PPS
FAP Entrevista: Luzia Maria Ferreira
Polarização política no país impediu que o centro-democrático e suas propostas tivessem aderência nacional, avalia Luzia
Por Germano Martiniano
A 14 dias das eleições presidenciais, as pesquisas eleitorais têm se afunilado e apontam um possível segundo turno entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Diante deste cenário, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin têm traçado suas últimas estratégias de combate para evitar que o candidatos da extrema direita e o da esquerda se consolidem como as opções dos brasileiros em um segundo turno das eleições. Ciro tentar frear Haddad no Nordeste, no seu campo eleitoral. Alckmin, por sua vez, combate duramente os líderes de pesquisa mostrando que ambos seriam o retrocesso para política brasileira: o candidato da direita, um ditador; e o do PT, a representação da velha política e da corrupção.
Integrando a série de entrevistas que estão sendo publicadas aos domingos com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano, que são as eleições, a FAP entrevista desta semana é com a bióloga, professora, ex-deputada de Minas Gerais pelo Partido Popular Socialista (PPS) e dirigente da Fundação Astrojildo Pereira, Luzia Maria Ferreira. Questionada sobre o desempenho da centro-esquerda nesta eleição, Luzia atribui a questão à polarização política que atualmente impera no país, que impede o debate de ideias. “Acredito que não foi uma questão de falha do centro democrático, de não ter um discurso que convença a sociedade. Acredito que a polarização política instalada no país não deixou que o debate plural e de aprofundamento das propostas ocorresse”, avalia.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
A senhora acredita que ainda existe possibilidade de reação para o o candidato Geraldo Alckmin?
Eu acho que a polarização já ocorreu entre a extrema direita e a esquerda. Acho que isso fez mal ao debate político. Tirou o foco de discutir os reais problemas do Brasil, que são graves. Porém, eu creio que, acima dessa polarização, a realidade tem mostrado também que nos últimos dias, especialmente na última semana, pode haver ainda deslocamento de eleitores ou um reposicionamento, pois muita gente está votando no Bolsonaro para evitar o PT. No segundo turno, as pesquisas têm mostrado que, em vários cenários, Bolsonaro perderia, devido a sua tamanha rejeição. Essa pode ser a última chance de Alckmin. É um fato relevante para que o eleitor possa repensar seu voto, afinal ainda faltam 15 dias para as eleições e não considero esse quadro Bolsonaro e Haddad já consolidado, ainda que a polarização já tenha ocorrido.
Com a possibilidade de um segundo turno Haddad x Bolsonaro, não seria mais razoável o centro democrático apoiar Ciro Gomes (PDF) para evitar os extremos?
Isso é um dilema, pois de fato o Ciro tem mostrado muita resiliência de voto e não sabemos ainda o impacto da candidatura dele com a ascensão do Haddad, principalmente no Nordeste, onde Ciro tem muita influência. Porém, creio que o centro tem muito mais dificuldade de se aliar ao Ciro, pois o próprio candidato tem feito uma campanha que não agrega e até rejeita o apoio de vários partidos que estão no centro político. Portanto, acredito que a dificuldade de se aliar ao Ciro é própria postura dele de não dar abertura para se fazer este diálogo mais ao centro!
E se partisse de Ciro Gomes o desejo de se unir ao centro?
O próprio Fernando Henrique Cardoso fez um aceno aos partidos de centro para que se unissem, porém não teve adesão. Essa união no sentido de se retirar candidaturas no primeiro turno creio que seja inviável. Então, acho que o que vale para o Alckmin vale para o Ciro: retirar candidaturas neste momento, para se identificar um candidato mais viável não tem viabilidade prática. Essa prerrogativa de escolher os candidatos para o segundo turno está na mão do eleitor, por meio do voto!
A senhora citou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Não faltou a ele mais firmeza no apoio a Geraldo Alckmin, para evitar um segundo turno Haddad x Bolsonaro?
Creio que isso teria sido muito difícil, mesmo com o peso do Fernando Henrique como ex-presidente. Promover este encontro já no primeiro turno, no sentido de indicar um candidato mais de centro, é uma tarefa árdua. A pulverização foi inevitável, em função do fim de um ciclo político, dos 13 anos de PT e do desgaste das instituições no governo Temer. Diante disse, todo mundo quis se aventurar e apresentar suas propostas. Essa pulverização é fruto do momento que estamos vivendo.
Por que o centro democrático não conseguiu, até agora, aderência da sociedade em seu discurso?
Penso que o PT no poder, o impeachment de Dilma, a condenação do Lula, a narrativa petista vitimista e de se eximir de seus erros, conseguiram recuperar um eleitorado que estava perdido, devido aos próprios desacertos do PT, seja no campo da política, do governo, seja nas questões éticas. Desta forma, o PT recuperou o diálogo com seu eleitorado tradicional e, inclusive, o ampliou. Em contrapartida, os 13 anos de governo de PT criaram o sentimento anti-PT, das pessoas que abominam esse tipo de política e por isso tivemos o crescimento do Bolsonaro, representando algo “novo” e contra todas essas políticas petistas. Acredito assim, que não foi uma questão de falha no centro democrático de não ter um discurso que convença a sociedade, mas que essa polarização não deixou que o debate plural - e de aprofundamento nas propostas - ocorressem. Eu te pergunto: qual a proposta que Bolsonaro tem para saúde, habitação, etc.? Qual a proposta que o PT tem para resolver os problemas que ele mesmo gerou nesses 13 anos de governo? Os dois também não possuem as respostas que o Brasil carece. De uma lado temos um discurso messiânico de Bolsonaro e, do lado do PT, é a volta do passado usando a figura mítica de Lula.
A radicalização, na visão da senhora, não deixou o debate acontecer. O que a centro-esquerda pode fazer para mudar essa realidade de polarização, levando em conta não apenas essas eleições, mas o futuro do país a partir do novo presidente?
Creio que a primeira coisa a se fazer para acabar com essa polarização é se construir uma grande concertação entre as forças de centro-esquerda em cima de plataforma mínima que possa uni-las e também incluir a sociedade. Desde lideranças não partidárias, oriundas da área da cultura e das universidades, até às entidades populares, sindicatos e movimentos não verticalizados.
Caso realmente se confirme um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, o que podemos esperar?
Eu acho que é a pior solução. Qualquer um que ganhar vai ter um país dividido com o espirito de guerra. É bom lembrar que a radicalização não é apenas dos candidatos, são também dos apoiadores dessas duas candidaturas. É assustador o nível de radicalismo que foge da política e atinge a esfera pessoal. Portanto, eu não espero muito, penso que será um dos momentos mais difíceis da história do país.
Perante nosso cenário nacional marcado pelo radicalismo, qual o papel da FAP para o futuro, em sua avaliação?
É contribuir com propostas, com o debate critico, com a reflexão sobre a penosa realidade que o Brasil se meteu e levar este debate para a sociedade, tanto no nível das lideranças partidárias do PPS, quanto no conjunto da sociedade. Acho que este é um papel relevante: ajudar a construir um polo crítico, democrático, reformista e que possa resistir aos extremos.
Filmes destacam o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência
Colegas e Bicho de Sete Cabeças serão exibidos ao público com entrada gratuita. Ao final das sessões, haverá conversa com especialistas
Por Cleomar Rosa
A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) divulgou, nesta quinta-feira (13), a programação dos filmes que serão exibidos ao longo de setembro no Cineclube Vladimir Carvalho, no Conic, próximo à Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília (DF). Em alusão ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado no dia 21 deste mês, o filme Colegas será exibido na próxima terça-feira (18) e o Bicho de Sete Cabeças, no dia 25. As sessões começarão às 18h30. A entrada é gratuita.
As exibições dão continuidade à programação do cineclube, reaberto ao público no dia 4 de setembro, após uma ampla reforma no local. A proposta é mostrar obras cinematográficas que têm relação com o respectivo mês de exibição delas no local. Ao final das sessões, haverá rodas de conversa entre o público e especialistas.
Dirigido por Marcelo Galvão e lançado em 2012, Colegas (aventura/comédia dramática) tem duração de 1h34 e conta a história de três jovens que viviam juntos em um instituto para portadores da Síndrome de Down. Um dia, eles decidem fugir para se aventurar e realizar o sonho de cada um, envolvendo-se em muitas aventuras e confusões. A classificação do filme é para pessoas a partir de 10 anos.
Já o Bicho de Sete Cabeças, dirigido por Laís Bodanzky, conta o drama vivido por pai e filho. Lançado em 2000, e com classificação para pessoas a partir de 14 anos, o filme mostra que a situação entre os dois chega ao seu limite, até que o pai decide internar o filho em um manicômio, onde o rapaz enfrenta condições terríveis de tratamento. O longa-metragem tem duração de 1h30.
Responsável pelo cineclube, Alexandre Marcelo Bezerra de Menezes Queiros diz que a proposta é exibir filmes brasileiros e estrangeiros no local todas as terças-feiras. Segundo ele, com isso, o cineclube volta a ser um importante ponto de difusão cultural e de produção do conhecimento, a partir dos diálogos que ocorrem ao final dos filmes.
Com capacidade para 65 lugares, o Cineclube Vladimir Carvalho fica em uma parte do Espaço Arildo Dória, onde também está a Biblioteca Salomão Malina, todos mantidos pela Fundação Astrojildo Pereira. Tudo para garantir conforto e praticidade às pessoas. Todos os filmes serão exibidos em uma tela de projeção retrátil de 150 polegadas, com imagem de ótima qualidade.
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Cinema e literatura
O cineclube leva ao público de Brasília uma nova opção de fortalecimento da cultura, na opinião de Alexandre Queiros. A direção da FAP entendeu que a retomada das programações é mais uma forma de atender às demandas dos usuários da Biblioteca Salomão Malina, assim como às do público em geral, produzindo e difundindo conhecimento por meio do cinema e de obras literárias.
A biblioteca recebe, em média, 30 pessoas por dia. No local, o público tem à disposição espaços específicos para leitura e estudo, assim como mesa coletiva e ambientes individuais. Além das obras literárias, a biblioteca também disponibiliza jornais do dia (O Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e o Correio Braziliense) e revistas da semana, como a Veja e a Piauí, além de rede wi-fi grátis. Para fazer empréstimo dos livros, os interessados precisam apenas fazer um cadastro pessoalmente com apresentação de documento oficial com foto e comprovante de residência.
Pessoas com deficiência encontram oportunidade de trabalho na FAP
Mantida pelo Partido Popular Socialista, a FAP é a primeira fundação privada a fechar parceria com a Apae-DF para o programa de inclusão social
Por Cleomar Rosa
Às 6h25, a higienizadora de livros Rafaela de Faria Pugas, de 24 anos, levanta e se arruma para pegar o ônibus, uma hora depois, perto da casa na qual vive com os pais, em Planaltina, no Entorno do Distrito Federal (DF). No percurso de 60 quilômetros até Brasília, onde trabalha, ela segue pensando num futuro com possibilidades de mais perspectivas e menos exclusão. Sonha cursar gastronomia ou letras.
Rafaela faz tratamento para autismo e, desde o dia 20 de agosto, trabalha no acervo de livros da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), instituição mantida pelo Partido Popular Socialista (PPS). É a primeira fundação privada a realizar parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Distrito Federal (Apae-DF) para o programa de inclusão social que coloca em prática o Estatuto da Pessoa com Deficiência.
“Estou gostando muito do trabalho, do local e das pessoas. Eu me sinto preparada para trabalhar”, diz Rafaela, que concluiu o ensino médio. “Estava com dificuldade de encontrar emprego”, conta ela. A parceria com a FAP também celebra os 10 anos do início de contratações por meio do programa de inclusão da Apae-DF junto a instituições em Brasília.
Na fundação, Rafaela encontra o seu colega de trabalho, Domilson da Silva Xavier, de 20 anos, outro beneficiado pela parceria. Ele mora em Itapoã, no Entorno do DF, e tem deficiência intelectual. Juntos, durante a jornada de trabalho de 20 horas semanais, eles também têm direito a intervalo e fazem ginástica laboral.
Durante a manhã, de segunda a sexta-feira, os dois são responsáveis pela higienização de cada folha dos livros da FAP, que regula o vínculo com eles por meio de um contrato de trabalho. Depois da limpeza, as obras ficam disponíveis ao público para consulta e empréstimo na Biblioteca Salomão Malina, localizada no Conic, perto da Rodoviária do Plano Piloto. A biblioteca tem 6,5 mil livros.
Competência
Segundo o gerente administrativo da FAP, Gustavo Loiola da Silva, Rafaela e Domilson recebem da fundação todo o suporte necessário para o desempenho da função. Além da competência e das habilidades profissionais, a instituição valorizou, como critério de seleção, a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
A demanda da FAP começou a ser planejada em agosto de 2017, quando a coordenadora da Biblioteca Salomão Malina, Thalyta Jubé, passou a analisar o acervo de livros. Com isso, foram identificadas a necessidade de higienização e a de reparação em 500 obras.
A bibliotecária Joana Darc Pereira de Jesus atua como instrutora dos higienizadores de livro e atesta a importância do programa para a socialização deles. “Eles trabalham em um lugar normal, assim como todos os funcionários da fundação, e sem qualquer tipo de discriminação no ambiente. Com isso, abre-se a possibilidade para desenvolverem ainda mais as habilidades que têm”, ressalta.
Antes de serem encaminhados para esse trabalho, Rafaela, Domilson e Joana Darc passaram por treinamento no Programa de Conservação de Bens Culturais da Apae. A proposta é promover a qualificação profissional de pessoas com deficiência intelectual diretamente na área de higienização, conservação e pequenos reparos de livros e documentos impressos.
Responsável técnica do programa pela Apae, Mônica Kanegae explica que a higienização é fundamental para manter as obras em bom estado de conservação. Ela diz que os livros, normalmente, acumulam sujeira e poeira por ficarem expostos em prateleiras.
A limpeza das obras pode ser feita com borracha, trincha ou lixa. “Dependendo da acidez do livro, é muito delicado. Tem que tomar cuidado para não quebrar”, explica. Ela ressaltou que, a partir dos anos 1960 e 1970, houve uma melhora na qualidade do papel com a retirada adequada da lignina extraída da madeira para a produção dele.
Símbolos de comemoração
Rafaela e Domilson simbolizam a comemoração dos 10 anos de início de contratação de pessoas com deficiência por meio de parcerias realizadas pela Apae-DF. Desde 2008, 62 pessoas com deficiência começaram a trabalhar em órgão públicos, em Brasília, apoiados por 11 instrutores, que são formados por meio de um convênio firmado entre a associação e a Fundação Universidade de Brasília. O convênio começou a vigorar em 2006.
Além da FAP, nove órgãos públicos valorizam o trabalho dessas pessoas na capital do país. O primeiro deles foi a Câmara dos Deputados. Depois, o programa também foi adotado pelo Senado Federal, Supremo Tribunal Federal (STF), Ministério das Relações Exteriores e Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Em seguida, o programa se expandiu por meio de parcerias com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Superior Tribunal de Justiça (STJ), Ministério da Justiça e a Advocacia-Geral da União (AGU).
Rafaela e Domilson torcem para que o programa se estenda ainda mais para outras instituições públicas e privadas. Eles concordam que o Estatuto da Pessoa com Deficiência deve ser respeitado e colocado em prática, em vez de ficar apenas no papel. “Estou muito feliz e espero crescer muito ainda com o trabalho”, afirmou o jovem.
Mauricio Huertas: Políticos, meus velhos, vocês não entenderam nada!
Talvez o eclipse tão falado nestes dias, apresentado como o maior do século, seja uma boa metáfora para a ausência de luz que vivenciamos atualmente, às vésperas das eleições majoritárias e proporcionais. A nova política, que despontava alvissareira no céu, segue na penumbra do velho mundo que gira em torno de si mesmo e do sistema dominante, em rotação e translação partidária automática e constante. No lugar da lua de sangue, bela e mística, embora real, quem sangra é a democracia, ferida por mitos e mitômanos surreais.
Senhores políticos, vocês não entenderam nada! Passados cinco anos das já históricas manifestações de junho de 2013, seguem ignorando todos os sinais de vida inteligente vindos de fora do seu universo particular. Se naquela época ficaram atordoados com a juventude alienígena que proliferava em cada canto deste país, buscando em vão seus supostos líderes, inexistentes na realidade horizontal e difusa das redes e das ruas, os nativos da velha política demonstram outra vez que não aprenderam nada ao reproduzir em 2018 todos os erros que motivaram aquele “big bang” dos movimentos pela renovação.
O primeiro grande erro, essencial, além de ignorar os sinais emitidos desde 2013, foi desprezar o recado claro das urnas em 2016. Afinal, deveriam ter percebido que não podia ser apenas coincidência a eleição de prefeitos que, cada um à sua maneira, representavam uma ruptura com o sistema dominante nas principais capitais do país: João Doria em São Paulo, Marcelo Crivella no Rio de Janeiro, Alexandre Kalil em Belo Horizonte, Nelson Marchesan Júnior em Porto Alegre, Rafael Greca em Curitiba, Luciano Rezende em Vitória, ACM Neto em Salvador, entre outros.
Tentou-se em vão passar réguas ideológicas, geracionais ou partidárias e não se chegou à conclusão óbvia: todos eles representavam de alguma forma o “novo”. Do veterano Grecano Paraná, eleito pelo minúsculo PMN, ao bispo da Universal vitorioso no Rio; do “gestor” João Doria aos políticos de tradição familiar, como o gaúcho Marchesan ou ACM, o baiano reeleito assim como o capixaba Luciano Rezende; mas todos eles notadamente escolhidos pelo eleitor para mudar ou para protestar contra a política local que se praticava até então.
Depois de passar despercebido – ou ser deliberadamente ignorado – esse sinal dado em 2016, os nomes que surgiram como opções para a consolidação de candidaturas “outsiders” à Presidência da República foram sendo seguidamente abduzidos pelas forças da velha política. Fiquemos nos dois mais significativos: Luciano Huck e Joaquim Barbosa, que desistiram (ou adiaram suas pretensões) diante da monstruosa pressão de políticos e partidos tradicionais.
Aí talvez esteja o erro mais gritante dos principais analistas e estrategistas do mundo político: julgar como favas contadas que a eleição de 2018 será decidida pelas mesmas regras tácitas e os velhos costumes da política institucional brasileira, resumida ao “nós” x “eles”, ou à repetição da disputa simbiótica PT x PSDB, tão normal nas últimas décadas. Afinal, por esse raciocínio raso, restaram no cenário apenas as candidaturas do mecanismo binário e polarizado que se retroalimenta. Então, para vencer, bastaria reunir a maior quantidade de partidos nas coligações e dominar o tempo da propaganda na TV. Será?
Vetustos e velhacos da política não compreendem que até os inabaláveis 30% de Lula nas pesquisas de intenção de voto estão impregnados pelo desejo da mudança e pela rejeição à política tradicional. Como assim? Na lógica cartesiana é inaceitável que Lula- candidato em cinco eleições, presidente duas vezes e avalista de Dilma em outras duas – tenha ainda eleitores que considerem votar nele como forma de protesto contra a política tradicional. E depois de tudo que foi revelado ainda votam no PT? Impossível! Absurdo! Mas quem foi que disse que essa é uma ciência exata e que o eleitor age dominado pela razão?
Quem anuncia a intenção de voto em Lula – ou pede #LulaLivre nas redes sociais ou em algum desses manifestos de artistas, intelectuais e influenciadores digitais – não é um simples alienado que considera o petista o último dos inocentes ou o PT uma reserva de moralidade. Ao contrário. Excluído o petista de carteirinha, sobra em grande parte um eleitor saturado da política partidária tradicional, que um dia acreditou no discurso de Lula, viu vantagens em seus governos e agora, pesando na balança eleitoral o que está aí, considera tudo uma maçaroca de imundície e podridão. Solução simplista: se todos são iguais na sujeira e na corrupção, eu escolho aquele que ao menos fez algo de bom por mim quando esteve no poder. É quase uma reedição do “rouba mas faz”.
Pensamento semelhante tem o eleitor de Jair Bolsonaro, ainda que no sentido inverso. Quanto mais os políticos e a mídia tradicional o apontarem como um boçal com ideias esdrúxulas, maior apoio e repercussão terá entre o exército anônimo de indignados e revoltados anencéfalos contra o atual sistema político. O folclórico Bolsonaro segue a linhagem dos Enéas, Tiriricas e Cacarecos da história brasileira. Periga ser o herdeiro legítimo de quem elegeu Fernando Collor em 1989. Aí estaremos fritos de verdade.
É evidente (para quem se propõe a enxergar fora da caixinha), assim, que a polarização que traz Lula e Bolsonaro na liderança das pesquisas pré-eleitorais também carrega em si o desejo da mudança. Não se trata, em sua grande maioria, do voto racional, partidário ou ideológico, mas do simbolismo dessas duas candidaturas. Com Lula fora por conta da prisão e da ficha suja, restará conferir a sua capacidade de transferência de votos. Quem será o maior beneficiário do espólio lulista? O PT vai lançar Fernando Haddad? Ou será que Ciro Gomes personifica melhor esse eleitor órfão de Lula? E Marina Silva, somará quanto desses indignados ao legado de 20 milhões de eleitores cativos das duas últimas eleições?
Finalmente, precisamos falar de Geraldo Alckmin. É simples: se o roteiro do candidato tradicional prevalecer ainda sobre a modernidade e a diversidade das redes e sobre a demanda por uma nova forma de fazer política, que não seja tão influenciável pelo tamanho das coligações partidárias e pelo monopólio da propaganda oficial no rádio e na TV, o tucano é o favorito disparado para ganhar essa eleição. Ponto, portanto, para quem fez a aposta na estratégia dessa múltipla aliança com o “centrão” e com o “status quo”. Do contrário, apertem os cintos… Estaremos perdidos no espaço!
*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS-SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente
Gazeta On Line: Antônio Granja, um militante centenário ativo na política
Prestes a fazer 105 anos, uma das mais expressivas lideranças políticas do Estado e atual presidente de honra do PPS mantém rotina de atividades partidárias
Os efeitos de mais de um século de vida não parecem desgastar a memória de Antônio Ribeiro Granja. Completando 105 anos na próxima segunda-feira (30), o comunista, presidente de honra do PPS e ex-líder sindical conta que ainda ouve todos os dias o noticiário, recebe visitas de lideranças políticas e participa de encontros em todo o país.
"Estou na ativa ainda, desde 1930", diz o centenário. Após perder sua casa há cinco anos, por conta das enchentes ocasionadas pelas chuvas de 2013 que comprometeram a estrutura do imóvel em que morava, em Serra Dourada, na Serra, Granja recebeu a equipe do Gazeta Online na casa de um dos filhos, no mesmo bairro em que vivia. Sentado em sua cama, cercado de quadros com homenagens que recebeu, ele descreve, com detalhes e citando cada data, sua trajetória.
INÍCIO
Natural de Exu, em Pernambuco, logo na adolescência Granja seguiu o caminho de muitos de seus conterrâneos que iam buscar emprego em São Paulo. Foi lá que, em 1930, aos 17 anos, começou sua militância, ao entrar para a Aliança Liberal.
"A gente apoiava o Getúlio Vargas e houve uma eleição que foi nula, dando a vitória para o candidato do governo, Júlio Prestes. Era a época da política do café com leite. Então tomamos o poder pela força. Foi ali que comecei minha luta", lembra.
Dali, Granja passou a atuar no movimento sindical e entrou para o Partido Comunista, em 1934. Trabalhou como pedreiro e operário em São Paulo, até ser chamado para a construção da ferrovia Brasil-Bolívia. Com a criação da Vale do Rio Doce, em 1942, veio para o Espírito Santo para trabalhar na oficina de vagões da companhia, em Cariacica.
No Estado, liderou o movimento sindical dos ferroviários, acompanhou a criação das primeiras leis trabalhistas e participou do surgimento das primeiras centrais sindicais do Brasil. Organizando greves e se opondo ao governo getulista do Estado Novo, Granja chegou a ser detido algumas vezes pela polícia no período.
Mesmo preso, eu nunca traí o partido e nunca neguei que era comunista. Toda vez que me pegavam, eles me perguntavam qual era meu partido e eu respondia: ‘Sou comunista’. E aí já tomava a primeira porrada
Antônio Granja - Presidente de honra do PPS
Com o fim da Era Vargas (1930-1945), o partido voltou à legalidade. Em 1947, Granja foi eleito vereador de Cariacica pelo PCB. Neste período, também ajudou a fundar a "Folha Capixaba", o jornal dos comunistas no Espírito Santo. Na Câmara de Cariacica, ele ficou até 1952.
"Quando terminei o mandato, começaram a me perseguir e tive que deixar o Estado. Só voltaram a me chamar de Antônio Ribeiro Granja com a Lei da Anistia (1979). Foram 27 anos de perseguição. Depois do início da ditadura, ficamos em 18 dirigentes em todo o Brasil. Onze deles foram presos e assassinados. Eu consegui ser um dos sobreviventes", relata.
Naquele época, Granja teve mais de 40 nomes diferentes. José Amaro, Luiz, Baiano e Francisco foram alguns deles. Este último lhe rendeu o apelido de Chiquinho, nome que a atual esposa, Silnéia do Espírito Santo, de 68 anos, o chama até hoje.
"Quando eu o conheci, em 1974, em Cachoeiras de Macacu (RJ), ele trabalhava na roça. No começo, não sabia que ele era comunista e nem que tinha outro nome. Aos poucos, ele foi me contando. Até a anistia, a gente mudava de casa a cada oito meses e olha que nos casamos quando a ditadura já estava em declínio", conta Silnéia.
Com o fim da ditadura, Granja voltou a trabalhar para jornais do partido e foi convidado a escrever para a revista "Internacional", com sede em Praga, na antiga Tchecoslováquia, hoje República Tcheca. Lá, viveu os últimos anos da União Soviética, voltando para o Brasil no início da década de 1990.
PCB
Com o fim da União Soviética, o Partido Comunista Brasileiro se dividiu em três correntes. Parte dos dirigentes defendia uma grande mudança, tirando da bandeira símbolos históricos como a cor vermelha e a foice com o martelo. Desse grupo surgiu o Partido Popular Socialista (PPS).
"Hoje, o partido se dividiu, não mantém as mesmas correntes e entraram pessoas que pensam diferente. Assim é o PPS, partido em que sou desde 2012 o presidente de honra. Mesmo assim, me sinto realizado", explica.
PREOCUPAÇÃO COM ONDA CONSERVADORA NO PAÍS
A idade avançada não fez Antônio Granja deixar de acompanhar a vida política do país. Atento às mudanças de cenário, ele demonstra preocupação com as eleições deste ano e com os pedidos de intervenção militar no Brasil.
Granja compara o crescimento de grupos conservadores com a Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento inspirado nas ideias ultranacionalistas do fascismo e do nazismo, que ganhou força no Brasil durante a década de 1930.
Ele afirma que o próximo presidente terá muitas dificuldades para colocar o país em ordem e relembra o dia em que quase foi pego pelos militares.
VEJA ENTREVISTA
Depois das dificuldades que passou, acha que a democracia segue evoluindo?
A democracia é irreversível. Pode tardar, mas sempre aparece. Eu sinto que hoje ela está bem mais forte de quando comecei. Mesmo assim, ela enfrenta dificuldades, com a corrupção, os desvios dos cofres públicos, a crise de confiança com a classe política. Fico triste que hoje até partidos de esquerda se envolveram em corrupção. Mas não tenho dúvidas de que a democracia vai amadurecer, ela pode crescer de maneira torta, mas sempre vai estar em crescimento.
Como avalia os treze anos de governo petista?
Acho que o governo Lula é bem parecido com o governo de Getúlio. Enquanto acende uma vela para os trabalhadores, acende outra maior para os mais ricos. Manter essas duas frentes cria um problema que vai se afunilando até você ter que tomar um lado ou outro. Hoje é difícil você ver alguém que luta pela pureza da defesa do povo. Particularmente, eu sempre vi o Lula, por exemplo, como um oportunista. Veio de um movimento de operários, era a esperança de um povo, mas estava à frente do mensalão, dividiu as riquezas da Petrobras e dos Correios com os membros do partido. E deu no que deu.
O que pensa a respeito do processo de impeachment?
Não adiantou nada. Para mim, o presidente Michel Temer (MDB) será o segundo ex-presidente preso, depois do Lula. Assim que deixar o governo, vão cair em cima dele. A Lava Jato já está cercando. Infelizmente, a propina virou sistêmica no país e, quando é assim, é difícil dar fim. Como se diz por aí, desde 1945 não se bate um prego no Brasil sem pagar propina.
Como vê o crescimento de grupos que defendem a intervenção militar como solução?
Esses são os inimigos da pátria. São as mesmas correntes que vi nos nazistas, no movimento integralista de 1930 e nos fascistas da 2ª Guerra Mundial. São os mesmos inimigos com uma roupagem diferente. São ideias que se baseiam no terror. Quanto pior a situação do Brasil, quanto mais caos, melhor para eles conseguirem enganar o povo. O conteúdo de agora é o mesmo, só muda a forma. Fico triste, pois tive companheiros meus que nem sequer tiveram um enterro por lutar contra a ditadura...
O senhor chegou a ter medo de morrer durante a ditadura?
Em 27 anos na clandestinidade, teve uma vez que quase me pegaram. Eu morava em uma fazenda, em São Gonçalo (RJ), e já estava de mudança para uma outra casa. Foi meu filho que viu a polícia chegando e me avisou. Saí correndo pelo mato, tive que largar tudo. Me escondi e vi eles passando a 20 metros, com as armas em punho. Foi difícil, mas acho que cumpri minha tarefa.
O que pensa sobre o futuro do país?
Acho que o próximo presidente terá muito trabalho. Essa questão das reformas, da Previdência e do trabalho, é uma incógnita. O certo seria mudar de forma devagar, sem agredir a população. As pessoas vão ter que dar muito valor ao voto, não eleger qualquer um. Como eu disse, a democracia sempre cresce, mas às vezes passa por caminhos tortos.
REFERÊNCIA PARA LIDERANÇAS CAPIXABAS
"Ele é da geração do (Luís Carlos) Prestes. Se hoje a gente tem partidos de esquerda, deve muito à luta dele. É uma referência para nós"
Brice Bragato (PSOL), ex-deputada estadual
"Meu pai já falava da importância dele para o país. Quando entrei no PCB, ouvi falar dele de novo. É um homem íntegro"
Perly Cipriano (PT), ex-deputado estadual
"Eu o conheci na ditadura, quando estava sendo perseguido. Ficamos amigos e admiro sua luta"
Max Mauro (sem partido), ex-governador do Estado
"Fui convidado por ele para entrar no PPS. É um grande líder, que em um momento como esse merece ser cultivado"
Luciano Rezende (PPS), prefeito de Vitória
"Ele é da geração que sonhou uma sociedade mais igualitária. Tem uma trajetória bonita e é um exemplo"
Paulo Hartung (MDB), governador do Estado
Carlos Alberto de Medeiros - Seminário Bauman e o mal-estar da nossa sociedade
Carlos Alberto de Medeiros, tradutor das obras de Zygmunt Bauman no Brasil, mostra como o autor tem o dom magistral de transmitir ideias complexas com uma linguagem acessível. Ele participou do Seminário Bauman e o mal-estar da nossa sociedade, no último dia 23, realizado pela Fundação Astrojildo Pereira com apoio do Coletivo Igualdade 23, do PPS, e da Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB).
https://www.youtube.com/watch?v=9v5x6gJivcY
Presidente de honra do PPS comemora 105 anos
Homenagem à Antônio Ribeiro Granja, o militante mais antigo do partido, acontecerá neste domingo (29), no Rio de Janeiro
Uma vida dedicada às lutas sociais, à liberdade e à democracia no Brasil. Poucos políticos brasileiros possuem uma história de vida tão marcante e voltada à militância política como Antônio Ribeiro Granja, presidente de honra PPS. Aos 105 anos, Antônio Granja receberá uma homenagem de familiares e amigos neste domingo (29), em Cachoeiras de Macacu, no Rio de Janeiro.
Conhecido por sua coerência política, persistência na luta, além de uma grande alegria de viver, Granja filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1934. Natural de Exu (PE), a mesma cidade em que nasceu o rei do baião, Luiz Gonzaga, Granja foi para o Espírito Santo aos 21 anos. Foi destaque como um dos vereadores mais votados para a Câmara de Cariacica, município da Região Metropolitana de Vitória.
Após o golpe de 1964, Granja atuou na mais absoluta clandestinidade, sem deixar o país. Depois da anistia, morou em Praga, na antiga Tchecoslováquia (atual República Tcheca), onde foi representante brasileiro na Revista Internacional. Era uma publicação que congregava os partidos comunistas todo o mundo, editada também no Brasil com o título Problemas da paz e do socialismo.
De origem camponesa, Granja sempre se notabilizou pela modernidade de suas ideias e até hoje colabora com o crescimento do PPS. Em singela homenagem, a Fundação Astrojildo Pereira deixa aqui um poema de Bertolt Brecht que resume sua importância para nós:
OS QUE LUTAM
Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.
PPS lança o Manual do Candidato e da Candidata com orientações para a disputa eleitoral de 2018
O PPS acaba de lançar o Manual do Candidato e da Candidata. A publicação tem como objetivo preparar os candidatos e candidatas do partido para as eleições deste ano.
O livreto aborda questões gerais da política com foco na realidade social e política brasileira e traz os valores e princípios que norteiam as ações formadoras de quem disputará o próximo pleito. Ele também contém as propostas formuladas na Conferência Nacional “A Nova Agenda do Brasil”, promovida pela FAP, além de trechos da proposta do PPS para um Programa de Governo.
Faça o download do Manual do Candidato e da Candidata do PPS
O Manual apresenta ao candidato as informações necessárias para compreender e utilizar os mais diversos e modernos recursos que o auxiliarão na busca de votos. Além disso, traz ainda leis e resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), assim como a Resolução Eleitoral e as normas do PPS para as convenções que serão realizadas entre os dias 20 de julho e 05 de agosto.
Trata-se de um material mais que necessário para que dirigentes partidários e quem vai assumir candidatura nas unidades da Federação tenham ao seu dispor todos os passos a serem dados em busca do sucesso pessoal ou partidário.
Inscrições: Seminário Bauman e o mal-estar da nossa sociedade
Evento contará com a participação do tradutor das obras de Zygmunt Bauman no Brasil, Carlos Alberto de Medeiros
O pensamento do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman ante ao “mal estar” no contexto brasileiro atual será o foco de seminário no próximo dia 23 de julho (segunda-feira), às 19h no auditório da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), no Espaço Arildo Dória, no Conic, em Brasília (Edifício Venâncio III, Loja 52). O evento tem o apoio do Coletivo Igualdade 23, do PPS, e da Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB).
O mediador do seminário será o jornalista Sionei Ricardo Leão. A coordenadora de ensino judaico da Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB), Ruth Grinberg, será uma das mediadoras. Com formação em psicologia clínica, Grinberg também trabalha com autoconhecimento e é uma ativista da cultura judaica em Brasília. Paola Amendoeira, psicanalista e membro do Comitê do Instituto de Psicologia Aplicada (IPA) junto à ONU, será a outra mediadora. O evento também contará com a participação do tradutor das obras de Zygmunt Bauman no Brasil, Carlos Alberto de Medeiros.
A missão de fazer esse paralelo conceitual será do jornalista, ativista e estudioso da questão racial, Carlos Alberto Medeiros – que traduziu 22 obras de Bauman para a língua portuguesa.
Bauman, que faleceu em janeiro do ano passado, aos 91 anos, foi autor de mais de 50 obras e diversos artigos dedicados a temas como o consumismo, a globalização e as transformações nas relações humanas.
Modernidade Líquida
Um de seus textos mais conhecidos é Modernidade Líquida. Nessa obra, ele discute as condições da pós-modernidade, as transformações do mundo moderno nos últimos tempos. Para o sociólogo a tão debatida “pós-modernidade” é um conceito meramente ideológico.
Bauman também propõe que nos tempos atuais, as relações entre os indivíduos nas sociedades tendem a ser menos frequentes e menos duradouras. Uma de suas frases mais emblemáticas é “as relações escorrem pelo vão dos dedos”.
O sociólogo nasceu em Poznan, no seio de uma família judia. Em 1939, junto com os pais escapou da invasão das tropas nazista na Polônia e se refugiou na União Soviética. Alistou no exército polonês no front soviético. Em 1940 ingressou o Partido Operário Unificado – o partido comunista da Polônia. Em 1945 entrou para o Serviço de Inteligência Militar, onde permaneceu durante três anos.
Em março de 1968, Bauman foi vítima do expurgo antissemita que obrigou muitos poloneses de origem judia a deixarem o país. Exilado em Israel, lecionou na Universidade de Tel-aviv. Em 1971, foi convidado para lecionar Sociologia na Universidade de Leeds, Inglaterra, onde também dirigiu o departamento de sociologia da Universidade até sua aposentadoria, em 1990.
Carlos Alberto Medeiros é autor de Racismo, preconceito e intolerância (com os antropólogos Jacques D’Adesky e Edson Borges) e Na lei e na raça. Legislação e relações raciais Brasil – Estados Unidos, resultado de sua dissertação de mestrado, com o qual iniciou um mergulho nos estudos comparativos abordando as duas sociedades.
SERVIÇO
Seminário Bauman e o mal-estar da nossa sociedade
Data: 23/07, às 19h
Local: Auditório do Espaço Arildo Dória, da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), no Conic – Edifício Venâncio III, Loja 52.
Roberto Freire: Alegria e esperança
Revi, um dia desses, o filme chileno “NO”, indicado ao Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro”, em 2012.É sobre o plebiscito que o ditador Pinochet convocou para legitimar-se aos olhos da opinião pública internacional.
O “SI” implicava na continuidade do regime, o “NO”, em sua queda. As pesquisas davam como certa a vitória do ditador, que investia nos resultados econômicos, em detrimento da liberdade.
As oposições democráticas resolveram participar. Havia uma corrente que não acreditava na vitória e queria usar o espaço para, com os olhos no retrovisor, apenas denunciar os crimes da ditadura.
Prevaleceu o entendimento de apontar para a frente e opor à ditadura a alegria, a alegria da restauração do império das liberdades democráticas.
O símbolo da campanha do “NO” era um arco-íris, representativo da diversidade das correntes democráticas. Era o “NO más”.
Pinochet tentou dar um golpe de mão, quando as urnas revelaram a vitória oposicionista, mas foi impedido pela maioria dos seus generais, acuados pelas reações da opinião pública chilena e temerosos das pressões internacionais.
A vitória do “NO” levou à redemocratização e à pacificação nacional.
Na campanha do “NO” formou-se o que veio a ser a consertação, o bloco de forças democráticas e reformistas que governou o Chile contemporâneo, vitorioso na maioria das eleições subsequentes à derrocada do regime de Pinochet.
Guardadas as devidas proporções e os momentos históricos distintos, estamos em uma situação no Brasil em que temos a aprender com os acontecimentos chilenos. Precisamos mirar as forças democráticas e reformistas na restauração da alegria. E acoplar a esperança.
Alegria e esperança em dias melhores, com a melhoria das condições de vida e trabalho da população e a preservação do reino das liberdades democráticas.
Alegria e esperança em recolocar o país nos trilhos do desenvolvimento e do resgate da dívida social, na democracia e no seu aprofundamento republicano.
Torço muito para que as vitórias brasileiras na Copa do Mundo operem nesse sentido. A nação brasileira, dividida entre o “nós” e “eles”, tão caros ao bolsonarismo e ao lulopetismo fanatizados, precisa voltar a ser alegre e a ter esperança e restaurar o convívio democrático entre os diversos.
E aqui me refiro aos diversos como aos diferentes pontos de vista sobre a política e a vida, em todos os planos.
Precisamos restaurar a civilidade, o convívio democrático entre diferentes e mesmo entre contrários, essência da democracia.
A vitória maiúscula da Seleção brasileira contra o México povoou as ruas do país de gente e do colorido verde, amarelo e azul. Torço muito para que o futebol brasileiro chegue bem longe na Rússia e traga o Caneco.
Além da injeção de autoestima, será uma enorme contribuição à volta da alegria e da esperança em dias melhores, em um país no caminho de sua reunificação e pacificação.
Roberto Freire: Momento político do País exige união para evitar riscos à democracia
O presidente do PPS, Roberto Freire (SP), afirmou, em ato político em defesa do Manifesto “Por um polo democrático e reformista” (veja vídeo abaixo), promovido pela Roda Democrática na semana passada, em São Paulo, que os partidos comprometidos com o País precisam buscar unidade para evitar riscos à democracia. O dirigente defendeu o diálogo entre as candidaturas do centro democrático para a Presidência da República, dentre elas do PSDB, Rede e Podemos, com o objetivo de evitar extremos de direita e esquerda nas eleições de outubro.
“Precisamos buscar a unidade porque a democracia está em risco de forma concreta. Pela crise que vem, persiste e que ainda não foi superada. Isso vai exigir do novo governo muita persistência para superar a crise que foi profunda. Dois desses contendores [à Presidência da República] não têm nenhum compromisso com essa transição democrática”, ao referir-se às candidaturas do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo ele, “um foi responsável direto por chegarmos nesta situação” de crise na política e na economia, e “o outro não” tem compromisso com a democracia. “Cabe a nós, portanto, não ficarmos apenas na ideia de que precisamos de unidade. É chegado o momento de começarmos a discutir e concretizar [ações contra os dois extremos no processo eleitoral]”, defendeu.
Quebrar a inércia
Roberto Freire destacou que os partidos de centro precisam “quebrar a inércia” e que os candidatos à Presidência da República do PSDB, Rede e Podemos não podem ser um empecilho na formulação de uma unidade política para que se possa oferecer “novos rumos” para o País.
“É evidente que ninguém vai defender o seu candidato em nome da unidade, mas tem que oferecer, concretamente, que seu candidato não seja um empecilho da unidade. Embora ele possa vir a ser o candidato da unidade. Alguns passos precisam ser dados e esse é o grande desafio que teremos daqui para frente: como isso será feito. Neste sentido, é preciso dizer a importância do que significou o Manifesto e essa reunião. É gratificante estarmos juntos com as forças políticas sérias desse País. Mas, o mais importante, é que daqui a gente saia dizendo que é preciso quebrar a inércia e efetivamente trabalharmos pela unidade”, disse.
https://www.youtube.com/watch?v=x-3MQsThmeU
PPS lamenta morte do ex-governador da Bahia Waldir Pires
O presidente do PPS, Roberto Freire, divulgou nota pública lamentando a morte do ex-governador da Bahia, Waldir Pires, aos 91 anos, nesta sexta-feira (22), em Salvador.
Ele teve intensa atuação política no Legislativo e Executivo. Foi deputado estadual, em 1954, e deputado federal em 1958, quando atuou como vice-líder do governo Juscelino Kubitschek. Foi governador da Bahia, entre 15 de março de 1987 e 14 de maio de 1989, e voltou novamente à Câmara Federal, nos períodos 1990-1994 e 1999-2003.
Para o PPS, a “Bahia e o Brasil perderam, no dia de hoje, um modelo de político e de homem público, com formação intelectual e acadêmica das mais destacadas”.
“Perda de um político de rica trajetória
A Bahia e o Brasil perderam, no dia de hoje, um modelo de político e de homem público, com formação intelectual e acadêmica das mais destacadas, o cidadão Waldir Pires, vítima de uma parada cardiorrespiratória, aos 91 anos de idade, em um hospital, em Salvador.
Ele dedicou a sua rica e enriquecedora vida à política e à atividade pública, tendo exercido mandatos populares os mais diversos, e cargos públicos os mais importantes. Foi eleito deputado estadual, em 1954, e deputado federal em 1958, quando atuou como vice-líder do governo Juscelino Kubitschek.
Foi governador do seu querido Estado natal, entre 15 de março de 1987 e 14 de maio de 1989, e voltou novamente à Câmara Federal, nos períodos 1990-1994 e 1999-2003, quando tivemos uma fraterna convivência, e sua última atividade parlamentar foi como vereador de Salvador, entre fevereiro de 2013 e dezembro de 2016.
Em termos de cargos públicos, em 1950, aos 24 anos, foi secretário de Estado da Bahia durante o governo de Pacheco Pereira. No mesmo ano, casou-se com Yolanda Avena Pires, falecida em 2005.
Em 1963, foi escolhido pelo governo João Goulart para o cargo de consultor-geral da República. Com o golpe militar de 1964, deixou o país, aqui retornando após seis anos no exílio, sendo impedido de exercer atividade política, sofrendo perseguições e tendo dificuldades para se empregar. Nesse período, dedicou-se ao trabalho à frente de uma pedreira. Até que em 1978, com o fim do AI-5, recuperou seus direitos e retomou suas atividades políticas.
Destaque-se que ele chegou a ser Ministro de Estado do Controle e da Transparência da Controladoria-Geral da União (em 2003), e Ministro da Defesa (entre 31 de março de 2006 e 25 de junho de 2007), no Governo Lula, e que, além das funções políticas, foi coordenador dos Cursos Jurídicos da Universidade de Brasília (UnB), onde também ensinou Direito Constitucional.
Homem simples, de caráter impoluto (nunca em sua longa trajetória cometeu qualquer deslize de malversação de recursos públicos), era um lúcido combatente pelos ideais da democracia, de um país republicano, sem as absurdas diferenças sociais existentes entre os cidadãos brasileiros.
Em meu nome pessoal, e em nome do Diretório Nacional do Partido Popular Socialista, lamento a imensa perda desta figura exemplar e cuja trajetória nos ilumina na continuidade da nossa batalha, que era também a sua, por um Brasil cada vez melhor, e transmito aos seus familiares nossas fraternas condolências.
Brasilia, 22 de junho de 2018"