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Debate político | Imagem: jenny on the moon/Shutterstock

Nas entrelinhas: Bolsonaro ganhou mais do que perdeu no JN

Luiz Carlos Azedo | Nas entrelinhas | Correio Braziliense

O presidente Jair Bolsonaro se saiu melhor do que a encomenda na entrevista concedida a Willian Bonner e Renata Vasconcellos no Jornal Nacional, segunda à noite. Cobrado insistentemente pelos dois apresentadores sobre temas que são as causas de sua alta rejeição, como a atuação durante a pandemia de covid-19 e a questão ambiental, saiu pela tangente, mentiu às vezes, porém, não perdeu a cabeça e partiu para a agressão verbal, como acontece na maioria das entrevistas “quebra-queixo” que concede, quando é confrontado por algum jornalista.

Nas redes sociais, durante a entrevista, bolsonaristas e petistas, principalmente, travaram uma guerra virtual que repercutia a sabatina em tempo real. Principalmente no Twitter, Bolsonaro perdeu as batalhas quando tratou das urnas eletrônicas e das ameaças de golpe, da crise da falta de oxigênio nos hospitais de Manaus e das vacinas. Também não ficou bem na fita quando negou corrupção no governo. Mas, se saiu melhor quando falou do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e da aliança com o Centrão. Na métrica do monitoramento das redes sociais, teve em torno de 35% de menções positivas e 65% de menções negativas. Não foi um mau resultado.

Por que a conclusão de que se saiu melhor do que a encomenda? Porque Bolsonaro alcançou seu objetivo de não frustrar seus eleitores e não afrontar os que votaram nele nas eleições passadas e, agora, estão voltando para sua base eleitoral. Essa foi a estratégia do seu estado-maior para a entrevista. O outro lado da moeda é a cobrança que está sendo feita aos jornalistas da TV Globo, principalmente pelos petistas, que acaba favorecendo também o presidente da República.

A reação contrária dos bolsonaristas já estava prevista; a dos petistas, não. Parece que tinham a expectativa de que Bolsonaro seria “nocauteado” por Willian Bonner e Renata Vasconcellos, que foram bastante agressivos e contundentes, mas não perguntaram tudo o que os petistas gostariam, quando nada, porque os questionamentos foram longos demais e, em alguns momentos, geraram réplicas e tréplicas.

Temas como o caso das “rachadinhas”, escândalo na Assembleia Legislativa do Rio envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o envolvimento do clã com as milicias do Rio de Janeiro ficaram fora da pauta. Como Bolsonaro levou uma “cola” anotada na palma da mão, surgiu a versão de que eram anotações que visavam intimidar os dois entrevistadores, com referências negativas à emissora, cuja concessão vencerá no dia 5 de outubro e precisa ser renovada. Outros, porém, e não apenas os bolsonaristas, avaliam que os dois jornalistas se comportaram como se fossem debatedores, e de forma desrespeitosa.

Padrão Globo

Mas, o que incomoda mesmo aos petistas é saber que o favorito nas pesquisas de intenção de voto até agora, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, receberá o mesmo tratamento dado a Bolsonaro por Bonner e Renata. A TV Globo precisa manter uma posição de independência e neutralidade em relação aos candidatos, o que exige tratamento isonômico. Isso será um problema para o petista. Sua entrevista ao Jornal Nacional, na quinta-feira, pode exumar pautas muito desconfortáveis, como os escândalos do “mensalão” e da Petrobras, além de outros assuntos negativos para Lula ou comentários infelizes, que sua campanha procura contornar a todo custo.

A avaliação dos marqueteiros de Bolsonaro sobre sua atuação na entrevista é tão otimista que o presidente da República já está cogitando comparecer ao debate entre candidatos à Presidência organizado pelo consórcio de emissoras de TV, que antes havia rechaçado, assim como o ex-presidente Lula. É uma decisão estratégica que faz todo o sentido, porque Bolsonaro parece ter consolidado seu lugar no segundo turno e não teria mais nada a perder num confronto aberto com Lula: seria a antecipação do debate do segundo turno. A estratégia de Bolsonaro é reduzir sua rejeição e aumentar a de Lula, para ganhar a eleição.

Em princípio, Bolsonaro reafirmou suas posições: manteve as suspeitas sobre as urnas eletrônicas; atacou o Ibama e os ambientalistas que criticam o governo por causa da Amazônia; reiterou seu negacionismo quanto à pandemia, criticou o lockdown e defendeu o tratamento precoce da covid-19 com cloroquina. Tentou resgatar a bandeira da ética ao negar a existência de corrupção no seu governo e capitalizar a queda da inflação, o pagamento do Auxílio Emergencial e geração de empregos. Esse é o rumo da sua campanha. De acordo com essa estratégia, Bolsonaro não subiu o tom contra o ministro Alexandre de Moraes, que, ontem, autorizou uma operação de busca e apreensão contra empresários bolsonaristas suspeitos de envolvimento com disseminação de fake news e articulações golpistas.

ObsComo escrevi a coluna antes da entrevista de Ciro Gomes ao Jornal Nacional, ontem à noite, comentarei seu desempenho na edição de amanhã.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-bolsonaro-ganhou-mais-do-que-perdeu-no-jn/

O Globo: Bolsonaro e Haddad prometem respeitar a Constituição de 1988

Candidato do PSL desautoriza Mourão; petista desiste de Constituinte e rechaça José Dirceu

Os dois candidatos que disputam o segundo turno da eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), se comprometeram, ontem em entrevista ao “Jornal Nacional”, da TV Globo, a respeitar a Constituição de 1988 caso sejam eleitos.

O programa de governo do PT, entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), prevê a convocação de uma Assembleia Constituinte, enquanto o vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, criticou o texto da atual Constituição e afirmou que uma nova poderia ser redigida por um grupo de “notáveis”.

A Constituição em vigor, no entanto, não permite a convocação de uma Assembleia Constituinte pelo presidente da República. As mudanças, segundo o texto, devem ser feitas por emendas — a determinação para que as alterações ocorram desta forma é uma cláusula pétrea, que não pode ser modificada.

Haddad afirmou que o partido reviu a proposta e que possíveis reformas que necessitem de mudanças no texto constitucional serão feitas por emendas, que precisam ser aprovadas por três quintos da Câmara dos Deputados e do Senado.

Já Bolsonaro, também ao “Jornal Nacional”, disse que desautorizou Mourão sobre a declaração dos “notáveis” que poderiam promover as mudanças constitucionais. O candidato do PSL afirmou que será “escravo” da Constituição e que não tem poderes para propor uma nova Constituinte.

As duas entrevistas foram acompanhadas por apoiadores e opositores dos candidatos, que se manifestaram com gritos e buzinaços a favor e contra Bolsonaro e Haddad por todo o país.

O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, negou ontem, em entrevista ao “Jornal Nacional”, a possibilidade de convocação de uma Assembleia Constituinte caso seja eleito presidente. Em setembro, o candidato a vice, general Antônio Hamilton Mourão, chamou de “erro” a Constituição de 1988 e disse que uma nova Carta não precisaria ser redigida por parlamentares eleitos pelo povo, mas sim por um “conselho de notáveis”.

—Ele é general, eu sou o capitão, mas eu sou o presidente. Desautorizei (o general) nesses dois momentos. Ele não poderia ir além daquilo que a Constituição permite. Jamais eu posso admitir uma nova Constituinte, até por falta de poderes para tal — afirmou Bolsonaro.

Em outra declaração, Mourão sugeriu que o presidente eleito poderia dar um “autogolpe” com o auxílio das Forças Armadas, em caso de “anarquia” no país. Bolsonaro também negou a hipótese:

—A questão de autogolpe, não entendi direito o que ele quis dizer naquele momento. Mas isso não existe. Se estamos disputando a eleição, é porque acreditamos no voto popular e seremos escravos da Constituição.

O candidato do PSL reforçou que será o responsável pelo governo, caso eleito. Em dois momentos, ele trocou o nome do companheiro de chapa, a quem chamou de Augusto.

—Repito: o presidente será Jair Bolsonaro e quem o auxiliará será o general Augusto Mourão. Hamilton Mourão. E ele sabe muito bem da responsabilidade que tem pela sua escolha como vice. Queremos um governo com autoridade e sem autoritarismo, por isso nos submetemos ao sufrágio popular —disse Bolsonaro.

Para o capitão da reserva, as declarações aconteceram por falta de experiência de Mourão:

— O que falta um pouco ainda (a Mourão) é um pouco de tato, convivência com a política. General Augusto Mourão, agradeço sua participação, mas, nesses dois momentos, ele foi infeliz, deu uma canelada. O presidente jamais autorizaria qualquer coisa nesse sentido.

Bolsonaro iniciou a entrevista agradecendo as lideranças evangélicas e as Forças Armadas, entre outros segmentos que apoiam sua candidatura. O candidato do PSL também negou que pretenda acabar com o Bolsa Família e criar um novo imposto nos moldes da CPMF. Ele afirmou ainda que, se eleito, sua equipe econômica vai apresentar uma proposta isentando de Imposto de Renda quem recebe até cinco salários mínimos.

‘Faremos reformas por emenda constitucional’
Haddad afirma ter revisto posicionamento de Constituinte que estava no programa de governo.
Em entrevista ao “Jornal Nacional”, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, afirmou ter revisto sua posição de fazer uma Constituinte exclusiva, como defendeu durante a campanha em primeiro turno. Disse que irá respeitar a Constituição de 1988, e se eleito, fará as reformas por emenda constitucional.

— Nós (estamos) do lado da social democracia, do estado de bem estar social, que garante o direito do cidadão, que garante o direito do trabalhador, que cumpre a Constituição de 1988, que ampliou as possibilidades e oportunidades — disse ele, na abertura da entrevista.

Questionado sobre seu posicionamento a respeito de uma eventual mudança na Constituição, reiterou:

— Em primeiro lugar, revimos nosso posicionamento, vamos fazer as reformas devidas por emenda constitucional.

Haddad defendeu reformas tributária e bancária como essenciais para a retomada do crescimento.

—No Brasil, quem sustenta o Estado é o pobre, quem paga mais imposto proporcionalmente à sua renda é o pobre. Muitos ricos não pagam absolutamente nada, pagam uma proporção muito pequena de sua renda. Essa reforma tributária será feita por emenda constitucional, que prevê inclusive a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até cinco salários mínimos, uma proposta defendida por nós desde janeiro de 2018.

Sobre a reforma bancária, afirmou não ser possível conviver com a concentração de bancos e as taxas que eles cobram:

—Se nós fizermos com que o juro baixe, as pessoas vão voltar a investir e voltar a contratar. E se diminuirmos os impostos da classe média e dos mais pobres, eles voltarão ao mercado de consumo e exigirão que os empresários contratem força de trabalho para produzir mais.

O petista disse que, no segundo turno, os eleitores poderão confrontar dois projetos para o país e que o do PT visa gerar emprego e oportunidade educacional.

—Desenvolvimento para poucos não é desenvolvimento —afirmou.

Perguntado sobre uma declaração de José Dirceu, condenado pela Lava-Jato, de que ganhar eleição é diferente de tomar o poder, Haddad ressaltou que o exministro não faz parte de sua campanha e que discorda do que ele diz.

— O ex-ministro não participa da minha campanha, não participará do meu governo, e eu discordo da formulação dessa frase. Para mim, a democracia está em primeiro lugar.