Haddad
Cristiano Romero: Presidentes não podem agir como tiranos
Dilma caiu por razões políticas, mas a crise pavimentou o caminho
O Brasil chegou a 2010 vivendo um momento mágico. Tendo vencido a guerra de 30 anos contra a inflação crônica, voltou a crescer a um ritmo respeitável (depois de duas décadas "perdidas"), com recuo da pobreza, acesso das empresas a crédito barato no exterior, investimento estrangeiro recorde no país (menor apenas que o recebido pela China). Depois de um longo inverno, o Brasil estava novamente na moda. Apesar dos muitos problemas não resolvidos, sentíamo-nos fortes para enfrentá-los.
Em 2010, a economia brasileira cresceu 7,5%, a taxa mais alta em 24 anos. A inflação - de 5,91% - estava relativamente alta para padrões internacionais, mas dentro do intervalo do regime de metas, na ocasião de 2,5% a 6,5%. O ritmo acelerado de expansão do PIB sobreveio à perturbadora crise mundial de 2008-2009. Depois de submeter-se a uma dieta fiscal que perdurou três mandatos presidenciais, em dois governos (Fernando Henrique Cardoso e Lula), pela primeira vez, o Brasil sobreviveu a uma crise externa sem sofrer disrupção.
Os 16 anos de FHC e Lula, os dois primeiros presidentes eleitos na Era do Real, consagraram alguns consensos, necessários à manutenção da inflação em níveis baixos, ao equilíbrio das contas públicas (condição sine qua non para conter o aumento da dívida mobiliária) e à garantia de um certo ritmo de crescimento do PIB, ainda que pequeno para as necessidades do povo brasileiro.
Alguns dos consensos são: disciplina fiscal, traduzida pela geração permanente de superávits primários (receitas menos gastos, exclusive, a despesa com juros) nas contas do setor público; regime de metas para a inflação, adotado pelo país desde meados de 1999 e que, de forma flexível, domou a inflação e diminuiu a volatilidade do produto; e o câmbio flutuante, fortalecido pela criação de um seguro (a acumulação de reservas cambiais) para o enfrentamento de crises de liquidez. Outros consensos: a ampliação da rede de proteção social e a realização de reformas institucionais.
Em 2010, portanto, nem o mais pessimista dos brasileiros - inclusive, os derrotados nas eleições daquele ano - imaginou que, oito anos depois, chegaríamos a uma eleição duvidando da estabilidade econômica e política arduamente conquistada ao longo de 33 anos de redemocratização. Em meio a um clima de euforia, Lula elegeu Dilma Rousseff, uma neófita em política, para sucedê-lo. Havia desconfiança no mercado, mas os eleitores acreditaram na palavra empenhada pelo petista.
O Brasil, porém, é mais complexo do que supõe a nossa vã filosofia. Do momento em que foi comunicada por Lula de que seria sua candidata ao dia em que venceu a disputa presidencial contra José Serra (PSDB), Dilma disse "amém" a tudo o que seu mentor lhe ensinou. Para sobreviver em Brasília e São Paulo, ela teria que, respectivamente, dialogar sempre com os expoentes de sua ampla base de apoio parlamentar e construir pontes com os banqueiros e os principais empresários do país. A missão, recomendou Lula, seria facilitada por Antonio Palocci, designado pelo ex-presidente para comandar a campanha e depois as áreas política e econômica do governo.
A obediência de Dilma durou pouco - Lula sabia que presidente no Brasil é, relativamente, mais poderoso que nos Estados Unidos e que, por isso, ela faria o que bem lhe entendesse; o que ele não esperava é que ela fosse mudar o que estava dando certo, razão última da sua chegada ao Palácio do Planalto.
Durante a transição de governo, no fim de 2010, quando se recusou a manter no Banco Central Henrique Meirelles - por este não se comprometer a entregar a taxa de juros real em 2% dali a quatro anos -, Dilma indicou que o rumo das coisas mudaria. Instalada no poder, levou apenas seis meses para derrubar Palocci, o fiador de Lula. Cercada de críticos da política econômica que a levou ao poder - e de bajuladores amedrontados com seus gritos -, Dilma mudou tudo e jogou o país na mais longa e penosa crise econômica de sua história, a que nos trouxe a esta encruzilhada eleitoral.
As disputas pacíficas de 2006 e 2010 deram lugar à turbulência em 2014 e à incerteza em 2018. A economia entrou em recessão durante a sucessão de quatro anos atrás. Os desequilíbrios que a aprofundaram nos anos seguintes já haviam sido contratados por Dilma. Em vez de avisar aos eleitores que faria um ajuste para corrigir os problemas, a ex-presidente foi aos píncaros do populismo ao prometer mais do mesmo. Eleita no segundo turno com dificuldade e pressionada por Lula, indicou que faria correção de rumo, mas, sempre mal assessorada, desistiu seis meses depois, quando a situação tinha começado a melhorar...
A crise voltou com tudo em meados de 2015. Dilma comprou brigas com a própria base de apoio e isolou o vice Michel Temer depois de lhe dar e tirar a articulação política. Achou que governaria apenas com o PT e, por tudo isso, com apenas 16 meses do segundo mandato, sofreu impeachment. Este não foi um golpe institucional, fruto de um ato ilegal, mas mostrou que nossa democracia tem falhas gritantes - uma delas: o presidente da Câmara não deveria ter o poder monocrático de decidir se um pedido de impeachment deve ou não tramitar; outra: vice-presidentes deveriam ter atribuições definidas em lei - nos EUA, presidem o Senado, portanto, não têm como conspirar contra o presidente -; e por fim: presidentes deveriam se aposentar compulsoriamente da política após uma reeleição.
Dilma caiu por razões políticas, mas foi a severa crise que ela produziu a responsável por pavimentar o caminho da deposição. A baixa institucionalidade brasileira explica por que um governo foi tão longe na destruição de políticas que ajudaram a tirar o país da hiperinflação, a organizar as contas públicas, a criar as condições para crescer e a enfrentar minimamente nossas chagas sociais. Fica a lição: mesmo eleitos, presidentes não podem agir como tiranos, ainda que aparentemente sob o manto das leis.
A tragédia dos anos Dilma disseminou na sociedade um forte sentimento antipetista. Ainda assim, encarcerado, Lula tem o apoio de cerca de 40% do eleitorado. Fernando Haddad, seu candidato, tem 21% das preferências, beneficiário da transferência de votos do ex-presidente e da desidratação de Marina Silva, cujos eleitores temem a vitória de Jair Bolsonaro. Este cresceu no vazio do fracasso político do governo Temer e tirou o PSDB da condição de antiLula.
César Felício: O choque cultural
Haddad no polo oposto a Bolsonaro explica o #Elenão
Talvez seja a primeira vez em uma campanha eleitoral que manifestações de grande porte são convocadas contra um candidato, e não a favor. A campanha #Elenão, claro está, é a primeira ação em bloco com sentido eleitoral que o feminismo faz no Brasil. São 13 concentrações neste sábado em São Paulo, 7 no Rio Grande do Sul, 5 no Rio de Janeiro, 4 em Minas Gerais. Um dos atos está convocado para a Praça Halfeld, em Juiz de Fora (MG), a dois quarteirões do local do atentado contra o líder das pesquisas de intenção de voto para a Presidência.
O "gap" na questão de gênero era um desafio para Jair Bolsonaro desde o início da sua campanha. O candidato do PSL é uma espécie de arquétipo do macho-alfa, quase uma caricatura do homem opressor. No momento mais decisivo de sua carreira política, Bolsonaro optou por não fazer concessões e forjar sua candidatura sob a consigna de um só povo, uma só vontade, um só líder: dar espaço para mulheres, negros, gays, nordestinos etc seria dividir o que deve estar unido.
Negar a diversidade social e política, portanto, está no espírito da candidatura de Bolsonaro. Ela só faz sentido se não apresentar nenhuma transigência neste tema. Dos candidatos com alguma relevância, ninguém foi tão longe quanto ele. É certo que o tempo hoje não é de conciliação, mas das chapas que concorrem à presidência a encabeçada pelo deputado do PSL é a única que não conta com mulher como candidato a presidente ou a vice.
O embate gerado pelo #Elenão, contudo, vai além da questão da gênero. Ele ganha outro alcance quando a perspectiva de polarização anti-Bolsonaro está pendendo mais para Fernando Haddad do que para Ciro Gomes.
Ciro é um político convencional de centro-esquerda, dentro da tradição de alianças que marca a prática partidária do Nordeste nos últimos anos. Transita em vários nichos.
Haddad personifica uma esquerda muito centrada na questão de valores, que é ortodoxa na economia e arrojada em temas identitários.
A relativização cultural, tanto no Brasil como afora, não se dá sem fricções. Condutas que faziam parte dos usos e costumes estão à beira da criminalização e o reacionarismo vive um despertar. Bolsonaro se tornou relevante quando viveu sua epifania nos idos de 2010, ao se deparar com um seminário LGBT nas dependências do Congresso.
O combate ao mítico "kit gay", não por acaso uma polêmica que transcorreu na gestão de Fernando Haddad no Ministério da Educação, o projetou. Recapitulando a polêmica: em 12 de abril de 2010, Haddad assinara um despacho em que criou uma comissão coordenada pelo então secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade André Lázaro, para a elaboração de um material anti-homofobia a ser distribuído na rede escolar. Meses depois, a tal comissão promoveu a fatídica reunião no Congresso.
Circulou material ainda em estudo no grupo, integrado por militantes LGBT e Bolsonaro acusou o ministério de preparar uma ação de doutrinação anti-hétero para crianças. A ação foi suspensa. Em entrevista ao "Cadernos Cenpec" em 2012, Lázaro reclamou que o governo não quis partir para o embate e que o movimento social tentou dar uma volta no MEC.
A confusão sobre o "kit gay" aconteceu poucos meses depois de outra grande polêmica do governo Dilma, a divulgação do Plano Nacional de Direitos Humanos, em que o governo enfureceu militares, ruralistas, religiosos e um vasto et cetera e onde também se voltou atrás.
Na Prefeitura de São Paulo, com poucos recursos, emparedado pelo junho de 2013, Haddad apostou na nova vertente da esquerda para se firmar. É ela um de seus pilares no momento, quando muitos desconfiam do grau de autonomia que terá em relação a Lula e da sombra do caixa dois que paira sobre suas contas na eleição passada. É notável o contraste entre a vice do petista, descolada mas com codinome na planilha da Odebrecht, e o vice do candidato do PSL.
Manuela e Haddad combinam perfeitamente. Já Bolsonaro e Mourão simbolizam a mesma coisa, mas é evidente a existência de um problema entre eles.
Mourão
O general Hamilton Mourão é um candidato a vice como jamais houve no Brasil. O assombro deu-se antes mesmo do 6 de setembro, ao criticar publicamente propostas de Bolsonaro para educação.
O espanto aumentou quando o vice se candidatou a substituir o titular acamado em debates, sem combinar com ninguém do bolsonarismo. Voltou a causar constrangimento quando demonstrou em entrevista simpatia pela tese de um autogolpe a la Fujimori. Em seguida desenvolveu a teoria do desajuste natural das famílias comandadas por pais e avós.
A crítica ao 13º salário divulgada ontem foi mais do que um tiro no pé da campanha, foi um soco no abdômen ferido do candidato, tão forte que provocou reação imediata no Twitter.
Bolsonaro afirmou que o artigo 7º, que trata dos direitos sociais, é cláusula pétrea na Constituição. Na realidade o tema é controverso, há dúvidas sobre o alcance do parágrafo 4º, artigo 60 da Constituição, que disciplina as cláusulas pétreas, mas a avaliação mais corrente é a de que o deputado está certo.
Em caso de vitória da dupla, é um governo que já nasce cindido entre presidente e vice, rompidos de antemão. A situação mais semelhante a essa na história brasileira foi a de Jânio Quadros e João Goulart, mas naquele caso presidente e vice eram eleitos de maneira separada.
Roriz
Joaquim Roriz jamais perdeu uma eleição no Distrito Federal da qual tenha diretamente participado. Sua vitória em 1998 foi marcante. Então ex-governador, concorria contra Cristovam Buarque, petista que disputava a reeleição.
O pleito ganhou uma narrativa de luta da "civilização" (Cristovam) contra as "trevas" (Roriz). O então petista havia lançados políticas pioneiras, como o programa Bolsa Escola e uma eficaz campanha de educação do trânsito em favor do pedestre. Roriz se notabilizara pelo português ruim e pela acusação de distribuir lotes em troca de votos. Mais votado no primeiro turno, Cristovam humilhou o rival no debate dias antes do segundo turno. Quando as urnas se abriram, a arrogância da centro-esquerda recebeu uma lição. As "trevas" venceram.
*César Felício é editor de Política.
Matias Spektor: Haddad confronta dilema externo
Para estratégia vingar, ex-prefeito teria de rasgar a plataforma de política externa do PT
Fernando Haddad começou a testar o modelo de relações exteriores inventado pela campanha presidencial de Lula em 2002: para reverter a ojeriza de bancos de investimento e agências de rating, o líder da chapa faria um compromisso com o mercado.
A estratégia começou há três semanas, quando Haddad vazou as primeiras notícias à imprensa de suas conversas reservadas com grandes bancos internacionais. Na terça (11), Kennedy Alencar plantou o nome de Marcos Lisboa para ministro da Fazenda. Nesta quarta (12), a Bloomberg publicou texto elogioso às supostas credenciais do candidato junto ao mercado financeiro.
Ciente da relação umbilical entre expectativas de mercado e postura geopolítica, Haddad ainda começou a repetir que, diferentemente do que dizem Gleisi Hoffmann e a burocracia de seu partido, Venezuela e Nicarágua estão longe ser democracias.
Para essa estratégia vingar, Haddad teria de rasgar a plataforma de política externa do PT. Ele tiraria do barco os economistas da Unicamp que o assessoram e nomearia uma figura pró-mercado para liderar a equipe. Essa pessoa montaria uma agenda pública de reuniões com investidores estrangeiros, funcionários do governo americano e técnicos graúdos do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Além disso, Haddad enviaria um emissário a Buenos Aires para tirar foto com o chefe de gabinete de Mauricio Macri. Ao sair da Casa Rosada, o assessor diria à imprensa que seu candidato fará tudo para evitar uma crise de confiança capaz de desatar a crise de economias emergentes, para a qual o Fundo começou a alertar há menos de uma semana.
Foi isso que Lula fez com disciplina entre maio e outubro de 2002. Mobilizou dois operadores graúdos —Antonio Palocci e José Dirceu— e, com isso, obteve o apoio da embaixada americana.
À época, Lula precisou desautorizar ou silenciar aqueles que, dentro do PT, davam pitacos alternativos a observadores estrangeiros, como o candidato ao Senado Aloizio Mercadante.
A alternativa de Haddad é usar o modelo Dilma em 2014: manter a rota atual com obstinação, deixando intactas as teses esdrúxulas do partido sobre situação fiscal do país. Nesse mundo, ele continuaria dizendo que reverterá as reformas de Temer e que irá mesmo convocar um plebiscito popular sobre capital estrangeiro no pré-sal.
Qual escolha Haddad fará é impossível de prever. Aquela feita por Lula no passado é a mais custosa, mas também a única que permitiria a ele, ganhando a eleição, assumir o governo tendo algum chão.
Seja qual for a alternativa escolhida, ela definirá o risco político global do Brasil durante este ciclo eleitoral.
*Matias Spektor é professor de relações internacionais na FGV.
O Globo: Com aval de Lula, Haddad é confirmado como candidato à Presidência pelo PT
Petistas falam em participação do ex-presidente em novo governo e possibilidade de libertação
Luiza Dalmazo e Sérgio Roxo, de O Globo
CURITIBA - O PT confirmou nesta terça-feira o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como novo candidato do partido na corrida presidencial. Ele substitiu definitivamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vinha sendo mantido como o cabeça de chapa enquanto sua defesa tentava reverter a sua inelegibilidade decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O nome de Haddad foi aprovado por unanimidade pela executiva nacional do PT, que se reuniu em um hotel de Curitiba, cidade onde Lula está preso desde 7 de abril. Na reunião, foi lida uma carta do ex-presidente endereçada à direção do partido, em que ele sugeria que a sigla indicasse Haddad como seu substituto.
Lula escreveu mais duas cartas, uma para o povo brasileiro e outra para o próprio Haddad, até então candidato a vice na chapa. O ex-prefeito chegou à reunião da Executiva após visitar o ex-presidente na PF durante a manhã. Ele já havia passado boa parte da segunda-feira reunido com o líder petista e advogados.
Após a reunião, petistas tentaram indicar que Haddad vai governar junto com Lula e que uma vitória do candidato petista pode ajudar o ex-presidente a deixar a prisão. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias, afirmou:
- Lula continua candidato pelo nome do Haddad. O Haddad vai governar junto com o Lula. Vai montar o ministério junto com o Lula.
Márcio Macedo, um dos dos vice-presidentes do PT, acrescentou no mesmo vídeo que Lula "orientou" ao partido a prosseguir na lluta e disputar a eleição.
- Queria dizer aos meus companheiros que é fundamental a eleição do Haddad inclusive para a libertação do Lula - afirmou Marcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT, no mesmo vídeo.
Com a mudança, Manuela D´Ávila, do PCdoB, foi confirmada como vice de Haddad. Os petistas pretendem fazer um anúncio público, ainda na tarde desta terça-feira, em frente ao prédio da Superintendência da Polícia Federal.
O advogado da área eleitoral do PT Luiz Fernando Pereira afirmou que, agora, o partido tem até às 19h desta terça-feira para protocolar a mudança na cabeça de chapa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Haddad não precisa acompanhar o procedimento:
- Registro é lá em Brasília. É só protocolar lá até 19h.
Raymundo Costa: Diminui poder de Lula para transferir votos
PT tem pouco tempo para viabilizar Haddad presidente
A menos que sofra uma violenta queda nas intenções de voto, o deputado Jair Bolsonaro é o cara a ser batido nas eleições presidenciais. Há precedentes de reversão rápida de expectativa, sendo o mais próximo o de Marina Silva (Rede Sustentabilidade), que em 48 horas perdeu o lugar no segundo turno para o senador Aécio Neves (PSDB), o que parecia assegurado, após sofrer intensa campanha negativa movida pelo PT na propaganda oficial, em 2014.
Ainda na noite do sábado que antecedeu a eleição, Marina teve uma reunião com o então presidente do PSB, Roberto Amaral, para tratar de providências para o segundo turno. Os dois foram dormir certos de permanecer na campanha e disputar com a ex-presidente Dilma Rousseff a principal cadeira do Palácio do Planalto, mas acordaram no dia seguinte com Aécio Neves com o pé na porta.
Sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa, só uma campanha semelhante de desconstrução - e com o mesmo sucesso - pode ameaçar a posição de Bolsonaro. Os próximos sete, dez dias dirão sobre a eficácia dos petardos dirigidos contra o candidato do PSL, principalmente do aspirante do PSDB, Geraldo Alckmin. Mas o navio de Bolsonaro, aparentemente, segue sem grandes danos estruturais no casco. Nesse ritmo, a disputa de 7 de outubro é pela segunda vaga.
Quem vai, Marina, que hoje ocupa a segunda colocação, Alckmin, que ainda não decolou, Ciro Gomes (PDT), que ficou isolado ou Fernando Haddad, o ex-prefeito de São Paulo, com total apoio de Lula? Em geral os analistas têm afirmado que Lula terá capacidade de transferência de votos suficiente para colocar Haddad no segundo turno. Logo o próximo presidente sairia de uma disputa entre Bolsonaro e Haddad. Há controvérsia.
O professor David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), vê mais obstáculos à frente de Haddad do que de Marina Silva e Geraldo Alckmin. Entre a última sexta-feira e o início desta semana foi possível perceber o motivo das dúvidas do professor: a campanha de Haddad com Lula é uma coisa e sem Lula é outra inteiramente diferente.
Como a sessão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que cassou o registro da candidatura Lula terminou tarde da noite, já na madrugada de quinta-feira para sexta-feira, o programa do PT e algumas inserções ainda tiveram uma forte presença do ex-presidente - menos em São Paulo, onde o Tribunal Regional Eleitoral acabou com a festa e impediu a vinculação do programa do candidato petista ao governo, Luiz Marinho, tendo Lula como cabo eleitoral.
As pesquisas de intenção de votos que mostram Haddad com 12%, 14% na largada partem do pressuposto do total apoio de Lula, que não estará disponível, ao ex-prefeito. Ou seja, mostram o "Andrade", como o vice na chapa do PT estaria sendo chamado no Nordeste, e não o Haddad, que sem a cobertura de Lula patina na mesma faixa de um dígito que Alckmin e Ciro, nas pesquisas eleitorais.
Em 2014 Lula empenhou todo seu prestígio e os recursos do PT na campanha de Dilma Rousseff, mas não conseguiu evitar o segundo turno e Dilma ganhou com estreita margem de diferença. É provável que Lula seja hoje um cabo eleitoral menos eficiente do que pode ser em 2014, a menos que a vitimização patrocinada pelo PT tenha efetivamente transformado o ex-presidente num mártir, o que ainda carece de comprovação.
O que deve reduzir o impacto do apoio de Lula é o seu banimento da telinha e das ondas do rádio, determinados pela Justiça Eleitoral. Em resumo, não pode ter comercial com Lula apoiando Haddad. Está proibido pelo TSE, decisão que vem sendo cumprida com rigor por seus ministros. Já nesta segunda-feira o ministro Luiz Salomão determinou que o PT suspenda a veiculação no horário eleitoral de uma peça para o rádio que apresenta Lula como candidato a presidente. Multa de R$ 500 mil em caso de descumprimento.
Esse era o dilema ontem enfrentado pelo PT. As cabeças mais frias do partido argumentavam pela decisão imediata da substituição do candidato, a fim de dar tempo para que Haddad possa desencadear uma ofensiva de cinco semanas para tentar se fazer conhecido e escapar da faixa dos candidatos com um dígito.
Esses lembram que o partido perdeu fragorosamente a eleição municipal de 2016, o que sempre tem influência na eleição presidencial, dois anos mais tarde. Se perder com Haddad, o PT precisa ao menos sobreviver com uma bancada de média para grande no Congresso, para poder garantir recursos para as eleições seguintes de 2020 e 2022. Essa turma tem pressa. E duvida, mesmo quando as pesquisas informam que o PT é um partido com 24% das preferências do eleitorado, léguas à frente do segundo colocado.
Adiar seria o suicídio político. Esperar até o dia 11, prazo estipulado pelo TSE, para substituir Lula por Haddad deixaria o candidato com apenas três semanas de campanha. Se já parecia difícil, ficaria pior. Ou como diz Fleischer: o PT está naquela situação de que se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Os radicais do partido, que têm prevalecido na discussão, ainda não se conformaram em por fim à vitimização de Lula. Querem um mártir. Os mais sensatos queriam uma decisão ontem mesmo.
Resta saber como os outros candidatos vão tirar proveito dessa situação do PT. Alckmin segue na linha de tirar o máximo de votos possíveis de Bolsonaro. Há dúvida sobre se é a melhor estratégia. Ao redor do candidato já há quem defenda que ele deve partir logo para uma disputa do voto útil tendo como alvo não Bolsonaro, mas Marina Silva, hoje uma ameaça real à passagem do tucano para o segundo turno, se der certo a aposta de Alckmin no horário eleitoral para deixar a segunda divisão dos candidatos.
As pesquisas até agora mostraram que quem tira mais votos de Lula é Marina Silva. A candidata do Rede Sustentabilidade sobe de 8% para 16%, na disputa sem Lula. Difícil dizer se essa é a tendência que vai vingar. Mas é certo que a manutenção de Lula, a partir de agora, só prejudica o candidato do PT.
El País: O estoque oculto de votos de Fernando Haddad
É possível imaginar que a reserva de votos no petista esteja acima do que as pesquisas apontam. Ele terá, entretanto, alguns desafios, como o fato de o PT não contar com a mesma estrutura de campanha e apoio de outras eleições
Por Oswaldo do E. Amaral, do El País
O Ibope divulgou, no dia 20, sua primeira pesquisa nacional de intenção de voto para a Presidência após o registro das candidaturas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Confirmando outras sondagens realizadas no mesmo período, o instituto apontou que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida com 37%, seguido de Jair Bolsonaro (PSL), com 18%, e Marina Silva, com 6%. Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) apareceram com 5% cada. Dada a margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais, os três últimos encontram-se tecnicamente empatados.
O Ibope também testou outro cenário, no qual Fernando Haddad (PT) substitui Lula na urna eletrônica. Nesse caso, Jair Bolsonaro lidera com 20% das intenções de voto, seguido por Marina Silva, com 12%, e Ciro Gomes, com 9%. Dada a grande possibilidade de impugnação da candidatura de Lula, nesse texto tentamos avaliar as possibilidades de crescimento de uma eventual candidatura de Fernando Haddad.
Mais análises das eleições 2018
Quando apresentados os candidatos no cenário sem Lula, Fernando Haddad obtém 4% das intenções de voto, com pouca variação nos segmentos sociodemográficos. Já quando a pergunta indica que Haddad seria o candidato apoiado por Lula, 13% dos entrevistados responderam que votariam nele “com certeza”, enquanto 60% disseram que não votariam “de jeito nenhum”. Observando os dados por segmentos sociodemográficos, o apoio a Haddad, quando vinculado a Lula, fica mais parecido com o perfil do apoio dado ao ex-presidente. Na região Nordeste, 22% dos respondentes afirmaram que votariam nele “com certeza”, contra apenas 9% na região Sul. Entre os que possuem renda familiar de até um salário mínimo, 17% declararam que votariam nele seguramente e entre os que estudaram até a quarta série do ensino fundamental, 18%.
É interessante notar também que, na pesquisa Ibope, o Partido dos Trabalhadores (PT) foi mencionado por 29% dos eleitores brasileiros como a agremiação favorita, em pergunta estimulada. Em segundo lugar, aparece o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), com 5%. Na pesquisa realizada pelo Datafolha em junho, o PT aparecia com 19% e o PSDB, com 3%. No entanto, a pesquisa Datafolha realizou a pergunta de forma espontânea. Nos dados divulgados pelo Ibope, a preferência pelo PT se dá de maneira mais forte entre os habitantes da região Nordeste (46%), entre pretos e pardos (34%), pessoas que frequentaram até a quarta série (34%) e indivíduos cuja renda familiar é inferior a um salário mínimo (36%).
Segundo dados obtidos por duas rodadas do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), em 2010 e em 2014, cerca de 80% dos que afirmaram gostar do PT acabaram votando em Dilma Rousseff, candidata apoiada por Lula, em ambos os pleitos.
Dessa forma, é possível imaginar que o estoque de votos de Fernando Haddad esteja acima do que as pesquisas apontam até o presente. Se partirmos dos dados do Datafolha, estaria em torno de 16%. Se tomarmos a sondagem do Ibope, em algo como 23%.
A variação verificada nos segmentos sociodemográficos entre aqueles que afirmaram que votariam em Haddad “com certeza” também indica que há espaço para o crescimento entre os setores em que o ex-presidente Lula é bem apoiado.
No entanto, embora os dados indiquem a possibilidade de crescimento de uma eventual candidatura de Fernando Haddad, alguns elementos precisam ser destacados. Primeiro, o candidato não compete sozinho. Ou seja, os outros competidores tentarão evitar que esse potencial se concretize. Segundo, o PT não conta com a mesma estrutura de campanha e apoio de outras eleições. Terceiro, com os dados de que dispomos no momento, não é possível ter certeza se o padrão de lealdade dos petistas se mantém no mesmo nível dos verificados nos últimos pleitos.
Oswaldo E. do Amaral é professor da Unicamp e diretor do Centro de Estudos Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição. Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2018, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.org
João Domingos: O fim do teatro do PT
Há de se lamentar a lentidão do TSE em fazer aquilo que deveria ter feito antes
Com a impugnação da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva e a consequente suspensão da propaganda eleitoral do PT, o partido não terá outra saída a não ser substituir o quanto antes o ex-presidente pelo ex-prefeito Fernando Haddad, há tempos o “plano B” para a disputa. Cada dia de ausência do candidato petista na propaganda do rádio e da TV acarretará um prejuízo enorme para as pretensões eleitorais do PT de tornar Haddad conhecido.
Mesmo com a impugnação da candidatura de Lula, não se pode dizer que o PT foi derrotado. Do ponto de vista da estratégia política para manter o nome do ex-presidente e do partido nos meios de comunicação, nas redes sociais e como motivação para a militância, a legenda foi vitoriosa. Há dois anos o partido estava em ruínas. Perdera o poder, com o impeachment de Dilma Rousseff, vira alguns de seus dirigentes presos pela Operação Lava Jato, sob suspeita de envolvimento em corrupção na Petrobrás e em outras estatais, e ficara sem metade de suas prefeituras. Um desastre completo. Recuperar-se em 24 meses, conseguir ter um candidato à frente em todas as pesquisas, mesmo preso, como aconteceu com Lula, e gozar da perspectiva de fazer a substituição do candidato com possibilidade de manter-se competitivo, é uma vitória política.
Quanto a Lula, deve-se admitir que ele soube transformar sua prisão, uma prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, num instrumento político. Sua cela na Polícia Federal, em Curitiba, foi transformada no QG político do PT. A presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, e Fernando Haddad foram nomeados seus advogados, embora não tenham participado da defesa jurídica dele. Com isso, puderam manter contato com o ex-presidente todos os dias. Durante todo o período da pré-campanha, do registro das candidaturas e do início da campanha, Lula esteve à frente de tudo. Os outros candidatos se tornaram meros coadjuvantes de um teatro político, em que tudo foi instrumentalizado pelo PT.
De tudo isso, há de se lamentar a lentidão do TSE em fazer aquilo que deveria ter feito antes, porque a demora criou uma insegurança jurídica sem tamanho quanto às eleições. Insegurança que obrigou os institutos de pesquisa a optarem por três tipos de perguntas quando se referiam ao candidato petista, uma com Lula, outra com Haddad e outra com Lula dizendo que Haddad seria o seu candidato.
Enquanto o TSE esperava a hora de tomar sua decisão, e a insegurança jurídica só aumentava, o PT se esbaldava. Chegou ao luxo de criar uma chapa triplex, com Lula à frente da chapa, Haddad de vice e a deputada gaúcha Manuela d’Ávila (PCdoB) de vice do vice. Um caso único na história recente das eleições brasileiras.
O que pôde fazer o PT fez. Agora, terá de parar com o teatro que todos sabiam que resultaria na impugnação da candidatura de Lula, pois enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Com o fim da candidatura do ex-presidente, o PT terá de parar de se esconder atrás do nome de Lula. Terá de mostrar Fernando Haddad, entrar na disputa para valer, o que não tinha feito até agora. Lula crescia na preferência do eleitor de forma automática, embora preso.
A partir de agora inicia-se uma nova fase do jogo político. Fernando Haddad terá de gastar sola de sapato, como se diz. E se apresentar como o candidato do ex-presidente. Não receberá 100% dos votos que poderiam ser destinados a Lula. Se conseguir um porcentual entre 60% e 70%, poderá se dar por satisfeito. Mas não deve se esquecer de que há outros candidatos de olho na vaga para o segundo turno. Sem Lula, Haddad é apenas mais um, embora competitivo.
Ricardo Noblat: A voz do dono e o dono da voz
O melhor para o PT é o pior para Haddad
É pule de dez que o ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), negará o pedido de registro da candidatura de Lula a presidente. E que a maioria ou os demais ministros da Corte o acompanharão.
Só não estava certo, pelo menos até esta madrugada, se Barroso anunciará sua decisão ainda hoje, se a tomará monocraticamente ou se a submeterá ao plenário do tribunal. Poderá fazer qualquer uma dessas coisas – ou nenhuma.
O último dia de agosto – ou parte dele – transcorrerá sob a incerteza da participação direta ou não de Lula no primeiro programa de propaganda eleitoral dos candidatos a presidente a ir ao ar, amanhã, em rede nacional de rádio e de televisão.
O pedido de registro da candidatura de Lula foi contestado por 16 pedidos de partidos, entidades e pessoas para que o TSE barre a candidatura por ser ilegal. Lula foi condenado pela Justiça a 12 anos e um mês de cadeia, e está preso em Curitiba.
A resposta da defesa de Lula às contestações só foi protocolada no tribunal às 23 horas de ontem. Com 180 páginas, começou a ser lida por Barroso. Se a decisão do ministro ficar para a próxima semana, melhor para o PT, pior para Fernando Haddad.
Para o PT, quer dizer: para seus candidatos a deputado, senador e governador. Quanto mais durar a farsa da candidatura de Lula, mais eles poderão se beneficiar da popularidade do ex-presidente. Lula é uma vaca leiteira a ser ordenhada até o seu último voto.
Mas a demora causará prejuízo a Haddad, o candidato que substituirá Lula tão logo a farsa saia de cartaz. Uma coisa seria ele aparecer amanhã como candidato a presidente no programa do PT. Outra, aparecer como falso candidato a vice.
Haddad precisa de tempo para se apresentar e ser apresentado. Pela lei, 75% do tempo de propaganda eleitoral destinado a um presidenciável deverá ser ocupado por ele. O resto poderá ser ocupado por seus eventuais apoiadores.
De todo modo, Haddad está aí para o que der e vier, disposto a enrouquecer de tanto repetir que ele é Lula e que Lula é ele. Não é não. Está escrito: ele será a voz do dono. E Lula, o dono da voz.
Marina mata no peito e chuta
O desafio de comportar-se como uma mulher forte
Marina Silva, a candidata da REDE a presidente da República pela terceira vez, deu um show na entrevista ao Jornal Nacional ontem à noite. Exorcizou a imagem de mulher frágil.
Não fugiu às perguntas. Com a mão espalmada, soube impor limite às falas dos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcelos. Esteva todo o tempo no controle.
Ao cabo de 27 minutos de interrogatório, e de mais um para que dissesse o que deseja para o Brasil, saiu do ar como entrou – sem ter sido atingida por uma única denúncia de mal feito.
Mas não só. Também sem ter sido pega em contradições, nem hesitado nas respostas que ofereceu. Sempre haverá críticas ao seu novo penteado, mas é impossível agradar a todo mundo.
Cobrada insistentemente por não conduzir seu partido com mão de ferro, a certa altura ensinou sem perder a brandura: “Liderar não é ser dono de partido, Bonner, é ser capaz de dialogar”.
Falou para os diversos tipos de eleitores, mas especialmente para as mulheres que em sua maioria rejeitam a candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL). Por fim, prometeu:
– Vou fazer um governo de transição. Durante quatro anos, eu vou governar este país para que a gente possa combater a corrupção, fazê-lo crescer e ser um país justo para todas as pessoas.
Todos os candidatos dizem coisas parecidas? Bem, mas eles não disputam prêmio de fantasia na categoria de originalidade.
Luiz Carlos Azedo: O voto útil
“Há dois tipos de indecisos: o que não está nem aí para a política e decide de última hora; e o que escolheu um campo político, mas não sabe qual é o candidato com mais chances de ir ao segundo turno”
Um dos ingredientes da democracia é o imponderável nas eleições, sem o qual não haveria alternância de poder. Num país de dimensões continentais como o Brasil, com um contingente eleitoral de 147 milhões de eleitores, a 44 dias das eleições, nada mais natural que o mercado ter uma crise de nervos por não saber quem ganhará o pleito. Objetivamente, as pesquisas mostram isso. É natural que os analistas façam interpretações e tentem antecipar resultados. Acertar com essa antecedência é um bilhete premiado na loteria das consultorias políticas. Para as futuras eleições, é claro. Na atual, é pura adivinhação.
Conversando com um amigo macaco velho do jornalismo político, ele fez uma observação muito pertinente sobre as duas últimas pesquisas eleitorais: “Não sei ainda em quem vou votar, mas sei em quem não voto de jeito nenhum. O que vai decidir essa eleição é o voto útil!” Não vou revelar o “não-voto” do amigo, mas o raciocínio serve para muita gente. Há dois tipos de indecisos: o eleitor que não está nem aí para a política e decide de última hora; e o que já escolheu um campo político, mas não sabe qual é o candidato com mais chances de ir ao segundo turno.
Sem fazer previsões precipitadas, diria que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu se tornar um grande eleitor da disputa, mesmo estando preso em Curitiba, cumprindo pena de 12 anos e 1 mês de reclusão, após ter sido condenado em segunda instância por causa do triplex de Guarujá. A narrativa do golpe contra Dilma Rousseff e a vitimização do petista colaram numa fatia do eleitorado, que já era simpática ao ex-presidente da República. Fosse mesmo candidato pra valer (sua candidatura será impugnada), Lula estaria no segundo turno e poderia até voltar ao poder, como aconteceu com Getúlio Vargas (PTB), em 1950.
Lula opera uma estratégia de risco, afronta a Justiça e as regras do jogo democrático, mas os adversários precisam reconhecer que o plano funcionou: pode até chegar ao horário eleitoral gratuito como candidato. Ganha com isso o PT, que conseguiu varrer para debaixo do tapete os escândalos do mensalão e da Petrobras para evitar uma nova derrocada eleitoral, como a de 2016, quando perdeu 59,4% das prefeituras. Vêm daí as apostas de que Fernando Haddad estará no segundo turno das eleições, beneficiado pela combinação da transferência do prestígio de Lula e do apoio da militância petista nas redes sociais.
Resiliência
Um exemplo desse apoio foi a reação petista ao resultado das pesquisas, que mostraram a fragilidade de Haddad nos cenários sem Lula. Os votos do ex-presidente migraram principalmente para Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). A AP/Exata, que acompanha as redes sociais em tempo real, registrou que as hashtags #LulaManuHaddad e #Haddad rapidamente se equipararam às menções de Bolsonaro, que lidera a campanha eleitoral nesse meio. Fala-se muito numa disputa tempo de televisão e de rádio versus redes sociais. Ao contrário de Bolsonaro e Marina, que lideram nas redes sociais, Haddad dispõe de razoável condição de campanha no universo analógico e paridade no meio digital.
Lula empurra com a barriga a candidatura até 17 de setembro, utilizando os prazos do processo de impugnação no Tribunal Superior Eleitoral (TRE), para ser substituído por Haddad em pleno horário eleitoral gratuito, que começa em 31 de agosto. Seus marqueteiros dizem que bastariam 60 segundos para fazer a transferência de votos, numa fusão de imagens. Será? Até agora, Lula se passou por vítima de uma grande armação judicial; se o ex-presidente for à televisão, Haddad terá que ser abatido na pista, antes de decolar.
Geraldo Alckmin (PSDB) aposta todas as fichas no tempo de televisão e de rádio para desconstruir a imagem dos adversários e resgatar a própria; subestima as redes sociais. Para chegar ao segundo turno, terá que crescer nos eleitorados de Bolsonaro, à direita; Marina Silva, à esquerda; Ciro Gomes, no Nordeste, e Álvaro Dias, no Sul, que já demonstraram grande resiliência. E avançar entre os indecisos. É aí que voltamos ao ponto de partida. Chegará ao segundo turno quem capturar os votos anti-Lula e/ou anti-Bolsonaro, que são os protagonistas da polarização eleitoral. Ou seja, o voto útil. Por enquanto, segundo as pesquisas, Marina Silva continua melhor posicionada do que Alckmin para isso.
Luiz Carlos Azedo: A chave da cadeia
“A Segunda Turma do Supremo é pródiga na concessão de habeas corpus para os réus da Operação Lava-Jato. Dirceu deverá permanecer em liberdade até ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça”
A pesquisa eleitoral divulgada ontem provocou nova alta do dólar – ultrapassou a barreira dos R$ 4 e chegou a R$ 4,48 nas casas de câmbio –, porém, a imprevisibilidade do cenário eleitoral aumentou ainda mais com a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu manter em liberdade o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro do PP José Cláudio Genu, ambos condenados em segunda instância na Operação Lava-Jato. A decisão consolidou o entendimento da Turma de que a execução imediata da pena após condenação em segunda instância precisa ser examinada caso a caso. Com isso, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma porta aberta para conseguir um habeas corpus em favor do petista, cuja candidatura a presidente da República ainda não foi impugnada. Embora, pela Lei da Ficha Limpa, o petista seja inelegível.
Conhecida como Jardim do Éden, a Segunda Turma é pródiga na concessão de arquivamentos e habeas corpus para os réus da Operação Lava-Jato. Dirceu está condenado a mais de 30 anos de prisão, mas deverá permanecer em liberdade até ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça. O ex-ministro começou a cumprir pena em maio, por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas foi solto um mês depois por ordem do STF. Toffoli votou pela soltura, mas o relator da Lava-Jato, o ministro Luiz Edson Fachin, pediu vista, ou seja, mais tempo para analisar a questão. Mesmo com o pedido de vista, os outros três ministros da Turma (Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski) decidiram conceder liberdade a Dirceu até que Fachin devolvesse o processo para julgamento.
Ontem, o caso voltou à pauta da Segunda Turma. Fachin votou pelo entendimento majoritário do Supremo no sentido de autorizar as prisões após condenação em segunda instância e sustentou que não se pode conceder habeas corpus de ofício nesse caso. Foi atropelado pelo ministro Dias Toffoli, que citou vários precedentes no Supremo. Os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski acompanharam Toffoli. Decano do STF, o ministro Celso de Mello votou com Fachin, mas ambos foram votos vencidos por 3 a 2. Fachin vem sendo voto vencido constantemente. Além de Lula, outros réus da Lava-Jato que estão presos deverão pleitear habeas corpus para sair da prisão, entre os quais os ex-deputados Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima, ambos do MDB.
O Supremo está se tornando um fator de instabilidade no processo eleitoral, por causa das disputas entre seus ministros. A Primeira Turma e a Segunda, por exemplo, têm entendimentos distintos em relação à jurisprudência sobre execução da pena após condenação em segunda instância. Caso se confirme a ida da ministra Cármen Lúcia para a Segunda Turma, no lugar de Toffoli, que assumirá a Presidência do Supremo, pode ser que se forme uma nova maioria sobre o mesmo assunto, com entendimento contrário à decisão de ontem. Em contrapartida, embora negue essa intenção, Toffoli pode pautar nova votação sobre o mérito da questão no plenário do Supremo.
Pesquisa
A pesquisa divulgada pelo Ibope na segunda-feira está sendo decantada por analistas e candidatos. Revela que a estratégia de Lula para se manter na mídia deu certo, pois está com 37% de intenções de votos, mas gerou estresse entre os petistas porque outros números mostram as dificuldades para a transferência de votos em favor do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, seu vice e substituto virtual. Quatro de cada 10 eleitores consultados dizem que não votarão em Haddad, mesmo que esse seja uma indicação de Lula. O efeito imediato na campanha de Lula foi acirrar a divergência entre fazer a substituição logo ou protelar ao máximo a manutenção da candidatura do ex-presidente da República, cuja impugnação está prevista na Lei da Ficha Limpa, mas essa é uma batalha jurídica que pode chegar a 17 de setembro.
Também houve tensão na campanha de Alckmin, que subiu nas pesquisas de 5% para 7% no cenário sem Lula. Está atrás de Bolsonaro, que sobe para 20%; Marina, para 12%; Ciro, que vai a 9%. Para Alckmin, o grande desafio é chegar ao segundo turno. O tucano conta com a vantagem estratégica de ter mais tempo de televisão, recursos financeiros e capilaridade da campanha. Esse raciocínio valeria também para Haddad, daí a expectativa de que possa ultrapassar Bolsonaro, Marina e Ciro. Entretanto, a pesquisa está mostrando que essa não será uma tarefa fácil, principalmente porque Bolsonaro, Marina e Ciro estão com bases eleitorais muito resilientes. Com um cenário tão imprevisível, as turbulências no mercado financeiro já começaram, com alta do dólar e queda da bolsa de valores.
Luiz Carlos Azedo: Candidato a Messias
A pesquisa MDA/CNT desta semana continua alimentando cenários eleitorais. Os principais mostram que o deputado Jair Bolsonaro, que ontem se filiou ao PSL, tem quase assegurada uma vaga no segundo turno das eleições. Essa afirmação é controversa porque alguns analistas acreditam que seus votos estão consolidados e ele estará mesmo numa segunda rodada de votações. Bolsonaro é o candidato de extrema-direita, com um discurso contra a corrupção e a criminalidade, a favor dos “valores da família”, como anunciou o senador Magno Malta (PSL-ES).
Na pesquisa, Bolsonaro tem de 20% a 20,9%, dependendo do adversário. Qualquer um deles enfrentará dificuldades para derrotá-lo, seja Marina Silva (Rede), seja Ciro Gomes (PDT), seja Geraldo Alckmin (PSDB), que estão embolados na disputa para enfrentá-lo. Corre por fora Álvaro Dias (Podemos), que cresce no Sul do país. Marina Silva se mantém no páreo, apesar da crise na Rede. Cresce de 7% para 12% quando Lula sai da disputa, mas Bolsonaro sobe de 16% para 20%.
Os dois estão herdando os votos do petista. No caso de Marina, essa é uma deriva natural da parcela do eleitorado petista que se identifica com a ex-seringueira e ex-senadora que se elegeu pela legenda no Acre. No caso de Bolsonaro, desloca-se o eleitor de mais baixa renda que acredita em salvador da pátria. Ontem, na cerimônia de filiação ao PSL, Bolsonaro não se fez de rogado: “Eu sou o messias. Jair Messias Bolsonaro”, discursou.
A palavra “messias” deriva do termo hebraico almashita, significava “ungido”, ou seja, alguém marcado na testa com óleo sagrado para realizar cerimônias religiosas. Com o passar do tempo, passou a descrever uma figura semidivina que deveria vir à Terra para resgatar seu povo. Para os judeus, “o salvador” deveria ser um rei descendente de Davi (que reinou no antigo Israel entre 1000 a.C. e 962 a.C.), com a missão de livrá-los da opressão estrangeira e implantar um mundo de justiça e salvação.
Quando o Novo Testamento foi escrito, em grego, no primeiro século da era cristã, a expressão mashiah foi traduzida como christos e se tornou o título de Jesus — ou seja, “Jesus Cristo” é o mesmo que “Jesus, o Messias”. Entretanto, o “messianismo” não se limita ao judaísmo e ao cristianismo, todas as grandes religiões do mundo têm uma figura messiânica, que virá para combater o mal e a injustiça, restaurando o paraíso sobre a Terra. Esse foi o sentido dado por Bolsonaro. No Brasil, tem a ver também com o “sebastianismo”, a crença de um salvador da pátria inspirado em Dom Sebastião, “O Desejado”, o jovem rei português que foi morto na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.
Eleição aberta
De onde vem a consolidação dos votos de Bolsonaro? Da extrema-direita saudosista do regime militar e dos evangélicos, mas também desse nosso “sebastianismo” lulista. Entretanto, Bolsonaro enfrenta dificuldades para seduzir os setores conservadores e liberais, que buscam uma alternativa mais moderada. A chamada direita progressista deseja modernizar a economia e aceita as mudanças dos costumes. Esses setores ainda estão em busca de uma alternativa. Marina não tem capacidade de seduzi-los, muito menos Ciro Gomes ou Álvaro Dias. A eleição está aberta, dependendo do cenário, de 38,7% a 42,1% dos eleitores não têm candidatos.
Quem pode atrair esses eleitores é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que sobe de 6,4% para 8,7% com Lula fora da disputa. O governador paulista, porém, enfrenta um cenário muito pior do que o das eleições de 2006, quando disputou com o petista e foi para o segundo turno, mas teve menos voto do que no primeiro. Naquela ocasião, o senador Aécio Neves foi acusado de cristianizá-lo para se eleger governador de Minas. Agora, a situação é pior ainda, pois o petista Fernando Pimentel lidera as pesquisas e Aécio respira de canudinho por causa da Lava-Jato. Alckmin está sem palanque em Minas porque o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) não quer ser candidato ao governo.
Do outro lado do espectro político, a situação do PT é de quem vai pro mato sem cachorro. A legenda insiste na candidatura de Lula mesmo sabendo que ele está inelegível por causa da Lei da Ficha Limpa, que é autoexplicativa. Essa estratégia tem muito mais o objetivo de evitar a prisão de Lula do que viabilizar um candidato substituto. Em todos os cenários pesquisados, o ex-prefeito Fernando Haddad, que seria a alternativa petista, não passa de 2,4% das intenções de votos. Numa campanha curta, deixar a escolha para a última hora pode ser um haraquiri político, ainda mais se Lula estiver preso. (Correio Braziliense – 08/03/2018)
Luiz Carlos Azedo: Lula na ponte aérea
Duas eleições municipais estão implodindo a frente de esquerda que o PT articulou para deixar o poder em ordem e tentar sobreviver às eleições municipais, garantindo uma mínima base de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2018: a de São Paulo e a do Rio de Janeiro. Em ambas, as forças que adotam a narrativa de golpe — PT, PCdoB, PSol e representantes da Rede — se digladiam e correm o risco de ficar fora do segundo turno. Com exceção de Rio Branco, no Acre, o PT enfrenta grandes dificuldades nas capitais, a começar pela reeleição de Fernando Haddad em São Paulo.
Em São Paulo, a possível ausência do prefeito Fernando Haddad (PT) no segundo turno subverte a lei da gravidade, uma vez que administra o terceiro orçamento do país e disputa a eleição com a máquina administrativa da capital sob seu controle, mas não será surpresa. Sua administração é considerada um desastre pelos paulistanos. No Rio, se houver segundo turno, a disputa poderá ser entre Marcelo Crivella (PRB) e o candidato do PMDB, Pedro Paulo, apoiado pelo prefeito Eduardo Paes, que surfa os louros do sucesso das Olimpíadas, apesar do peemedebista ter a pecha de supostamente “bater em mulher”. A candidatura de Jandira Feghali (PCdoB), apoiada pelo PT, pode tirar do segundo turno o candidato do PSol, Marcelo Freixo.
Sampa
O empresário João Doria (PSDB) assumiu a liderança da disputa em São Paulo, em pesquisa Ibope divulgada ontem, com 28%. O deputado federal Celso Russomanno (PRB) continua em queda, com 22%. Em seguida vêm a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy (PMDB), com 16%, mostrando certa capacidade de recuperação; o atual prefeito, Fernando Haddad (PT), com 13%; e a deputada federal e ex-prefeita Luíza Erundina (PSol), com 5%, também em ligeira recuperação. Major Olímpio (Solidariedade) teve 1% das intenções de voto, assim como Ricardo Young (Rede), João Bico (PSDC) e Levy Fidelix (PRTB).
Marta sofre duros ataques dos adversários, principalmente de Russomanno, que vem caindo e teme ser volatilizado, ficando fora da disputa, e do prefeito Haddad, que tenta resgatar os votos tradicionais do PT, nacionalizando a campanha. A forte movimentação organizada pelo partido após o julgamento do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, com grandes manifestações na Avenida Paulista, serviu para reforçar o discurso contra a ex-petista, vinculando-a ao presidente Michel Temer.
O fato de ter deixado a legenda e votado a favor do impeachment estimula impiedosos ataques dos petistas contra Marta, que ficou ensanduichada, mas tem muito voto popular na periferia de São Paulo. O voto da classe média é seu maior problema. Além de arcar com o desgaste do apoio a um governo federal de baixa popularidade, Marta não conta com o apoio do presidente Michel Temer, que teme desagradar o governador Geraldo Alckmin (PMDB). O tucano aposta todas as fichas na eleição de Doria, cuja ascensão é impressionante, para se viabilizar como candidato em PSDB à Presidência em 2018. Luíza Erundina (PSol) resiste às pressões para desistir da candidatura e apoiar Haddad, para levá-lo ao segundo turno.
Rio
Marcelo Crivella lidera com folga a disputa no Rio de Janeiro, com 34% dos votos, segundo o Ibope divulgado ontem. Pedro Paulo (PMDB) e Marcelo Freixo (PSol) estão empatados, com 10%. Pedro Paulo conta com 18% das intenções de votos na parcela da população que recebe menos de um salário-mínimo, Marcelo Freixo desponta entre os eleitores com renda acima de cinco salários (16%). Geograficamente, ocupam territórios demarcados: Freixo nas zonas Sul e Norte, Pedro Paulo na Oeste. Quem invadir a praia do outro vai para o segundo turno.
Acontece que os votos da esquerda carioca estão divididos por causa da candidatura da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), apoiada pelo PT, que tem 7% dos votos, empatada com Flávio Bolsonaro, também com 7%. Foi ultrapassada por Índio da Costa (DEM), que está com 8%; Carlos Osório (PSDB) caiu para 4%. Molon, da Rede, está empatado com Carla Migueles, do Partido Novo, com 1%. Como Haddad em São Paulo, Jandira nacionalizou as eleições: na semana passada, atraiu a ex-presidente Dilma para a campanha (o que provocou sua queda nas pesquisas), mas depois levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um comício em Campo Grande, para seduzir eleitores contra o impeachment.
Sua candidatura é acusada de divisionismo pelo PSol, que denuncia um acordo de bastidor do PT com o prefeito Eduardo Paes para viabilizar a ida de Pedro Paulo para o segundo turno. A manobra tem a cara do ex-presidente Lula, que sempre usou a legenda como moeda de troca para suas alianças no Rio de Janeiro com o grupo político do ex-governador Sérgio Cabral. A juventude de esquerda, intelectuais e artistas estão com Freixo. É o caso, por exemplo, de Chico Buarque, que compareceu ao comício do candidato do PSol no mesmo dia em que Lula prestigiava Jandira. (Correio Braziliense – 29/09/2016)
Fonte: pps.org.br