OMS
Monica De Bolle: Reflexões sobre a sindemia
Há uma urgente necessidade de planejamento desde agora para enfrentar o que sobrevirá da crise atual da covid-19
Talvez alguns leitores já estejam familiarizados com o termo sindemia. Ele vem sendo utilizado crescentemente pela imprensa após a Organização Mundial de Saúde, além do renomado periódico científico The Lancet, terem se referido à covid-19 e suas consequências como uma sindemia. Para quem não sabe o que significa, sindemia foi o termo cunhado pelo médico-antropólogo Merrill Singer nos anos 90 com o propósito de formular novas abordagens para o tratamento de doenças e o enfrentamento de problemas de saúde pública.
Sindemias consistem em situações onde duas ou mais doenças interagem biologicamente de modo adverso, onde essas doenças coexistem em níveis que caracterizam epidemias nas populações afetadas, e em contextos nos quais fatores socioeconômicos diversos contribuem para o agravamento do problema constatado. Portanto, as sindemias não tratam as doenças isoladamente, tampouco fora do contexto socioeconômico em que despontam, ao contrário do entendimento usual sobre epidemias e pandemias.
Há várias razões para que especialistas em saúde e saúde pública, além de cientistas sociais, estejam abraçando o termo sindemia para caracterizar os efeitos da covid-19. A mais visível delas é como a nova doença afeta desproporcionalmente segmentos da população desavantajados seja por motivos raciais, seja por questões relativas à desigualdade e à pobreza. Muitas vezes, tanto raça quanto desigualdade e pobreza interagem, revelando os problemas estruturais subjacentes. Está amplamente documentado que aqui nos EUA negros e hispânicos são os que mais sofrem com a covid-19. No Brasil, são os mais pobres, de maioria negra, os mais afetados. Essa divergência observada no impacto do vírus sobre a sociedade tem características sindêmicas.
Se pensarmos dessa forma sobre a covid-19, há muito com o que se preocupar mesmo que exista uma vacina ou tratamentos para a doença seja quando for. Tomemos a obesidade. A obesidade é um fator de risco para o desenvolvimento de quadros graves ou severos de covid-19. A obesidade é também um fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis, como a diabetes, a hipertensão, doenças coronarianas, e por aí vai.
De acordo com vários estudos recentes sobre a obesidade no Brasil, ela está não apenas em trajetória crescente, como cada vez mais aflige a população de baixa renda e, em particular, as mulheres mais pobres.
A inter-relação entre obesidade, diabetes, e covid-19 configura uma sindemia nos moldes descritos acima: as três doenças se exacerbam mutuamente em termos biológicos e estão inseridas no contexto específico de pessoas de renda mais baixa com reduzida segurança alimentar. Do mesmo modo, a inter-relação entre obesidade, hipertensão, e covid-19 também configura uma sindemia, lembrando que a hipertensão eleva outros riscos, como o de AVCs, de doenças renais crônicas, e de vários outros problemas.
O resumo disso tudo é que mesmo depois de passadas as ondas agudas da epidemia no Brasil, haverá um contingente grande de pessoas com doenças crônicas, muitas delas exacerbadas pela covid-19. Essas pessoas provavelmente pertencerão ao mesmo segmento socioeconômico que hoje se associa tanto à covid-19, quanto à existência de doenças como a obesidade. Todas essas pessoas, de variadas faixas etárias, permanecerão dependentes do SUS.
Quando o assunto é risco econômico no Brasil, fala-se muito em problemas de natureza fiscal, risco de calote de dívida, descontrole inflacionário, e outros problemas macroeconômicos que evidentemente devem ser pensados e considerados.
Contudo, o risco mais importante, na verdade já uma realidade mesmo quando não levamos em conta a covid-19, é o impacto das sindemias existentes sobre a saúde pública e a economia, agravando problemas estruturais subjacentes, sobrecarregando o SUS, e, claramente onerando também as contas públicas. Há uma urgente necessidade de planejamento desde agora para enfrentar o que sobrevirá da crise atual. Dizer que o governo atual não está preparado para dar cabo desses imensos desafios é eufemismo.
*Economista, pesquisadora do Peterson Institute For International Economics e Professora da Sais/Johns Hopkins University
Demétrio Magnoli: Operação geopolítica da China na pandemia terá implicações de longo prazo
Na aurora de 7 de fevereiro, o nome de Li Wenliang surgiu numa inscrição imensa, desenhada na neve, à margem de um rio chinês.
Três meses e uma pandemia depois, em 29 de abril, a página A5 da Folha foi inteiramente ocupada por um informe publicitário que canta as glórias da China. As duas imagens contam uma história —ou melhor, a inversão de uma história. A operação terá implicações geopolíticas de longo prazo.
O médico Li Wenliang, um dos primeiros a soar o alarme da nova doença, foi calado pelo Estado, contraiu o coronavírus e morreu. A notícia correu nas redes sociais, convertendo-o em herói popular: o símbolo da perversidade do regime.
A página publicitária na Folha traz a voz de Xi Jinping, dublada por um "especialista" brasileiro, um diplomata chinês e o médico-burocrata responsável pela medicina tradicional chinesa. É o segundo funeral de Li Wenliang: o panegírico da "eficiência" sanitária do sistema totalitário.
O primeiro pilar da "guerra da informação" deflagrada por Xi Jinping é a manipulação das estatísticas de óbitos. Segundo os números oficiais, a China encerra sua epidemia com 4.600 mortos, 13 vezes menos que os EUA, onde o vírus continua a ceifar 2.000 vidas por dia.
Deborah Birx, a chefe da força-tarefa dos EUA para a Covid, classificou a contabilidade chinesa como "irreal". A palavra quase apareceu num relatório da Comissão Europeia, mas foi suprimida por temor à represália do principal fornecedor de respiradores, máscaras e EPIs.
O segundo pilar é a campanha de "filantropia sanitária", pela transferência gratuita desses equipamentos e materiais a países em desenvolvimento. Nessa frente, o governo chinês divide o trabalho com Jack Ma, fundador do Alibaba, a "Amazon do Oriente". A iniciativa faz parte de um projeto muito mais ambicioso, a "rota da seda sanitária", que almeja converter a China em ator global no setor multibilionário da indústria farmacêutica.
O surto do ebola na África Ocidental, em 2014, foi o palco da aventura pioneira chinesa na política sanitária internacional. Na ocasião, a China cooperou com os EUA, cumprindo papel coadjuvante. Já na "rota da seda sanitária", ela opera unilateralmente, projetando influência no Sudeste Asiático, na Ásia Central e na África.
A escolha do etíope Tedros Adhanom para a chefia da OMS, em 2017, alavancada por um lobby chinês, converteu a organização em trampolim para a diplomacia sanitária de Xi Jinping na África, que utiliza a Etiópia como cabeça de ponte.
O FMI estima violentas quedas do PIB anual nos EUA (-5,9%), na Zona do Euro (-7,5%), no Reino Unido (-6,5%) e no Japão (-5,2%), mas discreto crescimento na China (1,2%). A crise do coronavírus acelera as tendências prévias de deslocamento do eixo econômico global. Mas o triunfo geopolítico chinês, apoiado na falsificação da história, deriva essencialmente dos fracassos ocidentais.
Os EUA praticaram o esporte primitivo do negacionismo, retrocederam para o isolacionismo e, no fim, renunciaram a disputar influência com a China na OMS. Trump tenta, pateticamente, livrar-se da responsabilidade pela negligência, atribuindo a pilha de 65 mil cadáveres ao "inimigo estrangeiro" (o "vírus chinês") e disseminando teorias conspiratórias (o "vírus de laboratório"), enquanto faz da emergência sanitária um pretexto para radicalizar a xenofobia.
Do outro lado do Atlântico, a União Europeia fechou descoordenadamente suas fronteiras internas e reativa a tensão entre Alemanha e o trio França/Itália/Espanha em torno das estratégias de resgate da economia.
"Para a China, tudo serve a uma utilidade política; um número nada significa para eles", explica Ai Weiwei, o célebre artista dissidente chinês, referindo-se à macabra piada estatística. A China da página A5 soterra a China da inscrição na neve fofa. Ao mentiroso, as batatas.
*Demétrio Magnoli, sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP.
Miguel Calmon du Pin e Almeida: Sobre novas escolhas
Pelo que tenho lido, o maior responsável pelo número de mortes na pandemia que estamos atravessando é o tempo. Adoecemos todos ao mesmo tempo, e assim não dá tempo de cuidar de todos os que adoecem. Morremos aos milhares por falta de assistência médico-hospitalar. Não dá tempo.
O isolamento social horizontal, corretíssima estratégia adotada nos países que têm conseguido melhores resultados no enfrentamento da pandemia, é uma determinação para ganharmos tempo. Ganhar tempo, me repito, significa que não adoeçamos todos simultaneamente, que aconteça a rotatividade na ocupação dos leitos hospitalares, que os recursos necessários aos cuidados possam ser produzidos para todos.... Ganhar tempo, eis o que estamos lutando por alcançar.
Não é curioso que isso aconteça no momento histórico onde a maior parte das reflexões e observações sobre a vida cotidiana fale sobre a aceleração do tempo? Tudo on-line, em tempo real, a capacidade orgulhosamente exibida de estarmos em vários lugares ao mesmo tempo, nos ocuparmos de várias atividades ao mesmo tempo. Na hierarquia que avalia moralmente os indivíduos e as sociedades, quanto mais em menor tempo, mais valioso se é.
A pandemia revirou esta lógica consumista de cabeça pra baixo. No confinamento de cada um de nós, temos sido desafiados a (re)aprender a desacelerar o tempo.
Olhando de longe, para aqueles que tem condições de algum conforto, ficar em casa não parece ser um grande desafio. Olhando de longe. Porque, de perto, vermo-nos privados de pequenas próteses, cuja finalidade é manter nosso equilíbrio mental, nos expõe ao risco de desorganizações as mais variadas, em seus modos e intensidades. Refiro-me a pequenas atividades que servem como barreiras de contenção, barreiras de paraexcitacão, ao desenvolvimento da angústia. Quando tais barreiras nos faltam, ficamos expostos ao risco de não termos como frear o ritmo avassalador com que a angústia nos invade, e de que ela nos prive da maior parte de nossos recursos intelectuais e afetivos.
Tenho pensado que o que justifica o enorme esforço que todos temos feito para “ficar em casa” se dá no encontro e reconhecimento destas pequenas atividades que nos servem como barreiras de contato contra a invasão da destrutividade.
Entender e aceitar que a determinação da OMS para o isolamento social é físico e não afetivo. Com certeza, este entendimento tem favorecido o uso dos mais variados aplicativos, por meio dos quais temos mantido contato com nossos filhos, netos, amigos e colegas. É fundamental não se deixar isolar pelo isolamento social.
Do mesmo modo, os afazeres domésticos: amigos e amigas empenhados em aprender a passar roupa, a cozinhar, faxinar a casa. Outro dia, engraxei os meus sapatos. Isso que dito deste jeito parece uma brincadeira, e em certo sentido o é. No entanto esta brincadeira tem uma função extraordinária ao estabelecer as tais barreiras de contato. Não esperemos que sejam a solução de tudo. Seu reconhecimento se faz na percepção de que, depois de nos ocuparmos mecanicamente destes afazeres, algo em nosso humor mudou. Por um certo tempo, o automatismo exigido nestas tarefas barra, ou, na melhor das hipóteses, desacelera o desenvolvimento da angústia. Tenho observado que aqueles que visam como finalidade de suas ações o se livrar definitivamente da angústia, estes são os que se desesperam. Ao fracassar, se desesperam. Nada mais há por fazer. Liberado o caminho para pulsão de morte, o meio mais rápido para se livrar de tudo é... se livrar de tudo.
Tempos muito difíceis, duros, quando estamos sendo desafiados a desacelerar o tempo a fim de dar tempo para sobrevivermos à pandemia.
Muitas perdas, muitas dores, muito medo.
Ao mesmo tempo, temos tido oportunidade de descobertas as mais surpreendentes, e algumas até mesmo sublimes, que espero que possam se manter para além da pandemia.
O novo coronavírus mudou a face da Terra. Serei apenas mais um a repetir que a vida não será mais a mesma e a maneira com que enfrentarmos a Covid-19 determinará que caminhos se abrirão à nossa frente: se o caminho da necessária e urgente cooperação e solidariedade entre todos (cuidar de mim implica cuidar dos outros e vice-versa); ou se se acirrará o caminho do “América first”, como se a vida no planeta fosse possível em desconexão com os demais indivíduos, esquecendo ensinamentos fundamentais de Freud, principalmente aquele que nos mostra que nos constituímos na relação com os semelhantes.
OMS: mais de 80% da população urbana vive em áreas de ar poluído
Relatório da agência da ONU analisou a qualidade do ar em 3 mil cidades de 103 países; Curitiba é citada como modelo com várias ações e medidas verdes; nível de poluição está aumentando nas regiões mais pobres.
A Organização Mundial da Saúde, OMS, alertou que mais de 80% da população urbana mundial vive em áreas com alta taxa de poluição do ar. A informação consta do 3º Relatório Global sobre o assunto, lançado esta quinta-feira pela agência da ONU. Segundo os especialistas, a poluição do ar representa o maior risco ambiental à saúde. Ela é responsável por mais de 3 milhões de mortes prematuras no mundo todos os anos.
Piorar
Segundo o documento, 98% das cidades dos países de baixa e média rendas, com mais de 100 mil habitantes, apresentam índices de qualidade do ar piores do que o estipulado pela OMS. No caso dos países ricos, a taxa das cidades que registram ar poluído caiu para 56%.
De Genebra, em entrevista à Rádio ONU, Carlos Dora, epidemiologista da agência falou sobre as conclusões do relatório.
"Nas cidades dos países em desenvolvimento, a gente vê que tem uma quantidade maior (de cidades poluídas) e a tendência é piorar. Então isso é, obviamente preocupante. Uma parte dos dados, mostra exatamente essa tendência temporária. A piora no geral é de 8%."
O estudo da OMS foi feito em 3 mil cidades em 103 países. No Brasil, os especialistas analisaram 45 cidades do nordeste ao sul do país, entre elas, Curitiba, Campinas, São Paulo, Campos, no Estado do Rio de Janeiro e Malembá e Madre de Deus, na região metropolitana de Salvador.
"Tem, por exemplo, cidades como Curitiba, que tinha um nível que antes era acima do preconizado pela OMS e que agora tem o ar limpo de acordo com a qualidade de ar da agência da ONU. É uma coisa muito positiva porque Curitiba também tem um dos melhores exemplos de políticas públicas que levam a limpar a qualidade do ar. Gestão dos resíduos para não queimar o lixo, (a cidade) faz uma gestão ecológica dos resíduos, deixa fermentar e colhe o metano para usar como biogás. Então tem uma série de soluções na gestão de resíduos que eles estão implementando."
Rodízio de Carros
Dora falou ainda que o rodízio de carros implementado em várias cidades mundiais, como por exemplo em São Paulo e na Cidade do México, funciona para reduzir a poluição em situação aguda.
Mas ele disse que a longo prazo, as cidades devem analisar a situação detalhadamente e buscar a causa da poluição.
O representante da OMS citou que Nova York, na época do prefeito Michael Bloomberg, fez um estudo que concluiu que metade da poluição do ar vinha do combustível "sujo" usado nos equipamentos de aquecimento e refrigeração dos prédios da cidade e não dos carros.
Poluição e Saúde
Dora fez uma comparação dizendo que as medidas adotadas para combater a poluição do ar podem ajudar na área de saúde. Segundo ele, as pessoas que têm doenças vasculares recebem recomendações para fazer exercício físico, não fumar e ter uma dieta saudável.
Mas o epidemiologista da OMS declarou que não há uma recomendação especial para que essas pessoas evitem ambientes poluídos.
Para ele, "é crucial que os governos e cidades façam da qualidade do ar em regiões urbanas uma prioridade de saúde e desenvolvimento".
Dora afirmou que "quando a qualidade do ar melhora, diminuem os gastos de saúde relativos a doenças como alergias e infecções pulmonares, aumenta a produtividade dos trabalhadores e também a expectativa de vida da população".
Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York.
Matéria publicada no portal Notícias e Mídia - Rádio ONU.
Acesso à íntegra do relatório no site da OMS, em inglês: http://www.who.int/phe/health_topics/outdoorair/databases/cities/en/
OMS: Surto de zika e microcefalia é ‘mais difícil e ameaçador’ que ebola e gripe H1N1
Em visita à Fiocruz, no Rio de Janeiro, diretora-geral da OMS, Margaret Chan, destacou que o Aedes aegypti, mosquito transmissor da zika, da dengue e da chikungunya, está presente em 113 países, podendo afetar muito mais pessoas do que epidemias dos últimos anos. Para o especialista da OMS Bruce Aylward, a zika terá consequências imprevisíveis e coloca em risco o futuro das crianças brasileiras e do Brasil.
Vacinas contra a zika devem chegar à população em três anos, segundo o ministro da Saúde, Marcelo Castro. Governo e Fiocruz já desenvolveram método de diagnóstico que permite identificar infecção pela doença, pela dengue e pela chikungunya. Técnica, no entanto, só funciona em pacientes que apresentam sintomas.
A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, visitou nesta quarta-feira (24) a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), centro de pesquisa no Rio de Janeiro que está à frente do desenvolvimento de tecnologias para combater o vírus zika e o mosquito Aedes aegypti. A dirigente expressou seu apoio e gratidão pelos esforços do Brasil na luta contra a doença e seu principal vetor. Na véspera (23), Chan já havia se encontrado com diversos ministros e a presidenta Dilma Rousseff.
A chefe da agência da ONU destacou que o atual surto da doença, associada a números crescentes de casos de microcefalia no Brasil, é “uma ameaça muito, muito maior” do que outras epidemias dos últimos anos, como as de ebola e da gripe H1N1, devido ao número de países onde o principal transmissor da infecção, o Aedes, está presente. Atualmente, 113 países possuem populações do mosquito em seus territórios.
“A zika é culpada (pelo aumento dos casos da malformação) até que sua inocência seja provada”, afirmou Chan durante uma coletiva de imprensa na Fiocruz. A dirigente explicou que diversos fatores podem causar a microcefalia, mas que, no Brasil, os dados indicam que o surto de zika está ligado ao da síndrome neurológica. Entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016, 5.280 casos suspeitos de microcefalia foram relatados no país. A média anual, entre 2001 e 2014, era de 163 ocorrências.
Questionada quanto à vulnerabilidade das pessoas ao mosquito e à zika, a diretora-geral disse que, “em todas os países, há desigualdades, há populações muito pobres”. Segundo Chan, a falta de acesso a saneamento básico e a exposição a danos ambientais tornam parcelas da população mais suscetíveis a doenças.
“O desequilíbrio do ecossistema vai nos dar mais desafios, mais doenças novas”, disse a dirigente. Uma pesquisa recente da OMS revelou que 23% das mortes prematuras são causadas por circunstâncias do ambiente onde as pessoas residem. Estima-se que 70% das novas infecções identificadas no mundo tenham origem animal, segundo Chan.
Participaram também da coletiva o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e o representante da OPAS/OMS no Brasil, Joaquín Molina. Confira clicando aqui o áudio na íntegra da coletiva de imprensa.
Para governo, relação causal entre zika e microcefalia já é certeza
Também presente na coletiva, o ministro da Saúde brasileiro, Marcelo Castro, disse que, para os cientistas brasileiros, não há dúvida de que a zika causa microcefalia. Além da correlação regional e temporal, uma vez que os casos recentes da malformação congênita foram identificados em áreas atingidas pela epidemia de zika do verão de 2015, cerca de seis a sete meses após o surto, há fortes evidências epidemiológicas.
“O que nós podemos dizer com segurança? Que esse padrão do cérebro de microcefalia das crianças é um padrão infeccioso”, afirmou. O ministro explicou que, entre as infecções tradicionalmente associadas à malformação congênita – sífilis, toxoplasmose, HIV e outros, rubéola, citomegalovírus e herpes –, nenhuma registrou aumento de incidência recentemente. Com o zika, foi o contrário.
O que ainda está sendo investigado é se “o vírus é uma causa necessária e suficiente para desencadear a microcefalia ou precisa, para ele se manifestar, algum fator predisponente ou algum fator contribuinte”, explicou o ministro.
Governo aposta na mobilização e na pesquisa para combater o vírus
Segundo Castro, cientistas brasileiros e estrangeiros estão otimistas quanto à possibilidade de desenvolver uma vacina contra o zika em menos de um ano. Isso não significa, porém, que o tratamento será disponibilizado para a população nesse prazo. O ministro da Saúde estima que serão necessários três anos para concluir ensaios clínicos e, enfim, oferecer as vacinas ao público.
Uma vacina para a dengue, concebida pelo Instituto Butantã, já está na fase final de testes e deverá chegar aos brasileiros em dois anos, de acordo com Castro.
O chefe da pasta também informou que a Fiocruz já conseguiu desenvolver um método diagnóstico para o zika, que emite resultados entre duas a três horas após o exame e consegue identificar infecções pela doença e também por dengue e chikungunya. A técnica, no entanto, só funciona para pessoas que apresentam sintomas como febre e dor de cabeça. O diagnóstico deverá ser disponibilizado pelo governo em parceria com a Fiocruz.
Para Castro, os esforços de prevenção e combate ao Aedes aegypti estão maiores do que nunca. “Há uma percepção da sociedade, dada a mensagem e o trabalho que o governo vem fazendo, de que o mosquito, agora, precisa ser tratado de maneira diferente, porque ele se tornou muito mais perigoso”, comentou. O ministro ressaltou que, por trás das estatísticas, existem vidas e dramas humanos e que os brasileiros têm se sensibilizado e abraçado a luta contra o mosquito.
O diretor executivo interino da OMS para Surtos e Emergências de Saúde, Bruce Aylward, disse estar impressionado com a resposta do Brasil à epidemia de zika. Segundo o especialista, trata-se de uma crise mais difícil que a do ebola.
“Aqui, você está lidando com uma doença terrível, com consequências terríveis e incertezas terríveis. O vírus não é um problema de saúde. Vocês estão lidando com uma ameaça às crianças do país, ao futuro (do Brasil) potencialmente, à economia”, explicou. Para Aylward, graças aos esforços brasileiros de pesquisa e de combate à infecção, países têm sido alertados e informados com antecedência sobre o vírus, antes de verificarem surtos maiores da zika. “O mundo tem uma dívida tremenda para com o Brasil”, afirmou.
Mulheres devem receber informações sobre saúde reprodutiva
A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, também presente na coletiva, chamou atenção para a situação das mulheres que pensam em ter filhos ou que tiveram bebês com microcefalia.
“Eu só quero usar essa plataforma também para apelar a todos os governos que estão, atualmente, tendo transmissão do vírus zika para que melhorem o acesso a serviços de saúde reprodutiva para as mulheres em idade fértil, particularmente: acesso à informação adequada para que as mulheres sejam capazes de tomar uma decisão quanto a querer engravidar ou não; cuidado pré-natal adequado; cuidado pós-natal adequado e o apoio e informação de que elas precisarão”, disse.
Recentemente, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, convocou todos os Estados a garantir os direitos reprodutivos das mulheres, incluindo o direito à interrupção da gravidez, e a adequarem suas legislações em meio ao surto de zika e microcefalia. O ministro Marcelo Castro reiterou, durante a coletiva, que a lei brasileira não permite o aborto em caso de microcefalia.
Zika não ameaça Olimpíadas, segundo governo e OMS
Tanto a diretora-geral da OMS quanto o ministro Marcelo Castro enfatizaram que, durante os meses de agosto e setembro, quando serão realizados os Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio de Janeiro, são registradas as menores densidades populacionais do Aedes aegypti.
A época das competições é também a mais fria e seca da capital fluminense, o que dificulta a proliferação do mosquito transmissor do zika. Os dirigentes acreditam que a doença não será uma ameaça aos que vierem participar e assistir aos Jogos.
https://www.youtube.com/watch?v=hCfcJYbymDQ
Fonte: Nações Unidas
OPAS/OMS responde perguntas associadas à transmissão do vírus zika nas Américas
Guia de perguntas e respostas abrange a origem do vírus, os sintomas da doença, formas de transmissão, riscos associados e tratamentos. A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS) está trabalhando com seus Estados-membros para prevenir, detectar e responder a esta nova ameaça.
A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde publicou nesta terça-feira (12) um guia para explicar o surgimento do vírus Zika, seus sintomas, formas de transmissão e prevenção. Os casos associados ao vírus surgiram nas Américas em 3 de março de 2014, na Ilha de Páscoa, no Chile, e desde então vem afetando vários países da região, inclusive o Brasil, onde 18 estados registraram casos da doença, segundo dados do Ministério da Saúde.
A infecção pelo vírus Zika é causada pela picada de mosquitos infectados do gênero Aedes. Geralmente, causa febre, erupções na pele, conjuntivite e dores musculares leves. De março de 2014 até a semana passada, 13 países ou territórios das Américas relataram casos de infecção pelo vírus. A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS) está trabalhando com seus Estados-membros para prevenir, detectar e responder a esta nova ameaça.
Fonte: nacoesunidas.org