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Bolívar Lamounier: Bolsonaro: seis por meia dúzia?

Vamos lá, capitão, mostre sua coragem! Visite um hospital, conheça o trabalho que o pessoal médico faz nas UTIs

Na eleição presidencial de 2018, dezenas de milhões de brasileiros optaram pelo voto útil mais inútil de nossa história. Queriam se livrar do PT, mas arranjaram Bolsonaro. Como escreveu o filósofo americano Andrew Peirce, todo problema é causado por soluções. Pelas vagas indicações programáticas feitas durante a campanha, é plausível que a emenda tivesse saído um pouco melhor que o soneto. Mas não saiu, por várias razões, entre as quais duas são óbvias. Primeiro, porque o coronavírus não estava a fim de cooperar. Ao contrário, está deitando e rolando. O brasileiro médio não se distingue por um sentimento acentuado de responsabilidade ou por uma disposição a colaborar. Adora aglomerações.

A segunda razão chama-se Jair Messias Bolsonaro. Ignorante, autoritário e irresponsável, ele parece passar o dia todo pensando “naquilo”: tumultuar o país, com uma indisfarçável intenção de arrastá-lo para um golpe militar. Ou seja, o Brasil, quando mais precisava de um líder sensato e apaziguador, tornou-se refém de um especialista em dividir e desorganizar. Se conhecesse um pouco mais de história, perceberia que o primeiro a ser defenestrado por um golpe será justamente ele, Jair Bolsonaro. Conseguirá ser nomeado para nossa embaixada (que no momento está fechada) em Vanuatu.

Dado vivermos sob o regime presidencialista de governo é difícil vislumbrar uma alternativa legítima e constitucional até 2022. Tivéssemos o parlamentarismo, a solução para a crise institucional permanente que temos tido e a recuperação da legitimidade estariam ao alcance da mão: bastava antecipar as eleições gerais previstas para 2022. Renovar o Congresso, sem qualquer trauma ou ruptura, e organizar um novo governo. Conferir ao sistema
a flexibilidade que ele não possui.

Esse, porém, é um oásis distante. Mesmo depois do desastre dos governos Lula e Dilma, e experimentando agora o desgoverno Bolsonaro, o brasileiro médio acredita piamente que nossa versão de presidencialismo populista é o único modelo que se adapta ao Brasil. O único capaz de assegurar a “governabilidade”. Oremos, pois, para que, nos dois anos e meio de mandato que lhe restam, Bolsonaro ao menos demonstre alguma empatia pelas cerca de 40 mil familiares enlutadas.

Que troque o escárnio por alguma compaixão. Que visite um hospital, conheça o trabalho que o pessoal médico faz nas UTIs, quem sabe até colabore em alguma tarefa que não requeira conhecimento especializado. Vamos lá, capitão, mostre sua coragem.