Operação Skala
Luiz Carlos Azedo: Sábado de Aleluia
A Operação Skala segue o padrão da Operação Lava-Jato, que se baseou na experiência do caso Banestado. Um velho inquérito da PF no Porto de Santos serve de fio da meada para a investigação
Antigamente, os católicos romanos praticavam um jejum limitado durante o Sábado de Aleluia, com abstinência de carne vermelha, que era substituída por peixes. No mesmo dia, também se fazia a tradicional “Malhação de Judas”, representando a morte de Judas Iscariotes, discípulo que teria traído Jesus Cristo. É um costume de origem medieval, que remonta aos tempos da Inquisição na Península Ibérica, na qual bruxas, hereges, judeus e ciganos eram apedrejados e queimados vivos. Ainda hoje, aqui no Brasil, bonecos de pano, palha e outros materiais simbolizam a figura de Judas. Populares se reúnem e “torturam” o boneco, simulando a sua morte das mais diferentes formas, seja enforcado em árvores ou queimado numa grande fogueira. A malhação de Judas costuma ser um suplício para os políticos impopulares, principalmente às vésperas das eleições, pois seus adversários se aproveitam da insatisfação para execrá-los em praça pública. É do jogo.
O Sábado de Aleluia do presidente Michel Temer foi uma espécie de malhação de Judas na mídia, em razão da prisão do advogado José Yunes, seu ex-assessor na Presidência, do coronel da reserva João Baptista Lima Filho e do ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, seus amigos de longa data. Foram decretadas a pedido da Procuradoria-Geral da República, no inquérito que investiga pagamento de propina para edição do decreto dos Portos que prorrogou concessões de empresas que operam no setor por mais de 30 anos. Temer também é alvo da investigação e já tinha o sigilo bancário quebrado por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Roberto Barroso.
O Palácio do Planalto ficou assombrado com a possibilidade de Temer sofrer uma terceira denúncia do Ministério Público Federal, em razão da Operação Skala. A situação está tão tensa que os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral), Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional) e Gustavo Rocha (Direitos Humanos e Subchefia de Assuntos Jurídicos) foram chamados ao Palácio da Alvorada, na tarde de ontem, para examinar a situação. Mais cedo, Temer esteve com o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, seu advogado no caso, para traçar sua estratégia de defesa. As duas denúncias anteriores tinham relação com a delação premiada dos donos da JBS e foram barradas na Câmara dos Deputados pela base governista. Na ocasião, Temer denunciou a existência de um complô para derrubá-lo da Presidência e foi para cima do então procurador-geral da República Rodrigo Janot. A investigação sobre o porto de Santos, porém, havia sido desmembrada do caso e, por isso, prosseguiu, tendo como relator o ministro Barroso. Ontem, no Palácio do Planalto, voltou a se falar de complô.
Um dos focos da investigação é Argeplan, empresa do coronel reformado da PM paulista João Baptista de Lima Filho, amigo próximo de Temer, preso na operação, que há mais de seis meses se recusa a prestar depoimento. Alega falta de condições de saúde. Ontem, mais uma vez, o ex-militar permaneceu em silêncio. Segundo Barroso, “a Argeplan, agora oficialmente com o investigado João Baptista Lima Filho como sócio, tem se capitalizado por meio do recebimento de recursos provenientes de outras empresas – as interessadas na edição do denominado decreto dos portos – e distribuído tais recursos para os demais investigados”.
Delações
A Operação Skala segue o mesmo padrão da Operação Lava-Jato, que se baseou na experiência do caso Banestado. Um velho inquérito da Polícia Federal no Porto de Santos serve de fio da meada para investigar o que seria um bilionário esquema de favorecimento de empresas de comércio exterior e distribuição de propinas para políticos, envolvendo empresas do setor e amigos do presidente da República. Foram presos os empresários Antônio Celso Grecco, dono da Rodrimar, empresa que opera no porto há mais de 30 anos; Celina Torrealba, uma das donas do Grupo Libra; Eduardo Luiz de Brito Neves, proprietário da MHA Engenharia; Maria Eloisa Adensohn Brito Neves, sócia nas empresas MHA Engenharia e Argeplan; Carlos Alberto Costa, sócio-fundador da Argeplan e ex-sócio da AF Consult Brasil; e Carlos Alberto Costa Filho, sócio da AF Consult Brasil.
Como em outras investigações do gênero, a aposta do Ministério Público Federal é de que haverá alguém entre os empresários dispostos a fazer acordo de delação premiada e entregar todo o esquema. Barroso destaca o “crescimento exponencial” da empresa Argeplan nos últimos 20 anos, inclusive no setor nuclear, em parceria com a AF Consult do Brasil, com quem tem um contrato no valor de R$ 160 milhões de reais com a Eletronuclear para as obras da Usina Angra 3. Na avaliação dos investigadores, tal contrato seria resultado de tráfico de influência.