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Ricardo Noblat: Bom dia, general Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil

Prenda a respiração

Governos de países do primeiro mundo já teriam caído com a revelação de que pessoas estão morrendo nos seus domínios há mais de uma semana por falta de oxigênio.

Segure a respiração o máximo de tempo possível. E em seguida, tente ir um pouco além. Sentiu o pavor que tomaria conta de você? É assim que já morreram cerca de 40 habitantes de Manaus.

A falta de oxigênio matou, ontem, pelo menos 7 pessoas em Coari, cidade a 360 quilômetros de Manaus. E começou a matar também em pequenas cidades do Pará.

Em Faro, município de 12 mil habitantes na divisa com o Estado do Amazonas, morreram asfixiadas 6 pessoas de uma mesma família. Outras foram transferidas para Itaituba, área de garimpo.

É dramática a  situação de mães internadas em maternidades prestes a dar à luz, e de bebês que dependem de respiração artificial para seguir  lutando pela vida.

Há 49 bebês em UTIs de hospitais de Manaus. A produção de oxigênio na cidade é de 28 mil metros cúbicos por dia. Na semana passada, por dia, o consumo bateu a casa dos 70 mil.

Como é possível que tudo isso esteja em curso no Norte e as populações das demais regiões do país apenas se mostrem condoídas, abaladas e, se muito, solidárias?

Somente uma gigantesca operação de socorro, montada pelo governo federal, capaz de mobilizar todos os seus recursos, poderá deter a mortandade cruel de mais inocentes. Cadê?

Avisado desde novembro sobre o colapso iminente do sistema de saúde do Amazonas, o Ministério da Saúde mal se mexeu. Informado que faltaria oxigênio, mexeu-se aquém do necessário.

Eduardo Pazuello, o general especialista em logística militar, visitou Manaus há 10 dias. A ocasião serviu para que ele voltasse a recomendar o tratamento precoce à base de cloroquina.

Serviu também para que ele adiantasse ao governador o nome do futuro superintendente do Ministério da Saúde no Amazonas: Paulo Ricardo Loureiro. Não é médico, mas coronel da infantaria.

O que se conhece por vacinação em massa resume-se até agora a  milhões de pessoas aflitas no aguardo de vacinas que não se sabe quando estarão disponíveis.

A Índia mandou dizer que seus clientes preferenciais são os países que a cercam. A China não deu sinal da remessa de insumos para a fabricação da vacina que Bolsonaro tanto execrou.

Talvez não falte boa vontade à China, o maior parceiro comercial do Brasil no mundo. Sobra gente por lá que precisa ser vacinada. Mas por que facilitar a vida de um presidente que só a agride?

Donald Trump tinha cacife para maltratar a China porque era presidente dos Estados Unidos. Bolsonaro nunca teve, e nem tem mais Trump para chamar em sua defesa.

O Congresso está de recesso. Em modo virtual desde o início da pandemia há nove meses, só se materializará em 1º de fevereiro para eleger os novos presidentes da Câmara e do Senado.

De férias, o Supremo Tribunal Federal teve o cuidado de escalar três ou quatro ministros para despachar casos urgentes. Mas eles só podem agir se provocados como manda a lei.

Na verdade, o Dia D e a Hora H do desembarque nos Estados das tropas de imunizadores do general Pazuello nem tem dia nem hora marcados para de fato acontecer.

Segure, portanto, a respiração se você preza por sua vida e pela vida dos outros. Bolsonaro admitiu em um rasgo de modéstia: “Não vou dizer que sou um excelente presidente, mas…”

Não há governo, há só um arremedo. E dificilmente haverá pelos próximos dois anos, salvo se… Bom dia, general Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil.

 Augusto Aras acena com o fantasma do Estado de Defesa

Nota com jabuti

Pressionado por milhares de e-mails que o acusam de omissão, e criticado duramente por isso nas redes sociais, Augusto Aras, Procurador-Geral da República, soltou uma nota oficial para se defender – e nela pendurou um tremendo jabuti.

Usou vários parágrafos para dizer que atos ilícitos cometidos por autoridades da “cúpula dos poderes da República” durante a pandemia — e que gerem responsabilidade — devem ser julgados pelo Congresso – e até aí, nenhuma novidade.

Mas quer dizer: não contem com ele para investigar se o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Eduardo Pazuello, da Saúde, cometeram crimes de responsabilidade. Não que falte poderes a Aras para isso, ele simplesmente não quer investigar.

O jabuti ocupou dois robustos parágrafos:

“O estado de calamidade pública é a antessala do estado de defesa. A Constituição Federal, para preservar o Estado Democrático de Direito e a ordem jurídica que o sustenta, obsta alterações em seu texto em momentos de grave instabilidade social. A considerar a expectativa de agravamento da crise sanitária nos próximos dias, mesmo com a contemporânea vacinação, é tempo de temperança e prudência, em prol da estabilidade institucional.

Neste momento difícil da vida pública nacional, verifica-se que as instituições estão funcionando regularmente em meio a uma pandemia que assombra a comunidade planetária, sendo necessária a manutenção da ordem jurídica a fim de preservar a estabilidade do Estado Democrático”.

O que diz a Constitução sobre o estado defesa:

Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.

1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:

I – restrições aos direitos de:

a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;

b) sigilo de correspondência;

c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;

II – ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.

2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.

3º Na vigência do estado de defesa:

I – a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;

II – a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação;

III – a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;

IV – é vedada a incomunicabilidade do preso.

4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.

5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias.

6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa.

7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.

Quando a presidente Dilma Rousseff estava para cair, estrelas do PT consultaram o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, sobre a eventualidade adoção do estado de defesa. Os militares apoiariam a medida? A confusão nas ruas era grande.

Villas Bôas sentiu cheiro de golpe no ar. E negou o apoio das Forças Armadas.


Ricardo Noblat: Avança o plano de Bolsonaro de armar os brasileiros

O crime organizado e as milícias agradecem

No país dos mais de 200 mil mortos pelo vírus sem que o governo tenha feito grande coisa para evitar, quase 180 mil novas armas de fogo foram registradas na Polícia Federal no ano passado – um recorde em relação à série histórica que começou em 2009.

Foi um aumento de 91% em relação ao ano anterior, onde o registro de 96.064 armas representou uma alta de 84% em comparação com 2018, ano em que foi eleito presidente o ex-capitão Jair Bolsonaro, afastado do Exército por má conduta.

Dito de outra maneira: nos primeiros dois anos do mal militar que planejou explodir bombas em quartéis nos anos 80 do século passado, 273.935 novas armas foram registradas pela Polícia Federal, 183% a mais do que em 2018 e 2017. Taokey?

Não só mais armas, mas armas com maior potencial de fogo, um número maior delas compradas por cidadãos. E também mais munições para cada portador de arma. Bolsonaro chegou a zerar o imposto de importação de revólveres e pistolas.

Sua decisão foi suspensa pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, mas isso não significa que não possa voltar a valer. Armas para todo mundo, armas para quem quiser é o projeto mais acalentado pelo presidente da República.

No final de abril último, na célebre reunião ministerial gravada em vídeo no Palácio do Planalto, ouviu-se Bolsonaro dizer que povo armado jamais será escravizado. Ele repetiu o que dissera em um quartel de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 2018.

O crime organizado agradece por esse favor. As milícias armadas também. São eles e os clubes de tiro que mais ganham com isso. Mas ganha também no delírio dos Bolsonaro a milícia particular disposta a defendê-los contra uma eventual derrota em 2022.


Ricardo Noblat: Mais uma trapalhada do pai

Governo de brincadeira

Com todo respeito, obviamente o cacete, general Otávio do Rego Barros, porta-voz do presidente da República. Sem essa de “obviamente que o presidente não quer e não intervirá em aspectos que estejam relacionados a juros dos bancos que estão em tese sob o guarda-chuva do governo”.

Todo mundo viu, e quem não viu pode ver nas redes sociais, a gravação da televisão estatal onde o presidente Jair Bolsonaro, durante uma feira do setor agropecuário em Brasília, dirige-se ao presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, e diz:

– Eu faço um apelo para o seu coração e seu patriotismo para que esses juros, tendo em vista que você é cristão, para que esses juros caiam um pouco mais.

O que passou a cair a partir do apelo feito por Bolsonaro foi o valor das ações do Banco do Brasil na Bolsa de Valores. Recuperou-se mais tarde. Lembra algo? A queda do valor de mercado da Petrobras depois que Bolsonaro mandou suspender o reajuste do preço do diesel? Pois ele. Ele não aprende nunca.

Os que o cercam pelo menos aprenderam a corrigi-lo sempre que comete mais uma trapalhada. Como fez o presidente do Banco do Brasil, por exemplo. Para Novaes, Bolsonaro apenas “brincou”. A culpa pelo mal-entendido foi da imprensa “que perdeu o humor”.

Mais uma trapalhada do filho

Aspirante a ministro do pai
Depois de conseguir que seu pai demitisse Gustavo Bebianno, ministro da Secretaria-Geral da presidência da República, e de carimbar o vice-presidente Hamilton Mourão com a pecha de conspirador, o garoto Carlos Bolsonaro resolveu mirar no general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, à qual a Secretaria de Comunicação (Secom) é subordinada.

“Vejo uma comunicação falha há meses da equipe do Presidente. Tenho literalmente me matado para tentar melhorar, mas como muitos, sou apenas mais um e não pleiteio e nem quero máquina na mão. É notório que perdemos oportunidades ímpares de reagir e mostrar seu bom trabalho”, escreveu o vereador no Twitter. Com isso admitiu o que nega: quer, sim, mandar na comunicação do governo.

É tudo o que ele sempre quis, e persegue com a conivência do pai. Mais de uma vez, o presidente Jair Bolsonaro já disse que deve sua eleição a Carlos, o 02. E que ele tem todas as condições para aspirar a ser ministro. Não é por quê? Porque os generais que cercam Bolsonaro não querem. E porque Bolsonaro teme ser criticado caso o nomeie ministro. Mas ainda poderá fazê-lo.

Carlos não se conforma com o fato de não ter um lugar especial em Brasília ao lado do pai. Os irmãos Flávio e Eduardo têm. Um por ser senador, outro deputado federal. Embora dono das senhas de Bolsonaro nas redes sociais, e o mais influente dos três filhos, Carlos considera tudo isso pouca coisa. E estimulado pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, vai à luta.


Ricardo Noblat: Cresce irritação dos militares com Bolsonaro

Outra tentativa de enquadrar o capitão

Sem que de fato aconteça, quantas vezes mais se escreverá que os militares empregados no governo enquadraram o presidente Jair Bolsonaro, e que desta vez, sim, ele dará um chega para lá nos filhos, e no guru deles, o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho?

Justiça se lhes façam: Olavo só tem essa influência toda sobre os garotos porque o pai concorda com suas ideias. É tanto guru deles como do pai. E os garotos só estão de bola cheia porque Bolsonaro permite. Com frequência se vale deles para dar seus recados.

Escreva-se outra vez, pois: sob pressão da ala militar do governo, Bolsonaro, pela primeira vez, disse por meio do seu porta-voz que Olavo em nada contribui para o sucesso de sua administração com os constantes ataques que faz aos fardados e aos que vestiram farda.

De fato, Olavo tem pesado a mão contra os generais, mais especificamente o vice-presidente Hamilton Mourão. Nas últimas 48 horas, acusou-os de entregar o país “aos comunistas”, e de fazerem “cagada” em cima de “cagada”. Sim, Olavo é um desbocado.

Mourão reagiu um tom ainda abaixo daquele que gostaria de usar: “Acho que Olavo de Carvalho deve limitar-se à função que desempenha bem, que é de astrólogo. Pode continuar a prever as coisas que é bom nisso”. Não, Olavo não é bom de previsão.

Olavo é bom de polêmica. Por isso, apesar da advertência feita por Bolsonaro, não resistiu e na noite de ontem voltou a espicaçar Mourão: “Ele é um adolescente totalmente desqualificado para qualquer debate intelectual sério”. Os garotos comemoraram.

Talvez seja um exagero tratar como advertência o que afirmou Bolsonaro a propósito de Olavo. Primeiro ele o elogiou por ter tido “um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda”.

Para só depois dizer como se fizesse um apelo que ““tem convicção de que o professor, com seu espírito patriótico, está tentando contribuir com a mudança e com o futuro do Brasil”. Na verdade, Bolsonaro pela-se de medo de Olavo. Não quer virar alvo de suas críticas.

Quanto aos garotos que tanto irritam os militares, nem uma palavra. Mais de uma vez também já se disse que agora Bolsonaro afastaria os filhos do governo.

Volta-se a dizer. Melhor esperar para conferir. Ele foi candidato para eleger os filhos. Difícil que se afaste deles.

Canta, Queiroz!

Cuide-se, Flávio
O senador Flávio Bolsonaro, que outro dia passou ao ministro Gilmar Mendes a impressão de que anda muito assustado, tem de fato razão de sobra para isso.

O Ministério Público Federal do Rio recebeu a informação de que a cotovia da vez se prepara para cantar. A cotovia é Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Estado.

Queiroz está se sentindo abandonado pela família Bolsonaro, mas não só. Aperta o cerco a ele. Se não falar, será condenado por uso criminoso de dinheiro de outros funcionários do gabinete de Flávio.


Ricardo Noblat: Brasil não é quartel

Bolsonaro, cabeça de papel

O governo continua fazendo de conta que a responsabilidade pela aprovação da reforma da Previdência é só do Congresso ou acima de tudo do Congresso. A dele teria terminado com o envio da proposta da reforma concebida pelo ministro Paulo Guedes.

Se ela não passar, a culpa será do Congresso, dele não. Se a proposta for desidratada, o culpado será o Congresso. Esse é o típico comportamento de um governo autoritário que quer ter a última palavra em tudo e que exige respeito sem discussão às suas ordens.

Com toda certeza, é o comportamento de um governo que seguirá demonizando a política enquanto puder. Talvez aposte no agravamento da crise econômica para pôr o Congresso de joelhos ou o povo nas ruas a cobrar soluções drásticas. Ou as duas coisas de preferência.

Tudo o que o governo, e mais especificamente o capitão Jair Bolsonaro não quer é compartilhar o poder com os partidos políticos. É possível compartilhar sem concessões à corrupção. Nas democracias que podem ser chamadas por esse nome, não se governa sem partidos.

Bolsonaro foi formado à base da ordem unida – direita, volver, esquerda, volver, pelotão, marche. Por indisciplina, foi afastado do Exército. Tenta redimir-se junto aos ex-colegas de farda. Para isso quer mandar como se manda nos quartéis. Soldado cabeça de papel está sujeito à prisão.

Teste de força

Dia de índio
Por exatos 33 dias, segundo portaria assinada pelo ex-juiz Sérgio Moro, ministro da Justiça e da Segurança Pública, a Força Nacional poderá intervir na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para prevenir qualquer desordem.

Esta semana são esperados na cidade cerca de 5 mil a 8 mil índios para seu encontro anual onde discutem suas reinvindicações e pressionam o governo e o Congresso para que as atendam. Deverão ficar acampados na Esplanada dos Ministérios.

O governo não gasta um tostão com o encontro, financiado por Organizações Não Governamentais (ONGs) e contribuições de particulares. Os índios jamais promoveram um ato de desordem. Mas o governo do capitão Bolsonaro os teme e não gosta deles.

Bolsonaro já disse que não fará nenhuma demarcação de terras indígenas. E que está disposto a rever demarcações que possam ser revistas. Defende a exploração das reservas por empresas de mineração. Índio bom para ele é índio assimilado pelos brancos.

Há ministros próximos do capitão que querem acabar com manifestações na Esplanada. Alegam razões de segurança nacional. Argumentam que grandes manifestações são proibidas em frente à Casa Branca, em Washington. Bolsonaro concorda com eles.


Ricardo Noblat: Sem armas, please!

Mais um

O presidente Jair Bolsonaro e sua comitiva comemoram como se fosse algo excepcional o fato de que se hospedarão na Blair House, a pouca distância da Casa Branca. Segundo auxiliares do capitão, isso só acontece com visitantes especiais do presidente americano.

No site da Blair House, em consulta ao Livro de Hóspedes, vê-se a relação dos que já se hospedaram por lá. É enorme. Bolsonaro será só mais um. A Blair House funciona como um local importante para a diplomacia americana.

Além de servir como Casa de Hóspedes de visitantes estrangeiros recebidos pelo presidente, ela também é palco para uma quantidade muito grande de eventos internacionalmente focados em ajudar no progresso das relações dos Estados Unidos com outras nações.

Uma agenda típica de um ano pode incluir até trinta visitas de líderes estrangeiros, muitos almoços ligados à política de relações exteriores, jantares formais, recepções e chás e inúmeros encontros oficiais, todos sob a chancela do papel especial de Casa de Hóspedes do Presidente.

É recomendável que o Bolsonaro não entre armado na Blair House. E que se vista de acordo com o local.


Ricardo Noblat: Bolsonaro e PT, tudo a ver

Cara de um, focinho do outro

Em muitas coisas eles se parecem. Certamente foi por isso que tudo fizeram para se enfrentar no segundo turno da eleição presidencial do ano passado.

Ao longo do primeiro, o PT poupou Bolsonaro de críticas. Deixou para Geraldo Alckmin (PSDB) o serviço sujo de tentar destruir a imagem dele. Não deu certo.

Bolsonaro sempre soube que o adversário ideal para derrotar seria o PT. Suas chances seriam menores se seu adversário no segundo turno fosse qualquer um dos outros.

O que Bolsonaro faz agora com a imprensa rebelde aos seus desejos é o que o PT fez com menos estridência na época em que governou. Quer emparedá-la.

Se Lula, em comícios, chegou a citar o nome de jornalistas críticos do seu e depois do governo de Dilma, Bolsonaro procede da mesma maneira, na maioria das vezes por meio das redes sociais.

São dois irresponsáveis. Não se preocupam com as eventuais e perversas consequências à segurança de profissionais que apenas cumprem o seu dever de ofício.

Mas há uma diferença entre Lula e Bolsonaro: um está preso. O outro é o presidente da República, recém-eleito, e ainda com alto índice de aprovação.

Lula já não representa perigo algum para quem discorde dele – salvo dentro do PT, naturalmente. Bolsonaro é o perigo em pessoa.

Acadêmicos do Capitão saúda o povo e pede passagem

E o desfile mal começou...
Governo é como escola de samba. Há muitas alas, cada uma se julga a mais bonita, e todas querem brilhar na Esplanada da Sapucaí.

Há unir as alas um enredo que conta uma história. E também um samba que deve ser cantado ao ritmo ditado pelo puxador.

Se o coro de vozes não levar em conta a bateria, o samba atravessa. Se faltar harmonia no desfile, abrem-se buracos e perdem-se pontos.

No momento, O Grêmio Recreativo Acadêmicos do Capitão exibe pelo menos cinco alas. A saber:

+ Família Unida Jamais Será Vencida;
+ Fardados do General Mourão;
+ Órfãos da Lava Jato;
+ Economia Acima de Tudo;
+ e Indicados do Olavo.

Montada às pressas, a escola enfrenta um grave problema desde que começou a desfilar em janeiro último: carece de uma narrativa.

Quem puxa o samba? Não se sabe. Ora, puxa o capitão, ou tenta puxar, dando ouvido aos filhos reunidos na alucinada comissão de frente.

Mas logo ele desafina e é atropelado pelo vice, empenhado em corrigir seus erros. Por sinal, a Ala dos Fardados é a mais volumosa e ainda não está completa. Procura ocupar todos os espaços.

A da Lava Jato, a mais raquítica até aqui, teve seu comandante recentemente desautorizado. Sequer um auxiliar pode escolher.

O chefão da Economia Acima de Tudo não conversa com ninguém, nem com o pessoal a quem caberá engolir sua poção milagrosa. Dizem que troca ideias com Deus, o único acima de todos.

A turma dos Indicados do Olavo é a que mais saracoteia. Para quê? Para nada. Produz espuma e barulho inútil, para irritação e desânimo geral.

Sosseguem os que a tudo assistem bestificados: a continuar assim, a escola será rebaixada. Talvez não chegue à metade da avenida.

À falta de um samba enredo e de tantas outras coisas, melhor cantar Bye, Bye, Brasil à espera do desfile da próxima agremiação.

A turma da pipoca começa a se animar

À espera de receber para dar em troca
Respira-se melhor no Congresso. Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, mandou cortar a fantasia de Primeiro-Ministro do governo presidencialista de Jair Bolsonaro.

Multiplicam-se ali os indícios de que Bolsonaro está sendo normalizado pela descoberta de que não está fácil a vida de quem sonhe em aprovar a reforma da Previdência.

Por normalizar, entenda-se: render-se ao toma lá dinheiro e cargos em troca de 308 votos na Câmara e de 49 no Senado, o mínimo necessário para mudar pontos da Constituição.

Dinheiro para obras nas bases eleitorais dos parlamentares, Bolsonaro já mandou liberar sob a justificativa de que é obrigatório. De fato, é. Mas presidente só libera quando quer, e para quem quer.

Quanto a cargos… Aos políticos só interessa aqueles que rendem dinheiro. Quer dizer: cargos com orçamentos altos e poder de convencimento junto aos prestadores de serviços.

Por enquanto, Bolsonaro ainda hesita em dá-los. Teme a reação de seus devotos, todos convencidos de que a partir de agora tudo será diferente. Mas se isso for preciso e feito com discrição…

É o que se verá mais adiante.


Ricardo Noblat: O Estado do Crime

Por que mataram Marielle

Enquanto não se souber quem mandou matar a vereadora Marielle Franco, e por que, a prisão dos executores do assassinato de pouco adiantará para dar início ao que de fato importa – o eventual desmanche do Estado do Crime. Pois foi isso o que se tornou o Estado do Rio de Janeiro.

O Brasil é um dos países campeões do mundo em número de homicídios. São mais de 66 mil por ano. O crime organizado está espalhado por toda parte. Mas foi no Rio que as facções criminosas e os grupos paramilitares chamados de milícias capturaram o aparelho do Estado.

Não existe o Estado de um lado e o Estado do Crime do outro. Os dois são uma coisa só. Cerca de 2 milhões e meio de cariocas vivem em regiões onde a presença do Estado do Crime se faz sentir de maneira avassaladora, permanente e cruel. Mas os demais não estão a salvo de suas consequências.

Ali, o Estado de Direito foi praticamente abolido. Há segmentos dele que ainda sobrevivem, embora cada vez mais enfraquecidos, minados por dentro. A reconstrução do Estado de Direito cobraria muito tempo e um preço que talvez o país, e especialmente os cariocas, não estejam dispostos a pagar.

É o que ouço há anos de autoridades federais da área de segurança pública. É o que a sucessão dos fatos parece demonstrar. O esclarecimento da morte de Marielle, por si só, infelizmente não significará muita coisa. Tristes tempos, estes, que custarão a passar. Se é que, um dia, de fato passarão.

Bolsonaro quer saber quem mandou matá-lo

Eles contra nós

Ninguém escolhe os pais que tem, nem os filhos, quanto mais os vizinhos. Mas presidente da República, os habilitados a votar escolhem. E também seus representantes no parlamento.

Bolsonaro, que à época do assassinato da vereadora Marielle Franco preferiu nada comentar a respeito, ontem, provocado por jornalistas, abriu a boca para dizer platitudes e mais uma grossa besteira.

A besteira, e tomara que fosse apenas uma besteira: ele disse que está interessado em saber quem encomendou sua morte ao pedreiro Adélio Bispo que o esfaqueou em Juiz de Fora.

Do seu ministro da Justiça e da Segurança Pública, Bolsonaro já ouviu como resposta que Adélio agiu sozinho, por conta própria, e que o atentado não foi encomendado por ninguém.

Foi o que concluíram dois inquéritos da Polícia Federal que viraram pelo avesso o presente e o passado de Adélio. Peritos indicados pela Justiça atestaram também que Adélio é um doente mental.

A inconformidade de Bolsonaro com os resultados nada tem de inocente, nem trai apenas um justo sentimento de revolta com o que quase lhe custou a vida. Ele pode ser tosco, mas bobo, não.

Bolsonaro precisa manter viva a narrativa de que foi vítima de uma conspiração da esquerda, empenhada em evitar sua eleição. Se o PT inventou o nós contra eles, Bolsonaro inventou o eles contra nós.

Depende disso para manter sua tropa coesa. Depende disso para governar. Depende disso para se reeleger ou eleger o seu sucessor. Enfim, depende disso para não passar à história como uma fraude


Ricardo Noblat: Um presidente sem decoro

Bolsonaro compartilha no Twitter vídeo pornográfico

Pode ter sido efeito da ressaca de um carnaval onde apanhou muito por toda parte e foi alvo de insultos de baixo calão.

Mas ninguém espera que um presidente aparentemente normal reaja como fez o capitão Bolsonaro em sua conta no Twitter.

Ele agrediu a lei, a moral, os bons costumes e até a sensibilidade dos seus próprios devotos ao compartilhar um vídeo pornográfico.

Sim, porque uma coisa é o erotismo, representação explícita da sexualidade. Outra muita diferente é a pornografia.

O vídeo mostrou um homem dançando sobre um ponto de táxi em São Paulo após introduzir um dos dedos no próprio ânus.

Em seguida, aparece outro que abre as calças e urina na cabeça do homem que dançava. Por que Bolsonaro compartilhou o vídeo?

Para “expor a verdade” à população, segundo ele. “É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro”, escreveu.

Havia um bloco perto da cena. Mas a cena nada tinha a ver com o enredo do bloco nem com o comportamento dos seus integrantes.

Bolsonaro pediu aos quase 3 milhões e meio de seguidores que tirassem suas próprias conclusões e que debatessem a respeito.

Recebeu como resposta mais de 24 mil comentários, a maioria criticando-o pelo que havia feito.

Em um deles, o jornalista Fabio Pannunzio, apresentador do jornal da Rede Bandeirantes de Televisão, escreveu:

“Bolsonaro, a minha neta de seis anos tomou conhecimento dessa cena no seu Twitter. Ela e outros milhões de crianças cujos pais o seguem. Quero ver como o presidente da República vai explicar o que elas viram. Você precisa de tratamento médico com urgência”.

“Proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo” é crime, segundo a lei 1.079 da Constituição Federal.

Compartilhar vídeo pornográfico é ou não incompatível “com a dignidade, a honra e o decoro do cargo” de presidente da República?

Compartilhar vídeo pornográfico para em seguida deplorar seu conteúdo torna o vídeo menos pornográfico?

Presidente da República é o servidor número 1 do país. Todos os olhos se voltam para ele, para o que faz ou deixa de fazer.

Todos os ouvidos estão atentos para escutar o que ele diz. O comportamento de um presidente é escrutinado a cada momento.

Tudo bem que Bolsonaro não contasse com sua eleição até levar a facada em Juiz de Fora que quase lhe custou a vida. Mas, e daí?

Daí que parece nada ter aprendido desde que se elegeu presidente, nem mesmo a proceder com a honra que o cargo exige.

O país que deu a Bolsonaro 58 milhões de votos em outubro último está sendo apresentado aos poucos ao presidente que elegeu.

Não importa se está gostando ou não do que vê. Terá que conviver com ele pelos próximos 4 anos. Ou exatos 3 anos, 9 meses e 25 dias.

Ricardo Noblat: Escreva mais, Bolsonaro!

Ninguém amordaça um presidente
Somente ontem, além de compartilhar um vídeo pornográfico em sua conta no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro atacou indiretamente dois artistas, os baianos Daniela Mercury e Caetano Veloso, e respondeu com desaforos a dois jornalistas.

O ataque a Daniela e a Caetano teve a ver com a Lei Rouanet, de incentivos fiscais à Cultura. Daniela respondeu se oferecendo a ir a Brasília junto com sua mulher e empresária para explicar a Bolsonaro como a lei funciona. É ao contrario do que ele diz.

Os dois jornalistas, um da Rede Globo, recusaram-se a responder às provocações de Bolsonaro. Um deles foi chamado de “cérebro mofado”.
O vídeo compartilhado por Bolsonaro feriu as regras do Twitter às quais deveriam se submeter todos os que o utilizam. Mas o Twitter limitou-se a classificar de material “sensível” o que ele postou.

É bom que Bolsonaro fale mais e escreva mais. Ninguém governa governador, menos ainda presidente da República. E quanto mais ele fala, mais revela-se como é de fato.


Ricardo Noblat: Oferta ainda de pé

Prêmio de consolação

O fato de Gustavo Bebianno ter dito de público que recusou o convite do capitão para ser diretor da usina de Itaipu ou embaixador do Brasil em Roma inviabilizou de fato a reabertura das negociações para que ele venha a ocupar um dos dois cargos.

Mas um terceiro lhe foi oferecido, e sobre esse Bebianno nada disse: o de embaixador do Brasil em Lisboa. É um posto de muito prestígio. A sede da embaixada, à estrada das Laranjeiras 144, no bairro de Sete Rios, é magnífica e bem localizada.

Por ali já passaram diplomatas de alto nível, mas também políticos de renome que desfrutaram um doce exílio. O ex-presidente Itamar Franco foi um deles. De resto, não seria nenhuma complicação tirar de lá o atual embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado.

Experiente e respeitado no Itamaraty e fora dele, Figueiredo Machado já serviu em Santiago, Washington e Ottawa. Foi ministro das Relações Exteriores do primeiro governo de Dilma Rousseff. Bolsonaro quer em Lisboa um embaixador para chamar de seu.

A bola está no pé de Bebianno. Antes de chutá-la, é bom saber o que o vereador Carlos Bolsonaro pensa a respeito.

Bolsonaro e Bebianno, já, já de boa!

Nada como um dia após o outro
A terceira-feira, 19 de fevereiro, foi um dia para ser esquecido pelo presidente Jair Bolsonaro. A VEJA publicou as mensagens de áudio trocadas por ele com Gustavo Bebianno, a quem Bolsonaro chamara de mentiroso. Bebianno disse que perdera o cargo de ministro porque o vereador Carlos Bolsonaro o perseguia.

A Câmara dos Deputados rejeitou o decreto do governo que desfigurava a Lei da Transparência. Foi a primeira derrota do governo ali. A Justiça condenou Bolsonaro por ofensa à deputada Maria do Rosário (PT-RS), e absolveu o ex-deputado Jean Wylys (PSOL-RJ) da acusação de ofensa a Bolsonaro. Que sufoco!

O dia seguinte será lembrado por Bolsonaro para sempre. Ele foi ao Congresso entregar a proposta de reforma da Previdência. Falou ao país por meio de uma cadeia de rádio e de televisão. E recebeu a notícia de que em breve ele e Bebianno poderão estar numa boa. Que alívio! E sem ele que precisasse meter a mão no bolso.

Duas coisas preocupavam o presidente. Bebianno foi seu advogado em várias causas na Justiça. E se ele decidisse cobrar o que Bolsonaro lhe devia? Bastaria cobrar um preço justo para que Bolsonaro fosse obrigado a vender parte do seu patrimônio à falta de dinheiro vivo. Mas tinha coisa pior a preocupar Bolsonaro.

Saíra uma nota no jornal Folha de S. Paulo dando conta da disposição de Bebianno para reunir documentos e escrever um livro sobre sua vida ao lado de Bolsonaro durante pouco mais de um ano. E se Bebianno contasse coisas que pudessem comprometer a boa reputação de Bolsonaro junto aos seus devotos?

Antes do cair da noite sobre Brasília, o sol piscou para Bolsonaro. Ele soube que procurado a seu pedido por Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil da presidência da República, Bebianno, generosamente, garantira que nada cobrará pelos serviços prestados como advogado. Quanto ao livro, disse que jamais pensara em escrevê-lo.

A radiante quarta-feira, 20 de fevereiro, poderá ter sido o dia que marcou o recomeço do governo do capitão. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.


Ricardo Noblat: Motivos ocultos

Exército e governo, tudo a ver

Quando se quer demitir alguém, qualquer fato ou coleção de fatos serve. E se os fatos em estado puro não prestam, é sempre possível distorcê-los ao gosto do dono da caneta.

Foi o que fez “o nosso presidente”, como o chama seu porta-voz, o general Rego Barros. Ou o “capitão”, como insiste em chamá-lo o demitido ministro Gustavo Bebianno.

A verdadeira, ou as verdadeiras razões do presidente Jair Bolsonaro para despachar aquele que foi seu faz tudo desde o início da campanha do ano passado, essas permanecem ocultas.

É claro que Bebianno não foi demitido porque iria receber no Palácio do Planalto um diretor da Rede Globo, por mais que Bolsonaro a trate como inimiga do seu governo.

Nem porque teria vazado para o site Antagonista o que já fora publicado pelo jornal Folha de S. Paulo. Muito menos porque viajaria à Amazônia na companhia de mais dois ministros.

Para quem, como diz Bolsonaro, nada tem a ver com o escândalo das falsas candidaturas do PSL, a menção que ele faz ao episódio pode ser uma pista razoável da causa de saída de Bebianno.

Melhor dizendo: de uma das causas, mas não a determinante. Carlos envenenou o pai com a suspeita de que Bebianno vazara informações sobre as ligações da família com milicianos no Rio.

Envenenara-o também com a suspeita de que Bebianno queria derrubar Flávio com os rolos de Queiroz para pôr no lugar o seu suplente, o empresário Paulo Marinho, amigo do ex-ministro.

Doses tão reforçadas de veneno injetadas num cérebro tão pouco privilegiado como o do capitão produziram lá o seu efeito, admita-se. Mas ainda parece faltarem mais coisas.

Quem ganhou com a deposição de Bebianno – fora Carlos, o paranoico, o protetor número um do pai ao invés de limitar-se a ser o protegido número um por ele?

Com certeza, a ala militar do governo ganhou. Sim, ela mesma, que nos últimos dias pareceu ter ficado ao lado de Bebianno com receio de que a saída precoce dele desgastasse o governo.

A demissão de Bebianno reforçou a turma da caserna com a ascensão de mais um general de pijama ao posto de ministro. Agora são 8 os ministros que um dia vestiram farda.

Nunca antes na história do país tantos militares ocuparam funções antes destinadas a civis. Nos três últimos governos militares do ciclo de 64 foram apenas sete ministros.

Está tudo muito bom, está tudo muito bem para os que sonhavam com o retorno ao poder desta vez por meio do voto, mas o futuro a Deus pertence. E se ele não for róseo para o governo…

Se não for será um desastre para as Forças Armadas, principalmente para o Exército, que ajudaram um ex-capitão sem brilho a se eleger e, em seguida, a governar.

Não dá para separar mais o Exército do governo como disse desejar o general Vilas Bôas que o comandou até há pouco. Villas Bôas, hoje, serve no Palácio do Planalto e obedece ao capitão.

A jogada dos generais foi arriscada. A imagem do Exército está indissoluvelmente atada à do governo Bolsonaro. Para o bem ou para o mal. Tomara que seja para o bem.

Brasil acima de tudo. O Deus de cada um acima de todos.


Ricardo Noblat: Perguntas que não querem calar

Sobre o Caso Flávio Bolsonaro – ou melhor: Fabrício Queiroz

É ou não é admirável a disposição do ministro Luiz Fux para matar bolas no peito?

E como fica o plano do ministro José Dias Toffoli de tirar o Supremo Tribunal Federal da cena política devolvendo-o às suas antigas funções?

E o ex-juiz Sérgio Moro, hein? O que deve ter achado da decisão do ministro Fux no caso de Flávio Bolsonaro – ou melhor: no caso de Queiroz?

A manobra de Flávio para se desvincular dos rolos de Queiroz foi ou não uma jogada de gênio?

Flávio consultou o pai antes de pedir ao Supremo para que anule a investigação sobre os rolos de Queiroz?

Quantas vezes Lula tentou, mas não conseguiu abortar as investigações contra ele? Flávio terá mais sorte?

O que dirá Eduardo Bolsonaro sobre o gesto do irmão de invocar o foro privilegiado para barrar investigações que possam atingi-lo? No Twitter, em maio de 2017, Eduardo disse que é contra o foro privilegiado. Assim como o pai dele também havia dito.

Uma vez que não consegue pôr ordem na família, já não passa da hora Bolsonaro declarar que não responde pelos atos dos seus filhos? Mandaria a prudência que sim.

Com tantos generais disponíveis para cuidar do governo por que pelo menos um não é designado para cuidar dos filhos do presidente?

Confissão de culpa

Flávio deixa o pai numa saia justa

Aos ouvidos mais sensíveis, alguns de portadores de togas, soou como uma confissão de culpa de Flávio Bolsonaro o pedido feito por ele ao Supremo Tribunal Federal para barrar as investigações em torno dos rolos financeiros do seu ex-assessor Fabrício Queiroz.

Flávio disse uma vez e repetiu que achou muito convincente a explicação que Queiroz lhe dera acerca de movimentações financeiras em sua conta bancária para muito além do que seria justificável, a levar-se o salário que recebia na Assembleia Legislativa do Rio.

Fez questão de lembrar que não era investigado, e de afirmar que estava disposto a depor se fosse intimado para isso. Foi intimado e não depôs. Assim como intimado quatro vezes, Queiroz, sua mulher e as duas filhas não foram depor. Queiroz alegou problemas de saúde.

Para quem, a exemplo do pai e dos seus dois irmãos, sempre foi contra o foro privilegiado concedido a políticos e outras autoridades e disso fez alarde, Flávio não poderia ter invocado a seu favor a prerrogativa que imagina ter direito na condição de senador recém-eleito.

Quando um homem público se sente injustamente atingido por uma suspeita costuma declarar-se inocente como Flávio o fez, mas em seguida se oferece para colaborar com a Justiça e até se dispõe a abrir mão do sigilo em torno de suas contas. Isso Flávio não fez.

Assim como desconheceu que o Supremo, em decisão recente, estabeleceu que o foro privilegiado só vale no caso de eventuais crimes cometidos no exercício do mandato. Se algum crime Flávio cometeu não foi como senador, mas como deputado estadual. Logo…

Logo não lhe caberia pedir o que não tem direito. Elementar, meu caro. Ao fazê-lo, Flávio dá a impressão de que pretende apenas ganhar tempo – para o quê não se sabe. Não lhe importando, ou desatento, aos problemas que poderá criar para sua família e o governo.

Conta um amigo do presidente que ele, ao saber do rolo em que se metera Queiroz e que poderia lhe causar embaraços como seu amigo, chamou Flávio e cobrou em termos enérgicos que tratasse de resolver o caso com rapidez e da maneira mais satisfatória possível, se não…

Se não ele, na dupla condição de pai e de presidente da República, lavaria publicamente as mãos, deixando-o ao alcance das consequências. A reação de Flávio à reprimenda do pai é desconhecida. Os generais que cercam o presidente estão alarmados.