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Ricardo Noblat: Metade dos brasileiros decidiu passar o pano em Bolsonaro
Se todos são culpados, ninguém é
A julgar pelos resultados da nova pesquisa do Datafolha, a maioria dos brasileiros decidiu absolver Jair Bolsonaro dos seus pecados. Quase metade dos entrevistados nos últimos dias 11 e 12 disse acreditar que o presidente não tem culpa alguma pelo fato de o coronavírus ter matado mais de 100 mil pessoas no país.
Dos 52% que responderam que ele tem, sim, apenas 11% o veem como principal culpado, e 41% como um dos culpados, mas não o principal. Naturalmente, o maior percentual dos que passam o pano em Bolsonaro está os que consideram seu governo ótimo ou bom e que votaram nele no segundo turno da eleição de 2018.
A turma do andar de cima, que ganha mais de 10 salários mínimos por mês, aponta Bolsonaro como o principal ou um dos culpados pelas mortes. A do andar de baixo, que ganha até dois salários mínimos e que se beneficiou com o auxílio emergencial para combater a doença, acha justamente o contrário.
E não dá importância ao fato de que ele minimizou a pandemia chamando-a de gripezinha, boicotou as medidas de isolamento social decretadas por governadores e prefeitos, defendeu a volta ao trabalho para salvar a economia, e recomendou o uso de uma droga que se revelou ineficaz para deter o vírus.
Mais de 3 milhões de brasileiros já foram infectados pelo Covid-19, segundo os registros oficiais, mas o número provavelmente é muito maior por causa da subnotificação. E daí? Exatos 49% dos entrevistados concordam com a afirmação genérica de que o Brasil não fez o suficiente para livrar-se do flagelo.
Essa é a melhor maneira de isentar de culpa Bolsonaro ou quem quer que seja. Se todos são culpados, ninguém é culpado. Passa-se o pano. E ainda existem os que dizem que o necessário para evitar tantas mortes foi feito (24%), e os que afirmam que as mortes não poderiam ter sido evitadas (22%). Vida que segue.
Em tempo: Bolsonaro só queria pagar aos brasileiros mais pobres um auxílio emergencial de 200 reais. Ao saber que o Congresso aprovaria um auxílio emergencial de 500 reais, antecipou-se e anunciou o auxílio de 600, que será pago só até setembro. Por ora, concorda em prorrogar o auxílio, mas no valor de 200 reais.