leandro colon
Leandro Colon: Como acreditar em Jair Bolsonaro?
Presidente celebra como dele obras de governos petistas e recuou de discursos de campanha
O presidente da República resolveu sair por aí inaugurando obras iniciadas em governos passados. Sem um portfólio para chamar de seu, fatura em cima da iniciativa alheia -no caso, do adversário.
Reportagem da Folha mostrou que Jair Bolsonaro montou um cronograma para celebrar a finalização de projetos iniciados nos governos Lula e Dilma Rousseff.
São ao menos 33 obras na lista de viagens no segundo semestre —25 nasceram nas gestões petistas, apenas duas na de Michel Temer (MDB), e sobraram 6 com origem no atual governo.
Portanto é importante deixar claro ao eleitor alvo dessas andanças eleitoreiras: o presidente apenas montou na garupa para levar essa obra até você.
Assim como tenta dar uma nova roupagem ao Bolsa Família, programa de transferência de renda com DNA petista. O Renda Brasil, que deve virar filhote do auxílio emergencial, carrega diretrizes sociais que Bolsonaro tanto criticou ao longo de sua vida pública.
Veja só a CPMF. Em outubro de 2018, na reta final da campanha, ele bradava "mentira, é mentira" quando questionado sobre a recriação do imposto. Sem pudor, seu governo apresenta uma proposta para o tema. Então, é verdade, sim.
Naquela campanha, Bolsonaro esculachava o que chamava de velha política. "Só há uma maneira de combater a corrupção no Brasil. Elegermos um presidente de forma isenta, que não negocia ministérios."
Hoje, o centrão, PHD em fisiologismo e denúncias de corrupção, entra sem pedir permissão no gabinete presidencial e recepciona Bolsonaro pelo país em viagens pagas com dinheiro público para cortar a faixa de obras petistas.
Bolsonaro prometeu acabar com o instituto da reeleição e é mais candidato do que nunca em 2022. Espumava no discurso contra a corrupção e tornou-se protagonista do escândalo da rachadinha. E ainda propagandeia a cloroquina como (falsa) solução para o coronavírus.
Afinal, como acreditar em Jair Bolsonaro?
Leandro Colon: Ao ameaçar repórter, Bolsonaro prova que fase paz e amor é fake
Bastaram poucos minutos de contato com a imprensa para Bolsonaro ser Bolsonaro
O tal Jair Bolsonaro "paz e amor" das últimas semanas é um grande disfarce. É fake.
Não foram necessários cinco minutos de contato com a imprensa para Bolsonaro ser Bolsonaro.
Questionado sobre os cheques depositados por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle, o presidente ameaçou o repórter Daniel Gullino, do jornal O Globo.
"A vontade é de encher sua boca com porrada", disse o presidente valentão na frente dos profissionais de imprensa, ao lado da Catedral de Brasília.
Bolsonaro já mandou repórteres da Folha "calarem a boca" e prestigiou protestos palco de agressões físicas a profissionais de imprensa.
Mandou uma banana aos jornalistas, numa cena grotesca na porta do Alvorada, e estimulou insultos por parte dos seus apoiadores na residência oficial.
Talvez passe pela cabeça do presidente que, ao ameaçar, agredir e ofender repórteres, a imprensa se intimide e pare de questioná-lo sobre temas graves que o envolvem.
Bolsonaro pode até pagar de brigão e querer encher de porrada a boca de um repórter, mas precisam sair da dele as razões convincentes sobre o dinheiro que caiu na conta da primeira-dama entre 2011 e 2016.
Relembremos. Foram 27 movimentações. Só Queiroz depositou 21 cheques, que somam R$ 72 mil. Sua mulher, Márcia Aguiar, repassou outros R$ 17 mil por meio de cinco cheques.
Até agora, Bolsonaro não deu sua versão sobre as transações do ex-assessor investigado pelo esquema das "rachadinhas" no Rio.
Desde a prisão de Queiroz (hoje em domiciliar), em 18 de junho, o presidente evita contato mais próximo com a imprensa. Foge dela.
Ao mesmo tempo, baixou a temperatura da crise com o STF e o Congresso e adotou uma agenda populista de viagens para promover obras, entre elas a de uma barragem que rompeu no Ceará, expondo ao perigo 2.000 pessoas.
No campo da popularidade, Bolsonaro cresce nas ruas, como mostrou o Datafolha. No da honestidade, faltam explicações.
Leandro Colon: Sem pudor, Bolsonaro só pensa em 2022
Presidente movimenta peças para reeleição enquanto adversários buscam um rumo
A eleição presidencial de 2022 começou, as ruas já flertam com a reeleição de Jair Bolsonaro e alguém precisa contar para a oposição.
A agenda do impeachment, por ora, inexiste no Congresso, não vai prosperar no cenário atual. Tende a ser ineficaz insistir nela.
Não há sinais de que Bolsonaro corre risco até o fim de seu mandato por mais que razões possam ter (e não são poucas) para a abertura de um processo de afastamento.
Uma ação de impeachment precisa, além de ambiente político favorável, de um empurrão de fora que sustente a derrubada.
O Datafolha mostra que Bolsonaro está forte. Atingiu sua melhor avaliação no mandato, com 37% dos brasileiros considerando seu governo ótimo ou bom.
A curva de rejeição caiu de 44% para 34%. Para 47%, ele não tem culpa pelas 100 mil mortes causadas pela Covid-19 no país.
Alavancado pelo auxílio emergencial, que impediu 23,5 milhões de caírem na pobreza, o presidente está todo serelepe.
Semana passada foi para Belém inaugurar obras. Desembarca nesta segunda-feira (17) em Sergipe para cortar a faixa de uma usina termoelétrica. E faz troça com o teto de gastos públicos.
Bolsonaro joga para dentro também. Enlaçou-se com o probo centrão e namora o MDB do neoaliado Michel Temer. Réu por corrupção, o ex-presidente teve de pedir autorização da Justiça para chefiar a comitiva enviada ao Líbano.
Bolsonaro nem se constrangeu em indicar Ricardo Barros para liderar seu governo na Câmara. Deputado pelo PP-PR, Barros tem um prontuário extenso no ramo das investigações.
Com o fracasso na formação da Aliança pelo Brasil, Bolsonaro busca agora um partido para disputar a reeleição. Admite até deixar de lado as agruras com o PSL, a sigla especializada em laranjas que o elegeu presidente em 2018.
O presidente movimenta as peças sem pudor. Quando (e se) seus adversários encontrarem um rumo nos próximos dois anos, pode ser tarde demais.
Leandro Colon: Diante de um Congresso tão omisso, Bolsonaro pode tocar a vida normalmente
Parlamento não reage ao descalabro do governo na pandemia e ao caso Queiroz
O Brasil atinge a desoladora marca de 100 mil mortos pelo Covid-19 ao mesmo tempo em que novos elementos surgem sobre as ligações entre Fabrício Queiroz e Jair Bolsonaro.
Dois temas distintos que dividiram casualmente o noticiário da semana que findou. Eles coincidem em um ponto: o silêncio do presidente da República.
Bolsonaro se cala sobre a montanha de dinheiro que pingou várias vezes na conta de Michelle e tergiversa em relação à responsabilidade na catástrofe do coronavírus.
Não há explicação plausível para os 27 depósitos feitos por Queiroz e sua mulher entre 2011 e 2016. Um total de R$ 89 mil repassados por meio de cheques para a primeira-dama.
Não fica em pé a versão inicial dada pelo presidente de que parte disso, R$ 40 mil, era pagamento de empréstimo que fez a Queiroz. Empréstimo jamais declarado no Imposto de Renda.
A defesa capenga e a falta de esclarecimentos sobre os novos fatos reforçam as suspeitas de que Michelle foi elo do esquema das "rachadinhas" da Assembleia do Rio. É muito grave.
Em um país um pouco mais sério, o Congresso cobraria resposta de Bolsonaro e investigaria o caso. Em um país que tem o centrão dando as cartas, isso não vai acontecer.
Da mesma maneira o Parlamento se omite no comportamento doloso do governo na pandemia.
Ignora a narrativa criminosa do presidente em defesa da hidroxicloroquina e assiste silenciosamente ao naufrágio da gestão militar no Ministério da Saúde.
São 100 mil mortos. Sobram notas oficiais de lideranças e repúdios de opositores em redes sociais, além de outros gestos inúteis que não fazem cócegas no morador do Palácio do Alvorada.
"Vamos tocar a vida", disse Bolsonaro na véspera de o país atingir a marca dos 100 mil.
O presidente não precisa se preocupar muito. Pode continuar omisso e tocando sua própria vida enquanto não houver uma reação decente por parte de quem deveria fazê-lo.
Leandro Colon: O jogo seletivo de Aras
PGR fala em "caixa de segredos" da Lava Jato, mas se cala diante da usurpação da AGU
A reunião do Conselho Superior do Ministério Público Federal na sexta-feira (31) é o símbolo deprimente da crise entre o chefe da PGR, Augusto Aras, e um grupo de procuradores que lhe faz oposição.
Temos visto, rotineiramente, ataques mútuos, egos inflados e desvios da liturgia exigida para a função de procurador da República.
Anti-lavajatistas, dentro e fora do Ministério Público, celebram a disposição de Aras em enfrentar a força-tarefa de Curitiba, liderada há alguns anos por Deltan Dallagnol.
Nos bastidores, cresce a certeza de que Aras deve desmantelar ou ao menos fatiar as atribuições do grupo que comanda a Lava Jato.
Seria demonstração de força do chefe da PGR que pode enfraquecer Deltan e a equipe que conduziram as investigações da maior operação anti-corrupção que o país já viu.
Decerto que razões existem (e sobram) para contestar, apurar e repudiar os atropelos legais e o método policialesco que a Lava Jato adotou em muitos casos até aqui.
Assim como é inegável o serviço prestado por ela ao desmantelar um esquema de corrupção nefasto na Petrobras, colocando na cadeia políticos e figurões empresários que assaltaram os cofres públicos.
A questão aí é qual o jogo real de Aras, devoto da cartilha do presidente da República que o escolheu fora da tradicional lista tríplice da classe.
Aras se indigna com o que chama de "caixa de segredos" da Lava Jato, mas se cala diante da usurpação das atribuições da AGU e do Ministério da Justiça no governo Bolsonaro.
Isolado no MPF, ensaia uma dobradinha com o STF. Aliou-se a Dias Toffoli para ter acesso ao material sigiloso da Lava Jato —isso depois de tentar obtê-lo na marra.
Em recente declaração, Aras disse que, durante seu mandato, não vai permitir que "haja um aparelhamento" do Ministério Público.
Espera-se a mesma disposição do chefe da PGR em investigar no inquérito que ele abriu para apurar o aparelhamento do comando Polícia Federal por parte de Jair Bolsonaro.
Leandro Colon: Baile no Fundeb expõe relação com centrão e fragilidade de Bolsonaro
Não há base governista que solidifique com o método de articulação do Planalto
Jair Bolsonaro finge que não, mas a verdade é que tomou um baile na votação que aprovou o Fundeb na Câmara.
O episódio expôs uma fragilidade justamente na hora em que o presidente tenta distensionar a relação.
Depois de tantos flertes com o centrão, regado a cargos públicos, ele foi atropelado pelo plenário presidido por Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Fracassou a armadilha de querer contrabandear dinheiro do fundo para o Renda Brasil. Tem muito político que gosta de enganar, mas não de ser enganado.
O centrão não ajudou e deixou o Planalto solitário no vexame protagonizado pelos sete minguados bolsonaristas que votaram contra o fundo.
Ato contínuo, Bolsonaro destituiu a super aliada Bia Kicis (PSL-DF) da vice-liderança do governo, como punição - ela foi um dos "rebeldes".
Tudo teatro para bolsonarista ver. No sábado (25), o presidente visitou a parlamentar em sua casa em Brasília em um gesto de prestígio.
O modelo "paz e amor", com acenos ao Congresso, pode ser bonito para fora, mas no plenário o jogo é completamente diferente.
Deputados e senadores, fisiológicos ou não, gostam de bajulação e de saber quais são claramente os movimentos do governo.
No caso do Fundeb, houve uma tentativa sorrateira do Planalto de mexer no dinheiro sem nunca ter sentado para negociá-lo. Não há base governista que solidifique com o método.
Bolsonaro percebeu que nem centrão engole esse tipo de coisa e ainda quis faturar a aprovação de algo que tentou fazer diferente até os 45 do segundo tempo.
A reforma tributária é agora sua nova agenda prioritária. Fatiá-la, como fez Paulo Guedes ao entregar a primeira parte, é uma estratégia para aprovar logo um pedaço do bolo.
Há uma boa vontade dos congressistas em avançar até de forma mais ampla. E há espaço para o governo ser bem sucedido. Só não pode aplicar uma rasteira de última hora.
Leandro Colon: Desembargador infrator de Santos é retrato de uma classe de intocáveis
Eduardo Siqueira é tão servidor público quanto o guarda municipal que cumpriu sua missão ao multá-lo
O desembargador Eduardo Siqueira, do Tribunal de Justiça de São Paulo, não foi o primeiro nem será o último magistrado que se sente diferenciado, com permissão para ignorar regras impostas aos cidadãos.
Siqueira deu carteirada e humilhou um guarda municipal de Santos, que o multou por estar infringindo o decreto local sobre o uso obrigatório de máscaras para combater o coronavírus.
O juiz é só mais um entre 360 (!) desembargadores do TJ-SP. É tão servidor público quanto o guarda que cumpriu sua missão ao multá-lo.
O episódio de Santos reforça a imagem de que o Judiciário brasileiro atua como uma classe de intocáveis.
É um Poder que não vê, por exemplo, problema algum no fato de filhos enriquecerem advogando no mesmo tribunal onde o pai ou a mãe julga, como ocorre no STJ e em outros tribunais superiores.
Enquanto o país paga um preço salgado pela pandemia, com cortes de jornadas e salários, o Judiciário nega-se a dar da própria carne. O STF pressiona o Congresso a preservar sua remuneração e evitar redução de vencimentos dos funcionários.
A farra é grande. O Judiciário pagou uma remuneração mensal acima de R$ 100 mil a 8.226 juízes ao menos uma vez entre 2017 e abril deste ano - num país em que o teto do serviço público é de R$ 39,3 mil. No período, foram feitos 565 pagamentos acima de R$ 200 mil a 507 juízes. A magistratura é brasileira, só parece viver na Escandinávia.
Como mostrou a Folha recentemente, o TJ-SP tem usado, de forma oculta, verba reservada a situações urgentes para manter a regalia de seus desembargadores, entre eles o infrator municipal Eduardo Siqueira.
Há despesas com queijo maasdam holandês, salame da mais alta qualidade e várias outras extravagâncias gastronômicas em pleno período de contigenciamento em meio a pandemia.
No caso do chilique do desembargador Siqueira, abriu-se uma apuração no CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Mas é tudo um teatro, pouco se espera dali. Punir juiz que desonra a toga nunca foi uma virtude do colegiado.
Leandro Colon: Vaivém em gabinete de Bolsonaro indica uma sujeira muito maior
Guinada de tom do presidente após prisão de Queiroz não deve ser apenas por causa de Flávio
Desde a prisão de Fabrício Queiroz, Jair Bolsonaro baixou a guarda, moderou sua verborragia, e, num sinal de inflexão, buscou reduzir a tensão com os demais Poderes.
Segundo as investigações do Ministério Público do Rio, Queiroz era o homem chave do esquema das "rachadinhas" do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia.
Descobriu-se um cheque de R$ 24 mil de Queiroz à primeira-dama, Michelle. Bolsonaro, em sua defesa, diz que o dinheiro é parte de um empréstimo de R$ 40 mil que fez ao ex-assessor do filho.
O presidente nunca explicou direito essa tal dívida nem as razões que levaram Michelle a receber o cheque.
Queiroz conhece Bolsonaro desde 1984. O PM aposentado seria muito mais ligado a ele do que ao filho Flávio.
A história mal contada sobre o cheque abre brechas para interpretação de que o presidente também se beneficiou das rachadinhas, prática nefasta de desvio de parte dos salários dos gabinetes.
Um trabalho de reportagem exaustivo publicado pela Folha neste domingo (6) indica que essa maracutaia com verba pública passou de pai para filho.
Os repórteres Ranier Bragon e Camila Mattoso analisaram nos últimos meses os boletins de movimentação de 28 anos do gabinete de Bolsonaro nos tempos de deputado.
Eles descobriram ao menos 350 trocas em um vaivém frenético e desarrazoado.
Do dia para a noite, salários de servidores eram dobrados e quadruplicados. Em seguida, reduzidos a menos da metade.
Um dos personagens é filha de Queiroz. O recorde de movimentações, com 26 vaivéns, é de Walderice Santos da Conceição, a Wal do Açaí, funcionária fantasma que veio à tona pela Folha na campanha de 2018.
A guinada de tom dada por Bolsonaro após a prisão de Queiroz é um movimento político de proteção ao filho.
E as informações reveladas sobre seu gabinete na Câmara um indicativo de que a sujeira pode ser muito maior.
Leandro Colon: O governo Bolsonaro esfarela
Vendo o precipício se aproximando, o presidente se segura no centrão
O governo de Jair Bolsonaro acelera cada vez mais o passo para um esgotamento político irreversível. Fica a questão sobre até quando o país suportará essa sangria.
Sem ministros efetivos na Educação e na Saúde, o governo é negligente e omisso no combate a uma pandemia que já matou 50 mil e atingiu 1 milhão de pessoas em três meses.
O presidente foi encurralado pelo escândalo do ex-assessor do filho, o agora senador investigado no esquema de desvio de salário de assessores nos tempos de Assembleia no Rio.
Empresários e políticos aliados do Planalto são personagens principais dos inquéritos no STF que apuram atos antidemocráticos e disseminação de notícias falsas, as fake news.
Acuado, o governo lança mão de subterfúgios diplomáticos para facilitar a saída do país de um ministro demissionário para os Estados Unidos.
O presidente é alvo de investigação no Supremo pelas acusações de interferências no comando da Polícia Federal para atender a interesses pessoais e familiares.
Nem a economia salva. Afinal, por onde anda o natimorto Pró-Brasil, anunciado com pompa na escandalosa reunião de 22 de abril? Assim como não sabia onde estava Queiroz, Bolsonaro também não deve ter ideia do destino do programa.
Vendo o precipício se aproximando, o presidente se pendura no centrão. O mesmo centrão que fingiu prometer apoiar Dilma Roussef na véspera da votação que abriu seu processo de afastamento em 2016.
Bolsonaro emite escassos sinais de fôlego e tem exibido um semblante abatido, como ocorreu na quinta-feira (18) no vídeo da demissão de Abraham Weintraub e na live semanal.
Enfim, o Brasil vai aguentar mais dois anos e meio de um governo esfarelado?
As ações de cassação de chapa que correm no TSE são lentas e dependem de novos fatos, sobretudo do caso das fake news no STF. Outro processo impeachment certamente seria doloroso e desgastante para o país, mas Bolsonaro parece buscá-lo diariamente.
Leandro Colon: No alto do pódio
Três gestos recentes confirmam que a Covid-19 não é um problema urgente para Bolsonaro
Cairá em desilusão quem tem um pontinha de esperança de que o governo de Jair Bolsonaro tomará enfim as rédeas do combate à pandemia do Covid-19. O Palácio do Planalto tem outras prioridades.
Ao mesmo tempo estados e municípios afrouxam as regras de quarentena, estimulando bizarras filas em shoppings e aglomerações em comércios e praias. A receita para o desastre está posta, com danos irreversíveis. Sem qualquer justificativa plausível, abandona-se uma política (já precária) de isolamento social.
Os alunos são liberados para o recreio sem que a lição de casa tenha sido feita por todos da escola —a começar por quem manda nela.
E o que faz o presidente da República, a principal autoridade política? Estimula, com transmissão em rede social, a população a invadir hospitais para verificar a ocupação de leitos.
A fatura do caos já chegou: os números de mortos disparam e o Brasil escala com rapidez no ranking dos piores índices do planeta.
Três gestos recentes confirmam que a Covid-19 não é um problema urgente para o presidente Bolsonaro, embora seja um problema dele.
O primeiro foi a medida provisória que permitia ao ministro Abraham Weintraub (Educação) nomear reitores durante a pandemia.
Humilhado pelo Congresso, que devolveu a MP, o governo baixou a cabeça e revogou a proposta.
O presidente ainda anunciou a recriação do então finado Ministério das Comunicações, sem justificativa de relevância para tanto, e entregou a pasta a um deputado do PSD, legenda do sedento centrão.
Na sexta (12), Jair Bolsonaro divulgou uma nota patética e atrevida afirmando que as Forças Armadas não aceitam tomada de poder por “julgamentos políticos”.
Naquele mesmo dia, o país ultrapassou o Reino Unido, tornando-se, com mais de 41 mil óbitos, o segundo com mais mortes por Covid no mundo.
Estamos, por ora, distantes dos EUA, o primeiro colocado, mas o governo nada fará para impedir a conquista do ponto mais alto do pódio.
Leandro Colon: Eficiência, gestão e respeito
Os três pontos foram elencados no plano de governo de Bolsonaro para Saúde e Educação
No plano de governo entregue à Justiça Eleitoral em 2018, o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro elencou três prioridades: segurança, saúde e educação.
Na Segurança, adotou uma retórica armamentista e entrou numa crise política grave ao perder o ministro que escolheu para comandar a área. Com a saída de Sergio Moro, Bolsonaro agora retoma a ideia de separar a Segurança da Justiça para agradar os amigos da bancada da bala como se essa fosse a solução.
Diz o plano de governo da campanha em sua primeira frase ao citar saúde e educação: “eficiência, gestão e respeito com a vida das pessoas”.
Não precisa muito esforço para concluir que nenhum dos três pontos está sendo cumprido. Eficiência, gestão e respeito com as vidas não existem na Saúde e na Educação.
A primeira hoje está nas mãos de um general cuja principal credencial é entender de logística —além de ser um ótimo paraquedista, talvez a virtude mais necessária para assumir esse ministério.
As sandices do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o desempenho pífio da pasta que comanda resumem o fracasso de Bolsonaro em cumprir o que prometeu.
Na Saúde, Eduardo Pazuello foi efetivado ministro interino em mais um exemplo de que a lógica não faz qualquer sentido neste governo.
Desde semana passada, o general tem a companhia do empresário bilionário Carlos Wizard Martins.
Nem havia sido nomeado e espalhou que aceitara convite para ser secretário de ciência e tecnologia. Já dava diretrizes como tal.
Um dos seus negócios é o Pizza Hut: “E o que eu entendo de fazer pizza? O que eu entendo é a minha posição como gestor, de avaliar, projetar, contratar profissionais qualificados. É muito mais importante você ter noção de gestão, ter metas”.
O gestor de pizza foi quem afirmou, sem constrangimento, que uma de suas metas era mudar os critérios de contagem de mortos na pandemia. Na noite de domingo (7), desistiu do cargo que nunca ocupou.
Leandro Colon: Bolsonaro busca o impasse com o STF
Presidente busca desqualificar Supremo porque sabe que tribunal pode ser a origem de sua derrocada
Agrava-se a pandemia do coronavírus e Jair Bolsonaro não está preocupado. Agrava-se a crise política e o presidente da República não se comporta como quem deseja o seu distensionamento.
Ele não se constrange em andar a cavalo na Esplanada e passear de helicóptero às custas do dinheiro público para forjar cenas de apoio popular.
Os lampejos de diálogo que sinaliza num dia esvaem-se em seguida quando prestigia um protesto antidemocrático. Mais uma vez, Bolsonaro foi o protagonista de um ato anti-STF na Praça dos Três Poderes.
A única preocupação do presidente hoje é estimular o impasse com o Supremo porque sabe que o tribunal pode ser a origem de sua derrocada.
Parece sem lógica, mas nada é melhor, na tática bolsonarista, do que desqualificar a corte no meio do jogo.
Um inquérito avança sobre a interferência do presidente, evidenciada pelos elementos notórios, em peças de comando da Polícia Federal.
Outro fecha o cerco no "gabinete do ódio" instalado no Planalto, sob a tutela de Carlos Bolsonaro, o 02. O TSE surge no xadrez como possibilidade de cassação da chapa eleitoral.
O compartilhamento do inquérito das fake news com a corte eleitoral pode municiar ações sobre o financiamento da vitória de Bolsonaro.
Um processo de impeachment ficaria pendurado na temperatura do Congresso. Para se proteger, Bolsonaro abriu o balcão de negócios com os políticos fisiológicos do centrão.
Sem compromisso com o país, esse grupo de partidos abraçou e traiu Dilma Rousseff. Bolsonaro não tem muita alternativa porque o Judiciário não dará trégua a ele.
Cresce um movimento de procuradores incomodados com o alinhamento de Augusto Aras ao Planalto.
O chefe da PGR vai ser pressionado internamente a não engavetar o volume de complicações do governo.
A sociedade se mobiliza com abaixo-assinados e outras manifestações.
Também contra o governo vê-se até o milagre (provavelmente bem efêmero) de torcidas organizadas de futebol rivais lado a lado.