O Globo
Merval Pereira: Um sinal de alerta
Muito tem se falado ultimamente sobre a possibilidade (necessidade) de impeachment do presidente Bolsonaro, ou, na pior das hipóteses, em sua derrota na disputa pela reeleição no próximo ano. As pesquisas de opinião mostram que sua popularidade é cadente, e as eleitorais indicam que ele, no momento, perderia para vários de seus potenciais adversários: Ciro, Moro, Lula, Mandetta, Haddad. O Atlas Político indica também que ele venceria Marina, Dória, Joaquim Barbosa e Huck.
Interessante nessa pesquisa recente é que o espectro ideológico não faz diferença, Bolsonaro perde e ganha para nomes, não para partidos. Mesmo o temor, expressado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de que venha a ter vantagem caso o adversário do segundo turno seja um petista numa sensação generalizada, e creio que até mesmo desejada por Bolsonaro, não se reflete na pesquisa.
O receio é de que, se o adversário do segundo turno for um petista, se repetirá a mesma solução que o eleitorado encontrou em 2018. Acho que em boa parte do eleitorado isso pode acontecer, mas creio que muita gente que escolheu Bolsonaro como “o menos ruim” tenha já informações suficientes para rejeitar essa alternativa.
Não é, no entanto, descartável a hipótese de que Bolsonaro venha a se reeleger, pois, apesar de tudo, conta ainda com cerca de 30% do eleitorado, com tendência de queda. O governo detém maioria no Congresso, pelo apetite de seus parlamentares, tem a admiração e identificação das patentes inferiores das Forças Armadas e até polícias militares e bombeiros de todo o país, que podem ser transformados em milícia armada do Estado. Amanhã, a menos que ocorra um fato extraordinário que mude o curso das negociações, deverá eleger os presidente da Câmara e do Senado.
Um amigo, preocupado com esse futuro possível (provável?), reuniu uma relação de acontecimentos políticos tão improváveis quanto a eleição de Bolsonaro para a presidência da República. São fatos conhecidos, mas que, reunidos, nos revelam como distorções políticas podem se impor em momentos em que o caldo de cultura com ingredientes como corrupção sem controle, valores nacionais enfraquecidos, profunda desigualdade social, insegurança, violência, crise econômica, pode criar um ambiente político para a aceitação de anormalidades. O amigo não quis aparecer, pelo cargo que ocupa em Brasília.
Vamos aos fatos históricos: “Eva Duarte Peron era uma ignorada locutora de radionovela quando conheceu o general Juan Domingo Peron. Em pouco tempo, já era a “mãe dos pobres” e protetora dos desvalidos. O pacto que a cultura argentina tem com as tragédias fez de sua morte uma bandeira mística para o peronismo, de esquerda ou direita, que está no poder há 70 anos. O Papa Doc, no Haiti, também começou como um humilde médico de província, até reinar sobre um estado de terror e horrores. Portugal não deixou por menos, Antônio de Oliveira Salazar fez carreira no fascismo começando como um professor de economia, em um país dominado pela corrupção e ignorância. O exemplo maior é de um cabo (nem capitão chegou a ser ) do exército alemão, que tal qual Bolsonaro o quer, criou uma milícia uniformizada, superior a Wehrmarchat. Hitler é o exemplo perfeito de um déspota venerado, que chegou ao poder pelo voto popular e criou um fascínio na cultura alemã, que a fez cúmplice no holocausto”.
A naturalização dessas aberrações desidratam a democracia. Como aliás já está acontecendo entre nós. Em qualquer país do mundo civilizado, um presidente que fizesse um pronunciamento como aquele de Bolsonaro na churrascaria, seria imediatamente processado. Ao contrário, vemos ministro de Estado, como o antichanceler Ernesto Araújo, gritando “Mito, Mito, Mito”, numa falta de compostura que também mereceria uma punição.
Míriam Leitão: Ação deliberada de espalhar vírus
Crime de epidemia. Essa é a acusação feita a Jair Bolsonaro na representação encaminhada à Procuradoria-Geral da República para que ele ofereça denúncia contra o presidente. “Da mesma forma que alguém que agrave uma lesão existente responde por lesão corporal, presidente que intensifica a epidemia existente responde por esse crime. Jair Bolsonaro sempre soube das consequências de suas condutas, mas resolveu correr o risco.”
Esse crime é previsto no artigo 267 do Código Penal. “Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos” e a punição é prisão de 10 a 15 anos, podendo agravar-se a pena se houver morte. Torna-se então crime hediondo.
Houve outras ações às quais essa representação se refere e que apontaram vários artigos do Código Penal que ele teria infringido, como o 132, que é pôr em perigo a vida ou a saúde de outrem.
O grupo de procuradores aposentados — alguns exerceram até recentemente postos elevados no Ministério Público — e um desembargador que entrou com a ação apoiou-se em pesquisa. Recentemente publicado, o estudo faz uma linha do tempo dos atos e palavras do presidente da República nesta pandemia, para assim mostrar que houve uma ação deliberada do presidente de contaminar o máximo de pessoas, na suposição de que assim se atingiria a tal “imunidade de rebanho”.
A representação foi apresentada ao Procurador-Geral da República pela, até recentemente, procuradora federal dos Direitos do Cidadão Deborah Duprat, pelo ex-PGR Claudio Fonteles, por dois ex-procuradores federais dos Direitos do Cidadão, Álvaro Augusto Ribeiro Costa e Wagner Gonçalves, o subprocurador-geral aposentado Paulo de Tarso Braz Lucas e o desembargador aposentado do TRF da 4ª Região Manoel Lauro Volkmer de Castilho.
O começo da cronologia que apresentam é o dia 7 de março. Havia seis infectados no Brasil. O presidente foi a Miami, área de risco para a pandemia. “No dia 15 daquele mês, já de volta ao Brasil, convoca e participa de manifestações políticas com grande aglomeração, sempre sem máscara, tendo contato físico com manifestantes, desrespeitando a recomendação da quarentena após retorno. E, mais grave, pelo menos desde a véspera do evento, ou seja, em 14 de março, já era pública a informação de que parte da comitiva presidencial tinha sido infectada pelo novo coronavírus. Portanto, Bolsonaro foi para a manifestação ciente de que poderia ser um vetor de propagação de um vírus até então de baixa presença no território nacional.” A longa fila de eventos em que o presidente estimulou a contaminação, à qual a representação se refere, está na pesquisa CEPEDISA/FSP/USP e Conectas Direitos Humanos.
O mundo inteiro está sendo atingido pela mesma tragédia sanitária. Mas o ponto sustentado pelos autores da ação é que aqui houve mais. “No caso do Brasil, ao evento natural somou-se a ação criminosa de um presidente da República, que expôs, desde o início da pandemia até os dias atuais, a população a um risco efetivo de contaminação”, diz o texto da representação.
O procurador-geral Augusto Aras pode simplesmente ignorar o documento em sua mesa? Não pode. Ele pode arquivar, mas ele tem obrigação de tomar providências. Ignorar uma representação como essa é uma impossibilidade institucional, me explica um especialista.
Conversei com outro procurador que permanece no serviço público e perguntei que chances tem essa ação de avançar. Aras, como já disse explicitamente, acha que essa não é a sua função, apesar de ser. O problema é que o próprio Aras pode ser acusado de prevaricação, por deixar de cumprir seu dever. E pode ser acusado pelos seus colegas.
— O artigo 51 da lei complementar 75/1993, lei orgânica do MPU, diz que “a ação penal pública contra o procurador-geral da República, quando no exercício do cargo, caberá ao subprocurador-geral da República que for designado pelo Conselho Superior do Ministério Público” — explicou um procurador.
Aras não tem maioria no CSMP. A ação seria diretamente levada ao Supremo Tribunal Federal. Aras tem esperança de ser indicado para uma vaga no STF. Concorre com outros dois fortes candidatos, o ministro da Justiça, André Mendonça, e o ministro do STJ Humberto Martins.
Bolsonaro se blindou, mas tem tido, como diz a representação, inúmeras “condutas criminosas” durante esta pandemia. E nessa ação foi acusado de crime grave.
Ascânio Seleme: Bolsonaro corrupto
O capitão, que foi eleito prometendo varrer a corrupção de Brasília, montou ele próprio um esquema para se defender e proteger as falcatruas de seus filhos e aliados
Já se falou quase tudo do governo de Jair Bolsonaro. Da sua índole intolerante e antidemocrática, da sua beligerância permanente, das baixarias que produz em escala industrial, dos seus inúmeros crimes de responsabilidade, da sua fraqueza moral, dos atentados que comete contra a vida humana no tratamento que dispensa à pandemia do coronavírus. Agora, pode-se também afirmar que esse governo é corrupto. O capitão, que foi eleito prometendo varrer a corrupção de Brasília, montou ele próprio um esquema para se defender e proteger as falcatruas de seus filhos e aliados.
São várias as evidências desse esquema ao redor do presidente. Bolsonaro controla tanto a Procuradoria-Geral da República quanto a Polícia Federal com absoluto rigor. Apesar de manter a aparência de independência, Augusto Aras e Rolando Alexandre de Souza fazem o que for preciso para não desagradar ao presidente. Outras instituições do Estado, além da PF, são usadas sem constrangimento. Tanto o Ministério da Justiça quanto a Advocacia- Geral da União foram instrumentalizadas por Bolsonaro para defender ele mesmo, os seus três zeros e a sua turma.
Com o centrão no comando da pauta do governo, o que teremos até o desfecho deste lamentável mandato será apenas mais um governo corrupto. Sabe-se desde já que na Câmara Bolsonaro vai comer pelas mãos de Arthur Lira (corrupção ativa, lavagem de dinheiro, violência doméstica) e seus parceiros. Lira deve ganhar a presidência da Casa, mas mesmo que perca, será o guia do capitão naquele plenário. No Senado, com Rodrigo Pacheco ocorrerá o mesmo. Como noticiou o Estadão na quinta-feira, o deputado já anunciou que, sendo eleito, vai torpedear CPIs contra o Planalto. Duas já estão na sua mira, a das Fake News e a da Saúde. E o senador avisou que não gosta de CPIs. Oras.
O governo vai voar em céu de brigadeiro e só sentirá turbulência se não soltar lastro toda vez que for exigido pelos aliados gulosos. Vai precisar se livrar de muito peso, é bom que se diga. Já sinalizou inclusive que pode criar novos ministérios para abrigar a turminha. Bolsonaro vai fazer concessões, nenhuma dúvida, mas não terá sequer uma agenda que consiga pelo menos balancear possíveis estragos que vierem a ser feitos por larápios. Como se viu na demissão do presidente da Eletrobrás, nem a agenda liberal sobreviveu a dois anos de governo. Fora o escancaramento na liberação de armas e munições, a pauta conservadora também não anda, porque a turma não é tão besta assim. O que vai sobrar é o velho toma-lá-dá-cá.
A Transparência Internacional divulgou esta semana o ranking atualizado de percepção de corrupção em que avalia 180 países. ªO Brasil ficou na 94ª posição, a pior de toda a América Latina. No ano passado, bateu seu recorde histórico. Este ano, melhorou três pontos em cem, mas continua em patamar mais baixo do que todos os anos anteriores. A explicação é simples. Segundo a ONG, a principal causa é a interferência política de Bolsonaro nos instrumentos de combate à corrupção, como nas já citadas AGU, PGR e PF. Também por influência do capitão foram fritadas as operações Lava Jato e Greenfield.
Mas, e daí? Qual a surpresa? Antes mesmo de ser eleito presidente, Bolsonaro já se valia dos cofres públicos para enriquecer. Ao ser flagrado desviando verba do auxílio moradia da Câmara, disse ao jornal “Folha de S. Paulo” que usava o dinheiro público “para comer gente”. Um corrupto de largo espectro, inclusive moral.
PF instrumental
Você, que temia ver a Polícia Federal ser instrumentalizada por Bolsonaro, esqueça. Já era, já foi. Ou alguém acha mesmo que com todas as ferramentas de que dispõe, inclusive com autorização para quebrar sigilos bancários, o órgão não conseguiria encontrar elementos para indiciar as pessoas que participaram e financiaram os atos antidemocráticos do ano passado? O relatório da delegada Denisse Dias Ribeiro enviado ao ministro Alexandre de Moraes deveria ser devolvido com advertência formal.
Michel Temer dois
Jair Bolsonaro adotou o método Michel Temer de governar. Quem está do seu lado, ganha cargo. Quem está contra, ou ameaça ficar contra, é cortado. É isso o que vem ocorrendo com cargos públicos federais ocupados por aliados de parlamentares que vão votar em Baleia Rossi para a presidência da Câmara. Estão sendo demitidos. Mas para por aí a semelhança entre os dois presidentes. Temer era tolerante e democrático, além de muito bem educado. Bolsonaro é aquilo que você sabe.
Dona Azenate
Falcatruas em compras não é novidade nas Forças Armadas brasileiras. Já no longínquo ano de 1991, O GLOBO noticiava que o Exército havia comprado fardas e roupa de cama e banho com preços bem acima dos praticados pelo mercado. A reportagem de Ricardo Boechat e Rodrigo França Taves rendeu aos dois o prêmio Esso, maior honraria jornalística daquela época. E agora, aparece a dona Azenate Barreto Abreu como intermediária de compras superfaturadas de leite condensado para o Ministério da Defesa. Ela nega, diz que vendeu apenas duas caixas. Segundo reportagem do Jornal de Brasília, Azenate é dona de três salas no subsolo de um prédio comercial no setor Sudoeste do Distrito Federal de onde saíram R$ 45 milhões em compras governamentais. Governos corruptos, como foi o de Fernando Collor em 1991, podem gerar um certo enfraquecimento moral coletivo.
Neto de peixe
O ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, deve apoiar o candidato de Bolsonaro na disputa para a presidência da Câmara. Vai de Arthur Lira, contra a articulação encaminhada pelo seu partido. Ele age com aquela cara de quem quer cargo. Aos que lhe cobram por dar aval ao antidemocrático Bolsonaro, Acmzinho diz que se o seu avô deu apoio a generais, por que ele não poderia se alinhar com um capitão.
Joga fora no lixo
A agressão de Bolsonaro aos jornalistas na quarta passada, quando ele mandou todos para a pqp, mostra o tamanho da lixeira em que o presidente do Brasil vai acabar sendo jogado. Alegando falsamente que a imprensa o acusou de comprar R$ 15 milhões em leite condensado, disse que as latas serviriam “para enfiar no rabo de jornalista”. Sabe qual o problema do capitão? Ele lê tudo pela ótica odienta da sua timeline. Os jornais nunca atribuíram ao presidente a compra do leite, embora tenham relatado que havia indícios de superfaturamento. Uma vez que não lê jornais e não assiste a telejornais, o que ele acompanhou foi a repercussão da história nas redes sociais. E então explodiu no mar de esgoto que se viu.
Vergonha Flamengo
A imagem dos jogadores do Flamengo rindo como se fossem velhos amigos de Bolsonaro deve-se colocar na conta do presidente do clube Rodolfo Landim. O vereador gazeteiro Marcos Braz também tem culpa. Ele estava naquela tarde de sexta em Brasília puxando o saco do presidente enquanto os seus colegas trabalhavam em favor dos cidadãos do Rio. Foram Landim e Braz que contrataram Aleksander Santos para ser o diretor de relações institucionais do clube. E este, um ex-guardião de Crivella, fez a ponte do Flamengo até o capitão.
Faltam cubanos
Não se pode negar que os 18 mil médicos cubanos do programa “Mais médicos” do governo Dilma seriam muito úteis hoje. Eles trabalharam em mais de quatro mil municípios e sua área de abrangência cobria 63 milhões de brasileiros. Que reforço espetacular representariam na linha de frente do combate ao coronavírus.
Boa iniciativa
Uma surpresa na Delfim Moreira. A construtora Gafisa cedeu o espaço em que vai levantar um prédio para que o artista plástico Raul Mourão exponha duas de suas megaobras interativas. Vale visitar. Fica entre a João Lira e a José Linhares.
Correção
Na semana passada, me referi a um bate papo online frustrado que se daria entre Gean Loureiro, prefeito de Florianópolis, e Júlio Garcia, presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Disse que o talk não ocorreu em razão da prisão de Garcia horas antes do encontro. Errei. Júlio Garcia foi preso, sim. Nenhum problema aí. O erro foi ter identificado o prefeito Loureiro como governador do estado.
Merval Pereira: Só até a beira
Assim como a velhice pode ser considerada uma boa situação levando em conta a alternativa, que é a morte, também o presidente Bolsonaro ter vendido a alma ao Centrão pode ser uma boa alternativa para ele, diante da ameaça do impeachment. Nesse primeiro momento, a simbologia da provável vitória dos dois candidatos que apoia, na Câmara Arthur Lira, e Rodrigo Pacheco no Senado, indica que Bolsonaro está dono da situação.
Negociou verbas, nomeações, prometeu cargos, está estudando uma reforma ministerial para o Centrão. Um dos atingidos pode até mesmo ser o General Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, que vem fazendo a negociação política do Palácio do Planalto.
O Centrão está de olho em ministérios com poder político, como também o Gabinete Civil, ocupado por outro General, Braga Neto. Mas querem outros ministérios estratégicos, como o da Cidadania, que coordena o Bolsa Família e o provável novo auxílio emergencial, e o da Indústria e Comércio, que seria recriado, desmontando o espírito do ministério da Economia, onde Paulo Guedes centraliza as ações econômicas.
Se Guedes engolir mais essa, é previsível que venha a enfrentar desafios à sua orientação, como já acontece com Rogério Marinho no ministério do Desenvolvimento Regional. Mas como se trata do Centrão, não se pode dizer que o presidente da República estará permanentemente blindado, protegido. Além de ter a goela grande, que vai exigir do governo mais e mais vantagens à medida que a situação política piore, há a corrida presidencial que já começará a se delinear a partir do segundo semestre.
Até lá saberemos se o ex-presidente Lula, como é provável, terá sua condenação no caso do triplex anulada por decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), se Luciano Huck deixará a Globo para se assumir candidato, dois marcos importantes para a definição do quadro. Lula terá que batalhar ainda pela anulação de outra condenação em segunda instância, a do sítio de Atibaia, mas ganhará força política se se confirmar a primeira anulação.
Vamos ver no decorrer da campanha eleitoral, ainda este ano, como ficará a popularidade de Bolsonaro nas pesquisas, que servem de parâmetro para o mundo político analisar a chance de cada um. Se começar a perder popularidade, se a economia não decolar e a crise social aumentar, a situação vira, e ele fica refém do Centrão e nas mãos dos dois presidentes que elegeu. É uma jogada de risco, mas tinha que ser feita, dentro do critério que adotou, a velha política do toma lá, dá cá, o velho hábito do Congresso brasileiro.
O presidente Bolsonaro não tem capacitação para liderar um governo com bases em programas, valores éticos que inibam os clientelistas. Ao contrário, quando tentou se livrar dos políticos, acusando-os de fomentarem a corrupção, o que queria era ficar livre dos controles institucionais, desmobilizar o Congresso. Quando ameaçou o Supremo Tribunal Federal (STF), através de suas turbas amestradas, tinha o mesmo objetivo, colocar-se acima das instituições.
Como não deu certo, pois as instituições mostraram-se resilientes, ele deixou o sistema de pesos e contrapesos para fazer o mesmo que os governos anteriores que criticava: criar um ambiente propício aos interesses fisiológicos. A diferença dessas eleições para a anterior é que naquela, como Bolsonaro estava com a proposta de não depender dos partidos, e criticava muito a velha política, rejeitando acordos com o Congresso, a Câmara e o Senado votaram pela independência, pela autonomia.
No Senado, Davi Alcolumbre derrotou velhas lideranças tradicionais como Renan Calheiros e José Sarney, apresentando-se como a cara nova da nova política. No decorrer do mandato, vimos que não havia novidade nenhuma, era exatamente a mesma coisa, seis por meia dúzia. Mas, de qualquer maneira, o espírito daquela vez era de confrontação com o palácio do Planalto, em defesa do Legislativo. Agora, estamos vendo uma submissão ao governo federal em troca de vantagens pessoais. Mas uma conhecida frase política é que "ninguém vai segurando o caixão até dentro da sepultura. Vamos até a beira”.
Pedro Doria: Biden muda o jogo da nova guerra fria, entre EUA e China
Em meio a tantas mudanças no governo americano, passou despercebida uma carta escrita pelo presidente Joe Biden à direção do Instituto Broad. Dedicado ao encontro entre tecnologia digital e genética, entre ciência pura e medicina prática, o Broad nasceu de uma rara colaboração de duas universidades vizinhas — Harvard e MIT.
E Biden quer repetir a experiência de um de seus mais importantes antecessores — Franklin Roosevelt. De um presidente que virava as costas para a ciência, os EUA mudaram para um que vai ao seu encontro. E que deseja, com ciência e tecnologia, redefinir o conflito com a China.
“Em 1944, o presidente Franklin Roosevelt escreveu uma carta a seu assessor científico, Vannevar Bush, lhe perguntando como ciência e tecnologia poderiam ser aplicadas para beneficiar a saúde, a prosperidade econômica e a segurança nacional nas décadas após a Segunda Guerra”, escreveu Biden.
“A resposta do Dr. Bush veio na forma de um relatório que deu curso ao avanço científico americano dos 75 anos seguintes.”
No centro do debate está uma discussão sobre o papel do Estado, uma mudança no pensamento liberal, e a compreensão de que os EUA estão entrando numa nova Guerra Fria.
O problema que Roosevelt tinha pela frente já era claro em 1944. A Alemanha Nazista ia perder a guerra, o fascismo seria limado do mapa, EUA e União Soviética venceriam e entrariam em disputa por influência no mundo.
Nos anos 1940 e 50, batiam-se os dois polos do mundo em igualdade de condições no desenvolvimento científico. Na briga ideológica de qual sistema seria capaz de gerar riqueza, desenvolver conhecimento e avançar com sua sociedade à frente, a democracia liberal bateu o comunismo.
A China é muito diferente do que foi a União Soviética. Segue tendo um governo altamente centralizado, não há liberdades individuais, e o planejamento econômico é feito em Pequim. A diferença é que o regime agora é capitalista, há gente que enriquece, histórias de empresários que ergueram suas companhias do nada, e eficiência na produção nunca é deixada de lado por burocracia.
A China produz tecnologia de ponta, de ponta mesmo. Conseguiu o que a URSS jamais chegou perto de atingir.
Assim como a segunda metade do século 20 foi marcada por uma disputa de sistemas, também a primeira metade do século 21 será desenhada assim. A diferença é que o adversário das democracias liberais, desta vez, é competente.
Por isso mesmo, por parecer ter criado a ditadura eficiente, capaz de gerar riqueza e de distribuí-la, a China se torna um modelo tentador para muitos.
Donald Trump entendia este jogo como mera disputa comercial. Pouco afeito à ideia de democracia, não entendeu onde estava o verdadeiro potencial americano. Do governo Reagan para cá, o Estado se ausentou de ter um papel maior no futuro dos EUA.
Biden, agora, volta àquele modelo de John Maynard Keynes e John Kenneth Galbraith, que permeou as presidências de Eisenhower, Kennedy e Johnson.
Não se trata do Estado central dos nacional-desenvolvimentistas. Não é um Estado que decide indústrias e orienta a nação de Washington. Mas é um Estado que gasta dinheiro pesado para desenvolver ciência e atrair cérebros de toda parte, um Estado em essência multicultural.
A aposta é de que conhecimento será criado em tal quantidade, e com a liberdade de inquirir e testar que só democracias são capazes de produzir, que o resultado inevitável será o surgimento de empresas e até mesmo de novas indústrias inteiras.
O Vale do Silício nasceu assim.
O Globo: Nova cepa do coronavírus surgida em Manaus pode tomar país em um mês, estima cientista
Para infectologista Marcus Laceda, da Fiocruz, há muitos indícios de que essa variante específica do vírus é de fato um subtipo do vírus com maior capacidade de transmissão
Rafael Garcia, O Globo
SÃO PAULO — A nova cepa do coronavírus, encontrada inicialmente em Manaus, já está em 91% das amostras de vírus sequenciadas no Amazonas e pode ter sabotado a imunidade coletiva de Covid-19 que existia na cidade, afirmam cientistas que monitoram a situação.
— Provavelmente essa nova variante já está em outras regiões do país, e é questão de tempo ela se tornar dominante. Em cerca de um mês já deve prevalecer sobre outras no monitoramento — disse o infectologista Marcus Lacerda, da Fiocruz-AM.
Entenda: O que se sabe até agora sobre novas mutações do coronavírus, inclusive a que assusta Manaus
Segundo ele, há muitos indícios de que a P.1, sigla dessa variante específica do vírus, é de fato um subtipo do vírus com maior capacidade de transmissão.
Anteontem à noite, uma equipe internacional com participação da USP, Universidade de Oxford, King's College e Universidade Harvard publicou artigo sobre o tema. Encabeçados por Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da USP, a P.1 é apontada como uma das principais suspeitas pela escala arrasadora da segunda onda de Covid-19 que varreu Manaus.
Em setembro do ano passado, o grupo havia publicado artigo sugerindo que a capital amazonense já teria atingido a chamada “imunidade de rebanho”, quando a parcela de população infectada pelo vírus é tão alta que o sistema imune das pessoas torna-se barreira à disseminação.
De maio a dezembro, os manauaras praticaram pouco isolamento social sem que o vírus tenha se disseminado muito. A explosão de casos ocorrida em janeiro de 2021, que provocou um segundo colapso do sistema de saúde do município, e também do estado, coincidiu com a emergência do P.1, sugerindo uma ligação.
Pacientes transferidos
Alguns dos pacientes tiveram de ser transferidos para outros estados para conseguir atendimento de UTI, o que provocou críticas por parte de alguns médicos.
— O mundo inteiro está fechando os voos para o Brasil, e o país não só está aberto normalmente, como está retirando pacientes de Manaus e mandando para Goiás, Bahia, outros lugares, sem fazer os bloqueios de biossegurança — afirmou Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, ao programa Manhattan Connection, da TV Cultura. — Provavelmente vamos plantar essa cepa em todos os territórios da federação, e daqui a 60 dias podemos ter uma megaepidemia.
Lacerda concorda com a gravidade da situação, mas critica a fala de Mandetta.PUBLICIDADE
— A transferência de pacientes é uma questão humanitária, e não é o transporte controlado deles que está espalhando vírus, mas sim as pessoas que viajam e não praticam isolamento e medidas de controle — disse.
Dada a alta prevalência desse vírus na Região Norte, diz Lacerda, fechar divisas de estado não deve surtir mais efeito, porque o vírus já deve estar em outras regiões.
Manaus teve duas 'primeiras ondas'
No artigo liderado por Ester Sabino, da USP, os cientistas afirmam que o P.1 pode ter interferido na epidemia de Manaus de duas formas. Por ser mais transmissível, o vírus pode ter aumentado sua prevalência naturalmente, competindo por espaço com outras variedades do Sars-CoV-2. Mais preocupante, as mutações sofridas por essa variante do vírus podem tê-lo tornado capaz de infectar pessoas que já tinham adquirido imunidade.
Outras explicações podem estar por trás da segunda onda explosiva da cidade, como um declínio natural da imunidade adquirida, mas é pouco provável, escrevem os pesquisadores. Pode ter acontecido que a imunidade de rebanho tenha sido superestimada, por problema no recorte de pacientes.
A primeira onda da Covid-19 em Manaus foi mais dura no estrato mais pobre da cidade, enquanto o grupo mais rico foi mais afetado na segunda onda. Ou seja, é como se a cidade tivesse tido duas “primeiras ondas” em populações diferentes, diz Lacerda.
Para Sabino e seus colegas, todas essas hipóteses não são mutualmente excludentes, podem ocorrer simultaneamente. “O aumento abrupto no número de internações hospitalares em Manaus durante janeiro de 2021 é inesperado e preocupante”, escreveu a pesquisadora.
Como a interferência da P.1 é uma suspeita muito forte sobre o que ocorreu na cidade, a Fiocruz já está buscando uma maneira mais fácil de monitorar a disseminação dessa variedade do vírus: uma versão do exame diagnóstico de Covid-19 do tipo RT-PCR que seja capaz de diferenciar essa cepa de outras. Isso dispensaria a necessidade de sequenciamento genético para identificar o vírus. A estimativa de 91% de participação que a P.1 tem na epidemia de Manaus foi feita com base em apenas 35 amostras (32 estavam positivas).
Um outro trabalho importante da Fiocruz, neste caso no Rio, é avaliar se a imunidade desencadeada pelas vacinas de Covid-19 é capaz de neutralizar o P.1. Para isso é preciso usar soro do sangue de pessoas vacinadas com a CoronaVac e a vacina Oxford/AstraZeneca, as duas disponíveis no país.
A vacina Pfizer/BioNTech consegue imunizar as pessoas contra uma outra variante do coronavírus, B.1.1.7, que emergiu no Reino Unido e também parece ser mais transmissível. Já a vacina da Moderna se mostrou resposta imunológica contra a variedade B1.351, que emergiu na África do Sul. É preciso, então, testar caso a caso.
— Importante é o foco na vacinação. O Brasil precisa hoje estar 100% empenhado em vacinar — diz Lacerda.
Hospital para nova cepa
A Secretaria de Saúde da capital paulista decidiu concentrar no Hospital Municipal de Pirituba, na zona norte, pacientes infectados ou com suspeita de infecção pela variante P.1. Quatro pacientes vindos de Manaus já estão internados na unidade. Apenas uma paciente de 61 anos já teve confirmação de ter sido infectada pela nova cepa. Os outros três ainda aguardam os resultados do sequenciamento genético do vírus pelo Instituto Adolfo Lutz.
Flávia Oliveira: Não há vacina para o Brasil
Não é uma nação um país onde autoridades e servidores, em benefício próprio, furam a fila da imunização
Nenhuma nação ostenta sem motivo, e por tanto tempo, o título de mais desigual do mundo. Tampouco o supera rapidamente — nem mesmo com a pior crise sanitária em um século. A semana desoladora nos fez lembrar por que um país do grupo das dez maiores economias do planeta é o 84º em desenvolvimento humano, conceito que mescla renda, escolaridade e longevidade da população; e segundo em mortes por Covid-19 — mais de 220 mil óbitos e contando. Ficaram para trás os dias festivos pela (demorada) aprovação pela Anvisa do uso emergencial das vacinas CoronaVac e AstraZeneca e pelo (atabalhoado) início da imunização. Vibramos com a enfermeira negra Mônica Calazans, primeira pessoa vacinada no Brasil, para nos entristecermos na sequência. Contra a desigualdade, não há antídoto.
Minha mãe, Dona Anna, uma mulher que passou não mais de cinco anos nos bancos escolares na primeira metade do século XX, me educou com ditos populares. Em frases curtas, imensos saberes. Uma delas não me tem saído da cabeça no Brasil de 2021, esse prolongamento do 2020, o ano que não terminará: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. Cinco palavras que resumem o descalabro de uma sociedade que deixou de lado a empatia para se atracar, sem vergonha, à incompetência e, sem decoro, ao privilégio.
Quando a pandemia da Covid-19 alcançou o território nacional, idealistas — eu entre eles — previram que a tragédia nos guiaria a um contrato social mais solidário, fraterno, generoso. Vêm aí, sonhamos, a valorização da saúde pública, a cooperação entre sociedade civil e Estado, o fortalecimento das políticas de assistência social, um modelo de desenvolvimento respeitoso com as pessoas e o meio ambiente. Aconteceu, como sempre, no precário. Favelas, aldeias, quilombos e organizações a eles vinculados se irmanaram em redes de proteção materializadas em água e alimentos, sabão e álcool gel, máscaras e até algum dinheiro. Livraram famílias, comunidades inteiras da fome, da doença, da morte, enquanto governos, por atos e omissões, tomavam goleada do vírus. O Rio de Janeiro teve o governador afastado por suposto envolvimento em fraudes na saúde.
No micro, um país gigante; no macro, um verme — vai ver, por isso, o presidente da República e seu ministro da Saúde passaram meses recomendando ivermectina como tratamento precoce contra a Covid-19, mesmo sem comprovação científica. Não é uma nação um país onde autoridades e servidores, em benefício próprio, furam a fila das vacinas que podem salvar a vida de profissionais de saúde da linha de frente do combate à pandemia e de idosos do grupo de risco prioritário.
Não é uma nação o lugar em que o setor privado busca a simpatia da opinião pública anunciando a compra de 33 milhões de doses de vacina, tendo como contrapartida a subtração de metade do lote para aplicar nos próprios colaboradores. Aos empregados com carteira assinada do topo do mercado corporativo, a imunidade; aos brasileiros excluídos, cloroquina, doença e morte. Não é uma nação quando o chefe de Estado e seu vice festejam a proposta indecorosa, por excludente.
No Amazonas, onde a população morre asfixiada por falta de oxigênio, e uma nova cepa do coronavírus se espalha, ameaçando o país e o mundo, especialistas propõem imunização coletiva. Urgente. Mas a vacinação foi suspensa, mais de uma vez, pela Justiça, para tentar frear o trem da alegria das aplicações indevidas. No Hospital Federal de Bonsucesso, parcialmente desativado após um incêndio que interrompeu em fins de outubro passado o atendimento de emergência, 720 doses da CoronaVac foram recolhidas pela prefeitura do Rio, após uma queda de energia deixá-las sem a refrigeração adequada por alguns minutos. Não havia gerador no laboratório que abrigava o ativo mais valioso do Sistema Único de Saúde no momento — há escassez de vacinas no país e no mundo.
Não é uma nação o lugar em que governo e instituições, depois de um ano letivo perdido, ignoram o apelo de milhões de jovens para adiar a realização do exame que é porta de entrada para o ensino superior. Numa consulta do Ministério da Educação, a maioria dos estudantes votou pela realização do Enem 2020 em maio deste ano. Mas a prova foi aplicada em dois domingos de janeiro, em plena segunda onda da doença que voltou a matar mais de mil pessoas por dia no país. Metade dos inscritos faltou à mais excludente edição da prova. Aos bem-nascidos, vagas na universidade; aos empobrecidos, decepção, frustração, evasão. Contra a desigualdade patológica não há vacina.
Míriam Leitão: Mundo paralelo da equipe econômica
No ano passado o mercado de trabalho encolheu, fortemente. É até óbvio. Aqui e no mundo a pandemia foi devastadora para o emprego. A equipe econômica de Jair Bolsonaro quer fazer crer que houve criação de emprego e que ao fim do ano o país tinha 142.690 de vagas a mais com carteira assinada do que em 2019. No mesmo dia, no mesmo governo, a informação do IBGE é que no trimestre terminado em novembro havia 3,5 milhões de trabalhadores a menos com carteira assinada em relação a 2019. No mercado como um todo, a queda é de 8,8 milhões de pessoas ocupadas.
O Caged, divulgado pelo Ministério da Economia, registra as demissões e contratações do mercado formal. O IBGE faz a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Eles medem coisas diferentes, mas quando o IBGE diz que são empregados com carteira está, teoricamente, medindo a mesma parcela do mercado de trabalho que o Caged. Em algum momento, deveriam convergir, mas estão discrepantes.
O ministro Paulo Guedes anunciou o número do Caged, que registrava perda de emprego, 67 mil em dezembro, mas que terminava o ano com o saldo positivo. E o fez repetindo discurso político com comparações com o pior período petista.
Uma perda de tempo, porque ele poderia até contar uma boa história comparando esse ano singular que foi 2020 com o que poderia ter sido. As medidas do governo de fato atenuaram as demissões e a recessão. O PIB deve ter uma queda em torno de 4,5%. As previsões iniciais eram bem piores. Mas não há como negar que foi um ano terrível para o mercado de trabalho.
O economista Daniel Duque, do Ibre/FGV, que foi um dos primeiros a alertar para a diferença que estava acontecendo entre o Caged e o IBGE, tinha no começo duas hipóteses para a discrepância: subnotificação e metodologia.
— A subnotificacão aconteceu mais no meio da pandemia, lá para abril a junho — explicou.
O Caged é feito a partir da informação das empresas. Muitas fecharam as portas e nada informaram. Houve dificuldade de registro também por causa de mudança na metodologia que houve em janeiro do ano passado. Emprego intermitente antes não era obrigado a informar. Agora no novo Caged é. Há outras alterações que parecem confusas até para os especialistas.
— A questão toda é que quando a gente tem uma série é preciso ter referência sobre como ela se comporta. O Caged sempre teve correspondência boa com o PIB e nível de atividade. Quando acelera, tem emprego e vice-versa. O novo Caged a gente não sabe mais a referência. Num ano de queda do PIB, há geração líquida de 142 mil vagas — diz Daniel Duque.
E o IBGE, o que disse ontem? A Pnad mostra dados trimestrais. De setembro a novembro o Brasil chegou a uma taxa de 14,1% de desocupação, ligeiramente menor do que no trimestre anterior terminado em agosto. Mas representando 14 milhões de pessoas desempregadas, ou seja, procuraram emprego e não encontraram. Com a pandemia, a necessidade de distanciamento social, as medidas restritivas mais severas, muita gente nem procura emprego. Então não entra na estatística. Os desalentados, que nem pensam em procurar, são 5,7 milhões. Há uma grande tragédia no mercado de trabalho. Não adianta agarrar-se a um dado que deu positivo para elogiar-se e atacar o adversário político. Ademais, Ministério da Economia deveria ser técnico, e não ficar todo o dia atravessando a rua para brigar do outro lado.
Daniel Duque ajuda a entender essa complexidade que está sendo medir o que acontece no mercado de trabalho no meio da pandemia:
— Pnad e Caged contam histórias muito diferentes. Desde o início da pandemia, o Caged mostrava uma queda muito menor do emprego, e depois passou a mostrar uma recuperação mais forte do que o dado da Pnad para o emprego formal. O IBGE, quando mostra a recuperação do emprego, é principalmente do informal. Eu tendo a acreditar mais na Pnad Contínua por vários motivos. Um deles é que tem maior correspondência com a atividade econômica.
Equipe econômica que se agarra a um número parcial positivo e não vê o todo não ajuda muito a enfrentar a crise. Até porque nós estamos em novo agravamento do número de mortes e contágios, e há muita incerteza na economia. O país tem um outro ano duro pela frente em que a capacidade de formulação de políticas para atenuar os problemas será novamente exigida.
Merval Pereira: A incerteza continua
A decisão do ministério da Saúde de não garantir a compra das 54 milhões de doses de Coronavac produzidas pelo Instituto Butantan não tem explicação, a não ser essa interminável guerra política entre o governo central e o governador de São Paulo João Dória. Não há vacina suficiente no mundo até o momento, mesmo os países desenvolvidos estão com problemas para vacinar seus cidadãos, e o Brasil parece menosprezar a possibilidade de adquirir milhões de doses, simplesmente por sua origem, não mais chinesa, mas paulista.
Essa birra está dando oportunidade a que Dória amplie o alcance de seu nome a nível nacional, prometendo vender as vacinas para outros estados, que lutam para conseguir as doses que o governo central não teve capacidade de garantir. A incerteza é tamanha que ontem, ao anunciar o calendário para vacinação na cidade do Rio de Janeiro de pessoas acima dos 80 anos em fevereiro, o secretário de Saúde Daniel Soranz avisou que as datas dependem da chegada das doses das vacinas da AztraZeneca da Fiocruz, e Coronavac do Instituto Butantã.
Nós, que não somos do primeiro mundo, estamos arriscados a ficarmos sem vacina por um bom tempo, já que a escassez de produção no mundo está obrigando a que várias mudanças sejam feitas na entrega das doses, e na utilização das vacinas. Já há países que pretendem dar apenas a primeira dose das vacinas, para conseguir começar a imunizar mais cidadãos. Aqui no Brasil, esta possibilidade foi aventada, mas o Instituto Butantan insiste em que as doses da Coronavac devem ser aplicadas com uma diferença máxima de 15 dias.
A vacina da AztraZeneca pode levar até três meses entre as doses, o que a torna mais atraente para o momento inicial da produção. Mas a União Européia pode exigir que a farmacêutica inglesa não exporte suas vacinas antes de garantir a vacinação nos países europeus. Isso dificultaria a chegada das vacinas a países periféricos como o Brasil. Vem da Alemanha também a advertência de que a vacina da AstraZeneca não é aconselhável para pessoas acima de 65 anos, o que, se confirmado pela União Européia, pode causar problemas até mesmo por lá, onde já começou a vacinação em alguns países com ela, justamente entre os idosos.
Além de toda a trapalhada que o governo fez nas negociações e nas compras, existe esse problema real, com a União Européia já ameaçando proibir a AstraZeneca de exportar antes de servir aos países do continente. É uma situação que não deveria ser assim, mas é. Quem tem mais dinheiro, leva. Isso já se evidenciou no início da pandemia, quando respiradores e material médico foram disputados em leilões onde os países mais ricos levaram vantagens.
Devido à inépcia do governo, estamos nas mãos de duas farmacêuticas produtoras de vacinas, embora existam várias outras sendo aplicadas no mundo. A vacina da Pfizer, por exemplo, foi recusada pelo governo brasileiro sob a alegação de que as condições para a venda eram inaceitáveis. A vacina está sendo aplicada em diversos outros países, e possivelmente as condições são as mesmas. Só seria cabível a decisão de recusar a vacina se tivéssemos certeza de que a farmacêutica alemã não exigiu de outros países que assumissem os riscos de efeitos colaterais, livrando-a de processos judiciais. A FIFA também fez essa exigência para a realização da Copa do Mundo de 2014, e o governo brasileiro aceitou.
A política correta seria comprar qualquer vacina que estivesse à mão, desde que aprovada por organismos internacionais de controle reconhecidos no mundo. Tivemos uma negociação mal feita e pretensiosa, achando que o mercado brasileiro seria atraente. Ora, o mundo tem 7 bilhões de pessoas e os mercados dos EUA e da União Européia são muito maiores do que o nosso, sem contar a China e a Índia. Há mais demanda que oferta, e, portanto, não temos margem de barganha em compras que custam vidas.
Foram erros de estratégia, de negociação e de avaliação, porque o governo não teve, nem tem, a dimensão exata da crise, que vai se aprofundar nos próximos meses, enquanto continuamos com uma vacinação muito lenta e precária, o que faz com que o vírus se espalhe mais rapidamente, especialmente a nova variante encontrada em Manaus.
Cora Rónai: A sensação de alívio com o silêncio de Trump
'New York Times' publicou lista dos insultos que o ex-presidente postou na hoje banida conta do Twitter
Na semana passada, na esteira da posse de Biden, o “New York Times” publicou uma extensa lista dos insultos que o ex-presidente postou, desde a sua campanha, na hoje banida conta do Twitter: “The complete list of Trump’s Twitter insults (2015-2021).” É uma lista imensa, dividida por assuntos e nomes de desafetos, que pode ser consultada cronologicamente ou em ordem alfabética — e é um documento histórico inestimável, não tanto pela espantosa capacidade de um único homem em produzir desaforos, mas pela não menos espantosa paciência do corpo político em tolerá-los.
Algum dia, no futuro — isso se tivermos futuro, e chegarmos a tempos menos distópicos —, alguém vai se deparar com essa lista e vai se perguntar como um país do tamanho e da grandeza dos Estados Unidos aceitou tanta besteira, tanta estupidez e tanto ódio; mais ou menos como hoje nos indagamos como os romanos toleraram figuras como Calígula, Nero ou Domiciano. (Ou nos indagávamos, pelo menos, na época em que se estudava o Império Romano; mas o nosso passado anda tão distante hoje quanto qualquer futuro.)
No momento, a melhor coisa a fazer é aproveitar a sensação de alívio que reina nas redes sociais livres da presença nefasta do ex-presidente. Ela me lembra o momento em que as obras do metrô terminaram aqui perto de casa, depois de um tempo interminável de britadeiras. Não é um silêncio real, apenas o fim de um barulho insuportável.
Emissoras de televisão jamais repetem nomes de estabelecimentos ou marcas comerciais porque sabem o valor da publicidade, e não estão aí para fazer propaganda de graça para ninguém. O público frequentemente se irrita com a prática — “um hotel da Zona Sul do Rio de Janeiro”, “um shopping de São Paulo” — mas ela continua, assim como a pixelização de logotipos e de etiquetas. Deve haver um bom motivo para isso.
Nomes próprios, porém, são marcas.
(No caso do ex-presidente dos Estados Unidos, literalmente, e hoje ainda afixada a dez hotéis, 19 clubes de golfe e mais de 30 prédios residenciais ao redor do mundo: vai ser curioso observar os efeitos da política sobre esse mundo cafona de ostentação e dourados.)
Eu me pergunto se nós, jornalistas, não deveríamos seguir o exemplo das emissoras em relação a produtos, e deixar de mencionar com tanta frequência os nomes dos idiotas perversos que nos governam.
Será que precisamos mesmo repercutir tudo, sempre, o tempo todo? Será que precisamos repetir à exaustão nomes que se tornaram tóxicos?
Quando um decreto é assinado pelo presidente da República, por exemplo, é óbvio de quem se trata: só há um presidente em exercício. Só há um governador em exercício em cada estado, um prefeito em cada cidade e assim por diante.
Um antigo samba de Ataulfo Alves já resumia o caso:
“Fale mal / Mas fale de mim / Não faz mal
Quero mesmo assim / Você faz cartaz pra mim / O despeito seu / Me põe no apogeu.”
Eu sei, eu sei. A sugestão não é prática nem exequível; mas bem que podíamos tentar diminuir a cacofonia e retomar as rédeas das nossas pautas sequestradas.
No fundo, só estou pensando em voz alta, sonhando com o dia em que as britadeiras vão ser desligadas aqui também.
O Globo: Confira a estratégia do governo para atrair apoio a Arthur Lira
Parlamentares das legendas têm indicações no governo Bolsonaro e temem retaliações
Natália Portinari, Paulo Capelli e Bruno Góes, O Globo
BRASÍLIA - A pressão do governo federal com oferta de cargos e verbas e ameaças de retaliação estão por trás do crescimentos de dissidências a favor da candidatura de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara no DEM de Rodrigo Maia e no PSDB do governador paulista João Doria. As cúpulas das duas legendas acertaram o apoio a Baleia Rossi (MDB-SP).
Entenda: O racha no DEM, que fez Maia cobrar ACM Neto
Maia chegou a dizer nesta semana a ACM Neto, presidente de seu partido, que o DEM corria o risco de ficar conhecido como “partido da boquinha” se cedesse à pressão do governo. Segundo ele, estava repassando o que um empresário havia dito. Neto afirma que há apoio institucional a Baleia, mas não pretende punir dissidentes.
Os apoiadores de Lira nas duas legendas têm diversos cargos no governo federal. Elmar Nascimento (DEM-BA) mantém um indicado na presidência da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco), Marcelo Andrade Moreira Pinto. Arthur Maia (DEM-BA) tem indicações na Codevasf, Incra e Secretaria de Patrimônio da União (SPU).
Paulo Azi (DEM-BA) indicou o superintendente do Incra na Bahia, Paulo Emmanuel Macedo de Almeida Alves. Ele assumiu o posto em setembro do ano passado. José Mario Schreiner (DEM-GO), também contabilizado pelos apoiadores de Lira como um voto no candidato governista, tem um apadrinhado à frente da superintendência da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em Goiás.
Leur Lomanto Jr. (DEM-BA) tem a indicação de um superintendente do Ibama na Bahia. O próprio ACM Neto é tido como responsável pela recondução de José Carlos Aleluia (DEM) ao conselho de Itaipu.
Cota tucana
Os deputados do PSDB também já tiveram direito a indicações. Adolfo Viana (PSDB-BA) apadrinhou Lucas Maciel Lobão Vieira, coordenador do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) na Bahia. O superintendente do Ministério da Agricultura em Goiás é indicado de Célio Silveira (PSDB-GO). Luiz Carlos (PSDB-AP), por sua vez, indicou um coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena.
Reunião com deputados: Bolsonaro diz que espera influenciar na eleição da Câmara
Como revelou o GLOBO anteontem, diversos deputados já foram retaliados pelo governo. Flaviano Melo (MDB-AC), Hildo Rocha (MDB-MA), Fabio Reis (MDB-SE) e Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ) perderam seus indicados por apoiar Baleia Rossi.
Além de manter os cargos que já têm, deputados ouviram de Arthur Lira a promessa de que receberão verbas “extra” liberadas pelo governo. Nesse tipo de negociação, o Executivo paga valores para um município indicado pelo deputado de forma informal, e não com emendas parlamentares.
Embora o governo tenha sinalizado que pode pagar R$ 636 milhões em verbas para os deputados, não há como cumprir essa promessa agora, já que o Orçamento de 2021 não foi aprovado pelo Congresso. Arthur Lira, portanto, fica restrito a prometer valores pagos “a prazo”, depois da eleição.
Ontem, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acusou o governo de prometer R$ 20 bilhões em verbas desse tipo, “emendas extraorçamentárias”, em troca de votos. Ele ressaltou, no entanto, que esse seria um valor inexequível para o Orçamento previsto para 2021.
— Pela conta que eu fiz, e pelo orçamento que nós teremos para 2021, pelo que eu já vi que o governo está prometendo junto com o seu candidato, vai dar pelo menos uns R$ 20 bilhões de emendas extraorçamentárias. Eu quero saber em que orçamento para o ano de 2021, com todo o problema do teto de gastos, (terá espaço). (Como) eles poderão cumprir, se vitoriosos, essa promessa? — questionou.
No DEM, há 13 deputados com apoio declarado a Arthur Lira. É preciso 16 para definir a posição na eleição à presidência. Apoiadores de Lira pressionam ACM Neto para que o partido possa aderir ao bloco governista. ACM é resistente à ideia e argumenta que uma “guerra de listas” deixaria o partido desmoralizado.
Disputa: Rossi intensifica atuação para evitar votos em Lira dentro do próprio bloco
Maia tem criticado ACM Neto nos bastidores por não ter agido de forma enérgica para impedir as traições. Para Elmar Nascimento, apoiador de Lira, ACM Neto não deve isso a Rodrigo Maia.
— Ele (Maia) se julga credor de todo mundo. Por que é que o Neto vai fazer um trabalho em prol da candidatura do Baleia, do MDB, quando ele é presidente do partido e tem que enxergar o todo? O Neto já está fazendo demais pelo Rodrigo ficando neutro. O certo era ele ficar do nosso lado.
Dissidência no PSDB
O líder do DEM, Efraim Filho (PB), deve convocar uma reunião para que a bancada debata de que lado quer estar. Assim, evita a “guerra de listas”, mas dá espaço para que os deputados a favor de Arthur Lira virem o jogo.
No PSDB, que terá 29 votantes, o líder do partido, Rodrigo Castro, declarou voto em Baleia Rossi, mas ao menos quatro integrantes da legenda afirmam abertamente que votarão em Arthur Lira: Luiz Carlos (AP), Célio Silveira (GO), Celso Sabino (PA) e Mara Rocha (AC). Há expectativa de dissidências também na bancada mineira. Deputados da legenda ouvidos em caráter reservado avaliam que, apesar do discurso, Baleia deve compor com Bolsonaro em caso de vitória e, por isso, é melhor melhor se antecipar e já costurar essa proximidade com o Planalto.
O Globo: Entenda as mudanças que Bolsonaro avalia no primeiro escalão do governo
Onyx deve assumir Secretaria-Geral; Mourão pressiona por saída de Araújo
Jussara Soares, Natália Portinari e Adriana Mendes, O Globo
BRASÍLIA — Discutida desde o fim do ano passado nos bastidores do governo, a aguardada reforma ministerial foi tornada pública ontem pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Mesmo admitindo estar alijado das decisões, o vice afirmou que trocas no primeiro escalão podem ocorrer após a eleição no Congresso marcada para a próxima segunda-feira.
Uma das alterações avaliadas pelo presidente Jair Bolsonaro é a volta do atual ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, para o Palácio do Planalto. Ex-chefe da Casa Civil, ele deve ficar com a Secretaria-Geral da Presidência. Assim, a pasta da Cidadania, que controla o Bolsa Família e pagou o auxílio emergencial, fica disponível para ser entregue ao centrão. Parlamentares de partidos aliados, incluindo o candidato do Planalto à presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendem a continuidade do benefício pago durante a pandemia- da Covid-19, o que turbinaria ainda mais a pasta.
A declaração de Mourão foi dada em entrevista à Rádio Bandeirantes. Ele estimou que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pode ser um dos substituídos na reforma ministerial.
— Não tenho bola de cristal, nem esse assunto foi discutido comigo. Mas em um futuro próximo, depois da eleição dos novos presidentes das duas Casas do Congresso, poderá ocorrer uma reorganização do governo para que seja acomodada uma nova composição política que emergir desse processo. Talvez com isso aí alguns ministros sejam trocados, entre eles, o próprio Ministério das Relações Exteriores — disse Mourão.
Auxiliares diretos de Bolsonaro negam que há intenção de demitir Araújo, mesmo com as pressões sofridas pelo chanceler. Para eles, a declaração do vice-presidente externou apenas um desejo do núcleo militar do governo.
Em um almoço ontem com cantores sertanejos em uma churrascaria de Brasília , Bolsonaro disse que está “fazendo o melhor” escolhendo ministros. No discurso, elogiou os auxiliares presentes, e fez uma deferência especial a Araújo:
— Temos também outro importante ministro das Relações Exteriores, o Ernesto Araújo. Se leva tiro o tempo todo dessa imprensa que está aí, é sinal que está no caminho certo.
A possibilidade de reacomodar Onyx no quarto andar do Planalto, a alguns passos do gabinete presidencial, passou a ser cogitada após ele, que é filiado ao DEM, ter articulado para que Arthur Lira ganhasse apoio dentro da legenda na disputa pela presidência da Câmara. O movimento criou um racha no partido do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (RJ), que apoia Baleia Rossi (MDB-SP). ACM Neto, presidente do partido, conversou com Onyx recentemente e, ouvindo os apelos da ala governista do partido, optou pela neutralidade.
Com esta movimentação, Onyx ganhou Lira como aliado, que a interlocutores critica o excesso de militares com assento no governo. Bolsonaro também vem relatando reservadamente que está sentindo falta de auxiliares políticos mais próximos.
Atualmente, três generais ocupam pastas no Planalto: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto, que substituiu Onyx na Casa Civil em fevereiro do ano passado. Já a Secretaria-Geral está sendo comandada interinamente por Pedro Cesar Nunes, subchefe de Assuntos Jurídicos, desde que Jorge Oliveira tomou posse como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) no fim do ano passado.
“99% certo”
Dois integrantes do governo disseram ao GLOBO que a decisão da volta de Onyx para o Planalto já é tratada como definitiva. Outro, por sua vez, diz que a situação é considerada “99% certa” e lembrou que neste governo “nada está totalmente acertado até estar no Twitter.”
Onyx se reuniu anteontem com Bolsonaro no gabinete presidencial. Foi o terceiro encontro neste ano. Ontem, em entrevista à Rádio Bandeirantes, o ministro foi questionado sobre mudar de pasta e respondeu:
— A camiseta que ele me der eu vou jogar. A gente tem um objetivo de ajudar o Brasil e transformar o Brasil. Então, onde ele julgar que eu possa ajudar mais eu vou estar lá.
Também conta a favor de Onyx o fato de ele ter sido um dos principais articuladores políticos da candidatura de Bolsonaro em 2018. E, segundo interlocutores do governo, poderia novamente ser aproveitado para organizar o projeto da reeleição de 2022.
O ministro iniciou a gestão como o homem forte do governo, mas aos poucos foi sendo esvaziado e até pouco tempo era dado como certo que perderia a pasta da Cidadania e voltaria para a Câmara.