PDT
PEC dos Precatórios: PDT, de Ciro Gomes, decide vitória de Bolsonaro
Partido deu 15 votos a favor da emenda constitucional e apenas 6 se posicionaram contra; na saída, pedetistas se desentenderam
Evandro Éboli e Bruno Góes / O Globo
BRASÍLIA - Decisivo para a vitória do governo na madrugada desta quinta-feira, na votação da PEC dos Precatórios, o PDT, do presidenciável Ciro Gomes, contribuiu com 15 fundamentais votos a favor do Palácio do Planalto. Apenas seis parlamentares da legenda apertaram o "não" à emenda constitucional.
O texto principal da PEC foi aprovado em primeiro turno com 312 votos a favor, apenas quatro a mais que o mínimo necessário, que são 308 adesões.
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O partido foi convencido durante o final da tarde de ontem a votar a favor e pesou um acordo feito com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que irá colocar para votar um projeto de lei que destina aos professores 60% do que a categoria tem direito dessas dívidas, mas que será escalonada em três anos.VEJA 5 EFEITOS DO AFROUXAMENTO DE REGRAS FISCAIS COMO O TETO DE GASTOS1 de 5
Após a votação, dois parlamentares do PDT bateram boca na saída do plenário, cena testemunhada pelo GLOBO. Paulo Ramos (RJ), que foi contrário à PEC, saiu gritando com André Figueiredo (CE), ex-líder do partido, que votou a favor da PEC.
— Que vergonha — gritava Ramos para Figueiredo.
— Ah, tá certo. Você que é puxadinho da esquerda — rebateu Figueiredo.
— Quero ver agora o Ciro Gomes defender isso (a aprovação da PEC) na campanha, no palanque — afirmou Ramos.
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O papel crucial do PDT na vitória do governo foi alvo de ataques da esquerda. A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), logo após conhecido o resultado, foi para as redes sociais e lamentou a posição do partido fundado por Leonel Brizola.
Partidos de oposição que votaram a favor
"Vitória de Pirro. É assim o resultado da vitória do governo na PEC do Calote, por apenas 4 (votos). E só ganharam porque meus amigos do PDT votaram com Bolsonaro" - provocou a deputada comunista nas redes.
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O PDT não foi o único partido da oposição a votar a favor do PEC. No PSB foram 21 votos contra a emenda e 10 a favor do texto.
Nas redes, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos principais articuladores do governo nessa votação, comemorou a aprovação da PEC em primeiro turno, com ataques ao PT.
"Nunca pensei que chegaria o dia em que veria o PT votar contra um auxílio aos 20 milhões brasileiros vítimas da fome. Vergonha alheia" - postou Nogueira
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Arthur Lira, após a votação, comemorou o resultado e afirmou que o placar apertado "é do jogo". Antes da votação do mérito, foram dois placares de 307 votos contrários a retirada da proposta.
- Tivemos importantes 25 votos da oposição e o líder do PDT (Wolney Queiroz) participou de um acordo com os professores do Nordeste. Houve muita pressão de governadores nos estados, mas os deputados se mantiveram firmes e votaram a favor - disse Lira.
Bruno Boghossian: Aliados de Lula e Ciro ainda duvidam de aliança para 2022
Apesar de armistício, petistas e pedetistas dizem que diferenças políticas permanecem
Um ano após a eleição presidencial, Ciro Gomes (PDT) deu uma entrevista em que chamou o comando do PT de “um bando de ladrão e mentiroso”. Meses depois, ele disse que Lula era o líder das “falcatruas” do partido. “Perdi o respeito por ele, completamente”, declarou.
Os dois se estranharam em público por um bom tempo, até que aceitaram se encontrar para uma longa conversa reservada, no início do mês passado. Ciro e Lula selaram um armistício, discutiram os movimentos da oposição ao governo Jair Bolsonaro e iniciaram uma reaproximação, como contou o jornal O Globo.
Os ataques cessaram desde então, mas os dois lados ainda estão céticos em relação à possibilidade de uma composição entre o ex-governador cearense e o ex-presidente. Segundo aliados de ambos, o encontro pode ter amenizado alguns desentendimentos, mas as diferenças políticas permanecem.
Um cacique do PT diz duvidar que as desavenças sejam zeradas a tempo de permitir uma aliança para a eleição de 2022. O próprio petista afirma que, ainda que o partido sinalize uma união, Ciro “não acredita” que a sigla vá apoiá-lo. Como o ex-governador também não tem motivos para abrir mão da disputa, é mais provável que os dois fiquem separados.
Do lado pedetista, o ceticismo é ainda maior. De acordo com um aliado, Ciro considera ter sido traído pelo PT na corrida de 2018 e acha que a legenda ainda trabalha para manter sua hegemonia na esquerda.
Depois da revelação do encontro, nenhum dos lados fez qualquer aceno. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que a aproximação depende de “um pedido público de desculpas” ao partido. Já Ciro fez propaganda do PDT nas eleições municipais e destacou suas chapas com outras siglas, ignorando o PT.
No ano passado, Ciro descartava uma aliança com os petistas e comparava a legenda ao escorpião que pica o sapo após pegar uma carona para atravessar o rio. “Não creio que seja provável. O PT tem a natureza do escorpião, como da fábula”, disse.
Fundações partidárias debatem pandemia, recessão e saídas para a crise
Ciclo de webconferências Diálogos, Vida e Democracia é realizado pelo Observatório da Democracia
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP*
Coronavírus, isolamento social e saúde pública são assuntos da primeira mesa de debates do ciclo de webconferências Diálogos, Vida e Democracia, que começa nesta segunda-feira (4), às 14h30, com transmissão ao vivo no site do Observatório da Democracia e retransmissão na página da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) na internet. O ciclo pluripartidário de seminários virtuais tem o objetivo de agregar forças do campo democrático da política brasileira e construir propostas para enfrentar a crise política e econômica e os impactos da Covid-19 no país.
Realizado pelo Observatório da Democracia – fórum das fundações do PT, PSB, PCdoB, PDT, PSOL, PROS e Cidadania –, o ciclo terá 19 mesas temáticas que deverão ser realizadas de maio a julho (Veja programação ao final). A primeira webconferência terá a participarão de Artur Chioro, José Gomes Temporão e Carlos Augusto Grabois Gadelha. As interações com internautas serão feitas pelo canal de comentários do youtube do Observatório e também pelas páginas das fundações no Facebook.
Presidente do Conselho Curador da FAP, que é vinculada ao Cidadania, Cristovam Buarque destaca a importância da série de webconferências pluripartidárias. “É fundamental, neste momento das crises política e econômica terríveis, agravadas pela epidemia, que pessoas de diferentes partidos busquem não apenas entender o que está acontecendo, mas, sobretudo, propor alternativas”, afirma.
De acordo com Cristovam, os partidos políticos precisam mostrar à população alternativas que superem o bolsonarismo. “A gente precisa refletir sobre onde estamos errando. Apesar de tudo que Bolsonaro faz e diz de maneira autoritária e enlouquecida, precisamos admitir onde é que estamos errando e não conseguimos mostrar isso a uma parcela grande da população brasileira que continua iludida com Bolsonaro”, assevera. “Ficar gritando basta a Bolsonaro é importante, mas não basta. Nós estamos errando em alguma coisa que não somos capazes de mostrar ao Brasil inteiro os equívocos e riscos do Bolsonaro”, destaca.
As próximas webconferências serão Pandemia e saídas para a crise econômica (12/5); Pandemia, crise e pacto federativo (16/5); e Coronavírus, isolamento social e saúde pública 2 (18/5). Para acompanhar a programação em maio, junho e julho, os internautas podem acessar o site do Observatório da Democracia (www.observatoriodademocracia.org.br)
Após a transmissão, os debates estarão disponíveis no canal do youtube do Observatório da Democracia (https://bit.ly/35oDPeh).
Confira o vídeo!
Os convidados e as convidadas a participar do ciclo Diálogos, Vida e Democracia são:
Acácio Favacho
*ACM Neto
Adilson Araújo
Alessandro Molon
Alexandre Navarro
Aloizio Mercadante
André Longo
Ângela Albino
Antônio Neto
Arnaldo Jardim
Artur Chioro
Axel Grael
Carlos A. Grabois Gadelha
Carlos Lupi
Carlos Nobre
Carlos Sampaio
Carlos Siqueira
Carol Proner
Celso Amorim
*Cid Gomes
Cristovam Buarque
Davi Alcolumbre
David Miranda
Dra. Regina Barros
Edson Carneiro Índio
Eleonora Menicucci
Ênio Verri
Eurípedes Gomes de Macedo Jr.
Fernanda Melchionna
Fernando Haddad
Flávio Dino
Francisvaldo Souza
*Glen Greenwald
Gleisi Hoffmann
Glória Teixeira
Guilherme Mello
Heleno Araújo
Henrique Matthiesen
Humberto Costa
Iago Montalvão
Ildeu de Castro
*Izolda Cela
Ivaldo Paixão
João Carlos Salles Pires da Silva
Joênia Wapichana
José Calixto Ramos
José Eduardo Cardozo
José Gomes Ramos Temporão
José Luís Fiori
Juliano Medeiros
Leocir Costa Rosa
Leonardo Attuch
Lídice da Mata
Lígia Bahia
Luciana Santos
Luis Fernandes
Luiz Davidovich
Luiz Eduardo Soares
Luiz Gonzaga Belluzzo
Luiza Erundina
Manoel Dias
Manuela D’Ávila
*Marcelo Freixo
Marco Antônio Raupp
Maria Amélia Enríquez
Maria Célia Vasconcellos
*Marina Silva
Mauro Oddo Nogueira
Miguel Nicolelis
Miguelina Vecchio
Nilma Lino Gomes
Nilson Araújo
Olívia Santana
Osvaldo Maneschy
Paulinho da Força
Paulo Jerônimo, Pajê
Pedro Cunha Lima
Pedro Gorki
Pedro Ivo
Perpétua Almeida
Raul Jungmann
Renata Mielli
Renato Casagrande
Renato Rabelo
Renato Rovai
Ricardo Antunes
Ricardo Carneiro
Ricardo Galvão
Roberto Freire
Rodrigo Maia
Rosa Maria Marques
Rubens Ricupero
Rui Costa
Sérgio Nobre
Sergio Rezende
*Silvio Almeida
Tereza Campello
Thaísa Silva
Túlio Gadêlha
Ubiraci Dantas de Oliveira
Wolney Queiróz
*Pendentes de confirmação
Dr. Manoel Dias – Fundação Alberto Pasqualini-Leonel Brizola
Christovam Buarque – Conselho Curador da Fundação Astrojildo Pereira
Rosanita Monteiro de Campos – Fundação Claudio Campos
Alexandre Navarro – Fundação João Mangabeira
Francisvaldo Souza – Fundação Lauro Campos e Marielle Franco
Renato Rabelo – Fundação Maurício Grabois
Felipe Espírito Santo – Fundação Ordem Social
Aloizio Mercadante – Fundação Perseu Abramo
*Com informações do Observatório da Democracia
Luiz Carlos Azedo: O voto útil
“Há dois tipos de indecisos: o que não está nem aí para a política e decide de última hora; e o que escolheu um campo político, mas não sabe qual é o candidato com mais chances de ir ao segundo turno”
Um dos ingredientes da democracia é o imponderável nas eleições, sem o qual não haveria alternância de poder. Num país de dimensões continentais como o Brasil, com um contingente eleitoral de 147 milhões de eleitores, a 44 dias das eleições, nada mais natural que o mercado ter uma crise de nervos por não saber quem ganhará o pleito. Objetivamente, as pesquisas mostram isso. É natural que os analistas façam interpretações e tentem antecipar resultados. Acertar com essa antecedência é um bilhete premiado na loteria das consultorias políticas. Para as futuras eleições, é claro. Na atual, é pura adivinhação.
Conversando com um amigo macaco velho do jornalismo político, ele fez uma observação muito pertinente sobre as duas últimas pesquisas eleitorais: “Não sei ainda em quem vou votar, mas sei em quem não voto de jeito nenhum. O que vai decidir essa eleição é o voto útil!” Não vou revelar o “não-voto” do amigo, mas o raciocínio serve para muita gente. Há dois tipos de indecisos: o eleitor que não está nem aí para a política e decide de última hora; e o que já escolheu um campo político, mas não sabe qual é o candidato com mais chances de ir ao segundo turno.
Sem fazer previsões precipitadas, diria que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu se tornar um grande eleitor da disputa, mesmo estando preso em Curitiba, cumprindo pena de 12 anos e 1 mês de reclusão, após ter sido condenado em segunda instância por causa do triplex de Guarujá. A narrativa do golpe contra Dilma Rousseff e a vitimização do petista colaram numa fatia do eleitorado, que já era simpática ao ex-presidente da República. Fosse mesmo candidato pra valer (sua candidatura será impugnada), Lula estaria no segundo turno e poderia até voltar ao poder, como aconteceu com Getúlio Vargas (PTB), em 1950.
Lula opera uma estratégia de risco, afronta a Justiça e as regras do jogo democrático, mas os adversários precisam reconhecer que o plano funcionou: pode até chegar ao horário eleitoral gratuito como candidato. Ganha com isso o PT, que conseguiu varrer para debaixo do tapete os escândalos do mensalão e da Petrobras para evitar uma nova derrocada eleitoral, como a de 2016, quando perdeu 59,4% das prefeituras. Vêm daí as apostas de que Fernando Haddad estará no segundo turno das eleições, beneficiado pela combinação da transferência do prestígio de Lula e do apoio da militância petista nas redes sociais.
Resiliência
Um exemplo desse apoio foi a reação petista ao resultado das pesquisas, que mostraram a fragilidade de Haddad nos cenários sem Lula. Os votos do ex-presidente migraram principalmente para Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). A AP/Exata, que acompanha as redes sociais em tempo real, registrou que as hashtags #LulaManuHaddad e #Haddad rapidamente se equipararam às menções de Bolsonaro, que lidera a campanha eleitoral nesse meio. Fala-se muito numa disputa tempo de televisão e de rádio versus redes sociais. Ao contrário de Bolsonaro e Marina, que lideram nas redes sociais, Haddad dispõe de razoável condição de campanha no universo analógico e paridade no meio digital.
Lula empurra com a barriga a candidatura até 17 de setembro, utilizando os prazos do processo de impugnação no Tribunal Superior Eleitoral (TRE), para ser substituído por Haddad em pleno horário eleitoral gratuito, que começa em 31 de agosto. Seus marqueteiros dizem que bastariam 60 segundos para fazer a transferência de votos, numa fusão de imagens. Será? Até agora, Lula se passou por vítima de uma grande armação judicial; se o ex-presidente for à televisão, Haddad terá que ser abatido na pista, antes de decolar.
Geraldo Alckmin (PSDB) aposta todas as fichas no tempo de televisão e de rádio para desconstruir a imagem dos adversários e resgatar a própria; subestima as redes sociais. Para chegar ao segundo turno, terá que crescer nos eleitorados de Bolsonaro, à direita; Marina Silva, à esquerda; Ciro Gomes, no Nordeste, e Álvaro Dias, no Sul, que já demonstraram grande resiliência. E avançar entre os indecisos. É aí que voltamos ao ponto de partida. Chegará ao segundo turno quem capturar os votos anti-Lula e/ou anti-Bolsonaro, que são os protagonistas da polarização eleitoral. Ou seja, o voto útil. Por enquanto, segundo as pesquisas, Marina Silva continua melhor posicionada do que Alckmin para isso.
Luiz Carlos Azedo: Jogo de profissionais
Teremos a menor renovação política das últimas sete eleições, em razão da redução do tempo de campanha de 90 para 45 dias; do horário eleitoral gratuito de 45 para 35 dias; e do financiamento público
Havia grande expectativa em relação ao papel dos chamados movimentos cívicos nas eleições de 2018, na onda dos protestos e grandes manifestações organizados pelas redes sociais desde março de 2013. Esses protestos resultaram, mais tarde, no impeachment de Dilma Rousseff e no apoio maciço à Operação Lava-Jato. Entretanto, já se pode dizer, com toda certeza, que não conseguirão renovar a representação política no Congresso; e talvez, não tenham também grande peso nas eleições para presidente da República. A política dos cidadãos, digamos assim, nunca foi tão vigorosa, mas eleitoralmente não resulta na formação de coalizões políticas robustas o suficiente para romper a blindagem das velhas estruturas partidárias e oligarquias políticas.
A razão desse fenômeno é uma mix de decisões intempestivas do Supremo Tribunal Federal (STF), como a portabilidade dos recursos e tempo de televisão, que estimularam a formação de partidos franquia, e a nova política de financiamento público, que fortaleceu ainda mais os donos de partidos e os candidatos endinheirados, sem nenhuma garantia de que não haverá caixa dois. Essas decisões provocaram a reação dos grandes partidos no sentido de bloquear a renovação e salvar a pele dos seus caciques na reforma eleitoral e partidária.
O instinto de sobrevivência do establishment político é notável. Embora, mais cedo ou mais tarde, muito de seus integrantes venham a ter que acertar contas com a operação Lava-Jato, o esquema montado para neutralizar seus efeitos eleitorais tem um lado muito positivo: a sobrevivência da nossa democracia, que estava em vias de ser garroteada por um movimento em pinça de projetos autoritários à direita e à esquerda. Isso explica a ampla coalizão de forças formada em torno do candidato de PSDB, Geraldo Alckmin, que foi um bom governador de São Paulo e tem a simpatia das elites econômicas do país.
De certa forma, os mecanismos de financiamento eleitoral e distribuição de tempo de televisão são o grande obstáculo à candidatura do capitão da reserva do Exército Jair Bolsonaro (PSL), cujo vice, general Mourão, chama de “ditabranda” o regime militar que vigorou no país entre 1964 e 1985. A outra face da moeda é o fato de Marina Silva, em que pese a enorme representatividade alcançada nos dois últimos pleitos, ir às urnas sem dispor da paridade de meios que deveria ter, se levássemos em conta a votação que obteve para a Presidência e não, apenas, o número de deputados da Rede e do PV, como estabelece a legislação eleitoral.
Como outra contradição do mesmo processo, temos a resiliência do PT, cujo líder principal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está preso e inelegível. A reforma eleitoral foi feita sob encomenda para evitar que o desastre eleitoral petista de 2016 se repita nas eleições desse ano. Em aliança com o PMDB e outros grandes partidos, a legenda somente não conseguiu tudo o que queria na reforma eleitoral, porque não foi aprovado o voto em lista, assim como o MDB não conseguiu aprovar o “distritão” proposto pelo presidente Michel Temer. Na distribuição de recursos do fundo partidário e tempo de televisão, o PT tem cacife para sonhar com um candidato no segundo turno, seja o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, seja o ex-governador da Bahia Jaques Wagner.
Vantagens
Em contrapartida, podemos registrar as dificuldades de dois candidatos: Ciro Gomes (PDT) se posicionava para ser herdeiro dos votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro, principalmente no Brasil setentrional. O próprio Lula, da cadeia, se encarregou de inviabilizar a coligação que lhe daria tempo de televisão para entrar na disputa para valer. O PSB, que seria o aliado principal do PDT, optou por não ter candidato e não fazer coligação para Presidência. Outro que ficou em situação parecida foi Álvaro Dias (Podemos), que ameaçava Geraldo Alckmin no Brasil meridional. Também foi isolado, conseguindo apoio apenas de partidos muito pequenos. João Amoêdo (Novo), que pensava atrair os movimentos cívicos para sua candidatura, Guilherme Boulos (PSol), que sonha com os votos de Lula em São Paulo, são pigmeus políticos no horário eleitoral.
Arguto observador do Congresso, o analista político Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Acompanhamento Parlamentar, garante que teremos a menor renovação política das últimas sete eleições. Cita três razões: redução do tempo de campanha de 90 para 45 dias; redução do horário eleitoral gratuito de 45 para 35 dias; e financiamento público. Segundo ele, deputados e senadores são favorecidos por: disputar no exercício do mandato, serem mais conhecidos, terem serviços prestados e bases eleitorais consolidadas, cabos eleitorais, dobradinhas, financiadores, acesso à mídia, estrutura de campanha e emendas parlamentares que garantem o apoio dos beneficiados pelo Orçamento da União.
Roberto Freire: Sem onda conservadora
Após verem sepultada a narrativa de que Dilma Rousseff foi apeada do Planalto por meio de um “golpe”, o PT e seus satélites tentam justificar a acachapante derrota nas eleições municipais com uma outra tese igualmente desprovida de qualquer sentido. A palavra de ordem entoada pelo núcleo duro do lulopetismo é de que o Brasil teria sido tomado, nas urnas, por uma “onda conservadora”.
Na realidade, o eleitorado rejeitou o projeto de poder representado pelo PT e pelos governos de Lula e Dilma, que nos levaram a uma das maiores crises econômicas de nossa história. Os maiores vitoriosos nas disputas municipais foram os partidos que votaram pelo impeachment e hoje compõem a base de sustentação do presidente Michel Temer — e aqui cabe ressaltar o êxito das legendas que integram o campo da social-democracia e dos partidos da esquerda democrática brasileira, como o PSB, o PPS e o PV.
A exceção talvez seja o PDT, partido de esquerda e aliado dos governos petistas, que também experimentou um crescimento eleitoral. Mais uma prova de que a “onda conservadora” é uma narrativa enganosa. A avaliação precipitada sobre os resultados eleitorais levou um jornalista a cometer a estultice de dizer que o PSDB é um partido de “ultradireita”.
Trata-se de um raciocínio equivocado, segundo o qual todos aqueles que se opõem ao PT são direitistas e, alguns, até traidores. Além de interditar o debate, tal postura é de uma desonestidade intelectual atroz. O PSDB, afinal, tem uma visão predominantemente social-democrata – e assim seria rotulado em qualquer país do mundo democrático. No Rio, alguns apregoam que a vitória de Marcelo Crivella seria um indicativo de que a “onda conservadora” veio para ficar.
É evidente que não se pode tomar um caso isolado como um retrato do que ocorreu por todo o Brasil. A cidade sentiu falta de alternativas políticas mais amplas e teve de escolher entre duas candidaturas fundamentalistas, uma de cunho religioso e outra politicamente dogmática. Uma de viés mais conservador e outra também sectária, de uma extrema- esquerda que muitas vezes serviu como linha auxiliar do lulopetismo.
Basta ver o comportamento do candidato do PSOL que, quando confirmado no segundo turno, excluiu a possibilidade de diálogo com as correntes políticas que considerava “golpistas”. Outra falácia é de que a “não política” teria sido a marca dessas eleições. É certo que houve uma forte rejeição aos políticos tradicionais, mas não à política em si.
Em São Paulo, João Doria se apresentou como um empresário, mas em nenhum momento deixou de destacar que é filho de um político cassado pelo golpe militar de 1964. Assim como a tese do “golpe” havia sido enterrada, a narrativa da “onda conservadora” foi desmentida pelo resultado das eleições.
Basta analisar o desempenho das forças políticas vitoriosas. Mesmo que algumas tenham contradições internas, nenhuma delas se confunde com a direita nacional. Todas estão no campo democrático e, em especial, honrando a esquerda democrática brasileira. (O Globo – 10/11/2016)
Roberto Freire é presidente nacional do PPS
Fonte: pps.org.br