Partido Comunista Brasileiro

Presidente Jair Bolsonaro nas Forças Armadas | Foto:Jose Cruz/EBC

Revista online | Militares e o governo Bolsonaro: política ou partidarização?

Paulo Ribeiro da Cunha*, especial para a revista Política Democrática online (47ª edição: setembro/2022)

Nesse último quadriênio, o país tem sido tencionado por questionamentos sobre a possibilidade de ruptura institucional, e analistas sustentam legítimas preocupações relacionadas à politização das Forças Armadas, associando o quadro atual a um cenário próximo ao do golpe civil militar de 1964. Apontamentos, evidentemente, sujeitos a controvérsias e, cautelosamente, aqui pontuados numa outra linha de análise, antípoda à tese de um golpe. 

E por quê? Antes, há que considerar que os militares nunca foram um corpo homogêneo na história do Brasil. Estiveram envolvidos na política ao lado das causas nacionais e progressistas. Ou, em outras épocas, contra o povo, por vezes, expressando grupos ou lideranças, bem como significativas influências na sociedade. 

Essa díade relacionada à presença política na história não encontra necessariamente osmose com a tentativa de partidarização das instituições vistas contemporaneamente, embora pontualmente possa ser identificada em muitas das ações políticas no período republicano. Recorrendo a um silogismo: toda ação partidária é política, mas nem toda agenda política é partidária. Esse é o ponto fulcral dessa linha de análise, mesmo que brevemente exposto. 

Além dessa presença na política, houve expressões ou influências de posicionamentos políticos e ideológicos à direita, como os Jovens Turcos, e à esquerda socialista e comunista nas muitas rebeliões de marinheiros e sargentos, ou entre alguns expoentes do movimento tenentista que fizeram história. Foram movimentos políticos sem conotações partidárias, cujas páginas de luta foram dignificadas nesta etapa inicial na Coluna Prestes/Miguel Costa, assim como no Movimento Revolucionário de 1935

Dessa conflituosa etapa histórica após os anos 1930, decorre, enquanto resposta, a Doutrina Góes Monteiro, resumindo um princípio de que não deve haver política no exército e sim a Política do Exército, ou seja, a política deve ser privilégio dos generais. Após advir a democracia entre 1945 e 1964, confrontada por um feroz anticomunismo, há de ser considerado que, nesse período da Guerra Fria, houve militares disputando pleitos presidenciais em todos os escrutínios. Um dado que chama atenção, comparativamente, é que o percentual de militares eleitos em 1946 é muito próximo ao da eleição de 2018, em que pese houvesse uma maior pluralidade política e ideológica. 

Veja todos os artigos da edição 46 da revista Política Democrática online

Ao mesmo tempo, marinheiros, praças e oficiais procuravam ser reconhecidos enquanto cidadãos plenos numa democracia cujos limites de participação à categoria eram bem restritos na Constituição de 1946. Contudo, a Carta abria possibilidades concretas e emergia uma corrente de militares nacionalistas cuja centralidade e agenda eram pautadas na defesa da legalidade e da democracia, bem como nas causas nacionais, como o petróleo.

Em parte, havia um setor sob influência do Partido Comunista Brasileiro (PCB) confrontando militares que atuavam a favor de iniciativas golpistas junto aos civis na União Democrática Nacional (UDN). Descoladas de qualquer comparação com o atual momento, essas correntes digladiavam projetos de nação que expressavam também teoricamente escolas de pensamento como a ESG e antípoda e situada à esquerda ou no campo nacionalista, o Iseb. Essa ação a favor da legalidade contra o golpismo acabou derrotada em 1964 e foi significativa sua presença na política, já que, comparativamente, as demais categorias sociais e os militares foram os mais atingidos pelo golpe civil militar, segundo dados levantados no Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Após o golpe civil-militar de 1964, alguns oficiais, praças e marinheiros aderiram à luta armada. Entretanto, a maioria optou pela resistência à ditadura atuando em partidos de oposição ou em associações, tendo em vista a restauração da democracia. Outros grupos militares à direita digladiaram na caserna, especialmente nos períodos de sucessão presidencial. Mas os embates internos no campo da política não foram superados nas décadas subsequentes com a redemocratização, bem como na Constituinte, cujo establishment militar operou com sucesso em relação às muitas propostas de oxigenação de suas instituições, emergindo tensas relações com os civis em face a tentativas de subordinação com a implementação do Ministério da Defesa. 

E, apesar de estarem distanciados das lides partidárias, concretamente, preservaram muito sua autonomia. Talvez, favorecidos pelo fato de que a maioria dos ocupantes do MD foi incapaz de estabelecer efetivas pontes de diálogo (salvas honrosas exceções vistas entre parlamentares do campo da esquerda). Há situação análoga no Congresso, cuja lacuna de compreensão da categoria não encontra respaldo na maioria dos parlamentares. Talvez seja essa a dificuldade herdada de um efetivo exercício do poder civil nos vários casos de manifestações ou indisciplina recentes de alguns generais, cuja fragilidade alimenta a associação dos militares ao governo Bolsonaro e suas muitas tentativas de envolver partidariamente as Forças Armadas. E não foram poucas. Medíocre como político e mau militar, mas inegavelmente sua eleição foi favorecida pela crise política. Bolsonaro soube capitalizar em um cenário de polarização. Facada e esgotamento de um modelo eivado de denúncias no campo democrático levaram à sua vitória nas eleições de 2018. 

Retrocesso na história e por osmose, passou-se a ideia de que havia em curso um governo militar e a militarização do estado. Há, de fato, uma presença significativa no atual governo, embora a maioria da reserva. Bolsonaro teve apoio da maioria da categoria na sua eleição, porém, a identificação enquanto expressão mais organizada é de um grupo que intitulo de “Ala Militar”, cuja umbilicidade é anterior nas Forças Armadas, formada por generais críticos ao marxismo cultural e as ideias de Olavo de Carvalho, abrigados em sua maioria no clube Militar.

Contudo, estão longe de serem identificados com as instituições castrenses. Aliás, seus expoentes mais categorizados não demoraram a pular fora do barco no início de 2019, todos com críticas ferrenhas ao ocupante e seu entorno familiar, bem como ministros corruptos. A despeito da enorme maioria dos militares serem conservadores, conservadorismo não é sinônimo de reacionarismo. Bolsonaro até teve uma receptividade inicial maior na caserna. Conseguiu esse apoio se esvaindo aos poucos, tendo muitos militares dando claros sinais de afastamento, haja vista a demissão dos comandantes e do Ministro da Defesa. 

Confira, abaixo, galeria de imagens:

Bolsonaro e militares forcas armadas | Foto: Shutterstock
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Foto: Isac Nobrega/PR
Juramento de defesa da Constituição por militares não significa obediência irrestrita ao presidente da República, explica Paulo Ribeiro da Cunha | Foto: Marcos Corrêa/PR
Foto: Marcos Correa/PR
Foto: Michael Melo/Metrópoles
Foto: Reprodução/Jornal Opção
Foto: Thales Antonio/Shutterstock
Bolsonaro e militares forcas armadas | Foto: Shutterstock
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Foto: Isac Nobrega/PR
Juramento de defesa da Constituição por militares não significa obediência irrestrita ao presidente da República, explica Paulo Ribeiro da Cunha | Foto: Marcos Corrêa/PR
Foto: Marcos Correa/PR
Foto: Michael Melo/Metrópoles
Foto: Reprodução/Jornal Opção
Foto: Thales Antonio/Shutterstock
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Bolsonaro e militares forcas armadas | Foto: Shutterstock
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Foto: Isac Nobrega/PR
Juramento de defesa da Constituição por militares não significa obediência irrestrita ao presidente da República, explica Paulo Ribeiro da Cunha | Foto: Marcos Corrêa/PR
Foto: Marcos Correa/PR
Foto: Michael Melo/Metrópoles
Foto: Reprodução/Jornal Opção
Foto: Thales Antonio/Shutterstock
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Apesar de as tensões advindas da caserna ainda estarem em curso e presentes até o término das eleições, é também válida a reação da classe política ou mesmo da sociedade civil a favor da democracia contra golpes. Além de lições dolorosamente pedagógicas, ao que tudo indica, essas também refletem junto aos militares que aos poucos sinalizam pistas claras de operarem uma rotação ao campo da institucionalidade e da democracia. Prevalece, para a maioria deles, a gradual percepção de que o juramento em defesa da Constituição não significa por osmose obediência irrestrita ao presidente, quiçá a um superior imediato ao preço de suas objeções de consciência.  

Não é pouco, mas é importante reconhecermos sua presença política no tempo e na história, além de reconstruirmos pontes de diálogo na perspectiva de os militares somarem com sua presença a um projeto de nação. Afinal, eles estão subsumidos enquanto cidadãos plenos de direitos ao poder civil e ao Estado Democrático e de Direito.

Sobre o autor

*Paulo Ribeiro da Cunha é livre docente em Ciência Política pela  Universidade Estadual Paulista (Unesp), autor de Militares e Militância: uma relação dialeticamente conflituosa (São Paulo: Ed. Unesp, 2012; 2020; 2022) e consultor da Comissão Nacional da Verdade.

** O artigo foi produzido para publicação na revista Política Democrática online de maio de 2022 (47ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na revista Política Democrática online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da publicação.

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(crédito: Arquivo Nacional)

Editora resgata extensa obra literária de Astrojildo Pereira

A editora Boitempo e a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) lançam amanhã, às 16h, na Biblioteca Salomão Malina, no Conic, a Coleção Astrojildo Pereira, com as obras completas do jornalista, ensaísta e fundador do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1922, do qual seria expulso em 1930, por ordens de Moscou, no período stalinista marcado pelo chamado “obreirismo”. Na programação, haverá um debate seguido de sessão de autógrafos.

Astrojildo somente seria reintegrado ao partido em 1946. Dedicou-se ao jornalismo, com destaque para a atuação como diretor da revista Estudos Sociais, que circulou de 1958 a 1964. Foi um dos intérpretes do processo de urbanização e industrialização do Brasil e revelou-se excepcional crítico literário. Destacou-se também como biógrafo de Machado de Assis, de quem foi admirador desde a adolescência e personagem de sua despedida, no leito de morte, testemunhada por Coelho Neto, Graça Aranha, Mário de Alencar, José
Veríssimo, Raimundo Correia e Rodrigo Otávio, grandes intelectuais da época.

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Euclides da Cunha descreveu, no Jornal do Commercio de 30 de setembro de 1908, o encontro do jovem e ainda anônimo intelectual com o escritor já moribundo. “Qualquer que seja o destino desta criança, ela nunca mais subirá tanto na vida. Naquele momento, o seu coração bateu sozinho pela alma de uma nacionalidade. Naquele meio segundo — no meio segundo em que ele estreitou o peito moribundo de Machado de Assis, aquele menino foi o maior homem de sua terra.”

Somente em 1936, o nome do adolescente foi revelado pela escritora Lúcia Miguel Pereira. O episódio serviu de roteiro para um curta-metragem de Zelito Vianna, com Marcos Palmeira no papel do autor de Os Sertões.

Livros raros

Os livros Crítica Impura, Formação do PCB, Interpretações, Machado de Assis e URSS Itália Brasil compõem a coleção, além da biografia Um revolucionário cordial, de autoria do professor e historiador Martim Cézar Feijó, que participará do encontro, ao lado do jornalista Carlos Marchi, biógrafo de Carlos Castello Branco
e Teotônio Vilela. O debate será aberto ao público, na auditório da biblioteca, mediado pelo sociólogo Caetano Araújo, diretor geral da FAP, e transmitido pelas redes sociais.

O lançamento torna acessível ao grande público e aos pesquisadores da história das ideias políticas no Brasil e da literatura brasileira a matriz de uma vertente de pensamento que influenciaria a esquerda brasileira até os dias de hoje e, também, toda uma geração de romancistas que protagonizou a crítica social na nossa literatura, inclusive Jorge Amado. Dentre as obras agora reeditadas, destaca-se Interpretações, publicada pela Casa do Estudante do Brasil, em 1944.

Com prefácio de Flávio Aguiar, professor de Letras aposentado da Universidade de São Paulo, Interpretações analisa as obras de Machado de Assis, Lima Barreto, Manoel Antônio de Almeida, Joaquim Manuel de Almeida, Gastão Cruls e Graciliano Ramos, além de Populações meridionais do Brasil, de Oliveira Viana.

Confira debate sobre Astrojildo Pereira no 7º Salão do Livro Político

Veja vídeo de lançamento da Coleção Astrojildo Pereira, em Brasília

Paz e democracia

Surpreendem, ao final da obra, dois textos sobre a II Guerra Mundial. No primeiro, Astrojildo faz uma interessante leitura das referências bíblicas às guerras, com claro objetivo de confrontar as atitudes de Hitler e o antissemitismo nazista; no segundo, escrito quando a Força Expedicionária Brasileira (FEB) já lutava nos campos da Itália e a ditadura de Getúlio Vargas estava com os dias contados, debate o papel dos intelectuais na luta contra as ideias fascistas e a importância da consolidação da democracia no pós-guerra.

Textos de Florestan Fernandes dialogando com Astrojildo sobre o papel dos intelectuais, e de Nelson Werneck Sodré, sobre a trajetória política e intelectual de seu amigo, completam a nova edição de Interpretações, que também pode ser adquirida separadamente.

*Texto publicado originalmente em Correio Braziliense


FAP realiza lançamento nacional da obra Grando, Presente!

Obra reúne 15 textos de personalidades, intelectuais, amigos e familiares de Sérgio Grando

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) realizou, ontem (23/9), o lançamento nacional do livro Grando, Presente (224 páginas). A obra conta a história política e o legado do ex-prefeito de Florianópolis Sérgio Grando, uma lição de uma grande liderança do campo democrático e progressista. Grando morreu de câncer em 2016, aos 69 anos,

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Além dos organizadores, o advogado Francisco de Assis Medeiros e a cientista social Elaine Regina Pompermayer Otto, também participaram oito autores do livro, entre eles a irmã de Grando, socióloga Silvia Eloisa Grando Águila, que mediou o webinar.

Confira o webinar!



Veja o vídeo de Padre Vilson




“Os Nove de 22: o PCB na vida brasileira” registra legado quase centenário

Obra do historiador Ivan Alves Filho será lançada em webinar da FAP na terça-feira (14/9)

Cleomar Almeida, da equipe FAP

Sustentado no tripé do mundo do trabalho, da cultura e da defesa pela democracia, o histórico Partido Comunista Brasileiro, que celebrará o centenário de sua fundação no próximo ano, tem agora a sua trajetória registrada em livro. A obra “Os nove de 22: O PCB na vida brasileira” (283 páginas), do historiador Ivan Alves Filho, será lançada, na terça-feira (14/9), a partir das 10h, em evento virtual da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), que editou a publicação.

Assista!



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O evento de lançamento online do livro terá transmissão, em tempo real, no portal da FAP, na página da entidade no Facebook e no canal dela no Youtube. Além do autor, também confirmaram presença no webinar o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire; o diretor-geral da FAP, Caetano Araújo; a diretora executiva da fundação Jane Monteiro Neves e o historiador José Antônio Segatto.

As pessoas interessadas em participar diretamente do lançamento, por meio da sala virtual do aplicativo Zoom, devem enviar a solicitação ao departamento de tecnologia da informação da FAP e se identificarem. O contato deve ser realizado por meio do WhatsApp (61) 98419-6983 (Clique no número para abrir o WhatsApp Web), até 20 minutos antes do início do webinar.

O livro é resultado de um levantamento do historiador, mas também representa um relato dele como militante político. Não tem nada de acadêmico. É, conforme o próprio autor define, uma tentativa de construir um instrumento político adaptado às demandas do século 21. Dessa forma, reforça o legado de nove homens que sonharam em mudar o mundo no ano de 1922, em uma casa de Niterói, com a fundação do partido.

Os fundadores do PCB aparecem, juntos, em uma foto histórica (abaixo). Em pé, estão Manoel Cendon, Joaquim Barbosa, Astrojildo Pereira, João da Costa Pimenta, Luís Peres e José Elias da Silva (da esquerda para a direita). Sentados, estão Hermogênio Silva, Abílio de Nequete e Cristiano Cordeiro (da esquerda para a direita).

Os fundadores do PCB. Foto. Reprodução

A fundação do partido ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, no Sindicato dos Alfaiates e dos Metalúrgicos, nos dias 25 e 26 de março, e em Niterói, no dia 27 de março de 1922. “O deslocamento para Niterói, mais precisamente para uma casa pertencente à família de Astrojildo Pereira, se deu em função de uma denúncia de que a polícia estaria prestes a invadir o encontro dos comunistas no Rio de Janeiro”, conta o livro.

Produzida sob a perspectiva histórica do PCB, a obra também lança luz sobre o presente do país diante da “extensão e velocidade do desmoronamento da esfera pública no Brasil”, segundo o autor. “Há uma verdadeira esquizofrenia social entre nós. Os números e indicativos econômicos são dramáticos e a corda social só faz esticar”, escreveu Ivan Alves Filho.

➡️ Especial PCB 100 Anos
(Clique na imagem para acessar todas as publicações da FAP sobre os 100 anos do PCB)

O livro mostra que o PCB foi um partido criado, na época, sob a influência do movimento anarquista então dominante nos meios sindicais. Atravessou a maior parte de sua história na clandestinidade, mas apresenta um saldo de realizações nos mundos do trabalho, da ciência, da cultura e da formulação de políticas públicas no Brasil muito superior ao que o número reduzido de militantes naquele contexto poderia projetar.

“O mais impressionante é que o partido saiu do movimento anarquista. Todos os partidos comunistas do mundo surgiram do antigo movimento social democrata. O único que surgiu do movimento anarquista foi o PCB, o que o fez ter muita sensibilidade para a sociedade civil”, destaca o autor.

Uma grande quantidade de informação é apresentada ao longo do livro, na forma de pequenas unidades, organizadas em torno de temas. Eles equivalem às áreas em que a atividade dos militantes comunistas foi relevante e suas consequências duradouras, ou das personalidades marcantes, tanto na perspectiva interna da organização quanto na perspectiva maior, da sociedade como um todo.

Veja aqui outros livros da Fundação Astrojildo Pereira à venda na internet

“São, na verdade, cápsulas de informação, reunidas num conjunto que lembra um mosaico. O livro não pretende, portanto, ser uma obra de síntese, tampouco um registro minucioso da influência das organizações e personalidades vinculadas ao PCB na vida cultural, científica e política do país”, explica o diretor-geral da FAP, sociólogo Caetano Araújo, no prefácio.

De acordo com o prefaciador, o livro deve ser visto antes como coletor e organizador de um conjunto de informações e, ao mesmo tempo, sinalizador e guia para pesquisas futuras. “Sua vocação é tornar-se uma obra seminal”, afirma. “Claro que há, ao longo de todo o texto, informação proveniente de fontes bibliográficas. A maior parte, contudo, procede da biografia do autor, de sua convivência com grande parte dos personagens citados”, diz, em outro trecho.

Filho de um dirigente do partido, Ivan Alves Filho conheceu na infância, na sua casa, diversos dos dirigentes históricos do PCB. Lançado ao exílio, no começo de sua vida adulta, radicou-se em Paris, ponto de encontro das andanças dos exilados brasileiros, onde teve a oportunidade de conhecer outros tantos militantes e dirigentes. No seu retorno, historiador formado, dedicou-se a pesquisar a história do partido.

Lançamento online de livro: Os nove de 22
Data: 14/9/2021
Transmissão: das 10h às 11h30
Realização: Fundação Astrojildo Pereira


100 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Confira vídeos, podcasts, textos, publicações e especiais sobre o Partido Comunista Brasileiro (PCB)

1922 é um ano emblemático da modernidade brasileira, nas artes e na política. Acontece a Semana de Arte Moderna, nasce o Partido Comunista. Quase sempre ilegal, o PCB cumpriu uma trajetória marcante e talvez tenha sido a grande escola da nossa política. Vídeos e depoimentos aqui recolhidos jogam luz sobre este agrupamento singularíssimo do século 20 entre nós.

Está página foi criada para agrupar os diversos eventos que ocorreram e ocorrerão para celebrar o centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Aqui, você encontra todas atividades do grupo "100 anos do PCB", idealizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP) no segundo semestre 2020. Além disso, há sugestões de livros, filmes, podcast e outros arquivos relacionados ao Partidão.





26/03/2021
Podcast sobre a história do PCB com o jornalista Luiz Carlos Azedo




Astrojildo Pereira e os centenários da Semana de Arte Moderna e do PCB
Finalmente, as obras do Astrojildo Pereira serão lançadas neste ano de 2022 pela Editora Boitempo, com apoio da Fundação Astrojildo Pereira.

Seminário internacional destaca os 100 anos do Partido Comunista Brasileiro
Em comemoração aos 100 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Sérgio Besserman: Narrativa do comunismo caiu com o Muro de Berlim
Economista mediou debate em pré-celebração ao centenário do PCB, no dia 29 de julho

‘Passado maldito está presente no governo Bolsonaro’, diz Luiz Werneck Vianna
Doutor em Sociologia pela USP e presidente de honra da FAP, cientista social defende construção de ampla frente democrática para “derrubar” o presidente

‘Lutar pelo SUS é a tarefa imediata da esquerda democrática’, diz Luiz Sérgio Henriques
Ensaísta é um dos organizadores do lançamento da série de debates on-line sobre o centenário do PCB, a partir das 19h desta quinta-feira (25/3)

Lição de 1964 marca luta do PCB por ampla frente democrática no país

Especialistas começam a discutir centenário do partido, celebrado em março de 2022, em série de webinars da Fundação Astrojildo Pereira que será lançada no próximo dia 25/3

SÉRIE DE REPORTAGENS "NADA CONSTA" - METRÓPOLES


Livros referentes ao Partido Comunista Brasileiro (PCB)
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Dina Lida Kinoshita conta a história de judeus progressistas no Brasil

Professora aposentada da USP cita nomes que considera importantes, como o de seu pai, Wolf Lida

Cleomar Almeida, da equipe da FAP

Nascida em campo de refugiados nos arredores de Munique, na Alemanha, em 1947, a professora aposentada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) Dina Lida Kinoshita, de 74 anos, é a memória viva de um país que recebeu centenas de judeus progressistas desde o início do século passado. Sua história carrega influências diretas de seu pai, Wolf Lida, do físico e cientista Mario Schenberg e do ex-presidente nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) Salomão Malina.

Ainda nos primeiros anos de vida, Dina mudou-se com os pais para o Brasil, que recebeu três levas de judeus progressistas. A primeira delas chegou ao país, na primeira década do século 20, por causa de muitos problemas na Europa Oriental e, também, em razão da frustrada Revolução Russa de 1905. “Houve muita perseguição aos judeus. Então, começaram a migrar para vários países, inclusive para o Brasil”, lembra Dina, em entrevista ao portal da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília.

Depois, perto do fim da Primeira Guerra Mundial, que iniciou em 1914 e se estendeu até 1918, o país recebeu a segunda mobilização de judeus, após a guerra civil e, concomitantemente, a guerra russo-polonesa, que marcaram o cenário lá fora.

“Os judeus foram muito perseguidos, e muita gente veio nos anos 1920. A família de Mario Schenberg chegou, por exemplo, na primeira leva. A família Malina, na segunda. Depois, nos anos 1930, com a ascensão do nazismo, veio, de novo, muita gente para cá, apesar de o Vargas ser ditador também, mas eles preferiram ficar aqui a ficar em zonas que poderiam ser ocupadas pelos nazistas”, conta a professora.






“Velho lar”
É nesse contexto que os judeus foram se “enraizando no Brasil e aprendendo a língua”, como diz a cientista. “Eles tinham um olhar sobre o que ocorria no velho lar, que é onde viveram, nasceram, e essa gente criou muitas identidades culturais. A cultura sempre mesclada com a política. Fizeram teatro, coro, escolas, colônia de férias. Então, já havia uma movimentação muito grande desses judeus que se consideravam progressistas”, afirma ela.

No entanto, no Brasil, segundo Dina, os judeus imigrantes nunca falavam que eram comunistas porque sempre tinham a espada de Dâmocles, por medo de serem deportados já para a Europa nazifacista. Assim, à medida que o tempo foi passando, os filhos deles passaram a nascer em casas comunistas. “Os jovens brasileiros foram se incluindo nesse meio”, relembra a professora, cuja vida é marcada por um enredo distinto do que foi contado até aqui.



Integrantes das brigadas internacionais na Espanha. Foto: Wikipedia

“A minha história é um pouco diferente. Meu pai nasceu no começo do século 20, em família religiosa, e saiu da casa dos pais para Varsóvia. Ele acabou se envolvendo com a juventude comunista e chegou a ser membro do Comitê Central nos anos 1930. Lutou na Guerra Civil Espanhola”, recorda Dina.

Wolf Lida era comissário político de um pedaço da Brigada Polonesa, onde lutavam os judeus. O rumo dele, porém, mudou de repente. O Partido Comunista Polonês, em 1938, foi dissolvido pela internacional comunista e não tinha mais força alguma, assim que acabou a Guerra Civil Espanhola.

“Meu pai não pôde voltar para Polônia, não tinha jeito. Ele acabou indo para a União Soviética, não ficou em Moscou porque a cidade era o centro da Internacional. Ele foi morar na região da Ucrânia que está em litígio, começou trabalhando numa mina de carvão e depois trabalhou no correio”, lembra.



A Batalha de Stalingrado foi  ponto de virada da guerra na Frente Oriental, marcando o limite da expansão alemã na URSS. Foto: Reprodução

Batalha de Stalingrado
No dia em que os nazistas invadiram a União Soviética, em 22 de junho de 1941, Wolf Lida se alistou no exército soviético, e não no polonês. “Ele passou a guerra toda na União Soviética. Lutou, inclusive, na Batalha de Stalingrado e, depois, ainda, foi para o Oriente lutar contra o Japão, mas foram lançadas bombas atômicas. E ele foi desmobilizado, voltando para Polônia”, conta.

Ainda muito criança, no Brasil, Dina passou a viver em uma atmosfera ligada diretamente não só ao PCB, mas aos partidos comunistas do movimento internacional. Ela ingressou no partido em 1961, no primeiro ano do governo de João Goulart. “Nós todos, os mais jovens, éramos mais ou menos filhos da Declaração de Março de 58, quando o partido muda toda a sua política e acaba tendo como estratégia permanente a aliança”.

Em sua juventude, Dina viveu um momento de muita efervescência cultural e política. Além de ver, de perto, o governo Jango, presenciou greves e lutas de camponeses e a série de tentativas de reformas urbanas, na época. Com atuação de destaque, ela chegou a ser dirigente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas. Nomes como os de Mário Schenberg e Salomão Malina passaram a ser ouvidos por ela ainda nos anos 1950.



Mario Schenberg: Considerado por Albert Einstein como um dos mais importantes cientistas de sua época. Foto: Reprodução

Mario Schenberg
Aos 15 anos de idade, Dina conheceu Mario Schenberg, em 1962, ano em que ele foi candidato a deputado estadual pela segunda vez, antes de ser eleito suplente, no período da democratização pós-Segunda Guerra Mundial. “Fiz a campanha dele. Ganhou, e ainda tinha mais três deputados eleitos, mas eles não foram empossados, porque o Tribunal Eleitoral disse que eram notórios comunistas e não poderiam assumir”, relata Dina.

Logo depois do golpe militar de 1964, a jovem ingressou na faculdade. Em seguida, Mário Schenberg foi preso. Ele, que era defensor do desenvolvimento da ciência e da tecnologia no Brasil, já era um dos maiores físicos do mundo e considerado por Albert Einstein como um dos mais importantes cientistas de sua época.

Apesar de ser renomado, conforme descreve Dina, Mário Schenberg, um dos fundadores do Conselho Mundial da Paz, “era uma pessoa muito simples”. Recebia os estudantes em casa para conversar. Além disso, trabalhou com os maiores vencedores de Prêmio Nobel do mundo.

“Ele não era uma pessoa interna do partido, mas era uma pessoa que nós podíamos apresentar em qualquer lugar do país e do mundo como uma pessoa que é preocupada com o Brasil e o mundo, contra guerra e defensor da igualdade entre as pessoas”, diz a professora aposentada da USP. Ela também é autora da biografia “Mario Schenberg: o cientista e o político”. O físico morreu, em novembro de 1990, aos 76 anos.



Salomão Malina, “figura ímpar do partido”, define Dina Lida Kinoshita. Foto: Acervo O Globo

Salomão Malina
Outro grande nome da história de Dina é Salomão Malina, definido por ela como “figura ímpar do partido”. Ele era de uma turma de descendentes de judeus nascidos no Brasil. Alistou-se na Força Expedicionária Brasileira (FEB) e lutou na Itália. “Ganhou o maior prêmio de heroísmo e bravura, que foi cassado”, conta a professora aposentada.

Na época, Salomão Malina era estudante de engenharia da hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e militava na juventude do partido. Abandonou tudo. Ao retornar ao Brasil, voltou com ainda mais energia política. Ele trabalhava na Tribuna Popular do Rio. Chegou a ser candidato a vereador, mas não foi eleito. Durante a ditadura, ele foi para o exílio.

Dina fortaleceu os laços com Salomão Malina depois da redemocratização do país, que ocorreu em 1985. No ano seguinte, os dois passaram a trabalhar juntos. “Uma pessoa firme, com ideias muito determinadas, mas, também, um ser humano doce, que conversava, na época, com muitos jovens intelectuais, recém-doutorados ou que ainda estavam estudando”, diz ela.

Diplomático, ele foi uma figura bastante emblemática para o fortalecimento do partido e também se preocupou com as relações exteriores. “Ele teve um câncer muito agressivo e parou de viajar. Confiava muito em mim. Como falo muitas línguas e conhecia muita gente no exterior, até por causa das comunidades judaicas, ele me mandava para tudo quanto é canto do mundo. Aprendi muito com ele”, relembra Dina.

“Não era um homem que tinha algum título universitário, mas tinha um nível intelectual muito alto. Ele foi o meu grande professor da política”, orgulha-se a professora aposentada da USP. Ela também integrou a executiva mundial da Associação Internacional dos Educadores para a Paz e o Conselho Mundial da Paz. Além disso, foi membro da Cátedra Unesco de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância.







Entrevista com Dina Lida Kinoshita

Confira a entrevista com Dina Lida Kinoshita para o evento virtual “Os judeus comunistas na história brasileira”, realizado ontem (29/7) pela Fundação Asatrojildo Pereira (FAP) e mediado pelo economista Sérgio Besserman Vianna. O debate virtual faz parte da série de eventos on-line da Fundação em pré-celebração do centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e teve transmissão em tempo real no portal da FAP, na página da entidade no Facebook e no canal dela no Youtube.




Sérgio Besserman: Narrativa do comunismo caiu com o Muro de Berlim

Economista vai mediar debate em pré-celebração ao centenário do PCB, no dia 29 de julho, a partir das 19h

Cleomar Almeida, da equipe da FAP

O economista Sérgio Besserman Vianna afirma que a narrativa do comunismo do século 20 desabou com o Muro de Berlim, em 1989, e pertence ao passado da história da humanidade. “Essa narrativa, estruturalmente, morreu de morte morrida, foi enterrada com estaca de madeira”, afirma ele, neto de judeus comunistas, ao portal da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília


Confira o vídeo:




Besserman vai mediar debate virtual sobre judeus comunistas na história brasileira, na quinta-feira (29/7), a partir das 19 horas, como parte da série de eventos on-line da FAP em pré-celebração do centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O evento terá transmissão em tempo real no portal da FAP, na página da entidade no Facebook e no canal dela no Youtube.



“Judeus que vieram para o Brasil antes da ascensão de Hitler ao nazismo, como meu avô e minha avó, tiveram uma experiência no leste europeu que assistiram a episódios revolucionários”, afirma. Ele é presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O economista lembra que alguns judeus anteciparam a vinda para o Brasil por perceberem que “o clima era muito desfavorável, com controle horroroso, perseguição, muitas mortes na Rússia do final do século 19, e nas primeiras décadas do século 20”.

“Alguns decidiram imigrar. Meu avô, por exemplo, antevendo os acontecimentos. Meu avô era polonês, numa parte que atualmente é Rússia, e minha avó era alemã, da parte que atualmente é Polônia”, relata o economista. No Brasil, segundo estimativas do IBGE, cerca de 120 mil pessoas se identificam como judeus.

Além dos partidos comunistas daquela região, havia também partido de judeus de esquerda, mas que não aderiam ao leninismo propriamente e não tinha diálogo com o sionismo. “Esses judeus, quando aqui chegam por São Paulo e Rio de Janeiro, vários deles trouxeram um lançamento dessa tradição de esquerda e aqui se organizaram”, lembra.


Webinários – 100 anos do PCB








“Mais ganancioso”
Besserman também observou que havia narrativa de um sistema estatal, “voltado para maximizar a acumulação da mesma forma do mais ganancioso dos capitalismos, mas com a única peculiaridade de ser estatal”.

“Ela também morreu, ficou moribunda, porque todas as experiências, sem nenhuma exceção, daquele socialismo real deram origem a ditaduras horrorosas e totalitarismos que, às vezes, foram responsáveis pela morte de dezenas de milhões de pessoas”, ressalta o economista.

O chamado socialismo real, segundo Besserman, foi incapaz de competir com o sistema de mercado, ao longo das décadas de 1970 e 1980, “terminando por desaparecer completamente como narrativa não apenas sobre a história da humanidade, mas como narrativa sequer de esquerda, porque não se pode, no século 21, chamar regimes antidemocráticos e pouco progressistas, do ponto de vista da cultura, de esquerda”. “Não era esquerda, era engano”.

Judeus e Marxismo
O estudo Judeus e Marxismo no Brasil: 1922 – 1960, do professor adjunto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Sydenham Lourenço Neto, mostra que, após a primeira guerra, sob o impacto da revolução russa, formaram-se no Brasil distintos grupos comunistas, reunindo principalmente militantes sindicais e intelectuais.

“Em 1921, na cidade do Rio de Janeiro, foi formado um grupo político, visando constituir um partido comunista de acordo com as 21 condições de adesão à III Internacional. No ano seguinte, este grupo fundou o PCB, em um congresso clandestino realizado na cidade de Niterói-RJ. Entre os fundadores destacavam-se Astrojildo Pereira e Otávio Brandão. Dois intelectuais de origem pequeno-burguesa”, escreveu Lourenço.

O pesquisador conta que, ainda nos primórdios da história do PCB, ingressaram no partido, alcançando rapidamente posto na direção do mesmo, indivíduos de origem judaica como Leôncio Basbaum, Mário Schenberg, Mauricio Grabois, José Gutman e um pouco mais tarde Jacob Gorender, Salomão Malina e Moises Vinhas.


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“Especialmente durante o episódio que ficou conhecido como a intentona comunista, a presença de judeus foi bastante expressiva. Estiveram envolvidos na preparação da rebelião, Olga Benário, Nute e Liuba Goifam, Guralski e Arthur Ernst Ewert, militantes que foram destacados pelo movimento comunista internacional para apoiar a ação liderada por Luis Carlos Prestes”, observou o pesquisador.

De acordo com a pesquisa, a prisão de alguns desses militantes ajudou a fomentar o mito do complô judaico bolchevique. O estudo atesta ser bastante complexo obter o número exato de militantes do PCB que tinham origem judaica para as duas primeiras décadas de vida desse partido.

“Em primeiro lugar, porque na maior parte desse período o PCB esteve na clandestinidade e evitava guardar registros precisos e centralizados com a identidade de seus militantes, em segundo lugar porque esses registros, quando existem, raramente fazem uma menção explicita a condição de judeu”, diz a pesquisa.

Para o período posterior este dado é mais facilmente encontrável e já existe pelo menos um estudo completo sobre a presença de judeus em uma seção estadual do PCB.

 “Nesse estudo, verificamos que entre os dirigentes do PCB do Paraná, entre os anos de 1945 e 1964, os judeus declarados somavam dez por cento do total. O dado é ainda mais revelador se lembrarmos que a maioria (70%) se declarava ateus, e os judeus formavam o maior grupo religioso, bem superior aos que se declaravam católicos”, diz a pesquisa.

Webinar da série sobre pré-celebração do centenário do PCB
Os judeus comunistas na história brasileira
Data:
 29/7/2021
Transmissão: a partir das 19 horas, no portal da Fundação Astrojildo Pereira, página da entidade no Facebook e canal no Youtube
Realização: Fundação Astrojildo Pereira (FAP)


Disputa pelo mercado de trabalho será marcada por competências, não títulos, diz Nelson Tavares Filho

Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP

Com carreira no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Norte, o economista Nelson Tavares Filho diz que “está havendo uma total mudança nas relações trabalhistas” no Brasil. “A questão maior agora é que as pessoas vão disputar o mercado de trabalho pelas suas competências, não mais pelo título”, afirma.

Confira o vídeo!

https://www.facebook.com/fundacaoastrojildofap/videos/793882214894824/

De acordo com ele, a habilidade para apresentar resultados passará a valer mais. “A competência para atender a determinadas demandas será fundamental”, afirma. “Obviamente, numa perspectiva de que a carteira assinada será quase um luxo de uma minoria, de 30% ou 40% [do total de trabalhadores]”, assevera.

Ele vai debater o papel dos sindicatos e o novo mundo do trabalho, no segundo encontro da série de webinar mensal sobre os 100 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que serão comemorados em março de 2022. O evento online será realizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP). Veja mais detalhes ao final desta reportagem.

“Olhar atualizado”

Mediadora do debate, a diretora executiva da FAP e presidente do Sindicato dos Bancários de Campinas (SP)Ana Stela Alves de Lima considera necessário “que o olhar sobre os trabalhadores se atualize”.

Ana Stela ressalta a maior possibilidade de celebração de acordos de trabalho diferenciados que contemplem trabalhadores e empresas, se os sindicatos tiverem um “olhar contemporâneo”, embora a reforma trabalhista permita inovações contratuais.


Podcasts da Rádio FAP – 100 anos do PCB


“Para que isso ocorra, é necessário compreender que não haverá volta à segurança da CLT, em todo o mundo do trabalho brasileiro. E os sindicatos são ainda uma forma de organizar estes trabalhadores”, assevera a presidente do sindicato.

Nelson, por sua vez, acredita que “a mão de obra mais bem formada está em xeque”. “E como vai ser daqui a 10 anos é uma incógnita”, observa. “Os direitos do trabalhador serão reformulados, uns acabarão, outros permanecerão, outros surgirão também”, ressalta.

Avançar

Ana Stela pontua, ainda, que considera importante a discussão sobre o avanço dos sindicatos em relação a questões não somente corporativas, como a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS).

“É preciso avançar na defesa da educação pública e outros temas. A luta puramente corporativa não politiza os trabalhadores e cria guetos”, acentua a bancária.

Em relação à história do PCB, o economista diz que “o partidão foi uma universidade”. “[O partido] ensinava você a interpretar a conjuntura política, e a militância no partido era de fundamental importância”, ressalta Nelson.

 


Série de webinar – 100 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB)https://www.facebook.com/fundacaoastrojildofap/videos/1433013897045004/


A seguir, confira a relação de participantes do webinar:

Ana Stela Alves de Lima:  mediadora, bancária, presidente do Sindicato dos Bancários de Campinas (SP) e diretora da FAP.
Lucília Neves Delgado: historiadora, professora da UnB e palestrante principal.
Nelson Tavares Filho: economista, aposentado pelo BNDES e ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Norte.
Comentaristas: Davi Zaia, Enilson Simões de Moura, Roberto Percinoto, Tarcísio Tadeu.

 

SERVIÇO

Webinar 100 Anos de PCB: Os sindicatos e o novo mundo do trabalho
Dia: 30/4/2021
Horário da transmissão: das 19h às 21h
Onde:  portal da FAP e redes sociais da entidade (Youtube e Facebook)

OBS: Os arquivos dos debates da Fundação Astrojildo Pereira ficam disponíveis para o público no portal e nas redes sociais da entidade, por tempo indeterminado

 

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Economista vai debater os sindicatos e o novo mundo do trabalho no segundo webinar da FAP sobre os 100 anos do PCB

Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP

Com carreira no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Norte, o economista Nelson Tavares Filho diz que “está havendo uma total mudança nas relações trabalhistas” no Brasil. “A questão maior agora é que as pessoas vão disputar o mercado de trabalho pelas suas competências, não mais pelo título”, afirma.

De acordo com ele, a habilidade para apresentar resultados passará a valer mais. “A competência para atender a determinadas demandas será fundamental”, afirma. “Obviamente, numa perspectiva de que a carteira assinada será quase um luxo de uma minoria, de 30% ou 40% [do total de trabalhadores]”, assevera.

Ele vai debater o papel dos sindicatos e o novo mundo do trabalho, no segundo encontro da série de webinar mensal sobre os 100 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que serão comemorados em março de 2022. O evento online será realizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP). Veja mais detalhes ao final desta reportagem.


Podcasts da Rádio FAP - 100 anos do PCB


“Olhar atualizado”

Mediadora do debate, a diretora executiva da FAP e presidente do Sindicato dos Bancários de Campinas (SP), Ana Stela Alves de Lima considera necessário “que o olhar sobre os trabalhadores se atualize”.

Ana Stela ressalta a maior possibilidade de celebração de acordos de trabalho diferenciados que contemplem trabalhadores e empresas, se os sindicatos tiverem um “olhar contemporâneo”, embora a reforma trabalhista permita inovações contratuais.

“Para que isso ocorra, é necessário compreender que não haverá volta à segurança da CLT, em todo o mundo do trabalho brasileiro. E os sindicatos são ainda uma forma de organizar estes trabalhadores”, assevera a presidente do sindicato.

Nelson, por sua vez, acredita que “a mão de obra mais bem formada está em xeque”. “E como vai ser daqui a 10 anos é uma incógnita”, observa. “Os direitos do trabalhador serão reformulados, uns acabarão, outros permanecerão, outros surgirão também”, ressalta.


Série de webinar - 100 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB)




Avançar

Ana Stela pontua, ainda, que considera importante a discussão sobre o avanço dos sindicatos em relação a questões não somente corporativas, como a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS).

“É preciso avançar na defesa da educação pública e outros temas. A luta puramente corporativa não politiza os trabalhadores e cria guetos”, acentua a bancária.

Em relação à história do PCB, o economista diz que “o partidão foi uma universidade”. “[O partido] ensinava você a interpretar a conjuntura política, e a militância no partido era de fundamental importância”, ressalta Nelson.

 

A seguir, confira a relação de participantes do webinar:

Ana Stela Alves de Lima:  mediadora, bancária, presidente do Sindicato dos Bancários de Campinas (SP) e diretora da FAP.
Lucília Neves Delgado: historiadora, professora da UnB e palestrante principal.
Nelson Teixeira: economista, aposentado pelo BNDES e ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Norte.
Comentaristas: Davi Zaia, Enilson Simões de Moura, Roberto Percinoto, Tarcísio Tadeu.

 

SERVIÇO

Webinar 100 Anos de PCB: Os sindicatos e o novo mundo do trabalho
Dia: 30/4/2021
Horário da transmissão: das 19h às 21h
Onde:  portal da FAP e redes sociais da entidade (Youtube e Facebook)

OBS: Os arquivos dos debates da Fundação Astrojildo Pereira ficam disponíveis para o público no portal e nas redes sociais da entidade, por tempo indeterminado

 

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Arquivos do jornal Voz da Unidade registram luta pela democracia no Brasil

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Produzido pelo PCB, semanário circulou de 1980 a 1991 e reforçou busca por unidade das forças democráticas no país

Cleomar Almeida, da equipe da FAP

Era 1979. Com o Brasil comandado pelo presidente João Figueiredo, cujo governo marca o último período da ditadura militar no país, intelectuais comunistas apostaram na informação como estratégia de fortalecimento da unidade das forças democráticas contra o regime. Começaram a organizar um semanário, ligado ao então PCB (Partido Comunista Brasileiro), protagonista da intensa luta pela redemocratização. No ano seguinte, nasceu a Voz da Unidade, que foi além das fronteiras partidárias para dialogar diretamente com a imensa população de trabalhadores.

Para acessar os arquivos do jornal Voz da Unidade, clique no link

Confira aqui o tutorial para acessar os arquivos do jornal Voz da Unidade (veja também o tutorial no final desta reportagem)

“Voz da Unidade surge para ser expressão e veículo de uma corrente de pensamento, cuja linha de ação está orientada para ajudar a classe operária e todas as forças democráticas do país a conseguirem que a solução dos problemas políticos, econômicos e sociais que afligem a nação se dê em benefício das grandes massas do nosso povo, rompendo com os privilégios dos monopólios, banqueiros e latifundiários”. É o que diz um trecho publicado na capa da primeira edição do jornal, em março de 1980. Todas as edições digitalizadas do semanário, que circulou até 1991, estão disponíveis para o público, a partir desta segunda-feira (21/09), no site da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília.

O jornal, que circulava legalmente, mantinha acesos os valores democráticos e republicanos defendidos, na época, pelo então PCB, e deu mais combustível à luta pela legalização do partido. A sigla só ficou legal por um breve período até 1947. A partir de então, ficou clandestina até 1985. Voz da Unidade também representa uma continuidade da linha do jornal mensal Voz Operária, que, em 1975, passou a ser editado na Europa por líderes que se tornaram perseguidos políticos e distribuído, até 1979, clandestinamente, no Brasil, que estava sob forte repressão política do regime ditatorial.

Luiz Carlos Azedo trabalhou no semanário por dois períodos: de 1980 a 1982, em equipe liderada pelo jornalista Noé Gertel

Com a publicação da Lei da Anistia, em 1979, que permitiu o retorno de exilados ao Brasil, os intelectuais encontraram mais uma força para rearticulação e defesa das frentes democráticas. “O partido, reconhecidamente, teve papel importante na formulação da estratégia da oposição para derrotar o regime militar e a Voz da Unidade, assim como a Voz Operária, registra como o processo político avançou na direção da unidade das forças democráticas para derrotar o regime”, afirma o jornalista Luiz Carlos Azedo (foto acima). Ele trabalhou no semanário por dois períodos: de 1980 a 1982, em equipe liderada pelo jornalista Noé Gertel, com a direção da redação ocupada por João Batista Aveline, e, de 1987 até a última edição, em 1991, quando foi diretor responsável do jornal.

A Voz da Unidade era pautada por assuntos de interesse público, relevantes e atuais, como política nacional e internacional, economia, cultura e meio ambiente. Em texto publicado em seu site e com o título “O PCB e o jornal Voz da Unidade”, o cientista político Marco Aurélio Nogueira, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), faz uma análise desde a primeira publicação do semanário.

Marco Aurélio Nogueira foi editor-chefe do jornal durante um ano, entre 1981 e 1982

“Eu estava entre os editores, em um Conselho de Orientação Editorial, de que participavam Gildo Marçal Brandão, Armênio Guedes e representantes do Comitê Central do partido. Na festa de lançamento do jornal, fui encarregado de fazer o discurso principal, em nome da redação, diante de milhares de pessoas que foram patrocinar o evento”, escreve Nogueira. Ele foi editor-chefe do jornal durante um ano, entre 1981 e 1982.

Atentado e tensão nas ruas

No início de década de 1980, ainda havia muita tensão nas ruas, e atentados assustavam a população, numa tentativa da ditadura militar de enfraquecer a redemocratização. Em um dos episódios, em agosto daquele ano, uma carta-bomba foi enviada à OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro), onde também funcionava o Conselho Federal da instituição. A chefe da secretaria, Lydia Monteiro da Silva, de 59 anos, morreu ao abrir o documento.

“Terroristas de direita passaram a explodir bombas em bancas de jornais, pressionando os jornaleiros a não venderem os jornais da chamada ‘imprensa alternativa’, que éramos nós. Uma covardia que gerou muita tensão. Fazer o jornal, distribuí-o e vendê-lo passou a ser muito arriscado”, conta o jornalista Marco Damiani, que começou como repórter-estagiário na Voz da Unidade e ressalta a correção do respeito aos direitos trabalhistas na publicação.

De acordo com Damiani, o PCB sempre foi muito sério no apoio à Voz da Unidade. “Todos trabalhávamos com muito entusiasmo. Minha primeira reportagem importante foi a cobertura das greves operárias do ABC, em 1980”, afirma. “Acompanhei as assembleias histórias no estádio de Vila Euclides, em São Bernardo, com helicópteros do Exército fazendo pressão com sobrevoos, Lula discursando e 100 mil trabalhadores em luta”, lembra ele, ressaltando o período de grande efervescência operária.

Das diversas reportagens que produziu para o semanário, Damiani destaca uma em que ouviu dirigentes dos demais jornais de esquerda, que igualmente eram atingidos pelas bombas nas bancas e sofriam a pressão brutal contra a liberdade de imprensa e circulação dos jornais. “Os camaradas da redação tiveram a consciência de criar uma pauta ampla, em que todas as outras linhas da esquerda se manifestavam. Para aquela época de radicalização, foi uma matéria muito avançada. Mais uma que enfrentava diretamente a ditadura”, diz ele.

“O jornal era rodado no começo numa gráfica do aeroporto. A Polícia Federal passava lá para pegar exemplares. Tinha sempre essa linha de patrulhamento, de monitoramento, da ditadura militar”, afirma o administrador Carlos Fernandes, que, na década de 1980, era bastante engajado na organização de festas e eventos do partido. Depois, passou a participar da produção e pré-impressão do semanário.

Martin Cezar Feijó também atuou como editor de Cultura da Voz da Unidade a partir de 1985

A parte de cultura também teve a colaboração de grandes nomes, como o do historiador e doutor em comunicação pela USP (Universidade de São Paulo) Martin Cezar Feijó. Na época, seu primeiro artigo na Voz da Unidade abordou documentos brasileiros sobre a guerra do Paraguai, um dos maiores conflitos armados da América do Sul na segunda metade do século XIX. “O jornal era uma resistência cultural”, diz ele.

Feijó voltou à Voz da Unidade como editor de cultura, em 1985, no mesmo ano em que o partido retornou à legalidade. Nesse cargo, seu primeiro trabalho publicado foi uma entrevista com o então ministro da Cultura do governo de José Sarney, Celso Furtado, autor de diversos livros, entre os quais Formação Econômica do Brasil. “Me chamou atenção a visão conceitual dele. Era um homem de letras, de literatura, conhecia muito a parte cultural. Tinha visão muito ampla da relação entre cultura e democracia no sentido de valorizar espaços públicos e, principalmente, a liberdade”, lembra o historiador.

Política e história do país de perto

Um ano depois de Feijó se tornar editor de cultura, o jornalista e analista político Alon Feuerwerker deixou a Voz da Unidade, onde entrou em 1981 e foi editor de política, para ir trabalhar na Folha de S. Paulo. Ele lembra que, no final de 1982, a Polícia Federal invadiu a sede do jornal, onde seria realizado o congresso do PCB, em São Paulo. “Foi todo mundo preso. O ato da prisão em si foi uma violência política”, afirma ele, que foi preso de manhã e solto à noite. O caso lhe rendeu processo na Justiça militar, que só foi extinto com o fim da ditadura militar.

Alon Feuerwerker: "A Voz da Unidade é uma narrativa da história do Brasil"

Feuerwerker conta que, naquela época, o volume de trabalho era muito grande em razão das intensas discussões políticas no Brasil e no mundo, o que, segundo ele, permitia aos colaboradores do semanário acompanhar a história do país bem de perto. “É um documento importante porque, mesmo que expresse o ponto de vista do PCB naquela época e esteja concentrado nisso, a Voz da Unidade é uma narrativa da história do Brasil. Pode concordar com foco da narrativa, ou não, mas é documento histórico”, destaca ele.

Com a saída de Feuerwerker para outro jornal, o jornalista Luiz Carlos Azedo foi convidado pelo dirigente Salomão Malina a voltar para a Voz da Unidade como editor de política em São Paulo. Depois, Azedo, que era membro da executiva do PCB, tornou-se diretor responsável do semanário, sendo editor-chefe o jornalista Antônio Romane. “Eu me remetia diretamente ao Malina, que, aliás, nunca me pediu para ler um editorial antes de ser publicado”, diz o jornalista.

Na época, o jornal vivia uma contradição entre a discussão das mudanças que estavam no mundo – e, posteriormente, levaram ao fim da União Soviética, em 1991 – e sobre o nome do Partido Comunista Brasileiro. “Havia a ortodoxia da direção e a pressão pela mudança. Era uma tensão que se refletia no jornal”, explica Azedo. Segundo ele, a falta de recursos financeiros impediu a sobrevivência da Voz da Unidade.

A última edição do jornal circulou em junho de 1991, dedicada especialmente às resoluções políticas do 9ª Congresso do PCB no Rio de Janeiro, onde também o então deputado federal Roberto Freire foi eleito o novo presidente nacional do partido, com a promessa de promover a radical renovação da sigla. Em 1992, no congresso realizado no Teatro Zaccaro, em São Paulo, o PCB abandonou o símbolo da foice e do martelo e mudou de nome para PPS (Partido Popular Socialista), que, por sua vez, em 2019, passou a se chamar Cidadania, incorporando segmentos importantes ligados aos chamados movimentos cívicos.

A Voz da Unidade foi um pilar essencial para a construção da unidade das forças democráticas que derrotaram o regime militar. Foi um veículo corajoso, comprometido com as lutas sociais e a democratização do país.

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FAP publica arquivo de edições digitalizadas do jornal Voz Operária

Para acessar as edições do jornal Voz da Unidade, siga os seguintes passos:

1 – Acesse o Terminal – Shophia Bliblioteca Web por meio do link https://biblioteca.sophia.com.br/terminal/7828

2 – Na caixa de pesquisa, digite Voz da Unidade. Clique em pesquisar. Em seguida, você visualizará as imagens das edições disponíveis.

3 – Clique em uma das imagens para visualizar o conteúdo disponível na Biblioteca e as informações da publicação.

4 – Após clicar na imagem, você acessará a página da publicação, contendo as informações sobre ela e os links disponíveis para download dos arquivos no formato .PDF. Para acessar o conteúdo, clique em um dos links disponíveis.

5 – Após o download do arquivo no formato .PDF, basta clicar no mesmo, na barra inferior do seu navegador, para que o mesmo seja visualizado.


FAP publica arquivo de edições digitalizadas do jornal Voz Operária

FAP publica arquivo de edições digitalizadas do jornal Voz Operária

Jornal foi produzido pelo Órgão Central do Partido Comunista, de 1975 a 1979

Cleomar Almeida, da equipe da FAP

Bafejada pela ascensão da frente antiditatorial, pela convergência dos imensos interesses que se chocam com os diversos aspectos da política do fascismo, toda a oposição, e no  seio dela o PCB [Partido Comunista Brasileiro], participa das eleições com um programa que tem como fulcro a conquista de um regime de amplas liberdades para o povo. Um programa que se irá detalhando, tanto no nível nacional como regional, na medida em que as massas se incorporem à frente antiditatorial e apresentem, por sua iniciativa e criatividade, soluções concretas para as grandes e pequenas questões que hoje atormentam sua existência. Não soluções quaisquer, e sim aquelas que atendam a seus interesses vitais.

A resistência antifascista do povo brasileiro tem sido longa e difícil. O regime ainda tem reservas, consegue contra atacar e criar obstáculos à ascensão do movimento de massas, que adquiriu novo ímpeto a partir das eleições de 1974. Desde então, a tática de participar nas eleições, sempre defendida pelos comunistas, adquiriu legitimidade irrefutável. Porque elas possibilitam canalizar e polarizar o descontentamento das grandes massas.

Gráfica clandestina onde era editado a Voz Operária

O trecho acima é do editorial da edição 128 da Voz Operária, jornal que era produzido pelo Órgão Central do Partido Comunista e do qual levava o mesmo nome, publicada em novembro de 1976. Um ano antes, em edição especial italiana, passou a ser editado na Europa por líderes que se tornaram perseguidos políticos e distribuído, clandestinamente, no Brasil, tomado pela ditadura militar. A veiculação mensal de cada edição, cada uma com oito páginas, seguiu até 1979, quando foi publicada a Lei da Anistia, que garantiu o retorno de exilados ao país.

Clique aqui e acesse o arquivo digitalizado do jornal Voz Operária!

Todas as edições do jornal nesse período foram digitalizadas e disponibilizadas ao público no site da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília. A entidade é vinculada ao Cidadania, que deu nova identidade política ao PPS (Partido Popular Socialista), originado do extinto PCB (Partido Comunista Brasileiro), fundado em 1922. A Voz Operária, que propunha diálogo, ação conjunta e fortalecimento das massas, permite hoje um resgate político da luta pela redemocratização do Brasil na segunda metade dos anos 1970 e serve como documento de referência para consolidação da esquerda democrática, segundo especialistas.

“Nessa linha de resgatar a luta pela redemocratização, pode-se ver na publicação um esforço para preservar uma cultura política, a democracia progressiva, um padrão de reformismo não liberal, a busca de diálogo ampliado e a articulação dos democratas. Essa cultura, que é do PCB, foi e continua sendo decisiva”, analisa o cientista político Marco Aurélio Nogueira, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e conselheiro da FAP.

No Brasil, em março de 1975, foi publicada a última edição da Voz Operária impressa, cuja manchete era “Viver e lutar”. O responsável por essa edição, jornalista Orlando Bonfim Júnior, foi sequestrado e assassinado pela ditadura militar, quando tentava reorganizar a circulação do jornal, assim como o então secretário da Juventude Comunista, José Montenegro Lima, que colaborava com essa tarefa.

A Voz Operária passou a ser impressa no exterior após a ditadura militar desmantelar quatro gráficas clandestinas no Brasil, a última delas em dezembro de 1974, em Jacarepaguá (RJ). Na ocasião, foi preso o ex-deputado Marco Antônio Tavares Coelho, que era membro da executiva nacional, acusado de tentar reorganizar o partido.

“NESSA LINHA DE RESGATAR A LUTA PELA REDEMOCRATIZAÇÃO, PODE-SE VER NA PUBLICAÇÃO UM ESFORÇO PARA PRESERVAR UMA CULTURA POLÍTICA, A DEMOCRACIA PROGRESSIVA, UM PADRÃO DE REFORMISMO NÃO LIBERAL, A BUSCA DE DIÁLOGO AMPLIADO E A ARTICULAÇÃO DOS DEMOCRATAS. ESSA CULTURA, QUE É DO PCB, FOI E CONTINUA SENDO DECISIVA”

Marco Aurélio Nogueira, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e conselheiro da FAP

Na Europa, a redação da Voz Operária era formada pelo editor Milton Temer, que trabalhava em conjunto com Mauro Malin, Aloysio Nunes, Leandro Konder, Carlos Nelson Coutinho, Ivan Ribeiro e Antonio Carlos Peixoto, sob a direção de Armênio Guedes. Os cinco últimos morreram. “Eu era o editor, diagramador, levava o jornal para ser impresso em Roma, pelo Partido Comunista Italiano, porque era editado em Paris”, conta Temer, que é jornalista, ex-constituinte estadual pelo PT do Rio de Janeiro, ex-deputado federal por dois mandatos e oficial de Marinha cassado em 1964.

“Levava as impressões de Roma para Paris e a distribuição era feita de maneira que não fosse localizado o bairro em que estava o escritório. Saía em todos os subúrbios, colocando uma parte em cada um deles, para que não se localizasse o centro gerador do jornal”, lembra Temer, que estava na Federação Mundial da Juventude, em Budapeste (Hungria), quando o partido o mandou a Paris, a fim de começar a implantar no exterior a edição do Voz Operária, a mando de Luiz Carlos Prestes. “Aprendi na marra a diagramar, além de pautar e formar uma redação mínima”, conta.

Na Europa, a redação da Voz Operária era dirigida por Armênio Guedes. Foto: Peu Robles

A clandestinidade ocorreu por causa da intensa perseguição da ditadura militar contra militantes e lideranças do PCB. Os colaboradores assinavam com pseudônimos. Autor do livro “Armênio Guedes: um comunista singular”, que dedica um capítulo para o Voz Operária, o jornalista e historiador Mauro Malin destaca a relevância do jornal e lembra que a publicação convergia diferentes opiniões e propostas. Segundo ele, depois de 1964, o PCB não tinha a opção de lutar por sua legalização.

“Todos os partidos foram extintos em 1965 pelo AI-2 e o regime só permitiu a existência de um partido de apoio, a Arena, e um de oposição, o MDB. E o PCB, desde que se manifestou oficialmente pela primeira vez depois do golpe, apontou o caminho do trabalho legal, de massas”, explica o jornalista. “As únicas coisas clandestinas eram a estrutura partidária, com a respectiva arrecadação de finanças, e o órgão central, a Voz Operária, que, desbaratado na passagem de 1974 para 1975, passou a ser feito no exterior, para onde se haviam deslocado vários integrantes do comitê central”, ressalta.

Em 1976, Malin saiu do Brasil para não ser preso. Foi para os Estados Unidos, onde ficou alguns meses. Depois, seguiu até Paris, passando antes pela Cidade do México e Roma. “A Voz Operária veiculou sempre uma política mais acertada para enfrentar a ditadura. A proposta política sempre foi fazer trabalho de massa, constituição de entidades e organizações. Um debate de feição mais teórica do mundo da economia e política”, ressalta o historiador.

“TODOS OS PARTIDOS FORAM EXTINTOS EM 1965 PELO AI-2 E O REGIME SÓ PERMITIU A EXISTÊNCIA DE UM PARTIDO DE APOIO, A ARENA, E UM DE OPOSIÇÃO, O MDB. E O PCB, DESDE QUE SE MANIFESTOU OFICIALMENTE PELA PRIMEIRA VEZ DEPOIS DO GOLPE, APONTOU O CAMINHO DO TRABALHO LEGAL, DE MASSAS”
Mauro Malin, jornalista e historiador

Ao longo de suas edições, a Voz Operária destacava frases de ordem política, como “o povo exige democracia, paz e liberdade”, “liberdade para os presos políticos”, “fim à censura, à tortura e ao terror fascista”, “legalidade para todos os partidos políticos” e “o voto é uma arma do povo”. Via, também, nas eleições municipais, forte caminho na luta contra a ditadura militar. “Eleições municipais: um não ao regime”, destacou em uma edição. O jornal também garantia espaço a reivindicações da pauta econômica, enfatizando mensagens como “o petróleo tem que ser nosso”, “abaixo o arrôcho (sic) salarial” e “abaixo o custo de vida”.

O cientista político Marco Aurélio Nogueira considera que a publicação dos arquivos digitalizados da Voz Operária também faz o resgate da memória do PCB, que foi o primeiro partido de massas organizado no Brasil e, segundo ele, teve grande importância. “Com altos e baixos, para o bem e o mal, porque o PCB, ao longo de sua história, carregou os ‘demônios’ do comunismo histórico, particularmente do stalinismo. Sempre houve um esforço grande dentro do partido para salvá-lo desses ‘demônios’ do comunismo histórico”, diz.

Além de ser instrumento de reflexão sobre a política nacional e a correlação de forças, a Voz Operária ajuda hoje a olhar o Brasil considerando o processo histórico, político e social, segundo o conselheiro da FAP. De acordo com ele, a lição é de que “não há nenhum mal que dure para sempre e que não possa ser superado, como ocorreu com a ditadura militar”.

“Pensar na Voz Operária é fazer um esforço para entender que as esquerdas existem como força viva e têm contribuído, ao longo do tempo, para a luta democrática, de diferentes maneiras”, ressalta o professor da Unesp. “Assim como, nos anos 1970, foi importante se afirmar que a articulação dos democratas era a base para enfrentar vitoriosamente a ditadura, hoje essa questão se impõe com a mesma ênfase”, afirma.