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Marco Aurélio Nogueira: Fazendo o que o mestre mandar

Osmar Terra previu que o coronavírus seria leve no Brasil, com no máximo 800 óbitos. Agora, fala que o problema é sério. Mas continua a banalizar a situação: o que são 11 mil mortos perante a desgraça econômica que a quarentena produz?

O deputado Osmar Terra (MDB-RS) tem 70 anos, é médico, formado pela UFRJ. Na juventude, andou pelo PCdoB e pela ala esquerda do PMDB. Chegou a fazer campanha pela reforma sanitária e pelo SUS. Foi prefeito de Santa Rosa e secretário da Saúde no Rio Grande do Sul. Virou ministro do Desenvolvimento Social no governo de Michel Temer.

Apesar disso, não é propriamente um quadro brilhante. Mexe-se e articula bem, pelo que dizem. Foi ganhando projeção e se tornou estrela de primeira grandeza quando Bolsonaro assumiu. Tornou-se reacionário assumido, ampliando a pauta conservadora que foi modelando ao longo da carreira. Durante dois meses, passou pelo ministério da Cidadania do novo governo, terminando por ser substituído por Ônix Lorenzoni sem nem ter esquentado a cadeira.

No sábado à noite, participou de um debate na GloboNews com o ex-ministro Mandetta e o senador Humberto Costa (PT-PE). Uma bancada de médicos, propícia a uma discussão de alto nível.

Acontece que Terra não é propriamente uma pessoa independente, ou particularmente responsável. Está no circuito para causar e reverberar as posições governamentais. Foi ao debate com uma única ideia fixa: denunciar o isolamento social, a quarentena, o combate firme ao coronavírus.

A defesa foi recheada de momentos patéticos. Chegou-se ao ápice quando o deputado enfatizou que tudo o que Bolsonaro fala e faz segue parâmetros científicos. E quando argumentou que a disseminação do vírus é tanto maior quanto mais as pessoas ficam em casa, pois é em casa que a infecção se generaliza. Esqueceu-se de dizer que o vírus só pode circular em um ambiente fechado se alguém levá-lo para lá, vindo da rua sem cuidados higiênicos rigorosos.

Osmar Terra é o mesmo que, em março do corrente ano, disse que o coronavírus passaria pelo Brasil sem deixar vestígios, prevendo que no máximo seriam 700 ou 800 óbitos, coisa pouca. Lembram?

Agora, ele admite que o problema é mais sério. Continua, porém, a banalizar a situação. O que são 11 mil mortos perante a desgraça econômica que a quarentena produz?

Com desfaçatez extravagante, contrariando médicos e pesquisadores do mundo todo, ele apresentou gráficos para mostrar que o curso do coronavírus não é diferente do curso de outros vírus, como o H1N1. Apresenta a mesma curva, a mesma evolução em 13 semanas (?), é só esperar com calma que tudo passará sem deixar maiores sequelas, além da perda triste de algumas vidas. Desnorteante.

Para ele, as mortes em série são causadas pela quarentena. Presas em casa as pessoas se contaminam com mais facilidade. Deveriam ser liberadas para ir à praia, às praças e – surpresa! – aos shoppings centers, que seriam tão higiênicos quanto farmácias e supermercados.

Os que com ele debateram longamente deram um baile. Não se cansaram de alertar para a ameaça pública inerente às posições de Terra, que são as mesmas de Bolsonaro. Ele nem corou. Seguiu impávido, pouco se importando em passar por farsante, sustentado por um ostensivo despreparo técnico-científico e por uma sabujice extrema.