Orlando Thome Cordeiro
‘Polo democrático precisa construir agenda mínima e ter cara’, diz consultor estratégico
Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP
O consultor estratégico Orlando Thomé Cordeiro faz um alerta sobre a necessidade de se criar uma alternativa aos nomes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “É imprescindível que o chamado Polo Democrático construa uma agenda mínima, olhando para frente, para o futuro”, afirma, em artigo publicado na revista Política Democrática Online de maio.
O polo democrático deve “deixar claro quais os pontos básicos que uma candidatura desse campo tem a oferecer para a população”, afirma, na publicação, produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania. “Em complemento, há que se produzir a narrativa adequada para que as ideias-força sejam comunicadas de maneira a emocionar, engajar e mobilizar”.
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Na avaliação do consultor, a agenda e a narrativa mobilizadoras necessitam de um nome que as represente. “Precisa ter cara! Ser percebida pelo eleitorado como competitiva para conseguir chegar ao segundo turno e derrotar qualquer um dos dois atuais favoritos. É uma decisão pra já! Como disse o poeta, não temos tempo a perder”, escreve ele, na revista Política Democrática Online.
“É evidente que Bolsonaro não joga sozinho nesse campo, e a oposição não petista, mesmo não tendo encontrado ainda o melhor caminho para derrotá-lo, tem procurado se mexer. Uma coisa é certa, porém: uma dispersão de candidaturas provocará a repetição do que aconteceu em 2018”, afirma. “É possível evitar isso?”, questiona.
De acordo com Cordeiro, a polarização representada pelas candidaturas de Lula e Bolsonaro só interessa a eles. “Afinal, trata-se de um processo de retroalimentação. Não tem, no entanto, efeito prático algum criticar tal polarização sem apresentar alternativa capaz de atrair aquela parcela do eleitorado que prefere não votar em nenhum dos dois”, assevera.
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A íntegra do artigo de Cordeiro está disponível, no portal da FAP, para leitura gratuita na versão flip da revista Política Democrática Online, que também tem artigos sobre política, economia, tecnologia e cultura.
O diretor-geral da FAP, sociólogo Caetano Araújo, o escritor Francisco Almeida e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques compõem o conselho editorial da revista. O diretor da publicação é o embaixador aposentado André Amado.
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Fonte:
RPD || Orlando Thomé Cordeiro: Não temos tempo a perder!
No mês passado, ultrapassamos o número de 400 mil mortes na pandemia. Desse total, mais da metade foi no primeiro quadrimestre de 2021. Uma tragédia que, certamente, poderia ser minimizada não fora a combinação de negacionismo e incompetência do governo Bolsonaro.
Também em abril, dia 27, tivemos a instalação da CPI no Senado com a participação de 18 parlamentares, sendo 11 titulares e 7 suplentes. Apesar de todas as tentativas o governo federal, a presidência e a relatoria ficaram com o grupo formado pela oposição que promete trabalhar com a faca nos dentes.
Já no dia 30 foram divulgados os dados do desemprego para o trimestre encerrado em fevereiro: 14,4%. Isso significa que 14,4 milhões de pessoas estão na fila por um trabalho no país, o maior contingente desde 2012, início da série histórica.
No mesmo mês, após muitas idas e vindas, o orçamento anual foi sancionado com muitas restrições e incertezas quanto à sua aplicação. Não está claro, por exemplo, como o governo fará para liberar as emendas parlamentares sem desrespeitar o teto de gastos.
Para ampliar as preocupações do presidente, desde dezembro de 2020 as pesquisas passaram a apontar aumento significativo nos índices de desaprovação do presidente e de seu governo. Adicionalmente, a volta do ex-presidente Lula à disputa eleitoral reaqueceu a polarização entre os dois que vêm liderando as intenções de voto para 2022.
Diante desses fatos, tenho lido e ouvido diversas análises feitas por especialistas de ótima reputação dando como certo que, nessa batida, Bolsonaro estará fora do segundo turno. Bem, considero enorme equívoco e permito-me afirmar que, até o momento, a tendência é ele estar presente naquela fase da disputa em 2022. Apresento a seguir algumas razões para minha assertiva.
Iniciada em 2008, na campanha de Obama à presidência dos EUA, as redes sociais passaram a fazer parte do debate político e das contendas eleitorais. Desde então, sua influência na formação de grupos e definição de voto vem crescendo vertiginosamente a ponto de muita gente, inclusive eu mesmo, ter-se surpreendido com seu papel em 2018.
Nesse território, Bolsonaro continua a reinar quase absoluto, mantendo parcela de 16% a 18% de apoiadores fiéis. Some-se a esse nicho algo em torno de 14% que, mesmo tendo críticas ou algum grau de arrependimento, não têm demonstrado disposição para mudar seu voto em 2022, principalmente diante da candidatura petista.
Outro fator tem a ver com a economia. Se 2021 tende a ser marcado por muitas dificuldades, a expectativa para o próximo ano é que haja razoável retomada propiciada, em grande parte, pelo provável crescimento no número de pessoas vacinadas até dezembro, podendo abranger toda população a partir de 30 anos de idade.
Em relação ao orçamento, segundo o economista Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro, Bolsonaro terá espaço de R$ 111 bilhões para ampliar as despesas em 2022, tendendo a ser o ano mais tranquilo para o presidente cumprir o teto de gastos, regra que atrela o crescimento das despesas à inflação. Desse total, o governo deverá contar com cerca de R$ 40 bilhões para gastar livremente, justamente em ano eleitoral.
É evidente que Bolsonaro não joga sozinho nesse campo, e a oposição não petista, mesmo não tendo encontrado ainda o melhor caminho para derrotá-lo, tem procurado se mexer. Uma coisa é certa, porém: uma dispersão de candidaturas provocará a repetição do que aconteceu em 2018. É possível evitar isso?
Cristalino está que a polarização representada pelas candidaturas de Lula e Bolsonaro só interessa a eles. Afinal, trata-se de um processo de retroalimentação. Não tem, no entanto, efeito prático algum criticar tal polarização sem apresentar alternativa capaz de atrair aquela parcela do eleitorado que prefere não votar em nenhum dos dois.
É imprescindível que o chamado Polo Democrático construa uma agenda mínima, olhando para frente, para o futuro. Deixar claro quais os pontos básicos que uma candidatura desse campo tem a oferecer para a população. Em complemento, há que se produzir a narrativa adequada para que as ideias-força sejam comunicadas de maneira a emocionar, engajar e mobilizar.
São condições necessárias, mas insuficientes. Agenda e narrativa mobilizadoras necessitam de um nome que as represente. Precisa ter cara! Ser percebida pelo eleitorado como competitiva para conseguir chegar ao segundo turno e derrotar qualquer um dos dois atuais favoritos. É uma decisão pra já! Como disse o poeta, não temos tempo a perder.
* Orlando Thomé Cordeiro é consultor em estratégia.
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de maio (31ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
Fonte:
Orlando Thomé Cordeiro: O prioritário e o importante na gestão pública
Imagine que uma pessoa vai ao supermercado levando determinada quantia em dinheiro e uma lista de compras composta apenas por produtos considerados essenciais. Porém, na hora de passar no caixa, a desagradável surpresa: o dinheiro não dá para pagar a conta. O que fazer? Nas diversas palestras e cursos que ministrei, quando esse problema é apresentado aos participantes, a maioria, invariavelmente, responde que a solução é comprar apenas o que é importante. Porém, ao serem lembrados de que na descrição do problema todos os produtos da lista eram definidos como essenciais, a resposta é um silêncio ensurdecedor.
Tal impasse permite construir a seguinte compreensão: prioridade é escolher o que será deixado de lado a cada momento, ainda que importante ou essencial. Em outras palavras, chega-se ao que é prioritário por exclusão. Sem dúvida são escolhas difíceis. Essa é a razão de vermos dirigentes em muitas organizações orientarem as equipes afirmando que “tudo é prioritário”. Na verdade, significa que nada é prioritário.
Quando isso acontece na iniciativa privada, trata-se de problema restrito à gestão das empresas. Porém, na administração pública, tal confusão costuma nos levar a cenários de descontrole orçamentário, trazendo como consequência direta a queda na qualidade dos serviços públicos, muitas vezes podendo chegar à redução da oferta ou mesmo à sua interrupção. E quem paga o pato é a população.
Como se sabe, o país atravessa um dos seus piores momentos em termos de finanças públicas. Se considerarmos apenas o governo federal, em 2018 completaram-se cinco anos consecutivos de deficit, e as previsões para 2019 e 2020 são igualmente negativas. O quadro é ainda mais dramático quando olhamos para estados e municípios. É nesse momento que gestores públicos precisam ter maturidade e, principalmente, coragem para saber identificar o que é prioritário, definindo com clareza o que precisará ser deixado de lado. Afinal, os recursos são finitos.
Tomemos o exemplo da educação pública. Especialistas de diversas correntes políticas e ideológicas afirmam que não há como o Brasil atingir um patamar mais elevado de desenvolvimento sem investimento em educação, especialmente nos segmentos que compõem a educação básica. Aparentemente, temos aqui um consenso, mas, infelizmente, não passa de falsa impressão.
Nos últimos 16 anos, os sucessivos governos, com apoio do Congresso Nacional, optaram por destinar a maior parte dos recursos orçamentários da educação para o ensino superior. No ano em curso, o orçamento da União prevê cerca de R$ 122 bilhões para o MEC, com a seguinte distribuição entre as áreas: R$ 33,8 bilhões para o ensino superior, R$ 23,5 bilhões para a educação básica (já incluídas as transferências para estados e municípios) e R$ 12,2 bilhões para a educação profissional.
Como se vê, a educação básica recebe apenas 19% do total, enquanto 28% são destinados ao ensino superior. Na comparação direta entre os dois segmentos, o orçamento do ensino superior é 44% maior que o da educação básica. Diante desse cenário, a quase totalidade de especialistas apela para o mantra “em educação tudo é prioritário”. Ora, isso é verdadeiro absurdo. Não se trata de desconhecer a importância do ensino superior, mas compreender que, quando não se têm recursos suficientes para fazer tudo, torna-se imprescindível escolher o que deixaremos de fazer e definir, verdadeiramente, o que é prioritário nessa área vital para o país. E aí, lamentavelmente, fica evidente que a educação básica só é prioridade da boca pra fora.
A incapacidade de gestores públicos definirem prioridades não se limita à área de educação, sendo uma característica presente na grande maioria das administrações municipais, estaduais e federal. A boa notícia é que existe solução, mas sua implantação é bastante desafiadora, porque passa por uma indispensável e profunda mudança cultural que leve gestores públicos a substituírem a predominante visão imediatista por uma gestão apoiada em planejamento e transparência, além de contarem com equipes capacitadas para conseguirem realizar muito com poucos recursos, o mais com menos. Com base na minha experiência e mantendo o necessário otimismo, tenho a expectativa de ser possível evoluirmos como sociedade para aprendermos a separar o importante do prioritário e, dessa forma, contribuir diretamente para que gestões públicas possam reproduzir tal comportamento.