João batista
'Golpe de 64 mergulhou o país em ditadura de 21 anos', lembra João Batista
Em artigo publicado na revista Política Democrática Online de março, cineasta e escritor faz uma visão saudosista do período antes da ditadura militar
Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP
O cineasta e escritor João Batista faz um relato emocionante da migração do cinema para a literatura, em artigo que publicou na revista Política Democrática Online de março. A publicação mensal é produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
No início da década de 1960 do século 20, conforme ele conta, a cultura brasileira dava um salto para a modernidade. “O golpe de 1964 jogou por terra essa utopia, mergulhando o país em uma ditadura de 21 anos”, lembra ele.
“Para minha geração, o cinema encarnava uma utopia vigorosa”, afirma. “Vindo do interior mineiro, entrei na Poli (Escola Politécnica da USP) em 1960, já com 20 anos, muita imaginação, crise existencial profunda e pouco conhecimento cultural”, lembra.
“Rica formação”
Batista conta que as crises se sucediam, principalmente em meio à eleição de Jânio, renúncia com golpe explícito, militares tentavam impedir a posse de Jango, mas, segundo ele, Jango tomava posse gerando um governo popular seguindo a mesma crise que se aprofundava até o golpe de 1964. “De qualquer maneira, um período rico de formação”, diz.
“Em quatro anos passando da esperança, da luta à derrota para os militares, enquanto, bebendo do porre democrático do governo JK, a cultura brasileira dava um salto para a modernidade”, relata. “Bossa Nova, Teatro Novo, Cinema Novo. Minha geração finalmente tinha sua trilha traçada rumo ao futuro, distanciando-se de uma Brasil atrasado e pobre”, acrescenta.
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Persona em Foco, da TV Cultura, entrevista nesta quarta o ex-ministro João Batista
Dirigente da FAP relembra sua vida e trajetória nesta quarta (18), na TV Cultura
Por Germano Martiniano
O ex-ministro da Cultura e produtor de cinema, Joao Batista de Andrade, relembra sua vida e trajetória no programa Persona em Foco, da TV Cultura, que vai ao ar na noite desta quarta-feira (18), às 23h15. O programa tem como objetivo registrar aspectos da vida pessoal e da carreira de personalidades do teatro, bem como as suas impressões sobre o ofício. A entrevista com o também dirigente da Fundação Astrojildo Pereira será reprisada no domingo, às 23h.
João Batista construiu uma longa história no cinema brasileiro. Iniciou o curso na USP, em 1963. Mas, no ano seguinte, abandonou os estudos por causa do golpe militar. E mesmo com a ditadura, ele não deixou a produção de lado. Em 1967, lançou o documentário Liberdade de imprensa, que foi apreendido pelo exército durante Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes).
Os filmes de Batista sempre tiveram um cunho político e social, influenciados, inclusive, por sua formação universitária durante o regime militar. “Sou de uma geração que viveu um Golpe de Estado, portanto, acredito ser natural que tivéssemos uma visão crítica da sociedade e isso marcou para sempre meu cinema”, destacou João Batista em entrevista à FAP.
O ex-ministro da Cultura também ressaltou ainda as mudanças que o cinema brasileiro tem sofrido ao longo das décadas. “O cinema vem se expandido em vários sentidos, inclusive no número de pessoas na atuação e produção. Atualmente, inclusive, vemos também muito mais mulheres no cinema em várias frentes. Contudo, ainda temos um problema de mercado, no qual o cinema norte-americano ainda se sobrepõe ao nosso”.
A partir de sua vivência no período do regime militar, quando questionado sobre a narrativa petista do Golpe, no que se refere ao impeachment de Dilma Rousseff, João Batista afirmou que, de certa forma, foi contra a saída da ex-presidente do governo. “Por ter vivido a ditadura, eu temi que o impeachment pudesse deixar uma cicatriz muito grande na democracia brasileira, embora há que se admitir que as coisas já estavam muito mal, estávamos em uma crise profunda”, salientou.
João Batista – que foi ministro da Cultura no governo Temer – falou ainda sobre sua experiência no ministério. “Eu comecei a trabalhar com o Roberto Freire (atual presidente do PPS) no Ministério da Cultura. Quando ele renunciou, fui chamado para assumir como ministro. Achei que era uma possibilidade fazer um bom trabalho voltado para a cultura e, principalmente, trabalhar pelo cinema”.
No entanto, ele relembra que não se sentia muito confortável no cargo. “Desde quando assumi o ministério, eu sentia um mal-estar, pois eu era contra o governo Temer. Mas, pensando na possibilidade de fazer um bom trabalho, eu permaneci. Entretanto, a pressão da função e a “sede” dos parlamentares por cargos me incomodavam bastante e, assim, achei mais prudente sair”, concluiu o produtor de cinema.