Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira
Webinar da FAP lança o livro A Arquitetura Fractal de Antonio Gramsci
Além do autor da obra, Marcus Vinícius Oliveira, Alberto Aggio e Marcos Sorrilha participaram da conversa online com interação do público
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Um grande debate online marcou o lançamento do livro A Arquitetura Fractal de Antonio Gramsci: história e política nos Cadernos do Cárcere (280 páginas), do historiador Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira. O livro já está à venda na internet e foi editado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que realizou, nesta quarta-feira (27), a partir das 19 horas, a webinar com a participação do autor e dos historiadores Alberto Aggio, professor-titular da Unesp (Universidade Estadual Paulista), e Marcos Sorrilha Pinheiro, um dos grandes especialistas brasileiros em história dos Estados Unidos. Haverá ampla interação com o público.
A conversa online foi realizada por meio do canal da FAP no Youtube, com retransmissão no site da entidade e em sua página no Facebook. O livro de Marcus Vinícius é uma versão revisada de sua tese de doutorado, apresentada na Unesp, sob a orientação de Aggio. A obra é dividida em três capítulos: os Cadernos do Cárcere como objeto histórico; os anos que parecem ser séculos: o ritmo de pensamento do jovem Gramsci; e a arquitetura fractal: uma leitura dos Cadernos do Cárcere, além do pós-escrito.
Assista ao vídeo da webinar de lançamento abaixo!
Gramsci, político e intelectual italiano nascido na ilha da Sardenha, no Sul da Itália, é certamente um dos intelectuais mais lidos nas ciências humanas. Em sua apresentação, o livro registra que a bibliografia gramsciana foi agrupada inicialmente por John Cammet e continuada por Francesco Giasi e Maria Luisa Righi. Contabiliza mais de 20 mil documentos escritos em 41 línguas. “Diante disso, explorar o universo gramsciano se mostra uma tarefa hercúlea, seja em razão da aspereza imposta pela formatação fragmentária das notas carcerárias, seja pelo volume exponencial da bibliografia que se acumula com o passar do tempo”, afirma um trecho.
No livro, Marcus Vinícius assume a perspectiva de um diálogo entre filologia e historicismo integral, conforme o prefácio, escrito por Aggio. “Também não esconde sua permanente intenção de convocar Gramsci para a grande discussão dos dilemas políticos da nossa contemporaneidade, centrada nas temáticas da interdependência e do cosmopolitismo, dois vetores essenciais para a compreensão e o enfrentamento dos conflitos e dos desafios de um mundo globalizado”, diz o professor da Unesp, que também publica análises sobre história e política no Blog do Aggio.
Na avaliação do prefaciador, o autor não prescindiu, em momento algum, de enfatizar o caráter aberto do texto gramsciano, reconhecidamente uma das razões da grandeza do seu pensamento. “Outro aspecto importante é que não há no livro a perspectiva, como se fez no passado, de procurar extrair do pensamento de Gramsci orientações imediatas para a ação política ou então concepções de mundo integrais sobre a moral e a cultura, a sociedade e a história, o que invariavelmente produz operações reducionistas”, afirma, para continuar: “É preciso enfatizar, assim, que o autor comunga a ideia da impossibilidade de se pensar em um gramscismo como sistema ou esquema que deveria ser seguido por seus supostos adeptos”.
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Sorrilha, que também é professor assistente da Unesp e tem um canal no Youtube, analisa que o pensamento de Gramsci goza de larga repercussão no debate acadêmico e político no Brasil. “Desde a abertura democrática, suas ideias apareciam como um norte capaz de conciliar os anseios dos setores progressistas às novas demandas da democracia”, pondera. “Hoje, porém, é propagandeado como uma espécie do gênio do mal, capaz de incluir na sociedade uma moral comunista responsável pela deterioração dos valores ocidentais”, continua.
De acordo com Sorrilha, o autor do livro elabora um retrato histórico de Gramsci, devolvendo o intelectual italiano ao seu tempo, às discussões de sua época e às suas influências intelectuais, o que, segundo avalia, torna-o mais assimilável ao Ocidente e condizente com as sociedades democráticas. “O resultado é uma representação de Gramsci, pois não se está atrás do Gramsci ‘verdadeiro’, o que deve promover um estímulo ao leitor interessado, além de ampliar o debate com interlocutores especializados”, escreve.
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Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira: Depois do Carnaval
No carnaval, essa doce e necessária ilusão, o cotidiano e suas hierarquias são temporariamente suspensos. Ao fim, na ressacada e melancólica quarta-feira de cinzas, essa suspensão aos poucos se dissipa. Nesse retorno ao real, apesar das fantasias e desfiles críticos, encontramos Jair Bolsonaro em seu movimento político mais radical e arriscado. No contexto dos motins policiais e dos conflitos com os governadores dos estados, em vídeo disparado por seu celular pessoal, Bolsonaro, em tons melodramáticos, apela ao povo brasileiro para que defenda seu governo em contraposição aos políticos de sempre, em uma manifestação a ser realizada no dia 15 de março.
Em Como as democracias morrem, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt afirmam que a morte das democracias, em vez de ocorrer a partir de golpes militares, pode ser elaborada de dentro do poder e das próprias instituições. Bolsonaro, desde a campanha e mesmo como presidente, se comporta como um outsider incapaz de se enquadrar nas normas democráticas e, por isso, tensiona ao máximo o sistema de freios e contrapesos da democracia brasileira. Nesse sentido, o chamado às ruas em contraposição aos demais poderes republicanos mostra claramente esse trabalho de decomposição institucional promovido pelo autoritarismo de Bolsonaro, que concederia poderes excepcionais a um Estado de caráter policialesco.
Contudo, e por vezes os autores o esquecem, mesmo as ações mais autoritárias necessitam da formação de um amplo consenso da sociedade civil. No vídeo, as estratégias de elaboração desse consentimento são nítidas. Bolsonaro procura uma imagem de auto sacrífico para fortalecer seu personagem ao mostrar-se como único capaz de se contrapor aos problemas da política. Com isso, o presidente ainda tenta se manter como representante dos descontentes, dialogando com aquele sentimento anti-partidário e anti-político, explícito ao menos desde 2013 e que esteve também nas bases de sua eleição.
A data de convocação da manifestação é sintomática. Março não é somente o mês do Golpe Civil-Militar de 1964, mas também da Marcha pela família, com Deus e pela liberdade, que demonstrou o apoio de setores da sociedade à intervenção militar. Nos idos de março, mais uma vez, Bolsonaro revela sua nostalgia autoritária e expõe nossos dilemas com as memórias da ditadura. Na transição para a democracia, em vez de revelado e condenado, o passado autoritário e ditatorial foi recalcado nos subterrâneos da Nova República. No momento de sua crise, esse passado retorna e permanece sem um tratamento adequado, permitindo que discursos elogiosos passem praticamente incólumes.
Portanto, nessa volta de folia, a realidade parece confusa e ameaçadora. Não se trata, todavia, de produzir alarmismos ou cravar a emergência de mais um golpe no Brasil, mas de marcar um apoio incondicional às instituições e às normas democráticas e de encontrar um caminho de valorização da política e da história que se contraponha aos labirintos da narrativa bolsonarista.
*Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira é Doutor em história e cultura política pela Unesp – Franca, conselheiro da FAP e autor de “A arquitetura fractal de Antonio Gramsci: história e política nos Cadernos do Cárcere”.
Saiba o por quê de infelicidade e angústia serem vistas como anomalias
Em artigo publicado na décima edição da revista Política Democrática online, especialista analisa traços da modernidade
O narciso contemporâneo não tolera as imperfeições. A infelicidade e a angústia são vistas como anomalias, sem espaço no imperativo da felicidade e da perfeição. A avaliação é do analista político Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira, em artigo publicado na décima edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania.
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No Ocidente, segundo o autor, a modernidade provocou nova expectativa a ser realizada no tempo. “Com o aparecimento das utopias, a busca pelo paraíso, outrora depositada em dimensão extramundana, é secularizada, animando uma série de projetos políticos coletivos que se desenvolveram ao longo dos séculos XIX e XX”, escreve ele.
Contudo, de acordo com o artigo, na esteira das catástrofes vivenciadas no século passado, essas expectativas utópicas, próprias dos primeiros tempos da modernidade, perdem força, possibilitando outras formas culturais.
“Sem o recurso das utopias e marcada por diversos traumas, nossa percepção sobre o futuro parece ter-se tornado opaca, ao que passo que a do presente se assemelha a uma repetição de si mesma ou a um momento de nostalgia, afirma.
Nesse presente contínuo, as expectativas são vividas a partir dos indivíduos ou de coletividades fragmentadas, de modo que a busca pela felicidade surge como o imperativo da realização plena de uma identidade individual. “Para atender a essa demanda, as formas de consumo também se alteraram. Distante de um consumo padronizado, as marcas e os serviços, inclusive aqueles de streaming, procuram oferecer produtos que satisfaçam a esse desejo por individu- alidade e diferença”, analisa.
Mas os prazeres abundantes proporcionados por esse consumo quase existencial não são suficientes para saciar os apetites contemporâneos. O autor cita o filósofo francês Gilles Lipovestky, segundo o qual na abundância hedonista do consumo e das possibilidades de realização da felicidade convivem com o aumento vertiginoso de doenças como depressão e síndrome de burnout.
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