jorge amado
Webinar debate o livro Terras do Sem-fim de Jorge Amado
O romance de 1943 escrito por Jorge Amado será analisado em evento online com transmissão pela internet
*João Vitor, da equipe FAP
Escrito por Jorge Amado em 1943, o romance Terras do Sem-fim conta “uma disputa de terra sangrenta”, como destaca a professora Margarida Patriota. Ela vai discutir a obra, nesta quinta-feira (21/10), a partir das 17 horas, em webinar da Biblioteca Salomão Malina e da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), como parte das atividades de pré-celebração do centenário da Semana de arte moderna.
Assista!
A obra será discutida pela escritora durante o evento, que será transmitido na página da biblioteca no Facebook. O público também poderá conferir o debate no portal da FAP e nas redes sociais da entidade (Facebook e Youtube).
A história do romance Terras do Sem-fim mostra como foi, no sul da Bahia, a briga por terras, a fim de transformá-las em plantações de cacau.
É um marco importante do chamado "ciclo do cacau", que ocorreu no período da história econômica do Brasil em que o país era o segundo maior produtor mundial da fruta. Atualmente, no ranking mundial, encontra-se no sétimo lugar.
O romance conta histórias dos coronéis do sul da Bahia que queriam transformar a mata de Ilhéus em uma enorme produção de cacau, mas, para isso, travaram uma intensa batalha pelas terras.
No livro, Jorge Amado aborda também a questão da política em uma cidade comandada pelo coronelismo, a violência impune, a luta pela subsistência que se entrelaça com intrigas políticas e relações amorosas e crimes passionais.
Editado pela Companhia das letras, o livro faz críticas sociais atemporais à um povo ganancioso e pouco empático. A obra tem 282 páginas, é dividida em 6 partes e virou filme no ano de 1948.
*Estagiário integrante do programa de estágios da FAP
Ciclo de Debates - O modernismo na literatura brasileira
Webinário sobre o livro "Terras do sem-fim" - Jorge Amado
Dia: 21/10/2021
Transmissão: a partir das 17h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira
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Há 83 anos, meu pai, o escritor Jorge Amado, publicou seu quinto livro. Ele tinha apenas 23 anos. O romance “Capitães da Areia” retratava a vida dos meninos de rua da Cidade da Bahia, que ele tão bem conhecia. Nos contava que naquele então eles não eram mais que 300 adolescentes e crianças. Podia-se conhecê-los pelo nome. Hoje, nas estatísticas oficiais, são 24.000 no Brasil. Será? Acho que são muitos mais.
A publicação daquele que tem sido o maior best seller de Jorge Amado nos seus quase 100 anos de autor publicado, com alguns milhões de exemplares vendidos no mundo todo e ainda hoje tendo novos contratos a cada ano, coincidiu com a Ditadura do Estado Novo, de Vargas. A Ação Integralista Brasileira de Plínio Salgado preconizava o conservadorismo no lema “Deus, Pátria e família”. Resultado: Livro apreendido, queimado em grande fogueira em praça pública, com decreto em Diário Oficial e tudo. O livro ganhou público através de sua versão para o espanhol, em seguida para o francês. Demorou a sair no Brasil. Desde então, é o mais vendido sempre.
A história de Pedro Bala e do grupo de jovens marginais, de porte bem menor, se comparado com o que se vê hoje nas comunidades dominadas pelas gangues de narcotraficantes e de milicianos, e de Dora, menina que conseguiu fugir aos ataques sexuais de homens perversos, quando da morte da mãe por bexiga negra (e falta de qualquer tratamento), ganhou mundo como um grito de socorro para o gravíssimo problema que, já naqueles idos de 35, chamava a atenção para a total falta de sensibilidade em relação às crianças pobres do Brasil.
Nos anos 50, João e eu estudávamos no Colégio Andrews (único colégio particular que frequentamos na vida, e por pouco tempo), quando uma escola adotou como leitura para seus alunos adolescentes o livro de José Condé, “Um ramo para Luísa”, e o “Capitães “ de papai. Um grupo de mães e pais foi contra, buscaram os jornais:
-- Minha filha jamais será uma Luisa, não quero que ela conheça o lado ruim da vida...
-- Meu filho é um menino descente e não um “capitão d’areia”, para que ler tal barbaridade?
Me lembro das conversas em casa, com Zé Condé e papai, todos muito tristes por não serem minimamente compreendidos. Afinal, quem se preocupava com os menores abandonados? Os socialistas, é claro. “Uma corja... ”
O patrulhamento religioso, naquele tempo, também era grande para as crianças na escola. Millor Fernandes publicou uma piada em sua página semanal em “O Cruzeiro”. A piada era:
Jesus, da cruz, olha para Madalena e diz:
-- Hoje não, Madalena, estou pregado.
A discussão pegou fogo no Andrews. João, meu mano, foi dos poucos ( o único?) a defender Millor.
-- Ele tem o direito de falar de quem quiser, não temos censura no Brasil, que é um país laico ...
No final das aulas, tomou uma surra gigante. Teve a camisa rasgada, o que desgostou muito nossa mãe, pois custava caro e os tempos eram bicudos. Remendou e Juca foi remendado o resto do período letivo.
Nos últimos 40 anos, Capitães da Areia é sempre adotado pelas escolas como leitura obrigatória. Não só no Brasil! Conheci meninos portugueses, franceses e angolanos que leram o livro e aprenderam sobre cuidar da infância com este clássico de Jorge Amado, recomendado por suas escolas.
Assisti à posse do novo presidente, assim como alguma coisa da transmissão dos cargos dos novos ministros. Gosto de estar por dentro daquilo que me causa medo e horror. Foi pior do que pensei. Ouvi da Ministra Damares Alves, o que conta esta nota de jornal:
“Futura ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, a pastora Damares Alves defendeu nesta terça-feira (11) uma “contrarrevolução cultural” e disse que meninas devem ser tratadas como princesas e meninos, como príncipes.
“No momento em que coloco a menina igual ao menino na escola, o menino vai pensar: ela é igual, então pode levar porrada. Não, a menina é diferente do menino. Vamos tratar meninas como princesas e meninos como príncipes”, declarou.
“É uma nova era no Brasil: menino veste azul e menina veste rosa", afirmou a ministra.
A advogada e pastora evangélica assumiu o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos nesta quarta-feira . Em discurso na solenidade de transmissão de cargo a ministra afirmou: "O Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã".
Como assim, Cara Pálida?
Dá medo, não é? A mim deu! Meninas de rosa, meninos de azul. Os que estão na rua, sem a menor chance de nada seriam o que? Provavelmente os de marrom desbotado. Esses ficam para lá, não são mencionadas ações para restabelecer seus direitos como ser humano. Que oportunidades os meninos e as meninas têm, quais suas opções? Infelizmente sabemos que são cooptados pelos bandidos, prostituídos, brutalizados. Eles não querem ser príncipes e nem princesas, querem ter o que vestir, não importa a cor.
É terrível, a gente tem que engolir o discurso em libras da primeira dama, vestida de princesa (vestido copiado da Princesa Aurora, da Disney, que por sua vez copiou de Grace Kelly), para distrair os brasileiros que ainda acreditam em uma “mudança”. Grande marqueteiro eles têm! Nossa primeira dama é uma princesa! E por isso ela se vestiu como uma das que está no imaginário da população. A primeira mulher do seu marido fugiu dele, foi para a Noruega, prestou queixa por agressão e na campanha voltou atrás... mas esta o ama e o beija na boca para que todos os brasileiros vejam... Vamos, meu povo, quem sabe despertem dessa história de conto de fadas, como aconteceu com a Princesa Aurora, a Bela Adormecida. Quem sabe um beijo pelas crianças desamparadas do Brasil, aquelas sem cor, faça com que abram os olhos.
Mal acabara de escrever estas reflexões, e quem eu vejo sendo entrevistada na televisão? A própria ministra Damares. O assunto do rosa e do azul (os príncipes e princesas fizeram menos sucesso de público...) como tema palpitante. Ela fala em metáfora, em combater a discriminação na escola dos que usam azul e rosa, o bullying feito às crianças que querem ser tratados por príncipe e princesas que querem ficar longe da realidade da vida, isso lhe parece cruel... Não vejo esta resposta como coisa séria. Sobre o menor abandonado nenhuma palavra, também não foi perguntada. Certamente para este tema a resposta seja a diminuição da maioridade legal e balas a queima roupa. Pobres Pedros Balas, Sem Pernas, Gatos, Doras...
Sempre saindo pela tangente, de repente uma resposta, na hora do Ping Pong, é dada sem hesitação. Qual o seu escritor brasileiro preferido?
-- Vocês vão se surpreender! É Jorge Amado...
O jornalista quis saber porque deveria ficar surpreendido. Eu, que de verdade fiquei surpresa, pensei com meus botões: Vai falar agora de comunismo, da esquerda perversa, etc. Nada disso, motivo do espanto para ela é por ser autor que fala de sexo em suas obras!
Falou de Tieta e Gabriela. Eu aproveito aqui para falar também de Tereza Batista, menina vendida pela tia ao Capitão sado-masoquista. O povo brasileiro, que Tereza representa, é tão forte e formidável, que mesmo sem os apoios necessários consegue dar a volta por cima, enfrentar a crueldade, lutar. Um grupo feminista italiano usa seu nome como emblema.
Gostaria de aproveitar este gancho e pedir à Ministra que, sendo mesmo fã de meu pai, leia “Capitães da Areia” e “Tereza Batista, cansada de guerra”. Leia e reflita. E leia tantos autores maravilhosos que existem no Brasil. Não deixe que a literatura brasileira seja banida das escolas, ela que tem contribuído para a formação do hábito de leitura de nossos meninos e meninas. Ler a boa literatura brasileira, do velho Graciliano, passando por Milton Hatoun e Raduan Nassar, chegando aos jovens como Giovani Martins, é muito melhor que os contos de fadas da Disney. Refletir sobre o que é o nosso país é sem dúvidas um caminho melhor para a formação da nossa juventude, do que sonhar com príncipes e princesas.
Finalmente, gostaria de dizer que eu sou socialista. Aprendi com meus pais que nós, seres humanos, somos iguais, nascemos para ter liberdade, pensar pela própria cabeça, sermos unidos em irmandade, compartilharmos ao máximo o que temos em excesso com os que têm menos. Faço, da minha parte, tudo o que posso, com alegria e gratidão por esse maravilhoso povo brasileiro.