Paulo Wanderley
Paulo Wanderley: A força do Time Brasil
Os Jogos Olímpicos, marcados para daqui a um ano, que nos aguardem
Onde você se imagina daqui a um ano? Se me fizessem essa pergunta há 12 meses, não teria dúvida alguma da resposta: em Tóquio, em um estádio lotado. Esperando a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, com orgulho da delegação brasileira, que entraria em cena para colocar em prática todo o enorme esforço dos últimos anos. Estaria lá, na esperança de ótimos resultados e com a certeza de que tudo valeria a pena. Estaria sentindo na pele a emoção dos valores olímpicos, de amizade e respeito, que são capazes de unir todos dentro e fora das competições.
O mundo, entretanto, parou. Os atletas tiveram de entender, assim como todos nós, que era preciso encarar o rival de toda uma geração. Era momento de cautela e responsabilidade diante da pandemia do novo coronavírus. Mas e os treinos? E a expectativa alimentada durante todo esse ciclo olímpico? Iríamos jogar tudo fora?
O adiamento dos Jogos para 23 de julho de 2021 trouxe alívio para o COB. Desde antes de qualquer decisão formal do COI, o Brasil foi um dos primeiros países a se posicionar entendendo que não havia solução mais assertiva, sensata e prudente. Claro que a tristeza e os questionamentos trazidos acima vieram à tona, mas nunca a dúvida de que seria o melhor caminho.
Não, não vamos jogar tudo fora. Pelo contrário. Estamos nos preparando cada vez mais para o que vem pela frente, colocando em primeiro lugar a segurança, a saúde e a integridade física dos nossos atletas e demais envolvidos com a prática esportiva de alto rendimento no país.
E como estamos a um ano do recomeço? Todos os estudos operacionais para a nossa delegação estão sendo refeitos. Em várias frentes, tivemos de replanejar. Tomamos medidas administrativas necessárias. O pilar desta gestão, de austeridade financeira, nos gerou uma fundamental reserva para contingências, que nos permitiu manter o sistema funcionando sem sobressaltos. Nossos patrocinadores, fornecedores e parceiros, mais uma vez, estão sendo fundamentais nesse processo.
Para que nada saísse do eixo, era preciso agir rápido. Desenvolvemos o Programa Emergencial de Apoio ao Sistema Olímpico. Fizemos uma injeção direta de R$ 7 milhões para que as diversas modalidades pudessem enfrentar essa tempestade.
A Missão Europa, iniciada dia 17 de julho, integra o programa, e a consideramos um marco dessa nova realidade. Em parceria com as Confederações Brasileiras, iniciamos a retomada dos treinamentos de nossos atletas de alto rendimento, com toda a segurança possível. Esse retorno era necessário e traz confiança para todos.
O objetivo é levar mais de 200 atletas até o fim do ano para nossa base em Portugal. O investimento será coberto por parte dos R$ 15 milhões previstos no nosso orçamento deste ano, dentro do Programa de Preparação Olímpica, oriundos da Lei das Loterias, possibilitando ações fundamentais para o desenvolvimento do esporte brasileiro.
Estabelecemos um protocolo de volta às atividades pensado com muito cuidado. E, assim, mais uma fase de nossas medidas de apoio avançou.
A abertura do CT Time Brasil, no Rio de Janeiro, ocorreu no dia 20 e segue todo esse rigoroso protocolo, servindo de referência para qualquer instalação que receber nossos atletas. Novas permissões serão concedidas gradualmente, com cautela.
Os Jogos, na essência do Olimpismo —que gosto de tratar como uma filosofia de vida— devem ser uma mensagem de vitória e superação. Superação essa de que sentimos o gostinho recente nos Jogos Pan-Americanos de Lima, com nosso melhor resultado da história, na segunda colocação geral.
Acreditamos que o trabalho feito dentro e fora das competições irá gerar resultados além das tão sonhadas medalhas. É o momento de desenvolvimento ainda maior de valores que sempre guiaram nosso dia a dia olímpico, como resiliência, trabalho em equipe, planejamento e superação de obstáculos. Vamos passar por essa juntos, como sempre fizemos. E, se nosso Time Brasil já estava unido e pronto antes mesmo da pandemia, 2021 que nos aguarde!
*Presidente do Comitê Olímpico do Brasil