olimpíadas 2016

Germano Martiniano: O ouro é uma coisa, os 7 a 1 é outra

O brasileiro, ou o ser humano em geral, tem uma séria mania de querer comparar fatos que, muitas vezes, são desconexos. Depois da final Olímpica de Futebol Masculino, na qual batemos a Alemanha nos pênaltis, vi algumas pessoas no Facebook dizerem: “enquanto estamos comemorando este ouro, nossa educação, saúde, segurança etc., continuam sem medalha alguma”. Que o nosso país possuí seríssimos problemas socioeconômicos é inegável. Mas, o ouro é uma coisa, os 7 a 1 que tomamos da Alemanha em 2014, e continuamos tomando em indicadores sociais é outra.

O ouro conquistado no Maracanã pelo nosso futebol é simbólico. O estádio é o nosso cartão postal do futebol, ainda que sua obra original tenha sido destruída para se realizar as “modernas e eficientes” arenas. Foi no Maracanã que perdemos a final da Copa do Mundo de 1950 com, quase, 200 mil torcedores no estádio. Este ouro também é a única medalha que o futebol não possuía e que existia uma grande pressão para tê-la. Um outro fator que aponta este simbolismo é o próprio esporte, o futebol no Brasil não é apenas uma modalidade esportiva, é expressão social, é algo que uni nosso povo em torno de um objetivo em comum. É acima de tudo a maior paixão da maioria dos brasileiros. Por isso a comoção tão grande.

622_5da7f33d-3977-3d3f-b28c-903922c5ff8c

Outra comparação equivocada foi pessoas dizerem que esta vitória sobre a Alemanha serviria de revanche sobre a dolorida derrota no Mineirão em 2014 por 7 a 1. Esta derrota para Alemanha nunca terá uma revanche, todo brasileiro levará este fardo por suas vidas. Se a vitória olímpica foi simbólica como dito acima, não menos simbólico também foi a derrota em 2014, afinal a Alemanha veio ao Brasil mostrar que ganhava de goleada não apenas no campo, mas em estrutura de futebol. E se falarmos em fatores socioeconômicos os alemães aumentam esta goleada sobre nós. Portanto, para o Brasil apagar os 7 a 1, primeiramente teria que reformar toda sua estrutura futebolística, segundo recuperar o seu futebol de essência, terceiro ganhar dos alemães de 7 a 1 lá na Alemanha, e quarto apagar da memória esta derrota. As três primeiras opções já parecem complicadas, a quarta é impossível. Pois, na vida não esquecemos das coisas, aprendemos a conviver com perdas e dores e as substituímos por outras coisas que dão razão a nossa existência, mas apagar nada apaga. A revanche nunca acontecerá!

As Olimpíadas terminaram, o Brasil ficou aquém do esperado em termos de desempenho e medalhas. A lição que fica é: o esporte é maravilhoso e transformador. Como foi bonito ver o Serginho do vôlei, de história humilde, conquistar sua quarta medalha olímpica. Assim como o Serginho existem vários outros exemplos que mereciam ser contados. Por isso pergunto: “como não se comover? ”. Temos de celebrar nossas conquistas, comemorar e curtir os prazeres que elas nos trazem, mas saber que nossa responsabilidade social como cidadãos não se modifica. Ontem, domingo 21 de agosto, terminaram os jogos olímpicos, hoje, segunda-feira 22 de agosto, continua a vida normalmente. Os ouros que conquistamos estão para história, os 7 a 1 que levamos no futebol e levamos em nossa vida social diariamente continuam latentes, é necessário separar os fatos e ter coragem e disposição para modificar nossa realidade.


Por Germano de Souza Martiniano. Formado em Relações Internacionais pela UNESP Franca e assessor de comunicações da Fundação Astrojildo Pereira.


"A nossa bandeira jamais será vermelha"... Depois da #Rio2016? Já era! :-)

O grito de guerra mais identificado com as manifestações pró-impeachment e anti-PT, um dos mais ouvidos e talvez o mais emblemático nos últimos anos ("a nossa bandeira jamais será vermelha"), foi desmentido ao vivo para bilhões de pessoas no mundo inteiro, em pleno encerramento das Olimpíadas no Rio de Janeiro.yellowred

Bastou o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, trocar as bolas na tradução simultânea do seu próprio discurso, em que alternava o português e o inglês, para a gafe chegar ao topo das citações nas redes sociais.

Ao traduzir o trecho "Vocês coloriram de verde e amarelo, e renovaram em nossos corações o orgulho e a autoestima de ser brasileiro", Nuzman trocou o "verde e amarelo" por um inexplicável "yellow and red". Ai já era! Ninguém nem prestou mais atenção no resto do discurso festivo, patriótico e emocionado.

Enfim, o Brasil "bateu o recorde de medalhas" na Rio 2016. É verdade. Também é verdade que ficou bem abaixo da expectativa, na maioria das modalidades, por todo o investimento feito.

saltocomvara
Mas, afinal, o que esperavam? Acharam que bastaria investir alguns tantos milhões de reais, até por vias tortas, como o patrocínio aos "atletas-militares" das Forças Armadas batendo continência em troca de um soldo mensal, ou trazer duas dezenas de técnicos internacionais? E o investimento na base? E o planejamento a longo prazo? E a formação esportiva dos nossos jovens nas escolas?

Sobre a quantidade de medalhas, basta fazer um comparativo do Brasil com a Grã-Bretanha, vice-campeã no quadro de medalhas do Rio de Janeiro como principal legado dos Jogos de Londres, em 2012. Veja que nas Olimpíadas de Sydney (2000) e Atenas (2004), a Grã-Bretanha era apenas a 10ª colocada, com 28 e 30 medalhas, respectivamente.

Em Pequim (2008), já sabendo que sediaria os Jogos de 2012, a Grã-Bretanha saltou para a 4ª colocação, com 47 medalhas. Em casa, em 2012, ficou em 3º com 65 medalhas, e finalmente saiu do Rio em 2º com incríveis 67 medalhas, a melhor posição da História. Isso é legado olímpico, indiscutível.

E o Brasil? Em 2000 não ganhou nenhum ouro, ficou em 52º com 12 medalhas. Em 2004 o Brasil subiu para 16º, com 5 medalhas de ouro (até então o recorde do país), mas apenas 10 no total. Em 2008 o Brasil caiu para 23º, com 17 medalhas (3 ouros). Em 2012 subiu uma posição, ficou em 22º com 17 medalhas (3 ouros).

No Rio, quando a expectativa declarada pelos organizadores era ganhar entre 28 e 30 medalhas e ficar em 10º lugar, o Brasil acabou em 13º, com 19 medalhas (7 ouros). Ou seja: duas medalhas a mais que em Londres e Pequim, apenas.

volei ouro
Subiu o número de medalhas de ouro graças ao sucesso do futebol e do vôlei, além de talentos individuais. Mas há alguma expectativa real de melhorar o desempenho do Brasil em Tóquio 2020? Não! Não há! Isso é legado olímpico?

O que falta para o Brasil, com planejamento do governo e respaldo da iniciativa privada, é um projeto olímpico a longo prazo: não simplesmente para ganhar posições no quadro de medalhas, mas por tudo o que o Esporte representa para um país que de fato se empenha na formação e no desenvolvimento dos seus jovens talentos.

Se vale a dica para os próximos três anos de gestão do presidente Michel Temer, aquele que assumirá os rumos do país cuja "bandeira jamais será vermelha", é esta: investimento na formação de jovens atletas e esportistas.

A cultura do esporte, da saúde e da qualidade de vida. Simples assim.

Veja mais sobre o legado da Rio 2016 no #ProgramaDiferente


A um mês das Olimpíadas do Rio, nesta semana o #ProgramaDiferente entrevista Ana Moser e fala do sonho olímpico de jovens atletas brasileiros

Faltando pouco mais de um mês para os Jogos Olímpicos do Rio, que serão abertos com cerimônia oficial no dia 5 de agosto, o #ProgramaDiferente começa a tratar do assunto que vai mobilizar as atenções no Brasil e no mundo. Assista.

A entrevista da semana é com a ex-atleta Ana Moser, uma das maiores atacantes do voleibol mundial, craque da seleção que trouxe a nossa primeira medalha olímpica no vôlei feminino e uma cidadã atuante e consciente das suas responsabilidades.

Ela demonstra que um ídolo não se constrói apenas pelo talento dentro da sua modalidade, mas também pelo caráter e pelo compromisso com a realidade social e com o futuro do país. Ana Moser é assim: uma inspiração para os fãs do esporte e para outros atletas que perseguem o sonho olímpico.

Em seguida, o debate é justamente com dois jovens atletas brasileiros que buscam realizar este sonho olímpico: Jeison Correia, medalhista das seleções brasileiras de handebol junior, juvenil, infantil e cadete; e Gustavo Grummy Guimarães, ídolo do pólo aquático e medalhista no Panamericano de Toronto com a Seleção Brasileira.