratamento dos resíduos. Os índices de exclusão social no saneamento básico no Brasil são inaceitáveis em pleno Século XXI.
14) Empreender esforços para a concretização de uma profunda reforma política que aproxime a representação política das bases da sociedade, aumentando a participação e os controles sociais, barateando seu funcionamento e coibindo a influência do poder econômico, aumentando a transparência e aprimorando o ambiente para uma governabilidade centrada em um programa de governo e não na velha e esgotada fórmula de convivência baseada nas trocas de cargos e verbas por votos, muitas vezes com feições nada republicanas.
15) Defesa de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, com o estímulo à produção de biocombustíveis e fontes renováveis de energia, paralelo à necessária exploração de nossa vocação petrolífera. Modernização da atividade de licenciamento ambiental, por um lado, assegurando rigor na defesa do meio ambiente, por outro, desburocratizando e dando maior celeridade às licenças. Defesa de nossos diversos ecossistemas combinando um bom regramento na sua conservação com as atividades
produtivas que garantem a criação de emprego e renda. Empreender um enorme esforço na educação ambiental e investir em tecnologias que possibilitem a despoluição de nossos cursos d’água, do ar que respiramos e da terra onde vivemos e produzimos nossa existência.
16) O fortalecimento da administração pública, com a modernização de suas estruturas e processos, com base nos princípios da profissionalização, da eficiência, da transparência e da meritocracia. A gestão por resultados deve ser permanentemente perseguida e a qualidade no gasto público, verdadeira obsessão.
17) Por último, o objetivo central que deve mover-nos no novo ciclo que se iniciará a partir das eleições, para o qual convergem todas as diretrizes anteriores: o combate sem tréguas à miséria, à pobreza e às desigualdades sociais e regionais, graças à elevação da produtividade e à melhoria da distribuição de renda, além da garantia de acesso aos bens e serviços essenciais a todos que necessitam. Consciência de que tanto o aumento da produtividade como a distribuição de renda decorrem diretamente da universalização da educação de qualidade, assegurando a marcha para que, um dia, os filhos dos mais pobres tenham acesso à escola com a mesma qualidade dos filhos dos mais ricos brasileiros. As estratégias inclusivas devem sempre visar à emancipação do cidadão, a promoção de cidadania plena para todos e a mínima dependência do cidadão em relação à tutela estatal, embora programas de transferência de renda sejam fundamentais para o combate emergencial à miséria. Aprimorar programas de assistência social, dando-lhes caráter transformador. Um exemplo é o Bolsa Família, que deve ser mantido, recuperando seu caráter educacional de quando foi criado com o nome de Bolsa Escola, reunindo propósitos de transferência de renda e garantia de acesso de todos à educação de qualidade.
É com este espírito, com o coração carregado de patriotismo, a noção clara da urgência e o sentimento que o Brasil é muito maior que a presente crise, que os signatários deste manifesto têm a ousadia de propor a união política de todos os segmentos democráticos e reformistas. Se tivermos êxito, estaremos dando uma inestimável contribuição para afastarmos do palco alternativas de poder que prenunciam um horizonte sombrio, e reafirmarmos nosso compromisso com a liberdade, a justiça e um Brasil melhor.
CRISTOVAM BUARQUE
Senador da República (PPS-DF)
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Presidente da República (1995/2002)
ROBERTO FREIRE
Presidente nacional do PPS
MARCUS PESTANA
Deputado Federal (PSDB-MG)
ALOYSIO NUNES FERREIRA
Ministro das Relações Exteriores (PSDB-MG)
RUBENS BUENO
Deputado Federal (PPS-PR)
MENDONÇA FILHO (DEM-PE)
Ministro da Educação (2016/2017) e Deputado Federal (DEM-PE)
HERACLITO FORTES
Deputado Federal (DEM-PI)
BENITO GAMA
Deputado Federal (PTB-BA)
LUIZ ERNECK VIANNA
Cientista Político
JOSÉ CARLOS ALELUIA
Deputado Federal (DEM-BA)
RAUL JUNGMANN
Ministro da Segurança Pública
DANILO FORTES
Deputado Federal (PSDB-CE)
CARMEN ZANOTTO
Deputada Federal (PPS-SC)
YEDA CRUSIUS
Deputada Federal (PSDB-RS)
SÉRGIO FAUSTO
Cientista Político
MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
Cientista Político
ROGÉRIO MARINHO
Deputado Federal (PSDB-RN)
BOLÍVAR LAMOUNIER
Sociólogo e Cientista Político
ROGÉRIO ROSSO
Deputado Federal (PSD-DF)
CELSO LAFER
Jurista e Ministro das Relações Exteriores (2001/2002)
EVANDRO GUSSI
Deputado Federal (PV-SP)
ALBERTO GOLDMAN
Ex-governador de São Paulo
SÉRGIO BESSERMAN
Economista
MARCOS MONTES
Deputado Federal (PSD-MG)
MARCELO MADUREIRA
Engenheiro e Humorista
DARCÍSIO PERONDI
Deputado Federal (MDB-RS)
LUIS SÉRGIO HENRIQUES
Tradutor e Ensaísta
EDUARDO SCIARRA
Deputado Federal (PSD-PR)
ALBERTO AGGIO
Historiador
RUBEM BARBOZA
Cientista Político
VILMAR ROCHA
Deputado Federal (PSD-GO)”
Arnaldo Jardim: Lições da greve
Há hoje uma insatisfação generalizada na sociedade. As pessoas não aguentam mais o que está acontecendo. Desconfiam de tudo e de todos. Demandam justas e necessárias medidas. Mas, muitas vezes, ignoram o seu custo e o prazo necessário para a sua implantação. Eu não me colocarei ao lado dos demagogos que tudo “apoiam”. Por respeito aos valores que sempre defendi, ao longo de minha vida, e por respeito aos cidadãos de bem, de meu país, seguirei sempre alertando para os cuidados necessários, quando da implantação de novas políticas públicas, por considerar ser essa a única postura que, efetivamente, pode contribuir para a construção do Brasil que sonhamos.
A insatisfação pode ser uma alavanca para as mudanças que todos desejamos. Isso é verdade. Mas pode também ser perigoso, se nos enveredarmos por descaminhos, por atalhos, que podem nos levar a destinos que não planejamos e não queremos.
O que é um descaminho? É, para dar um exemplo, diante das necessidades tão graves que vivemos, propor, como solução, a redução de tributos, ignorando o fato de que, ao cortar impostos, estaremos diminuindo os recursos orçamentários existentes, o que nos levará, necessariamente, a cortar outros serviços públicos, que podem ser tão importantes quanto o benefício a ser criado.
Cortar gastos, obviamente, é necessário. Entretanto, precisamos estar conscientes de que, não sendo o orçamento público infinito, a criação de alguns benefícios sociais exigirá o corte de outros, tão necessários quanto, o que precisará contar com o debate e a decisão dos cidadãos brasileiros.
Outra questão que devemos considerar é que não se pode tratar as demandas de cada setor, isoladamente. A insatisfação setorial surge sempre de uma forma contundente, concentra a nossa atenção, mas, algumas vezes, ignora o conjunto das necessidades do país. É necessário que tenhamos consciência de que qualquer medida que tomarmos tem impacto nos outros setores econômicos e nos segmentos sociais, com um custo que poderá impactar todo o país.
Por essa razão, precisamos agir com responsabilidade, identificando alternativas viáveis, os recursos necessários para a sua implantação, e, principalmente, levar em conta que somente programas estruturantes, com resultados de longo prazo, podem trazer soluções definitivas.
Muitos fazem coro às reivindicações dos manifestantes. Eu prefiro, entretanto, adotar o caminho da sensatez e apresentar alternativas concretas, que possam trazer consequências reais e duradouras para os públicos demandantes.
Os interesses corporativos têm muitos padrinhos. O interesse público, porém, não tem quem o apadrinhe e poucos são os que se mobilizam por ele.
O momento é grave, impondo a nós todos a formulação de soluções estratégicas e de longo alcance. Sobre o preço da política de combustíveis, particularmente a praticada pela Petrobras, o meu posicionamento é claro: nenhum saudosismo, nenhuma volta ao passado, nenhum tipo de tabelamento ou artificialismo. Temos que enfrentar este problema, reconhecendo que o preço é muito alto, estabelecendo que a flutuação dos preços dos combustíveis deve respeitar uma banda de valor, ou de tempo, para que aí sim a mudança possa ocorrer. Talvez seja necessário, por exemplo, recuperar o sentido compensatório que tinha a CIDE – Combustíveis. Na Câmara dos Deputados, retiramos o Pis/Cofins e oneramos outros setores. Tivemos consciência da necessidade de impor um maior equilíbrio na estrutura de preços dos combustíveis, reconhecendo a verdade insofismável de que nada, absolutamente nada, é grátis no reino da economia. É importante que isso fique claro.
Dentro desta coerência, manifestei já a minha preocupação com relação à proposta de tabelamento do frete, que, alem de ineficaz, é desorganizadora da economia.
Previsibilidade também é uma palavra fundamental para a organização da vida das famílias, e, também, para o planejamento da vida de cada um dos segmentos da sociedade, dos diversos setores econômicos.
Destaco, neste episódio, a atuação objetiva e firme do governador do Estado de São Paulo, Márcio França. Preocupado com o vácuo de resposta de nossos governantes federais, o Governador tomou a frente do problema, buscando soluções que normalizassem a vida da população paulista.
As lições são muitas. A mais grave delas é que temos um vazio de poder enorme no Brasil. A presidência da República demonstrou não ter conhecimento da situação, não ter discernimento suficiente para identificar a profundidade do problema que se iniciava, demorando a tomar iniciativas que respondessem às demandas. Quando o fez, foi no afogadilho de atender pontualmente as reivindicações, ou buscando aplacar um problema político, não dando atenção à possibilidade de ocorrência de crises institucionais.
Setores da população clamaram por uma intervenção militar e isto não pode ser ignorado. Corresponde a uma vontade de mudar, a uma falta de referências. Impõe-se então que, de uma forma consistente, comecemos a construir alternativas que tenham consistência e credibilidade. Fortalecer o debate de qualidade para as próximas eleições, viabilizando candidaturas que preencham esse espaço ou esse vazio de poder, será absolutamente necessário para o fortalecimento de nossas instituições e para a defesa intransigente da democracia brasileira.
* Arnaldo Jardim é deputado federal pelo PPS-SP
Arnaldo Jardim: A crise dos combustíveis
O debate desta semana na Câmara dos Deputados, e no Brasil todo, foi o preço dos combustíveis e o movimento de paralisação dos caminhoneiros. De um lado, temos a Petrobras, que mudou sua política de reajuste de preços porque a anterior estava equivocada. A estatal era usada por motivos políticos e, muitas vezes, para conter a inflação e garantir votos nas eleições.
A empresa perdia e toda a sociedade também era prejudicada com isso. Então passou-se a praticar o reajuste diário de preços, seguindo o mercado internacional, baseado na cotação do dólar e no preço do petróleo no mundo. Mas é preciso que este reajuste seja feito com parcimônia e cuidado.
O que estamos defendendo é que os valores não sejam reajustados diariamente, mas em prazos maiores para garantir mais previsibilidade nos preços e, consequentemente, nos contratos de frete para o transporte de bens e mercadorias pelo Brasil.
Uma das principais questões levantadas pelos caminhoneiros é justamente a imprevisibilidade dos gastos que terão em sua viagem. Aquele que chega a viajar cinco dias para transportar a carga parte pagando um preço no diesel. Este valor, reajustado diariamente, vai subindo ao longo do trajeto e impede que possa ser feito um cálculo antecipado da despesa com abastecimento.
Desde que a Petrobras mudou sua política de ajuste de preços, em 3 de julho do ano passado, as flutuações do câmbio impactam no preço da gasolina e do óleo diesel. A variação no dólar perante o real impacta no preço do petróleo repassado à refinaria. Depois, ainda há as distribuidoras e só então os postos de abastecimento.
O preço tabelado pela estatal acumula um aumento de quase 60% nos dois combustíveis desde a metade de 2017. No caso do diesel, o peso dos tributos, de 28%, é menor do que na gasolina, em que chega a 44%.
O ICMS (imposto sobre mercadorias e serviços), que varia de um Estado para o outro, tem grande impacto —a alíquota sobre a gasolina em São Paulo é de 24%, e no Rio, 34%. No diesel, varia de 12% a 25%. Trabalho para que tenhamos uma unificação de alíquotas de ICMS.
As manifestações atingem 23 Estados, com 253 pontos de protesto. O direito de greve dos caminhoneiros é indiscutível, mas até o limite em que não comprometa serviços essenciais. A paralisação deve ser entendida como uma relação entre produtores e distribuidores de combustíveis e caminhoneiros, sem transferir exclusivamente a responsabilidade ao governo.
Na Câmara dos Deputados, votei e retiramos o PIS/Cofins sobre o combustível, o que será um importante alívio da carga tributária.
Afora o grande papel concentrador da Petrobras, quase um monopólio, temos uma cadeia viciada em que o repasse dos aumentos que vêm da Petrobras e, por exemplo, dos produtores de etanol e biodiesel, são automáticos. Mas quando há queda de preços, os distribuidores não fazem o repasse nem imediato nem integral e aumentam seu lucro.
Não estamos diante apenas de fatores nacionais. A previsão não é das melhores: o preço da gasolina está subindo pelo mundo devido à valorização global do dólar. Também influenciaram a alta o colapso da produção na Venezuela e turbulência na relação dos Estados Unidos com o Irã. As cotações subirão ainda mais neste ano.
De qualquer forma, a crise dos combustíveis mostrou um problema grave, que é a nossa dependência do combustível fóssil. Destaca também a imperiosa necessidade de estimularmos os biocombustíveis como o etanol e o biodiesel como alternativas importantes para que o Brasil não dependa tão fortemente do petróleo.
Também deixa clara a necessidade de investimento em logística: o Brasil depende fortemente do transporte rodoviário para transportar bens, pessoas e produtos – inclusive matérias-primas e insumos como os combustíveis.
Temos poucas linhas de trens para escoar a produção – são 29 mil quilômetros de ferrovias, contra 86 mil km na China, 87 mil km na Rússia e 225 mil nos EUA. O resultado é que, hoje, 90% dos passageiros e 60% da carga que se deslocam pelo País são movimentados em rodovias, de acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Investimento em logística e fomento aos biocombustíveis são duas questões que defendo há muito tempo. Agora estamos vendo que chegou a hora definitiva de olharmos com mais atenção para hidrovias e ferrovias e combustíveis renováveis, amigos da natureza e da economia.
O Brasil não pode parar!
* Arnaldo Jardim é deputado federal pelo PPS-SP
Cristovam Buarque: Mesmos compromissos
Na semana passada, ao descer do apartamento onde moro desde 1980, encontrei minha vizinha Maria José Conceição, a conhecida Maninha, que foi a criadora e executora do programa Saúde em Casa, quando Secretária de Saúde do meu governo entre 1995-98. Há quase 40 anos, somos vizinhos no mesmo bloco na Asa Norte. De maneira simpática, ela e o Toninho, seu marido, que foi Secretário de Administração, reclamaram da foto nas redes sociais que me colocou ao lado de políticos do DF que já estiveram em lados diferentes daquele em que ela e eu estávamos. A pressa para um compromisso meu em Arniqueiras não permitiu aprofundarmos o debate sobre outra foto em que eu deveria estar na eleição deste ano e, com isso, recomendar o voto do eleitor.
Não seria na foto dos que desistiram, achando que tudo ficou igual e corrupto na política; não seria na foto dos que ainda se consideram os únicos donos da cor vermelha; nem dos que se negam a fazer uma autocrítica diante dos erros éticos, políticos e estratégicos que cometeram.
Até pouco tempo atrás, ela e eu, e uma imensa legião de militantes idealistas, fazíamos parte do chamado bloco vermelho da política do DF, que se opunha ao bloco azul. Nestes 25 anos, a política no Brasil passou por um terremoto ideológico e moral. A pureza ética do bloco vermelho foi manchada; muitos se afastaram por causa disso; outros, ao perceber que a crise moral tinha uma causa anterior: a perda de substância do bloco vermelho para fazer as necessárias reformas estruturais de que o povo precisa, principalmente na educação; nem as reformas econômicas e sociais para o Brasil não ignorar as transformações que ocorrem no mundo. Partidos que se diziam de esquerda perderam substância transformadora, antes de perder a vergonha.
Deixaram de perceber mudanças fundamentais na realidade, desejos novos da população, especialmente dos jovens; de perceber a realidade da globalização, da robótica, da importância decisiva da educação, do empreendedorismo e da inovação. A velha esquerda ficou reacionária para os novos tempos da civilização; deixou de ser vanguardista no entendimento da realidade e nas propostas para transformar a realidade. Ao se opor às transformações na realidade e nos sonhos dos jovens, o vermelho amarelou. A velha esquerda não entendeu que não se faz justiça social sem economia eficiente e sem equilíbrio nas contas públicas; não entendeu que a robótica exige novas leis nas relações do capital com o trabalho; nem percebeu que as elites dirigentes usaram o Estado para servir aos seus interesses, quebrando as finanças públicas, deixando Previdência e fundos de pensão arruinados; não entendeu que o Estado foi privatizado e colocado a serviço do partido no poder, de empreiteiras, de políticos e de sindicatos, sem colocar os órgãos estatais a serviço do público.
Hoje, o “lado certo” está com aqueles que, não importa a sigla partidária, defendem a ética no exercício do poder, colocam os interesses do povo e do público na frente dos empresários, dos deputados e senadores, dos partidos e dos sindicatos; usam as mais modernas ferramentas para fazer os serviços públicos mais eficientes; têm menos preocupações com obras e mais com os serviços.
Para tentar levar adiante esses compromissos, é preciso não cair na omissão, o que é uma tentação, sobretudo para quem nenhum benefício pessoal recebe do cargo político, nem mesmo salário. A alternativa não é se unir àqueles que não entenderam as transformações em marcha. O que está em jogo não é apenas lutar por bandeiras antigas, mas construir as novas bandeiras que o mundo exige. Nosso antigo lado perdeu substância no comportamento e nas propostas, na política e na ética. A pergunta não é mais como continuar no mesmo lado, mas quais são os sonhos e os projetos do lado certo neste momento; e ter coragem de dar o passo em direção a ele.
Na administração de 1995-98, Maninha não precisou de obras caras para melhorar a saúde; conseguiu isso com saneamento, levando o atendimento médico às casas dos doentes e com boa gestão nos hospitais. Mas esse período em que fui governador e Maninha, secretária, só foi eleito porque contou com o apoio do PSDB, na eleição de 1994. Eu vou continuar insistindo, tentando, com os compromissos de sempre, com as ideias adaptadas à realidade, mantendo os sonhos e em fotos com aqueles que quiserem se unir comprometidos por um grande encontro por Brasília, olhando para o futuro.
Davi Zaia: É hora de pensar o futuro
O Dia do Trabalhador, comemorado no dia 1º de maio, suscita uma série de reflexões. Contudo, na maioria das vezes, a ideia central se restringe às frases feitas acerca da defesa do trabalhador e de seus direitos.
Mas na minha concepção, precisamos refletir e projetar o futuro de uma forma mais aprofundada.
O mundo vem passando por inúmeras transformações e já não podemos desconsiderar que, com elas, mudaram também os paradigmas do mercado de trabalho. Deste modo, é fundamental prepararmos a nossa sociedade para essa nova realidade.
Ao falarmos de Brasil, além dos vários elementos responsáveis por essas mudanças, temos que considerar ainda os recentes acontecimentos que abalaram sua economia e o setor político.
Deste modo, é imprescindível que foquemos na retomada do crescimento econômico e da credibilidade política do país. Isso porque somente com estabilidade poderemos pensar em ações de responsabilidade fiscal e na reconstrução de um Estado com capacidade de investimento e de estimular o setor privado a também investir. A partir daí, teremos uma nação forte e, então, capaz de gerar emprego e renda.
E para alcançar tal objetivo, temos que falar das próximas eleições, pois é crucial que elejamos um gestor com responsabilidade e experiência para colocar o país novamente nos trilhos. Na atual conjuntura não cabem mais discursos rasos e aventureiros que sugerem a defesa dos direitos do trabalhador sem que haja o aprimoramento da legislação vigente.
A ausência de propostas que acompanhem a nossa realidade no campo do trabalho refletirá, em um futuro próximo, na perda de direitos.
Não podemos ignorar o fato de que hoje, no Brasil, a maior parte da nossa força econômica não tem Carteira de Trabalho assinada. Enquanto temos cerca de 100 milhões de pessoas em idade economicamente ativa, apenas 32,9 milhões possuem registro em carteira, segundo dados recentes divulgados pelo IBGE. Ou seja, precisamos de leis que contemplem também esses trabalhadores.
Outros pontos merecem atenção. A relação dos avanços tecnológicos com o desemprego é um deles. A perspectiva mundial é de que os computadores ocupem espaços de seres humanos. Com isso, há de se pensar em uma nova sociedade, na qual as pessoas tenham meios para gerarem suas rendas, seja por meio do empreendedorismo ou das relações de trabalho não contínuas, de acordo com a demanda.
Diante das inúmeras opiniões apresentadas em virtude do Dia do Trabalhador, não vislumbro outro caminho que não seja o de acompanhar o movimento de transformações pelo qual passa a nossa sociedade e apontar soluções por meio de planejamento e adequações capazes de atualizar nossos mecanismos às atuais necessidades. Esse é um trabalho de todos nós. E a labuta não é fácil, mas necessária.
* Davi Zaia é deputado estadual pelo PPS-SP e secretário-geral nacional do partido
Confira o relatório final da Conferência Nacional “A Nova Agenda do Brasil”
A convocação do XIX Congresso do Partido Popular Socialista (PPS) para 24 de março de 2018 levou a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) a mobilizar-se com o objetivo de reunir as informações e reflexões mais úteis para subsidiar os futuros debates.
A iniciativa recebeu o título de Conferência Nacional - “A Nova Agenda do Brasil”, desdobrada em três seminários, cada um contando com a participação de cerca de 20 pessoas, dos quadros do partido, da FAP e dos meios mais representativos da sociedade, como a academia, os meios jornalísticos e organizações civis.
A discussão da Conferência Nacional se pautou nos relatórios provenientes do ciclo de seminários realizados pela FAP nos últimos meses. O primeiro seminário realizou-se no Rio de Janeiro, no dia 24 de fevereiro, e discutiu o tema “Novo pacto entre o Estado e a sociedade brasileira”. A professora Maria Alice Resende de Carvalho apresentou o documento que serviu de base aos debates. O professor Caetano Araújo atuou como relator, e o professor Sergio Buarque, como primeiro debatedor.
Reunido em São Paulo, em 3 de março, o segundo seminário cuidou de explorar “O Brasil em um mundo em transformação”. O documento de apoio foi submetido por Nelson Tavares e comentado, e Luiz Paulo Vellozo foi escolhido como relator e o professor Creomar de Souza, como primeiro debatedor.
O terceiro seminário, “Desenvolvimento Sustentável e Inclusão Social, fechou o ciclo em Brasília, no dia 10 de março. O texto de apoio foi proposto pela professora Maria Amélia Rodrigues da Silva Enriques, sendo o professor Alberto Aggio o relator e o professor Felipe Salto o primeiro debatedor.
Os relatórios elaborados deram testemunho da vitalidade e amplitude das inquietações, comentários e propostas dos participantes.
Confira, a seguir, a transcrição da Conferência Nacional - “A Nova Agenda do Brasil e dos seminários que antecederam a realização da Conferência:
» Relatório da Conferência Nacional “A Nova Agenda do Brasil”
A Conferência Nacional criou grupos de discussões para resumir em uma pauta objetiva a documentação recebida do ciclo de seminários realizados nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Cada grupo foi composto à base de um terço dos participantes inscritos na Conferência, respeitada a distribuição equânime das delegações estaduais. Desse esforço, resultaram as propostas consolidadas.
» Relatório do Seminário “O Brasil em um mundo em transformação” - São Paulo (03/03/2018)
» Relatório do Seminário “Desenvolvimento sustentável e inclusão social” - Brasília (10/03/2018)
Alex Manente: Texto datado
Não subsistem circunstâncias que levaram o constituinte, naquele momento, a exigir o trânsito em julgado
A condenação do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região e a prisão do líder petista fizeram com que o debate sobre o princípio da presunção de inocência ganhasse ampla repercussão na imprensa e em todos os setores da sociedade brasileira.
A Constituição de 1988 foi redigida sob a inspiração de ideais democráticos que emergiram da superação da ditadura militar. Naquele momento histórico, premido pelas graves violações aos direitos humanos durante o regime anterior, o constituinte incluiu na Lei Maior vários princípios garantistas, entre eles o da presunção de inocência.
A Carta Cidadã, ao tratar da presunção de inocência, estabeleceu que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, ou seja, antes do esgotamento dos recursos. A partir disso, no ano de 2016 o Supremo Tribunal Federal estabeleceu a possibilidade de início do cumprimento da pena por condenação criminal após a condenação em segunda instância, sem a necessidade do trânsito em julgado. Desde o início, houve muita controvérsia no meio jurídico sobre tal interpretação.
De um lado, em favor da interpretação do Supremo, as correntes que defendem maior ativismo judicial sustentam que a prisão após a condenação em segundo grau é possível, visto que os tribunais superiores não podem apreciar fatos e provas do processo, apenas questões de direito. De outro lado encontram-se os garantistas, que afastam a possibilidade de início do cumprimento da pena antes do trânsito em julgado. Quem assistiu ao julgamento do habeas corpus de Lula no dia 4 de abril pôde perceber claramente essa divisão entre as duas correntes.
Passados 30 anos desde a promulgação da Constituição, entendo que não subsistem no Brasil as circunstâncias que levaram o constituinte, naquele momento, a exigir o trânsito em julgado para afastar a presunção de inocência. Por isso, apresentei uma emenda à Constituição (PEC 410) para que o texto constitucional estabeleça que “ninguém será considerado culpado até a confirmação de sentença penal condenatória em grau de recurso”. Com isso, não haveria mais qualquer dúvida quanto à possibilidade de início do cumprimento da pena por condenação criminal após a condenação por um órgão judicial colegiado.
Há quem sustente que a emenda de minha autoria não poderia ser aprovada, por ferir a cláusula pétrea que veda emendas constitucionais tendentes a abolir os direitos e garantias fundamentais, entre os quais se encontra a presunção de inocência. Contudo, a mudança que estamos sugerindo não está abolindo a presunção de inocência, apenas modificando o momento processual a partir do qual a culpa dos acusados passaria a ser considerada. Ou seja, o núcleo essencial da proteção — presunção de inocência — permanece íntegro, só havendo modificação na fase do processo em que se considera o acusado culpado. Trata-se de uma alteração necessária.
* Alex Manente é deputado federal (PPS-SP) e autor de PEC da prisão em segunda instância
Relatório da Conferência Nacional “A Nova Agenda do Brasil”
Conferência Nacional “A Nova Agenda do Brasil” - São Paulo (23/03/2018)
O teor dos três relatórios acima transcritos foi encaminhado à Conferência Nacional da FAP, para serem examinados e submetidos ao XIX Congresso do PPS. Dadas a complexidade e a amplitude dos comentários, reflexões e propostas, a sessão plenária da Conferência decidiu criar grupos de discussão, com o cometido de resumir em uma pauta objetiva a documentação recebida. Cada grupo foi composto à base de um terço dos participantes inscritos na Conferência, respeitada a distribuição equânime das delegações estaduais. Desse esforço, resultaram as propostas consolidadas que se detalham a seguir.
Um Novo Pacto entre o Estado e a Sociedade
Sob a presidência do sr. Elimar Nascimento, a relatoria do prof. Caetano Araújo e comentários iniciais do sr. Fábio Dantas Neto, o grupo de discussão, encarregado de examinar o documento resultante do seminário, realizado no Rio de Janeiro, em 24/02/2018, consolidou as seguintes propostas:
- Mudança de sistema político presidencialista para o semipresidencialismo, semelhante ao vigente em alguns países da Europa;
- Mudança no sistema eleitoral para o voto distrital misto. O sistema atual estimula a irresponsabilidade dos representantes perante os partidos políticos e perante seus eleitores;
- Financiamentos de campanhas políticas abertos, a serem feitos com contribuição de pessoas físicas com limites em relação ao montante da renda de cada pessoa. O financiamento exclusivamente público mostra sinais de vulnerabilidade. Não se objetiva a volta do financiamento por parte das empresas;
- Novo pacto federativo, que fortaleça os municípios e apoie a participação da população por via constitucional dos conselhos. (Proposta especifica: que todo município com mais de cem mil habitantes tenha dez conselhos deliberativos, sete dos quais obrigatórios);
- Reforma do Estado, combate do corporativismo: colocar o estado na busca dos interesses gerais em detrimento dos particulares, reduzindo as desigualdades. Eficácia maior através das agencias reguladoras e a profissionalização dos servidores públicos, particularmente no nível municipal; e
- Proposta pontual voltada para população idosa por meio de centros de cuidados especiais para que essa população pudesse ter atenção uma atenção especifica.
Participaram do debate: Alberto Pinto Coelho Júnior, Allan Rosas Salles, Ana stela Alves de Lima, Angela Luci de Souza, Anibal Henrique de Oliveira Macedo, Armando Marques Sampaio, Arnaldo Bianchini Coneglian, Ataide Pereira Salgado, Athayde Nery de Freitas Junior, Aurélio Costa de Oliveira, Benjamim de Almeida Mendes, Bruna Batista Lima, Bruno Farias de Paiva, Carlos Roberto Achilles, Cesar Augusto C. Silvestri Filho, Claudio, Quércia Soares, Daniel Pereira Guimarães, Débora Cassia de Oliveira Lima, Djeverson, Denilson Alessandro De Souza, Dorival Mendes Rodrigues, Edna Flor, Eleanor Gomes da Silva Palhano, Elvio Alberto dos Santos, Elza Pereira Correia, Fábio César Sato, Francisco Cândido Feitosa, Francisco Gois Da Costa Neto, Genildo Pereira de Carvalho , George Gurgel de Oliveira, Geraldo Mossen de Carvaho, Geruza Angélica Leire Belarmino, Gilvan Cavalcante de Melo, Gyselle Cristina Estrela Cordeiro, Heloísa Barreto Alves, Henrique Eufrásio de Santana Junior, Humberto Guimarães Souto, Indaiá Griebeler Pacheco, Inês Kiyomi Kogussi Morikawa, Jácelio de Castro Medeiros, Jangular José Mariano Filho, Jorge Martins Espeschit, José Antônio Cipolla da Silva, José lopes de Carvalho Junior , José Valverde Machado Filho, Josefa Matos de Freitas, Juarez Amorim, Lenise Menezes Loureiro, Lirdes Maria de Oliveira, Luis Alves dos Santos, Luiz Carlos Faleiro, Manoel Francisco Ribeiro de Almeida, Marcia Regina Ledesma Vaneli, Maria Emília Peçanha de Oliveira, Mauricio Costa da Silva, Maurício de Moura Marques Júnior, Maurício Rudner Huertas, Moacir Clomar Jagucheski, Moacir Olivatti, Myrthes Bevilacqua Corradi, Nestor da Costa Borba, Patrícia Aline Grava Ordones, Paulo Henrique Campos Matos, Pedro Henrique Santos Coutinho , Raimundo Inácio Ribeiro Neto, Raimundo Nonato Coasta Bandeira, Raimundo Nonato Tavares dos Santos, Reginaldo Lourenço Breda, Ricardo Alexandre da Costa Amorim, Ricardo Jorge Cruz, Ricardo Pereira Sales, Samuel da Silva Pinto, Vandrios Richarles salgueiro, Walbemar Rocha Reis, Walmir da Silva Matos
O Brasil no Mundo em Transformação
Sob a presidência da profa. Hercidia Facuri Coelho, a relatoria do sr. Luiz Paulo Velozzo Lucas e comentários iniciais do prof. Creomar de Souza, o grupo de discussão a cargo do seminário realizado em São Paulo, em 03/03/2018, assim resumiu as propostas:
- Defender uma estratégia de desenvolvimento educacional com foco em educação básica de excelência;
- Desenvolver uma política pública de ciência e tecnologia;
- Defender uma estratégia aberta de desenvolvimento para o país, rompendo com o nacional desenvolvimentismo e a substituição de importações (economia empreendedora, inovação e integração nas cadeias produtivas locais e globais);
- Defender reformas estruturantes na economia nacional (Tributária, Bancária, da infraestrutura e redução do custo Brasil);
- Defender uma estratégia nacional de ações para a juventude (que incorpore a ideia de um sistema nacional de atenção e acolhimento);
- Adesão à OCDE e a outras iniciativas vinculadas ao ativismo social em termos internacionais;
- Propor maior diálogo do Partido em suas relações internacionais com entes da Sociedade Civil Internacional.
Participaram do debate: Adriano Lima de Moraes, Aldemir Simões Rafael Junior, Alex Spinelli Manente, Alexandre Azevedo Cruz, Alexandre Henrique de Guimarães , Anderson Ferreira Martins , Antonio Jorge de Souza Marques, Arnaldo Jordy Figueiredo , Bruno Estáquio Pinheiro da Silva, Carlos Alberto Da Silva, Carlos Eduardo Batista Fernandes, Cathy Mary do Nascimento Quintas , Cesar Luiz Baumgratz, Claudio Gomes Fonseca, Comte Bittencourt , Daril de oliveira abejdid, David Saraiva Costa, David Zaia, Douglas Augusto Pinheiro de Oliveira, Edenilson Aparecido Miliossi , Elcy, Monteiro Barroso Junior , Eliane Leandra Gomes, Eunice Croqui Achiles, Eva Teixeira Brito, Fábio Junior Lino Nunes , Fatima Cristina da Ressurreição Romar, Fernanda Biskup da Luz, Francisco De Assis Medeiros, Francisco de Assis Rodrigues Chaves, Francisco Potiguara Tomaz Filho, Frank Rossatte da Cunha Barbosa, Geraldo Eugênio Barbosa Mansur, Geysla do Nascimento Viana, Gledson da Silva Brito, Helton Juvêncio da Silva , Irina Abigail Teixeira Storni, Jeferson Rubens Boava, Jefferson Silveira, José de Artur, Melo de Almeida, José Luiz Nanci, José Nilton Carvalho Da Silva, José Roberto Fukumaru, Josélia da Silva Nascimento, Josias Mario da Vitória, Josimar Dionisio , Julia de Azevedo Brandão, Júlio Adelaido Serpa, Laura Helena Lima Pinheiro, Luiz Carlos Porto, Luiz Paulo Vellozo Lucas, Marcelo Adriano Lopes Silva, Márcio Alencar de Sousa, Marco Aurélio Marrafon, Marcos Abrão Roriz Soares De Carvalho, Maria Josineide, Ramos dos Santos , Mario Lucio Silva Nascimento, Marluce Maria de Paula, Matheus, Henrique de Jesus Gomes, Michele Pinto Avila Militão, Miryam Inês de Lima, Osvaldo Ordones, Paulo Eliário Nunes, Pollyana Fátima Gama Santos, Raimundo Benoni Franco, Randolfo Santana Medeiros, Regis Nogueira Medeiros, Renato Campos Galuppo, Rubens Bueno, Sônia Francine Gaspar Marmo, Sonia Maria Rodrigues, Walter da Silva, Yves Raphael Carbinatti Ribeiro.
Desenvolvimento Sustentável e Inclusão Social
Sob a presidência da profa. Luzia Maria Ferreira, a relatoria da profa. Maria Amélia Rodrigues da Silva Enriques e comentários iniciais do prof. Alberto Aggio, o grupo de discussão do seminário realizado em Brasília, em 10/03/2018, assim dispôs suas propostas:
- Econômica – mudança de paradigma – promover uma mudança estrutural no modelo de commodities visando expandir e viabilizar um novo modelo de economia baseada no conhecimento, na inovação, no aumento da produtividade e da renda, bem como assegurar a estabilidade fiscal e financeira do país, inclusive, um novo papel de financiamento para os bancos;
- Social – assegurar a coesão social, por meio da inclusão socioprodutiva. Apresentar programas de inclusão por segmentos que ofereça igualdade de oportunidades.
- Ambiental – Ciência, tecnologia & inovação representam a chave para resolução de grandes temas socioambientais – água, energia renovável, produção e consumo sustentável, resíduos. O não aproveitamento dos resíduos, por exemplo, representa uma perda de recursos financeiros e materiais importantes.
- A educação é o caminho de tudo – em especial para aumentar a produtividade e o bem-estar das pessoas. É preciso dar mais eficiência, eficácia e efetividade aos recursos já reservados e avançar nas agendas. O PPS deve estimular, cada vez mais, que o Brasil se transforme em uma sociedade EDUCANTE.
- A corrupção deve ser enfrentada em todas suas formas de acordo com a Lei e os recursos resgatados devem fomentar a educação. Este é um dos fatores que ampliam a coesão social em nosso país.
Participaram do debate: Mirtes Maria Firmino de Souza, Antônio Carlos Cavalcante de Barros, Urânio Paiva Ferro, Genielma Brito do Rosario, Roberio Duarte dos Santos, Bruno de Arruda Rodrigues, Rosidalva Pinto de Aquino, Olival Andrade Junior, Alexandre Pereira Silva, Francisco Ueliton Martins, Raquel Nascimento Dias, Tomaz Holanda de Lima, Francisco de Sousa Andrade, Deyvid Alberto Hehr, Ricardo Luiz Chiabai, Virmondes Borges Cruvinel Filho, Uillian Costa Da Trindade, Eliziane Pereira Gama Melo, Joaquim Umbelino Ribeiro Júnior, Francisco Fausto Matto Grosso, Silvana Dias de Souza Albuquerque, Claudio Rodrigues de Jesus, Luzia Maria Ferreira, Fabiano Galletti Tolentino, Gilka Maria de Morais Oliveira, Pedro Henrique Alves Auarek, Walter Marinho de Oliveira, Stoessel Luiz Vinhas Ribeiro, Alessandra, Coelho de Freitas Nunes, Everaldo França Nunes, Jane Monteiro Neves, Manoel, Geovane Farias Pereira, Carlos Clayton Leite,Ronaldo Sergio Guerra Dominoni , Diogo Nascimento Busse, Fabio de Oliveira D'Alécio, Hélio Renato Wirbiski, Nelson Rodrigues , Simone Yooko Taniguti Amorim, Marcelo mora Gadelha, Aécio Nanci Filho, Carlos, Eduardo Caminha, Jayme Muniz Ferreira Neto, Miguel Arcangelo Ribeiro, Roberto Percinotto, Cyrillo Antônio Fernandes Furtado, Any Machado Ortiz, Ernesto Ortiz, Sergio Camps de Morais, Joseilton Batista Franca, Alisson Luiz Micoski, Elaine Pompermeier Otto, João Carlos Alves Dos Passos, Afonso Lopes Silva, André Luiz de, Camargo Von Zuben, Arnaldo Calil Pereira Jardim, Benedito Alberto Giudice Cruz, Cesar Alexandre Hernandes, Danilo Herbert Alves Martins, Deodato Rodrigues de Souza, Felipe Pinheiro, Ignácio Leite da Costa, José Carlos Hori, Leonardo Willian Casal dos Santos, Luiz Antônio Tobardini, Mariete de Paiva Souza, Mayra Rosanna Gama de Araújo Silva da Costa, Paulo Cesar Hadad, Roberto João Pereira Freire, Ronaldo Crespilho Sagres, Wagner de Souza Rodrigo Costa, Itamar De Santana Nascimento, Samuel Carvalho Dos Santos Junior, Eduardo Bonagura, Luciana Serafim da Silva, Laudenor Francisco Torres, Luciana Serafim S Oliveira, Ricardo Alexandre Amorim, Marco Aurélio Marrafom, Celso Henrique Barbosa Lima, José Augusto de Carvalho, Mendes Filho, Italo Renato Araujo Oliveira, Edmo Garcia de Almeida.
Sessão de encerramento da Conferência Nacional da FAP
Após a apresentação e exame das propostas dos três Grupos de Discussão, objeto de aplausos entusiásticos da plateia de cerca de 250 pessoas, a Conferência Nacional da FAP encerrou-se com as palavras do sr. Luiz Carlos Azedo, Diretor Geral da FAP, Senador Cristovam Buarque, presidente do Conselho Curador da FAP, e Deputado Roberto Freire, Presidente do PPS. Seguem-se as intervenções na ordem indicada:
Luiz Carlos Azedo, Diretor Geral da FAP
Azedo iniciou agradecendo a participação de todos, em especial os presidentes de mesa, os relatores e os comentaristas, que souberam completar trabalho de extrema complexidade, em um curto espaço de tempo.
Para ele, a FAP representou um marco importante na aproximação entre seu Conselho Curador, cuja maioria é formada por não-membros do PPS, e os quadros dirigentes do partido distribuídos por todo o país, de acordo com os eixos que norteiam as atividades da instituição: (i) produção de conteúdos, (ii) formação política e (iii) interlocução com o mundo acadêmico, das ideias.
Antecipou que trataria de quatro questões importantes, começando com as três mudanças de paradigmas que identifica estejam ocorrendo.
A primeira é de natureza política, qualificou. Somos frutos de uma tradição política de forças, de um movimento, que se opôs simultaneamente ao liberalismo e ao fascismo e, em alguns momentos, até a social-democracia, acrescentou. A partir dos anos 50, esse movimento emulou com o liberalismo e o capitalismo até se esgotar como proposta política. Com o colapso da URSS, deparamo-nos com uma situação em que aquela a distância que existira entre nós e o fascismo à época da Segunda Guerra progressivamente se foi reduzindo ante as revelações da história de tudo que acontecera, de maneira que, hoje, tanto o comunismo como o fascismo se equiparam a regimes ditatoriais e perversos. A partir de então, consolidou-se a hegemonia do pensamento liberal democrático. Esse é o pano de fundo contra o qual temos de discutir o futuro e os programas do partido. Essa é a realidade, inescapável, resumiu.
A segunda mudança de paradigma diz respeito, indicou Azedo, à corrida que o Ocidente e o Oriente vêm disputando, na qual o Ocidente está perdendo a liderança do processo de modernização e desenvolvimento econômico para regimes autoritários do Oriente. Estamos, completou, diante do que poderia ser uma recidiva do comunismo com todos os ingredientes de totalitarismo, autoritarismo e antidemocracia, contra o qual nos posicionamos já na campanha de Roberto Freire para presidente, quando do massacre na praça Celestial. Pergunto, qual é nosso lado?, deixou como provocação.
A terceira mudança de paradigma – real para nós e para os liberais – é estarmos caminhando para uma sociedade que prescinde dos valores da igualdade, fraternidade e solidariedade da Revolução Francesa, pontificou Azedo. Para se modernizar, produzir e crescer, em decorrência dessa mudança, o que está acontecendo na economia? Está-se prescindindo também do trabalho – tanto manual como intelectual – porque o conhecimento está sendo apartado da consciência pela inteligência artificial. Isso coloca um problema ético e político. Que sociedade é essa que vem por aí, pergunta-se, que não precisa do trabalho para produzir na escala necessária com que estávamos acostumados, que era a escala do pleno emprego? Não precisa de exército industrial de reserva nem de reservistas para o Exército porque as indústrias cada vez mais usam menos operários, e os exércitos, menos soldados. A esse respeito, indaga: que posição vamos assumir em relação a esses valores liberais? Vamos abdicar deles? Isso é o que está sendo posto quando falamos da relação com o liberalismo, com a agenda liberal no plano político. Não vamos adotar, frisou, uma agenda liberal por oportunismo ou esperteza. Teríamos de levar em conta as modificações objetivas em curso na sociedade.
Um quarto fenômeno que se soma a essas três mudanças de paradigma é que as pessoas têm cada vez mais liberdade. Passaram por uma revolução dos costumes e se tornaram crescentemente mais individualistas, solitários e desligados do sistema político que garante essa liberdade, que é a democracia representativa. É uma situação em que o cidadão ganha consciência de seus direitos, de suas prerrogativas e cada vez menos se identifica com aquelas instituições que asseguram isso, porque essas instituições também estão em crise e defasadas.
Qual é o resultado disso?, volta a perguntar-se Azedo. Quem vai levar esse processo? É o pensamento democrático, a esquerda, os liberais ou o pensamento autoritário, fascista, retrógado, como vem acontecendo em vários países do mundo? Esse é o dilema, responde, é a discussão subjacente a tudo isso que nós debatemos nesses seminários, com a qual nós temos de nos deparar em um período que pode não ser muito longo, porque as mudanças são muito rápidas, mas com certeza é um processo que se está tornando cada mais dramático, estimou.
Acho, prosseguiu, que essa inquietação, esse mal-estar que estamos vivendo, decorre disso e precisamos ter clareza de como vamos lidar com isso para que possamos fazer política, construir alternativas, pensar novas ideias. Somos um partido e um movimento, mas só sobreviveremos como partido e movimento se conseguirmos juntar uma coisa à outra, se tivermos ideias, boas ideias, para enfrentar o futuro que vem por aí.
Senador Cristovam Buarque
O senador iniciou com uma citação antiga sua, que lhe passou o sr. Candido Feitosa: “Creio que o PPS é um partido que pode apresentar uma alternativa por sua rica trajetória... por ser uma organização antenada no futuro...”. Ao agradecer a gentileza do gesto, o senador se permitiu fazer uma correção: “Creio que o PPS é o único partido capaz de fazer isso...”, e explicou: Que outro partido está hoje a três meses das eleições discutindo o que estamos discutindo aqui, em vez de explorar quem vai ser candidato, com quem a gente vai fazer campanha, qual é o discurso para ganhar votos? Que eu saiba, nenhum, respondeu.
Nós estamos aqui debatendo o futuro, sem ficar prisioneiro do presente. Isso é algo que precisamos aproveitar. Um partido não pode ficar preso ao presente, sobretudo em tempos de profundas transformações, como observou Azedo. Conseguimos reunir aqui hoje delegados de todo o Brasil e temos uma direção que nos permite a liberdade de agenda e de trabalho, na pessoa de Roberto Freire.
Gostaria agora de tecer alguns comentários sobre o teor das muito boas propostas apresentadas pelos Grupos de Discussão, que avaliaram os relatórios dos seminários que a FAP organizou no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Com relação ao primeiro documento, ressaltou o senador, a escolha do tema já merece aplausos – o pacto entre a sociedade e a nação. Retoma conceito importante, o de nação, que ainda não entrou na cabeça de muitos militantes. Outros acreditam que a nação é a soma das corporações, e os liberais mais radicais acham que a nação é apenas a soma dos indivíduos. A nação é o que transcende a soma dos indivíduos e que não se subordina à vontade das corporações. Submeter a nação à vontade das corporações torna o regime fascista, pontificou.
Outro ponto interessante suscitado nos relatórios foi a aliança da esquerda democrática com o liberalismo. Eu diria que não é nem uma questão de fazermos uma aliança. A economia tem de ser eficiente. É uma condição que nosso partido tem de adotar. Não há como fazer justiça social se a economia não for eficiente. As economias podem ser eficientes, sem justiça social, mas a economia ineficiente não faz justiça. Um exemplo bom foi o que vi recentemente na televisão sobre os refugiados que estão chegando da Venezuela. O repórter não encontrou um único analfabeto entre eles, mas a economia do país foi destruída, e os pobres tiveram de emigrar. Descuidaram da eficiência econômica e descuidaram da democracia. A alfabetização não resolveu, concluiu o senador.
Temos de assumir, voltou a dizer o senador, essa ideia de eu economia tem de ser eficiente e que, para tal, temos de respeitar muitas regras, como o mercado. Não tem jeito, insistiu. A intervenção estatal nos preços, nas taxas de juros, termina levando à ineficiência e daí à injustiça.
O que temos de saber é como usar a eficiência econômica para fazer justiça. Isso conduz à segunda perna do seria uma proposta nossa no PPS. Trata-se da educação de qualidade e igual para todos. Pobres e ricos na mesma escola. Que o conteúdo seja livre, é, afinal, a liberdade pedagógica. Mas a qualidade, a carreira do professor, a qualidade dos equipamentos, isso tem de ser garantido a todos.
Quando se discute uma possível mudança do nome do partido, digo apenas que qualquer que seja a opção escolhida, se vier de fato a acontecer, não serão as palavras que contarão, mas a ideia de igualdade de oportunidades, um partido nacional que pregue a igualdade de oportunidades e a eficiência econômica.
Outros aspectos discutidos com os quais estou de acordo referem-se à reforma política, à reforma eleitoral e ao financiamento de campanha. A esse respeito, devo dizer que penso que o financiamento de campanha deva ser privado e ilimitado. Financia o candidato quem se simpatiza com ele ou com o partido, defendeu.
Quanto ao pacto federativo também abordado nos relatórios, julgo que temos de sair um pouco da visão do Estado e dos municípios e trabalhar setores. A primeira decisão a ser tomada a esse respeito é a de que criança alguma terá uma escola melhor do que a outra que more no lugar errado. O pacto federativo tem de dizer que não importa o endereço do pai e da mãe, a escola será sempre boa para o filho.
A saúde é outro setor capital. Saúde não pode ser privilégio de quem tem dinheiro e more em cidades ricas. O pacto federativo terá de garantir igualdade de qualidade de educação e de saúde. A partir daí, as desigualdades decorrerão do talento, da persistência, da vocação de cada um, mas não da sorte de o pai ter escolhido um bom endereço e a sorte de uma herança. Temos de trabalhar, complementou o senador, para que o pacto federativo liberte nossas crianças de escolhas com qualidades diferentes e nossas famílias da sorte – ou azar – de acesso diferenciado ao tratamento médico.
Sobre a reforma do Estado, tema também muito bem examinado nos Grupos de Discussão, acredito que temos de sair do corporativismo e enfatizar a redução da pobreza. Mas como fazer isso? Estamos viciados em alimentar a intenção de fazer coisas, e descuidamos da ação. Onde mexer para que as coisas possam mudar? Temos de ser muito realistas e objetivos a esse respeito.
A ciência e a tecnologia foram naturalmente objeto de reflexões valiosas. Minha convicção é a de que quando as crianças neste país tiverem no ensino básico muita matemática, muito português, um idioma estrangeiro, história e geografia, a ciência e a tecnologia chegarão bem.
Gostaria agora de compartilhar uma metáfora com todos vocês. O Estado constrói o trilho, mas a locomotiva é privada. Somos capazes de dizer por onde devam caminhar os setores produtivos, mas o Estado não tem de ser o setor produtivo. Pode até preencher certo papel nas áreas de petróleo e energia, mas não no setor produtivo.
Com relação à juventude, penso em algumas ações de apoio, como as esportivas, por exemplo, mas não resisto e recuperar ideia antiga minha que o PPS talvez pudesse incorporar. Pode soar meio retrógrado, sou favorável ao serviço militar obrigatório. Acho que traria uma consciência nova, uma ocupação do tempo numa idade muito perigosa. Só que o serviço militar não precisa de armas. Seria para oferecer aos jovens um período de formação cívica, de disciplina, de encontrar amigos e, ao mesmo tempo, de conseguir um ofício. Entre 18 e 19 anos, isso ajudaria muito, até mesmo para reduzir a violência.
Aproveito outra proposta apresentada por um Grupo de Discussão – ingresso na OCDE – e apoio. Cheguei a fazer uma anotação, a título de piada, que deveríamos também tentar entrar na OTAN, desde que nos permitissem a mesma coisa no Pacto de Varsóvia. A provocação serve para sublinhar o acerto da decisão de o Brasil abrir-se à comunidade de nações e acentuar sua convivência internacional. Penso mesmo que esse deveria ser um objetivo nosso, dos políticos, do PPS. Durante os últimos 13 anos, o PT seduziu a sociedade civil organizada em vários quadrantes do mundo, com jantares, almoços e financiamento de agendas. E hoje nós somos tratados como golpistas. Entre nós, já tem políticos preocupados com isso, como o deputado Rubens Bueno, por exemplo.
O terceiro Grupo de Discussão falou de inclusão, e eu quero falar de equidade e coesão. Para acabar com preconceitos, aumentar a produtividade e distribuir o que a produtividade cria só pela educação. Desde a época da SUDENE, do saudoso Celso Furtado, insistiu-se em industrializar o Nordeste, quando se deveria ter transformado a escola no Nordeste igual à do Sul. Se tivéssemos tido trinta anos de investimentos em qualidade educacional, estaríamos hoje em uma situação diferente quanto à desigualdade.
Gostei da palavra ousadia, usada por Alberto Aggio em ousadia pela democracia. Mas democracia sem educação igual não vai transformar. Os analfabetos consideram um sacrifício ir à escola. Reparem que todos querem distribuição de renda e não de educação. Distribuir educação exige um esforço, um baita esforço. Você não está dando educação, a pessoa é que está recebendo a educação.
Na bolsa-família, a pessoa está recebendo, não dando nada em troca. Quando Fernando Henrique instituiu a bolsa-escola em favor de 4 milhões de beneficiários, a família tinha de dar alguma coisa de volta, pois só receberia o benefício se o filho fosse à escola. Quando Lula transformou a bolsa-escola em bolsa-família, cometeu vários erros. Tirou o programa do ministério da educação. Antes, quando se recebia a bolsa-escola, pensava-se que era porque o filho tinha de estudar; com a mudança, passou-se a pensar que o benefício era dado porque a pessoa era pobre. Estendeu-se também a bolsa para quem fosse velho ou estivesse doente, mesmo que não tivesse filhos. E descaracterizou o programa que era educacional.
Fala-se em distribuição de renda. Fiz uma conta rápida. Dividi a renda dos bilionários, cerca de 50 bilhões de reais, pela população, o resultado foi cerca um real por dia. Com isso, nada vai acontecer. Só vamos ter êxito na política de distribuição de renda quando acontecerem duas coisas: quando aumentar a renda social e quando a educação for igual para que cada um possa exercer seu potencial e receber sua parte; para os que não tiverem potencia, o Estado terá de cobrir as necessidades básicas.
Quanto ao bom desempenho econômico do Ceará, mencionado por um companheiro, tenho a dizer que o estado melhorou de fato um pouquinho, mas está longe do nível do que a gente precisa. Aceitar esse patamar como parâmetro é cair na mediocridade.
Temos de combinar o liberalismo dos seres humanos com a inteligência artificial. Esse é o futuro. Encontros como este que estamos organizando hoje talvez sejam um dos últimos da história. Em alguns anos, estaremos reunidos por vídeoconferência, as pessoas achando que estão confortavelmente sentadas umas ao lado das outras.
Azedo referiu-se aos conceitos de reinvenção. Acho que, nos dias de hoje, temos de reinventar tudo, desde o conceito de reinvenção até mesmo o de tudo.
Por fim, diria que não sei se vamos ganhar ou não essa luta entre o liberalismo e o autoritarismo. Só posso dizer que, até o último dia, nós, como políticos, militantes, devemos lutar para que o autoritarismo passe. É o que estamos fazendo aqui, lutando para encontrar um rumo que nos permita combinar a liberdade de cada um com essas mudanças radicais em curso no mundo. Independentemente de essa luta fracassar ou não, como dirá a história dentro de algumas décadas, pelo menos teremos tentado com nosso trabalho nessa conferência.
Fico feliz de estar em um partido que esteja tentando.
Deputado Roberto Freire
Agradeço a presença de todos. Estou encerrando essa Conferência Nacional da FAP e, daqui a pouco, estarei abrindo o XIX Congresso Nacional do PPS.
O que estamos fazendo aqui hoje é algo inovador, mas em cima de uma velha ideia, de uma velha prática. Os congressos do Partido Comunista tinham na origem a articulação de seus militantes, de seus filiados, na preparação de documentos que tratavam da realidade do mundo e a realidade do Brasil. Alguns congressos eram mais democráticos, outros menos, quase sempre autoritários, mas foram em algum momento importantes para consolidar um partido que hoje se está tornando de anciãos, por conta do envelhecimento de nossas políticas, de nossos políticos, e por conta da superação das mudanças que a história nos coloca como desafios. Só que este partido, por intermédio desses congressos, sempre tentou fazer algo novo.
Por isso, saúdo esta conferência. Nós organizamos um congresso diferente quando estávamos precisando fazer a diferença naquilo que era nossa derrota. Foi aí que o partido se preparou para mudar sua simbologia, muitos de seus paradigmas, suas práticas e seu nome. Aquele congresso preparatório criou algo que significava chamar pessoas que não eram do partido para que, se quisessem discutir as teses do partido e participar desses eventos, poderiam se tornar delegados ao congresso nacional. Isso foi uma mudança que, inclusive, permitiu àqueles que não queriam mudar dizer que o congresso estava esquisito.
Alguns membros hoje do partido entraram naquela época quando se processou a mudança do Partido Comunista para o Partido Popular Socialista, cujo documento fundador começava afirmando que estávamos no limiar de uma era da história. É interessante recordar que o então candidato a presidente da república e seu candidato a vice, já falavam em discutir que o Estado não deveria mais cuidar de algumas das atividades econômicas, antes consideradas estratégicas e deixavam de ser, como a produção de aço, e, sim, da ciência e tecnologia. As pessoas diziam que esses comunistas eram diferentes. Que comunismo é esse?, perguntavam-se. O partido estava querendo discutir o mundo diferente daquela conjuntura.
Esta conferência, antecedida por seminários preparatórios que discutiram e adiantaram a análise de temas relevantes para os interesses da sociedade, como o mundo da revolução científica, da inovação, da inteligência artificial, tanto quanto o seminário internacional que a FAP convocou em setembro último, em parceria com o ITV – portanto, o PPS e o PSDB juntos -, haverão de permitir que hoje à noite, amanhã e depois, no XIX Congresso Nacional do PPS, possamos examinar esses pensamentos, tentando ajudar o Brasil a se posicionar em relação ao futuro.
Tudo do que aqui foi dito é relevante para que possamos extrair como formulação política. Por exemplo, a proposta de o Brasil ingressar na OCDE. Esta é uma proposta de um partido político que é conhecido por ter a coragem de romper com preconceitos e paradigmas do passado, o que tem muito a ver com o tom de nossa história, com o internacionalismo, e com a consciência de que o mundo de hoje é o mundo da globalização em todos os setores.
Na nossa maneira de ver, isso não é para nós algo novo. Quando se falava de que não ia existir mais fronteiras nacionais, a reação foi de que se tratava de uma afirmação prematura. Sabem onde primeiro se mencionou essa possibilidade? No Manifesto Comunista. Não foi algo, portanto, escrito agora.
Nós vamos precisar intervir na política tendo a coragem de superar alguns dos pontos que eram caros a todos nós, para saber se vamos ser contemporâneos do futuro ou se vamos ficar prisioneiros do nosso passado, por mais honrado que seja. Esse é o desafio que se levanta ao Brasil de hoje. O Brasil foi interditado por forças que se diziam de vanguarda, e que não foram vanguarda alguma, porque se prenderam ao retrocesso, ao passado.
Estou nesse partido há cerca de 50 anos. Vivi momentos de dificuldades e momentos de muito orgulho. Algumas vezes, tememos que não teríamos futuro, por terem sido momentos de intensa rutura. Não escolhemos assim; o mundo nos obrigou. E até hoje enfrentamos problemas para nos afirmar, especialmente no Brasil, porque, como disse, uma esquerda que parecia estar na vanguarda se revelou no que houve de mais atrasado, impedindo todo e qualquer diálogo de superação de muitos dos problemas que estávamos vivendo. E o que tivemos?: uma esquerda enxovalhada. Nunca na história desse país se formou movimento contra a esquerda tão forte como o que estamos enfrentando em nossos dias, a ponto de trazer para o dicionário o neologismo de “esquerdopata”.
Como superar isso?: tendo a ousadia de fazer o que estamos fazendo agora aqui, sermos efetivamente vanguarda, entendermos que esse mundo está mudando e sabermos acompanhar essas mudanças e sermos vanguarda nelas. E não discutir o mundo do trabalho supondo que uma legislação de 70 anos possa determinar o que deva ser feito agora e no futuro, nem se render à ideia de que tenhamos de nos submeter a corporações, nem deixar de enfrentar a realidade de um mundo que não oferece mais garantias fáceis para o futuro. Precisamos construir um partido que tenha a coragem de afirmar posições políticas não sozinho, mas atraindo aqueles que se identificam com essas mesmas posições.
O Brasil vai necessitar de inciativas desse tipo. Como disse, passei por momentos difíceis, de um partido pequeno incapaz de ter presença na sociedade, de nos esquecerem como partido democrático, como partido de esquerda, como partido progressista, quase como sendo um partido. Quero dizer que hoje temos a oportunidade de sermos protagonistas. Com a crise dos partidos, especialmente no Brasil, um pequeno partido teve a ousadia de atrair movimentos que têm impacto na sociedade. Na verdade, foram alguns desses movimentos que escolheram o PPS como um de seus interlocutores, e isso não é pouco avanço. Em épocas em que ninguém promove interlocução com partidos, aqueles que rompem com esse modelo terão vantagem.
Sou realista. Não digo nenhuma ficção metafísica contrária ao ritmo normal da vida ao aceitar limites a meus dias. Gostaria, porém, de imaginar ser capaz de legar ã juventude de meu partido forte sentido de continuidade, com o exemplo não do que fomos no passado, mas da presença que tivemos na história desse país que quem quiser conhecer vai ter de nos conhecer, como dizia Ferreira Gullar.
Estamos neste congresso guiados pelos pensamentos, conceitos e luzes que nos haverão de orientar na direção certa, a partir dos elementos concretos de reflexão que muitos aprofundaram, de modo a que podemos dizer com altivez que temos vida daqui para frente.
André Amado, Secretário Executivo
Atuei como secretário executivo da Conferência Nacional da FAP desde o primeiro momento. Colaborei com a escolha dos delegados, definição dos temas a serem debatidos, distribuição de trabalhos no seio de cada seminário e circulação dos documentos produzidos.
Mais uma vez, admiraram-me a dedicação, a disciplina, o compromisso e o sentido de conjunto que os participantes dos seminários exibiram, tanto os membros da FAP e do PPS, quanto os convidados especiais, de outra procedência.
Minha contribuição, que espero tenha sido positiva, resultou muito menos significativa do que o que eu pude aprender e desfrutar com o manejo dos temas em discussão e, sobretudo, a convivência com pessoas tão estimulantes, pessoal e intelectualmente.
Despeço-me gratificado e enriquecido, e deixo este relatório como registro do trabalho excepcional que completaram todos os envolvidos nos seminários preparatórios e nas sessões da Conferência Nacional da FAP.
Brasília, abril de 2018
André Amado
Embaixador
Leia mais:
» Relatório do Seminário “O Brasil em um mundo em transformação” – São Paulo (03/03/2018)
» Relatório do Seminário “Desenvolvimento sustentável e inclusão social” – Brasília (10/03/2018)
No encerramento do 19º Congresso Nacional, Roberto Freire é reeleito presidente do PPS
Deputado foi reconduzido à presidência do PPS por mais quatro anos
No terceiro e último dia do 19º Congresso Nacional do PPS, neste domingo (25), em São Paulo, o deputado federal Roberto Freire (SP) foi reeleito para a Presidência Nacional do partido para um novo mandato de 4 anos. A chapa vencedora no pleito ainda contará com o deputado federal Rubens Bueno (PR) na primeira vice-presidência; o deputado estadual Davi Zaia (SP) como secretário-geral; e Régis Cavalcante (AL) na Secretaria de Finanças.
Os demais membros efetivos da Comissão Executiva Nacional da legenda são Arnaldo Jardim (SP), Arnaldo Jordy (PA), Carmen Zanotto (SC), Raimundo Benoni (MG), Luciano Rezende (ES), Luiz Carlos Azêdo (RJ), Luzia Ferreira (MG), Comte Bittencourt (RJ), Cristovam Buarque (DF), Renata Bueno (PR), Soninha Francine (SP), Wober Júnior (RN) e Daniel Coelho, deputado federal por Pernambuco que se filiou neste domingo ao PPS.
“Tenho plena consciência de que nós estamos aqui dando um passo e estamos abertos para discutir o novo. O novo está vindo. Já não somos mais o que éramos”, afirmou Freire durante o seu discurso após a eleição.
O presidente reeleito do PPS relembrou alguns momentos marcantes de sua trajetória e da história do partido, sucessor do Partido Comunista Brasileiro (PCB). “Eu já disputei eleição de presidente do PCB com Oscar Niemeyer, um gênio brasileiro. Isso não é para qualquer um. É para guardar como uma honra para mim em minha biografia”, destacou.
Freire ressaltou a importância da integração dos movimentos cívicos ao PPS, uma das grandes marcas do congresso realizado neste fim de semana. “Tivemos alguns momentos em que estamos apontando o futuro. Não podemos dizer o que vai acontecer, mas certamente estamos fazendo uma nova história do PCB/PPS. Que vai ficar para trás, mas não será esquecido”, celebrou.
“Vamos fazer história”
Ainda durante o seu pronunciamento neste domingo, Roberto Freire disse que o PPS vai “continuar fazendo história”. “Estamos abrindo as portas para uma nova formação política, e essa ideia sempre esteve presente nesse partido. O partido tentou fusão, imaginou incorporação. A nova formação não é um novo partido, é uma nova forma de se fazer política”, afirmou. “Costumo dizer que só tive um partido na minha vida: é este que está aqui. Daqui não saí desde 1962.”
“Queremos ser algo diferente para o futuro. Não vou chegar lá, mas essa juventude e o que eles representam precisam ter essa capacidade”, prosseguiu o deputado. “São questões como essas que estão sendo colocadas pelo partido. As conferências já mostraram isso. Nós já não somos mais o que éramos. Não somos mais aquilo, mas teremos continuidade.”
O presidente nacional do PPS recordou que o “experimento histórico” do socialismo real foi derrotado, “e a derrota caiu em nossa cabeça com a queda do Muro [de Berlim]”. “Agora está se dando uma outra mudança, pois mudaram os paradigmas de antes.” “Até hoje, parte da esquerda vê discussões como essas com ojeriza. Estamos dando um novo passo transformador. Estamos saindo daqui sabendo que o PPS, o velho PCB, está construindo aquilo que pode ser a forma de representação política”, celebrou Freire.
No encerramento de sua fala, o deputado parabenizou todos os participantes do XIX Congresso Nacional da legenda. “Com imensa alegria, saio daqui com esperança”, finalizou. (Fábio Matos/Assessoria do Parlamentar – Fotos: Karina Sérgio Gomes)
Em discurso emocionado, Freire diz que 19º Congresso Nacional do PPS tem grande “dimensão histórica”
Presidente do PPS afirmou que o centro dos debates deve ser “a nova formação política”
O 19º Congresso Nacional do PPS, aberto na noite desta sexta-feira (23) em São Paulo, tem dimensão histórica e representa uma grande oportunidade para o início da construção de uma nova formação política. A avaliação é do deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do partido, que se emocionou em seu discurso inaugural e foi aplaudido de pé pelo público.
Durante o pronunciamento, o parlamentar recordou de outros momentos marcantes da história do PCB/PPS e citou um congresso emblemático realizado no Rio de Janeiro.
“Eu estava me lembrando de um outro congresso que foi tremendamente atritado porque estávamos ali discutindo toda uma vida. Esse congresso foi no Rio de Janeiro. Há vários episódios, é algo marcante”, relembrou. “Ali já começava a ficar caracterizada a derrota do que imaginávamos ser um mundo novo. O fim da experiência do chamado socialismo real. E começamos a preparar a mudança, que foi das mais difíceis.”
Ao traçar um paralelo com o momento atual, o presidente do PPS destacou a proximidade entre o partido e os movimentos cívicos que vêm se integrando à legenda como um fator que pode significar a concretização de uma transformação efetiva.
“Estamos vivendo um momento em que o PPS quer entender como ter futuro. Tal como lá atrás imaginávamos com a mudança dolorida ter futuro, a oportunidade que se oferece agora é que esse futuro pode ser mais radioso”, projetou Freire.
“A representação da cidadania já não se continha dentro dos partidos tradicionais. Começava a surgir a necessidade de uma outra representação para a sociedade”, prosseguiu o deputado. “Dizíamos isso muito antes do tempo. Muitos ainda não perceberam, mas o PPS, hoje, percebeu que esse tempo chegou.”
No momento mais emocionante da abertura do Congresso Nacional do PPS, Freire afirmou que o centro dos debates deve ser “a nova formação política”. “Estamos dando o primeiro passo. Por isso, esse congresso tem essa dimensão. Ele será histórico por isso”, projetou.
“Quero dizer que isso me dá uma alegria muito grande. Não estou emocionado com nada dolorido, ao contrário. Esse congresso representa muito. Podemos estar construindo algo e nós podemos ser protagonistas. O Brasil está precisando de protagonistas para ver se teremos um futuro melhor.”
“Aggiornamento”
Roberto Freire também falou sobre o processo de “aggiornamento” enfrentado pelo PCB/PPS no passado, que qualificou como “dolorido, mas necessário”. “No documento que foi orientador daquele congresso, se dizia que estávamos vivendo outro momento histórico. Discutíamos isso, apontando naquele momento algumas questões que não estavam muito claras. Falávamos que era necessário pensar uma nova formação política”, relembrou.
“Nós podemos estar fazendo um congresso que pode significar um novo futuro. Não tem a dramaticidade daquele, mas tem também uma carga de mudança e busca de futuro tanto quanto aquela. Aquela em cima de uma derrota, com depressão, dolorida. Essa aqui, com esperança. Estamos vivendo um dos melhores momentos que o PCB/PPS já experimentou em toda a sua história”, prosseguiu Freire.
Para o parlamentar, o Brasil passa por um momento “de profunda crise de todas as instituições”. “Agora nós estamos antenados com esse processo de profunda mudança na realidade mundial. Tudo o que é sólido se desmancha no ar, como dizia [Karl] Marx quando analisava o processo da Revolução Industrial. É um processo que atinge os partidos políticos e todas as nossas instituições, corroídas também pela corrupção.”
Movimentos cívicos e centro democrático
Em sua fala, o deputado Roberto Freire reiterou a importância da integração dos movimentos da cidadania – como Agora!, Acredito, Livres, Renova Brasil, entre outros – ao partido. “O PPS foi escolhido por alguns desses movimentos. Essa nova formação política vai substituir os partidos, que são datados da Revolução Industrial”, analisa. “O PPS quer, junto com esses movimentos, ajudar e participar da mudança. Nós queremos construir essa nova formação política. Não sabemos como vai ser. Evidente que não será o que somos hoje.”
Na parte final do discurso, Roberto Freire reconheceu que ainda há muita indefinição em relação ao cenário eleitoral. “O Brasil precisa de alguém que tenha a coragem de dizer o que temos de fazer. É fundamental que todos nós busquemos a unidade do centro democrático. E algo que é importante ter presente: estamos enfrentando uma crise política que não tem nada de previsível. Não sabemos o cenário daqui a uma semana”, admitiu.
“No dia 7 de outubro [data do 1º turno das eleições], a sociedade brasileira vai dizer que caminhos vamos tomar. Vai se ter a chancela fundamental da soberania popular”, finalizou o deputado.
Conferência Nacional “A Nova Agenda do Brasil” defende atualização da política brasileira
Evento promovido pela FAP, em parceria com o PPS, vai ajudar o país a promover o 'aggiornamento' (atualização) das práticas políticas, acredita o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), presidente nacional do partido
Por Germano Martiniano
A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) realizou, nesta sexta-feira (23), a Conferência Nacional "A Nova Agenda do Brasil", no Hotel Meliá Ibirapuera, em São Paulo. No evento, realizado em parceria com o Partido Popular Socialista (PPS), foi feito um conjunto de propostas políticas (confira a lista abaixo) que servirão de base para o XIX Congresso Nacional do PPS, também iniciado nesta sexta-feira na capital paulista e que vai até amanhã, domingo (25), no Hotel Bourbon.
“É daqui que vai sair o que vai nos orientar em um processo que tem tudo para significar a superação de uma transição. Esta Conferência e o Congresso, em função de condições objetivas do mundo e do Brasil, colocam na ordem do dia toda uma discussão sobre que alguns chamam de pós-comunismo”, afirmou o deputado Roberto Freire (PPS-SP), presidente nacional do PPS, durante o seu pronunciamento aos militantes, dirigentes partidários e demais participantes na abertura da Conferência Nacional.
A discussão da Conferência Nacional “A Nova Agenda do Brasil” se pautou nos relatórios provenientes do ciclo de seminários realizados pela FAP nos últimos meses – no Rio de Janeiro (“Novo pacto entre o estado e a sociedade brasileira”), em São Paulo (“O Brasil no mundo em transformação”) e em Brasília (“Desenvolvimento Sustentável e Inclusão Social”). Ainda de acordo com Freire, esta discussão política “trata-se de uma ruptura não de nossa história, mas de nossa concepção e de nossa prática, para que façamos o efetivo ‘aggiornamento’ (“atualização”, em italiano)”.
Além de Freire, compuseram a mesa principal da abertura da Conferência Nacional o embaixador André Amado; o jornalista Luiz Carlos Azedo, diretor-geral da FAP; o deputado federal Arnaldo Jardim (SP), presidente estadual do PPS-SP; o deputado estadual Davi Zaia (SP); a vereadora Soninha Francine; o deputado estadual Comte Bittencourt, presidente do PPS-RJ; e Juarez Amorim (PPS-MG).
Propostas
Os convidados foram distribuídos em três grupos (A, B e C), aleatoriamente: O Brasil no mundo em transformação, Um novo pacto entre o Estado e a sociedade e Desenvolvimento Sustentável e Inclusão Social. De cada grupo, após apresentação da mesa principal e intervenções dos participantes, saíram propostas programáticas a serem oferecidas, como dito acima, como contribuição às resoluções do XIX Congresso do Partido Popular Socialista (PPS).
Um novo pacto entre o Estado e a sociedade
Esta temática foi apresentada por Caetano Araújo, sociólogo e servidor público, Elimar Nascimento, sociólogo e Paulo Fábio Dantas Neto, cientista político. Foram feitas as seguintes propostas programáticas:
1. Mudança de sistema político presidencialista para o semipresidencialismo semelhante ao que vigora em alguns países da Europa, França, Portugal etc.;
2. Mudança no sistema eleitoral, voto distrital misto. O sistema atual estimula a irresponsabilidade dos representantes perante os partidos políticos e perante de quem vota neles;
3. Financiamentos de campanhas políticas abertos, a serem feitos com contribuição de pessoas físicas com limites em relação ao montante da renda de cada pessoa. O financiamento exclusivamente público mostra sinais de vulnerabilidade. Não se objetiva a volta do financiamento por parte das empresas;
4. Novo pacto federativo, que fortalecesse os municípios e apoiasse participação da população por via constitucional dos conselhos. (Proposta especifica: que todo município com mais de cem mil habitantes tivesse dez conselhos deliberativos e entre eles sete que seriam obrigatórios);
5. Reforma do Estado, combate do corporativismo, colocar o estado na busca dos interesses gerais em detrimento dos particulares, reduzindo as desigualdades. Eficácia maior através das agencias reguladoras e a profissionalização dos servidores públicos, particularmente no nível municipal;
6. Proposta pontual voltada para população idosa. Centros de cuidados especiais para que essa população pudesse ter atenção uma atenção especifica;
O Brasil no mundo em transformação
Este grupo, que teve em sua mesa, Hercidia Facuri Coelho, historiadora, Luiz Paulo Velozzo Lucas, engenheiro e Creomar de Souza, professor universitário, apresentou as seguintes propostas:
1. Defender uma estratégia de desenvolvimento educacional com foco em educação básica de excelência;
2. Desenvolver uma política pública de ciência e tecnologia;
3. Defender uma estratégia aberta de desenvolvimento para o país, rompendo com o nacional desenvolvimentismo e a substituição de importações (economia empreendedora, inovação e integração nas cadeias produtivas locais e globais);
4. Defender reformas estruturantes na economia nacional (Tributária, Bancária, da infraestrutura e redução do custo Brasil);
5. Defender uma estratégia nacional de ações para a juventude (que incorpore a ideia de um sistema nacional de atenção e acolhimento);
6. Adesão à OCDE e a outras iniciativas vinculadas ao ativismo social em termos internacionais;
7. Propor maior diálogo do Partido em suas relações internacionais com entes da Sociedade Civil Internacional.
Desenvolvimento Sustentável e Inclusão Social
Apresentado por Maria Amélia Rodrigues, economista, Alberto Aggio, historiador e por Luzia Maria Ferreira, bióloga e professora, este tema teve as seguintes propostas programáticas:
1. Econômica – mudança de paradigma – promover uma mudança estrutural no modelo de commodities visando expandir e viabilizar um novo modelo de economia baseada no conhecimento, na inovação, no aumento da produtividade e da renda, bem como assegurar a estabilidade fiscal e financeira do país, inclusive, um novo papel de financiamento para os bancos;
2. Social – assegurar a coesão social, por meio da inclusão socioprodutiva. Apresentar programas de inclusão por segmentos que ofereça igualdade de oportunidades.
3. Ambiental – Ciência, tecnologia & inovação representam a chave para resolução de grandes temas socioambientais – água, energia renovável, produção e consumo sustentável, resíduos. O não aproveitamento dos resíduos, por exemplo, representa uma perda de recursos financeiros e materiais importantes.
4. A educação é o caminho de tudo – em especial para aumentar a produtividade e o bem estar das pessoas. É preciso dar mais eficiência, eficácia e efetividade aos recursos já reservados e avançar nas agendas. O PPS deve estimular, cada vez mais, que o Brasil se transforme em uma sociedade EDUCANTE.
5. A Corrupção deve ser enfrentada em todas suas formas de acordo com a Lei e os recursos resgatados devem fomentar a educação. Este é um dos fatores que ampliam a coesão social em nosso país.
Encerramento
A mesa final do evento do evento contou com a presença do senador e presidente do Conselho Curador da FAP, Cristovam Buarque. O senador em sua fala discorreu sobre todas as propostas apresentadas pelos grupos e enfatizou a luta do PPS contra o autoritarismo político. “É isso que estamos fazendo aqui, lutando para encontrar um rumo que permita encontrar a liberdade de cada um com as mudanças radicais que estão ocorrendo no mundo”.
O deputado Roberto Freire também voltou a discursar no encerramento e enfatizou a credibilidade e abertura do PPS frente aos movimentos cívicos. “Em um momento que a sociedade tem se voltando contra os partidos políticos, o PPS consegue ser um dos únicos partidos que os movimentos cívicos acreditam e procuram para o dialogo”, concluiu o presidente da sigla.
A Conferência Nacional "A Nova Agenda do Brasil" teve a abertura e o encerramento transmitidos integralmente ao vivo pelo perfil da FAP no Facebook. As discussões em grupo foram filmadas parcialmente, com a intenção de se exibir as linhas gerais de cada tema. Todas as transmissões estão disponíveis no link https://www.facebook.com/facefap/.
Roberto Freire: Um novo olhar para um novo tempo
Com as eleições de outubro próximo já batendo à porta, é chegado o momento de os partidos políticos se mobilizarem para oferecer projetos ao país e alternativas concretas à cidadania brasileira. A partir desta sexta-feira (23) e até o próximo domingo (25), o PPS realizará em São Paulo o seu XIX Congresso Nacional, com a participação de militantes de todo o Brasil, dando prosseguimento às discussões que marcaram os encontros regionais, municipais e estaduais do partido desde o ano passado.
Para além de um projeto de resolução política, de reforma do estatuto e da eleição do Diretório Nacional, o congresso debaterá temas em pauta neste mundo em transformação que vivemos – como as alterações no mercado de trabalho, as reformas, a luta pelos direitos das minorias e as novas formas de relações pessoais, profissionais e até familiares em um cenário de profundas mudanças econômicas, políticas, sociais e nos costumes.
Nos últimos tempos, especialmente desde o ano passado, o PPS tem ocupado uma posição de vanguarda no sentido de se abrir efetivamente aos chamados movimentos cívicos. Temos a plena consciência de que é necessário interpretar as transformações vivenciadas pela sociedade nos mais diversos setores – o que inclui, fundamentalmente, uma aproximação com segmentos da cidadania brasileira que estavam distantes da vida partidária em função de um descrédito generalizado que atinge a classe política.
Tenho participado de uma série de reuniões e debates muito produtivos com algumas dezenas de jovens motivados, capacitados e dispostos a exercer a atividade política e atuar genuinamente para transformá-la por meio de suas ideias, propostas e diferentes visões de mundo. Recentemente, o PPS assinou cartas-compromisso com o movimentos Agora! e Acredito, nas quais definimos uma estratégia conjunta para receber alguns de seus integrantes e oferecer condições para que possam se candidatar e atuar com autonomia, participando de forma concreta do dia a dia partidário, das discussões programáticas e das decisões da legenda. Da mesma forma, muitos componentes de outro movimento, o Livres, também já se integraram ao PPS. Além disso, mantemos um diálogo franco e aberto com outras organizações da cidadania, como o Renova Brasil, a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS), a Frente pela Renovação, o Vem pra Rua, a Roda Democrática, entre outros.
Sabemos que os partidos políticos são instituições datadas do período da Revolução Industrial, ainda no século XIX, e hoje enfrentam enormes dificuldades para se adaptar à nova realidade, pois perderam muito de sua interlocução junto à população em meio às sociedades plenamente interconectadas em rede. Neste momento, é inegável que vivemos um novo período histórico em que a revolução digital que o mundo experimenta certamente terá a capacidade de criar novas instituições também na política.
Esse processo envolve não apenas o desenvolvimento das novas tecnologias ou das ferramentas de comunicação, mas promove, de forma preponderante, uma transformação radical na maneira como nos relacionamos uns com os outros. O mundo digital nos afeta a todos, em todos os ramos de atividade, e dá origem a novas organizações que substituirão as velhas estruturas. Mais do que nunca, temos de estar preparados para abandonar vícios e valores ultrapassados de um mundo que não mais voltará.
Nesse sentido, tenho afirmado que o PPS sabe de sua responsabilidade e da necessidade de fazer um “aggiornamento” em sua visão programática justamente para se adequar aos novos desafios do Brasil e do mundo contemporâneo. Temos de consolidar novas concepções para continuarmos fazendo história. Alguns até propõem o termo “pós-comunismo”, em função das nossas origens, inclusive construindo um diálogo que já é cada vez mais intenso entre os que vêm de uma formação social-democrata e os liberais, a partir de uma visão comum a respeito da importância da democracia como valor universal.
O XIX Congresso Nacional do PPS é mais uma excelente oportunidade para que o partido reafirme o protagonismo adquirido nos últimos anos e reitere a sua convicção de interpretar as transformações políticas e sociais em curso no Brasil e no mundo. Temos a chance de buscar a superação daquilo que somos para aquilo que essa gama de movimentos da cidadania podem vir a ser em um futuro próximo. Não temos dúvidas de que está sendo gestado um novo tipo de representação política – e queremos estar na vanguarda desse processo histórico.
O PPS busca ser contemporâneo do futuro para que não fique preso ao passado. É hora de aglutinar forças, unir o campo democrático, assegurar os avanços obtidos pela transição após o impeachment – em especial, a recuperação da nossa economia e as reformas – e apresentar um projeto de desenvolvimento para os brasileiros nas eleições de outubro. Estamos abertos ao novo. Queremos somar forças, juntar, reunir. Temos otimismo e confiança no Brasil. Precisamos olhar para frente e construir um novo país.