luciano hang
Maria Cristina Fernandes: Luciano Hang lidera bolsonarismo contra o Leviatã
Enquanto Hang explora revolta contra poder do Estado na pandemia, Bolsonaro mantém espetáculo com carimbo sobre wi-fi e microcrédito
Maria Cristina Fernandes / Valor Econômico
O depoimento do dono das lojas Havan à CPI da Covid no Senado mostrou que a oposição ainda está despreparada para enfrentar o bolsonarismo na sucessão presidencial de 2022. Levou quatro horas para Luciano Hang começar a falar o que, de fato, importava para sua vinculação com o gabinete paralelo da pandemia e o financiamento das “fake news”.
Até lá, Hang teve palco para se apresentar como representante daquela fatia do eleitorado que está mais fechada com o presidente Jair Bolsonaro. Até vídeo-propaganda de sua empresa teve oportunidade de exibir. O Datafolha chama de empresários e o Atlas de empreendedores, mas os dois institutos convergem na constatação de que este é o segmento em que o presidente colhe seu melhor desempenho, com 48% de aprovação.
Entre eles não se incluem grandes empresários e banqueiros que se mobilizam por uma terceira via, mas donos de restaurantes e botecos, feirantes, cabeleireiras e empreendedores de toda ordem que se multiplicaram com a epidemia do desemprego. Eles se identificam com Bolsonaro porque seu negócio faliu ou foi severamente afetado pelas medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos.
Não são adoradores do presidente, mas é ele quem encarna hoje a rejeição ao Estado interventor, esse Leviatã que trancou as pessoas em casa, obrigou o uso de máscaras e multou estabelecimentos que desafiassem horários restritos de funcionamento. Esta mentalidade que remete ao monstro bíblico ao qual foi equiparado o Estado absolutista, foi vitaminada pela pandemia. Não se trata de um fenômeno tupiniquim. Acomete negacionistas no mundo inteiro e tem, no Brasil, um lídimo representante em Luciano Hang.
Até a CPI entrar no que realmente importa para vinculá-lo aos crimes da pandemia, o dono da Havan teve a oportunidade de buscar empatia com a plateia ao longo da sessão da CPI. Filho de operários, teve dislexia na infância e vendia biscoitos na escola. Foi operário até se arriscar como comerciante com uma pequena loja de tecidos.
Nega ser empresário, como o faria qualquer dono de bodega. Fala de si como comerciante, apesar de ter um conglomerado de 164 lojas em 20 Estados. Para todo pecado levantado pela CPI, apresentava uma história capaz de comover seus pares. Contas bancárias e offshores no exterior? Claro, como poderia importar sem uma empresa lá fora para amortizar a flutuação do câmbio? Empréstimos de R$ 27 milhões no BNDES? Sim, mas não porque precisasse. Fatura mais do que isso por dia. Passou a vender cestas básicas para se enquadrar no critério de atividade essencial? Sim, mas se pode vender chocolate por que não feijão e arroz?
É claro que foi contraditado pelos senadores. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), lembrou que enquanto dona Maria não consegue R$ 1 mil de crédito para comprar uma máquina de costura, o empresário que se veste de verde-amarelo para se fingir de patriota pegou dinheiro que não precisa. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL) tirou dele que os sites para onde destina R$ 150 milhões por ano em publicidade são escolhidos a dedo e mostrou vídeo em que Hang, ao contrário do que dissera, coagiu funcionários a votar em Bolsonaro em 2018.
Hang quis desenhar para os senadores a diferença entre tratamento preventivo e inicial com o kit covid quando, na verdade, nenhum dos dois funciona. Preparou, como clímax do depoimento, a imagem de filho zeloso que ganhara dinheiro para que os pais tivessem a vida digna que foi negada aos avós. Por isso, autorizou até kit-covid para salvar a mãe, mas foi obrigado a reconhecer a omissão da causa de sua morte no atestado de óbito.
Os senadores da oposição concluíram sua intervenção constatando a utilidade do depoimento. Será? O que o empresário disse naquela comissão que já não fosse do conhecimento do inquérito das “fake news” no Supremo Tribunal Federal ou da própria CPI? Há informações que ajudarão a compor o relatório, como o do encontro entre Hang e o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), horas antes da sessão. A dúvida que se coloca é a do custo-benefício do depoimento.
Os próprios senadores alertaram que uma rede de robôs havia entrado em ação para atacar seus perfis sociais durante a sessão. O filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), que estava sumido da CPI, reapareceu com o claro intuito de provocar os colegas. Foi, em parte, bem sucedido, como mostraram as mãos trêmulas do senador Rogério Carvalho (PT-SE) quando exigiu que o advogado do depoente deixasse a sala por desacato.
As imagens do depoimento já foram devidamente editadas e caíram na rede para mostrar uma goleada de Hang, a começar pela transmissão ao vivo em rede social dos próprios deputados da tropa de choque bolsonarista, como Daniel Freitas (PSL-SC) e Bia Kicis (PSL-DF), lá presentes.
Não importa que esta goleada-fake se destine a convertidos como aqueles que lotaram a avenida Paulista no 7 de setembro. O presidente está dedicado à outra ponta do eleitorado. Não apenas com um auxílio emergencial vitaminado mas também com o carimbo que busca imprimir ao programa “Wi-fi para todos”, versão bolsonarista do petista “Luz para todos”, e, mais recentemente, com a investida para tomar o controle do Centrão sobre o microcrédito do Banco do Nordeste do Brasil.
Enquanto Hang mantém o picadeiro do circo armado, Bolsonaro cuida de garantir o sucesso de atrações como a da oposição ao seu próprio governo. Deixou isso claro no dueto com o presidente da Petrobras, Joaquim Luna e Silva, em torno do preço dos combustíveis. Um finge que bate enquanto o outro se mantém irredutível contra o intrépido presidente em sua luta contra a carestia.
Os espetáculos se sucedem enquanto Bolsonaro cuida, na coxia, de esticar a corda com o Centrão, como no BNB, certo de que três datas ainda terão que ser vencidas para que algum desembarque se concretize: a votação do Orçamento de 2022 até 31 de dezembro, o empenho das emendas parlamentares, em 2 de abril, e o encerramento de sua execução financeira, em 2 de julho. É este o prazo que a oposição tem para aprender a enfrentar o bolsonarismo sem dar palco para maluco.
Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/politica/coluna/hang-lidera-bolsonarismo-contra-o-leviata.ghtml
El País: Luciano Hang, o mais engajado empresário bolsonarista, casa marketing e militância
Dono da rede varejista Havan se aproximou de apresentadores, jogadores e dirigentes pró-Bolsonaro patrocinando seus times, eventos e programas televisivos
Por Breiller Pires, do El País
Os craques Ronaldinho Gaúcho e Falcão, o Club Atlético Paranaense e os apresentadores de televisão Ratinho, Celso Portiolli e Danilo Gentili possuem outro traço em comum além de terem apoiado publicamente Jair Bolsonaro. Todos eles recebem patrocínios ou já posaram como garotos-propaganda da Havan, rede de lojas do catarinense Luciano Hang, empresário que mais militou a favor do ex-capitão do Exército durante a campanha presidencial. Com faturamento estimado em 5 bilhões de reais por ano, a empresa se tornou uma impulsora do bolsonarismo pelo país atrelando sua imagem a celebridades de orientação ideológica semelhante à de seu líder.
Pouco conhecido e de perfil discreto até então, Luciano Hang começou a apostar em ações de publicidade no fim de 2016. A campanha “De quem é a Havan?” estrelada por ele era a forma que encontrou para combater os boatos de que as lojas distinguidas pela arquitetura inspirada na Casa Branca e réplicas da Estátua da Liberdade em sua fachada pertenciam aos filhos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. “A associação com políticos começou a afetar a imagem do meu negócio”, diz Hang, que, sem esconder seu antipetismo, sempre foi admirador dos Estados Unidos e do capitalismo. “Acredite nos empresários. Deixa a gente trabalhar”, costuma pregar ao defender o enxugamento do Estado em suas aparições públicas.
A partir da campanha, dois anos atrás, o dono virou a cara da empresa e turbinou as investidas de marketing. Para isso, contou com parceiros de longa data. Desde 2013, quando iniciou a expansão de lojas para além da região Sul, passou a ser anunciante assíduo do programa SuperPop, da RedeTV!, apresentado por Luciana Gimenez. Naquela época, a atração já servia de escada para a popularidade de Jair Bolsonaro, ainda como deputado federal, habitué dos debates sobre família, homossexualidade e machismo instados pela apresentadora. Mas o grande salto da Havan no mercado de publicidade em televisão toma impulso pelas mãos de dois líderes de programas de auditório com raízes no Paraná, estado que abriga mais lojas da marca depois de Santa Catarina.
Carlos Roberto Massa, o Ratinho, puxou a fila dos embaixadores notáveis da Havan. Começou anunciando produtos em seu programa, que foi palco da maior exposição midiática experimentada por Luciano Hang até então. Uma entrevista de 12 minutos, ao vivo e em rede nacional, onde ele aparecia desmentindo boatos sobre a empresa e detalhando seu projeto de crescimento. Ratinho logo conseguiu patrocínio fixo da rede varejista para um quadro da atração que comanda há mais de 20 anos no SBT. Entre viagens para inauguração de novas lojas pelo Brasil, apresentador e empresário descobriram afinidades políticas, que, pouco antes de se conhecerem, seriam improváveis.
Ratinho era amigo de Lula. Tamanha proximidade acabou lhe rendendo contratempos. Em 2005, teve seu nome envolvido no escândalo do mensalão, suspeito de receber 2 milhões de reais retirados de contas do empresário Marcos Valério como pagamento por uma entrevista realizada com o então presidente no ano anterior. Ele negou a acusação e, por falta de provas, não chegou a ser indiciado no processo. Em 2012, Lula, já retirado da Presidência, voltou a ser entrevistado em seu programa. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo multou o apresentador e o PT por propaganda eleitoral antecipada, já que Lula levara a tiracolo na atração seu candidato à Prefeitura, Fernando Haddad, em notório esforço para torná-lo mais conhecido. Dizendo-se responsável pelo convite, Ratinho se dispôs a pagar integralmente a multa de 15.000 reais.
A relação entre Lula e Ratinho começaria a azedar no mesmo ano. O apresentador havia negociado nos bastidores para que o ex-presidente se mantivesse neutro na eleição a prefeito de Curitiba, que tinha seu filho, Ratinho Junior, como um dos candidatos. Lula cumpriu o acordo com o amigo, mas o PT decidiu apoiar Gustavo Fruet (PDT), que venceu o pleito no segundo turno. Depois disso, Ratinho, que nunca foi simpático ao partido apesar da amizade com seu principal fundador, se converteu em antipetista de carteirinha, afastando-se de Lula. Seu filho seguiu na política. Em outubro, foi eleito governador do Paraná no primeiro turno pelo PSD – Luciano Hang doou 100.000 reais para sua campanha. Pai e filho apoiaram Bolsonaro no Estado.
No início de dezembro, Ratinho e Portiolli, vestidos com a tradicional pilcha gaúcha, estiveram ao lado de Hang na inauguração da primeira loja da Havan no Rio Grande do Sul. Ambos aplaudiram o discurso inflamado do empresário, que reivindicava “mais liberdade para poder trabalhar sábado, domingo e feriados” e “menos interferências de sindicatos” para abrir mais empreendimentos.
Sbtistas e havanistas
“Somos bons soldados da Havan. O Celso é o sargento”, explica Ratinho sobre a dedicação dos comunicadores em promover a empresa catarinense. Portiolli vai além. “Sou sbtista, mas também havanista”. Ele não hesita, inclusive, em comparar Luciano Hang a Silvio Santos. “Só vi dois na vida. São homens de uma energia incrível, humildes e simples”, diz. Foi ele quem mediou um encontro entre os magnatas. Em maio, Hang esteve nos estúdios do SBT, onde ele investiu cerca de 50 milhões de reais em publicidade em 2018, e foi apresentado a Silvio Santos, que o convidou juntamente com os três filhos para fazer uma ponta em seu programa. Durante a participação, que durou quase seis minutos, o apresentador se mostrou impressionado com o tamanho das lojas do empresário, mas o rebateu após ele dizer “acreditar no Brasil” para justificar investimentos. “Isso é um pouco demagogo”, provocou Silvio Santos.
Em um mercado cada vez mais escasso de anunciantes, a bajulação a Hang tem ganhado novos espaços na emissora. Em dezembro, ele foi o convidado especial do quadro “Pra quem você tira o chapéu”, no Programa Raul Gil. Enquanto o empresário aproveitava o palco para atacar Lula, universidades federais, jornalistas e governos de esquerda na América Latina, o apresentador o exaltava como “um grande apoiador da propaganda na TV”. Três dias depois foi ao ar uma entrevista de Hang a Danilo Gentili, humorista que, assim como Bolsonaro, já foi processado pela deputada Maria do Rosário (PT) por ofensas machistas e apresenta o programa The Noite. Menos de uma semana após participar do “Pra quem você tira o chapéu”, com o colega Raul Gil, em que também criticou a imprensa, “professores esquerdistas” nas universidades e governos socialistas, Gentili fechou contrato para 20 inserções comerciais da Havan durante o ano. Na primeira, em ação com ovos de Páscoa, o apresentador convocou seus fãs a comprar na loja. “A Havan merece todo o nosso dinheiro”, afirmou durante o merchan.
O poder econômico e a disposição em abrir os cofres para publicidade fazem com que Hang seja cortejado por nomes de outras emissoras. Em agosto, o empresário e apresentador Roberto Justus visitou a sede da Havan em busca de patrocínio para seu reality show O Aprendiz, que a partir do ano que vem será exibido pela Band. Saiu com a promessa de uma cota bancada pela rede de lojas. Nas vésperas do segundo turno, Justus anunciou apoio a Bolsonaro alegando que “o PT já demonstrou sua incapacidade de dar uma vida melhor aos brasileiros”. Assim como Hang, o apresentador é signatário do manifesto liderado por Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, em que um grupo de empresários defende o livre mercado e se compromete a tomar as rédeas da política.
Para Luciano Hang, o SBT tem programas “voltados para a família brasileira”. Ele diz que a identificação entre anunciante e investidor é fundamental na hora de fechar acordos comerciais. “Buscamos agregar pessoas com as quais nos identificamos e são capazes de interagir com a população.” De acordo com o departamento de marketing da Havan, a estratégia publicitária da empresa não leva em conta critérios ideológicos nem condiciona patrocínios a posicionamentos políticos de personalidades e veículos de comunicação. Embora Hang seja crítico da Globo, a ponto de desqualificar contratados da emissora como a apresentadora Fernanda Lima, sua empresa já anunciou no programa Encontro com Fátima Bernardes, e também em intervalos comerciais no horário nobre. Em setembro, telespectadores da Globo foram surpreendidos com uma campanha da Havan protagonizada por artistas do SBT, a exemplo de Ratinho, Celso Portiolli, Danilo Gentili e Eliana. Também já posaram como garotos-propaganda da empresa o youtuber Whindersson Nunes e a apresentadora Sabrina Sato, da Record. Ela é casada com o ator Duda Nagle, que engrossou manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff na avenida Paulista. Em dezembro, Luciano Hang gravou entrevista com a mãe de Duda, a jornalista Leda Nagle.
Há um ritual predeterminado para cada celebridade contratada pela Havan. Os famosos são recepcionados pelo helicóptero da empresa no aeroporto internacional de Navegantes, de onde se deslocam até a sede em Brusque. Ao chegar, fazem um tour pela megaloja, tocam um sino reservado a visitantes ilustres e posam para fotos com funcionários. Dos encontros com Luciano Hang, geralmente saem com contratos de publicidade encaminhados, que costumam envolver a realização de entrevistas com o proprietário. Quando entrevistado por Luciana Gimenez, Ratinho, Danilo Gentili, Raul Gil e Silvio Santos, o empresário foi poupado de responder ou se estender sobre temas espinhosos, como o suposto disparo de mensagens contra o PT no Whatsapp, impulsionamento ilegal de conteúdos favoráveis a Bolsonaro no Facebook ou a condenação na Justiça catarinense por evasão de divisas.
Esportistas bolsonaristas bem cotados com a Havan
Este ano, Falcão, um dos maiores jogadores de futsal de todos os tempos, se tornou garoto-propaganda da Havan. Ele gravou ações promocionais para a Copa do Mundo, Dia das Crianças e o 32º aniversário da empresa. Durante as eleições, causou polêmica ao criticar o movimento #EleNão e gritou “Bolsonaro presidente” em sua despedida da seleção brasileira, no mesmo dia do segundo turno. Em novembro, o agora ex-jogador visitou o presidente eleito no Rio de Janeiro. “Fiquei confiante de sentir olho no olho a única vontade dele, que é melhorar nosso país”, comentou sobre o encontro em seu perfil no Instagram.
Mas o apoio ao político de extrema direita que mais repercutiu no círculo do esporte foi o do pentacampeão Ronaldinho Gaúcho, que, em 2014, endossara a candidatura de Aécio Neves (PSDB). O ex-craque do Barcelona postou imagem com uma camisa da seleção e o número 17, revelando seu voto “por um Brasil melhor, desejo paz, segurança e alguém que nos devolva a alegria”. A manifestação pelas redes sociais aconteceu na véspera do primeiro turno, dois dias após seu irmão e representante, Assis Moreira, confirmar sua participação no Jogo das Estrelas, em Santa Catarina, patrocinado pela Havan.
José Pereira, organizador do evento realizado no último dia 13 de dezembro, conta que esteve em um hotel em São Paulo para fechar a presença de Ronaldinho, mas que a Havan só decidiu patrocinar o jogo após a confirmação do ex-jogador. A programação oficial do evento foi divulgada em 30 de outubro, dois dias depois da eleição de Jair Bolsonaro. “Um nome como Ronaldinho abre portas”, diz Pereira. Embora ele afirme que outras marcas ajudaram a pagar o cachê da estrela, que cobra 200.000 dólares (780.000 reais) por exibição em eventos festivos e amistosos, à exceção de jogos beneficentes, o aporte da Havan foi determinante para bancar as despesas com convidados e levar a partida a Brusque pela primeira vez. Tal qual os garotos-propaganda havanistas, Ronaldinho voou no helicóptero da empresa e fez o habitual tour pela sede, ao lado do ex-companheiro de seleção Zé Roberto. No segundo turno presidencial, ele não se manifestou nem votou. Estava em turnê pela Ásia.
Além do Brusque Futebol Clube, a Havan patrocina outros dois clubes de futebol, ambos da primeira divisão nacional. No fim de 2017, assinou contrato de aproximadamente 3 milhões de reais com o Atlético Paranaense para exibir sua marca nas mangas do uniforme por uma temporada. Antipetista convicto, o mandachuva do clube, Mário Celso Petraglia, foi apresentado por Luciano Hang ao clã de Bolsonaro. Ele pretende se aproximar do presidente eleito após utilizar o time para apoiar sua campanha. Um dia antes do primeiro turno da eleição, o Atlético entrou em campo contra o América-MG vestindo uma camisa semelhante à confeccionada por Hang com mensagem de apoio subliminar a Bolsonaro: “Vamos todos juntos por amor ao Brasil”. O clube acabou multado em 70.000 reais pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por fazer manifestação política.
Em outubro, o Ministério Público do Trabalho (MPT) já havia denunciado Luciano Hang por coagir funcionários a votarem em Bolsonaro, sob ameaças de fechar lojas e promover demissões caso Haddad ganhasse a eleição. O empresário alega que nunca obrigou o voto de empregados da Havan, apenas disse “em quem achava que eles deveriam votar”. Apesar de a rede negar a seleção de funcionários e parceiros comerciais por afinidades ideológicas, seu dono já afirmou mais de uma vez que “petista não aguentaria trabalhar na Havan”.
O outro clube patrocinado pela Havan é a Chapecoense. Ao contrário do Atlético, o clube do Oeste catarinense não tomou posição institucional a favor de Bolsonaro. Porém, o principal apoiador da chapa bolsonarista em Chapecó tem as digitais impressas no clube, sobretudo depois da exposição que ganhou como porta-voz da equipe após a tragédia com o avião que levava a delegação para a Colômbia, em 2016. O prefeito Luciano Buligon comprou briga com o PSB para apoiar Bolsonaro na região. Por causa de sua escolha, foi expulso do partido. A Havan tem duas lojas em Chapecó. Atualmente, a empresa conta com 16.000 funcionários em 120 estabelecimentos espalhados pelo país. Após a vitória de Bolsonaro, Hang promete investir 500 milhões de reais, gerar 5.000 empregos e abrir 20 novas lojas somente em 2019, além de fazer valer ainda mais a máxima de que propaganda é a alma do negócio – e, por tabela, do ativismo político.