ministro do turismo
Bruno Boghossian: Ministro só foi demitido por não se encaixar nos planos de Bolsonaro para 2022
Saída se explica pelas duas maiores preocupações do presidente: o controle do Congresso e a reeleição
Ameaçado no cargo, o ministro do Turismo comprou briga com um colega na terça (8). Num grupo de mensagens, Marcelo Álvaro Antônio destacou suas credenciais como apoiador precoce de Jair Bolsonaro em 2018, atacou o articulador político do Planalto e disse que o governo paga “um altíssimo preço” para aprovar projetos no Congresso. No dia seguinte, foi demitido.
Antes disso, Bolsonaro teve outras oportunidades para se livrar de Álvaro Antônio, mas preferiu manter o aliado no governo. Quando ele foi denunciado pelo Ministério Público no ano passado, sob acusação de desviar dinheiro no esquema de candidaturas laranjas do PSL, o presidente disse que não havia elementos para mandá-lo embora.
Um bate-boca no WhatsApp pode parecer um motivo menor, mas foi pretexto suficiente. A decisão instantânea de Bolsonaro se explica pelas duas maiores preocupações do governo na agenda política: o controle do Congresso e a eleição de 2022.
O presidente não teve dificuldade para demitir um aliado que fazia propaganda de sua dedicação ao chefe. Álvaro Antônio apostou cedo no deputado do baixo clero e foi muito bem recompensado com um ministério no governo. Ele só não percebeu que aquela lealdade envelheceu e que Bolsonaro pensa exclusivamente na próxima eleição.
O cargo do ministro se tornou uma peça na engrenagem que o presidente tenta recauchutar para fortalecer o governo no Congresso e pavimentar o caminho para sua candidatura à reeleição. O estopim da fúria de Álvaro Antônio foi justamente o empenho de Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo, na entrega desse posto para o centrão.
Para completar, Bolsonaro ainda puniu com uma demissão sumária o subordinado que apontou o dedo para o abraço entre o governo e os partidos tradicionais do Congresso. No fim das contas, a cadeira aberta na Esplanada dos Ministérios deve engordar as negociatas para eleger um presidente da Câmara afinado com o Palácio do Planalto.
*Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
Julianna Sofia: O laranjal floresce
Por que Bolsonaro não defende o ministro do Turismo? Não o demite? Não classifica acusações de fake news?
Não há hoje na Esplanada dos Ministérios quem defenda a permanência do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) no governo. Nem o próprio presidente Jair Bolsonaro se arrisca a escudar o subordinado e joga-o na arena com os leões. "Deixa as investigações continuarem", declarou nesta sexta (8).
Atitude timorata diante do viçoso laranjal que floresce dia após dia.
São pelo menos três as candidatas que denunciaram publicamente a existência de concorrências fajutas no PSL de Minas Gerais, sob domínio de Álvaro Antônio nas eleições do ano passado. Uma delas acusa diretamente o ministro. Outra relata que o esquema solicitou-lhe cheques em branco para a triangulação imprópria de recursos públicos.
Há ainda quatro inexpressivas e suspeitas peesselistas que postularam cargos eletivos no estado em 2018. Elas levaram R$ 279 mil em dinheiro do fundo eleitoral, obtiveram apenas 2.000 votos e parte da verba entrou no caixa de empresas de pessoas ligadas ao gabinete de Álvaro Antônio na Câmara.
A Polícia Federal abriu inquérito no final de fevereiro para investigar o laranjal, e o Ministério Público colhe documentos e depoimentos de várias pessoas —desconfia de caixa dois na campanha mineira.
Há duas semanas, o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) chegou a dizer que, se houvesse algo de responsabilidade direta do ministro, o presidente analisaria e tomaria uma decisão.
Assessores palacianos consideram insustentável a manutenção de Álvaro Antônio no posto e reprovam a insistência do mineiro em não largar o osso. "Não é imexível", afirmou reservadamente um deles à Folha.
Se não o é, por que o presidente não o afasta até a conclusão das investigações? Tampouco o protege? Por que o mandatário não recorreu à sua dileta estratégia de ataque à imprensa e classificou as acusações contra o ministro de fake news?
Como na modorra da demissão de Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), Bolsonaro continua a comporta-se com inexplicável apatia.