jovens
Vinicius Torres Freire: A geração dos jovens que não verão país nenhum
Na vida adulta, geração que chega aos 30 só viu país empobrecer e se barbarizar
As projeções de crescimento da economia para o ano que vem começam a cair para a casa do 1%. É apenas chute vagamente informado, mas essa bola deve cair mesmo no pântano em que vivemos faz tempo. Em 2022, bicentenário da Independência, serão nove anos de pobreza piorada. Ainda estaremos colonizados pelos nossos piores monstros.
Imagine-se uma brasileira que teve a boa sorte de terminar a faculdade no último ano antes da catástrofe, em 2013, nos seus 21 anos. “Boa sorte” porque apenas 1 de cada 4 jovens de 18 a 24 anos está no ensino superior ou concluiu este curso. Há quem tenha largado a escola muito antes e terá vida pior. No ano que vem, essa brasileira fará 30 anos. Terá passado a primeira parte de sua vida adulta em um país em destruição. É apenas um símbolo de uma catástrofe duradoura, uma de várias gerações perdidas.
No ano que vem, o país ainda será mais pobre do que era em 2013: a renda (PIB) per capita deve ser ainda 7,5% menor. Pelas estimativas atuais, voltaremos a 2013 apenas em 2027. Mas chute econômico não é destino. Assistir bestificado à presente destruição vai nos garantir futuro tenebroso.
Mal ou bem, países do centro do mundo planejam a reconstrução depois da epidemia. São grandes projetos de economia verde e pesquisa científica e tecnológica, como biotecnologia e inteligência artificial.
Qual o lugar do Brasil nesse futuro? Uma zona de catástrofe ambiental e sanitária, talvez por isso objeto de sanções econômicas e políticas.
Nossos produtos industriais logo serão ainda mais obsoletos em termos tecnológicos e ambientais. Talvez não queiram também nossos grãos, ferro e petróleo, por prevenção ambiental ou porque a China passou a plantar soja na África ou porque o país é infecto ou avilta o trabalhador. Com o troco que nos sobrar, compraremos produtos “verdes” ou máquinas inteligentes reais e virtuais etc. inventados com pesquisa subsidiada no mundo rico.
O plano Bolsonaro é o avesso podre dos planos de reconstrução: é devastação ambiental e da Educação, sob mando de um adepto do espancamento de crianças. São tempos de dr. Jairinho e dr. Jairzinho.
Desmontam-se agências e a participação democrática nos conselhos de Estado, avilta-se ou se assedia o corpo técnico de servidores, perseguem-se professores, acelera-se a destruição da pesquisa científica. Capangas oficiais e paramilitares, milícias, talvez colaborem para a implantação de um autoritarismo temperado por farisaísmo, fundamentalismo religioso, patriotada militaresca e ignorância lunática.
Nos acostumamos aos quase nove anos de catástrofe econômica assim como nos acostumamos agora aos 3 mil mortos por dia ou aos crimes de responsabilidade semanais de Jair Bolsonaro. Resta força apenas para combater o regresso autoritário. O Brasil se acostumou a não ter futuro.
É pior do que nos anos perdidos para o horror social e a inflação dos 1980/90. Então se tentava reconstruir um país: Constituição, estabilidade econômica, alguns direitos sociais.
Ainda assim, nossos desastres vêm de longe, pelo menos desde a recessão que começou em 1981, desatino final da ditadura militar. Desde então até 2019, o PIB per capita do Brasil cresceu 36%. O dos países já ricos (OCDE), 85%. O do mundo, 75%. É o aspecto econômico de um fracasso longo e maior. A diferença agora é que morreu ou está para morrer, sem UTI, a ideia de sucesso ou de progresso.
“Não Verás País Nenhum”, dizia o título do romance presciente de Ignácio de Loyola Brandão (aliás de 1981). Tratava de um Brasil em que a Amazônia se tornou um deserto, em que São Paulo fede a cadáveres e em que militecnos comandam um governo autoritário.
Vinicius Torres Freire: Boulos e como jovens e velhos decidem as eleições de São Paulo
Eleitor de mais de 60 é cada vez mais relevante e vota à direita; jovens são inconstantes
Em São Paulo, a disputa principal foi sempre entre esquerda e direita desde que a cidade voltou a eleger seu prefeito, em 1988. O voto dos mais velhos é sempre marcadamente mais direitista. Mas em poucas vezes a maioria dos mais jovens votou na esquerda; em poucas vezes o voto dos idosos teve um peso tão decisivo quanto deve ter no segundo turno deste ano, entre Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL).
É entre os eleitores de 60 anos ou mais que Covas abre sua maior vantagem sobre Boulos, consideradas as categorias maiores e mais tradicionais em que as pesquisas dividem o eleitorado (sexo, idade, renda, instrução) e com dados comparáveis com os levantamentos mais antigos.
Na pesquisa Datafolha mais recente, de 24 e 25 de novembro, Boulos vence Covas entre os eleitores de 16 até 44 anos; entre o eleitorado de 16 até 59 anos, empatam. Entre aqueles de 60 anos ou mais, o tucano vence de longe, por 61% a 28% (ou 68% a 32%, nos votos válidos).
Além da diferença percentual grande, a diferença absoluta é importante. A população paulistana envelhece. No Censo de 1991, os paulistanos com 60 anos ou mais eram 11,6% do total da população com mais de 16 anos (agora apta a votar). Em 2010, eram 15,3%. Em 2019, eram 21,7%.
Há, claro, outras maneiras de entender as vantagens que Covas tinha sobre Boulos no início da semana. O tucano vence entre os que fizeram até o ensino fundamental (57% a 31% nos votos totais) e entre os mais pobres. Na conta total dos votos, porém, essas diferenças são inferiores àquela que Covas obtém entre os “idosos”.
A esquerda ganhou a eleição paulistana com folga ou endureceu o jogo quando ao menos dividiu com a direita os votos de mais pobres e menos escolarizados, é fácil de entender. Boulos disputa palmo a palmo o povo de renda mais baixa. Mas fica longe entre quem passou poucos anos na escola. Os mais jovens de qualquer classe não vão resolver o problema eleitoral do psolista, pois.
De 1988 até 2000, petistas enfrentaram os malufistas. De 2004 a 2016, foi o tempo de petistas vs. tucanos e agregados. Agora, é PSDB contra PSOL.
Houve tempo em que os malufistas venceram em todas as categorias relevantes, entre os mais jovens e os mais pobres inclusive, como quando Celso Pitta (PPB) bateu Luiza Erundina (PT), em 1996, ou na pesquisa de uma hipotética disputa final entre João Doria (PSDB) e Fernando Haddad (PT), em 2016, quando Doria levou no primeiro turno.
Os mais jovens estavam divididos quase igualmente entre o vitorioso Paulo Maluf (PDS) e Eduardo Suplicy (PT) em 1992, entre o vencedor, José Serra (PSDB), e Marta Suplicy (PT), em 2004, e entre o eleito Gilberto Kassab (DEM) e Marta, em 2008.
Os jovens votaram na esquerda mesmo apenas quando Marta ganhou em 2000 e Haddad em 2012. Na verdade, nessas eleições os petistas ganharam em quase todas as categorias, exceto entre os “idosos” (e, em Haddad vs. Serra, exceto entre os mais ricos).
Na eleição em que Erundina bateu Maluf, em 1988, as pesquisas de véspera davam quase empate entre os mais jovens. Mas não se sabe bem o que se passou. Erundina, agora vice de Boulos, virou a eleição nos últimos dias e não havia segundo turno.
Em suma, o peso crescente do “idosos” e sua preferência regular e marcada de votar à direita fazem desse eleitorado força decisiva especial. Note-se ainda que não conseguir falar com muitos dos eleitores que passaram menos anos na escola e sempre confundi-los com os mais pobres é outro problema para a esquerda.
Marco Aurélio Nogueira: A nova política dos jovens
Pautas identitárias e desejo de renovação põem a juventude paulistana em campanha
Vera Magalhaes acertou em cheio em sua coluna de hoje, no Estadão, quando constata que há um “degrau geracional” separando as candidaturas que disputam a Prefeitura de São Paulo.
É um problema geral, embora se manifeste de forma particular em cada parte do País. Está latejando forte na capital paulistana.
Guilherme Boulos, do PSOL, é o candidato dos jovens entre 16 e 34 anos, que formam uma massa numericamente expressiva e têm lhe dado impulso para ameaçar sobrepujar o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), na reta final.
Uma boa campanha no segundo turno explica parte da situação, mas não explica tudo. O decisivo é que Boulos está conseguindo falar com os jovens, que são sempre dispostos a contestar e buscar coisas novas, além de não gostarem de obedecer. Têm sido eles o motor de sua ascensão. Boulos não entrou nas periferias pobres da cidade, mas está bombando entre os jovens de todos os extratos de renda.
É compreensível que a campanha de Covas não empolgue a moçada mais jovem. O atual prefeito não é midiático, não se atirou nas redes, sua propaganda é fria, ele age como um executivo e, para complicar, é suscetível a muitas “lacrações”: sofre o desgaste de quem está no cargo, é ligado a Dória, o terrível, pertence a um partido considerado “velho”, tem um vice visto como problemático pelo reacionarismo. Até sua doença, um câncer em fase de remissão, é vista como fator de rejeição.
Covas vai bem entre os extratos de maior idade, mais “leais” e chegados à moderação. E seus votos estão distribuídos em todos os distritos da cidade. Mas, se os velhinhos decidirem não votar por receio da Covid, por exemplo, o prefeito poderá perder a eleição.
Os jovens querem movimento, dinamismo, novidade. Estão cansados da mesma lengalenga tucana onipresente em São Paulo. E não se preocupam muito em ligar a eleição paulistana ao futuro do País, ou seja, às urnas de 2022. Não se perguntam, por exemplo, se a vitória de um ou outro candidato ajudará em maior ou menor medida a luta contra o bolsonarismo mais adiante. São majoritariamente contrários às baixarias e ao regressismo de Bolsonaro, não ligam muito para esquerda vs. direita, aderiram para valer às pautas ditas “identitárias”, não só as de gênero e etnia, mas também as ambientais, as da sustentabilidade, da cidade com menos automóveis, da coleta seletiva do lixo, do consumo consciente. Tais pautas são o modo como agem no mundo.
É uma linguagem que não tem sido praticada pelos políticos. E que Boulos soube capturar, ao menos em parte.
Há que considerar que os jovens de hoje não são militantes como foram os seus pais. Não querem saber de comandos partidários, ordens unidas, chefes e agendas rígidas. Engajam-se de modo tópico, seletivo, espasmódico. Não sacrificam a vida pessoal em nome de uma causa coletiva ou da glória de uma organização. Não se referenciam por líderes ou ideologias. São multifocais, abraçam várias causas simultaneamente. Seu ambiente são as redes sociais, sua maior ferramenta é a conectividade.
Numa época de crise da política e da democracia, a exigência de militância, de causas a serem defendidas, permanece. Os engajamentos estão mais próximos da “política-vida” do que da “política-poder”. É uma época com mais “coração” do que “cabeça” politica. As sociedades estão fragmentadas e individualizadas. Há um desencanto com as instituições.
Sem centros claros de coordenação, as partes (grupos, indivíduos, regiões) se afastam umas das outras e seguem lógicas próprias, ainda que, paradoxalmente, tudo fique mais conectado.
Em particular os jovens (mas muitos não tão jovens também) são social e culturalmente hiperativos, movem-se pela necessidade de se autoexpressarem e não são ligados a lutas por poder em sentido estrito. Olham torto para os políticos que só se preocupam em gerir recursos de poder e maximizar interesses eleitorais, que são rotineiros, previsíveis. Gosta-se mais daquilo que não se conhece.
Pouco importa que os mecanismos concebidos para a deliberação (um mutirão, um orçamento participativo, consultas populares) produzam resultados precários O importante é que sirvam para extravasar indignação, carências, desejos, opiniões.
O problema – sempre há um problema – é que o ativismo jovem pode não ser suficiente para que se consiga estabelecer equilíbrios e consensos que articulem um sistema alternativo. A nova “zona de ação política”, por ser pouco organizada e mais individualizada, estar marcada pela movimentação contínua, por pressões antissistêmicas erráticas, produz uma politicidade de outro tipo, cujo teor e formato institucional ainda estão por ser estabelecidos.
Não há, porém, muralhas intransponíveis separando velhas e novas formas de ativismo, que se cruzam e podem se combinar de diferentes maneiras, beneficiando-se reciprocamente. Se suas agendas contém distintas ênfases e questões, também estão repletas de temas que somente podem ser enfrentados com sucesso se se interpenetrarem e forem articulados em uma plataforma de síntese politica.
O novo ativismo pode ser uma importante alavanca de construção do futuro. Será isso, no entanto, na medida em que souber se articular com o “velho ativismo” e considerar o conjunto da experiência social e convergir para a reforma democrática da sociedade, do Estado e da politica. Se tentar evoluir solitariamente, fechado em suas causas específicas e na busca de autoexpressão, produzirá ruído e efervescência, mas perderá em termos de efetividade.
A necessidade dessa articulação está posta pela vida. Afinal, o social que se fragmenta não desaparece como social. A dimensão coletiva da existência não se dissolve só porque a individualização se expande. Ainda continua a ser fundamental combinar ações e promover convergências.
Vera Magalhães: Mas sua filha vota
Degrau geracional no voto em SP mostra urgência de falar com eleitor jovem
Apenas dois anos separam os jovens Bruno Covas (40 anos) e Guilherme Boulos (38). Mas as estratégias definidas pelas duas campanhas à Prefeitura de São Paulo levaram a que se estabelecesse um “degrau geracional” no voto de ambos que pode projetar cenários importantes para a política nacional, além das fronteiras da capital paulista.
Em 16 de novembro, dia seguinte ao primeiro turno, o ex-jogador de futebol e comentarista esportivo Walter Casagrande postou a mesma pergunta a Boulos e Covas: ele, dependente químico em recuperação, queria saber a política de ambos para as drogas. Boulos levou menos de duas horas para responder. Covas levou dez. No último fim de semana, Boulos fez uma live com o youtuber Felipe Neto, que tem 40 milhões de seguidores no YouTube, para jogar AmongUs, um jogo eletrônico que é febre entre jovens, acompanhado das filhas. Até a noite de ontem o vídeo tinha 3,1 milhões de visualizações.
Pesquisa Datafolha divulgada na madrugada desta terça-feira explicita a diferença geracional que se estabeleceu no voto do paulistano. A idade é “O” fator de decisão de voto em Boulos, mais que renda, como poderia supor o militante de esquerda. O prefeito vence em todos os extratos sociais, mesmo entre os eleitores que recebem até 2 salários mínimos.
Quando se analisa a faixa etária do eleitor, a coisa muda drasticamente de figura. Boulos dá uma lavada em Covas na faixa entre 16 e 24 anos, vence com folga no grupo imediatamente mais velho, até 34 anos, e quase chega lá entre os eleitores entre 35 e 44 anos.
E é aí que mora o maior risco para a reeleição de Covas, ao qual seus aliados estão atentos: o eleitorado mais velho é também o mais suscetível a não comparecer para votar, num ano marcado por um recorde de abstenções. O risco de contaminação pelo novo coronavírus no momento em que os casos voltaram a subir de forma preocupante pode impactar ainda mais o segundo turno que o primeiro.
Covas praticamente não tem engajamento nas redes sociais. Preferiu fazer uma campanha “old school”, com grande tempo de TV e muito profissional. Deu certo: ele passou tranquilo pelo primeiro turno e lidera com margem de 10 pontos a poucos dias do pleito. Mas ignorar as redes sociais e a personalidade que o eleitor jovem adquiriu nessa campanha pode ser um erro para políticos que queiram alçar voos futuros, e é nesse ponto que a campanha de Boulos serve como case nacional.
A distopia bolsonarista parece ter atingido o eleitor jovem mais que qualquer outro. A forma desrespeitosa e ameaçadora com que o presidente trata mulheres, negros e LGBTQIA+ e questões como a preservação ambiental causa urticária natural em um eleitorado para o qual diversidade, representatividade e sustentabilidade não são pautas “identitárias”, mas sim o modo pelo qual enxergam o mundo.
Falar com esse eleitor nada tem a ver com “lacrar" na internet ou se eleger à custa de memes e fake news, como fez Bolsonaro em 2018. Significa acordar para a necessidade de se comunicar de forma sincera, orgânica e eficiente com um público que vai, nas eleições vindouras, decidir qual o perfil do político para enfrentar Bolsonaro e também para ocupar cadeiras no Congresso.
A “virada” pregada por Boulos parece difícil, pelo voto consolidado de Covas nos segmentos e nos bairros da cidade, além da máquina mais poderosa a seu dispor e da avaliação consistente que tem como prefeito num ano em que as escolhas também se pautaram pela experiência dos gestores. Mas fica o aprendizado de que a disputa civilizada, sem gravata e dentro das balizas da política travada na cidade pode ser laboratório para conquistar corações e mentes de um eleitor ainda não viciado em polarização raivosa.
Simon Schwartzman: Dançando por Biden
Na eleição americana, o dado mais esperançoso é a grande rejeição de Trump pelos jovens
Vendo as imagens do povo dançando nas praças, festejando a derrota de Donald Trump, mais do que a vitória de Joe Biden, é inevitável comparar com 12 anos atrás, quando da eleição de Barack Obama. Tal como agora, Obama derrotou um presidente medíocre e inescrupuloso, que jogou o país numa guerra insensata no Iraque e deixou a economia afundar. Havia a sensação de que algo realmente novo e importante estava acontecendo nos Estados Unidos, com impacto em todo o mundo. Obama era negro, mas foi eleito com a bandeira de uma sociedade pós-racial. Era um intelectual com fortes valores humanistas, que projetava uma política internacional de respeito e consideração para diferentes culturas. No ano seguinte ganhou o Prêmio Nobel da Paz, não pelo que já tinha feito, mas pelo que prometia. Sua eleição parecia indicar que os Estados Unidos, finalmente, haviam rompido as barreira do racismo, do isolacionismo e do descaso com as políticas sociais.
Oito anos depois, sem ter conseguido fazer tudo o que prometia, era normal que Obama não conseguisse fazer seu sucessor. Mas a eleição de Trump não foi uma simples alternância de poder, mas uma indicação de que a nova era anunciada pela eleição de Obama era, em grande parte, uma ilusão, e que coisas piores estavam por vir. Ao tomar de assalto o Partido Republicano, Trump capitalizou uma forte corrente de preconceitos raciais, anti-intelectuais e de xenofobia que pareciam ter sido postos à margem da sociedade americana e subitamente mostraram suas garras. Com ele, a mentira sistemática das fake news, a prevalência descarada dos interesses comerciais privados sobre o interesse público, o desmonte das instituições governamentais e sua ocupação por bajuladores, o racismo, a xenofobia e todos os preconceitos que antes não se manifestavam se tornaram “normais”. O passo seguinte, inevitável, era o ataque às instituições mais centrais do sistema democrático, culminando, agora, com o próprio sistema eleitoral.
A vitória de Biden mostra que nem tudo está perdido, mas deixa um gosto amargo, porque a “onda azul” foi menor do que se esperava e Biden provavelmente terá ainda menos condições de cumprir o que promete do que Obama, tanto pela oposição sistemática que receberá como por um contexto internacional menos favorável, com a ascensão inevitável da China. A democracia americana sobreviverá, mas longe do vigor que a era de Obama parecia prenunciar. A História americana recente é semelhante à de muitos outros países, incluído o Brasil, de surgimento de lideranças radicais que conseguem forte apoio popular e partem para o assalto às instituições democráticas, e da dificuldade dos partidos moderados de prevalecerem. O que explica a força desses movimentos antidemocráticos e a fragilidade das democracias?
A pergunta, na verdade, deve ser posta ao contrário, porque a democracia é uma flor frágil, e é quase um milagre que tenha sobrevivido em tantos lugares até aqui. Em livro recente, O Ocaso da Democracia, a jornalista americana Anne Applebaum, casada com Radosław Sikorski, também jornalista e político de destaque dos governos democráticos da Polônia, conta a história da conversão à extrema direita de muitos de seus amigos e colegas que, como os dois, haviam se engajado na oposição ao stalinismo e na esperança de uma nova era democrática para a Europa e os Estados Unidos, e viram em seu lugar surgir os regimes de Jarosław Kaczynski na Polônia, Viktor Orbán na Hungria e Donald Trump nos Estados Unidos. Cada história é diferente, combinando em diversas doses oportunismo, ambição e impaciência com a lentidão dos regimes democráticos em produzir os resultados esperados. Mas existem problemas mais gerais. A ideia de que a democracia, combinada com a valorização do mérito e da economia aberta e competitiva, é a melhor forma de governo perde força quando ela se torna disfuncional, com muitas pessoas se sentindo excluídas de seus benefícios. E a democracia não consegue dar respostas aos anseios das pessoas por identidade pessoal, comunitária ou nacional. Ao se opor ao surgimento da extrema direita, a oposição liberal, nos Estados Unidos e outras partes, ao invés de tentar reconstruir o consenso nacional ao redor dos valores democráticos e do interesse comum, muitas vezes dá prioridade às políticas de identidade de grupos minoritários e setores marginalizados e discriminados, reduzindo ainda mais o espaço para a democracia consensual.
A democracia, para sobreviver, precisa de lideranças capazes de interpretar o interesse geral, de instituições capazes de resistir aos assaltos dos tiranos de plantão, e de uma população capaz de entender que a política é mais do que a expressão de suas ansiedades e frustrações. Na eleição americana, o dado mais esperançoso é a grande rejeição de Trump pelos eleitores mais jovens.
Anne Applebaum também termina seu livro falando de uma nova geração que busca novos caminhos, além das políticas exauridas da democracia complacente e da extrema direita enlouquecida. O futuro é incerto, mas há esperança.
*Sociólogo, é membro da Academia Brasileira de Ciências
‘Partidos políticos estão muito oligarquizados’, afirma historiador Alberto Aggio
Professor da Unesp, que também é diretor da FAP, destacou importância da ‘cultura política’
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
“Os partidos políticos estão muito oligarquizados. É preciso democratizar os partidos. As estruturas e instituições públicas precisam de uma renovação, já que estão dominadas pelo corporativismo e privilégios”, avalia o historiador e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Alberto Aggio. Ele abordou o assunto ao explicar progressismo e liberalismo, conforme mostra série de divulgação de vídeos da retrospectiva do IV Encontro de Jovens Lideranças, realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em janeiro.
No oitavo vídeo da série da retrospectiva, Aggio, que também é diretor da FAP, aparece no debate ao lado do cientista político e cofundador do Movimento Agora, Leandro Machado, e do sociólogo e também diretor da FAP, Caetano Araújo, que mediou a discussão. Ao abordar o assunto, o historiador citou diversos pensadores liberais e liberais progressistas.
» Confira o vídeo abaixo ou clique aqui!
https://www.youtube.com/watch?v=AmtxhP0SZx4&t=449s
De acordo com Aggio, defensor da esquerda democrática, redemocratizar a democracia vai abrir espaço para os movimentos mais recentes que ocorreram em vários lugares do mundo, como Madri (Espanha), Nova Iorque (Estados Unidos), Paris (França) e São Paulo (Brasil).
Aggio explicou que uma das linhas do liberalismo busca visão mais progressista da política e uma visão mais democrática da democracia. “Autores liberais são expressões do mal-estar e do descontentamento contra o engessamento da democracia e o neoliberalismo. Nos EUA, por exemplo, a corrente chama-se libertarismo.
O palestrante também destacou a importância de os participantes do evento terem cultura política. “Cultura política dá sustentação a quem faz política. Se não tiver cultura política, pode até ter voto, mas nós aqui estamos olhando o horizonte, não estamos olhando a esquina. Esse curso da FAP serve para olhar o horizonte”, afirmou.
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No IV Encontro de Jovens Lideranças, cientista político destacou diferença entre extremismo e polarização
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
O cientista político e cofundador do Movimento Agora, Leandro Machado, afirmou que o mundo vive uma nova Era. “Acredito que não é só uma mudança de Era, mas uma Era de profundas mudanças”, disse. De acordo com ele, “as bases das democracias liberais estão sendo corroídas, senão absolutamente solapadas”.
A palestra do cientista político pode ser conferida no sétimo vídeo da retrospectiva do IV Encontro de Jovens Lideranças, realizado, pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Corumbá de Goiás, de 15 a 18 de janeiro de 2020. “Quando está no olho do furacão, a gente tem dificuldade de entender o que está acontecendo, o que as revoluções estão fazendo com nossas vidas, da forma como a gente se relaciona e o jeito que a gente entende a democracia montada no século XIX, quando não tinha nem telefone ainda”, disse.
» Confira abaixo o vídeo da palestra ou clique aqui!
https://www.youtube.com/watch?v=i3IyyvMoKBs
As novas dinâmicas da sociedade, segunda Machado, têm “profundo impacto na política” e exigem de todos comportamentos e atitudes para entender a democracia hoje. “Todos os partidos são de outra época e estão sofrendo muito nesse momento”, afirmou. “A gente está vendo extremismo de todos os lados, o que é diferente da polarização. A polarização é saudável, já que é de ideias. Extremismo está ganhando espaço, extremismo dos dois lados”, enfatizou, em outro trecho.
Segundo Machado, os partidos políticos também tem de se readequar para sobreviverem diante das revoluções. “O Fórum Econômico Mundial fala da quarta revolução industrial, revolução tecnológica, revolução da robótica. São vários nomes para as multirevoluções que estão acontecendo ao mesmo tempo”, observou, durante sua palestra no IV Encontro de Jovens Lideranças.
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Em show realizado durante IV Encontro de Jovens Lideranças, atriz mostrou performance intimista
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
“Eu me sinto plena aqui contando com vocês. A arte é sempre uma resistência”, disse a ousada cantora, compositora e atriz Linna Karo, durante o seu show a um público bastante seleto do IV Encontro de Jovens Lideranças, realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Brasília. Na série de vídeos sobre a retrospectiva do evento, ganham destaque as lembranças da apresentação artística intimista, marcada por teatralidade e que instiga o público a pensar o tempo todo.
O sexto vídeo da retrospectiva do IV Encontro de Jovens Lideranças mostra a desenvoltura de Linna Karo durante a sua apresentação, marcada por músicas paulistas e realizada em um palco no meio da área verde de uma pousada na cidade. “Para mim, é muito gostoso estar aqui ao ar livre”, disse ela, durante o show.
» Confira abaixo o vídeo da palestra ou clique aqui!
https://www.youtube.com/watch?v=e6NLzIb4o3I
Linna Karo é formada em Artes Cênicas na ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo). Ela tem se destacado na cena autoral da capital paulista, usando sua imagem e voz potentes. Tudo para oferecer ao público a sua melhor performance como atriz e cantora. Seu canal de YouTube inclui vídeos ao vivo e clipes personalizados.
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Em retrospectiva, FAP divulga aula de sociólogo durante IV Encontro de Jovens Lideranças
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
O sociólogo e professor da UnB (Universidade de Brasília) Elimar Nascimento diz que “a nova exclusão social ameaça a democracia porque tende a estigmatizar determinados grupos que ficam ameaçados”. Em palestra ministrada no dia 16 de janeiro para participantes do IV Encontro de Jovens Lideranças, realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), ele disse que a nova exclusão social é, basicamente, a construção de grupos vistos pelas elites econômica, política e social com três características. “São desnecessários economicamente, socialmente perigosos e politicamente incômodos porque não sabem votar”, explicou.
» Confira abaixo o vídeo da palestra ou clique aqui!
https://www.youtube.com/watch?v=353oTmazGzc
De acordo com o professor, o perigo da nova exclusão social é que, já que são vistos como desnecessários economicamente, esses grupos não têm importância se morrem ou vivem. “Nem escravo é visto assim porque ele precisa ficar vivo para continuar sendo explorado”, ressaltou ele. O evento foi realizado em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Brasília, de 15 a 18 de janeiro.
Nascimento também abordou a crise ecológica no Brasil. “Dos nove indicadores da saúde ambiental, estamos derrotados em oito, conforme artigos internacionais”, afirma. “No país, está aumentando gases de efeito estufa, a perda da biodiversidade, a pesca degradante”, acentua.
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Historiador e professor Marcus Vinicius Oliveira coordenou a discussão em evento realizado pela FAP
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Os riscos à democracia geram bastante preocupação e debate em meio ao acirramento e polarização de ideias na sociedade. Governos de extrema direita, como é o caso do presidente Jair Bolsonaro no Brasil, demonstram cada vez mais posturas contrárias aos ideais democráticos e republicanos e alimentam polêmicas para inflar os ânimos de seus seguidores, conforme analisam cientistas políticos.
Como de costume, a discussão é polarizada. Os pontos apresentados por cada um dos lados envolvidos nessa batalha ideológica são intermináveis e usados como argumento para defenderem o que pensam. Muitas vezes, até a dignidade humana é colocada em xeque. Mas até que ponto a democracia existe no Brasil? É possível e preciso democratizar a democracia? Em que medida a democracia resulta na consciência e prática de direitos e deveres por parte dos cidadãos?
Esses e outros assuntos foram abordados em discussão coordenada pelo historiador e professor Marcus Vinicius Oliveira, durante o IV Encontro de Jovens Lideranças, realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Brasília. No total, 75 jovens dos 26 Estados e do Distrito Federal participaram do evento.
» Confira abaixo o vídeo da palestra de abertura ou clique aqui!
https://youtu.be/k7-Wci6OhLc
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Apresentação do grupo Slam-DéF foi realizada durante IV Encontro de Jovens Lideranças
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Gritos contra machismo, feminicídio, lgbtfobia, racismo e outras formas de preconceito e exclusão social reforçaram o tom de protesto na batalha de poesias durante o encerramento do primeiro dia do IV Encontro de Jovens Lideranças, realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Brasília. Os participantes do evento aplaudiram muito os artistas do grupo SlaM-DéF, que ocuparam o salão principal do evento para provocar a reflexão sobre os crescentes casos de violência e criminalidade contra as minorias.
Nesta divulgação do terceiro vídeo da série sobre a memória do IV Encontro de Jovens Lideranças, o público poderá assistir ao espetáculo da batalha de poesias e conferir cada detalhe da competição. No espaço em que as palavras e jargões próprios da periferia ganham ainda mais vida, a boca, o corpo e toda encenação dos artistas servem para ecoar a luta por um mundo menos desigual e menos injusto.
» Confira abaixo o vídeo da palestra de abertura ou clique aqui!
https://www.youtube.com/watch?v=EZK1IPmADvA
O SlaM-DéF tem perfis nas redes sociais e surgiu de uma conversa entre o professor de português Will e Roberta Estrela D'alva, idealizadora do Zap-Slam (Zona Autônoma da Palavra), realizado em SP, em 2015. A primeira edição do SlaM-DéF ocorreu em 2015, no Raízes Bar, em Samambaia Sul. A filosofia do SlaM-DéF é criar um espaço acolhedor, independentemente de classe social, gênero, cor, raça e etnia.
“O que queremos é ouvir poesias, criar novos laços e ouvir aqueles que precisam ser escutados”, diz um trecho de apresentação do grupo em sua página no Facebook. O grupo trem parceria com Biblioteca Salomão Malina, no Conic, onde toda segunda quinta-feira de cada mês é realizada uma batalha de poesias.
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» ‘Participação dos jovens melhora o debate’, afirma Benjamin Sicsu
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'Participação dos jovens melhora o debate', afirma Benjamin Sicsu
Presidente do Conselho da Fundação Amazônia Sustentável sugeriu criação de grupo de discussão sobre meio ambiente
“A participação dos jovens é muito boa. Quanto maior a participação, melhor o debate”, disse o engenheiro civil e presidente do conselho da Fundação Amazônia Sustentável, Benjamin Sicsu, após ministrar palestra sobre inovação e sustentabilidade, no IV Encontro de Jovens Loderanças. O evento de formação política foi realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Brasília, de 15 a 18 de janeiro.
Nesta segunda divulgação de vídeos sobre a memória do IV Encontro de Jovens Lideranças, a FAP volta a mostrar os relatos de Sicsu sobre e Amazônia e a importância da floresta para todo o país e o mundo. Diante de 75 jovens de 26 Estados e do Distrito Federal, ele explicou ações importantes para valorizar a sustentabilidade do planeta. Todas as palestras e debates o evento foram divulgados ao vivo no site da entidade.
» Confira abaixo o vídeo da palestra de abertura ou clique aqui!
https://youtu.be/Gz26MaampmA
Sicsu sugeriu que a FAP crie um grupo de discussão online para aprofundar outras questões relacionadas ao meio ambiente, como saneamento básico. Na avaliação dele, a sociedade precisa se atentar ainda mais para as questões relacionadas aos biomas.
Durante a palestra, muitos jovens fizeram perguntas e comentários sobre experiências de suas cidades relacionadas ao tema. Eles ressaltaram a importância de a juventude olhar para temas imprescindíveis à vida humana e estabelecer uma pauta mais forte em defesa do meio ambiente.
Além de jovens participantes, o IV Encontro de Jovens Lideranças também recebeu um time de profissionais e especialistas que discutiram outros temas relevantes, atuais e de interesse público, fundamentados nos ideais republicanos e democráticos.
A abertura oficial do evento foi realizada pelo diretor-geral da FAP, jornalista Luiz Carlos Azedo, que conclamou os jovens a terem comprometimento com as atividades do encontro, a fim de saírem dele com o maior aprendizado possível para compartilharem em suas cidades. Ele também destacou que o objetivo do evento não é fazer “doutrinarismo”.
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