Giocondo Dias
Vladimir Carvalho fala sobre o filme de "Giocondo Dias - O Ilustre Clandestino"
João Rodrigues, da equipe da FAP
Sucesso no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2019, o documentário “Giocondo Dias - O Ilustre Clandestino” foi o tema principal de entrevista do cineasta Vladmir Carvalho ao Canal Brasil.
Na entrevista, Vladmir fala sobre o sucesso do filme, que retrata a vida do líder comunista baiano Giocondo Dias, militante da esquerda que viveu dois terços de sua vida na clandestinidade e liderou o PCB como secretário-geral.
Confira abaixo vídeo da entrevista na íntegra.
RPD 35 || Henrique Brandão: Giocondo, um comunista abnegado e gentil
Documentário sobre o histórico militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), de Vladimir Carvalho, já está à disposição do grande público no NOW, da NET
Já se encontra disponível no Now o documentário “Giocondo - O Ilustre clandestino”, do veterano cineasta Vladimir Carvalho, um dos mais representativos documentaristas brasileiros. Narra a vida de Giocondo Dias, histórico militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
O filme mostra a participação de Giocondo em momentos decisivos da política dos comunistas: o levante militar de 1935, no Rio Grande do Norte, do qual foi o principal líder; o breve período da legalidade pós-Segunda Guerra (1945/47), quando o PCB elegeu 14 deputados federais e um senador (Luiz Carlos Prestes); a luta contra a ditadura e a política de frente democrática contra o regime militar fascista, em divergência com as forças de esquerda que defendiam a resistência armada; a campanha pela legalidade do PCB, nos anos de 1980.
A trajetória de Giocondo se confunde com a própria história do velho Partidão. Cabo Dias, como era conhecido por sua patente militar, viveu a maior parte da existência na clandestinidade, a serviço da causa em que acreditava. Não é para qualquer um. É preciso a fibra dos fortes e a abnegação dos convictos para suportar durante tanto tempo as privações de uma vida clandestina.
Segundo o diretor Vladimir Carvalho, o documentário levou dois anos para ser realizado: “assumi a produção desse filme e fiquei dois anos ralando. É um perfil em segunda-mão, porque é visto pelos raros contemporâneos do Giocondo Dias”, disse o cineasta, em entrevista para a “Agência Brasília”, em 2019, quando o longa foi exibido no encerramento do Festival de Brasília.
De fato, o filme se vale muito do depoimento de quem conviveu com Giocondo. E isso tem uma razão de ser. Cuidadoso, sempre atuando com extrema discrição, é natural que não exista quase nada de imagens de arquivos dos tempos em que Giocondo atuava na clandestinidade.
É por meio de um mosaico de entrevistas com ex-companheiros de organização que emerge a figura de um dedicado militante comunista, rígido nas normas de segurança, mas doce e gentil no convívio pessoal.
Em um emocionado depoimento, sua filha, Ana Maria Dias, fala dos encontros esporádicos com o pai, sempre cercados de extrema cautela para não comprometer a segurança. Uma situação difícil para os dois. Não é fácil abdicar do convívio familiar.
Dois momentos se destacam no documentário: o primeiro é o perfil que Jorge Amado faz de Giocondo no livro “Navegação de Cabotagem”, onde o trata por Neném – apelido cunhado pela mãe de Giocondo – do tempo em que ambos, nascidos na Bahia, agitavam as ruas de Salvador. É uma narrativa carinhosa. Jorge Amado revela que um dos personagens de seu romance, “Tenda dos Milagres”, foi inspirado no amigo comunista: “o coloquei em uma tribuna de comício durante a guerra, falando em nome dos trabalhadores”.
O outro trecho marcante do filme é a descrição, em detalhes, da retirada clandestina, no auge da ditadura militar, de Giocondo do Brasil. Prestes já estava em Moscou desde o início dos anos de 1970. O cerco da repressão havia apertado sobre os dirigentes do PCB. Muitos, inclusive, caíram e até hoje estão desaparecidos.
Por sugestão de José Salles (membro do Comitê Central), que se encontrava na União Soviética, montou-se uma complexa operação que envolveu comunistas brasileiros e argentinos, além de dirigentes da antiga URSS. Os depoimentos relatam em minúcias o vai e vem dos procedimentos que acabaram por levar Giocondo a Moscou, em 1976. Em todo o processo, o cabo Dias manteve-se sereno e disciplinado, preocupado com a segurança dos demais envolvidos.
Vários depoimentos expõem as divergências internas, no exílio, entre os membros do Partidão. Nesse cenário, Giocondo se impõe por sua capacidade de dialogar, qualidade destacada por todos. Soube usá-la com maestria, construindo pontes entre as correntes políticas do partido. Acabou sendo um dos formuladores e porta-voz da política de frente ampla democrática que o Partidão preconizou na luta contra a ditadura. Sua habilidade de ouvir os outros terminou por levá-lo à Secretaria-geral do PCB, em substituição a Luiz Carlos Prestes.
“Giocondo – O ilustre desconhecido” é um filme importante, pois ajuda a resgatar uma personalidade política que, por seus traços pessoais avesso aos holofotes, corria o risco de permanecer na penumbra.
O PCB é a mais antiga organização comunista do país. Ano que vem, será o ano de seu centenário. Com certeza, Giocondo Dias será lembrado como uma das figuras decisivas na construção da bela trajetória de lutas dos comunistas.
* Henrique Brandão é jornalista e escritor.
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de setembro (35ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
Com 'Ilustre clandestino', Vladimir Carvalho fala sobre sua obra
Documentário de Vladimir Carvalho, entra em cartaz na plataforma streaming e será exibido também amanhã no Canal Brasil
Ricardo Daehn / Correio Braziliense
“Brasília foi, para mim, e continua sendo, uma ampla e inesgotável temática, porque, atuando como uma caixa de ressonância de toda problemática brasileira, me oferece oportunidade de conhecer e explorar cada aspecto deste país”, observa o cineasta Vladimir Carvalho, vinculado, pela vida, aos ideais utópicos irradiados pela capital. Precedido por debate (no Instagram do Canal Brasil, amanhã, às 18h) com participação dos pesquisadores Amir Labaki e Ana Cecília Costa, Giocondo Dias- Ilustre clandestino será apresentado, às 20h, no Canal Brasil, na faixa É Tudo Verdade.
A política toca o novo filme, detido na figura do baiano comunista, em muito, sufocado pela clandestinidade. Curiosamente, o atual massacre às artes não desencoraja o diretor, que detecta um estimulante culto (de nicho) à vivência cineclubista. “Quanto ao descaso pela cultura neste momento, penso que temos de nos municiar de paciência histórica e chegarmos à outra margem em 2022! Vejo, no cinema, um surto de renovação nos métodos: na Lapa (RJ) há um cineclube que só passa filmes inéditos, da moçada nova que vai ali com seu filme debaixo do braço para ser submetido a debates que são tremendamente calorosos. É uma novidade na área, um neocineclubismo”, celebra.
Como o senhor se remodelou aos tempos virtuais? Como vê o streaming?
Penso que conquistamos um espaço infinitamente maior e a adaptação se impôs a todos que lidam com os meios de comunicação. Mesmo agora, com as restrições impostas com a suspensão do modo presencial, os que fazem cinema, como seria previsível, logo se encaixaram no novo cenário. Entendo que o streaming não significa a morte da forma clássica e costumeira de se colocar uma produção no mercado. Pelo contrário, o streaming representa uma sobrevida para o cinema e será uma convivência proveitosa. Sempre curti a sala de cinema como um forma de circulação social dos espectadores, até como possibilidade de diálogo com seus pares. É o velho animal gregário que o homem carrega, em busca de convívio com o outro.
O que na atualidade fica de inspiração do Giocondo Dias?
O Giocondo, personagem de meu documentário, a ponta para as transformações que já no seu tempo davam um sinal de alerta àqueles que sabiam interpretar os sinais do tempo. Giocondo, na juventude, foi alcunhado de Cabo Vermelho, uma vez que, na Intentona de 1935, tomou de assalto o quartel ao qual servia em Natal (RN), e disse a seu comandante: “O senhor está preso em nome do general Luis Carlos Prestes”. Nesse lance heroico, levou vários, e, por milagre, não morreu. Essa lição lhe calou fundo. E, ao longo do tempo, durante dois terços de sua vida, dedicou-se à luta para convencer os seus companheiros que a saída para o Brasil não era a luta armada, mas a conquista do povo em geral, pelos caminhos do voto prescrito pelo regime democrático. Por isso, ele virou pelo avesso a história do Partido Comunista no Brasil e tanto se destacou com seu jeito manso e humano que chegou ao ponto de substituir Prestes no comando do Partido. E, depois de intermináveis batalhas ideológicas, nos anos 1980, reconduziu o partido à legalidade.
O que a visão do Giocondo Dias representa para os tempos de fissuras sociais de hoje?
Nos nossos tempos, adotei para o filme o slogan “Um adeus às armas e um apelo ao diálogo” (presente no cartaz) em reverência à postura histórica de Giocondo. Em virtude disso, esperava que o lançamento do filme de Wagner Moura sobre a figura de Marighella estreasse ao mesmo tempo que o nosso. Tudo para termos um prélio junto ao público porque Marighella era tão lendário (enquanto o Giocondo era o seu oposto), ao “pelear” pela luta armada como meio de chegar ao poder. Nada contra o filme do Moura em si, mas para provocar, quem sabe, um salutar debate. Numa hora em que o nosso presidente se esmera na tentativa de armar o povo indiscriminadamente. O seu partido chegou a confeccionar uma bandeira composta toda ela de balas de fuzil! Nesse ponto meu filme é superatual!
Os 90 anos de Ruy Guerra, quatro décadas sem Glauber Rocha e sete anos sem Eduardo Coutinho: o que efemérides significam para quem esteve, ombro a ombro, ao lado desses gigantes?
Glauber, Coutinho e Ruy são inexpugnáveis de nossa história cinematográfica. Não são simplesmente ícones, são os artífices de um legado de transformação, com o movimento do chamado Cinema Novo, que agrega à cultura brasileira um capítulo último e definitivo do nosso modernismo. Deveríamos, para celebrar essas efemérides, deflagrar um movimento em defesa, não só do cinema, mas de toda a cultura tão vilmente atacada pelo governo de Jair Bolsonaro. Talvez ainda possamos recompor as estruturas de sustentação de nosso patrimônio e apagar o fogo maligno que visa destruí-lo.
Como vê, aos 86 anos, ter uma obra estreando? Como mantém a vitalidade?
Você me suscitou uma lembrança que faz parte de minhas circunstâncias: sou o último sobrevivente da pequena equipe do seminal Aruanda (filme de 1960) e rendo aqui minhas homenagens a Linduarte Noronha (diretor), João Ramiro Mello (assistente de direção) e Rucker Vieira (produtor), saudosos companheiros. E, a propósito, também recordo que da equipe de criação do Cabra marcado para morrer só Antonio Carlos da Fontoura sobrevive. Portanto, reverencio a memória de Eduardo Coutinho, Marcos Farias e Cecil Thiré. Tive a sorte de demorar mais um pouco por aqui e poder tocar meu barco em frente e esse filme que estreia (Giocondo Dias) me trouxe um suplemento extra de energia para continuar na faina de sempre. Penso que devo isso à boa cepa que vem do meu avô Esperidião Figueiredo da Silva, descendente dos índios cariri de São João do Rio do Peixe, na Paraíba. Tinha a cor do bronze e uma saúde de ferro.
Numa revisão de obra, qual o filme indispensável? Se arrepende de alguma escolha ou sequência feita em algum filme do passado?
Minha atividade como documentarista tem, inconscientemente, me levado a uma espécie de compasso binário: fiquei nesses mais de 60 anos de ofício entre o campo e a cidade, que coincidentemente, ou não, compõem a estrutura da sociedade brasileira, e tem promovido um fluxo e refluxo mais visível no migrante nordestino sempre em demanda do sul maravilha. Nesse sentido, o meu filme Conterrâneos velhos de guerra (1992) é como se fosse uma súmula de tudo o que tenho feito, ora com filmes realizados no campo, sobretudo no Nordeste, ora no âmbito urbano. Conterrâneos é uma somatória. Sobre revisões e olhares pelo retrovisor: não tenho do que me arrepender, mas no caso de Giocondo Dias só lamento não ter alcançado ele com vida, de forma que pudesse entrevistá-lo e filmá-lo como bem merecia.
Quais são os seus projetos futuros?
Estou justamente nesse momento trabalhando todo um arquivo resultado das filmagens que venho realizando desde mais de meio século em Brasília. Penso que vivenciei boa parte de sua história, ou pelo menos fiz um esforço para assimilar, mesmo que de forma canhestra. Quero usar esse material para contar parte da história política do país, a partir de uma imagem-mãe, a da Esplanada onde se situam os três poderes e os ministérios, imortalizados pela obra de gênio de Oscar Niemeyer, num espaço para o qual o grande Burle Marx idealizou, esse é o termo, um panorama bem diferente do monótono relvado que domina, mas desestimula a vista do cidadão que o contempla. Era algo colorido e poético, como quase tudo em que pensou o velho jardineiro, pintor e paisagista. Tenho planos de jogar dialeticamente com esses elementos, sem dispensar crueza dos dias tenebrosos de hoje! Será meu próximo filme.
Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2021/08/4946753-com-o-filme-ilustre-clandestino-vladimir-carvalho-fala-sobre-sua-obra.html
“Giocondo Dias - O Ilustre Clandestino” é tema de podcast
O cineasta Vladmir Carvalho fala sobre a chegada do filme ao NOW, da NET, e da história de vida desse importante personagem da história política do Brasil
João Rodrigues, da equipe da FAP
Sucesso no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2019, o documentário “Giocondo Dias - O Ilustre Clandestino” chegou à disposição do grande público no NOW, da NET, uma das maiores plataformas de streaming do Brasil, nesta semana. O filme retrata a vida do líder comunista baiano Giocondo Dias, militante de esquerda que viveu dois terços de sua vida na clandestinidade e liderou o PCB como secretário-geral.
Além de resgatar um importante personagem da história política do Brasil, sobretudo na resistência à ditadura, o documentário é uma obra notável do cineasta Vladimir Carvalho, convidado desta edição do podcast da Fundação Astrojildo Pereira. O programa conta com perguntas de Caetano Araújo (diretor-geral da FAP, sociólogo e consultor do Senado), Ivan Alves Filho (jornalista, historiador e escritor), Renato Ferraz (jornalista e gerente de Comunicação da FAP), Gilvan Cavalcanti de Melo (editor do blog Democracia Política e novo Reformismo) e Luiz Carlos Azedo (colunista do Correio Braziliense e do Estado de Minas).
Ouça o podcast!
O episódio tem áudios do filme “Giocondo Dias - O Ilustre Clandestino Online”, documentário #MINHABRASÍLIA 60 Candangos e do Canal Curta!, no Youtube.
O Rádio FAP é publicado semanalmente, às sextas-feiras, em diversas plataformas de streaming como Spotify, Google Podcasts, Youtube, Ancora, RadioPublic e Pocket Casts. O programa tem a produção e apresentação do jornalista João Rodrigues. A edição-executiva é de Renato Ferraz.
Confira o documentário no link: www.nowonline.com.br/filme/giocondo-dias-o-ilustre-clandestino/1838586.
Memória: Cabo Dias, o revolucionário de 1935
Está completando 103 anos do nascimento de Giocondo Dias, o dirigente político que substituiu Luiz Carlos Prestes na Secretaria Geral do PCB. Trata-se do cabo Vermelho, um dos comandantes do governo revolucionário de quatro dias, no Rio Grande do Norte, em 1935.
Chamado pela historiografia de Cabo Dias ou, simplesmente, o camarada Dias, ele nasceu na cidade de Salvador, em 18 de novembro de 1913, no centro histórico dessa cidade. Descendente de italianos por parte de mãe e de portugueses por parte de pai, Giocondo trabalhou em armazéns de secos e molhados e, depois, como ajudante de padres, em várias igrejas do centro histórico expandido de Salvador. A luta pelo sustento da família não permitiu que ele terminasse sequer o curso primário, embora tenha se matriculado várias vezes. O que restava para um jovem pobre e lutador, naquele período, era ingressar no exército para garantir a continuidade do sustento familiar. Contudo, antes de entrar para o exército, ele entrou em contato com as ideias que movimentariam a sua vida e pelas quais lutaria por toda a sua existência.
Em 1932, em Pernambuco, Giocondo Dias se alista no 21º Batalhão de Caçadores e entra oficialmente para o exército brasileiro. Logo depois eclode o movimento de descontentamento da burguesia paulista com o Governo Getúlio Vargas, que ficou conhecido na história oficial como a “Revolução Constitucionalista de 1932”.
Ao terminar sua participação nas disputas entre o governo de Vargas e as tropas arregimentadas pela burguesia paulista, o 21ºBC, que em 1931 havia se levantado contra o usineiro e governador de Pernambuco Lima Cavalcante (quase foi dissolvido após esse episódio), foi enviado para a fronteira. Giocondo, que havia participado de combates e operações, estava neste momento, numa região inóspita de fronteira, onde o batalhão foi quase liquidado por doenças tropicais. Esse batalhão sempre mostrou um desejo ardente por transformação social. Giocondo cita que ao chegar ao quartel, no início da sua vida militar, encontrara nas paredes muitas pichações com as seguintes frases: “Viva o Comunismo”, “Viva Luiz Carlos Prestes”.
Mas a ingerência política do então governador de Pernambuco, Lima Cavalcanti, não permitiria o retorno do 21º BC à sua terra e a saída foi fazer uma troca, o 29º BC de Natal iria para Pernambuco e o 21º BC iria para o Rio Grande do Norte. Manifestando assim, nesse momento, o uso e abuso das classes dominantes sobre o exército brasileiro.
O Cabo Vermelho
Giocondo Dias, por bravura e heroísmo na luta contra as tropas paulistas, tinha sido promovido a Cabo. Em 1933 se encontrava em Natal, onde sua liderança crescia dentro do quartel. Provavelmente em 1934 teria entrado em contato com o PCB. Embora, para outras fontes, a sua entrada no partido teria se dado em agosto de 1935.
O ano de 1934 é de intensa agitação política e com grande insatisfação popular nos centros urbanos, fazendo com que, ao final daquele ano e início de 1935, ocorressem greves que deixaram paralisados mais de 1,5 milhões de trabalhadores pelo Brasil. Operários, estudantes, lutadores antifascista, contribuíram para que o ano de 1935 fosse fortalecido com a fundação, logo no seu início, da ANL (Aliança Nacional Libertadora), em 30 de março, tendo um programa progressista que obteve ampla repercussão. Contando com forte presença nos quartéis, liderança do PCB e comando de Prestes. Embora se fizesse notar uma destacada presença de segmentos que não eram organizados pelo partido.
Essa articulação aliancista agrupou, em trezentas cidades e 17 Estados, algo mais que um milhão de pessoas. Tratava-se de um operador político que, pela sua importância, foi atacado pelo governo Vargas e seus aparatos repressivos, sendo fechado em 12 de julho de 1935. Começava então um momento histórico de muitas precipitações políticas e de avaliações voluntaristas e dogmáticas.
Após entrar para o partido, Giocondo foi desenvolver a sua militância na mesma célula do sapateiro Praxedes, e de outros militantes, no bairro chamado Petrópolis, em Natal. Começa uma grande articulação nacional que colocava a questão do poder na ordem do dia. Essa movimentação ficaria restrita ao aparato militar do partido e, para muitos historiadores, grande parte dos CRs (Comitês Regionais) do partido não tinham conhecimento do que estava ocorrendo. Finalmente, a partir de uma inflexão da base militar do PCB, articulada com poucos membros da cúpula do partido, a partir das informações do Secretário Geral da época (Miranda), e com o conhecimento de Luiz Carlos Prestes, é desencadeado o movimento insurrecional de 1935.
O movimento revolucionário começou em Natal, no Rio Grande do Norte, na noite do dia 23 de novembro, quando o 21º BC se sublevou, tomando a cidade e o batalhão da polícia, depois de uma luta feroz que durou 19 horas. Os revolucionários tiveram o apoio da população e formaram o Comitê Popular Revolucionário (CPR). O Cabo Dias, líder revolucionário, participa nesse momento da indicação dos membros do governo provisório que foi composto por Lauro Cortês Lago (ministro do interior), José Batista Galvão (ministro da viação), José Praxedes, sapateiro que era o Secretário Político do PCB naquele momento, seria o ministro do abastecimento, Quintino Clemente de Barros, que era sargento, ministro da defesa e José Macedo, ministro das finanças. Estava assim constituído o Primeiro Governo Popular da República Brasileira, que ficou quatro dias no poder.
O velho sapateiro Praxedes, comunista de longa tradição, em relatos no primeiro semestre de 1982, nos informou que o Governo Provisório era todo composto por militantes do PCB, embora eles não fizessem a distinção dentro ANL.
O líder revolucionário, Cabo Dias, articulou várias ações que iam definindo os rumos do levante. Todavia, as tropas do governo federal estavam no interior do estado, vindas da Paraíba e de Alagoas, marchando para Natal. A correlação de forças na luta era muito desfavorável. O Cabo Dias ao tentar encontrar meios para reorganizar os combatentes, e evitar as precipitações, foi atingido por 3 tiros tendo que ser socorrido e levado rapidamente para o hospital. Mas, antes impediu que o atirador fosse fuzilado por seus camaradas. Do hospital, prevendo a derrota do levante, encaminhou um carro como escolta do quartel para resgatar a sua família. No retorno, quando o carro passava pela chefatura de polícia, foi alvo de vários tiros e um deles alvejou a cabeça da jovem Sinhá, cunhada do Cabo Dias, que morreu naquele momento.
A insurreição não avançou, mesmo com os levantes do dia 24 em Recife e do dia 27 no Rio de Janeiro. O levante foi dominado em todo o país.
O Cabo Dias empreendeu fuga, conseguiu se esconder numa fazenda no interior do Estado e lá, em circunstâncias periféricas ao movimento, foi covardemente ferido, levando 13 facadas e ficando à beira da morte jogado numa estrada vicinal. O líder revolucionário se recuperou. No entanto, ficou preso em Natal quando sofreu uma nova tentativa de assassinato que não se consumou. Ficou na cadeia por mais de 1 ano, quando foi solto em Salvador (para onde havia sido transferido), pelo ato de anistia conhecido como “macedada”, em 1937. E, mesmo solto, foi procurado pela polícia em Salvador, tendo que entrar para uma rigorosa clandestinidade até meados de 1945.
Os bastidores da reorganização do PCB, na Bahia
Apesar das grandes desconfianças em virtude de infiltrações, Giocondo Dias articula seu contato com o partido na Bahia através de conversas com João Falcão. Mesmo na clandestinidade, se transforma num importante dirigente do CR da Bahia, instância que era reconhecidamente a mais importante do partido no Brasil naquele momento.
No começo dos anos 1940 se constituiu o chamado “Grupo Baiano” que iria preparar e realizar a conferência do PCB, em 1943. Era um contingente de militantes baianos e não baianos, mas que na Bahia haviam se encontrado, a exemplo de Carlos Marighella, Armênio Guedes, Moisés Vinhas, Giocondo Dias, Aristeu Nogueira, Milton Caíres de Brito, Arruda Câmara, Leôncio Basbaum, Alberto Passos Guimarães, Jacob Gorender, Maurício Grabois, Praxedes, Osvaldo Peralva, Boris Tabakoff e Jorge Amado. Mário Alves a partir de 1942 e Ana Montenegro, em 1945. Era um conjunto extraordinário de militantes, intelectuais e dirigentes que marcou a história do PCB e do Brasil de forma indelével.
Durante o período de clandestinidade, Giocondo Dias foi condenado à revelia pelo Tribunal de Segurança Nacional (TSN) há 6 anos e 6 meses. Na clandestinidade fez uma cirurgia para retirar as balas que o atingiram no levante de 1935. Ainda nesse período de dura clandestinidade nasceram seus filhos: Gilberto (1938), Antonio Eduardo (1940) e Eduardo Luís (1942), depois ainda teria mais um filho (já que Ana Maria nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte, antes desse período), com D. Lourdes, a companheira de sempre.
Um fato novo ocorreu na vida do partido na Bahia. Voltando do exílio em 1943, Jorge Amado informou ao CR da Bahia que existia uma articulação nacional para reorganizar o partido e que estava sendo feito pela CNOP (Comissão Nacional Provisória do PCB), constituída no Rio de Janeiro pelo chamado “Grupo Baiano”. Pouco tempo depois, em passagem pela Bahia, João Amazonas conversaria com Giocondo Dias e João Falcão sobre o partido. É desse período histórico a realização da II Conferência Política do PCB, que ocorreu nos dias 27, 28 e 29 de agosto de 1943 num local entre Barra do Piraí e Engenheiro Passos, região da Serra da Mantiqueira. A partir daí o partido passaria a ter uma direção e a CNOP elege, in absentia, Luiz Carlos Prestes Secretário Geral do PCB. Nesse momento re-começa o trabalho de construção da unidade partidária e da organização política do partido em todo o país. Na Bahia o Secretário Político era Giocondo Dias.
Novos tempos…
O Estado Novo estava desmoronando, aquele aparato que perseguiu, torturou e matou comunistas sucumbiu diante das lutas sociais e dos novos tempos do mundo. Era o fim do governo despótico que havia enviado grávida, a heroína comunista, Olga Benário Prestes para os campos de concentração da Alemanha nazista para ser assassinada. Lá nasceu sua filha, Anita Prestes, símbolo de uma luta sem trégua contra a barbárie.
O povo tomou as ruas, o PCB se transformou no operador político da vanguarda brasileira. Caiu o Estado Novo no dia 18 de abril de 1945. Nesse dia histórico, na condição de Secretário Político do PCB na Bahia, e ao lado de Mário Alves, Carlos Marighella, Fernando Santana e João Falcão, Giocondo Dias fala para as massas da sacada de um prédio na praça municipal, no centro de Salvador. Era o líder revolucionário falando para os trabalhadores da sua terra. A história marchava para frente, a luta de classes favorecia ao proletariado, a burguesia reacionária encontrava-se debilitada e o PCB dirigia a esquerda brasileira.
Em junho de 1946, na III Conferência Política do PCB, realizada no Rio de Janeiro, Giocondo Dias é eleito para o Comitê Central. Nesse encontro, a vida do Cabo Vermelho é conhecida pela primeira vez dentro do partido e ele passou a gozar de uma grande admiração diante da descoberta de seus feitos em 1935. Ao término dessa conferência foi apresentado, publicamente, o CC (Comitê Central) na sede da UNE. Era sem dúvida um grande feito histórico. Foi eleito um CC com 29 efetivos e 15 suplentes. Entre os efetivos, além de Prestes, chamava à atenção a presença dos integrantes do “Grupo Baiano”.
No processo eleitoral de 1945 o partido teve uma grande participação. Seu candidato à presidência, o engenheiro Yedo Fiúza, tinha tido quase 10% dos votos e Prestes foi eleito Senador, juntamente com 14 deputados federais pelo PCB, e mais três por outros partidos. O PCB encontrava-se num momento de grande visibilidade pública.
Em janeiro de 1947 ocorreram eleições para deputados estaduais e governador. Na Bahia, o PCB lançou uma chapa composta por mais de 20 militantes e liderada por Giocondo Dias, mas que ainda tinha a presença de Ana Montenegro, Mário Alves, Jaime Maciel e o líder operário que seria depois condecorado na URSS, João dos Passos. Essa chapa elegeu dois deputados: Giocondo Dias e Jaime Maciel. Em Sete de abril de 1947 foi instalado os trabalhos da Assembleia Legislativa com caráter Constituinte. Giocondo Dias teve uma participação importante nos debates da Constituinte, levando para este espaço político as propostas dos trabalhadores.
Mas a burguesia interna, reacionária e golpista, articulou a reação conservadora para enfrentar os trabalhadores. No dia 7 de maio de 1947 cassou o registro do PCB. Começava uma longa jornada em defesa do partido que tinha uma presença enorme entre os trabalhadores, quase duzentos mil filiados, 17 deputados federais, 64 deputados estaduais, um senador legendário (mais bem votado do país) e um candidato a presidente que havia tido 10% dos votos na eleição nacional.
O PCB reagiu em todo país. Lutou nas diversas trincheiras, fez manifestações, publicou comunicados em seus jornais, a exemplo daqueles que saíram no jornal O Momento na Bahia, mas foi derrotado. Logo em seguida, no início de 1948, os parlamentares comunistas são cassados e um tempo de trevas se abriu novamente para aqueles que sempre lutaram pela liberdade.
No dia 8 de maio, Giocondo Dias fez um discurso na Assembleia Legislativa da Bahia, em nome dos “interesses do povo e da classe operária da nossa terra”. E no dia 14, realizava o seu discurso final, onde afirmava “[…] Um comunista é homem que sabe cumprir o dever e resistir à todas os arreganhos da reação e dos potentados senhores das classes dominantes.” E concluiu seu discurso dizendo que chegará um tempo onde “não haverá mais lugar para ditaduras terroristas como a que ora infelicita a nação, ditadura que nosso povo repudia e saberá substituir por um governo de sua confiança, um governo popular.” E concluiu dando vivas a Luiz Carlos Prestes.
Recomeça a longa noite…
Já na clandestinidade, Giocondo chega ao Rio de Janeiro em 15 de abril de 1948 e é designado pelo partido para ser um dos responsáveis pela segurança de Prestes. Em 1949, Giocondo, ficou efetivamente encarregado da segurança do Cavaleiro da esperança, agora já em São Paulo, substituindo ao João Amazonas. Assim, Giocondo era a única pessoa que tinha as informações sobre Prestes e sobre o aparelho onde esse residia, fazendo a ponte com a direção do partido.
O partido entrou na mais profunda clandestinidade e seus dirigentes mergulharam nos subterrâneos da luta. No entanto, em meados dos anos 1950, com a eleição de Juscelino (apoiado pelo PCB), ventos de liberdades democráticas modificaram a cena política brasileira.
Nesse mesmo período vem a público o relatório do XX Congresso do PCUS que traria uma larga crise ao partido. Mas após muitos debates o PCB supera aquele momento e numa reviravolta política, a partir da articulação de Giocondo Dias, apresenta uma nova linha política. Essa nova orientação foi apresentada pelo CC em março de 1958, ficando conhecida como a Declaração de Março. Esse documento contou com o apoio de Prestes, afinal, para o Secretário Geral, era a mediação possível no sentido de manter a unidade do partido. Vale ressaltar o papel primordial que tiveram Mário Alves e Jacob Gorender na elaboração do documento.
O PCB está, através da nova orientação, na ante-sala das articulações políticas. Termina o governo Juscelino, passa o episódio Jânio Quadros e agora é o governo Goulart. A Declaração de Março permitiu a reinserção do PCB na política nacional, todavia, se constituiu num instrumento para uma política reboquista frente ao governo e ao processo político em curso, permitindo vacilações frente à conjuntura de crise. Giocondo era, nesse período, o segundo dirigente na estrutura partidária na condição de Secretário de Organização e com o prestígio político em ascensão. Afinal, foi o articulador da nova linha política.
Era um momento muito importante na história do PCB e do Brasil: massas nas ruas, trabalhadores em greve, reformas de base em discussão e estratégias políticas em debate. O partido estava no ápice do seu papel de vanguarda no pós 1946, dirigia a classe operária via o GCT (Comando Geral dos Trabalhadores), estava no comando dos sindicatos rurais, através da CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), tinha muitos militantes nas forças armadas e nas forças públicas (PM). Poderia se dizer que o PCB estava com possibilidades de criar momentos de dualidade de poder. O que fazer? Continuava a indefinição dentro do partido (qual seria o caminho a seguir?), no governo o ambiente político era de confusão e vacilação. Todavia, a reação burguesa encontrou o seu caminho histórico, consolidou uma aliança dentro e fora do país, colocou as tropas na rua e deu o golpe burgo-militar de 1º de abril de 1964, efetivando assim a contra-revolução de forma preventiva.
A derrota política
Giocondo Dias estava alinhado em um campo dentro do partido que examinava o acirramento político, do início de 1964, com preocupação. Ele compreendia que o partido não tinha forças, naquele momento, para colocar a questão do poder na pauta da ação concreta. E, em virtude disso, temia que algo de muito grave ocorresse. Comprovou-se sua tese, a autocracia burguesa se rearticulou e impôs um golpe de classe no Brasil. Dias, assim como o partido, de forma mais dura ou menos fechada, entraram para a clandestinidade. Uma velha forma de vida e militância, conhecida por ele há muito tempo.
Nesse cenário político Giocondo Dias consolidou a sua liderança e lançou o documento “Manifesto ao Partido”. Prestes estava isolado dos debates, por se encontrar blindado na clandestinidade em virtude da repressão. Operavam no campo da luta política dois grupos: um liderado por Dias, que era composto por Geraldo Rodrigues, Jaime Miranda, Orlando Bonfim e Dinarco Reis, tendo o acompanhamento intelectual de Alberto Passos Guimarães, que era sempre consultado por Giocondo e outro, que era composto por Carlos Marighella, Mário Alves e Jover Telles.
Nesse processo, quanto mais o regime “endurecia”, mais estragos o partido sofria. Na disputa interna para encontrar uma orientação política, que refletisse sobre o golpe e apontasse o caminho para enfrentar a autocracia burguesa, foi convocado o VI congresso que viria ocorrer em dezembro de 1967, em São Paulo.
É um momento de grande ruptura política e orgânica que abriu uma fenda profunda na maior força política da esquerda brasileira. O PCB, agora sem os dissidentes, encontrou um novo rumo. Estava formulada a política de Frente Única com o chamamento à participação de amplas camadas populares. O trabalho do partido com base na “linha” definida começa a se mostrar vitoriosa, quando, ao mesmo tempo, os aparatos repressivos massacravam os bravos heróis, que mesmo equivocadamente, optaram pela luta armada. Dias sofreu muito com os assassinatos de camaradas e amigos de longas jornadas, como Mário Alves e Carlos Marighella.
Giocondo Dias operava na clandestinidade. Um terço do CC estava no exílio. Prestes já havia saído do país para não ser eliminado pela repressão, se estabeleceu em Moscou. A ditadura era impactada pelo o avanço das lutas sociais e políticas. Nesse momento a ditadura se voltou contra o PCB e lançou várias operações para destruir o partido. A repressão queria acabar com o papel do PCB na operação política que começava a abalar o poder do regime. Utilizando-se de várias técnicas, a repressão conseguiu com sucesso infiltrar seus agentes no partido, para, a partir daí, efetuar prisões e assassinar quadros dirigentes e lideranças de frente de massa. Quando começou o ano de 1974, essas operações avançaram e até 1976 conseguiram efetuar quase 700 prisões de militantes do partido e mais de 20 assassinatos de dirigentes, sejam eles do CC, CRs ou da base, como o operário Manuel Fiel Filho e o jornalista Vladmir Herzog.
Aqui no Brasil, na clandestinidade, Giocondo Dias sentiu o cerco da repressão que se fechava sobre ele e notando que ele corria risco, o CC no exílio, em conjunto com o governo Soviético, designou o baiano José Salles para organizar uma operação no sentido de tirá-lo do Brasil. Foi uma longa e bem sucedida operação, comandada pelo jovem dirigente que mais tarde viria a ser o Secretário Geral Adjunto do Partido, no exílio. Salles saiu com Dias pela fronteira do sul e conseguiu seguir em diversos vôos até Moscou.
Do Exílio ao comando do PCB: o papel do General da tática
Giocondo Dias se estabeleceu primeiro em Moscou e depois em Paris, onde passou a trabalhar em conjunto com outros dirigentes comunistas em um escritório cedido pela CGT. Era um trabalho de articulação política junto aos exilados da Frente de combate à ditadura brasileira. Ele fazia reuniões, desenvolvia contatos, articulava o partido no exterior e criava pontes para entrar em contato com seus camaradas no Brasil. Trabalhava de forma incessante. No exílio, ainda em Paris, Dias perde a companheira de sua vida. Faleceu D. Lourdes, a camarada Lourdes, a mulher que conviveu ombro-a-ombro com ele por toda uma jornada de vida.
Com a direção do partido quase toda no exílio, novas polêmicas se apresentaram no debate interno do CC. De um lado se postava o Cavaleiro da Esperança e do outro, mesmo sem demonstrar querer o combate, colocava-se o líder da maioria do CC, Giocondo Dias. Ele viajou por toda a Europa, discutindo com os camaradas do PCB e dos outros Partidos Comunistas. No Brasil a luta de massas avançava; a política econômica da ditadura fracassava, a Frente política crescia no parlamento desde as eleições de 1974, se organizavam lutas contra a carestia, pela anistia e por eleições gerais.
Era chegado o momento de voltar ao Brasil. Giocondo Dias retornou no dia 2 outubro de 1979. Alegre, e motivado, ele tenta organizar a sua vida para melhor atender a reconstrução do Partido.Reencontra sua mãe, que pouco depois faleceu, e se casa novamente. Mas a situação do PCB era de profunda cisão entre Prestes e o CC. Após algumas tentativas de resolução do longo impasse, o legendário Secretário Geral lança uma “Carta aos Comunistas” e se afasta da direção. É nesse contexto que o CC se reúne no dia 12 de maio de 1980 e, mesmo bastante desfalcado, por mortes e desaparecimentos, elege Giocondo Dias para a Secretaria Geral do PCB.
Giocondo Dias na condição de Secretário Geral viajou para Moscou, esteve em vários países da Europa, em Cuba, na China, sempre em reuniões com as lideranças comunistas. No Brasil, esteve em contato político com diversas forças que efetivaram a transição. O dirigente Dias, longe do cabo vermelho, agora era o General da tática. Operava na mediação da democracia e não conseguia perceber que a tática estava derrotando a estratégia socialista.
Na consolidação da política de frente Democrática, Giocondo Dias trabalhou na perspectiva da realização do VII congresso que começa no dia 13 de dezembro de 1982, em São Paulo, com a participação de 86 delegados. Contudo, a polícia invade o local e prende todos. Mais uma vez o velho combatente estava na cadeia. Todavia, 3 dias depois seria solto. Mesmo assim, ele seria mais uma vez detido quando retornava de uma viagem a Moscou, em 1985.
O velho dirigente Giocondo Dias seria ainda, antes de morrer, homenageado no Brasil e no exterior pela sua incansável luta em defesa da Democracia, da Paz e da perspectiva do Socialismo.
Mas um novo inimigo se apresentou para um último combate, Dias descobriu que tinha um tumor no cérebro. Foi tratado em Moscou, onde fez uma cirurgia em janeiro de 1987. Retornou ao Brasil e faleceu no dia 7 de setembro desse mesmo ano, seu corpo foi velado na AL (Assembléia Legislativa) do Rio de Janeiro e por lá passaram autoridades políticas, velhos e novos camaradas, intelectuais e simples tra- balhadores. Havia falecido um herói, o Cabo Vermelho, que nos legou um patrimônio de 52 anos de militância no Partido Comunista Brasileiro, o Partidão. Uma legenda da história não oficial do Brasil.
Por: Milton Pinheiro
Fonte: https://blogdaboitempo.com.br/2016/11/18/cabo-dias-o-revolucionario-de-1935/