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Leandro Colon: Aceno de Renan é sinal de perigo

Elogio de senador a Flávio Bolsonaro é mensagem de proteção a um governo enfraquecido

O presidente Jair Bolsonaro desembarca em terras suíças nesta segunda-feira (21) para o Fórum Econômico Mundial, em Davos, deixando por aqui uma crise com potencial para causar sérios danos em um governo que ainda engatinha.

Uma consequência do caso Queiroz é a dificuldade que Bolsonaro terá para faturar politicamente as eleições às presidências da Câmara e do Senado, no dia 1º de fevereiro.

Salvo imprevistos, tudo caminha, respectivamente, para as vitórias de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Renan Calheiros (MDB-AL) em cada Casa.

O PSL de Bolsonaro abraçou a candidatura de Maia ao perceber que, mesmo com a maior bancada eleita, não teria condições de levar adiante um candidato competitivo.

O provável sucesso de Maia não será uma vitória de Bolsonaro. O atual presidente da Câmara não é um candidato do governo. Pode até, por circunstâncias da eleição na Câmara, ter se aproximado do Planalto, mas deve manter a relação política ambígua adotada no período de Temer.

O maior perigo para Bolsonaro está no Senado. Na última sexta-feira (18), em entrevista à Folha, Renan Calheiros fez um aceno ao defender o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente.

“Temos com relação a ele (Flávio) as melhores expectativas, de que é um moço que quer trabalhar, que quer fazer um bom mandato, que tem posições e defende-as”, disse.

Horas depois da declaração, o Jornal Nacional revelou os 48 depósitos na conta de Flávio que somam R$ 96 mil, todos no valor de R$ 2.000 e feitos sucessivamente em curiosos intervalos de poucos minutos.

Flávio chega ao Senado nas cordas, sem força para ser porta-voz do pai. Perdeu a capacidade de articulação para influenciar na eleição à presidência da Casa. O gesto que recebeu de Renan é um recado de proteção antecipada contra eventuais tentativas de cassação de mandato.

Em troca, o emedebista quer ter o Planalto ajoelhado aos seus pés para garantir a reforma da Previdência. O pior cenário para qualquer governo.


Leandro Colon: Caso Battisti é um vexame completo para o Brasil

Depois de abrigá-lo, país não impediu fuga e teve de engolir a expulsão pelo vizinho

A novela Cesare Battisti, ao que parece em seus capítulos finais, caminha para um desfecho de saldo vexaminoso para a imagem do Brasil.

Condenado na Itália à prisão perpétua por quatro homicídios nos anos 70, o terrorista italiano viveu na última década por aqui graças à benevolência dos governos petistas.

Recebeu o status de refugiado do ex-presidente Lula, hoje um preso condenado pela Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Com a proteção garantida, Battisti construiu uma vida em solo brasileiro.

Desfilava tranquilamente pelas ruas de Cananeia, no litoral paulista. Teve um filho com uma professora brasileira. Vestindo a camisa do Corinthians, declarou à Folha em 2017 que não havia razões para fugir, muito menos para a Bolívia —pouco antes, fora detido na fronteira sob acusação de evasão de divisas por carregar mais de R$ 10 mil em espécie.

“A minha arma para me defender não é fugir. Estou do lado da razão, tenho tudo a meu lado”, disse ao repórter Joelmir Tavares na ocasião.

Um ano e dois meses depois daquela entrevista, a casa caiu para Battisti. O STF autorizou sua prisão e a extradição para a Itália foi assinada pelo então presidente Michel Temer.

Perdeu quem apostou que o constrangimento de mais de dez anos para o Brasil havia chegado ao fim.

Battisti deu um olé (digno de bons craques do seu clube de coração no Brasil) na Polícia Federal nos últimos 30 dias. Como contou a repórter Camila Mattoso, ele despistou a polícia, que tentou procurá-lo, em vão, até em um barco no rio Amazonas.

Foi preso pela polícia da Bolívia nas ruas de Santa Cruz de La Sierra. O presidente Jair Bolsonaro montou uma operação para trazê-lo ao Brasil, nem que fosse por alguns minutos, e exibi-lo como troféu. O ministro Augusto Heleno, do GSI, anunciou que um avião da PF havia sido deslocado para buscar Battisti. A Itália atropelou e o levou da Bolívia.

Depois de abrigar um terrorista, o Brasil não impediu sua fuga do país e ainda teve de engolir a expulsão pelo vizinho. Um vexame completo.


Leandro Colon: Bolsonaro precisa entender logo a cadeira que ocupa

Episódios da primeira semana indicam pontos capazes de criar sérios problemas

Jair Bolsonaro completa nesta segunda-feira (7) o sétimo dia como presidente da República.

É prematuro e desonesto qualquer balanço concreto em uma semana, mas os episódios colecionados desde a posse indicam pontos sensíveis que podem criar sérios problemas futuros ao novo ocupante do terceiro andar do Palácio do Planalto.

Os mais expostos deles são a bagunça na comunicação palaciana e os sinais de divergência entre a equipe econômica e ministros do núcleo político. Nada inédito tratando-se de poder em Brasília. Antonio Palocci, na Fazenda, e José Dirceu, na Casa Civil, por exemplo, discordavam e buscavam protagonismo no começo do primeiro governo Lula.

O episódio do aumento do IOF é mais do que um mal entendido entre alas bolsonaristas. O presidente afirmou, em rápida entrevista coletiva, que assinou o decreto. O ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) admitiu que a hipótese de reajustar o imposto estava na mesa em discussão até a manhã de sexta-feira (4).

Uma reunião de emergência foi convocada à tarde e, pouco depois, ficou a versão oficial de que Bolsonaro apenas se "equivocou" ao declarar ter assinado um documento.

Bolsonaro passou a campanha e o governo de transição sem um assessor de imprensa oficial ou um porta-voz. Apostou até aqui na comunicação pelas redes sociais, dispensando o que chama de intermediários.

É, entre outros motivos, uma estratégia de autoproteção porque Bolsonaro sabe de suas limitações. Bastaram duas entrevistas dele após a posse —ao SBT e a um grupo de jornalistas em um evento— para o governo experimentar o sabor da crise.

Em seu primeiro fim de semana como chefe da República, Bolsonaro gastou tempo para atacar o PT e a imprensa nas redes sociais. Somente no sábado foram 12 mensagens.

A falta de medidas relevantes na primeira semana não chega a ser um mau presságio. Há razões técnicas e burocráticas para tanto. O presidente só precisa entender logo o que significa de fato a cadeira que ocupa.


Leandro Colon: Bolsonaro e o Congresso

Nenhum presidente governou nas últimas décadas sem a parceria do Legislativo

O decreto para permitir a posse de arma de fogo a pessoas sem ficha criminal é apenas um pedaço da avalanche de medidas a serem anunciadas nos primeiros dias do governo de Jair Bolsonaro.

A expectativa é que os novos ministros revelem agora na largada ações de impacto nas pastas. Estrelas da Esplanada, Paulo Guedes(Economia) e Sergio Moro (Justiça) devem dividir o protagonismo em janeiro.

Conforme mostrou reportagem da Folha no domingo (30), a equipe de Guedes quer fazer um gesto ao setor produtivo na busca da melhoria do ambiente de negócios no país.

A primeira impressão (sobretudo para um governo novo) é importante e o ministro sabe que não há outro colega com mais responsabilidade do que ele para que Bolsonaro tenha uma perspectiva de sucesso.

Entretanto, para pouca coisa servirá um clima de euforia econômica nas primeiras voltas da corrida se Guedes não revelar até fevereiro qual é de fato a reforma da Previdência à mesa. Não há medida capaz de superar um fiasco na aprovação da mudança na aposentadoria.

Naturalmente aguarda-se com ansiedade o primeiro mês de governo Bolsonaro, mas é a partir de fevereiro, com o início da nova legislatura do Congresso, que a força dele e de seus movimentos será percebida.

Sem uma base parlamentar coesa e alinhada, Guedes e Moro terão dificuldades em levar adiante as principais metas de seus ministérios.

O ex-juiz federal pretende entregar aos deputados e senadores um pacote de medidas legislativas de combate à corrupção. São propostas que dependerão da boa vontade de uma classe política que sempre demonstrou aversão à Lava Jato.

Moro terá condições de negociar com personagens atingidos por ações dele nos tempos de Curitiba? Guedes vai topar ceder na reforma da Previdência para conseguir sua aprovação no primeiro semestre?

Nenhum presidente governou nas últimas décadas sem a parceria do Congresso. E não há chance alguma de ser diferente com Bolsonaro.

Nenhum presidente governou nas últimas décadas sem a parceria do Legislativo

O decreto para permitir a posse de arma de fogo a pessoas sem ficha criminal é apenas um pedaço da avalanche de medidas a serem anunciadas nos primeiros dias do governo de Jair Bolsonaro.

A expectativa é que os novos ministros revelem agora na largada ações de impacto nas pastas. Estrelas da Esplanada, Paulo Guedes(Economia) e Sergio Moro (Justiça) devem dividir o protagonismo em janeiro.

Conforme mostrou reportagem da Folha no domingo (30), a equipe de Guedes quer fazer um gesto ao setor produtivo na busca da melhoria do ambiente de negócios no país.

A primeira impressão (sobretudo para um governo novo) é importante e o ministro sabe que não há outro colega com mais responsabilidade do que ele para que Bolsonaro tenha uma perspectiva de sucesso.

Entretanto, para pouca coisa servirá um clima de euforia econômica nas primeiras voltas da corrida se Guedes não revelar até fevereiro qual é de fato a reforma da Previdência à mesa. Não há medida capaz de superar um fiasco na aprovação da mudança na aposentadoria.

Naturalmente aguarda-se com ansiedade o primeiro mês de governo Bolsonaro, mas é a partir de fevereiro, com o início da nova legislatura do Congresso, que a força dele e de seus movimentos será percebida.

Sem uma base parlamentar coesa e alinhada, Guedes e Moro terão dificuldades em levar adiante as principais metas de seus ministérios.

O ex-juiz federal pretende entregar aos deputados e senadores um pacote de medidas legislativas de combate à corrupção. São propostas que dependerão da boa vontade de uma classe política que sempre demonstrou aversão à Lava Jato.

Moro terá condições de negociar com personagens atingidos por ações dele nos tempos de Curitiba? Guedes vai topar ceder na reforma da Previdência para conseguir sua aprovação no primeiro semestre?

Nenhum presidente governou nas últimas décadas sem a parceria do Congresso. E não há chance alguma de ser diferente com Bolsonaro.


Leandro Colon: Um governo a ser esquecido

Temer deixa Jaburu com três denúncias no currículo e fracasso em cumprir promessas

Mais uma semana pela frente e o governo de Michel Temer chegará ao fim. Um período presidencial que começou de maneira interina no dia 12 de maio de 2016 após o Senado aprovar o afastamento temporário de Dilma Rousseff.

Naquela quinta-feira, Temer afirmou ser necessário um "governo de salvação nacional". "É urgente pacificar a nação e unificar o Brasil", disse.

"A moral pública será permanentemente buscada por meio dos instrumentos de controle e apuração de desvios", declarou, rodeado no Palácio do Planalto por novos ministros.

Entre eles estavam Romero Jucá, do Planejamento, e Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo. O primeiro caiu logo em seguida com a revelação pela Folha do áudio em que defendia "estancar a sangria" da Lava Jato. E Geddel passará mais um Natal na penitenciária da Papuda.

Temer deixa o Palácio do Jaburu carregando no currículo três denúncias da Procuradoria-Geral da República. São acusações de corrupção, de chefiar organização criminosa, de obstruir a Justiça e de lavagem de dinheiro. A última das denúncias foi apresentada semana passada pela chefe da PGR, Raquel Dodge, indicada por Temer para substituir Rodrigo Janot, algoz do presidente.

São acusações que devem seguir para a primeira instância a partir de janeiro e atormentar a vida do emedebista, que passará a conviver com o fantasma da condenação e o pesadelo de uma consequente prisão.

Juntam-se a isso novas frentes de investigação. Dodge descreveu na terceira denúncia, por exemplo, mais cinco crimes que precisariam ser apurados em relação ao presidente.

O período Temer só não foi um completo desastre porque o país saiu da recessão, a inflação foi controlada, e o teto de gastos, aprovado.

Por outro lado, sua gestão fracassou no avanço da reforma da Previdência e no combate ao desemprego.

Não há como ser positivo o balanço de um governo em que seu presidente atingiu o pior índice de popularidade da história e não cumpriu a promessa de unificar o Brasil.

*Leandro Colon é diretor da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Londres. Vencedor de dois prêmios Esso.


Leandro Colon: Compadrio e vexame no TCU

Dois ministros mudam de ideia e recuam de impedimento para salvar a pele de aliados

O TCU (Tribunal de Contas da União) protagonizou na semana passada uma constrangedora sessão para figurar entre os maiores vexames da história da corte.

O episódio foi contado na Folha pelo repórter Fábio Fabrini. O enredo é simples: dois ministros haviam se declarado impedidos lá atrás de opinar em um processo envolvendo dois aliados bem próximos deles.

Até aí, tudo certo, afinal demonstraram bom senso. Na hora do julgamento, a surpresa: quando o placar final, sem os votos da dupla, caminhava para condenação dos velhos amigos, os ministros anunciaram, para o espanto dos colegas, que mudaram de ideia e não se sentiam mais impedidos. Rasgaram a fantasia e votaram a favor dos investigados.

Os ministros são Raimundo Carreiro, que deixa a presidência do TCU no fim deste mês, e Aroldo Cedraz.

Os dois personagens julgados são Agaciel Maia e Efraim Morais. O primeiro, hoje deputado distrital no DF, foi o todo-poderoso da diretoria-geral do Senado até 2009, quando caiu durante o escândalo administrativo que atingiu a Casa naquele ano. Era apontado, na época, como operador dos atos secretos que quase derrubaram José Sarney da presidência.

Efraim ocupou, como senador, a primeira-secretaria do Senado. Respaldava os contratos de terceirização. Segundo o TCU, ele e Agaciel deram um prejuízo de pelo menos R$ 14 milhões (valores da época) na contratação de uma dessas empresas.

O ministro Raimundo Carreiro chegou ao tribunal em 2007, indicado pelos senadores depois de 12 anos como secretário-geral do Senado. Era parceiro de Agaciel nos serviços prestados ao grupo de Sarney no Congresso, incluindo Efraim Morais.

Aroldo Cedraz também é ministro desde 2007, escolhido pela Câmara sob filiação ao antigo PFL, partido de Efraim. Seu filho, o advogado Tiago Cedraz, tem sido uma figurinha carimbada nas ações da Lava Jato.

Não surpreende o compadrio nas relações de poder em Brasília. O seu escancaramento, porém, não deixa de ser preocupante e assustador.


Leandro Colon: Diversionismo petista

Documento de diretório nacional omite falhas eleitorais e enfraquece oposição a Bolsonaro

O diretório nacional do PT se reuniu em Brasília um mês depois da derrota eleitoral de Fernando Haddad para Jair Bolsonaro.

No sábado (1º‘), divulgou um documento final do encontro. O balanço de oito páginas é recheado de clichês e bravatas capazes de fazer inveja a panfletos de centros acadêmicos.

O partido transfere a responsabilidade por seu fracasso na disputa presidencial ao que chama de “classes dominantes”, formadas, segundo o petismo, por políticos, setores da mídia, parte do judiciário, e “algumas forças externas”, todos agindo desde o final do segundo turno de 2014, diz a conclusão do diretório.

Em outro trecho, a sigla afirma que, após o impeachment de Dilma Rousseff, a “coalizão golpista não cessou sua caçada judicial contra o PT e o presidente Lula”. “Com a condenação e a prisão injustas dele, setores que dirigem o judiciário trabalharam para legitimar a narrativa da extrema direita: o PT apresentado como uma ‘organização criminosa’”, destaca o comando petista.

O documento diz ainda que a candidatura de Lula foi cassada “ilegalmente” e que foi correta a estratégia de “lutar até o limite” pela manutenção da candidatura do ex-presidente, condenado e preso em Curitiba. “Lula Inocente! Lula Livre!”, termina a resolução aprovada no sábado.

Sugestões internas foram dadas para que esse balanço incluísse autocríticas, inclusive sobre a política econômica do segundo governo Dilma Rousseff, considerada nos bastidores por figuras petistas como peça importante do declínio partidário.

Mas, não. No fim, optou-se por ignorar erros, como insistir em uma candidatura que jamais prosperaria, além de não admitir omissões que levaram a uma corrupção desenfreada nos governos do partido.

Legendas se organizam para uma oposição a Bolsonaro e não querem nem ver por perto o PT, que elegeu a maior bancada da Câmara. Uma oposição forte e coesa é imprescindível para o jogo democrático. A arrogância e o diversionismo dos petistas só favorecem o novo governo.


Leandro Colon: Eleição acabou e Bolsonaro ainda age como candidato

De um governo de transição exige-se transparência e informação e menos superficialidade

Jair Bolsonaro ainda age e fala como candidato duas semanas após ser eleito presidente. Não há um assessor próximo com influência sobre ele e bom senso para convencê-lo de que a campanha acabou e o jogo a partir de agora é outro.

No domingo (11), a assessoria do capitão reformado divulgou imagens dele, com uma camisa de time de futebol, tentando acender a churrasqueira em sua casa, no Rio. Bolsonaro deu uma escapada para sacar dinheiro em um caixa eletrônico e foi cumprimentado por banhistas na orla da praia. Imagens perfeitas para uma propaganda eleitoral.

Dois dias antes, ele deu uma declaração preocupante sobre o Enem. Disse que, como presidente, pretende tomar “conhecimento da prova antes”. Basicamente, quer interferir no sigilo que garante a segurança do exame nacional contra vazamentos.

Bolsonaro e nenhum outro cidadão, com exceção dos técnicos envolvidos diretamente com a prova, podem ter acesso ao conteúdo antes da aplicação aos estudantes do país.

Com declarações polêmicas, que provavelmente agradam boa parte de seu eleitorado, e cenas de positivo viés popular, Bolsonaro busca empurrar para segundo plano a inoperância mostrada até aqui pela equipe de transição que montou.

Pouco importa se ele sabe ou não preparar um bom churrasco. Se vai a um caixa de banco como um cidadão comum. O que o presidente eleito precisa é contar logo que modelo de reforma da Previdência pretende apresentar e quais as primeiras medidas que serão tomadas na economia daqui a menos de dois meses.

Fala-se muito do fim do Ministério do Trabalho. O problema nem é tanto esse. A palavra “ministério” não impediu que a pasta virasse um mercado de vendas de registros sindicais nos governos petistas e de Temer. A pergunta é o que Bolsonaro pretende fazer com temas ligados à área.

Tudo é obscuro. A superficialidade no trato de assuntos sérios pode ter sido estratégia eleitoral bem-sucedida. De um governo de transição exige-se transparência e informação.


Leandro Colon: Sabe-se quem foi Bolsonaro até hoje e sobram dúvidas sobre governo

Nada indica, por ora, uma reação de Fernando Haddad (PT) capaz de impedir a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), hoje líder folgado nas pesquisas, no domingo (28).

Confirmada a previsão, Bolsonaro pode chegar ao Planalto em 1º de janeiro de 2019 apoiado por uma significativa maioria do eleitorado. Um respaldo que qualquer líder político gostaria de ter para assumir o poder.

Daqui a uns anos, provavelmente passado o calor de uma eleição peculiar e estranha, o fenômeno “bolsonarista” de 2018 será melhor depurado. Fato é que algumas razões que devem levar o capitão reformado à chefia da República já são nítidas.

O antipetismo (ou antilulismo) tem sido essencial para esse massacre anunciado nas urnas. Sob a batuta de Lula, o PT fortaleceu o ambiente de confronto político e de busca pelo descrédito da imprensa e do processo eleitoral (sob o lema “eleição sem Lula é fraude”). Atropelou possibilidades de movimentos que poderiam levar a esquerda, não necessariamente o PT, ao poder.

As descobertas da Lava Jato nos últimos quatro anos, mesmo com seus abusos investigativos e delações irresponsáveis (muitas delas infladas por nós, jornalistas), desnortearam a centro-direita. O recado mais visível desse efeito é a humilhação imposta a Geraldo Alckmin nas urnas.

Uma esquerda rachada e sem rumo e uma centro-direita desprezada pelo eleitorado contribuíram para que um deputado com carreira política pífia e irrelevante na Câmara surgisse como alternativa de poder.

O que Bolsonaro disse até aqui não o ameaçou nas pesquisas (ao que parece, só o ajudou). Defesa do método da tortura, elogios ao regime militar, compromisso frágil com a democracia, e declarações que simpatizam com homofobia, racismo e perseguição ao ativismo social. São certezas que não atrapalharam o candidato do PSL, o maior beneficiado pela nefasta onda de fake news.

Sabe-se quem foi Bolsonaro até hoje —um parlamentar limitado e inexpressivo. Sobram dúvidas sobre seu (cada vez mais provável) governo.

*Leandro Colon, Diretor da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Londres. Vencedor de dois prêmios Esso


Leandro Colon: Hoje herdeira maior do espólio de Lula, Marina luta para não derreter

Razões não faltam para pensar que ela tem grandes chances de ir ao segundo turno

Se um estrangeiro desinformado sobre nossa eleição presidencial desembarcasse hoje por aqui, certamente pensaria que Marina Silva (Rede) tem tudo para chegar ao segundo turno com chances de ser eleita presidente da República.

Razões não faltam. Terceira colocada na pesquisa do Datafolha no cenário com Lula, a ex-ministra do Meio Ambiente vê dobrar suas intenções de voto, de 8% para 16%, quando o levantamento exclui o nome do ex-presidente da disputa, possibilidade mais provável e que está apenas à espera de uma confirmação do TSE.

De acordo com o Datafolha, Marina é a que mais herda eleitores de Lula. Ela é a preferida de 21% dos que afirmam que votariam no petista. Lidera também entre os mais pobres na hipótese sem o ex-presidente.

O contexto, decerto, não poderia ser melhor não fossem os fantasmas políticos que cercam sua candidatura. O principal deles deve ser debitado na conta da ex-senadora. Marina não conseguiu dar musculatura ao partido que criou, a Rede. E a fatura é salgada. Isolada e incapaz de construir alianças de fôlego, a candidata ao Planalto terá míseros 21 segundos de tempo na TV aberta, uma fatia de quase 3% do total.

O espólio que hoje ela herda de Lula tende, por exemplo, a derreter assim que Fernando Haddad for apresentado na propaganda eleitoral como o candidato de fato do PT.

Marina ainda carrega a desconfiança da esquerda pelo apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014 contra Dilma Rousseff. Deu suporte a práticas que agora critica.

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Transforme sua sala em um divã. E repórteres, às vezes, pensam que são promotores, mas são jornalistas.

Palavras de Otavio Frias Filho, em agosto de 2016, sobre a desafiadora missão, que acabara de me confiar, de dirigir a Sucursal de Brasília —pouco depois de concluída outra, a de correspondente em Londres.

No sétimo dia de sua morte, o sentimento de tristeza pela despedida se mistura ao de uma eterna gratidão.

*Leandro Colon é diretor da Sucursal de Brasília


Leandro Colon: Não há mocinho no bangue-bangue judicial sobre Lula

Guerra de decisões no domingo mostra que Brasil virou algazarra jurídica

O Brasil virou uma algazarra jurídica. Um juiz federal do TRF-4, que foi filiado ao PT por quase 20 anos, aproveitou o plantão no fim de semana para soltar o preso mais ilustre do país. Estimulada por um juiz de primeira instância em período de férias, a PF ignorou a decisão.

Outro magistrado do TRF-4 resolveu dar pitaco na liminar do colega para pedir o seu não cumprimento. No fim do dia, prevaleceu a manutenção da prisão do ex-presidente Lula.

Não há a figura do mocinho nesse bangue-bangue entre juízes. Parece evidente a estratégia oportunista dos aliados de Lula de esperar o ex-correligionário e desembargador Rogério Favreto assumir o plantão para obter de sopetão (em um domingo) a liberdade do ex-presidente.

Logo na segunda das dez páginas de seu despacho, Favreto diz que há um “fato novo” ocorrido durante a execução da pena do petista. Qual seria esse fato novo? Na opinião do desembargador, as demandas de veículos de comunicação para entrevistar o ex-presidente, que se diz pré-candidato ao Planalto em outubro.

“É notório que o próprio presidente já se colocou nessa condição de pré-candidatura”, diz o juiz. Pelo entendimento dele, basta então que um preso diga que é “pré-candidato” (figura inexistente na ordem eleitoral) para tentar sair da cadeia.

E a intromissão de Sergio Moro em um caso que não pertence mais a ele? Em despacho, Moro, durante as próprias férias, diz que Favreto é “autoridade incompetente” para decidir sobre Lula. Tem algo de errado no sistema jurídico quando um juiz de primeira instância tenta impedir determinação do andar superior.

Mas esses personagens não bailam sozinhos na folia da Justiça. O exemplo vem de cima, de Brasília, com a bagunça instalada à luz do dia pelas decisões monocráticas e de Turmas do STF sobre assuntos ainda não pacificados pelo plenário do tribunal.

O CNJ, órgão de controle do Judicário, é corporativista. Não age nem incomoda. A categoria mandou para a gaveta o debate sobre o fim do imoral auxílio-moradia pago aos juízes.