Jornalismo
Bolsonaro está perturbado por seus próprios demônios, afirma Marco Aurélio Nogueira
Em artigo de sua autoria publicado na nova edição da revista Política Democrática online, professor analisa perfil do presidente
Falta de iniciativa e unidade na oposição faz com que Jair Bolsonaro seja perturbado somente por seus próprios demônios e pelo fogo que arde a seu redor. A declaração é do professor titular de Teoria Política da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Marco Aurélio Nogueira, em artigo de sua autoria publicado na nova edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania, em Brasília.
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Para Nogueira, o governo não sabe que país é esse que o elegeu para governar “A Presidência da República tornou-se um deserto de ideias. A paralisia e a mediocridade devoram suas entranhas”, diz, em um trecho.
Em outro trecho, o professor diz que o primeiro mandatário não está à altura do cargo que ocupa, nem sequer se mostra à vontade nele, assusta-se com a própria sombra e acumula inimigos por onde passa. “Não planta nem colhe nada de positivo, só atua para defender os próprios interesses restritos, seus e dos filhos”, afirma.
Na economia, conforme avalia Nogueira, a gestão de Paulo Guedes avança porque foi assimilada por Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, que não só garantiu a progressão da Reforma Previdenciária, mas mantém ambiente favorável ao reformismo econômico que se deseja institucionalizar. “Mesmo assim, a economia patina e a sensação é de que não se sabe bem o que fazer para dar respostas efetivas aos problemas que afligem a sociedade. Algum desdobramento desse quadro deverá surgir nas eleições do ano que vem, com um possível aumento da frustração do eleitor”, analisa.
Integram o conselho editorial da revista Alberto Aggio, Caetano Araújo, Francisco Almeida, Luiz Sérgio Henriques e Maria Alice Resende de Carvalho. A direção da revista é de André Amado e a edição, de Paulo Jacinto.
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'Cultura deveria funcionar dentro do Ministério da Educação’, diz Caio de Carvalho
Diretor executivo do Canal Arte 1 do Grupo Bandeirantes de Comunicação concedeu entrevista exclusiva à nova edição da revista Política Democrática online
“Penso que a cultura não deveria estar em um ministério à parte. Deveria funcionar dentro do Ministério da Educação, para que se pudesse fazer um trabalho de base, junto às escolas, à garotada, isto é, de forma que a gente pudesse ter um processo realmente na base da pirâmide”. A afirmação é do diretor executivo do Canal Arte 1 do Grupo Bandeirantes de Comunicação, Caio de Carvalho, em entrevista à 12ª edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Brasília.
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Com acesso gratuito pelo site da FAP, a revista traz em sua nova edição a entrevista exclusiva com doutor em comunicação social e advogado formado pela USP (Universidade de São Paulo). Ele acredita que, se fosse feito um trabalho de base, seria possível influenciar, em um país com imensos problemas educacionais e culturais, a TV aberta a usar sua força para ajudar a educar e levar cultura a todos os brasileiros, e não medir com réguas de pesquisas programação centrada em alegria, entretenimento, como se o povo preferisse o banal.
“Um escritor conservador, como Mario Vargas Llosa, já questionou tudo isso que está acontecendo na televisão de nossos dias”, comentou ele, durante a entrevista concedida ao diretor da FAP Caetano Araújo, com colaboração de Vladimir Carvalho e Martin Cézar Feijó. Segundo ele, o Arte1 surgiu, justamente, por causa de legislação, que dispõe a obrigatoriedade de reservar três horas por dia para produção nacional.
“É uma missão do canal. Nessas três horas, temos de apresentar, no mínimo, de 22 a 23 horas por semana de produção nacional, que é fruto de produção independente e de produção própria nossa”, afirma. “Quanto à produção estrangeira, minha equipe, integrada por jovens muito competentes, circula por feiras e amostras no exterior, em busca de materiais novos que valham a pena. A tarefa se facilita porque nossos parceiros internacionais sabem já o que nós queremos”, conta.
Carvalho, que também é professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), considera-se um cinéfilo. “Daí ter trazido para o Arte1 os filmes chamados clássicos, para não mencionar produções próprias, como a entrevista que fizemos com Ettore Scola, uma obra prima, um mês de sua morte. Outro dia eu peguei o Giancarlo Gianinni – que nem sabia que ele quase veio trabalhar no Brasil aqui, antes de ser cineasta – para falar de toda a história de seus filmes”.
Ele também foi ministro de Estado de Esportes e Turismo. Foi presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), do Conselho Executivo da Organização Mundial de Turismo (OMT) e da São Paulo Turismo S/A. É membro dos Conselhos da Japan House, do Museu de Arte Moderna e do Museu da Língua Portuguesa.
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Promessa de Bolsonaro movimenta garimpos em Serra Pelada, destaca nova edição da Política Democrática
Região vive à míngua do ouro, ao contrário do que viveu há 40 anos, quando passou a ser conhecida como o maior garimpo a céu aberto do mundo
A promessa do presidente Jair Bolsonaro reacende uma nova onda em busca do ouro em Serra Pelada, no Sudeste do Pará, conforme revela a primeira reportagem da série Sonho Dourado: 40 anos depois, publicada em destaque na 12ª edição da revista Política Democrática online. A publicação foi lançada, nesta sexta-feira (25), e também leva ao público artigos do presidente do Cidadania, Roberto Freire, e do ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal), Eros Grau. A revista é produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania e que a disponibiliza ao público gratuitamente em seu site.
A equipe de reportagem viajou a Serra Pelada para mostrar o tortuoso caminho em busca do ouro, mostrando que Bolsonaro repete uma promessa de legalização dos garimpos nos mesmos moldes da que foi feita, em 12 de novembro de 1980, pelo então presidente João Batista Figueiredo, em viagem à região. Além disso, a reportagem também mostra detalhes de uma guerra silenciosa entre garimpeiros e de uma batalha aberta por todos eles contra a mineradora Vale. Há 40 anos, teve início a corrida do ouro em Serra Pelada, que foi considerado o maior garimpo a céu aberto do mundo.
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No editorial, a revista analisa que, após a sua posse de Bolsonaro, difundiu-se a esperança de uma iminente mudança radical no discurso dele e de seus colaboradores mais próximos. “Os motes da campanha teriam sido úteis para obter a vitória”, diz um trecho, para continuar: “Ganha a eleição, não persistiriam razões para manter a racionalidade longe das palavras do Presidente. Os fatos, contudo, mostraram rapidamente a irrelevância dessas formulações, reveladoras apenas dos desejos de seus autores”.
A nova edição da Política Democrática também tem uma entrevista exclusiva com o diretor executivo do Canal Arte 1, do Grupo Bandeirantes de Comunicação. Ele diz que “a cultura não deveria estar em um ministério à parte”. “Deveria funcionar dentro do Ministério da Educação, para que se pudesse fazer um trabalho de base, junto às escolas, à garotada, isto é, de forma que pudesse ter um processo realmente na base da pirâmide”, afirma.
Em artigo de sua autoria, Eros Grau relembra a amizade e um pouco da história de Armênio Guedes, o irmão mais velho, como ele o chamava. “Lá se foi o corpo de Armênio. A esperança refletida no fundo de seus olhos serenos resta entre nós. Iluminando os caminhos a serem experimentados pelos amigos que ainda cá estão. Um dia por certo nos reencontraremos na cidade de férias, férias boas que não acabam mais”, conta, em um trecho.
Já Roberto Freire destaca que o Cidadania quer ser protagonista de uma nova jornada, com um horizonte para se transformar em importante referência de centro-esquerda e contribuir de forma positiva para a democracia brasileira e o desenvolvimento do país. “Além das dimensões políticas e programáticas, o Cidadania tem por vocação a criação de uma nova formação política, longe dos modelos centralizados e verticalizados, totalizantes”, diz o presidente do partido.
A edição também tem outros artigos sobre política, além de abordar cultura e análises de filmes, como Bacurau. Integram o conselho editorial da revista Alberto Aggio, Caetano Araújo, Francisco Almeida, Luiz Sérgio Henriques e Maria Alice Resende de Carvalho.
Política Democrática online faz raio-x da pobreza na maior favela do Brasil
Sol Nascente tem área equivalente a 1.320 campos de futebol do tamanho do que existe no estádio Mané Garrincha
Cleomar Almeida
A reportagem especial da sétima edição da revista Política Democrática online faz um raio-x da maior favela do Brasil. Sol Nascente está localizada na cidade-satélite de Ceilândia, a 35 quilômetros do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. Vive uma explosão populacional sem precedentes na história, de acordo com estimativas da administração local.
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A revista é produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania. Sem infraestrutura básica para a população, Sol Nascente abriga 250.000 pessoas, segundo dados da administração de Ceilândia, a maior cidade-satélite de Brasília. Os moradores são castigados pela falta de serviços de segurança, educação e saúde públicas, por exemplo, conforme relata a reportagem.
Apesar de já ser a mais populosa do DF, a comunidade é a que mais recebe novos moradores de outras regiões do país. Em 2010, abrigava 56.483 pessoas e, naquele ano, só tinha menos habitantes que a Rocinha, no Rio de Janeiro, onde moravam 69.161 pessoas, de acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que deve realizar novo levantamento no próximo ano.
Devido à sua localização em um morro, segundo a reportagem, a favela carioca passou a ter dificuldade para novas explosões populacionais, após registrar surtos de crescimento nas décadas de 1970 e 1980 e no início dos anos 2000. Sol Nascente, que completou 19 anos no dia 11 de maio, tem uma área plana de 943 mil hectares, o equivalente a 1.320 campos de futebol do tamanho do que existe no Estádio Mané Garrincha. Ceilândia, onde fica a favela, terá 448.000 habitantes em 2020, aponta projeção da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) com base em dados do IBGE.
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Demonização da esquerda já se aproxima de uma escalada muito perigosa, avalia Davi Emerich
Em artigo na Revista Política Democrática Online, jornalista alerta para a escalada contra a esquerda no Brasil de Bolsonaro, que já chega a limites perigosos
O governo Jair Bolsonaro, cuja legitimidade é inquestionável, apresenta-se com três núcleos programáticos bastante distintos, que não necessariamente mantém relações diretas entre si: o da economia e de suas reformas, as questões de segurança e de combate à corrupção e, terceiro, o chamado de valores. A avaliação, feita pelo jornalista Davi Emerich é tema de artigo publica na sexta edição da Revista Política Democrática Online.
» Confira a aqui a Revista Política Democrática – Edição 06
Para Emerich, que também é mestre em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (UnB), neses primeiros meses de gestão fica cada vez mais claro que o presidente deixou nas mãos de Paulo de Guedes e Sérgio Mouro a tocata dos dois primeiros, sem interferir em demasia no processo e chegando a trazer alguns problemas ao Ministério da Economia como ocorreu quando problematizou a reforma da Previdência.
"O projeto de valores não, o presidente resolveu assumi-lo diretamente, erigindo-o em coluna dorsal da administração para manter a sua base original mobilizada, na expectativa de que uma certa direita possa hegemonizar no tempo a política, o estado, a inteligência e a cultura nacionais", avalia Emerich.
Dessa forma, "a escalada da demonização da esquerda, parece que feita de forma criteriosa, precisa ser bem entendida por todas as forças democráticas nacionais e, também, pelos militares", acredita Emerich. "Omissão, confronto estéril ou oposicionismo reto não são um bom caminho. É hora da unidade de todo o campo democrático para que não tenhamos desastres políticos e sociais mais à frente", conclui.
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Paula Cesarino Costa: 'A Folha precisa continuar inquieta', diz diretora de Redação do jornal
Maria Cristina Frias defende jornalismo crítico e tem como meta maior igualdade de gênero e diversificação de conteúdo
Há seis meses na Direção de Redação da Folha, a jornalista Maria Cristina Frias defende que o jornal continue inquieto e em renovação constante, mas sem abrir mão dos valores que o consagraram: jornalismo crítico a todos os poderes instituídos, independente, plural e apartidário.
Mostrou-se serena diante das turbulências políticas atuais. Disse que, em época de polarização, é tentador para alguns tomar partido, mas vê como seu papel a busca do equilíbrio jornalístico.
Após anos de experiência na TV, passou a trabalhar exclusivamente na Folha há cerca de 20 anos.
Assumiu a direção do jornal em momento doloroso, sucedendo o irmão Otavio Frias Filho, morto em 21 de agosto de 2018. Coube a ele próprio indicá-la para o cargo, com orientações específicas para os próximos anos, como ela conta nesta entrevista.
Maria Cristina Frias é a primeira mulher a assumir a Direção de Redação de um grande jornal do país e impôs-se como meta uma maior equidade entre homens e mulheres e uma diversificação dos profissionais e do conteúdo do jornal, com uma mudança de cultura em procedimentos, pautas e pessoas que são entrevistadas.
Define-se como uma leitora voraz, que tem “cabeça de repórter”. Desde que assumiu pedi uma entrevista, concedida agora, para que o leitor pudesse conhecer seus desafios e planos para a Folha.
A sra. assumiu o cargo de diretora de Redação faz seis meses. Já é possível fazer uma avaliação desse período?
Foi um período muito difícil e intenso. A presença e o talento de Otavio Frias Filho, um irmão maravilhoso e amigo, nos fazem muita falta. Ao jornal e a mim, que tive o privilégio de trabalhar ao lado dele diariamente. Foi do próprio Otavio a decisão de que eu assumisse o seu cargo, ratificada em assembleia dos sócios. Atencioso, ele me passou algumas orientações para os próximos anos.
Logo vieram os ataques do então candidato Jair Bolsonaro à imprensa, especialmente contra a Folha.
Publicamos, entre outras reportagens, um texto de Patrícia Campos Mello que revelou a compra ilegal que empresários estavam fazendo de disparos de WhatsApp contra o PT. Teve repercussão inclusive internacional.
Eleito, Bolsonaro disse que, “por si só, a Folha se acabou”. Vimos, então, surgir uma campanha espontânea por assinaturas da Folha, pela democracia, em defesa do jornal.
Não importam as turbulências, minha principal meta é manter o legado do Otavio e continuar a fazer o jornalismo que ele nos ensinou: crítico a todos os poderes instituídos, independente, plural e apartidário.
Em época de muita polarização, ânimos acirrados e de pouco apreço à democracia em parcela da população, é tentador para alguns tomar partido, mas é minha responsabilidade cuidar da observação desses princípios e do equilíbrio entre pontos de vista diferentes nas páginas do jornal.
Não somos um jornal de oposição, mas seremos críticos como fomos com todos os governos desde a redemocratização. A Folha continua a ser a Folha de sempre. E, para ser a Folha, ela precisa continuar inquieta e se renovando a todo momento. O jornal de amanhã precisa ser sempre melhor do que o de hoje.
A sra. é a primeira mulher a ocupar o posto máximo na Folha em 98 anos de existência do jornal. Qual a relevância do aspecto de gênero em sua ascensão?
Até quando ainda vamos valorizar ser a primeira mulher a fazer isso ou aquilo, me pergunto. Infelizmente, porém, há muitas posições às quais as mulheres ainda não ascenderam, como era o caso do cargo de direção de Redação na Folha —um jejum que o jornal quebrou, à frente de seus dois principais concorrentes.
Ser mulher ajuda nessa busca de equilíbrio de opiniões e fontes diversas nas nossas páginas, na elaboração de pautas que interessem a um público mais amplo. Assim como os principais jornais do mundo, a Folha se preocupa em entender como ampliar o leitorado feminino.
Quanto mais diversificada for a nossa Redação, quanto mais vasta for a gama de experiências do nosso reportariado, melhor será a nossa cobertura e maior o público que atingiremos. Nossa Redação tem cerca de 40% de mulheres, em linha com a presença feminina em jornais americanos e ingleses, mas queremos um equilíbrio maior, inclusive entre colunistas.
Fizemos na quinta-feira (7) uma reunião aberta na Redação para discutir o tema e iniciativas nesse sentido. Pretendo que esse fórum se torne periódico porque é desejável uma mudança de cultura em procedimentos, as pautas que destacamos, as pessoas que ouvimos e assim por diante.
O mesmo vale para a presença na Redação de negros, descendentes de asiáticos, pessoas que cursaram o ensino médio em escolas públicas… O nosso próximo programa de trainees, que teve 3.000 inscritos, vai oferecer bolsas com ajuda de custo.
O atual presidente da República e grande parte do seu entorno pessoal e político têm uma atitude hostil e por vezes virulenta contra a imprensa e, em especial, contra a Folha. Qual a influência dessas circunstâncias na prática do jornalismo da Folha?
De certa forma, todo governo é um pouco hostil à Folha pela atitude crítica e independente. Em diferentes graus, colocam-se na defensiva e, quando podem, usam o poder para atacar. Tivemos a invasão do jornal na gestão Collor, e creio que estejamos habituados a uma certa animosidade.
O governo Bolsonaro tem demonstrado uma especial dificuldade em entender o papel do jornal, que é o de iluminar os debates dos problemas coletivos, com informações bem apuradas e embasadas, monitorar o que fazem os políticos, além de se comprometer em defender a democracia e fatores que levem ao desenvolvimento do país.
Ao tratar a imprensa com menosprezo e agressividade, tenta minar esse esforço e estimula em seus seguidores o desrespeito e a violência contra jornalistas, o que é abominável e perigoso —além de inútil, porque continuaremos a fazer o nosso trabalho com perseverança e inquietude.
As Redações no mundo todo têm passado por processo contínuo de redução de pessoal e de corte de investimentos. Ao mesmo tempo, a competição acirrou-se com as novas mídias. Como analisa esse processo e quais os desafios que se impõem a médio e longo prazo?
Difícil pensar em prazos mais distantes para quem, como nós, tem um trabalho que se esgota a cada edição e a cada dia recomeça do zero.
Os tempos são duros, a economia não se recuperou, mas há exemplos bem-sucedidos. O peso das assinaturas no modelo de negócio é cada vez maior. E nós também nos valemos de novas mídias, oferecemos uma cobertura multimídia. Temos tido ótimo resultado em podcasts, por exemplo.
Do ponto de vista pessoal, como se define como leitora?
Sou uma leitora voraz de notícias. Adoro ler o impresso; quando viajo, sou uma compradora compulsiva de exemplares, e leio no celular e no site com a maior frequência possível ao longo do dia e à noite. E não é só por dever de ofício, é por prazer mesmo, apesar do aborrecimento com eventuais erros.
Tenho cabeça de repórter, vibro com nossos furos, admiro a concorrência quando faz as pautas que não nos ocorreram e penso no que podemos fazer melhor, uma lição do sr. Frias (Octavio Frias de Oliveira, fundador da Folha moderna), outra fonte de inspiração.
A sra. acumula a função de diretora com a de titular da coluna diária Mercado Aberto. Como se divide entre uma e outra?
Gosto muito de fazer a coluna, mas considerei a princípio que as duas tarefas seriam inconciliáveis. Com o tempo, além da reação positiva de colegas e fontes de que seria importante continuar a escrever, eu me senti estimulada a prosseguir.
Assim como diretores de hospitais que seguem na prática como médicos, percebi que a presença na Redação ajuda no trabalho da direção: é o que me permite manter o contato com os colegas, observar de perto suas necessidades, os fluxos, como as coisas estão funcionando, ou não, permanecer atualizada na prática do nosso ofício.
Acabei tendo de me dedicar bem menos à coluna nos meses iniciais no cargo de diretora, o que foi possível graças à equipe talentosa e dedicada de Mercado Aberto, mas vou equilibrar melhor os dois papéis.
*Paula Cesarino Costa é jornalista, foi secretária de Redação e diretora da Sucursal do Rio. É ombudsman da Folha desde abril de 2016.
Míriam Leitão: Boechat, inquieto e contundente
Ricardo Boechat era um amigo leal, a quem ficarei eternamente devendo inúmeros favores e palavras de apoio nos momentos em que mais precisei. Mas ontem foi dia de segurar o choro para dar a dimensão da perda para o jornalismo. É imensa. O jornalismo está de luto vivendo sua própria perda, neste ano das muitas dores brasileiras. Há momentos em que a notícia está dentro da gente, e está na manchete, ao mesmo tempo. Boechat talvez discordasse da decisão de fazer uma coluna sobre um jornalista e repetiria a velha frase “jornalista não é notícia”. A maneira que ele exerceu a profissão e o momento em que nos deixa tornam impossível ignorar as muitas reflexões que a sua morte suscita.
Boechat era ele mesmo. Era único. Seu jeito de trabalhar era inovador, sincero, corajoso, versátil e transformador. Ele foi da coluna do jornal para a televisão, para o rádio, para os tempos multimídia e da interatividade com a mesma naturalidade. Boechat nasceu comunicador, portanto, em cada veículo novo no qual ele passava a trabalhar, não apenas se adaptava instantaneamente, como inovava na maneira de tratar a informação.
Um revolucionário na comunicação, que buscava a relação cada vez mais direta, mais sincera, mais rápida com o seu leitor, ouvinte, telespectador, internauta. Essa interatividade extrema é uma das lições que deixa. Entre os jornalistas, ele tinha uma legião de fãs e amigos em todas as faixas etárias, por isso, nas pesquisas sobre jornalistas mais admirados, feitas entre a categoria pelo “Jornalistas & Cia”, ele foi várias vezes o primeiro.
Boechat fará uma falta imensa neste tempo de polarização política e social do país, porque ele procurava sempre, em cada análise, a palavra justa. Mesmo que fosse uma palavra forte, mesmo que parecesse duramente franca. Conseguia ser assim uma espécie de radical do equilíbrio. E, com este estilo único, ele iria, certamente, ao longo dos próximos e difíceis anos que temos pela frente, usar toda a sua sinceridade e lucidez, todo o seu talento, para fazer críticas a qualquer um dos lados das brigas políticas brasileiras.
Fará falta ao país, o Boechat. Fará uma enorme falta ao jornalismo. Mas, principalmente, sentirão saudade os que o amavam tanto. E somos uma legião, os que tiveram de Boechat, no momento em que precisaram, apoio, uma palavra, um carinho, uma ajuda. Cada amigo está agora lembrando o momento em que Boecht esteve ao seu lado.
Eu posso contar uma das várias vezes em que conheci sua generosidade. Em 1991, eu estava desempregada, após uma demissão injusta e dolorosa, e ele me ligou oferecendo ajuda. Mais do que isso, ele disse que já estava em campo atrás de emprego para mim. “E não é porque você é minha amiga Mirianzinha, é porque será bom para o jornal que te contratar”. Ou seja, levantou também minha autoestima. Foi aos chefes da redação do GLOBO e defendeu a minha contratação. No último telefonema que me deu, no fim do ano passado, foi para me fortalecer após um episódio de ódio na internet. Era o dia em que ele comandaria o debate dos presidenciáveis na Band, mas ele teve tempo de dizer palavras lindas que guardarei comigo. Ficarão essas palavras junto a lembranças dos vários favores que ficarei eternamente devendo ao querido Ricardo Boechat.
O testemunho que muitos amigos deram ontem ajudam a montar o retrato inteiro de Boechat. Mas e o legado do jornalista? Esta foi a pergunta mais repetida ontem e mais difícil de responder, porque ainda estamos tentando entender a notícia. O jornalismo de Boechat era inquieto na forma e no conteúdo. Ele não se acostumava, seu trabalho nunca era burocrático. Os colegas da Band contam que no desastre de Brumadinho ele foi para a redação em pleno fim de semana para ajudar a apuração.
Boechat era bom repórter, bom apurador. Ele baseava suas opiniões tantas vezes contundentes em fatos que ia buscar com as mais diversas fontes, fosse a autoridade poderosa, fosse a pessoa anônima. O jornalismo profissional, inquieto, incansável, que não se intimida, que se emociona com as dores que atingem as pessoas, que critica, que cobra providências, que se adapta às mudanças tecnológicas constantes da profissão. Esse era o jornalismo de Ricardo Boechat e que nunca foi tão necessário ao país.
FAP lança revista Política Democrática digital
Totalmente on-line e com design responsivo, publicação tem acesso gratuito e traz análises, entrevista e reportagens especiais
Em celebração aos 30 anos da democracia e a quatro dias do segundo turno das eleições no Brasil, a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) lança, nesta quarta-feira (24), a revista Política Democrática em formato totalmente on-line e com design responsivo. A publicação contempla análises de renomados articulistas, entrevista exclusiva e reportagens especiais, as quais poderão ser acessadas, de graça, pelos internautas.
Nesta edição de lançamento do formato digital, Política Democrática destaca o drama de imigrantes oriundos da Venezuela que peregrinam no maior êxodo da história da América Latina e conta, em vídeos, fotografias e textos, histórias de quem atravessou a fronteira com o Brasil, em busca de sobrevivência. Repórteres da FAP viajaram a Caracas para mostrar, ainda, os reflexos do colapso político e socioeconômico que assola o país presidido por Nicolás Maduro.
Além disso, a revista também reservou, assim como para outras análises, um espaço para entrevista com a economista Monica de Bolle, única mulher latino-americana a integrar a equipe do Peterson Institute for International Economics, nos Estados Unidos e diretora do Programa de Estudos Latino Americanos da Johns Hopkins University, em Washington, D.C. Na avaliação dela, a agenda fiscal deverá ser prioridade do novo presidente.
Objetividade
Com o propósito de entregar conteúdo de altíssima qualidade para o público em seu novo formato, a revista reuniu um time de profissionais capazes de fazer análises do contexto brasileiro, de forma mais objetiva possível, especialmente das eleições de 2018. “O critério de seleção foi a alta capacidade profissional e interpretativa dos jornalistas e acadêmicos que assinaram as matérias, convicção que, estamos certos, justificará plenamente o título de Política Democrática”, diz o diretor da revista, André Amado.
Em relação às análises, André avalia que a publicação mostra opiniões baseadas em reflexões acadêmicas ou em experiências pessoais, que, por isso, segundo ele, “ganham legitimidade além do marco habitual e distorcido dos maniqueísmos ideológicos”. “Seu lançamento, entre os dois turnos das eleições, incorpora apreciação dos resultados da primeira volta e afina as perspectivas para a reta de chegada das candidaturas, apesar do clima visceral com que se vêm desenrolando as campanhas de um e de outro”, afirma o diretor, referindo-se aos candidatos do PT, Fernando Haddad, e do PSL, Jair Bolsonaro, à Presidência da República.
» Para acessar a revista, clique na imagem acima ou no link abaixo:
http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/2018/10/24/revista-politica-democratica-online/
Relevância e agilidade
O período eleitoral, de acordo com o editor da revista, Paulo Jacinto Almeida, faz com que a revista sirva como palco de debates sobre os projetos propostos para o país. “É de extrema relevância neste momento em que estamos escolhendo o próximo presidente da República”, destaca ele. “É a continuidade de um projeto existente desde o início do século, que vem debatendo política, democracia, esquerda e cultura na conjuntura brasileira e se torna fundamental ao auxiliar o internauta com informações e análises sobre este momento decisivo em nossa história”, acrescenta.
O editor ressalta que a publicação digital poderá ser acessada em qualquer plataforma, como celular, tablet ou desktop, e a qualquer momento. Segundo ele, a nova revista poderá otimizar um fator cada vez mais importante na sociedade do conhecimento: o tempo. “Ele (internauta) ganha agilidade e praticidade para se manter informado e acessar análises de temas cruciais para o nosso país”, diz Paulo.
A seguir, confira a relação de conteúdos da revista e seus respectivos autores:
*Lições do primeiro turno (Caetano Araújo)
*O que esperar de Jair Bolsonaro (Creomar Lima Carvalho de Souza)
*O que esperar de Fernando Haddad (Creomar Lima Carvalho de Souza)
*A verdade do oráculo digital (Sergio Denicoli)
*Quadrinhos (JCaesar)
*Reportagem de capa: Um país à beira do abismo (Cleomar Almeida e Germano Martiniano)
*Um olhar crítico sobre a democracia (João Batista de Andrade)
*Por quem os sinos dobram (Alberto Aggio)
*Ameaças à democracia (Elimar Pinheiro do Nascimento)
*Entrevista com Monica de Bolle: Agenda fiscal terá de ser prioridade do próximo presidente (André Amado, Caetano Araújo, Creomar de Souza e Priscila Mendes)
*Fernando Gasparian e a morte do nacional-desenvolvimentismo (Jorge Caldeira)
*Yuval Noah Harari investiga as inquietações do presente em “21 lições para o século 21” (Dara Kaufman)
*Atropelado pelas Emergências (Sérgio C. Buarque)
O Estado de S.Paulo: A confiança na mídia
Pesquisa do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo mostra que 60% dos brasileiros acreditam nas notícias que leem ou ouvem e reconhecem a responsabilidade das empresas de mídia na filtragem das informações
Levantamento realizado pelo Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, vinculado à universidade inglesa de Oxford, revela que os cidadãos continuam confiando nos meios de comunicação para se manterem informados. Intitulada Relatório de Jornalismo Digital 2017, a pesquisa também mostra que o Brasil é um dos países em que essa confiança é mais acentuada. Segundo ela, 60% dos brasileiros entrevistados afirmaram que acreditam nas notícias que leem ou ouvem e que reconhecem a responsabilidade das empresas na filtragem das informações que veiculam.
Ao todo, foram entrevistadas mais de 70 mil pessoas, num total de 36 países. A média de confiança nos meios de comunicação entre os países pesquisados foi de 43%. O país em que o nível de confiança é mais alto é a Finlândia, com 62%, seguido pelo Brasil. Os índices de confiança também são expressivos em Portugal, Polônia e Holanda. Nos Estados Unidos, o índice é de 38%. Entre os países em desenvolvimento, a Coreia do Sul é o que registra um dos índices mais baixos, de 23%.
A tendência é de crescimento dos níveis de confiança. Levantamento realizado no ano passado com mais de 33 mil pessoas de 28 países, pela consultoria americana de relações públicas Edelman, mostrou que a confiança cresceu globalmente de 45%, em 2015, para 47%, em 2016. Esse foi o índice mais alto desde a eclosão da crise financeira de 2007-2008, quando 380 bancos de pequeno e médio portes quebraram e grandes instituições, como o Lehman Brothers, faliram. No Brasil, o índice pulou de 51% para 54%, entre 2015 e 2016.
Alertando para os efeitos das novas tecnologias sobre a qualidade da informação, a pesquisa mostra que 40% dos entrevistados consideram que as empresas de comunicação estão no caminho certo, criando blogs especializados para investigar a veracidade das notícias publicadas na internet. Revela, igualmente, o impacto negativo da proliferação de mensagens caluniosas e de notícias falsas - as chamadas fake news - nas redes sociais. Segundo a pesquisa, os aplicativos que têm ganhado mais espaço são os que permitem comunicação mais privada, como o WhatsApp. Já os aplicativos que utilizam algoritmos para definir quais informações terão maior visibilidade, como o Facebook, têm perdido espaço.
O Facebook e o WhatsApp são os aplicativos mais acessados nos 36 países pesquisados, seguidos pelo YouTube, Twitter, Instagram e Linkedin. Para se manter à frente nas redes sociais em todo o mundo, há três anos o Facebook comprou o WhatsApp por US$ 21,8 bilhões. No Brasil, 46% dos entrevistados afirmaram usar o WhatsApp para acessar e compartilhar notícias em 2017 - o que corresponde a um aumento de 7% em relação a 2016. Já o Facebook registrou uma queda de 12%, no período. Pertencente à Google, o YouTube é a fonte de informação para 36% dos entrevistados brasileiros - ante 35%, em 2016. Em seguida vêm o Instagram e o Twitter, ambos com 12%.
Além disso, o levantamento do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo aponta mudanças significativas nas formas de acesso a informações e compartilhamento de notícias pela internet. Pela primeira vez, no Brasil, os celulares ultrapassaram os computadores como o principal instrumento para acesso a notícias. A utilização de smartphones para leitura de notícias nas regiões urbanas do País é de 65%, ante 62% dos computadores. Na média dos 36 países pesquisados, 56% dos entrevistados afirmaram ter usado o celular na semana anterior para se informar, ante 58% no caso de computadores. O Chile é o país em que os celulares são mais usados para leitura de notícias - 74% dos pesquisados dão prioridade a eles, enquanto a taxa de acesso a informações por computadores é de 51%. No México, a proporção é de 70% e 45%, respectivamente.
Se o funcionamento da democracia depende da liberdade e da qualidade das informações e da responsabilidade dos meios de comunicação, o aumento dos índices de confiança da população na mídia digital é uma importante notícia.