Fundação Astrojildo Pereira
Filmes debatem fatos políticos e históricos no mês das eleições
Programação do Cineclube Vladimir Carvalho vai tratar sobre ditadura chilena, João Goulart, Revolução de 30, campanha de Bill Clinton e Segunda Guerra
Por Cleomar Rosa
Brasil, Chile, Estados Unidos e Polônia serão representados na programação de outubro do Cineclube Vladimir Carvalho, no Espaço Arildo Dória, no Conic, próximo à Rodoviária do Plano Piloto de Brasília (DF). As sessões, realizadas sempre às terças-feiras, seguem o cronograma e a proposta de difusão de conhecimento e cultura da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), mantenedora do cineclube. A entrada é gratuita.
No mês das eleições, os filmes vão tratar de fatos políticos e históricos como a situação política e social chilena na época do ditador Augusto Pinochet, o presidente João Goulart que foi eleito democraticamente e deposto, a Revolução de 30 no Brasil, a campanha presidencial de Bill Clinton e a história de um jovem ligado à frente nacionalista durante a Segunda Guerra Mundial.
O filme NO (Chile) vai abrir a programação no dia 2 de outubro. No dia 9, o público poderá conferir a Revolução de 30 (Brasil). A exibição de Dossiê Jango acontecerá no dia 16, The War Room (Estados Unidos) será a atração do dia 23, enquanto Cinzas e Diamantes (Polônia) vai fechar a lista de filmes exibidos no mês no dia 30. As sessões terão início às 18h30 e, ao final de cada uma, haverá roda de conversa sobre o tema do filme exibido.
Leia também:
Filmes destacam o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência
Brasília volta a ter cineclube de graça com nova programação
Dirigido por Pablo Larrain, em 2012, o filme NO mostra que, em 1988, no Chile, o governo ditatorial convoca um plebiscito para perguntar se a população apoia os militares. Um militar fica responsável pela campanha do Não, com ideias ousadas para convencer o povo a acabar com o regime militar. O filme tem classificação de 12 anos e 1h58 de duração.
O filme de Larrain tem relação com o episódio de outubro de 1972, que serviu como um marco para o regime militar chileno. Na época, os caminhoneiros paralisaram o país pela primeira vez, protestando contra a autoridade nacional do transporte. A crise econômica impulsionou os militares a depor o então presidente do país, Salvador Allende, um ano depois.
Já Dossiê Jango retrata a situação vivida por João Goulart, presidente eleito no Brasil democraticamente, mas que acabou deposto. O filme traz a questão de sua morte misteriosa à tona e tenta esclarecer fatos obscuros da história do país.
O filme Revolução de 30, dirigido por Sylvio Back, em 1980, no Brasil, é uma colagem de mais de 30 documentários e filmes de ficção dos anos 1920, com cenas inéditas do histórico episódio de destituição do então presidente Washington Luís e de ascensão de Getúlio Vargas ao governo do país. É permitido para pessoas com idade a partir de 14 anos e tem 1h58 de duração.
No caso brasileiro, outubro de 1930 serviu como período de intensas movimentações e mudanças políticas. No dia 24 daquele mês, a junta provisória militar assumiu o comando do país, após depor Washington Luís com apoio de grupos que fizeram incursões armadas no território nacional. Getúlio Vargas assumiu o governo dez dias depois com apoio da junta, que lhe transferiu o poder.
Eleições e Segunda Guerra Mundial
Don Alan Pennebaker é quem dirigiu o documentário The War Room, em 1993, nos Estados Unidos, mostrando como os “generais” George Stephanopoulos e James Carville e seus colaboradores revolucionaram a campanha presidencial de Bill Clinton, em 1992. O grupo articulou uma das grandes viradas políticas americanas. O filme tem 1h36 de duração.
Em outubro de 1992, à véspera da eleição para presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton se encorajou ainda mais, fortalecendo sua imagem perante o seu eleitorado. Ele foi eleito o 42º presidente dos EUA, no dia 3 de novembro daquele ano. Ele recebeu quase 45 milhões de votos, 43% do total. George Bush, que tentava a reeleição, teve 38%.
Já o drama Cinzas e Diamantes, de 1958, e com direção de Andrzej Wajda, mostra a história de um jovem rebelde ligado à frente nacionalista. No último dia da Segunda Guerra Mundial, ele recebe a missão de assassinar um líder comunista. Perturbado pela transformação repentina de aliados em inimigos, o jovem decide aproveitar a vida por uma noite, quando se apaixona por uma garçonete e pensa em desistir da luta.
Com capacidade para 65 lugares, o Cineclube Vladimir Carvalho fica na parte superior do Espaço Arildo Dória, dentro da Biblioteca Salomão Malina – mantida pela Fundação Astrojildo Pereira. Todos os filmes serão exibidos em uma tela de projeção retrátil de 150 polegadas, com imagem de ótima qualidade. Participe!
Biblioteca Salomão Malina renova acervo e conta com 6,5 mil livros para empréstimo
Obras são provenientes de compras, permutas e doações. Local integra a Fundação Astrojildo Pereira (FAP), no Conic, em Brasília
Por Cleomar Rosa
Estudantes, pesquisadores e demais segmentos da população de Brasília têm à disposição 1.674 novos livros do ramo de ciências sociais na Biblioteca Salomão Malina, no Conic, um importante ponto de cultura urbana próximo à Rodoviária do Planto Piloto. Com as novas aquisições, a biblioteca pública, que integra a Fundação Astrojildo Pereira (FAP), passa a oferecer à população um acervo de 6,5 mil obras para empréstimo. A FAP é a fundação mantida pelo Partido Popular Socialista (PPS).
Entre os novos livros adquiridos - e que estão à disposição de todos os frequentadores da biblioteca - estão obras como As consequências da modernidade, de Anthony Giddnes; Modernidade líquida, de Zygmunt Bauman; A Revolução Global: História Do Comunismo Internacional 1917-1991, de Silvio Pons; Pensadores da Nova Esquerda, de Roger Scruton; História Da Riqueza No Brasil, de Jorge Caldeira; A Quarta Revolução de John Micklethwait; Uma Breve História da Humanidade - Sapiens, de Yuval Noah Harari; Pós-Guerra - História da Europa desde 1945 e Pensando o século XX, de Tony Judt; a série sobre a Ditadura, de Elio Gaspari (quatro volumes) e Redes de Indignação e Esperança, de Manuel Castells, entre outras.
Os empréstimos são feitos após um simples cadastro dos usuários no local e sem qualquer custo. Além de livros, a biblioteca oferece ao público jornais diários e revistas semanais, como a Veja e a Piauí e jornais como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Valor Econômico, O Globo, Correio Braziliense, por exemplo, para leitura no local e rede wi-fi grátis, em um ambiente climatizado. O acervo predominante é do ramo de ciências sociais, com obras de história, sociologia, filosofia, economia e política.
Do total do novo acervo, a fundação comprou 140 novos livros, no valor de R$ 6.382,19, de acordo com a coordenadora da biblioteca, Thalyta Jubé. Segundo ela, 34 obras foram adquiridas por meio de permuta, enquanto outras 1,5 mil foram doadas por usuários do local, integrantes da diretoria ou conselheiros da FAP e simpatizantes do Partido Popular Socialista (PPS).
As doações começaram em setembro de 2017 e a mais recente foi cadastrada neste mês de agosto. Interessados ainda podem fazer novas doações. Antes de disponibilizá-las ao público, a biblioteca realiza uma seleção conforme o perfil do acervo. As obras que têm perfis diferentes são doadas, posteriormente, pela biblioteca, com o intuito de favorecer a cultura.
Para consultar o acervo da biblioteca, clique aqui e aqui.
Eixos temáticos
Conselheiro da FAP, Caetano Ernesto Pereira de Araújo explica que o acervo da biblioteca se baseia em três linhas temáticas, prioritariamente. A primeira, segundo ele, é sobre a história do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do Partido Popular Socialista (PPS).
A segunda linha temática envolve obras de grandes escritores brasileiros que foram filiados ao PCB. Ele citou, por exemplo, Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado. “Há diversos outros. A influência do PCB nas artes e no meio intelectual foi muito forte”, afirmou o conselheiro.
O terceiro eixo temático é mais teórico. “Tem as obras da teoria marxista e do leninismo, que inspirou a formação de partidos comunistas no mundo”, disse o representante da FAP. Ele ressaltou, ainda, que a biblioteca conta com obras que surgiram a partir das formulações marxistas e obras de teóricos que pensam uma esquerda pós-comunista.
Sistema informatizado
A Biblioteca Salomão Malina está em processo de nova catalogação de todas as obras em um sistema informatizado, que também serve para o cadastro de usuários e empréstimo de livros. “As novas aquisições possibilitam aos usuários mais opções de pesquisa a conteúdos mais atuais e relevantes para a formação de opinião e formação crítica”, diz Thalyta Jubé.
Para utilizar o serviço de empréstimo de livros, o usuário deve se cadastrar pessoalmente no balcão de atendimento e apresentar documento oficial com foto e comprovante de residência. Cada pessoa tem direito à retirada de até dois livros por vez. A devolução da obra fora do prazo (dez dias consecutivos) implica em pagamento de multa de dois reais, por dia de atraso e para cada obra.
Além de consulta e empréstimos de livros, a biblioteca disponibiliza ao público um quiosque cultural, onde as pessoas podem pegar gratuitamente as publicações da FAP e outros livros de diversos temas. O local fica aberto de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.
Memória viva
Inaugurada em 28 de fevereiro de 2008, a Biblioteca Salomão Malina se tornou um importante espaço de incentivo à produção do conhecimento em Brasília. Sua missão é servir como instrumento para análise e discussão das complexas questões da atualidade, aberta a todo cidadão. Ela foi reinaugurada em 8 de dezembro de 2017, após uma ampla reforma.
A biblioteca leva o nome do último secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB), entre 1987 e 1991. Ele ingressou no PCB no início dos anos 1940 e, durante sua vida, passou alguns anos presos e cerca de 30 anos na clandestinidade. Seus livros foram o embrião da biblioteca.
Salomão Malina combateu, como oficial da força Expedicionária Brasileira (FEB), nos campos da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele foi agraciado, por sua bravura, com a cruz de combate de Primeira Classe, a maior condecoração do Exército Brasileiro. Também atuou como diretor do Jornal Imprensa Popular, do PCB, nos anos de 1950.
Serviço
Biblioteca Salomão Malina
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.
Endereço: Conic - Setor de Diversões Sul – Bloco P – Edifício Venâncio III, Loja 52, em Brasília (DF), próximo à Rodoviária do Plano Piloto.
Confira as novas aquisições da Biblioteca Salomão Malina
http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/wp-content/uploads/2018/08/lista_aquisicoes.pdf
Confira a lista de livros catalogados na Biblioteca Salomão Malina
http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/wp-content/uploads/2018/08/livros_catalogados.pdf
Confira a lista de livros cadastrados na Biblioteca Salomão Malina
http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/wp-content/uploads/2018/08/livros_cadastrados.pdf
Seminário da FAP aborda o pensamento de Zigmunt Bauman e o “mal-estar” brasileiro
Evento contará com a participação do tradutor das obras de Zigmunt Bauman no Brasil, Carlos Alberto de Medeiros
O pensamento do sociólogo e filósofo polonês Zigmunt Bauman ante ao “mal estar” no contexto brasileiro atual será o foco de seminário no próximo dia 23 de julho (segunda-feira), às 20h no auditório da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), no Espaço Arildo Dória, no Conic, em Brasília (Edifício Venâncio III, Loja 52). O evento tem o apoio do Coletivo Igualdade 23, do PPS, e da Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB).
O mediador do seminário será o jornalista Sionei Ricardo Leão. A presidente da ACIB, Tamara Socolik, será uma das mediadoras, ao lado de Paola Amendoeira, psicanalista e membro do Comitê do Instituto de Psicologia Aplicada (IPA) junto à ONU. O evento também contará com a participação do tradutor das obras de Zigmunt Bauman no Brasil, Carlos Alberto de Medeiros.
A missão de fazer esse paralelo conceitual será do jornalista, ativista e estudioso da questão racial, Carlos Alberto Medeiros – que traduziu 22 obras de Bauman para a língua portuguesa.
Bauman, que faleceu em janeiro do ano passado, aos 91 anos, foi autor de mais de 50 obras e diversos artigos dedicados a temas como o consumismo, a globalização e as transformações nas relações humanas.
Modernidade Líquida
Um de seus textos mais conhecidos é Modernidade Líquida. Nessa obra, ele discute as condições da pós-modernidade, as transformações do mundo moderno nos últimos tempos. Para o sociólogo a tão debatida “pós-modernidade” é um conceito meramente ideológico.
Bauman também propõe que nos tempos atuais, as relações entre os indivíduos nas sociedades tendem a ser menos frequentes e menos duradouras. Uma de suas frases mais emblemáticas é “as relações escorrem pelo vão dos dedos".
O sociólogo nasceu em Poznan, no seio de uma família judia. Em 1939, junto com os pais escapou da invasão das tropas nazista na Polônia e se refugiou na União Soviética. Alistou no exército polonês no front soviético. Em 1940 ingressou o Partido Operário Unificado – o partido comunista da Polônia. Em 1945 entrou para o Serviço de Inteligência Militar, onde permaneceu durante três anos.
Em março de 1968, Bauman foi vítima do expurgo antissemita que obrigou muitos poloneses de origem judia a deixarem o país. Exilado em Israel, lecionou na Universidade de Tel-aviv. Em 1971, foi convidado para lecionar Sociologia na Universidade de Leeds, Inglaterra, onde também dirigiu o departamento de sociologia da Universidade até sua aposentadoria, em 1990.
Carlos Alberto Medeiros é autor de Racismo, preconceito e intolerância (com os antropólogos Jacques D’Adesky e Edson Borges) e Na lei e na raça. Legislação e relações raciais Brasil – Estados Unidos, resultado de sua dissertação de mestrado, com o qual iniciou um mergulho nos estudos comparativos abordando as duas sociedades.
SERVIÇO
Seminário Bauman e o mal-estar de nossa sociedade
Data: 23/07, às 20h
Local: Auditório do Espaço Arildo Dória, da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), no Conic - Edifício Venâncio III, Loja 52.
FAP Entrevista: Cristovam Buarque
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) é reconhecido, nacionalmente e internacionalmente, por seus esforços e inúmeros trabalhos por uma educação de qualidade no Brasil, que vão desde diversos livros e artigos publicados sobre o tema, até a ocupação de cargos de alto escalão, como Ministro da Educação e reitor da Universidade de Brasília (UNB)
Por Germano Martiniano
O entrevistado desta semana da FAP Entrevista é o senador e presidente do Conselho Curador da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), Cristovam Buarque (PPS-DF). Oriundo de Recife (PE), é engenheiro mecânico, economista, educador, professor universitário e político filiado ao Partido Popular Socialista (PPS). Também foi reitor da Universidade de Brasília (UNB) de 1985 a 1989 e governador do Distrito Federal de 1995 a 1998. A entrevista faz parte de uma série que está sendo publicada, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.
Eleito senador pelo Distrito Federal em 2002, em 2003 foi nomeado Ministro da Educação, no primeiro mandato de Lula, ficando até 2004. Foi reeleito nas eleições de 2010 para o Senado pelo Distrito Federal, com mandato até o fim deste ano. Cristovam também foi perseguido político da ditadura militar de 1964, e assim, seguiu para o auto-exílio na França. Fora do Brasil trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) entre 1973 e 1979, tendo ocupado postos no Equador, em Honduras e nos Estados Unidos.
Cristovam Buarque é reconhecido, nacionalmente e internacionalmente, por seus esforços e inúmeros trabalhos por uma educação de qualidade no Brasil, que vão desde diversos livros e artigos publicados sobre o tema, até a ocupação de cargos de alto escalão, como titular do Ministério da Educação e a reitoria da UNB. Ao ser questionado sobre quais soluções poderiam resolver a questão da violência no Brasil, o senador foi categórico: “A paz só virá com um projeto de desenvolvimento includente socialmente e, em minha visão, o caminho para isso é a escola de qualidade, igual para todos”.
Buarque também comentou o julgamento do pedido de habeas corpus do ex-presidente Lula, que está preso em Curitiba desde ontem (6/4). Para o senador o resultado, ainda que importante, expôs a instabilidade da Justiça brasileira. “Hoje, quando assistimos as falas dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), nós, os 220 milhões de brasileiros, não nos sentimos seguros de que são decisões capazes de nortear corretamente o Brasil por décadas. Tudo indica que, nas próximas semanas, irão tomar decisões diferentes”, avalia o senador.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista com o senador Cristovam Buarque:
FAP Entrevista - O Brasil viveu uma semana agitada com o julgamento do ex-presidente Lula. Como o senhor avalia a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de negar o pedido de habeas corpus para ele?
Cristovam Buarque - O Brasil vive um século de clima agitado por falta de coesão nacional e rumo histórico. O que estamos vendo hoje com a prisão do Lula, votações e com a instabilidade jurídica, é conseqüência dessa falta de coesão e rumo. Na votação do STF, o que mais dificulta para o Brasil, não é questão do habeas corpus aprovado ou negado, mas sim as idas e vindas dos votos dos ministros, a instabilidade que eles criam e a mensagem que eles passam de insegurança. Hoje, quando assistimos as falas dos ministros, nós, 220 milhões de brasileiros, não nos sentimos seguros de que são decisões capazes de nortear corretamente o Brasil por décadas. Tudo indica que nas próximas semanas irão tomar decisões diferentes.
Em relação às eleições presidenciais alguns analistas políticos consideravam que, com Lula concorrendo, se fortalecia o extremo oposto, Bolsonaro. Com o ex-presidente praticamente fora do “jogo”, o senhor acredita que Bolsonaro ainda tem chances reais de vitória ou o centro democrático se fortalece?
Creio que o centro democrático ainda não se fortalece. Hoje corremos riscos de chegar ao segundo turno com os extremos, um autoritário e outro populista, duas alternativas muito ruins. Sobretudo porque são alternativas que não olham para o futuro e sim nostálgicas, uma querendo olhar para década de 1950 e a outra para 1964, ao invés de termos propostas cheias de esperança olhando para o futuro. O centro, lamentavelmente, não está conseguindo trazer uma esperança de novidade. Está querendo se fortalecer, apenas, pelo medo dos dois extremos. Assim, o risco da eleição é que alguns irão votar com raiva e outros votarão com medo. Porém, ninguém votando com esperança, que é o que deveria ser o propósito de uma eleição. Está faltando atrair o eleitor para uma esperança.
Em seu último artigo, o senhor falar sobre o assassinato da vereadora Marielle, que foi vítima, em sua visão, da violência originada na discrepância social que impera no Brasil há séculos. Quais medidas podem ser tomadas para se combater a violência no país, que tem números de mortos bem superiores aos de muitas guerras pelo mundo?
Antes de tudo, tem duplo sentido. Eu não imagino que o assassinato de Marielle foi, antes de qualquer coisa, motivado por razões sociais. Ela foi morta, de fato, por balas. Portanto, seus assassinos que puxaram os gatilhos são os responsáveis imediatos e, vergonhosamente, não estão presos. Agora, o que eu insisto em dizer é que há um causa mais profunda para os assassinatos de nossos heróis, que lutaram pela defesa dos índios, abolição, independência, desenvolvimento, democracia. etc... Há uma causa concreta na violência do Brasil: nunca tentamos ser uma nação na qual exista coesão. Algo que faça nos sentirmos parte de um mesmo conjunto, que apenas sentimos em anos de Copa do Mundo. A falta de coesão e rumo leva a assassinatos. Tivemos muitos no passado. Tivemos o da Marielle e, se não fizermos a coesão e o rumo, que deixa a população alegre e entusiasmada, teremos outros assassinatos no futuro. É isso que meu artigo quis colocar. Quanto a resolver a violência, não resolveremos num passe de mágica. Podemos até prender mais gente, como os assassinos de Marielle, que ainda não estão presos. Podemos construir mais cercas nas casas, construir mais cadeias, termos uma policia mais eficiente. Mas isso não resolverá a violência como um todo. A paz só virá com um projeto de desenvolvimento includente socialmente e, em minha visão, o caminho para isso é a escola de qualidade, igual para todos.
Esta semana o senhor deu entrada em um projeto de lei, o PLS 458, que permitirá, caso aprovado, que as universidades federais tenham autonomia administrativa, financeira e patrimonial para gerir recursos oriundos da prestação de serviços à comunidade. De que maneira este projeto pode realmente beneficiar as universidades?
A crise da Universidade de Brasília (UNB), por exemplo, é muito antiga. Uma das causas é o déficit fiscal do governo federal que vem da crise da previdência. Quando gastamos mais de R$ 200 bilhões por conta do déficit da Previdência, acabamos tirando de algum lugar, como da universidade. Sugeri, portanto, a reitora da UNB que encontrássemos formas de solucionar o problema. Primeiro, aumentando os recursos do governo na hora de elaborar o Orçamento, pois a lei do teto permite aumentar o dinheiro para educação, para a universidade. Mas, enquanto isso não acontece, também sugeri algumas outras ações. Uma delas, por exemplo, é cobrar uma taxa pequena sobre o estacionamento dos carros. Isso daria mais de R$ 20 milhões por ano para a Universidade de Brasília. No entanto, atualmente, este dinheiro não iria para a universidade e sim para o Tesouro Nacional. O que estou tentando, a partir deste projeto de lei, é que os recursos que conseguirem por elas próprias fiquem nas universidades, e não sejam levados para um fundo que ninguém controla e que acaba servindo apenas para financiar desperdícios do governo e não os déficits que temos nas universidades.
O que pode ser feito em curto prazo para termos uma educação de qualidade, do ensino básico ao superior?
Nada. Não existem milagres na educação. As crianças crescem em certa velocidade, elas fazem dois anos, depois três, depois quatro e assim sucessivamente. Ela não pula dos cinco para os vinte anos. Educação se faz através deste ritmo. Nenhum país do mundo fez sua revolução educacional em um prazo curto de tempo. Todos os países levaram algumas décadas para revolucionar a educação. Foi assim na Coréia do Sul, Finlândia, nos países da Escandinávia. Não há milagre em mudanças sociais. Este é um erro no Brasil, os demagogos e populistas querem resolver e prometem mudanças de um dia para o outro. A minha proposta para que o Brasil chegue a ser um país de educação compatível com a desses países citados, igual para pobres e riscos, é que o governo federal crie uma carreira nacional do magistério pagando muito bem, construa novas escolas com equipamentos modernos e todas as crianças em horário integral. Para alcançar essa idéia no Brasil inteiro levará duas, três ou mais décadas. Um dos caminhos para essa realização é que o governo federal o faça adotando as escolas das cidades que não tem condições de dar uma boa educação às suas crianças, e que isso seja feito num ritmo que não quebre a instabilidade fiscal, pois se a inflação voltar, nada disso vai adiantar. A minha proposta, que eu chamo de Adoção Federal das Escolas Municipais, é um programa de longo prazo no Brasil inteiro e de curto prazo nas cidades. Emm dois anos podemos fazer isso numa cidade pequena. Claro que existem coisas que podem ser feitas para melhorar, a curto prazo, nossa educação. Porém, eu não me contento em ir melhorando, eu quero revolucionar a educação brasileira.
O PPS no Congresso Nacional decidiu por abrir conversas para um eventual apoio a candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência. O atual governador de São Paulo pode ser a figura que o Brasil precisa para aglutinar o centro democrático e tirar o Brasil do retrocesso econômico e social vivido nos últimos anos?
Não sei ainda. Vai depender dessas conversas. É preciso lembrar que no Congresso se aprovou um indicativo de diálogo e não de apoio. Deste dialogo é que pode surgir um apoio. Hoje eu vejo o Alckmin como uma pessoa que pode ter sucesso no centro, mas se trazer uma esperança nova. Eu ainda vejo que Alckmin enxerga o Brasil como uma grande São Paulo, mas não é. O diálogo, portanto, significa levar para ele o que nosso partido deseja. Qual a nossa proposta para educação? É a federalização ou a municipalização como vemos? Em São Paulo, os municípios não são tão pobres quanto no Nordeste, e deixar a escola na mão do município é condenar a educação da criança que estuda nesta escola. O que Alckmin pensa, de fato, sobre o meio ambiente? Como ele quer tratar o problema da diversidade de gênero, que no PPS é tão presente? Acho cedo, portanto, declarar apoio ao Alckmin sem antes estabelecer um diálogo.
Quais devem ser as prerrogativas do PPS, enquanto esquerda democrática, para apoiar Alckmin nas eleições 2018?
Levei ao Roberto Freire que devemos apresentar ao Alckmin um programa de governo que gostaríamos de ver empunhado por ele. Se ele não aceitar totalmente, que ele nos convença de algumas mudanças. Não precisamos nos impor, podemos mudar e melhorar. Se ele, simplesmente, recusar, creio que podemos levar a outros candidatos que também não estão posicionados nos extremos, como Marina Silva e Álvaro Dias.
O senhor tem falado em suas últimas entrevistas que o Brasil necessita de coesão e rumo. Como ter coesão, atualmente, em uma sociedade tão polarizada como a brasileira?
Não vai ter. Quando eu defendo que venha ter coesão é exatamente termos um candidato a presidente que traga um discurso capaz de coesionar o Brasil. Um discurso de estadista. Um estadista não fala para uma classe social, o estadista fala para o conjunto da população. Além disso, o estadista não fala apenas para o presente. O estadista fala o que propõe para o futuro. Hoje, não tem como ter coesão e nem termos rumo, mas a eleição é daqui a alguns poucos meses e um bom discurso, um bom projeto, por um candidato com carisma, pode construir as bases para essa coesão e esse rumo.
Retrospectiva 2017 da FAP
O ano de 2018 também será marcado por diversas ações que vão reforçar a linha de atuação da Fundação Astrojildo Pereira (FAP)
Por Germano Martiniano
O ano de 2017 da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) foi marcado, principalmente, por realizações voltadas para promover o debate político democrático e ampliar a atuação da FAP pelo Brasil afora. O ano também marcou o início da atuação da nova diretoria, eleita para o biênio 2017-2018, a qual tem o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) como presidente do Conselho Curador. Luiz Carlos Azedo, jornalista, eleito como diretor-geral da Fundação, coordenou as principais mudanças e projetos da Fundação neste ano, os quais terão sequência em 2018.
O senador Cristovam Buarque destaca dois lançamentos realizados pela FAP como fundamentais na atuação da Fundação em 2017: a reinauguração do Espaço Arildo Dória, da Biblioteca Salomão Malina e do Cineclube Vladimir de Carvalho e o lançamento da coletânea “Brasil, Brasileiros – Por que Somos assim?”, considerada por ele como uma obra marcante para o debate em busca de país mais justo, igualitário e democrático. "Nós realizamos várias reuniões muito positivas do Conselho Curador e inauguramos um espaço maravilhoso, muito agradável, muito interessante, no Conic. É um espaço de muita importância. Acho que foi, inclusive, a ação mais importante feita pela Fundação neste ano", avalia.
De acordo com o presidente do Conselho Curador da FAP, a importância da revitalização do Espaço Arildo Dória, da Biblioteca Salomão Malina e do Cineclube Vladimir de Carvalho reside no fato de ser um espaço permanente. "Vai trazer um retorno muito grande para o debate na cidade, principalmente agora que teremos de decidir tantas coisas importantes para o país. É um espaço que vai dar muito retorno para todos nós", completa.
Cristovam Buarque ressalta, ainda, o importante papel que o novo espaço da FAP no Conic terá no próximo ano: "Ele será fundamental para debater o futuro do Brasil", avalia. "Temos de usar esse novo espaço criado pela FAP para debater o futuro do Brasil. Do Brasil que queremos apresentar durante a campanha de 2018 aos candidatos, caso o PPS não venha a ter um candidato próprio à Presidência da República, por exemplo. Esse espaço será perfeito para o PPS mostrar suas propostas para o Brasil", acredita.
"Quando olho os outros partidos, os outros candidatos, vejo somente tentativas de ganhar a eleição para o nome, não para ganhar o plebiscito de um novo País, de um novo Brasil. Devemos formular nossa proposta. O PPS é o partido que pode trazer estas propostas. Por isso devemos formulá-las, caso venhamos a apoiar algum candidato", acredita o presidente do Conselho Curador da Fundação Astrojildo Pereira.
Destaques
“Destaco a revitalização do Espaço Arildo Dória e da Biblioteca Salomão Malina; os Encontros de Jovens Lideranças na Colônia Kinderland (RJ) e o Seminário Internacional realizado em parceria com o Instituto Teotônio Vilela (ITV), por exemplo, cuja realização foi uma iniciativa da FAP", ressalta Luiz Carlos Azedo.
De acordo com o diretor-geral da FAP, o ano de 2018 também será marcado por diversas ações que vão reforçar a linha de atuação da fundação, centrada na interlocução com a intelectualidade democrática e progressista, a formação política e a produção de conhecimento sobre a realidade brasileira e mundial. "Em março, faremos a conferência sobre a Nova Agenda do Brasil; no segundo trimestre, reativaremos a Academia Digital Itamar Franco. Também pretendemos promover o III Encontro de Jovens, um encontro da Igualdade e outro da Diversidade."
Redes sociais
A Fundação Astrojildo Pereira atuou fortemente para marcar sua presença nas redes sociais durante o ano de 2017. Até dezembro foram realizadas mais de 80 transmissões ao vivo no canal da FAP no Facebook (www.facebook.com/facefap), por exemplo, além da divulgação também por meio do Twitter. Entre os eventos transmitidos ao vivo estão os dois encontros de Jovens Lideranças, ambos realizados no Rio de Janeiro; o Seminário "Um Pouco de Gramsci não faz mal a ninguém", evento realizado em parceria com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro; o Seminário Internacional em parceria com o Instituto Teotônio Vilela (ITV), em São Paulo; e a reinauguração do Espaço Arildo Dória, da Biblioteca Salomão Malina e do Cineclube Vladimir de Carvalho, no Conic, em Brasília.
Ao todo, com as transmissões ao vivo no Facebook, foram alcançados mais de 87 mil usuários únicos e alcançadas mais de 129 mil impressões (confira o relatório na íntegra ao final do texto ou faça o download clicando aqui).
Retrospectiva 2017 da FAP em vídeo
https://youtu.be/4IQihjVxr-Q
Os principais acontecimentos da FAP em 2017
Janeiro
- Há quem diz que o Brasil começa funcionar apenas depois do carnaval. Não na FAP. Os trabalhos foram iniciados logo no começo do ano, com diversas ações importantes, como o início da reforma da Biblioteca Salomão Malina; a reunião dos conselheiros de São Paulo com o embaixador Andre Amado para discutir a pauta do Seminário Internacional e a escolha do local e preparação do Encontro de jovens.
Fevereiro
- Há quem diz que o Brasil começa funcionar apenas depois do carnaval. Não na FAP. Os trabalhos foram iniciados logo no começo do ano, com diversas ações importantes, como o início da reforma da Biblioteca Salomão Malina, que teve o projeto da reforma arquitetônica doado pelo arquiteto Bruno Fernandes, da Archi5; a reunião dos conselheiros de São Paulo com o embaixador Andre Amado para discutir a pauta do Seminário Internacional e a escolha do local e preparação do Encontro de jovens.
Março
- Em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), a FAP promoveu, em Recife (PE), um seminário para relembrar os 200 anos da Revolução Pernambucana de 1817, considerada um dos mais importantes movimentos contestatórios do período colonial brasileiro e que teve inúmeras consequências para o País. O senador Cristovam Buarque, natural da cidade, foi o destaque da mesa.
- A FAP também realizou, em Brasília, a primeira de duas reuniões ordinárias do Conselho Curador em 2017 para examinar, dentre outros assuntos, a prestação de contas do ano de 2016.
- Neste mês também foi lançada a edição Nº 47, Ano XVI, da Revista Política Democrática, com o tema "A Democracia Sob Ataque".
Abril
- Com apoio do PPS, a Fundação realizou o Seminário Sindical “O Novo Mundo do Trabalho”, que debateu as novas relações de trabalho e as reformas da Previdência e trabalhista propostas pelo governo Michel Temer. O evento contou com a participação de sindicalistas e militantes históricos do PPS. Participaram dos debates, entre outros, o líder da bancada do PPS, deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA); Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal durante os governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) e o deputado estadual Davi Zaia (PPS-SP), que exercia a presidência nacional do PPS interinamente.
- Em Brasília, foi realizado o seminário Mulheres na Política, com apoio da Coordenação Nacional de Mulheres do PPS. O tema discutido foi “Propostas para avançar com as mulheres no Parlamento”. Temas como a questão do espaço feminino no Legislativo e a violência contra a mulher também foram tratados no debate.
Maio
- A FAP participou do Seminário de Combate à LGBTfobia, evento realizado em homenagem ao Dia Internacional de Combate à Homofobia, celebrado em todo o mundo no dia 17 de maio. A FAP fez cobertura ao vivo do evento e foi representada pelo presidente de seu conselho curador, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).
- Alberto Aggio e Luiz Sérgio Henriques, dirigentes da FAP e especialistas em Gramsci no Brasil, representaram a Fundação e integraram a mesa do Seminário Hegemonia e Modernidade, em Roma, Itália, no momento em que se completava os 80 anos da morte de Antonio Gramsci, uma das referências essenciais do pensamento de esquerda no século 20 e co-fundador do Partido Comunista Italiano.
Junho
- A FAP participou da 33ª Feira do Livro de Brasília. Na ocasião, a Fundação montou seu próprio estande, onde doou livros de produção própria, como os do historiador Alberto Aggio, que esteve no local para sessão de autógrafos de Um Lugar no Mundo – Estudos de história política latino-americana. No total, 5.010 livros de diversos autores publicados pela FAP foram doados, o que ratifica o sucesso do estande.
Julho
- Dinâmico e interativo, o novo portal da FAP foi lançado em julho, com o objetivo de se integrar fortemente às redes sociais da Fundação e reforçar o relacionamento com o público.
- Depois de ótimos resultados no I Encontro de Jovens Lideranças, a FAP decidiu realizar o II Encontro, no mesmo lugar, a Colônia Kinderland no Rio de Janeiro. O evento contou com a presença de 120 jovens de todo o país, além de dirigentes do PPS, como o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), presidente nacional do partido; conselheiros e diretores da Fundação Astrojildo Pereira, além de palestrantes convidados. Foram cinco dias em que os jovens puderam ficar imersos em cursos e palestras voltados para a formação política de cada um dos participantes.
- Em julho também foi lançada a edição Nº 48, Ano XVI, da Revista Política Democrática, que teve o tema "A Crise Parece Não Ter Fim".
Agosto
- Realizado pela FAP em parceria com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, o evento “Um pouco de Gramsci não faz mal a ninguém” lembrou os 80 anos da morte do filósofo italiano e destacou a discussão em torno da democracia politica, valor presente em sua obra.
- Com apoio da FAP, a Roda Democrática, grupo de discussão em defesa da ordem democrática, da constituição e do republicanismo, da qual participam vários dirigentes da fundação, organizou debates no Rio de Janeiro e em São Paulo.
- O mês também foi marcado pela realização de uma campanha de doação de livros pela FAP, com o objetivo de obter exemplares para enriquecer o acervo original da biblioteca Salomão Malina, último secretário-geral do PCB. Entre as doações recebidas pela Fundação, destacam-se o arquivo do deputado federal Roberto Freire, presidente nacional do PPS, e das bibliotecas do Sergio Besserman, de Cézar Rogélio Vasquez e Jorge Oliveira, além das doações realizadas por Arlindo Fernandes e Everardo Maciel.
Setembro
- Em parceria inédita com o Instituto Teotônio Vilela (ITV) e a intermediação do embaixador André Amado, a FAP realizou, em São Paulo, o Seminário Internacional “Desafios políticos de um mundo em intensa transformação”, que discutiu temas de grande importância para o Brasil e o mundo. O Seminário teve entre seus debatedores nomes reconhecidos nacionalmente e internacionalmente, como o do ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e Adrian Wooldridge (Coautor de A Quarta Revolução), entre outros importantes convidados.
- Juntamente com a Livraria Cultura, a FAP promoveu, em Brasília, o lançamento do livro “Caminhos da Esquerda – Elementos para uma reconstrução”, do filósofo Ruy Fausto. O evento contou com uma mesa de debate com o autor da obra, o sociólogo Caetano Araújo e o presidente do Conselho Curador da FAP, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).
- O grupo Roda Democrática organizou sua terceira edição de discussões em torno da realidade brasileira, desta vez, em Brasília (DF).
Outubro
- Em parceria com a Verbena Editora, a FAP lançou o livro “O impeachment de Dilma Rousseff – Crônicas de uma queda anunciada”, de autoria do jornalista Luiz Carlos Azedo, colunista de política dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas. O evento teve sessão de autógrafos com o autor e foi realizado em Brasília. No livro o autor faz uma análise refinada de um dos períodos mais conturbados da história democrática do nosso país.
- Também foi lançado o livro – A Gestão Compartilhada Em Vitória – ES, em Vitória. A obra, mais uma publicação da FAP, faz um resumo da gestão do prefeito Luciano Rezende, 2013-2016, que é referência para todo o Brasil. A obra mostra os resultados, evidentes, alcançados em apenas quatro anos de administração e preponderantes para a conquista do segundo mandato para Luciano Rezende como prefeito de Vitória, capital do Espírito Santo. Para além da disputa eleitoral, no entanto, há uma grande história de inovação nos bastidores dessa trajetória.
- Reunião de diretoria da FAP para a apresentação do projeto de revitalização da Biblioteca Salomão Malina e Espaço Arildo Dória.
Neste ano que foi celebrado os 100 anos da Revolução Russa, a FAP foi representada por seu dirigente e historiador, Alberto Aggio, no Seminário internacional “100 anos da Revolução Russa e a América Latina” em São Petersburgo, Rússia.
Novembro
- Dando continuidade na roda de discussões sobre a realidade social brasileira, o grupo Roda Democrática organizou sua quarta edição. A cidade escolhida foi Recife (PE).
- Continuidade do lançamento do livro “O impeachment de Dilma Rousseff – Crônicas de uma queda anunciada”, de autoria do jornalista Luiz Carlos Azedo, colunista de política dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas. Desta vez, os lançamentos foram no Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória.
Dezembro
- O ponto alto do mês foi a reinauguração do Espaço Arildo Dória, da Biblioteca Salomão Malina e do Cineclube Vladimir de Carvalho, que foram reformados, revitalizados e reinaugurados pelo deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), presidente nacional do PPS, com a presença de Pedro Malina, filho de Salomão Malina. O Espaço ganhou instalações mais adequadas, inclusive para cadeirantes e idosos, à realização de cursos, palestras, debates e eventos, com um auditório para 65 pessoas; aberta ao público, a biblioteca foi ampliada e atualizada, com doações importantes (acervos das bibliotecas pessoais de Roberto Freire, Sergio Besserman, Cézar Rogélio Vasquez, Jorge Oliveira, Arlindo Fernandes e Everardo Maciel) e o cineclube ganhou equipamentos modernos de projeção e de som. O evento contou com a participação de dirigentes históricos do PPS, oriundos do antigo PCB, entre os quais o próprio Arildo Dória.
- Também houve o lançamento da edição Nº 49, Ano XVI, da Revista Política Democrática: "O Imprevisível 2018".
- E o grupo Roda Democrática pela primeira vez se reuniu no revitalizado Espaço Arildo Doria, com a participação de mais de 50 intelectuais de Brasília.
- A FAP encerrou o seu ano editorial em grande estilo, com mais uma publicação, o livro: “Brasil, Brasileiros – Por que Somos assim?”, organizado e publicado pela FAP e pela Verbena Editora. O lançamento ocorreu na sede da Fundação FHC, em São Paulo, e foi antecedido de um diálogo entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).
Confira o relatório de audiência da FAP no Facebook
http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/wp-content/uploads/2017/12/relatorio_audiencia_livestream_facefap_2017.pdf
"Brasil, Brasileiros - Por que Somos assim?" será lançado nesta quinta (14) na Fundação FHC
A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e a Fundação FHC convidam para o lançamento, nesta quinta-feira (14), do livro: "Brasil, Brasileiros - Por que Somos assim?", organizado e publicado pela FAP e pela Verbena Editora.
O lançamento, que vai ocorrer na sede da Fundação FHC, em São Paulo, será antecedido de um diálogo entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).
A pergunta que serve de subtítulo à obra não poderia ser mais oportuna. Ela se coloca como passo necessário a que o Brasil encontre saídas para uma das mais graves crises de sua história.
Nessa perspectiva, servirá de provocação ao diálogo entre o ex-presidente e o senador.
Na coletânea, os organizadores, o senador Cristovam Buarque, Francisco Almeida e Zander Navarro, apontam características que, mesmo transformadas, perduram nas relações sociais e políticas ao longo da história brasileira, de um lado impulsionando, de outro frustrando a aspiração por um país mais justo, igualitário e democrático. Oferecem assim uma rica contribuição analítica para orientarmos a mudança na direção desejada.
O evento será transmitido ao vivo pelo canal da FAP no Facebook: www.facebook.com/facefap.
Serviço
Data: 14/12/2017, a partir das 17h
Local: Fundação FHC - Rua Formosa, 367, 6º andar, São Paulo (SP)
Confira, abaixo, a apresentação do livro "Brasil, Brasileiros - Por que Somos assim?"
http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/wp-content/uploads/2017/11/Apresentacao.pdf
Biblioteca Salomão Malina e Espaço Arildo Dória são reinaugurados em Brasília
Arildo Dória, antigo militante do PCB, destacou o trabalho coletivo encabeçado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP) para que o projeto saísse do papel
Por Germano Martiniano
A Biblioteca Salomão Malina foi reinaugurada nesta sexta-feira (8/12) em evento promovido pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), que contou com a participação de dirigentes históricos do Partido Comunista Brasileiro (PCB), legenda que antecedeu o Partido Popular Socialista (PPS). Na ocasião, também foram entregues, completamente revitalizados, o Cineclube Vladimir de Carvalho e o Espaço Arildo Dória.
Arildo, militante histórico do PCB, e o único dos três homenageados com a colocação de seus nomes nos respectivos espaços que foram revitalizados (a Biblioteca Salomão Malina, Cineclube Vladimir de Carvalho e o Espaço Arildo Dória) que esteve presente na celebração (Malina já falecido e Vladimir não pôde comparecer), destacou o trabalho coletivo para que esse projeto saísse do papel: “A revitalização deste espaço é resultado de um trabalho coletivo, que leva meu nome."
Antes que todos convidados conhecessem os novos espaços, Luiz Carlos Azedo, diretor-geral da FAP, discursou na parte externa da Biblioteca, em frente a “Praça Vermelha” do Conic, o edifício Venâncio III, em Brasília, onde ocorreram diversos encontros, comícios e reuniões durante a existência do PCB. Azedo destacou a importância simbólica da localização da Biblioteca Salomão Malina, “palco de resistência política”, assim como o trabalho árduo de todos os envolvidos no projeto de revitalização.
Após o discurso do diretor-geral da FAP, o presidente do Conselho Curador da Fundação, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) e o deputado e presidente do PPS nacional, Roberto Freire (SP), abriram em conjunto a porta de acesso do local. Entre as mudanças ocorridas na revitalização, o público pôde conferir a Biblioteca Salomão Malina ampliada e atualizada e o novo auditório, que foi completamente modernizado, com instalações adequadas para o acesso de pessoas com deficiência de locomoção, inclusive com um elevador, e que será um espaço multiuso, de sessões de cinema a dinâmicas de grupo.
Em seguida, Cristovam Buarque, Roberto Freire, Chico Andrade, presidente do PPS do Distrito Federal; Lenise Loureiro, dirigente do PPS, Luiz Carlos Azedo e Arildo Dória compuseram a mesa do auditório, onde puderam discorrer sobre a importância do espaço multiuso revitalizado pela FAP. “Fiquei encantado com cada detalhe que foi modernizado, ficou tudo muito bonito. Porém, o maior desafio, a partir de agora, será fazer este espaço estar sempre movimentado”, ressaltou Cristovam Buarque.
No auditório revitalizado, o público também assistiu à exibição do curta “A última visita”, de Zelito Viana, que conta a preocupação que teve Astrojildo Pereira em promover as obras de Machado de Assis.
Biblioteca Salomão Malina
Inaugurada em 28 de fevereiro de 2008 e localizada no Conic (Setor de Diversões Sul – Bloco P – Edifício Venâncio III, Loja 52), em Brasília (DF), a Biblioteca Salomão Malina dispõe de todo o acervo da FAP – mais de cinco mil títulos – além de obras diversas, principalmente sobre história, sociologia, filosofia, economia e política. Também conta com um vasto acervo digitalizado, totalmente disponível para consulta e com muitas das obras disponíveis para download gratuito. É aberta diariamente ao público e oferece acesso gratuito à internet, imprime currículos e disponibiliza também revistas e os jornais do dia para leitura e pesquisa.
Salomão Malina
O patrono da Biblioteca Salomão Malina foi o último secretário geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB), entre 1987 e 1991. Ingressou no PCB no inicio dos anos 1940 e, durante sua vida, passou alguns anos presos e cerca de 30 anos na clandestinidade. Combateu, como oficial da força Expedicionária Brasileira (FEB), nos campos da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Foi agraciado, por sua bravura, com a cruz de combate de Primeira Classe, a maior condecoração do Exército Brasileiro. Foi diretor do Jornal Imprensa Popular, do PCB, nos anos de 1950. A biblioteca que leva o seu nome tem, como missão, “servir como instrumento para análise e discussão das complexas questões da atualidade, aberta a todo cidadão, independentemente de ser filiado ou não a agremiação partidária e de suas concepções políticas e filosóficas.”
Saiba mais:
O Espaço Arildo Dória e a Biblioteca Salomão Malina estarão abertos ao público a partir desta segunda-feira (11/12).
Local: Setor de Diversões Sul – Bloco P – Edifício Venâncio III, Loja 52 – Conic
Galeria de fotos\ Fotos: Germano Martiniano
https://www.facebook.com/facefap/videos/1394937367283387/
Modernizada, Biblioteca Salomão Malina será reinaugurada nesta sexta-feira (8/12)
Cineclube Vladimir de Carvalho e o Espaço Arildo Doria também foram revitalizados. Acervo físico e virtual da biblioteca foram ampliados para melhor atender ao público
Criada a partir de doações de livros que pertenciam ao próprio Salomão Malina, dirigente histórico do PCB/PPS falecido em 2002, a Biblioteca Salomão Malina, da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), será reinaugurada nesta sexta-feira (8/12), a partir das 19h. Especializada em literatura brasileira, história, politica e economia, ela foi ampliada e atualizada, graças a novas doações e aquisição de obras de pensadores contemporâneos. O Cineclube Vladimir de Carvalho e o Espaço Arildo Doria também foram revitalizados e serão entregues em conjunto com a biblioteca.
Entre as mudanças ocorridas com a revitalização do espaço, destaca-se o novo auditório, que foi completamente modernizado, com instalações adequadas para o acesso de pessoas com deficiência de locomoção; estando apto, ainda, para utilização multiuso, de sessões de cinema à dinâmicas de grupo. O novo Quiosque/Tribuna possibilitará a aproximação com o público leitor e servirá de apoio para a realização de saraus, pequenos espetáculos de arena, assembleias e plenárias.
Inaugurada em 28 de fevereiro de 2008 e localizada no Conic (Setor de Diversões Sul - Bloco P - Edifício Venâncio III, Loja 52), em Brasília (DF), a Biblioteca Salomão Malina dispõe de todo o acervo da FAP - mais de cinco mil títulos - além de obras diversas, principalmente sobre história, sociologia, filosofia, economia e política. Também conta com um vasto acervo digitalizado, totalmente disponível para consulta e com muitas das obras disponíveis para download gratuito. É aberta diariamente ao público e oferece acesso gratuito à internet, imprime currículos e disponibiliza também revistas e os jornais do dia para leitura e pesquisa.
A cerimônia de reinauguração da Biblioteca Salomão Marina contará com a presença do presidente do Conselho Curador da Fundação Astrojildo Pereira, senador Cristovam Buarque (PPS-DF), demais conselheiros e diretores, e o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), além de convidados da Fundação.
Salomão Malina
O patrono da Biblioteca Salomão Malina foi o último secretário geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB), entre 1987 e 1991. Ingressou no PCB no inicio dos anos 1940 e, durante sua vida, passou alguns anos presos e cerca de 30 anos na clandestinidade. Combateu, como oficial da força Expedicionária Brasileira (FEB), nos campos da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Foi agraciado, por sua bravura, com a cruz de combate de Primeira Classe, a maior condecoração do Exército Brasileiro. Foi diretor do Jornal Imprensa Popular, do PCB, nos anos de 1950. A biblioteca que leva o seu nome tem, como missão, "servir como instrumento para análise e discussão das complexas questões da atualidade, aberta a todo cidadão, independentemente de ser filiado ou não a agremiação partidária e de suas concepções políticas e filosóficas."
SERVIÇO
Reinauguração da Biblioteca Salomão Malina, do Cineclube Vladimir de Carvalho e do Espaço Arildo Doria
Horário: 19h
Local: Setor de Diversões Sul - Bloco P - Edifício Venâncio III, Loja 52 - Conic
Confira a programação
- Reabertura da Biblioteca
- Descerramento do painel em homenagem a Salomão Malina
- Ativação do elevador para pessoas com deficiência
- Descerramento da linha do tempo de Astrojildo Pereira
- Apresentação da proposta de atuação do novo espaço cultural
- Novo projetor do Cineclube Vladimir de Carvalho, com exibição do curta A última visita, de Zelito Viana
- Abertura do Quiosque/Tribuna
- Sessão de autógrafos
Confira como chegar à Biblioteca Salomão Malina, no Conic, clicando nos links abaixo:
Waze
https://waze.com/ul/h6vjynks4c
Google Maps
https://goo.gl/maps/ncd8akVNuMv
José Aníbal: Para que servem as elites?
No seminário que o Instituto Teotônio Vilela e a Fundação Astrojildo Pereira promoveram no mês passado, o jornalista britânico Adrian Wooldridge encerrou sua palestra sugerindo uma volta ao debate filosófico do qual pensadores ingleses como Thomas Hobbes e John Stuart Mill foram pioneiros: para que serve o Estado, qual o limite de seu poder e como ele pode funcionar melhor em nosso modelo de democracia ocidental?
São perguntas cuja pertinência atravessou quatro séculos e que se mantêm tão relevantes hoje quanto na transição dos regimes absolutistas para as repúblicas ou monarquias parlamentaristas.
São questões que preocupam as nações mais desenvolvidas do mundo no século 21 e que também demandam atenção no Brasil, às voltas com a recuperação de sua economia e com um longo período de instabilidade política e, por vezes, até institucional.
Nesse sentido, cabe acrescentar ao argumento de Wooldridge, colunista da revista The Economist e coautor do instigante livro A Quarta Revolução, qual o papel e o dever das elites política, econômica, intelectual e cultural dos países na disseminação de princípios democráticos, no respeito às instituições republicanas e na defesa do pleno exercício da cidadania.
A história mostrou que o melhor caminho para uma nação próspera, com justiça social, respeito ao direito de ir e vir com segurança e acesso igualitário a serviços de educação e saúde básicos não são as revoluções que, invariavelmente, culminaram em execráveis regimes totalitários.
Tampouco vingou o modelo de laissez-faire em que se pregava a dispensa da ação do Estado, mas foi ao Estado que muitos correram quando foram à falência quando atingidos por crises profundas.
Parece clara, ainda que seja tarefa complexa, a urgência de se rediscutir um melhor equilíbrio do papel do Estado na promoção do bem-estar social e da oferta mais equitativa de oportunidades, assim como no estímulo à eficiência, ao aumento da produtividade e de um mercado competitivo e globalizado.
Num país ainda marcado pelas desigualdades como o Brasil, esse debate torna-se ainda mais fundamental, não só para a construção de perspectivas mais promissoras do ponto de vista econômico e social, mas para a própria sustentação do regime democrático.
Digo isso diante de pesquisas recentes que mostram alta desconfiança dos brasileiros em relação ao funcionamento da democracia e eventual apoio significativo a um governo militar ou não democrático.
Reverter esse quadro é dever dos que ocupam posições de relevo nos três poderes, nas grandes empresas e instituições financeiras, nos veículos de comunicação e nas redes sociais, nos grandes centros de formulação e produção de conhecimento científico, intelectual e cultural.
São esses os formadores da elite no sentido mais seminal da palavra: não como referência a privilegiados, mas como definição de eleitos, de escolhidos em um grupo social por serem os mais valorosos e bem qualificados.
Quando tais ocupantes esquecem esse significado e atuam movidos por interesses próprios, escusos ou alheios ao bem coletivo, fazem mais do que uma mera distorção do conceito original da palavra: condenam o país e a sociedade à desordem e à falta de perspectivas.
A defesa da democracia, do debate público racional, e a superação da demagogia e do populismo não é desafio exclusivo da elite brasileira nem está livre de percalços, como reconheceu ninguém menos do que Barack Obama em sua passagem pelo país. Estão aí Donald Trump e Brexit como exemplos mais eloquentes, e de certa forma a recente crise catalã na Espanha.
Há em comum nesses casos a incapacidade de fazer vencedora a visão economicamente racional, politicamente equilibrada e socialmente sensível às demandas do cidadão comum. Diante de crises e insatisfações, o apelo ao discurso fácil e às promessas que não podem ser cumpridas ou que, se cumpridas, terão graves consequências, é o combustível para a radicalização e para o surgimento de efêmeras bonanças a antecipar longas tempestades.
Assim, é preciso semear confiança nos que querem garantir o sustento de suas famílias e seguem em busca de oportunidades e emprego. Compreender e oferecer soluções reais para o medo da violência que assola a população de grandes, médias e até pequenas cidades.
Defender uma profunda reforma do Estado para que não faltem verbas para saúde, educação, cultura, infraestrutura, nem sejam desperdiçados recursos com privilégios, favores, aposentadorias especiais ou precoces.
Essa é, definitivamente, uma tarefa das elites que deveriam fazer jus à palavra.
Revista PD#48: Reforma Política e Governo Representativo
A reforma política é um tema que recusa ser esquecido, apesar da má vontade da classe política e de muitos intelectuais. De chofre, reaparece como uma artimanha das cúpulas partidárias emaranhadas nas teias da Lava-Jato. Seja como for, precisa ser enfrentada com seriedade e não sutilmente escanteada por meio do abuso ao senso-comum antipartidário dominante no país – atavismo da inadaptação nacional à democracia, como bem observara Sérgio Buarque de Holanda na primeira metade do século passado.
Por Hamilton Garcia de Lima
Revista Política Democrática #48
Um dos focos principais desse senso-comum se dirige contra a adoção da lista fechada no sistema proporcional, sob o argumento de que ela enfraqueceria o vínculo entre eleitores e candidatos, levando "à ditadura das cúpulas partidárias" em detrimento do direito de escolha do eleitor.
A crítica é fraca e falsa sob variados aspectos; vejamos alguns. Uma das razões para que a reforma política não saia da agenda do país é precisamente o fato de que o modelo vigente (lista aberta) levou, ao longo das últimas três décadas, o vínculo entre representantes e eleitores aos piores patamares da história republicana – não obstante o juízo de muitas autoridades acadêmicas que, nos anos 1990-2000, prognosticavam o amadurecimento do modelo.
Os motivos para essa deterioração crescente são muitos, mas deve-se destacar, em particular, a opacidade do método de distribuição das cadeiras legislativas pelo coeficiente partidário-coligacional, que faz a "mágica", aos olhos da sociedade, de eleger candidatos com os votos dos não eleitos, de tal modo que nem os políticos, em sua esmagadora maioria, sabem exatamente de onde vem os votos que efetivamente os elegem, nem os eleitores a quem seus votos efetivamente consagram, pois a grande maioria votou em candidatos que não se elegeram.
Não bastasse isso – em si, suficiente para explicar o estranhamento do eleitor em face de "seu" representante e o descompromisso desse em relação àquele –, a ideologia liberal reforça a alienação recíproca ao propalar uma abstrata primazia do eleitor que, supostamente, como vimos, escolhe o candidato usando para tal do discernimento natural. A fábula de uma razão descolada de contextos (interesses), estruturas (instituições) e tradições (cultura), só serve aqui para encobrir a farsa do sistema atual de escolha do eleitor.
Na verdade, ao contrário do que propõe essa ideologia, nosso eleitor encontra-se perdido num cipoal de siglas e nomes que pouco explicam/significam e que o impede de ter a visibilidade mínima para qualquer escolha razoável em termos, mesmo que apenas, de seu interesse individual. Sendo obrigado a votar em condições tão nebulosas, o cidadão acaba sendo naturalmente atraído pelos elementos mais visíveis no jogo: os candidatos-singulares, que se destacam pela capacidade ou acúmulo comunicativo, em meio ao mar de nulidades políticas individuais, ou pela oferta de alguma materialidade imediata, individualmente significativa, como vantagens pecuniárias ou acesso ao poder, tudo isso sem maiores considerações acerca dos efeitos colaterais de tais opções sobre a administração e o interesse público.
Na cabeça de significativos segmentos do nosso eleitorado – e até mesmo para alguns de nossos intelectuais ingurgitados de Lattes –, a oferta de serviços públicos por canais privados de clientela eleitoral, que oferecem privilégios em troca de voto, em nada se relaciona com a má qualidade do serviço público, em geral, sendo apenas uma forma supostamente inofensiva de remediá-la.
Descaminho
Mas, esse descaminho do Estado pelo sistema democrático de votação – sintetizada por uma liderança comunitária do Farol, em Campos dos Goytacazes/RJ, em 2007, nos seguintes termos: "o voto no Brasil corrompe" –, não produz efeitos apenas sobre as políticas públicas por ele impactadas, mas igualmente sobre o âmago do processo democrático, atingindo mortalmente a soberania do eleitor, sem que a abordagem liberal disso tenha a menor ideia.
Para muitos em nosso país – e isso não se limita aos pobres –,a soberania do voto se transformou numa relação fetichizada que, à semelhança do fetiche da mercadoria discutido por Marx em O Capital, transforma, em nosso caso por meio da gratidão ou ambição, o eleitor de portador da soberania do voto em tutelado por um patrono que lhe concede, sob a forma de favor, aquilo que formalmente está estabelecido como direito, distorção esta que, ao contrário daquela ensejada pelo poder econômico privado e seus enlaces de privilégios e superfaturamentos com a administração pública, não pode ser combatida por nenhuma Operação Lava-Jato.
Toda esta realidade, que fere de morte o direito de escolha do eleitor nas eleições proporcionais e subverte a essência do sistema democrático, transcorre sob a chancela da fetichista lista aberta, que, apesar de todas as evidências em contrário, continua sendo defendida pelos liberais programáticos como "garantia da liberdade de escolha do eleitor".
Não é por outro motivo que os antídotos às doenças da alienação eleitoral e da perversão democrática , insistem em voltar ao centro do tabuleiro político quando o tema da reforma política emerge, mesmo em meio à grossa neblina lançada ao vento pelos apóstolos da liberdade abstratamente concebida; me refiro ao sistema de lista fechada e ao voto distrital, que podem ser aplicados isoladamente ou combinadamente, com ou sem financiamento público de campanha.
Ambos têm uma qualidade cuja falta corrói nosso sistema político: a de responsabilizar os partidos pelos mandatos conquistados em seu nome, ao mesmo tempo que reforça os vínculos dos candidatos com seus partidos, já que ambas as fórmulas ensejam disputas internas reais pelas vagas de candidato ou sua ordenação na lista, com impactos importantes sobre a vida das agremiações políticas. De outro lado, elas também tornam transparentes ao eleitor/representante o destino/fonte de seu poder, criando condições efetivas para a sinergia político-programática entre o eleitor e o eleito. Em síntese, eleitores, eleitos e elites partidárias se tornam corresponsáveis pelo resultado dos mandatos conquistados e ninguém pode fugir às suas responsabilidades em caso de fracasso das apostas – o que, no caso do eleitor, implica seu deslocamento na direção de outra opção partidária.
Oligarquias
O efeito colateral criticado nesses remédios é o fortalecimento das oligarquias partidárias, embora ele já se manifeste patologicamente na ausência de sua administração, no sistema hoje vigente. Ao contrário de oligarquias, o que os medicamentos em tela poderão propiciar é o aparecimento de novas elites com base no pressuposto da transparência que deverá surgir no processo de construção de candidaturas, que hoje se instituem (fetichistamente) órfãs de pai e mãe, fruto de interesses escusos articulados em convenções anômalas, marcadas por um anonimato que apenas se rompe, pontualmente, com as escolhas de candidaturas no âmbito majoritário, sobretudo para o Executivo. Nas novas condições criadas pela reforma aqui discutida, os partidos oligarquizados terão que se abrir em alguma medida à sociedade, sob pena de ficarem exclusivamente dependentes dos velhos métodos de compra de votos e cooptação, mais fáceis de serem penalizados em face da brutal simplificação eleitoral propiciada pela lista fechada e o voto distrital.
Por fim, a manutenção da proporcionalidade, na modalidade lista fechada, trará uma vantagem importante em relação ao sistema distrital: o sistema de responsabilização/simplificação das eleições poderá ocorrer sem a perda da pluralidade política-ideológica duramente conquistada nas lutas pela redemocratização dos anos 1970-80. Ademais, a lista fechada tem um aspecto pedagógico não desprezível ao promover o fortalecimento da disputa programática entre os partidos em detrimento das personalidades.
Infelizmente, estamos forçados em nossa reforma política a realizar uma pauta novecentista: criar laços mais efetivos e duradouros dos partidos com a sociedade, por meio da formação de elites políticas genuinamente ligadas aos interesses sociais, que pudessem lastrear, como indicava Weber no início do século passado, os governos e as disputas que constituem a alma da democracia parlamentar.
O desafio não é pequeno. Em nosso caso, trata-se não apenas de um programa de reforma institucional (legal), mas de recuperarmos aquilo que se perdeu no naufrágio da democracia de 1946: uma cultura de poder que restaure a sociedade como a base do governo representativo.
* Hamilton Garcia de Lima é cientista político e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense - UENF
** Texto originalmente publicado na Revista Política Democrática #48
Jornal da ABI destaca mesa redonda sobre Gramsci em parceria com a Fundação Astrojildo Pereira
Evento tem o objetivo de discutir a importância do legado intelectual de Gramsci, 80 anos depois da sua morte, e a contribuição de sua obra como instrumento de percepção e análise da atual crise brasileira
A mesa redonda, que será realizada nesta segunda-feira (21/8), às 18h, será aberta pelo presidente da ABI, Domingos Meirelles, e terá como mediador o Conselheiro da entidade e colunista político Luís Carlos Azêdo. O encontro contará com a presença de Luíz Sérgio Henriques (tradutor e ensaísta ), Alberto Aggio (representante da Fundação Astrogildo Pereira), e Andrea Lanzi, do Partido Democrático Italiano. O objetivo do debate é discutir a importância do legado intelectual de Gramsci, 80 anos depois da sua morte, e a contribuição de sua obra como instrumento de percepção e análise da atual crise brasileira. Ao contrário do pensamento marxista tradicional, que se dedicava ao estudo das relações entre política e economia, ele chamava a atenção para o papel da cultura e dos intelectuais nos processos históricos de transformação social.
“A mesa redonda foi proposta para lembrarmos os 80 anos da morte de Gramsci. Isso é importante especialmente para nós, que somos os maiores divulgadores das interpretações e debates sobre o pensamento de Gramsci no Brasil por meio da coleção de livros (Brasil & Itália)”, aalia Alberto Aggio, historiador e professor titular da UNESP.
Gramsci foi também um dos fundadores do Partido Comunista Italiano e tornou-se mundialmente conhecido pela teoria da hegemonia cultural, onde sustentava que o Estado utilizava o arcabouço das instituições culturais para proteger os interesses de classe das elites e se perpetuar no poder. Pensador agudo das contradições do seu tempo, formulou questionamentos que parecem atuais. Uma de suas reflexões encontra ressonância nos dias de hoje : ” A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem “.
Gramsci foi uma das principais referências do pensamento de esquerda no século XX. Foi também uma das poucas vozes, na época, a denunciar a tirania política de Stálin, e as consequências inerentes a esse processo degenerativo que não foram percebidos, no começo dos anos 30. Suas construções teóricas estão reunidas em um dos clássicos da literatura socialista,” Cadernos do Cárcere “, onde desenvolveu inclusive uma revisão crítica dos postulados de Marx com o objetivo de adaptá-los às condições da Itália durante o Governo Fascista de Benito Mussolini.
Apesar de ser um ativista apaixonado, era fisicamente frágil, seu aspecto franzino e a forma de caminhar lembravam mais um padre que um revolucionário. Preso em 1926, inicialmente condenado a cinco anos, teve logo depois sua pena ampliada para 20 anos. Deixou a prisão, extremamente debilitado, em abril de 1937, em busca de tratamento médico para os pulmões arruinados pela tuberculose, mas morreria três dias depois.
Suas ideias foram condensadas em textos produzidos durante o período em que esteve preso. Sua obra não é fácil de se ler. Escrevia quase sempre em código para evitar a censura dos seus carcereiros. Os textos deixavam a cadeia pelas mãos de sua cunhada, funcionária da Embaixada Soviética, em Roma, para sem encaminhadas ao líder comunista italiano Palmiro Togliatti, que vivia exilado em Moscou.
A lucidez com que Gramci refletiu sobre os problemas e as contradições do seu tempo fizeram com que seu pensamento sobrevivesse não apenas a ele, mas ao próprio socialismo real que desmoronou em bloco, entre 1980 e 1990, com o esfacelamento dos países comunistas do Leste Europeu.
Sua obra foi editada no Brasil em quatro volumes pela Editora Civilização Brasileira, na década de 1970. ” Cadernos do Cárcere ” foi relançado pelo mesmo selo, em 1999, sob a coordenação de Luiz Sérgio Henriques, que será um dos debatedores da mesa-redonda que será realizada na sede da ABI, no Rio de Janeiro.
A mesa redonda terá transmissão ao vivo pelo canal no Facebook da FAP: https://www.facebook.com/facefap
PD #48: Interrogações sobre o fator Janot e o desfecho do governo Temer
Por Paulo Fábio Dantas Neto
O balanço dos 44 anos durante os quais a política tem sido o centro das minhas atenções, antes de militante e político, depois de estudioso e professor, permite-me o recurso luxuoso à nostalgia. Por outro lado, recusa-me o direito à ingenuidade. Por essa razão não compartilho celebrações (nem as de boa-fé) que se fazem diante dos fatos e factoides que vieram a público no a meu ver factualmente obscuro e politicamente obscurantista dia 17 de maio de 2017, data de uma operação de ataque cujo alvo foi o presidente Michel Temer e os protagonistas (os visíveis a olho nu), o comando do MPF, a PF e um empresário que vinha sendo investigado pelos dois primeiros.
Pessoas e grupos crentes no advento de uma nova era, isenta de corrupção política, que já se deixavam somar (por apoliticismo mais do que por afinidade), num mesmo polo político, a outras pessoas e grupos nostálgicos da ditadura, em protestos de rua e nas redes sociais desde 2014/2015, hoje já concordam, pontualmente, na rejeição ao governo Temer, com o polo político ao qual se opunham, quer dizer, aquelas pessoas e grupos esperançosos de um retorno ao status quo político superado pelo impeachment de Dilma Roussef. Formou-se, por acidente – ou não tanto assim –, curiosa coalizão de veto ao esforço pacificador do governo de transição. Na hora em que este governo parece balançar e, a princípio, migra, de súbito, de um momento de consolidação para uma crise que pode até ser terminal, afinidades eletivas entre os dois polos da escalada de radicalização política que persiste há três anos no país fazem ecoar o “Fora Temer” como se fosse um clamor nacional.
Clamam estridentemente os que na esquerda gostariam de revogar a Lava-Jato, mesmo sabendo que a queda do governo, se ocorrer, será obra, não da oposição de esquerda ou de movimentos sociais, mas da força daquela operação. Alimentam o mesmo bordão, embora com menos alarido e convicção, antipetistas e antilulistas seguidores exaltados da Lava-Jato, mesmo vendo que a queda do governo abre brecha para os “inimigos” voltarem ao jogo do poder que lhes parecia inalcançável após as últimas eleições municipais e delações das primeiras semanas de maio último meio agosto.
Na contramão desse coro excêntrico, persuade-me a ideia de que o virtual fim do governo parlamentar, se realizado, expressará uma derrota da política. Como tal representará, para além da queda de um governo impopular, um obstáculo à reconstrução do centro político democrático, obra complexa que seguia curso sinuoso desde o ano passado, após sua destruição durante a guerra pelo controle do Estado, travada a partir da eleição presidencial de 2014.
Tornou-se lugar comum dizer que a sociedade brasileira está dividida de modo radical entre duas posições políticas, como numa disputa entre torcidas fanáticas. Para alguns mais ligados em jargões teórico-políticos, é direita x esquerda, elite x povo ou neoliberalismo x política social. Em redes sociais há traduções ainda mais simplórias dessa narrativa, como confronto indigesto entre “coxinhas” e “mortadelas”, ou duelo pessoal entre Moro e Lula. Estes modos de exprimir a mesma coisa refletem um “modo de pensar” de claques mais ou menos organizadas e de pessoas fidelizadas por algum tipo de dogma, carisma, ou tabu. Identifi- car isso com a percepção do povo, ou mesmo do eleitorado é, no mínimo, um exagero e, no fundo, uma mistificação. Quem usa de boa vontade para olhar e escutar além do seu redor, de prudência para avaliar o que vê e ouve e de autonomia para pensar com a própria cabeça repara que enquanto as brigas de torcida se acir- ram, mais pessoas “comuns” delas tomam distância e anseiam por uma solução conciliadora da crise política. Este tipo de saída permite tratar de problemas públicos sem comprometer, como se tem feito, relações profissionais, de vizinhança e amizade e até o convívio em ambientes familiares. A recusa ao espírito de claque não é uma atitude política “alienada”. Compartilham-na pessoas que possuem variados níveis de instrução formal, informação e compromisso político. Penso que é o terreno social sobre o qual se pode reconstruir um centro democrático no Brasil.
Pensamento Político
Ocorre que há uma representação do modo maniqueísta de pensar o momento político que, ao contrário das que listei acima, parece ter mais conexão com a percepção das pessoas comuns: a luta do “Santo Guerreiro” (a Lava-Jato) contra o “Dragão da Maldade”, o sistema político. Ela sugere que estaríamos no limiar de uma vitória do bem, com a submissão da imperfeita democracia mundana e dos seus malditos corpos representativos a desígnios e ritos sumários de uma suposta “vontade geral”. Esta, por sua vez, seria guiada, além de pela fé, pela economia política ligeira de formadores de opinião para os quais violência urbana, caos na saúde e educação, inflação, recessão e desemprego seriam meros efeitos colaterais da corrupção. Daí que, como pontificam os arautos da faxina, uma assepsia radical no sistema político teria efeitos demiúrgicos. A antevisão de um quase paraíso moral e social, alcançado pela vitória do combate sem tréguas à corrupção, “doa a quem doer”, legitima meios excepcionais de investigação e punição, assim como justifica sacrifícios para pagamento à vista de todos os preços sociais, inclusive o de estancar uma incipiente recuperação econômica ao implodir o “malévolo” sistema político que, bem ou mal, pode viabilizá-la, numa democracia.
O eco (momentâneo, espero) desta perversa fantasia no imaginário de ampla parte da sociedade esconde, sob aparências de novidade, a reiteração extremada de um velho modo de pensar que está na base de aventuras jacobinas, autoritárias, ou fundamentalistas que, na história política brasileira, afirmaram querer revogar o pragmatismo conciliador de nossas elites políticas. Quando, por vezes, conquistaram o poder do Estado ou de governo agiram para exercer tutela e/ou para angariar clientela onde reinava a conciliação.
O pragmatismo conservador e liberal (não fundamentalismos doutrinários, como o neoliberal) deu-nos à luz como Estado e nação, conciliando o Estado e a representação política – que civilizaram a sociedade – com o ethos comunitário a um só tempo rude e cordial desta última, vindo da experiência de nossa formação social. Tal elitismo civil, que se conservava moderadamente atento aos temas de reforma social sem contrapô-los às instituições liberais, quando exposto ao contexto virtuoso que ligou a luta democrática dos anos 70 e 80 à Carta de 1988 achou, na nova feição do Ministério Público, um de seus modos de conversão à condição de uma força democrática. Decerto não foi o MPF a única instituição desenhada na Carta para controlar as variadas modalidades empíricas de exercício arbitrário ou criminoso do poder político. Mas nenhuma melhor do que ela exibe a inédita possibilidade de fazê-lo em proveito, não de outros particularismos, de corporações ou grupos políticos que se achem em eventual colisão com os governos, mas em proveito dos cidadãos de uma República definida como um Estado Democrático de Direito, definição que já registra a ultrapassagem das concepções elitistas da política e do direito e projeta esta ultrapassagem como processo aberto ao que vier no futuro.
Esta nobre instituição ameaça desviar-se de seu mister republicano e democrático – que vem honrando com zelo e eficácia, durante as últimas décadas – pelo modo corporativista e obscuro de sua ação ao conduzir a delação prodigamente premiada de proprietários de uma corporação empresarial que se fez gigante em tempo recorde, graças, além de agressividade nas relações de mercado, também ao auxílio de irresponsabilidade e corrupção estatais.
O inusitado modo de agir do MPF nesse episódio surpreende e suscita perguntas que não querem calar. Por que o uso, nesse caso específico que envolvia o presidente da República, de um rito mais sumário para viabilizar a delação, quando o senso de responsabilidade institucional recomendava justamente que se usasse o mais cauteloso? Por que uma operação que se autodenomina “controlada” foi tão meticulosa e certeira para viabilizar flagrantes e tão descuidada na checagem posterior da gravação suposta- mente mais comprometedora, conforme a própria PGR admitiu depois de já feito o estrago político e institucional? Como aceitar a explicação de que a incúria se deveu ao intento de preservar o sigilo da operação se, na prática, o sigilo já não havia mais quando o ministro Fachin recebeu o pacote? Nova incúria seguiu-se à primeira e deu lugar ao vazamento? Vazamento, aliás, desta vez duplamente seletivo, do conteúdo e do receptor privilegiado, um jornalista de O Globo que deu o furo não se sabe se por dever do emprego, se por escolha de quem vazou ou se por ter sido gentil ou formalmente aconselhado por quem sabe o caminho das pedras a seguir a máxima futebolística de Gentil Cardoso: “Quem pede, recebe; quem se desloca, tem preferência”.
Nuvens
Estas nuvens já carregam bastante o ambiente, mas ainda têm a companhia de outra, que suscita pergunta adicional, agora sobre o fato de ter a dupla de empresários safos lucrado ao especular no mercado cambial e na bolsa a partir de informações privilegiadas derivadas da condição de delatores que colaboravam com os investigadores em tempo real. Quer dizer, a metodologia adotada implicava em prévio conhecimento dos delatores sobre o momento de deflagração da operação da qual eram participantes e não só informantes. Este privilégio adicional, somado à prodigalidade dos prêmios formais da delação, torna excepcional o caso dos sortudos irmãos Batista e deixa no ar a pergunta arrematadora: vale a ideia de punir corruptos, doa a quem doer, mesmo que para isso se deixe porta aberta também à de que, em certos casos – especialmente naqueles em que todas as partes são mais relevantes – o crime compensa?
Pouco altera, para o que vai ser adiante analisado, o ultimatum do MPF à JBS fixando condições pecuniárias duras para que se celebre um acordo de leniência. Mesmo veraz, ela não remediará o estrago político causado pelo tratamento voluntarista e heterodoxo, para dizer o mínimo, que o comando da instituição deu à delação premiada dos seus proprietários. Assim como não anula o tratamento privilegiado e comparativamente injusto, em termos econômicos e de abstenção penal, concedido a tais delato- res. Bois gordos foram postos à frente do carro da política, de modo a levá-lo a parar e ter sua rota a seguir desviada, rumo a um pasto ignorado. À parte as controvérsias habituais sobre intenções e motivações, bem como sobre a validade ética e a eficácia prática de tais ou quais técnicas de investigação policial, o timming e a metodologia da operação levaram a ação da Procuradoria-Geral da República a assumir, objetivamente, o risco de provocar uma virtual queda de um governo de transição constitucional que naquele momento atuava, a duras penas, nos limites permitidos por circunstâncias herdadas e novas e nos da precária qualidade dos valores morais da elite política que acessou o poder dentro, também, dos marcos constitucionais. Tal governo, de manifesto caráter parlamentar, impôs-se as missões de restabelecer a governabilidade política em interlocução com o Congresso e de reverter a recessão econômica e o desemprego que se radicalizaram quando essa overnabilidade faltou, a partir de 2015. O cumpri- mento até então exitoso da primeira missão e os ainda tímidos e ambíguos sinais de encaminhamento da segunda foram suspensos, quem sabe revertidos, pelo uso inédito de um bisturi mais cortante, cujo manejo deve estar, constitucionalmente, condicionado ao escrutínio do Poder Judiciário.
Em vez de acolher a hipótese de inflexão também na conduta até aqui sóbria do ministro Fachin, prefiro pensar que o STF foi, mais uma vez, colocado diante do fato incontornável de que não poderia deliberar livremente sobre a homologação da delação relâmpago, dado o mais que provável e, afinal, consumado vaza- mento do conteúdo das informações para veiculação por medias ávidos por acessá-las para antecipadamente julgar, mais do que para informar. Mas ainda não se sabe ao certo se e como o STF deu consentimento prévio ao até então inédito script procedimental adotado pelo MPF para a obtenção de provas nesse caso. Mais intrigante ainda é que, no cumprimento da agenda do ministro-relator, o levantamento do sigilo de um processo que continha fatos que já haviam virado notícia levou mais tempo do que a grave decisão de autorizar a investigação formal da pessoa do presidente da República. É intuitiva a conclusão de que a parte da opinião pública que pede assepsia para já, além de pautar, via mídia, os movimentos do Ministério Público, também exerce influência sobre decisões toma- das no âmbito do STF, mesmo quando estão em jogo delicadas relações institucionais. O STF não transpareceu na cena com o protagonismo supremo que dele se espera em situações nas quais uma deliberação sua repercute fortemente na grande política.
O lastro social para tão espaçosa e perigosa incursão do MPF e da Polícia Federal no âmago da grande política provém da recente legitimação social da vocação de órgãos policiais para ocupar o lugar de justiceiros e da também recente adesão do comando do MPF à imagem do santo guerreiro, que já era aberta- mente assumida pelos mais conspícuos membros da corporação no âmbito da Lava-Jato. À diferença do juiz Sergio Moro, cuja moderação judicial aprimora-se à medida em que a operação entra num momento que exige também maiores sensibilidade e responsabilidade políticas, os procuradores de Curitiba seguem pregando, obstinadamente, com retórica plebiscitária, o reconhecimento da Lava-Jato como guardiã plenipotenciária da ética republicana e, como tal, ocupante do lugar de mais relevante e virtuosa instituição nacional. A este figurino e a este programa adapta-se, paulatinamente, a conduta prática do procurador-geral da República, por decisão própria ou por livre e espontânea pres- são exercida por setores de um quadro corporativo que ele parece não liderar a contento.
Bateu, levou
O chefe do MPF agiu à base do bateu/levou, método que já vinha testando, sem que outras autoridades da República se expusessem ao risco de serem censuradas pelo senso comum por apontarem em público e interpelarem, republicanamente, a ousada esgrima praticada em final de mandato pelo mais alto prócer de uma instituição relevante. Houve, é claro, a conspícua exceção do ministro Gilmar Mendes. Porém, suspeito de parcialidade pelos imparciais e odiado por ambas as turmas que se digladiam em redes sociais, não pôde se fazer ouvir o bastante na República emparedada pelo maniqueísmo. Parece estar perdendo a parada, no STF e fora dele.
O dr. Janot moveu-se como um Deodoro sem farda. Que ordem política se espera ver brotar dos escombros da atual, se a queda do governo Temer for mesmo o desfecho deste grave momento crítico? Se assim for, o presumido drible no Poder Judiciário (ou a insólita cooptação de quadros seus), bem como o desmonte de um Executivo que agia construtivamente em consórcio com o Legislativo imobilizariam, na prática, os poderes moderadores reais de que se dispõe para levar o país a um porto mais seguro até as eleições de 2018. Nada é certo, pois é missão da política desmanchar pratos feitos e achar soluções quando parece sofrer xeque-mate. Mas, no mínimo, fomos mergulhados, de novo, na incerteza e, se a pinguela cair, a disputa do poder tornado mais provisório queimará nas mãos de um Legislativo solteiro e alvo de contestação pública. Entendimentos de bastidores que, logicamente, seriam necessários para cumprir a tarefa levariam a uma solução melhor, em termos de confiabilidade social e eficácia política, do que a do arranjo montado para o governo Temer? Suspeito que não.
Ou será que a solução passaria por apagar as luzes dos basti- dores congressuais e transferir a disputa para urnas também carentes de luzes e premidas pelas urgências da crise? Ela tem chance de se resolver numa eleição direta travada sob desordem econômica refundada e sabe-se lá que casuísmos políticos de urgência? Será como montar arenas para claques movidas a ódio e para raposas e/ou outsiders movidos a demagogia, quando o encontro da solução requer uma racionalidade política e econômica que só medra quando conflitos são mediados, condição que há três anos não temos plenamente, mas da qual voltamos agora a nos distanciar mais.
Fora dessas hipóteses, há a do aumento do protagonismo judiciário, não à toa a preferida das organizações Globo, mas também até mais benigna, do ponto de vista de evitar, a curtíssimo prazo, um esgarçamento ainda maior das instituições democráticas para o qual a campanha de desestabilização da mesma Globo já contribui bastante. Mas o que esta solução supostamente moderada nos apontaria, como ponte para 2018? No mínimo a perda mais acentuada, pelo Judiciário, do seu já arranhado papel como instância arbitral, em face do envolvimento direto de alguém seu na gestão do governo em período de crise e pré-eleitoral. O prejuízo institucional só não seria maior que o desastroso uso simbólico da Justiça por um quadro dela migrado para o âmago de uma política demagógica que não ousa dizer seu nome.
Opção menos insólita e menos radical – embora se constitua também em precedente perigoso – seria o protagonismo judiciário ater-se a assegurar uma curtíssima interinidade para convocar o processo de busca de solução para o mandato tampão, em caso do Congresso a ela renunciar por se ver impedido de exercer esta sua prerrogativa constitucional pela força dos argumentos e dos veículos de pressão da suposta “vontade geral”. Mas se essa vontade geral/global tivesse o poder de vetar os políticos até como articuladores da solução, por que motivo aceitaria que fossem, eles próprios, a solução?
Mesmo que totalitários sejam muito poucos entre os adeptos da faxina, não é provável que estes últimos, sendo vencedores na operação contra Temer, permitam, depois dele, uma solução que revigore a Weimar tropical que denunciam e desestabilizam. É mais provável que o processo político, se se render ao monitoramento pela lógica investigativa e midiática, permita o assassinato serial de toda e qualquer alternativa política que surgir, desde que, entre mortos e feridos, garanta-se a continuidade da política econômica e promova- se, talvez, uma reformatação da reforma previdenciária, para não pô-la em colisão com interesses de algumas (poucas, é claro) corpo- rações do Estado. Em compensação, no quadro de um novo governo tampão com tais características, as corporações menos afortunadas do setor público terão saudade do deputado Artur Maia e até do quase unanimemente rechaçado PMDB.
Hipóteses
Como visto, há várias hipóteses para o desfecho A (queda de Temer). Mas qual cenário emergirá se porventura se der o desfecho B, a manutenção do presidente? Nem precisaremos da ajuda da TV Globo para admitir que se temos vivido tempos bicudos, os que viriam o seriam ainda mais. A começar pela hipótese de mais gente comum migrar da rejeição massiva e passiva ao governo, registrada em pesquisas de opinião, para uma participação em eventos organizados pela oposição política e por seus braços sindicais e nos movimentos sociais. O adensamento desse tipo de manifestação poderia ser suportado sem abalos graves, mas não a sua conversão em manifestações de massa, como as enfrenta- das pelo governo Dilma. Para evitar essa conversão, um Temer firme, enfático e agressivo, mas sem perder a elegância, como o que se mostra em declarações nesses dias de acuamento, teria que voltar às telas mais vezes para conversas mais diretas com a massa do eleitorado. Teria pendor e meios para isso se permanecesse sem um acordo ainda que provisório, com os canais de expressão da vontade geral/global?
Outro jeito não haveria senão tentar, pois a olímpica versão de que não se importa com impopularidade, se já não cabia bem em qualquer situação vivida por um presidente de um país democrático, em caso de um governo Temer II teria que ser abandonada completamente. O governo provavelmente não seria mais tão forte no Congresso, pois algumas das defecções, como a do PSB, não parecem reversíveis, a curto prazo. Tenderiam a aumentar os problemas internos em cada bancada partidária, o que forçaria o governo a fazer uso mais pródigo da caneta administrativa para abrir mais espaços a velhos e novos aliados e da tesoura política para abrandar ainda mais a reforma de Previdência. Surgiria aí uma nuvem: até que ponto o ministro Meireles sustentaria o apoio de agentes econômicos a um recuo relevante nessa área? Mais um fator que aconselharia a tentar um armistício com a suposta vontade geral. Por outro lado, um maior abrandamento da reforma previdenciária poderia desarmar parte do petardo armado contra o governo no último dia 17 de maio. Mesmo se a PF seguisse inflexível, talvez o bateu/levou perdesse adeptos no interior do MP. Ainda mais se incluída na pauta de negociações a troca do seu comando.
Concluída a digressão sobre cenários tateados na penumbra atual, voltemos ao MP e ao fator Janot. A mesma penumbra não permite que já se saiba agora se a instituição sairá desgastada ou fortalecida, após a arriscada operação em que a meteram. Se aparentemente faltam ao procurador-geral da República (como de resto aos seus até aqui explícitos parceiros de operação) pretensões jacobinas, o que então o animou a tanto? Talvez não caiba, por inútil, essa especulação, típica de redes sociais e que nos levaria aos limites do insondável, ou do insólito, como a de supor que ele tivesse a veleidade de oferecer, no curso ainda do seu mandato, ocasião para um bombástico grand finale da Lava-Jato: a entrega da cabeça de Temer e seu governo para o regozijo de madalenas que desejem ver inerte a geni apedrejada e com isso se contentem. E também para o sossego de agentes econômicos que receiam o tipo de impacto que vinha sendo previsto a respeito da delação do ex-ministro Palocci. Mas ainda que quisesse, a cúpula da PGR poderia dar essa pirueta só em acerto com os veículos da vontade geral/global e sem combinar isso em sua casa e também com Moro, Fachin e o STF? Não se negue a esses interlocutores institucionais um derradeiro voto de confiança.
Uma vacina contra teorias conspiratórias agiria no sentido de considerar que, tanto ou mais que a vontade dos atores, mesmo dos mais poderosos e influentes, estão envolvidas nessa operação, por mais heterodoxa que ela tenha sido, razões de legítima natu- reza institucional. Mas o exercício especulativo sobre o que moveu a ousadia e a agressividade do procurador-geral (ou a de quem ele chancelou) pode se deter também em hipóteses mais prosaicas, ligadas à luta interna da própria corporação.
Diz quem conhece o MPF (não é meu caso) que a comunidade de procuradores não se perfila, sem nuances e mesmo objeções, à cartilha dos missionários do MP em Curitiba. As razões estariam em diferentes conceitos e concepções normativas sobre a práxis da instituição e também em contendas por posições de poder, sensíveis, por exemplo, à prisão de um procurador na esteira da operação que ora comentamos. Esta cena colateral ao escândalo, nas palavras do dr. Janot, colocou gosto amargo na vitória que para ele a instituição ali obteve. O doce e o amargo propiciados pela ocupação do mais alto posto de comando da instituição decerto não são irrelevantes e podem fazer pensar que a instalação de um novo governo possibilitaria, ao atual chefe do MPF, influir no rumo de sua sucessão em grau maior do que aquele possível no atual governo. Esta miragem pode tanto se remeter a um governo sem Temer como a eventual governo Temer II, saldo do enfrentamento seguido por negociação com quem for preciso.
Conduta
Se inútil ou afoito for especular em qualquer dessas direções, é relevante registrar a relação da conduta da PGR com sua condição de ser, entre as instituições mais relevantes da República (incluindo seus Poderes), a única que não teve mudança de comando do fim da era petista para cá. Observando alterações de conduta derivadas da sucessão de Dilma Rousseff por Michel Temer; de Ricardo Lewandowski por Carmem Lúcia; de Renan Calheiros por Eunício de Oliveira e de Eduardo Cunha por Rodrigo Maia, o impulso corporativo ou personalista cedeu claramente lugar ao da concertação. Por isso tivemos (vínhamos tendo), o fim da paralisia dos poderes governativos e a consequente moderação da escalada de protagonismo político do Judiciário, sem prejuízo do seu pleno funcionamento e das demais instituições de controle nas esferas que privativamente lhe competem. Entre vantagens democráticas dessa convergência republicana há a maior proteção comum dos Poderes do Estado face à exposição de cada um, isoladamente, a pressões de corporações privadas e às relações perigosas sempre possíveis nesse circuito.
Há (ou havia) razões para supor, pelo andar da carruagem, que a sucessão na PGR, em setembro, dar-se-ia (mesóclise acidental) em sintonia com essa lógica política que retoma tradições cultivadas nos melhores dias dos nossos poderes civis, geralmente esquecidas em tempos de normalidade e retomadas quando nas crises se aguça o seu instinto de sobrevivência. Como ficará este jogo agora, se Temer cair? O Ministério Público emprestará sua colaboração de instituição republicana a uma concertação que preserve o Estado Democrático de Direito e fortaleça a Constituição para que a justiça republicana possa trabalhar em terreno político simpático a um permanente e sustentável combate à corrupção? Ou manterá performance sollo, surfando na fantasia faxineira? Caso consiga, com ajuda de veículos eficazes de formação de opinião, persuadir imediatamente a sociedade, essa promessa vã faria do Estado Democrático de Direito e da Carta de 1988 vítimas, a médio e longo prazos, de capturas corporativas por interesses privados ocultos em embalagens demiúrgicas difundidas por uma instituição de vocação democrática instrumentalizada em troca de tolerância ao seu corporativismo.
Se a pinguela realmente cair, torçamos para que quem torceu ou contribuiu para a sua queda – seja por vingança política ou por achar que valia a pena para denunciar a corrupção – saiba chegar a um bom porto nadando em águas turbulentas, pois estão de volta as que quase nos afogam no ano passado. E torçamos, principalmente, para que às águas turbulentas não sucedam águas turvas, como as de um passado autoritário e também corrupto que nós e nossos filhos não merecemos que volte para nos afogar de verdade e não só nas narrativas dos que chamam de golpe, ou de crime continuado, o ensaio de transição desse último ano. Ele deu lugar a que espíritos politicamente informa- dos e animados, mas não contaminados pela lógica binária que nos afundou na crise, vislumbrassem, nas idas e vindas do ensaio, o possível retorno da política por vocação, a que cultua valores mas, realista, também se dirige ao público como nas palavras de Max Weber: “eis-me aqui, não posso fazer de outro modo.”
* Artigo publicado originalmente na Revista Política Democrática #48