Jornalismo

Penúria castiga refugiados no Brasil, mostra reportagem da Política Democrática Online

Haitianos estão no grupo de estrangeiros que mais sofrem em busca de emprego e renda

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

Em busca de melhor qualidade de vida, centenas de imigrantes encantam-se ao encontrar uma oportunidade de trabalho no Brasil, mas, com o passar dos dias, vivem o pavor de serem explorados. Em Minas Gerais, por exemplo, trabalham até as 21 horas. Em média, são 17 horas por dia, com intervalo apertado para engolir refeição rápida. De segunda a sábado. A equipe de reportagem da revista Política Democrática Online viajou para cidades do Estado e verificou as dificuldades enfrentadas por pessoas oriundas de outros países para sobreviverem no Brasil.

Além das histórias de exploração de mão de obra, a reportagem mostra a história de duas irmãs do Congo que se mudaram para o Brasil para não serem vendidas por "dotes" no país africano.

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“Não gosto de trabalhar aqui. Já pensei muito em desistir e voltar para meu país, mas, por enquanto, não tenho outra opção e também não consigo ter permissão para trazer minha família”, conta Sonel, perto de um dos balcões da Ceasa. Ele perdeu a mãe no terremoto que matou 300 mil no Haiti há 10 anos e ainda tenta reconstruir a vida. Todo mês, envia para a mulher e dois filhos pequenos ajuda de R$ 500, metade do que recebe sem carteira assinada. No mercado nacional, há quase 12 milhões de brasileiros desempregados.

Administradores de duas empresas instaladas na Ceasa de Contagem, onde também trabalham brasileiros que não conseguem emprego melhor, tentaram impedir a equipe da revista de conversar com haitianos e tirar fotos. Não houve explicação. A suspeita é de exploração de mão-de-obra. Um deles ligou para a segurança terceirizada, que, em seguida, enviou quatro homens e pediu aos profissionais da reportagem para cessarem os trabalhos. Ninguém da administração da central compareceu ao local no momento.

O governo brasileiro registrou 774,2 mil migrantes em território nacional, de 2010 a 2018, conforme dados mais recentes do Relatório Anual do OBMigra (Observatório das Migrações Internacionais), vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, divulgado no ano passado. Haitianos, venezuelanos e colombianos, segundo informações oficiais, são os que mais migram para o Brasil, o sexto país que mais recebe refugiados no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU)

Assim como Sonel, Roberson (36) é outro haitiano que trabalha o dia todo na Ceasa. “É muito complicado aqui”, reclama. “Meu sonho é trazer minha família, minha mulher e meus dois filhos, para viver aqui no país, mas é tudo muito penoso porque as autoridades dificilmente liberam. Ficar longe da família é muito ruim. Quero voltar para meu país”, afirma, com forte sotaque francês e um pouco de dificuldade de falar a língua portuguesa.

O Conselho Nacional para os Refugiados (Conare), ao qual estão vinculados cinco ministérios e a Polícia Federal, concedeu refúgio a 21.541 pessoas, em 2019, o que representa 82,6% do total de casos analisados pelo colegiado. Em relação ao total de refúgios, porém, apenas 181 (0,84%) pessoas beneficiadas tiveram autorização para estender esse direito a algum familiar. Outros 3.883 (14,9%) processos foram encerrados por desistência, e 606 (2,3%), indeferidos.

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Transformação digital: quais impactos do atraso no Brasil? Dora Kaufman responde

Em artigo produzido para a revista Política Democrática Online, analista aponta barreiras sobre o emprego

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

No Brasil, o atraso no processo de transformação digital tem impactos perceptíveis sobre o emprego, de acordo com a doutora em redes digitais pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP (Universidade de São Paulo) Dora Kaufman. Em artigo que produziu para a 17ª edição da revista Política Democrática Online, ela diz que “o debate entre se a automação vai substituir os trabalhadores humanos ou vai ampliar sua capacidade aparentemente está superado”.

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A revista é produzida a editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que disponibiliza todos os conteúdos da publicação, gratuitamente, em seu site. De acordo com a pesquisadora, na indústria, as tecnologias de automação digital têm ainda baixa penetração, prevalecendo a digitalização de processos internos e automação básica. Além disso, segundo ela, no varejo, particularmente o setor bancário, o foco da adoção da inteligência artificial são os processos internos (redução custo/aumento de eficiência) e a experiência do cliente (assistentes virtuais/chatbots).

Já no agronegócio, segundo aponta o artigo publicado na revista Política Democrática Online, talvez o setor no país mais avançado nesse processo, observa-se a aplicação de tecnologias de inteligência artificial nas várias etapas de produção com consequente redução da oferta de trabalho. No setor público, por sua vez, o governo tecnológico é uma medida em que avança a digitalização, diminui o número de vagas de trabalho: o alistamento militar on-line, por exemplo, representa atualmente 47% do total - 1,7 milhão de candidatos/ano -, já tendo reduzido de 2.307 para 829 os servidores diretamente envolvidos.

Dora afirma que a combinação de avanços nas tecnologias de inteligência artificial e robótica, por um lado, acelera a produtividade com economia de custos e aumento da eficiência e, por outro, tem fortes impactos sociais, particularmente no mercado de trabalho. “Nas próximas décadas, as tecnologias inteligentes estarão presentes em sistemas globais de produção com modelos de negócios integrados e conectados, caracterizados por precisão nos parâmetros de eficiência, personalização de processos e produtos”, afirma

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‘Não vejo riscos à democracia no Brasil’, afirma Denise Frossard em entrevista exclusiva

Revista Política Democrática Online publica entrevista com juíza aposentada e ex-deputada federal que teve papel de destaque no combate à organização criminosa

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

"Julguei e decidi que havia, sim, no Brasil uma organização criminosa do tipo mafioso, numa sentença que se apoiava em jurisprudência italiana, pela ausência de precedente no Brasil", relembra a juíza aposentada e ex-deputada federal pelo Rio de Janeiro Denise Frossard, sobre ampla investigação contra o crime organizado no Brasil, da qual fez parte e que a tornou conhecida nacionalmente, em 1993. Entrevista exclusiva para a 17ª edição da Revista Política Democrática Online, ela também é enfática ao falar sobre o regime político do país: “'Não vejo riscos para a democracia no Brasil'.

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A revista é produzida a editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que disponibiliza todos os conteúdos da publicação, gratuitamente, em seu site. Denise aposentou-se do Judiciário em 1998 e, em 2002, foi eleita deputada federal com a maior votação para o cargo nas eleições pelo Rio de Janeiro.

Denise Frossard destaca que, na poca em que atuou contra o crime organizado, o Congresso Nacional entendeu a importância da proposta e contribuiu ao longo de uns 20 anos com legislação absolutamente moderna, de acordo com as melhores leis dos países mais adiantados. "Estabeleceu-se cooperação com países que combatiam a lavagem do dinheiro, o crime organizado, o tráfico de entorpecentes", afirma.

"Valeu a pena? Claro que valeu, pois foi a partir dali que chegamos a Lava Jato. Relembro que vi as entranhas do crime organizado não só como juíza, mas também como parlamentar, quando participei, pelo antigo PPS, hoje Cidadania23, da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito que acabou por desvendar a tentativa de captura do Estado brasileiro pelo crime organizado, conforme é do conhecimento de todos", completa Denise.

Sobre o momento atual que o país atravessa, com o governo de Jair Bolsonaro e os atritos entre o Executivo, o Judiciário e o Legislativo, Denise reforça que não vê risco algum para a democracia, nenhum risco de golpe. "Isso não existe. Apesar de ainda adolescente, o povo já entendeu que, quanto à democracia, não há qualquer transação - é ela ou ela", destaca.

 

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Alta do dólar é ponta de iceberg, afirma Luiz Paulo Vellozo Lucas

Em artigo publicado na revista Política Democrática Online, analista diz que Trump é líder que surfa

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

Num mundo em que existe liquidez mais de dez vezes maior que ativos reais medidos pela métrica do PIB e o valor destes flutua de acordo com a confiança da população, o pânico da bolsa e a alta do dólar são apenas a ponta do iceberg. A avaliação é do engenheiro e mestrando em Desenvolvimento Sustentável pela UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) Luiz Paulo Vellozo Lucas, em artigo que produziu para a 17ª edição da revista Política Democrática Online. A publicação é produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que disponibiliza todos os conteúdos, gratuitamente, em seu site.

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“A crise deflagrada pela pandemia do coronavírus está apenas começando e pode evoluir na direção de um colapso das instituições internacionais de tal proporção que exija novo Bretton Woods’, afirma Lucas. Ele também é ex-prefeito de Vitória e ex-deputado federal pelo Espírito Santo.

De acordo com o artigo publicado na revista Política Democrática Online, não é certo que a ação coordenada dos principais bancos centrais do mundo, liderados pelo Fed, possa conter o pânico dos mercados, como ocorreu com a crise de 2008, detonada pelo mercado imobiliário subprime americano. “Até porque Trump é um líder que surfa, se elege e governa na onda de desconfiança nas instituições causada pela interferência das fake news na política e na economia, que também atingiu o Brasil na eleição de Bolsonaro”, observa o engenheiro.

Segundo o analista, todos achavam que viria uma recuperação cíclica até porque a agenda das reformas liberais possui apoio e uma torcida ativa bem mais ampla que os fanáticos seguidores do presidente. “Em meados do ano passado, algumas vozes já se ouviam alertando para a crença excessiva no ímpeto dinâmico do setor privado, que haveria de investir pesado, confiante na solvência fiscal do país, empurrado por juros baixos e o compromisso fiscalista do governo e da equipe econômica de Paulo Guedes”, disse ele, no artigo.

A crise do orçamento impositivo, de acordo com Lucas, mostra como o debate sobre a reforma do Estado está interditado. “A disputa política se resume a uma briga de rua pela captura de espaços de poder na máquina pública, cargos e controle de órgãos e, principalmente, pelo dinheiro do orçamento”, afirma, para acrescentar. “A agenda das reformas, sempre apresentada setorialmente em ‘caixinhas’, fica como uma fraca luz no fim do túnel selvagem da operação no dia a dia da economia e da política, sem projeto nacional”.

 

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Futuro vai esclarecer ‘casamento’ de Regina com Bolsonaro, diz Martin Cezar Feijó

Doutor em Comunicação mostra histórico da atriz e desafios à frente da Secretaria Nacional de Cultura

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

“Era uma vez no Planalto. A namoradinha do Brasil resolveu se casar. Pensava ser a Bela que transformaria a Fera através do Amor e da Pacificação, mas descobriu, logo depois do casamento, que havia se casado com Gastón, o bonitão que se transforma em um implacável vilão; o que havia prometido ‘carta branca’, mas que preferia mesmo eram ‘porteiras fechadas’. O Mito mostrava a face bruta da realidade, e o afeto parecia se encerrar, deixando a então princesa deprimida.”

O trecho é o início da análise do doutor em comunicação pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP (Universidade de São Paulo) Martin Cezar Feijo, que ele produziu para a 17ª edição da revista Política Democrática Online. A publicação editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que disponibiliza todos os conteúdos em seu dia, gratuitamente.

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A atriz Regina Duarte é conhecida como a “namoradinha do Brasil” desde o ano de 1971, quando interpretou na rede Globo de Televisão Minha Doce Namorada, com pouco mais de 20 anos. Mas, conforme lembra Feijó, a carreira da atriz começou bem antes, aos 18 anos, na TV Excelsior, em 1965, na trama escrita por Ivani Ribeiro A Deusa Vencida, como demonstra Patrícia Kogut em seu livro 101 atrações que sintonizaram o Brasil (Rio de Janeiro, Estação Brasil, 2017).

A partir daí, uma carreira de sucessos, em várias telenovelas, não só no Brasil, mas no mundo, na América Latina, sendo admirada até em Cuba, onde foi recebida com honras por Fidel Castro. “Uma carreira artística de sucessos, da televisão ao teatro. E admiração do público. Teve participações políticas decisivas, e corajosas, na campanha pelas Diretas-Já”, lembra o autor do artigo publicado na revista Política Democrática Online.

Em seu discurso de posse, no dia 4 de março de 2020, Regina Duarte exaltou a cultura diversificada, com exemplos, talvez para agradar o chefe, até pueris em suas metáforas de “puns de palhaços”, mas, de acordo com o autor do artigo, com uma clara demonstração que defende uma cultura plural e livre. “Até relativista, do ponto de vista antropológico”, assevera ele. Por isso, vem sofrendo ataques do que chamou de “facção de terrorismo digital”, associados ao guru Olavo de Carvalho, que mora nos EUA, onde também forma fiéis seguidores, segundo Feijó.

É neste quadro tenebroso, de inseguranças e temores, de promessas de censuras e vetos, que a atriz Regina Duarte, de uma carreira artística plena de sucessos, na televisão e teatro, renovou seu compromisso de uma vida com a arte e a cultura, da qual ninguém pode duvidar. “Apesar das opções ideológicas, que nunca escondeu, resolveu se meter, em uma história de um ‘casamento’, que só o futuro vai esclarecer, não só para si própria, mas também, principalmente, para um público que se mobiliza para ver a mocinha vencer uma realidade bem mais complexa”, afirma o autor no artigo da revista Política Democrática Online.

 

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‘Não seremos os mesmos depois do coronavírus”, diz analista à Política Democrática Online

Revista da FAP publica artigo que aponta mudanças após a pandemia do Covid-19

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

A contaminação pelo coronavírus se generalizou, desestruturando a política, a economia, as relações sociais e a cultura dos países afetados. A grande questão é o que acontecerá quando o mundo voltar à normalidade. Essa é a reflexão que a analista Erdna Odama propõe em texto que ela produziu para a 17ª edição da revista Política Democrática Online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília. Todos os conteúdos da publicação são disponibilizados, gratuitamente, no site da entidade.

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De acordo com o artigo, após a pandemia, a sociedade não será a mesma. “Não seremos os mesmos, a começar pela confiança arranhada em nossos governantes, que, como  regra, demoraram a tomar as medidas responsáveis e ainda batem cabeça sobre como preparar-se para os desafios de recuperar a economia, a política e a cultura, gravemente conturbadas pela pandemia”, afirma.

Erdna também registra, no artigo da Política Democrática Online, que, uma primeira possível mudança pode dizer respeito às relações entre o Estado e os cidadãos. “O monopólio da racionalidade esfumou-se”, diz, para continuar: “As ações individuais e espontâneas de pessoas anteciparam-se em grande medida às dos governos, em que a solidariedade humana se sobrepôs aos ditames da ordem pública. Esse povo guerreiro, que não hesitou em arriscar a vida para ajudar o próximo, deverá resistir a retornar ao mero papel de coadjuvante na condução da ordem pública, a cargo exclusivo dos gabinetes do poder”.

Essa atitude, conforme aponta a autora do artigo, se estenderá às relações entre os países. “O globalismo espera-se possa enterrar de vez a oposição à integração entre os países”, acentua. Segundo ela, não só o surto epidemiológico desconheceu fronteiras, mas também as providências adotadas no país, revelando-se bem-sucedidas, foram rápida e acertadamente copiadas pelos demais, em benefício de milhões de vidas.

“Não será isso suficiente para desarmar o conflito entre o isolamento nacionalista e a solidariedade global?”, questiona a analista no artigo publicado na revista Política Democrática Online. ‘Tanto mais porque, no dia seguinte à sanha assassina desse novo vírus, todos terão de trabalhar juntos para, entre outros, reestruturar seus sistemas de saúde, evitar a falência de grandes e, sobretudo, pequenos empresários – estes responsáveis por grande parte do PIB dos países centrais –, reabilitar o funcionamento das companhias de transporte aéreo, compartir pesquisas científicas e oferecer ajuda (médica, alimentar e financeira) aos países mais debilitados”, assevera.

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Coronavírus: ‘Nem tudo é terrível e negativo’, diz historiador Joan del Alcázar

Em artigo da revista Política Democrática Online, autor ressalta que sociedade vive tempos difíceis

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

A pandemia do coronavírus abriu uma imensa janela para o desconhecido, o impensável, o inesperado, de acordo com o historiador Joan del Alcázar, catedrático de História Contemporânea da Universidade de Valencia. Em artigo de sua autoria publicado na 17ª edição da revista Política Democrática Online, ele ressalta que não é uma ameaça tangível. “Não temos experiência alguma na gestão de uma pandemia virótica, que pensávamos tivesse sido desterrada do mundo desenvolvido, caso tivesse tido origem em países pobres e atrasados”, afirma.

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A revista é produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que disponibiliza todos os conteúdos da publicação em seu site. Alcázar afirma que a vida social se reduziu ao máximo. “Não é só que tivemos de deixar de nos beijar e abraçar; passamos a nos cumprimentar como os japoneses, sempre tão cerimoniosos e distantes. Agora já nem podemos sair à rua, a não ser por causa muito justificada”, diz ele.

“São tempos difíceis e, ao que tudo indica, duradouros”, ressalta o historiador, no artigo da revista Política Democrática Online. “Não há previsões confiáveis, nem prazos a cumprir. Hoje por hoje, trata-se de resistir, de proteger os outros e de nos proteger, de cuidar para não colapsar os serviços sanitários e de confiar nas autoridades que estão sendo orientadas por critérios e relatórios dos peritos. Tudo parece mal, terrível, insuportável. Mas não é”, observa.

O autor do artigo também afirma que “nem tudo é terrível e negativo”. Segundo ele, há também fatos e razões que são positivos e merecem alguma reflexão nesse período de resistência em que estamos encalacrados. Ele cita, por exemplo, que a comunidade científica já publicou mais de 160 artigos acadêmicos de mais de 700 pesquisadores de todo o planeta sobre tudo que envolve o Covid19. E, mesmo que tardem meses para poder utilizar-se de maneira corrente, já existem protótipos de vacinas.

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‘Reação ao bolsonarismo nas urnas é legítima defesa da nação’, diz Alberto Aggio

Em artigo publicado na revista Política Democrática Online, professor da Unesp critica economia que naufraga e cita coronavírus como agravante

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

O ano de 2020 se anuncia difícil, mas é de eleições. O calendário é óbvio para os brasileiros, mas serve também como alerta. “Responder, plebiscitariamente, ao bolsonarismo nas urnas deve ser um ato de legítima defesa do povo e da nação brasileira”, afirma o historiador e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Alberto Aggio, em artigo publicado na 17ª edição da revista Política Democrática Online, produzida e editada pela entidade.

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Na avaliação de Aggio, que também é diretor executivo da FAP, Bolsonaro mira em 2022 visando atingir a reeleição. No entanto, de acordo com o professor, outras questões agravam o cenário brasileiro, como o que ele chama de “raquítico PIB (Produto Interno Bruto) de 2019”, no patamar de 1,1%, a baixa expectativa de crescimento, a tensão entre Executivo e Legislativo e a pandemia do Covid-19, ou coronavírus.

“O conjunto da economia naufraga, o dólar dispara, os investidores somem, e a perturbadora crise do petróleo dá as caras”, afirma ele, em um trecho da análise publicada na revisa Política Democrática. “Já não há mais ‘herança maldita’ a ser condenada: o desastre dos anos Dilma ficou para trás; o breve período Temer, de frágil recuperação, agora se perde inapelavelmente. Bastou pouco mais de um ano para os brasileiros conhecerem os resultados da “nova política econômica” de Paulo Guedes, cujos números atestam prepotência e fracasso”, acrescenta.

Pós-doutor pela Universidade de Valenia (Espanha), Aggio também reforça que o cenário preocupante se agrava ainda mais com a chegada ao país do novo coronavírus, cujo foco original afetou drasticamente a produção da “oficina do mundo”, o principal parceiro comercial do Brasil. “As estatísticas relativas ao último trimestre são dramáticas para um país acostumado a índices invejáveis. Pode-se projetar, portanto, graves problemas para a economia brasileira, comprometendo a lenta a recuperação do emprego, fator politicamente sensível para qualquer governo, especialmente em ano eleitoral”, ressalta.

O historiador também lembra, no artigo publicado na revista Política Democrática Online, a manifestação de 15 de março, convocada pelo presidente Jair Bolsonaro. “O nível de contraposição entre Executivo e Legislativo que Bolsonaro impõe é bastante nocivo ao país. E isso só ocorre pela recusa do presidente em compor uma base de apoio no Congresso para, dentre outros assuntos legislativos, negociar politicamente o orçamento da República e sua implementação”, diz ele, em outro trecho.

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Coronavírus agrava crise do governo Bolsonaro, diz editorial da revista Política Democrática

Publicação da FAP critica posturas do presidente do Brasil em meio à pandemia do Covid-19

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

A pandemia do coronavírus aumenta a crise de governabilidade do presidente Jair Bolsonaro, que acumula evidências de escassa capacidade para o diálogo e a construção de consensos nos foros políticos previstos pela Constituição, assim como forte propensão ao confronto. A crítica é registrada em editorial da nova edição da revista Política Democrática Online. “Recusa suas tarefas constitucionais de cooperação com os demais Poderes, assim como os mandamentos do bom senso na relação com os governadores, legítimos representantes das unidades da Federação”, diz um trecho.

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Todos os conteúdos da revista podem ser acessados, gratuitamente, no site da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), localizada em Brasília e que produz e edita a publicação. De acordo com o editorial, o presidente conseguiu, em alguns meses, tornar-se alvo do protesto da grande maioria dos governadores e, ao mesmo tempo, mostrar simpatia para movimentos, ilegais, como os de policiais amotinados em diversos Estados.

De outro lado, segundo o editorial da revista Política Democrática Online, o agravamento da crise provocada pela expansão da pandemia acompanha o colapso econômico que se avizinha, em decorrência das medidas necessárias para sua contenção. “Caminhamos celeremente para um aumento sem precedentes da complexidade dos problemas que governos devem enfrentar, complexidade que, nos níveis atuais, parece já exceder em muito a capacidade governamental para sua resolução”, afirma o texto.

No editorial, a revista também afirma que não poderiam ser piores as expectativas criadas pelos preparativos das manifestações em favor do governo de 15 de março passado. “Todas elas foram, contudo, superadas com folga pelos fatos. O presidente da República tentou negar participação na convocação de um movimento a seu favor, recurso característico de regimes autoritários. Sua participação foi comprovada”, critica a publicação.

De positivo, na avaliação da revista Política Democrática Online, houve apenas o pequeno número de manifestantes. “No entanto, a lógica aparente do ato, de compensação das perdas nos números pela radicalização do discurso e das ações, é preocupante. Vimos um grupo de manifestantes pequeno, que se apresentou nas ruas mobilizado, radicalizado e, em alguns casos, armado”, afirma, para continuar. “Por sorte, apenas um incidente com disparos foi reportado, com o ferimento, em São Paulo, de uma jovem que manifestou sua oposição ao governo”.

 

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Eugênio Bucci: Por que, em vez da doença, eu prefiro a cura como metáfora

É hora de doar tudo o que pudermos a quem não tem, é hora de bater panela...

Susan Sontag viu nas doenças do nosso tempo, o câncer e a aids, metáforas poderosas para pensarmos sobre as mentalidades que nos aprisionam e nos fazem cativos de preconceitos e medos irracionais. Acertou no nervo. Seus livros A Doença como Metáfora e Aids e suas Metáforas viraram clássicos instantâneos. Mas agora, diante da pandemia da covid-19, em que a civilização foi inteira para a enfermaria – e em parte para a UTI –, a metáfora que olha para nós com ares de esfinge não está na doença, mas na cura.

Sim, eu bem sei que a cura não existe. Não há vacina. Não dispomos de remédios específicos e comprovados, a despeito da propalada cloroquina presidencial. Por enquanto não há um fármaco que aniquile o coronavírus. Quando muito, a medicina nos socorre combatendo os sintomas e os médicos nos apoiam para ganhar tempo, enquanto o corpo, como diria Voltaire, trata de neutralizar a moléstia.

Não há solução individual para ninguém. Uma pessoa que desenvolva um quadro grave da doença terá de contar com os paliativos hospitalares, de um lado, e, de outro, com o próprio organismo para restabelecer o corpo. É só o que temos. Na dimensão coletiva, porém, podemos recorrer a um arranjo coletivo para enfrentar a enfermidade com eficácia. Individualmente, somos indefesos, mas agindo em conjunto, socialmente, podemo-nos proteger. As esperanças que podemos ter são esperanças coletivas. É por aí que começa a metáfora da cura (da cura que ainda não há, mas já é metafórica).

As medidas que os países que não são governados por loucos estão adotando ilustram o que quero dizer. A diminuição organizada dos contatos sociais – com a interrupção das aulas, dos comícios e dos cultos religiosos, além de festas (de aniversário, inclusive) e funerais – vai se mostrando eficaz para retardar e diminuir a intensidade do chamado pico de contaminação. Se não formos por aí, será o caos. Se o volume de casos graves explodir acima de um patamar suportável, faltarão, como se viu em outros países, leitos de UTI com respiradores. Ato contínuo, virá o sufocamento do sistema de saúde, o que vai esgarçar o tecido social, com o risco da generalização de mercados negros (não só de álcool em gel) e da violência descontrolada.

A única opção sensata que temos é ficar em casa e, acima disso, ajudar aqueles que não têm moradias adequadas – e não leem estas páginas – a se proteger. Dependemos agora de renúncia e solidariedade. A renúncia é individual: consiste em abrir mão de sair por aí passeando (para buscar o prazer) ou trabalhando (para buscar dinheiro). A solidariedade, claro, só se realiza no plano coletivo. Dispensar os trabalhadores domésticos sem lhes cortar o salário é o mínimo, mas não é suficiente. Estamos sendo chamados a fazer mais.

O mais interessante é que ninguém pode controlar se será ou não será infectado, mas todo mundo pode controlar, ao menos um pouco, se será ou não um vetor de contágio. Ninguém será bem-sucedido em ficar à distância do vírus, por mais que mantenha no armário do banheiro um estoque de máscaras cirúrgicas (que estariam mais bem empregadas se fossem doadas a um hospital). O vírus virá, seja no desenho da netinha ou no prato que o restaurante caro manda entregar por motoboy. Mas temos chances de ser mais bem-sucedidos em postergar o momento em que o vírus que está em nós atinja o próximo.

Eis, então, a metáfora: a única forma de cuidar de nós é cuidar do outro. Se eu quiser cuidar de mim, individualmente, de forma egoísta, estou roubado e, mais ainda, os outros ao meu redor também estão. Note bem o improvável leitor: no caso presente, os vícios privados não nos levarão a benefícios públicos. Só nos levarão ao desastre.

Vamos dizer “não” ao desastre. Vamos dizer “sim” ao pensamento. A metáfora nos desafia a repactuar as bases da civilização enferma. O Estado despachante do capital precisa ser questionado. Os governos autoritários e destituídos de empatia precisam ser derrotados. O sujeito que faz pose de fortão e chama a pandemia de gripezinha, apoiado em fake news, precisa ser desmascarado. É hora de doar tudo o que pudermos a quem não tem, é hora de bater panela e piscar as luzes do apartamento (para quem tem panela, energia elétrica e apartamento).

É hora disso tudo, mas sem lenga-lenga de autoajuda, pelo amor de Deus. Essa conversa de redescobrir o valor da família e as delícias de lavar com cândida o chão da cozinha, francamente, não dá pé. Haja afetação. Haja mariantonietismo. Eu não vejo nenhuma vantagem em ficar trancado no meu endereço domiciliar dando aulas para um notebook, por meio do qual meus alunos tentam me entender e fazer perguntas tão atentas quanto generosas. Quero reencontrar o quanto antes as pessoas que amo e de quem preciso sentir o calor, o beijo, o abraço. Gosto de perdigotos no meio da rua. Sinto saudades das calçadas sobre a quais salivam, enquanto sonham, as famílias que não têm casa para morar e precisam ser salvas.

No mais, a metáfora me intriga.

*Jornalista, é professor da ECA-USP


Coronavírus e naufrágio de Bolsonaro são destaques da revista Política Democrática

Nova edição da publicação da FAP detalha reflexos da pandemia em meio a projeções temerárias do presidente do Brasil

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

A mudança de hábitos provocada pela pandemia do coronavírus, a adolescência política incapaz de oferecer riscos à democracia no Brasil, o pibinho da nova política econômica de Paulo Guedes e a situação desoladora de refugiados no país são os destaques da nova edição da revista Política Democrática Online. Todos os conteúdos da publicação, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Brasília, podem ser acessados, gratuitamente, no site da entidade, a partir desta terça-feira (24).

» Acesse aqui a 17ª edição da revista Política Democrática Online!

O público pode conferir, na revista Política Democrática Online, a análise sobre o impacto do coronavírus nos hábitos das pessoas. “Não são poucos os desafios, mesmo depois que essa praga deixar de ceifar vidas. A grande questão que se impõe é: o que queremos ser, ilhas preocupadas com nossa sobrevivência exclusiva, ou seres humanos que aprendemos a lição de que, na prática da solidariedade, do compartilhamento, da generosidade, estaremos construindo um mundo melhor?”, questiona uma articulista.

Em análise sobre o governo Bolsonaro, o diretor executivo da FAP e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Alberto Aggio, afirma que, após a divulgação do raquítico PIB de 2019 (1,1%), as expectativas de crescimento se esvaneceram. “O conjunto da economia naufraga, o dólar dispara, os investidores somem, e a perturbadora crise do petróleo dá as caras”, diz. “Esse cenário preocupante se agrava ainda mais com a chegada ao país do novo coronavírus, cujo foco original afetou drasticamente a produção da ‘oficina do mundo’, nosso principal parceiro comercial”.

Além disso, em entrevista exclusiva, a juíza aposentada e ex-deputada federal Denise Frossard afirma que o Brasil ainda vive uma adolescência jurídica, política e histórica e, por isso mesmo, instável, mas que não oferece riscos à democracia. “O Brasil precisa entender que, na construção das leis, o legislador tem de ser mais explícito, mais específico. Estamos em um ótimo momento para atuar, em meio à reconstrução do sistema político e do sistema tributário, depois de já termos iniciado o processo de reforma da previdência”, afirma ela.

No editorial, a revista reforça o seu posicionamento, de forma intransigente, em defesa dos ideais democráticos e republicanos. “O norte da atuação política das forças democráticas deve ser apenas um: unidade em torno da defesa do estado democrático de direito. Nenhuma afronta à democracia, mesmo que apenas no plano da opinião, pode ser tolerada”, diz um trecho.

A revista Política Democrática Online também oferece ao público uma reportagem investigativa sobre a situação de refugiados no Brasil. Os enviados especiais a Minas Gerais, um dos Estados que mais concentram pessoas oriundas de outros países, mostram que a desvalorização de mão de obra dificulta sobrevivência de haitianos no Brasil, já que, na guerra ela sobrevivência, eles devem competir com quase 12 milhões de brasileiros desempregados. O país aumenta número de refugiados e diminui autorizações para familiares

A nova edição da revista também tem análises sobre outros assuntos de interesse público, atuais e relevantes, como economia e cultura, com a colaboração de especialistas, pesquisadores e profissionais de referência no mercado.

Todos os conteúdos da publicação são divulgados no site e tem chamadas nas redes sociais da FAP. O conselho editorial da revista é composto por Alberto Aggio, Caetano Araújo, Francisco Almeida, Luiz Sérgio Henriques e Maria Alice Resende de Carvalho.

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RPD || Reportagem Especial: Crise econômica e solidão desanimam refugiados no Brasil

Desvalorização de mão de obra dificulta sobrevivência de haitianos no Brasil; país aumenta número de refugiados e diminui autorizações para familiares

Cleomar Almeida

O corpo inclinado para frente faz o haitiano Sonel Pierre (37 anos) ter força para puxar o carrinho de mão com 800 kg de sacos de batata inglesa na Central de Abastecimento (Ceasa) em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. São 4 horas da madrugada. No mesmo local, muitos africanos usam a própria cabeça para descarregar caminhões lotados de mercadorias, ao passo que outros se revezam nas carrocerias em árduo trabalho braçal em condições degradantes. Longe da família, a situação só piora.

Em busca de melhor qualidade de vida, centenas de imigrantes encantam-se ao encontrar uma oportunidade de trabalho no Brasil, mas, com o passar dos dias, vivem o pavor de serem explorados. Na Ceasa, por exemplo, trabalham até as 21 horas. Em média, são 17 horas por dia, com intervalo apertado para engolir refeição rápida. De segunda a sábado. A equipe de reportagem da Revista Política Democrática Online viajou para Minas Gerais e verificou as dificuldades enfrentadas por pessoas oriundas de outros países para sobreviverem no Brasil.

“Não gosto de trabalhar aqui. Já pensei muito em desistir e voltar para meu país, mas, por enquanto, não tenho opção e também não consigo ter permissão para trazer minha família”, conta Sonel, perto de um dos balcões da Ceasa. Ele perdeu a mãe no terremoto que matou 300 mil no Haiti há 10 anos e ainda tenta reconstruir a vida. Todo mês, envia para a mulher e dois filhos pequenos ajuda de R$ 500, metade do que recebe sem carteira assinada. No mercado nacional, há quase 12 milhões de brasileiros desempregados.

Administradores de duas empresas instaladas na Ceasa de Contagem, onde também trabalham brasileiros que não conseguem emprego melhor, tentaram impedir a equipe da Revista de conversar com haitianos e tirar fotos. Não houve explicação. A suspeita é de exploração de mão-de-obra. Um deles ligou para a segurança terceirizada, que, em seguida, enviou quatro homens e pediu aos profissionais da reportagem para cessarem os trabalhos. Ninguém da administração da central compareceu ao local no momento.

O governo brasileiro registrou 774,2 mil migrantes em território nacional, de 2010 a 2018, conforme dados mais recentes do Relatório Anual do OBMigra (Observatório das Migrações Internacionais), vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, divulgado no ano passado. Haitianos, venezuelanos e colombianos, segundo informações oficiais, são os que mais migram para o Brasil, o sexto país que mais recebe refugiados no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU)

Assim como Sonel, Roberson (36) é outro haitiano que trabalha o dia todo na Ceasa. “É muito complicado aqui”, reclama. “Meu sonho é trazer minha família - mulher e dois filhos -, para viver aqui no país, mas é tudo muito penoso porque as autoridades dificilmente liberam. Ficar longe da família é muito ruim. Quero voltar para meu país”, afirma, com forte sotaque francês e um pouco de dificuldade de falar a língua portuguesa.

O Conselho Nacional para os Refugiados (Conare), ao qual estão vinculados cinco ministérios e a Polícia Federal, concedeu refúgio a 21.541 pessoas, em 2019, o que representa 82,6% do total de casos analisados pelo colegiado. Em relação ao total de refúgios, porém, apenas 181 (0,84%) pessoas beneficiadas tiveram autorização para estender esse direito a algum familiar. Outros 3.883 (14,9%) processos foram encerrados por desistência, e 606 (2,3%), indeferidos.

Nos últimos dois anos, o Brasil aumentou de 1.086 para 21.541 o número de refúgios concedidos no país, refletindo a onda da crise humanitária da vizinha Venezuela. No entanto, caiu o de refúgios garantidos a familiares, passando de 309, em 2018, para 181, em 2019, uma queda de 41% no período.

Boa parte dos imigrantes vive no limbo entre a falta de oportunidade de uma vida melhor no Brasil e o medo de recuo das políticas migratórias nacionais, em meio à série de ataques a direitos das pessoas, feitos pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. No último dia 17, o vídeo de um haitiano ganhou repercussão na internet. Após criticar Bolsonaro, pessoalmente, em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília, um dia depois de o presidente apoiar manifestações pelo país contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), o haitiano afirmou: “Você não é presidente mais”. A reportagem não conseguiu contato com o homem.

Acre, Amazonas, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina e São Paulo são os que mais registram solicitações de refúgio para imigrantes no país. Assim como na Ceasa da cidade mineira, Brasília tem grande número de haitianos trabalhando sob sol forte. Eles concentram-se, principalmente, na rodoviária do Plano Piloto e em calçadas nos arredores, a 3 quilômetros do Congresso Nacional.

Longe da família, a falta de oportunidade de trabalho adequado só piora a situação. A pesquisa “Perfil Socioeconômico dos Refugiados no Brasil: subsídios para políticas” constata a dificuldade enfrentada por pessoas oriundas de outros países. “Aqueles que conseguem obter um emprego rapidamente percebem que as expectativas feitas não corresponderão à realidade, dado que o salário é pequeno e a renda não é suficiente”, afirma um trecho. “Essa frustração materializa-se em uma narrativa bastante comum dentre os refugiados entrevistados: no Brasil, é praticamente impossível melhorar de vida sendo funcionário, empregado”, continua.

A presença de imigrantes, solicitantes de refúgio e refugiados no Brasil levanta desafios para formuladores e gestores das políticas públicas migratórias e diversos atores da sociedade civil que cumprem papel histórico na acolhida desses grupos. A secretária nacional de Justiça, Maria Hilda Marsiaj, diz que “o conhecimento rigoroso da imigração é ferramenta imprescindível para a formulação de políticas públicas e para a tomada de ações específicas que permitam a inserção e contribuição para o desenvolvimento do país”. Ela reconhece, ainda, que o monitoramento estatístico, amparado por análise sociodemográfica e socioeconômica, é tarefa do Estado e recomendação da comunidade internacional.

Coordenador científico do OBMigra, o professor do Departamento de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Cavalcanti alerta que as autoridades públicas devem estar atentas à elaboração de políticas públicas que não permitam a discriminação dos imigrantes que chegam ao país fugindo de guerras, perseguição política e desastres ambientais. “Há pessoas que chegam ao Brasil fugindo de situações muito delicadas e que, se na maioria das vezes não têm recursos financeiros, têm um bom nível de escolaridade e experiência profissional”, ressalta, em entrevista à imprensa.