Nas entrelinhas
Luiz Carlos Azedo: A volta do marmiteiro
“A campanha nas redes sociais continua sendo um fator decisivo na eleição. Com a paridade de tempo de televisão, ganha ainda mais importância”
Na pesquisa do Ibope divulgada ontem, na qual Jair Bolsonaro (PSL) aparece com 59% dos votos válidos e Fernando Haddad (PT), com 41%, o dado mais significativo é a rejeição. O candidato do PSL tem mais simpatizantes convictos: 41% votariam nele com certeza e 35% não votariam de jeito nenhum, enquanto 47% não escolheriam o petista em nenhuma hipótese e 28% manifestaram certeza na escolha. Esses dados sinalizam certo congelamento do cenário eleitoral, apesar do reinício da campanha de tevê e rádio, com muita virulência de ambas as partes.
Bolsonaro não tem nenhum motivo para mudar o rumo de sua campanha, ainda mais agora, que conseguiu a paridade estratégica do tempo de televisão e rádio, o que não acontecia no primeiro turno. Está apenas afinando o discurso, para reforçar sua posição defensiva em relação aos ataques do petista quanto a temas como misoginia e homofobia, além de conter a violência dos seus cabos eleitorais. No mais, o discurso é o mesmo. Não houve um fato novo de campanha que o obrigasse a mudar de postura. Já o cavalo de pau de Haddad na própria campanha, que no primeiro turno ignorou Bolsonaro e concentrou seus ataques no tucano Geraldo Alckmin, não foi convincente para mudar os índices de rejeição dos eleitores em relação a Lula e ao PT.
O candidato petista não fez autocrítica dos erros do PT e não se desvinculou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; de certa forma, está engessado quanto a isso, pois provocaria uma crise na campanha. A chantagem moral como tática para atrair setores do chamado “centro democrático” também não funcionou. Até Fernando Henrique Cardoso, que sempre se mostrou aberto ao diálogo com Haddad, reclamou dessas pressões. A pesquisa também mostra que 9% do eleitorado pretendem votar nulo ou branco. É um resultado muito próximo do segundo turno de 2014, disputadíssimo, no qual somaram pouco mais 7%. Àquela época, Dilma Rousseff (PT) derrotou Aécio Neves (PSDB) por 51,64% a 48,36% dos votos.
Bolsonaro já abriu 18 pontos percentuais de vantagem nos votos válidos desde o primeiro turno, quando ficou à frente de Haddad por 46% a 29%. A campanha nas redes sociais continua sendo um fator decisivo na eleição. Com a paridade de tempo de televisão, ganha ainda mais importância. “Nos últimos dias, as menções aos candidatos têm ficado numa proporção média de 60 x 40, com ampla vantagem para o capitão. O grande volume de menções ao candidato do PSL revela que a sua militância venceu a guerra da internet e o impulsiona nesta reta final. Sem um fato novo, as eleições estão definidas”, avalia o analista digital Sérgio Denicoli, da AP Exata. Segundo ele, há uma relação direta entre o volume de menções nas redes sociais e a intenção de votos, num universo de 145 cidades brasileiras.
Bateu no teto
“Fernando Haddad chegou a crescer nas redes, no início da semana, cooptando alguns eleitores que não o escolheram no primeiro turno, mas parece ter batido num teto e pode até mesmo encolher, se não mostrar alguma liderança que atraia forças à sua campanha. Nos últimos dias, as redes mantiveram Bolsonaro como o candidato com mais menções”, avalia Denicoli.
“Qualquer declaração do candidato do PSL tem um reflexo imediato, o que revela que os seus apoiadores estão mais engajados, conseguindo uma grande presença on-line, que consolida e cristaliza a posição de liderança que alcançou”. Nas últimas 48 horas, a hashtag mais usada no Twitter, nas 145 principais cidades do país, foi #marmitadecorrupto, uma alusão às declarações de Bolsonaro relacionadas às visitas de Haddad ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.
Por ironia, Bolsonaro exuma um chiste da campanha eleitoral de 1945 que derrotou a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (UDN). Numa manobra de última hora, os getulistas apoiaram o marechal Eurico Gaspar Dutra (PSD). O candidato da UDN havia declarado que não precisava dos votos da “malta de desocupados” que apoiava Vargas e, por isso, foi acusado de desprezar os trabalhadores que levavam marmitas para o trabalho.
Uma marchinha de Waldomiro Lobo, na voz de Murilo Caldas, liquidou a fatura: “Marmiteiro, marmiteiro, / Todo mundo grita / Porque lá na minha casa / Só se papa de marmita / Vamos entrar pro cordão dos marmiteiros / E quem não tiver pandeiro / Na marmita vai tocar / E quem não tocar / Quá, quá, quá / Nós vamos cantar, nós vamos cantar.”
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-volta-do-marmiteiro/
Luiz Carlos Azedo: O mito positivista
“Bolsonaro está sendo obrigado a desdizer não somente seus auxiliares, como Paulo Guedes, futuro ministro da Fazenda, e o vice, general Mourão, mas principalmente a si próprio”
No cavalo de pau dado pela campanha do PT, em razão da inviabilidade do projeto de “democracia popular”, que foi derrotado no primeiro turno, o candidato à Presidência Fernando Haddad deveria procurar nos seus alfarrábios um velho livro de Karl Marx, O 18 Brumário de Luís Bonaparte, publicado em 1852. Talvez o professor de ciência política da Universidade de São Paulo, que virou clone do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, encontre uma explicação para o que aconteceu em 7 de outubro. O “cretinismo parlamentar” desgraçou boa parte da elite política da Câmara e, principalmente, do Senado; o “transformismo” de seu partido fez do antipetismo uma força eleitoral avassaladora a favor de Jair Bolsonaro (PSL), protagonista de uma possível “restauração conservadora”, tal qual “o lunático Luís Napoleão, com meia dúzia de oficiais desconhecidos e cheios de dívidas”, nas palavras de Friedrich Engels, em carta ao seu amigo Marx.
Ao estudar a história da França entre a Revolução de fevereiro de 1848, que pôs fim à monarquia constitucional de Luís Felipe, e a Comuna de Paris, de 1871, Marx conceituou o “bonapartismo”, que até hoje gera controvérsias entre acadêmicos de esquerda, porque seria um meio-termo entre a “democracia burguesa” e o “fascismo”. Durante a ditadura militar, aqui no Brasil, provocou muita polêmica entre intelectuais e militantes de oposição, que se dividiam entre os que caracterizavam o regime como fascista, por causa do terrorismo político de Estado, e os que rejeitavam essa caracterização, porque não havia um partido de massas como na Itália de Mussolini e na Alemanha de Hitler. A essência do bonapartismo é a autonomia do Estado em relação às classes sociais e a existência de um líder político carismático e populista.
O chefe de Estado concentra um poder desproporcional em relação ao Legislativo e ao Judiciário, promove a centralização política em relação aos demais níveis de poder. Para governar, apoia-se na burocracia e nas Forças Armadas; suprime liberdades e reprime com violência a oposição e os movimentos sociais. Luís Bonaparte eliminou o Parlamento e tentou restabelecer o Império, mas tudo não passou de uma farsa. Por isso, o golpe de Estado de 2 de dezembro de 1851 foi chamado de 18 Brumário por Marx, numa alusão ao golpe de Estado de Napoleão Bonaparte de 9 de novembro de 1799 (18 brumário no calendário da Revolução Francesa), que resultou no fim da Primeira República, proclamada em 1792, e no Consulado, que logo se transformaria no Império de Napoleão. Luís Bonaparte derrubou a república burguesa e instaurou o Segundo Império (1851-1870), no qual se proclamou Napoleão 3º, com a ambição de restaurar a obra de Napoleão 1º, seu suposto tio.
O projeto “bonapartista” subjacente no discurso de Bolsonaro, como a “democracia popular” de Haddad, pode ter sido derrotado no primeiro turno. Propostas de elaboração de uma Constituição por notáveis, a ser submetida a um referendo popular, e de alteração da composição do Supremo Tribunal Federal (STF), que ferem frontalmente a atual Constituição, já foram descartadas. Para vencer, Bolsonaro está sendo obrigado a desdizer não somente seus auxiliares, como Paulo Guedes, futuro ministro da Fazenda e do Planejamento, e o vice, general Hamilton Mourão, mas principalmente a si próprio. Sobram declarações e episódios que podem lhe tirar a vitória, se não forem renegados. O tema da violência, que catapultou sua candidatura, virou uma faca de dois gumes, porque a narrativa do duro combate ao crime organizado também alimenta a radicalização política e ideológica de seus partidários contra os adversários.
Positivismo
O Brasil já teve três presidentes militares eleitos: Floriano Peixoto (1991-1894); Hermes da Fonseca (1910-1914); e Eurico Gaspar Dutra (1945-1950). Foram duros com a oposição, especialmente Floriano, o “Marechal de Ferro”, que governou a maior parte do tempo com o país em Estado de Sítio. Ao concluir o mandato, todos entregaram o poder a presidentes civis. Durante o regime militar, o militar que permaneceu mais tempo no poder foi João Figueiredo, que governou por seis anos, perdeu a própria sucessão e devolveu o poder aos civis, com a eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral. Getúlio Vargas, que foi ditador por 15 anos, presidente eleito, encerrou a carreira com um tiro no próprio peito. Não é fácil ser ditador no Brasil.
Na política brasileira, nunca o poder central teve tão pouca influência nas eleições. Os destinos do país estão sendo decididos pela sociedade, num pleito democrático, com ampla liberdade. A alternância de poder e o direito ao dissenso estão assegurados. O projeto político de Bolsonaro tangencia o velho positivismo da Escola Militar da Praia Vermelha e o castilhismo gaúcho, que são incompatíveis com nossa democracia. A atual Constituição, nosso mais valioso ativo democrático, só pode ser modificada pelo Congresso, que representa todos os eleitores, não apenas uma maioria eventual, caso do presidente eleito. Por isso, qualquer que seja o resultado das urnas, é melhor aceitar o resultado, com espírito autocrítico, para não repetir os erros no futuro. E respeitar a vontade popular.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-o-mito-positivista/
Luiz Carlos Azedo: O piloto sumiu
“Haddad não esperava que a transferência de votos do petista batesse no teto tão cedo, bem abaixo da rejeição que fez Bolsonaro subir ainda mais e quase vencer no primeiro turno”
O candidato do PT à Presidência da República, Fenando Haddad, volta ao horário eleitoral hoje repaginado, vestido de verde-amarelo e com um discurso paz e amor. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu mentor intelectual e chefe político, desaparecerá da propaganda do petista. Resta saber se a dissimulação, que atende aos apelos dos setores “golpistas” que querem apoiá-lo como “um mal menor”, trará votos suficientes para vencer o pleito ou se a tática tipo “o piloto sumiu” confundirá ainda mais os eleitores. O tracking de ontem mostrava que Bolsonaro continua subindo e Haddad, caindo: a distância entre os dois seria de 18 pontos percentuais, com 10% de nulos e brancos.
Haddad mudou completamente a linha de campanha. Para chegar ao segundo turno, o PT alimentou a tática do ódio nas eleições, com o discurso “nós contra eles”, pois Lula considerava Bolsonaro o adversário ideal a ser batido no segundo turno. Quem eram “eles”? Os “golpistas neoliberais”, claro. Um post do petista Breno Altman, do site Opera Mundi, nas redes sociais, intitulado “Quem é o inimigo principal?”, no momento em que essa linha política passou a ser questionada internamente no PT, ilustra como Haddad chegou ao segundo turno: “São diferentes os alvos da primeira e da segunda volta, a meu juízo. No primeiro turno, os inimigos principais são os partidos e candidatos que comandam o bloco golpista, a começar por Geraldo Alckmin, mas se estendendo a Meirelles, Alvaro Dias, Amoedo e Marina Silva. A centro-direita deve continuar a ser destroçada por sua cumplicidade com o impeachment e a agenda antipopular, antidemocrática e antinacional do governo Temer. Sua destruição política é fundamental para a regeneração do país. Caso haja alguma chance, em algum momento, de levantar a cabeça, toda artilharia possível deve ser voltada para aniquilar os aliados de Temer.”
Intérprete fiel da lógica política petista, Altman antecipava o que viria depois: “No segundo turno, por óbvio, o inimigo principal será o neofascismo representado por Jair Bolsonaro. A inversão de objetivos táticos é tudo o que deseja o partido do golpe para buscar um caminho que enfraqueça a polarização entre Haddad e o capitão reformado, dando algum fôlego para uma candidatura de centro que possa ser apresentada como ‘mais viável’, ‘mais moderada’, para derrotar o neofascismo.” Haddad manteve a rotina de visitas semanais a Lula, vestiu a camiseta vermelha da campanha Lula livre e chegou ao segundo turno sem mudar o discurso. Não esperava, porém, que a transferência de votos do petista batesse no teto tão cedo, bem abaixo da rejeição que fez Bolsonaro subir ainda mais e quase vencer no primeiro turno.
“Aconteça o que aconteça, na delícia ou na dor, um objetivo estratégico terá sido alcançado nessas eleições: a destruição da centro-direita, do centro golpista, como alternativa viável para o comando do país”, disparou Altman, quando isso aconteceu. “A soma do arco Alckmin-Marina, somando Amoedo, Meirelles e Alvaro Dias, mal chega a 20% das intenções de voto. Essa é uma vitória importante do campo popular, que pavimenta o segundo turno e a marcha rumo ao triunfo em 28 de outubro.” Essa estratégia, porém, se tornou uma maldição para Haddad. A maioria dos partidos derrotados no primeiro turno optou pela neutralidade, alguns já se posicionam para permanecer em oposição, outros para aderir ao novo governo, vença Bolsonaro ou Haddad. Por ora, acompanham o jogo da arquibancada.
Tática do medo
Entretanto, ninguém morre de véspera numa eleição tão disputada, ainda mais para presidente da República. Desde a reeleição de Lula, o PT tem uma fórmula eficaz para disputar o segundo turno: a tática do medo. Não será diferente agora, com a ajuda de atitudes fascistas dos partidários de Bolsonaro. Poderia ter sido usada antes, mas isso não interessava, porque o objetivo era o atual confronto. O problema de quem vende a alma a Mefistófeles, como Dr. Fausto, é que o Diabo quererá o seu corpo no inferno. Foi o que aconteceu com Haddad. Bolsonaro é acusado de machista, misógino e homofóbico, isso despertou os maus instintos das profundezas de uma sociedade traumatizada pela violência, pela corrupção e pela desestruturação das famílias. Essa narrativa até agora não foi capaz de superar a força do antipetismo, porque o partido governou como uma espécie de erva daninha.
Bolsonaro, porém, sentiu a pressão em relação a temas que atingem diretamente a população mais pobre. Nas eleições de 2006, quando Lula foi reeleito, Alckmin foi derrotado porque se disseminou que ele venderia a Petrobras e o Banco do Brasil e acabaria com o Programa Bolsa Família, que abriga 13 milhões de famílias. A tática se repetiu contra José Serra, em 2010, e Aécio Neves, em 2014. Agora está sendo usada novamente. Não foi à toa que Bolsonaro anunciou que não pretende privatizar as estatais e vai criar o 13º do Bolsa Família. A radicalização e a disseminação do ódio nas redes sociais, por uma militância que não mede as consequências do que escreve, já evoluem para confrontos físicos, que precisam ser contidos, porque isso a sociedade não suporta. Não fazem parte do jogo democrático, são atitudes realmente fascistas.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-o-piloto-sumiu/
Luiz Carlos Azedo: Bolsonaro larga na frente
“Em termos de votos válidos, Bolsonaro tem 58% e Haddad, 42%, ou seja, uma diferença de 16 pontos, que não é impossível de ser revertida, mas é difícil”
A realização de segundo turno obrigou Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) a buscar a maioria de votos válidos que faltou no domingo passado. Na pesquisa divulgada ontem pelo Datafolha, Bolsonaro larga bem na frente, com 49% de intenções de voto, e Haddad tem 36% dos votos totais, o que confirma as previsões quanto à deriva dos eleitores após o primeiro turno. Brancos e nulos somam 8%; não sabem, não respondeu, 6% dos eleitores.
Em termos de votos válidos, Bolsonaro tem 58% e Haddad, 42%, ou seja, uma diferença de 16 pontos, que não é impossível de ser revertida, mas é difícil. Para isso, Fernando Haddad mudou as cores da campanha, tirou a camiseta vermelha do Lula, livre! e pediu para beijar a mão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O tucano já pode cantarolar um velho samba do Bezerra da Silva: “A necessidade obrigou/ Você a me procurar. /Você era, orgulhosa. /Mas a necessidade acabou com a sua prosa.”
Embora à frente nas pesquisas, a equipe de Bolsonaro também pôs as barbas de molho. O general Augusto Heleno, um dos coordenadores de sua campanha, deu uma entrevista recomendando humildade aos correligionários. Bolsonaro, porém, não mudou o estilo e bate duro em Haddad, a quem chamou de “marmita de corrupto preso”, depois de ser criticado pelo petista, por não ir ao primeiro debate na TV, alegando proibição médica.
No Congresso, nesta semana, deputados reeleitos e derrotados trocavam informações sobre o tsunami eleitoral que varreu parte da antiga elite do Senado e também afastou da Câmara dezenas de cabeças coroadas. Há quatro blocos em formação.
Câmara
O primeiro bloco é liderado pelo PSL, o partido de Bolsonaro, que elegeu a segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados (tinha 8). A orientação de Bolsonaro é atrair parlamentares dos pequenos partidos que não conseguiram ultrapassar a cláusula de barreira, para se tornar a maior bancada da Casa. A movimentação, coordenada pelo deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS), tem por objetivo articular uma base parlamentar de 300 parlamentares. A articulação fez a candidatura à reeleição do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), subir no telhado.
O segundo bloco é liderado pelo PT, que elegeu a maior bancada, com 56 parlamentares, um êxito inquestionável. No segundo turno, com as articulações feitas pela campanha de Haddad, agora sob comando do ex-governador e senador eleito Jaques Wagner, esse bloco deve incorporar os parlamentares do PDT, com 34 deputados, e PSB, com 32 deputados, além do PSol, com 10, e o PCdoB, com 9, mas que não alcançou o número de votos exigidos pela cláusula de barreira. Essa frente de esquerda pode se tornar uma oposição radical, se Bolsonaro vencer, ou nuclear a atração das forças ao centro, como aconteceu no governo Lula, caso Haddad vença as eleições. Com certeza, o bloco lançará um candidato à Presidência da Câmara.
O terceiro bloco deve ser articulado pelas bancadas do PP, com 37 deputados; e do MDB e do PSD, com 34 cada, e tentar agrupar os partidos menores que resistirem ao assédio do PSL. É a chamada turma do “Hay gobierno? Soy a favor”. Os três partidos estão encastelados na Esplanada dos Ministérios e serão os mais atingidos na formação do novo governo, em razão dos cargos que hoje ocupam. Um quarto bloco é constituído pelos partidos de esquerda mais moderada: o PSDB, com 29 deputados; o PPS, com oito; o PV, com quatro; e a Rede, com um. Esses partidos terão de se reinventar, qualquer que seja o vencedor do pleito.
Senado
No Senado, o MDB, elegeu sete senadores; Rede e PP têm cinco senadores cada um. DEM, PSD, PT, PSDB e PSL, quatro. Esse resultado alterou a correlação de forças na Casa, reduzindo o peso do MDB, que continua com a maior bancada, com 12 senadores. O PSDB tem nove; o PSD, sete; o DEM, seis; o PDT, seis; Podemos, cinco.
Tradicionalmente, o Senado elege o presidente indicado pela maior bancada e preenche os cargos na Mesa e presidências de comissões pelo critério da proporcionalidade. O senador Renan Calheiros(PMDB-CE), com a não reeleição de Eunício Oliveira, já se movimenta para voltar à Presidência da Casa. Acontece que apoia Haddad; se Bolsonaro vencer, a sua candidatura subirá no telhado, porque a tradição em relação à proporcionalidade poderá ser quebrada na eleição, o que nunca antes aconteceu.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-bolsonaro-larga-na-frente/
Luiz Carlos Azedo: Haddad atrás de apoios
“Haddad começou a cair na real. Tenta moderar o discurso e ampliar alianças para vencer as eleições”
O PT corre atrás de aliados no segundo turno, na esperança de que Fernando Haddad, o candidato da legenda à Presidência, consiga reverter a vantagem de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pelo Palácio do Planalto. Ontem, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, anunciou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a Haddad para que não o visite mais na prisão. Na segunda-feira, o petista foi à carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, para receber instruções do seu chefe político. O resultado da visita foi um desastre, captado pelas pesquisas qualitativas, porque Lula agora não transfere mais votos, só rejeição. A retórica petista nas redes sociais também atrapalha o ex-prefeito de São Paulo, porque insiste no discurso “nós contra eles” e tripudia da derrota dos adversários que poderiam ser aliados no segundo turno.
Haddad começou a cair na real. Tenta moderar o discurso e ampliar alianças para vencer as eleições, mas esse objetivo, aparentemente, não é um consenso entre os militantes. Temem a repetição do que aconteceu com Dilma Rousseff, que mudou o discurso após a reeleição, em 2014, e isso foi visto como estelionato eleitoral. Mas o petista tenta desfazer a imagem de que é um candidato radical, sem compromisso com a Constituição, que acabou reforçada pelas visitas semanais a Lula para receber instruções eleitorais. Os encontros alimentam os ataques dos adversários, com o argumento de que o presidente da República não pode ser preposto de um político condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro, como é o caso de Lula.
Ontem, o PSB anunciou apoio a Haddad, mas liberou os candidatos a governador em Brasília, Rodrigo Rollemberg, e São Paulo, Márcio França, que concorrem à reeleição. Ambos estão numa sinuca de bico: se fizerem aliança com o petista, perderão as eleições, pois estão atrás de Ibaneis (MDB) e João Doria(PSDB), respectivamente, em estados onde Bolsonaro venceu o primeiro turno com mais de 50% dos votos válidos. O PSol também anunciou apoio a Haddad. Hoje, haverá reunião do PDT para decidir a posição no segundo turno, com a presença de Ciro Gomes, que foi o terceiro colocado no primeiro turno e se tornou um grande eleitor. Além de vencer as eleições no seu estado, o Ceará, com a votação que obteve, levou o pleito para o segundo turno.
Neutralidade
O PSDB decidiu manter neutralidade na disputa de segundo turno, a partir do posicionamento de Geraldo Alckmin, presidente da legenda. A reunião da cúpula do partido, porém, foi um barraco. Houve uma discussão ríspida entre João Doria, candidato ao Palácio dos Bandeirantes, que declarou apoio a Bolsonaro, e o próprio Alckmin, que se considera traído no primeiro turno pelo ex-prefeito de São Paulo. Doria foi um grande ausente na campanha do tucano no estado. O senador José Serra também defendeu a neutralidade, com o argumento de que os eleitores desejam o PSDB na oposição a Bolsonaro e Haddad.
Essa também deve ser a posição do PPS, cuja executiva se reunirá hoje, e da Rede, que deverá oficializar sua posição amanhã. A propósito, Roberto Freire, presidente do PPS, e Marina Silva, candidata da Rede, já anunciaram essa intenção e iniciaram uma reaproximação política, que pode resultar na fusão dos dois partidos. A Rede não conseguiu atingir a cláusula de barreira, mas obteve um resultado excepcional da disputa pelo Senado; busca aproximação com o PPS e o PV para a criação de um novo partido, que possa reunir também outras lideranças do chamado centro democrático. A movimentação conta com a simpatia do apresentador Luciano Huck, que fez generosas doações para alguns candidatos das três legendas.
O PP também anunciou neutralidade. Elegeu a terceira maior bancada da Câmara, atrás apenas do PT e do PSL, mas teve uma presença meio esquizofrênica na campanha eleitoral. Indicou a senadora gaúcha Ana Amélia para vice de Alckmin, porém, cristianizou o tucano e se dividiu entre o apoio a Bolsonaro, nos estados do Sul, e a Haddad, no Nordeste. Possivelmente, esse cenário se manterá no segundo turno. Outro partido que anunciou neutralidade foi o Novo, de João Amoêdo, que teve um desempenho surpreendente nas eleições, ultrapassando Marina, Alvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB). Pesou na decisão a disputa em Minas Gerais, onde o partido surpreendeu o governador Fernando Pimentel (PT), que ficou fora do segundo turno, e o candidato do PSDB, Anastasia, que liderava a disputa. Romeu Zema, do Novo, declarou ontem que não descartaria apoio de nenhum partido, nem o de Pimentel.
O principal partido a anunciar apoio a Bolsonaro foi o PTB, que distribuiu uma nota ontem. O presidente da legenda, Roberto Jefferson, não se pronunciou. Ao contrário de Haddad, que fez um movimento ostensivo de atração dos partidos de esquerda, Bolsonaro se manteve ao largo das legendas. Manteve o discurso de que vai reduzir o número de ministérios e formar uma equipe de governo de notáveis, sem toma lá dá cá.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-haddad-atras-de-apoios/
Luiz Carlos Azedo: Oposição antecipada
“Hoje, com a volta dos parlamentares a Brasília, o Congresso deve fervilhar em razão do resultado das eleições proporcionais. Será um grande encontro de derrotados”
Derrotados nas urnas, os candidatos Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) derivam para a oposição antecipada aos dois candidatos que vão disputar o segundo turno das eleições, Jair Bolsonaro (PSL), que obteve 46,3% dos votos, e Fernando Haddad (PT), com 29,8% dos votos. Como outras lideranças do chamado “centro democrático”, entre as quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não pretendem apoiar nenhum dos dois candidatos, com o argumento de que ambos não têm claros compromissos democráticos, nem apoiar o governo a ser formado por eles, seja quem quer que ganhe. É uma espécie de “oposição, já!”.
A mesma posição está sendo discutida no PPS, partido que sofreu duas derrotas importantes: o senador Cristovam Buarque (DF) não conseguiu se reeleger; Roberto Freire (SP), presidente da legenda, também foi surpreendido pelo tsunami eleitoral que afastou do Congresso muitas lideranças políticas de prestígio. “Posso lhe adiantar que, pelo Brasil democrático, defendo que o PPS não apoie nenhum dos dois contendores nesse segundo turno. E se posicione desde logo como oposição responsável respeitando a Constituição de 88 e lutando pelas reformas, seja qual for o presidente eleito”, anunciou Freire no Twitter.
Bolsonaro, líder da disputa, ontem anunciou que não fará concessões para vencer as eleições. Em entrevista à rádio Jovem Pan, disse que não pode “virar o Jairzinho paz e amor” e se “violentar”, mas falou em pacificar o país e insistiu na plataforma política focada no binômio: mais segurança, menos corrupção. Em entrevista à TV Globo, negou a intenção de modificar a Constituição, proposta do general Hamilton Mourão, seu vice: “Sou capitão, mas quem manda sou eu, serei o presidente”. Bolsonaro se beneficia da onda gerada a seu favor no primeiro turno, que provocou grandes viradas em alguns estados importantes, nos quais seus candidatos obtiveram grande votações em eleições majoritárias e proporcionais.
O candidato do PT, Fernando Haddad, ontem esteve mais uma vez em Curitiba, para conversar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como fez em todas as semanas de campanha. Também em entrevista à TV Globo, anunciou que havia reformulado seu programa e que não mais pretende convocar uma Constituinte. Disse que fará emendas constitucionais via Congresso para fazer a reforma tributária e acabar com o teto de gastos. Adiantou que está procurando entendimentos com o PDT, de Ciro Gomes, e com o PSB, o grande aliado nos estados do Nordeste, onde Haddad venceu as eleições. Nos bastidores da campanha, a grande mudança foi a entrada do senador eleito Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, no estado-maior petista, para cuidar dos entendimentos políticos. O governador baiano Rui Costa, reeleito com grande votação, anunciou que pretende ampliar ao máximo as alianças de Haddad para o segundo turno.
Bancadas
Hoje, com a volta dos parlamentares a Brasília, o Congresso deve fervilhar em razão do resultado das eleições proporcionais. Será um grande encontro de derrotados. Na Câmara, não se reelegeram 240 dos 513 deputados. A bancada do PT terá 56 deputados e a do PSL, de Jair Bolsonaro, 52 (tinha apenas 8), seguidos pelo PP, 37; MDB, 34; e PSD, 34. A fragmentação aumentou, com a representação de 30 partidos, mas 16 não ultrapassaram a cláusula de barreira.
No Senado, o strike foi ainda maior. A renovação atingiu 74% dos senadores, deixando de fora do parlamento o presidente da Casa, Eunício de Oliveira (CE); o presidente do MDB, Romero Jucá (RR), entre outros. Neste ano, a sigla que mais ganhou cadeiras no Senado ainda foi o MDB, com sete senadores eleitos. Rede e PP têm cinco senadores cada; DEM, PSD, PT, PSDB e PSL, quatro. O PPS elegeu dois, o PTC, um. PMN, PSOL e PCdoB não reelegeram seus senadores.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-oposicao-antecipada/
Luiz Carlos Azedo: O xadrez do segundo turno
“O primeiro turno, se examinarmos as eleições de governadores, senadores e deputados, mostra uma realidade política mais complexa do que o antagonismo radical entre Bolsonaro e Haddad”
Confirmando as expectativas, teremos segundo turno nas eleições para presidente da República, entre Jair Bolsonaro (PSL), que larga na frente, com cerca de 46, 3% dos votos, e Fernando Haddad (PT), com 29, 2%, aproximadamente. A onda Ciro Gomes (PDT), que teve em torno de 12,5% dos votos, esperança do movimento a favor do voto útil, não se confirmou. Geraldo Alckmin (PSDB) teve pouco mais de 4,8% dos votos e Marina Silva (Rede), completamente desidratada, apenas 1% dos votos — atrás de João Amoedo (Novo), com 2,5%; Cabo Daciolo (Patriotas), 1,2%; e Henrique Meirelles, 1,2%.
O realinhamento de forças políticas será importante no segundo turno. Parcela considerável do eleitorado, porém, se deslocará antecipadamente, o que deverá fazer com que Bolsonaro comece o segundo turno com mais de 50% dos votos válidos nas pesquisas. É uma conta simples de ser feita: a maioria dos votos de Amoedo, Daciolo e Meirelles, que somam em torno de 5%, tende a se transferir para o candidato do PSL, que precisaria de mais 4% dos votos válidos para vencer o pleito; Haddad, em contrapartida, mesmo com a maioria dos votos de Ciro e Marina, que somam 13,5%, alcançaria no máximo 42% dos votos. Ou seja, por gravidade, Bolsonaro derrotaria Haddad no segundo turno.
Entretanto, como já se viu várias vezes, teremos uma nova eleição. Haverá debate político entre os dois candidatos, que continuarão se digladiando no horário eleitoral gratuito e nas redes sociais. Bolsonaro, desta vez, terá paridade de meios para a propaganda no rádio e na tevê. A rigor, não precisará de um grande esforço em direção ao centro para vencer as eleições, porque já capturou uma parte desse eleitorado. Seu discurso politicamente incorreto, que aparentemente é seu ponto fraco, não foi empecilho ao seu desempenho no primeiro turno; porém, pode levá-lo a perder os votos transferidos por gravidade.
A situação de Haddad é mais complexa. Chegou ao segundo turno graças ao carisma de Lula, que abduziu sua identidade, mas isso lhe trouxe também a grande rejeição antipetista. O discurso de quem põe a soberania nacional e a soberania popular acima de tudo é envelhecido, passa a ideia de dubiedade quanto ao compromisso com as instituições democráticas e uma visão nacional desenvolvimentista ultrapassada, que dificulta suas alianças. A sua soberba também pode pôr tudo a perder, porque precisa conquistar mais de 21% dos votos válidos para ganhar as eleições. Os votos da esquerda não chegam a tanto. Os 4,8% que ficaram até o fim com Geraldo Alckmin, por exemplo, podem fazer a diferença.
Num artigo intitulado “Ao vencedor, as batatas”, publicado ontem no jornal O Estado de São Paulo, o cientista político Luiz Werneck Viana adverte: “O artifício de negar a identidade ao centro político, de existência comprovada empiricamente em nossa sociedade há décadas, não tem como resistir ao império dos fatos. A iminência de um segundo turno eleitoral nos devolve, em clima de pânico, com o tempo fugindo das mãos, a busca pelo centro perdido. Sem ele, como vencer as eleições, pior, como governar? Com Haddad teremos o indulto de Lula e a convocação de uma Assembleia Constituinte? Faltaria combinar com os russos, que, aliás, são muitos. Que economia nos espera com Bolsonaro, a do Pinochet, neoliberalismo com fuzis?”
Governadores
“O centro político, banido do salão, volta com força por todas as janelas”, ironiza Werneck. Na verdade, quem quiser vencer o segundo turno terá que encontrar uma linha de ação compatível com o novo Congresso, já eleito e mais conservador (destaque para o strike ocorrido no Senado), e com os governadores já eleitos ou que disputam o segundo turno. Há um jogo a ser jogado nas disputas regionais: São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Brasília, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Roraima, Rondônia, Amapá, Amazonas, Pará, Rio Grande do Norte e Sergipe terão segundo turno para escolher seus governadores. É um campeonato de xadrez político que Bolsonaro e Haddad terão de jogar, pois são essas alianças que podem mudar a deriva natural dos eleitores.
A radicalização política esquerda versus direita continuará a dividir o país, mas será mitigada pelas alianças ao centro. Vencerá quem compreender a necessidade de construir uma ampla maioria em torno de um projeto exequível para o país, nos marcos das instituições democráticas. Quem insistir na lógica da confrontação, num processo de desestabilização da democracia, se arrisca a perder as eleições, porque há uma forte consciência democrática na maioria da sociedade. O resultado das urnas no primeiro turno, se examinarmos as eleições de governadores, senadores e deputados, mostra uma realidade política mais complexa do que o antagonismo radical entre Bolsonaro e Haddad.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-o-xadrez-do-segundo-turno/
Luiz Carlos Azedo: Cenários possíveis
“Bolsonaro larga à frente de Haddad. Ambos, estão fazendo uma campanha olímpica. O primeiro, nas redes sociais; o segundo, à sombra de Lula”
Há três possibilidades nas eleições de hoje, todas com Bolsonaro à frente nas pesquisas. A mais provável é um segundo turno entre o candidato do PSL e o petista Fernando Haddad, numa disputa radicalizada entre direita e esquerda. Duas outras são matematicamente possíveis: uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno, que não pode ser descartada, ou o surgimento de uma terceira via, com um estouro de boiada em direção a Ciro Gomes (PDT), o que é quase impossível. Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), João Amoêdo (Novo), Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (PMDB) e Cabo Daciolo (Patriotas) cumprirão tabela; se isso ocorrer, garantirão o segundo turno.
No cenário mais provável, Jair Bolsonaro largará à frente de Fernando Haddad no segundo turno. Ambos, até agora, estão fazendo uma campanha olímpica. O primeiro, basicamente nas redes sociais, em razão da recuperação da facada que recebeu em Juiz de Fora há cerca de um mês; já o petista, na aba do chapéu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aposta na campanha de rua e na mobilização petista. Bolsonaro conseguiu faturar boa parte da campanha do “voto útil” do chamado “centro democrático”; a fatia menor ficou com Ciro. Haddad fechou os espaços para Guilherme Boulos (Psol), uma caricatura de Lula quando jovem, e faturou os votos de Lula que migravam para Ciro e Marina, exceto nos seus estados de origem, Ceará e Acre, respectivamente. A interrogação é saber se os votos de Lula que migravam para Bolsonaro voltaram ao leito petista. Aparentemente, uma parcela continua com o capitão reformado.
Em 2002, Lula obteve 25% dos seus votos no segundo turno no Nordeste; em 2010, 33% dos votos de Dilma Rousseff estavam da região. Em 2014, o Nordeste ultrapassou o Sudeste em importância eleitoral para o PT, que obteve 37% dos seus votos na região, contra 36% no seu leito histórico. Sete em cada dez nordestinos (71,7%) votaram em Dilma. No último Data Folha, o petista parou na faixa de 37%. Bolsonaro tem 20% e Ciro, 16%. No segundo turno, é possível que os votos de Ciro migrem para Haddad, maciçamente; hoje, esses votos podem fazer falta para impedir uma eventual vitória de Bolsonaro no primeiro turno.
Bolsonaro lidera em todas as demais regiões do país, com grande vantagem em relação a Haddad: 45% a 18% na região Sul; 41% a 17% no Centro-Oeste; 36% a 25% no Norte; e 39% a 16% no Sudeste, região que concentra o maior contingente eleitoral do país. Bolsonaro já tem maioria dos votos válidos no Acre (60%), em Mato Grosso (51%), em Rondônia (55%), em Roraima (60%) e em Santa Catarina (55%). Haddad está à frente no Maranhão (52%) e no Piauí (54%). Bolsonaro vence entre os homens por larga margem (42% a 22%) e ultrapassou Haddad entre as mulheres (28% a 23%). Lidera em toda as faixas etárias, mas, principalmente, entre os jovens (33% a 19%, na faixa de 16 a 24 anos; e 38% a 20%, na faixa de 25 a 34 anos). Haddad, porém, vence entre os eleitores de menor escolaridade (28% a 23%) e com renda até dois salários-mínimos (28% a 22%), a principal base eleitoral de Lula.
Alianças
O xis da questão no segundo turno será conquistar o eleitorado que votou nos demais candidatos. Por gravidade, a maioria se desloca à revelia dos postulantes que apoiou. Acompanha a tendência do voto útil no primeiro turno, o que já ficará claro hoje à noite. Mas, isso não significa que as alianças com candidatos e partidos derrotados não sejam importantes, quando nada no Congresso, por causa da governabilidade. Ou seja, é preciso que o presidente eleito consiga formar maioria para poder viabilizar seu programa de governo. Bolsonaro deve atrair a maioria dos partidos do chamado Centrão (PP, PR, PSD, PRB, PEN, PTN, PHS), com quem chegou a negociar uma coligação, sem sucesso. Haddad, com certeza, atrairá o PSB, o PDT e o Solidariedade. O chamado “centro democrático” (PSDB, DEM e PPS), que virou marisco na disputa, deve implodir no segundo turno.
As últimas simulações estão dando ampla vantagem para Bolsonaro, que já subiu no salto alto: “Se vencermos, já começamos diferentes dos outros. Estamos livres para escolher nossa equipe pelo critério técnico e pela eficiência. Não devemos cargos nem favores que coloquem em xeque a autonomia de nosso governo e a soberania de nosso país. Nossa aliança é com a sociedade!”, disse ontem no Twitter. Haddad faz a mesma coisa com sinal trocado: promete cumprir a risca o programa apresentado pelo PT, sem concessões ao mercado. Para vencer no segundo turno, porém, terá que reverter a distância que o separa de Bolsonaro. Será mais difícil se não flexibilizar o discurso petista no segundo turno.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-cenarios-possiveis/
Luiz Carlos Azedo: A Constituição e as eleições
“O próprio Supremo vive dilemas profundos em razão da Operação Lava Jato, que protagoniza o combate à corrupção. Há um inédito expurgo de políticos da vida pública, entre os quais, Lula”
O Supremo Tribunal Federal (STF) comemorou ontem os 30 anos da Constituição de 1988, razão de ser da existência da Corte, cuja missão é zelar pelo cumprimento dos seus dispositivos. Não é uma tarefa das mais fáceis, ainda mais num momento como o que estamos vivendo, no qual os candidatos que lideram a disputa pela Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), não escondem o desejo de substituí-la por outro texto constitucional.
Não foi à toa, portanto, que o presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, proclamou: “Nunca mais, nunca mais a escravatura, nunca mais a ditadura, nunca mais o fascismo e o nazismo, nunca mais o comunismo, nunca mais o racismo, nunca mais a discriminação”. Segundo ele, os cidadãos precisam assegurar “que as conquistas até aqui obtidas sempre vigorem, não admitindo involuções, especialmente quanto à democracia estabelecida, à cidadania conquistada e à pluralidade até aqui construída”.
A Constituição de 1988 garantiu ao Judiciário autonomia e independência, assim como deu ao Ministério Público um poder nunca antes alcançado. Graças à aprovação pelo Congresso da Lei da Ficha Limpa, uma grande mudança nos costumes políticos está em curso, sob fortes tensões. O próprio Supremo vive dilemas profundos em razão da Operação Lava Jato, que protagoniza o combate à corrupção. Há um inédito expurgo de políticos corruptos em todas as esferas da vida pública, com destaque para a inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e ocultação de patrimônio.
Muitos dos que não foram impedidos de disputar as eleições pela Lei da Ficha Limpa, porque não foram julgados, culpados ou inocentes, serão punidos com a não eleição. Mas a prisão de Lula é um fator de divisão e tensão política no próprio Supremo, em razão do grande prestígio popular e internacional de que ainda desfruta e do debate sobre a aplicação do princípio constitucional do transitado em julgado. Jurisprudência da Corte determina a execução imediata da pena de condenados em segunda instância, o caso do petista, mas o assunto não está pacificado entre os ministros. Toffoli é um dos críticos dos “excessos” da Operação Lava-Jato, protagonizados pelos procuradores da força-tarefa de Curitiba, que ontem pediram ao juiz federal Sérgio Moro nova condenação de Lula pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Os procuradores acusam o ex-presidente da República de obter vantagem indevida paga pela Odebrecht por meio da compra de um terreno para instalação da sede do Instituto Lula e do aluguel de um apartamento em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. A três dias das eleições, o pedido é visto como interferência no processo eleitoral, prejudicando a candidatura do candidato do PT, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, assim como a divulgação de um dos depoimentos da delação premiada do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci pelo juiz Moro, na segunda-feira passada. Os dois episódios se somam a outras decisões tomadas recentemente, que interferiram nas eleições do Paraná, Mato Grosso e Goiás, Ceará, Piauí, contra políticos ligados ao PSDB, ao PMDB e ao PP.
Direitos
O jurista italiano Norberto Bobbio influenciou fortemente a elaboração da Constituição de 1988. Suas ideias foram marcadas pelo ambiente europeu após a Segunda Guerra Mundial, em que as democracias do Ocidente procuraram se precaver contra o fascismo, originário da Itália, e purgar o trauma do Holocausto protagonizado pelo regime nazista de Hitler, na Alemanha. Adotada pela Organização das Nações Unidas, a doutrina dos direitos humanos legitima o Estado de bem-estar social, uma resposta às terríveis condições sociais que resultaram da guerra.
Os dispositivos introduzidos na nossa Carta Magna com objetivo de garantir o direito à vida e à liberdade, no contexto de transição à democracia, porém, provocaram uma disjuntiva entre direitos humanos e ordem pública, provocando mudanças no Código de Processo Penal que nunca obtiveram consenso social e político suficientemente para que fossem plenamente respeitadas. Numa sociedade com indicadores de violência ascendentes, essa pauta acabou se tornando um divisor de águas. A sociedade brasileira precisa reencontrar o ponto de equilíbrio entre a segurança pública e as garantias e direitos individuais.
Um dos temas em debate na campanha eleitoral é a separação do direito penal do cidadão aplicado ao criminoso comum segundo os ditames constitucionais do que seria uma espécie de “direito penal do inimigo”, que puniria os indivíduos considerados mais perigosos para a sociedade, o que significaria suprimir direitos e garantias individuais. Tal interpretação não cabe nos ditames da atual Constituição, mas está na pauta do candidato que lidera as pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL).
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-constituicao-e-as-eleicoes/
Luiz Carlos Azedo: Cadeira vazia
“Sem Bolsonaro , o último debate na tevê será um confronto entre Haddad e Ciro Gomes, que intensificou sua campanha de voto útil e propõe uma aliança com Alckmin e Marina”
No Twitter, o candidato Fernando Haddad (PT) desafiou Jair Bolsonaro (PSL) a comparecer ao debate de hoje à noite, na TV Globo, chamando-o de covarde e acusando-o de propagar notícias falsas por meio de mensagens nas redes sociais, principalmente no WhatSapp, onde as fake news são mais difíceis de serem combatidas. Bolsonaro não vai ao debate, alega que gostaria de ir, mas foi proibido pelos médicos. Com isso, evita uma situação em que seria alvo de todos os candidatos, inclusive o petista, que somente agora passou a atacá-lo frontalmente. Até então, o PT atirava contra Geraldo Alckmin, enquanto o tucano tentava desconstruir Bolsonaro.
Em sua casa, na Barra da Tijuca, ontem, o candidato do PSL recebeu os médicos que o operaram no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O cirurgião Antônio Luiz Bonsucesso Macedo e o clínico cardiologista Leandro Echenique explicaram as razões do veto: “Nós contraindicamos participação em debates ou em qualquer atividade que pudesse cansá-lo ou obrigá-lo a falar por mais de 10 minutos”, disse Macedo. Bolsonaro se recupera da facada que recebeu em 6 de setembro, em Juiz de Fora, onde foi operado pela primeira vez. Desde então, ficou fora das ruas.Em contrapartida, intensificou sua campanha nas redes sociais, que está muito segmentada e pesada, o que provocou uma mudança de tática de Haddad.
Em entrevista à Rádio Jornal do Recife (PE), Haddad subiu o tom dos discursos. Atribuiu a subida de Bolsonaro nas pesquisas a mentiras espalhadas pelo adversário e admitiu a dificuldade para combatê-las: “Se ele [Bolsonaro] fosse valente, como diz que é, enfrentaria isso olho no olho, e não pelo WhatsApp. WhatsApp é coisa de covarde. Não é coisa de político sério.” No mais, manteve a retórica contra o mercado financeiro e desmentiu qualquer influência do líder petista José Dirceu num eventual governo petista.
Ontem, pesquisa do Ibope/Estadão mostrou oscilação nas intenções de votos de ambos: Bolsonaro subiu de 31% para 32% e Haddad, de 21% para 23%. Ciro (PDT) e Alckmin (PSDB) caíram um ponto e agora estão, respectivamente, com 10% e 7%. Marina se manteve com 4%. A situação dos demais é a seguinte: Amoêdo (Novo) e Meirelles (MDB) com 2%; Álvaro Dias (Podemos) e Cabo Daciolo (Patriotas), 1%; os outros não pontuaram, inclusive Boulos (PSol). Os votos brancos e nulos somam 11%; não sabem nem responderam, 6%. Esse resultado, porém, trouxe novo alento para a campanha de Haddad em relação a Bolsonaro, porque, na simulação de segundo turno, o petista aparece na frente do adversário: 43% a 41%. Pesquisa do DataFolha que analisamos ontem apresentou Bolsonaro como possível vitorioso no segundo turno. A rejeição de Bolsonaro caiu de 44% para 42% e a de Haddad também oscilou um ponto para baixo; na pesquisa do Ibope, está em 37%.
Sem Bolsonaro no debate, a disputa principal provavelmente será entre Haddad e Ciro Gomes, que intensificou sua campanha de voto útil, com a circulação de um manifesto apelidado de Alcirina, que propõe uma aliança do candidato do PDT com Alckmin e Marina, que, nesse caso, retirariam as candidaturas. É improvável que isso venha a ocorrer, mas Ciro insiste na proposta porque está de olho nos eleitores que admitem mudar o voto, para evitar um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. A candidatura de Marina Silva vem em queda desde o começo da campanha eleitoral, enquanto a de Alckmin, no decorrer da semana, começou a ser cristianizada nos redutos eleitorais do PSDB, principalmente em São Paulo e Minas.
Triângulo
A situação mais crítica para o tucano é em São Paulo, onde foi ultrapassado por Fernando Haddad, na capital e no interior. Com a disputa acirrada entre João Doria (PSDB),com 24%, e Paulo Skaf, 21%, Alckmin começa a ficar sem palanque, porque o ex-prefeito paulistano já deriva para Bolsonaro, enquanto o governador Márcio França (PSB), com 14%, prepara o desembarque na campanha de Haddad, que saiu do isolamento em que se encontrava no palanque de Luiz Marinho (PT), que tem 8%. Outro reduto tucano que está derivando para Bolsonaro é Minas Gerais, embora o senador Antônio Anastasia (PSDB) lidere a disputa contra o petista Fernando Pimentel (PT). No Rio de Janeiro, os candidatos do PT já se aliaram ao candidato do DEM, o ex-prefeito Eduardo Paes.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-cadeira-vazia/
Luiz Carlos Azedo: Na aba do chapéu
“A taxa de rejeição de Fernando Haddad disparou de 32% para 41%. Bolsonaro, ao contrário, oscilou de 46% para 45%. Esse resultado colocou em xeque a estratégia do PT”
As últimas pesquisas confirmaram o favoritismo de Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno das eleições, com uma alta de 28% para 32% nas intenções de voto. Seu principal concorrente, Fernando Haddad (PT), oscilou de 22% para 21%, ou seja, para baixo, o que confirma as avaliações de que os efeitos da transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva já se esgotaram. O surgimento de uma terceira via é quase impossível, apesar da resiliência de Ciro Gomes (PDT), que se manteve em 11%, e de Geraldo Alckmin, que oscilou de 10% para 9%. Marina (Rede) continua em queda gradativa: passou de 5% para 4%. Entretanto, essa correlação de forças ainda garante a realização de um segundo turno.
A primeira grande surpresa da pesquisa foi o crescimento de Bolsonaro em todos os segmentos nos quais estava em aparente dificuldade, a começar pelas mulheres. Apesar das manifestações de sábado passado em 14 estados, intituladas #EleNão, nesse segmento, cresceu de 21% para 27%, ultrapassando Haddad, que tem 20%. Confirmaram-se as análises de que a pauta identitária de gênero é minoritária, a exemplo do que aconteceu nas eleições norte-americanas, nas quais a candidata democrata Hillary Clinton foi derrotada pelo republicano Donald Trump, com seu discurso machista e homofóbico.
Os números de Bolsonaro impressionam, se levarmos em conta que o capitão reformado do Exército está fora das ruas, não tem tempo de televisão e administra declarações desencontradas de seu vice, general Hamilton Mourão, e do assessor econômico Paulo Guedes. A pesquisa mostrou que Bolsonaro continua em alta entre os eleitores com mais estudos e renda familiar de cinco a 10 salários mínimos. No Brasil meridional, está disparando: cresceu de 31% para 36% no Sudeste e de 35% para 44%, no Sul. O Nordeste continua sendo o principal reduto de Haddad, com 36% das intenções de voto.
Outra grande surpresa da pesquisa, porém, foi a taxa de rejeição de Fernando Haddad, que disparou de 32% para 41%. Bolsonaro, ao contrário, oscilou de 46% para 45%. Esse resultado colocou em xeque a estratégia do PT na reta final do primeiro turno, frustrando expectativas. Na aba do chapéu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad teve a identidade abduzida pelo seu criador e herdou toda a rejeição ao PT. O discurso petista, do ponto de vista programático, também afastou possíveis aliados no segundo turno, abrindo espaço para que Bolsonaro busque alianças ao centro do espectro político. Ontem, recebeu o apoio explícito da Frente Parlamentar Agropecuária, o que sinaliza essa deriva de aliados do ex-governador Geraldo Alckmin já no primeiro turno.
Nas simulações de segundo turno, inverteram-se as posições: Bolsonaro cresceu de 39% para 44%, e Haddad oscilou de 45% para 42%. O capitão reformado do Exército, porém, ainda perde para Ciro (46% a 42%) e Alckmin (43% a 41%). Segundo o Datafolha, 84% dos que lhe declaram apoio não pensam em mudar de voto; em relação ao petista, são 82%. Entre os que apoiam Ciro, 57% se dizem convictos; entre de Alckmin, 52%. Os apoiadores de Marina que admitem a possibilidade de mudar até o dia da eleição são 62%. O percentual de eleitores que pretendem votar em branco ou anular o voto caiu para 8%, dos quais 30% admitem votar em alguém até domingo, e 5% estão indecisos.
Gravidade
Esses números delimitam a volatilidade do processo eleitoral no decorrer desta semana, que será de fortes emoções, com a divulgação diária de pesquisas, recrudescimento dos ataques nos programas eleitorais e nas redes sociais. Até agora, Haddad mirou os eleitores de Lula e hostilizou os possíveis aliados de segundo turno, com um discurso de ajuste de contas por causa do impeachment de Dilma Rousseff. Sustentou a narrativa do “golpe” e concentrou os ataques no PSDB, como se os tucanos “golpistas” fossem cair no seu colo por gravidade. O que está acontecendo é o contrário: o eleitorado que apoiou o impeachment já começa a se deslocar para Bolsonaro. Sua rejeição já é bem maior do que as intenções de voto e somente terá possibilidade de conquistar os eleitores ao centro, se assumir compromissos com as forças que representam esses eleitores.
Outro fator também está em cena: a polarização nas eleições de governadores, que começa a ficar imbricada com as eleições presidenciais. Enquanto Haddad tem compromissos assumidos com candidatos petistas e aliados em praticamente todos os estados, Bolsonaro está mais à vontade para fazer alianças piratas. O PSDB lidera em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia e Roraima, mas seus candidatos derivam para Bolsonaro. O PT, na Bahia, no Ceará, no Piauí e no Rio Grande do Norte, todos comprometidos com Haddad. Em contrapartida, o DEM lidera em Goiás, em Mato Grosso e no Rio de Janeiro, todos já vinculando sua candidatura ao candidato do PSL. O PSB está à frente em Espírito Santo, Paraíba e Pernambuco, onde deve apoiar Haddad. O MDB está com Haddad em Alagoas e no Pará; o PDT, firme com Ciro Gomes em Alagoas. O PCdoB apoia o petista no Maranhão; PHS (Tocantins), PP (Acre) e PSD (Paraná) vão de Bolsonaro.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-na-aba-do-chapeu/
Luiz Carlos Azedo: O dinheiro da revolução
“Palocci diz que o ex-presidente Lula usou a Petrobras e o pré-sal com o objetivo de “garantir ilicitudes” e a conseguir dinheiro para campanhas do PT. O juiz Moro quebrou o sigilo da delação”
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu goza de plena liberdade, mesmo condenado a 39 anos de prisão, graças a um habeas corpus que lhe foi concedido pelo ministro Dias Toffoli, atual presidente do Supremo Tribunal Federal. Livre e falante, é o melhor intérprete da alma do PT, partido do qual é fundador e dirigente histórico. No auge do escândalo do mensalão, foi defenestrado da Casa Civil, abandonado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, posto na “geladeira” e condenado pelo STF no processo do mensalão; em liberdade provisória, foi novamente preso e condenado na Operação Lava-Jato, pelo juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, mas o processo não transitou em julgado e Dirceu teve a prisão relaxada.
Por ironia da história, agora quem está em cana e perdeu os direitos políticos é o ex-presidente Lula, para quem o caso Dirceu deixou de ser um estorvo para se tornar o “mapa da mina”, pois gerou uma “jurisprudência” que enche de esperança os seus próprios advogados. O ex-ministro e ex-deputado federal petista (foi cassado pela própria Câmara na CPI dos Correios) não é homem de aceitar derrotas e está de volta à luta. Viaja com a família pelo Brasil afora, de motorhome, para emular os militantes petistas com lançamentos do livro que escreveu na prisão. Em duas entrevistas recentes, para veículos de grande prestígio na esquerda brasileira, a edição brasileira do jornal espanhol El Pais e a revista Piauí, Dirceu resumiu o que Lula pretende com a eleição do petista Fernando Haddad: tomar a poder e acabar com a Operação Lava-Jato, tirando o poder de investigação do Ministério Público Federal e acabando com a execução imediata da pena após condenação em segunda instância.
Com base nas declarações de Dirceu e do próprio candidato quando se refere a Lula, podemos deduzir que a proposta de convocação de uma “Constituinte exclusiva”, apresentada por Fernando Haddad em seu programa de governo, é apenas um instrumento para isso. O candidato do PT seria uma espécie de Kerenski, o líder do governo provisório da Revolução de Fevereiro, que antecedeu a tomada de poder pelos bolcheviques na Rússia, em 7 de novembro de 1917. No domingo à noite, durante o debate da TV Record, Haddad foi questionado por Ciro Gomes (PDT) sobre a inconstitucionalidade dessa proposta e se enrolou todo para responder. Sabe que a atual Constituição, que pretende substituir por outra, não dá ao presidente da República poderes para convocar uma Constituinte. Somente o próprio Congresso poderia fazê-lo.
Haddad faz campanha como bom moço, fala o que os militantes petitas querem ouvir. Varre para debaixo do tapete a recessão de 2016 e o escândalo da Petrobras. Nos comícios, imita com perfeição a voz de Lula: “Haddad, diz lá pro povo que nós vamos ganhar essa eleição e voltar a governar o país”. A plateia delira. A bem-sucedida operação para transferir os votos de Lula, que manteve sua candidatura até ela ser impugnada pelo pleno do tribunal Superior Eleitoral, já é um “case” de estratégia política e marketing eleitoral. O PT voltou ao seu leito eleitoral. Entretanto, sempre há um porém, ou melhor, uma delação premiada. Desta vez, partiu da Polícia Federal, que negociou com o ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma Rousseff Antônio Palocci um acordo de colaboração. O juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, quebrou o sigilo de um dos depoimentos. Nele, Palocci entrega o esquema de caixa dois do PT, digamos, o dinheiro da revolução, na ótica de Dirceu e dos petistas para os quais os fins justificariam os meios.
Aposta
Na delação, Palocci diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou Paulo Roberto Costa para a Petrobras com o objetivo de “garantir ilicitudes” na estatal e usou a empresa para conseguir dinheiro para campanhas do PT com o pré-sal. Disse que as campanhas de Dilma em 2010 e 2014 custaram R$ 1,4 bilhão, muito mais do que o declarado à Justiça Eleitoral. Falou que o MDB exigiu e Lula entregou ao aliado a diretoria de Relações Internacionais da Petrobras. E revelou que, pelo menos 900 das mil medidas provisórias editadas nos governos Lula e Dilma, envolveram propina para serem editadas (na verdade, foram 621 medidas provisórias editadas nos dois governos).
Lula e Dilma negam tudo isso, mas o acordo firmado em abril com a Polícia Federal foi homologado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). O ex-ministro se comprometeu em pagar R$ 37,5 milhões como indenização pelos danos penais, cíveis, fiscais e administrativos dos atos que praticou. Preso desde 2016, com uma condenação a 12 anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Palocci tentou fechar um acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e não conseguiu. O primeiro a saber do acordo com a Polícia Federal foi José Dirceu, confidente do ex-ministro quando estavam juntos na Papuda, em Brasília. Ao contrário de Palocci, o líder petista tomou outro caminho: aposta na vitória do PT nas eleições.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-o-dinheiro-da-revolucao/