Fundação Astrojildo Pereira
‘Na cidadania, mitos se despedaçam’, diz Rogério Baptistini Mendes
Em artigo publicado na revista Política Democrática Online, pesquisador da Unesp diz que ‘bolsonarismo é a versão contemporânea do oikos’
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
A polarização civilização e barbárie demarca grupos e sociedades humanas, analisa o sociólogo e pesquisador da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) Rogério Baptistini Mendes, em artigo que publicou na 23ª edição da revista Política Democrática Online , produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojilo Pereira), em Brasília. “No campo da cidadania, a democracia se fortalece e os mitos se espedaçam”, diz ele, em outro trecho.
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Para além do caráter evolucionista da classificação, herdado do século 19 europeu, o sentido da polarização está atrelado aos movimentos históricos e sociais emancipadores do homem, sendo o Iluminismo sua síntese. “A construção de uma noção inclusiva e abrangente de humanidade, que daí deriva, não está dissociada das ideias dos antigos, mas as alarga”, diz ele.
O cultivo do espírito pela filosofia encontra o método, as técnicas e a disseminação dos saberes contra a ignorância, segundo o autor do artigo da revista Política Democrática Online. “A razão esclarecida abre seu caminho em meio às trevas e aponta para o reconhecimento mútuo dos seres humanos como portadores do mesmo destino e condição. É o que torna possível a convivência e, repugnante, o assassinato”, analisa o pesquisador da Unesp.
Em outro trecho, Mendes destaca que a subversão da pólis pela lógica binária que apostou na pedagogia do conflito, do “nós contra eles”, se fez acompanhar por patologias de um mercado que nunca integrou e se apresenta como lugar de resistência desregrada, incivilizada. “Neste contexto, a cidade, lugar da política, é hostil, e os espaços são privatizados. Sob o manto de defesa da ordem, da propriedade e dos direitos do ‘cidadão de bem’, o bolsonarismo é a versão contemporânea do oikos”, critica ele.
Mais adiante, o sociólogo diz que a história não é uma marcha ascensional e unilinear, estando repleta de dificuldades e incoerências. “Mas com ela se aprende. A partir dos ensinamentos do passado, da experiência e da apreciação racional, o homem civilizado e verdadeiramente livre se manifesta, constrói o presente e projeta o futuro”, afirma. “Na civis, no espaço público e em relação aos demais, é que a liberdade esclarecida e verdadeiramente emancipadora é exercida”, continua.
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Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não repassou verba alguma este ano para a Cinemateca Brasileira. “A dívida chega a R$ 14 milhões”, alerta o jornalista Henrique Brandão, com base em dados da a Associação Roquette Pinto, mantenedora do espaço desde 2018. Em artigo publicado na revista Política Democrática Online de setembro, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília, ele lembra que a unidade é responsável pela preservação do audiovisual brasileiro.
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Todos os conteúdos da publicação podem ser acessados, gratuitamente, no site da FAP. Segundo Brandão, os sinais do estrangulamento financeiro já vinham do ano passado. “Dos R$ 13 milhões previstos no orçamento, o governo só repassou R$ 7 milhões. Este mês, a Associação Roquete Pinto jogou a toalha: entregou as chaves ao governo federal e demitiu os 41 funcionários do corpo técnico. A bola agora está com a Secretária Especial de Cultura. Sinal de que o que está ruim pode piorar”, observa.
Fundada em 1946 e instalada em São Paulo, a Cinemateca Brasileira tem o maior acervo de imagem em movimento da América Latina, além de ser considerada uma das maiores instituições do gênero do mundo. Abriga cerca de 250 mil rolos de filmes e mais de um milhão de documentos, entre roteiros, fotografias, cartazes, recortes de imprensa, e arquivos pessoais, como o de Glauber Rocha (1939-1971).
Além do valioso acervo, conforme observa Brandão no artigo da revista Política Democrática Online, sua sede, situada no Antigo Matadouro Municipal de São Paulo, na Vila Clementino, tem duas modernas salas de exibição e uma área externa para projeção de filmes.
“Neste governo, o nome da Cinemateca tem sido citado em vão”, lamenta o jornalista. “O presidente ofereceu um cargo inexistente de chefia como consolo para a saída de Regina Duarte que, por sua vez, achou legal assumir ‘um museu do cinema’”, ironiza ele, para destacar que a cinemateca tem muitas funções importantes, menos a de museu.
Quem assim a enxerga confunde preservar com embalsamar, de acordo com Brandão. “Pensamento conservador. Há muito que os principais museus do mundo – como o Louvre – têm feito, com sucesso, esforço considerável para sacudir a poeira de seus salões”, diz ele, para continuar: “Uma das funções mais importantes de uma Cinemateca, em todo mundo, é formar plateias. Em suas salas de cinema acontecem workshops, lançamentos de filmes, exibição de clássicos fora de catálogos. Muitas vezes é a oportunidade para crianças de escolas de comunidades terem seu primeiro contato com um filme em tela grande”.
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Dados e histórias de vítima são contados em reportagem especial da revista Política Democrática Online de setembro
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
“Ele me colocou no colo, passou a mão em mim e, depois, tirou a roupa e começou a me acariciar na minha cama”. A declaração é de uma menina de 11 anos de idade que foi estuprada, aos 9 anos, em casa, pelo padrasto, enquanto a mãe estava no supermercado, na região do Gama, a 35 quilômetros de Brasília. “Ele me machucou muito, mas depois pediu para ficar calada porque senão minha mãe iria me bater”, conta, em reportagem especial da revista Política Democrática Online de setembro.
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A reportagem mostra que, a cada hora, quatro crianças e adolescentes de até 13 anos são estupradas no país, segundo o Anuário de Segurança Pública 2019, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública com informações de todas as unidades da Federação. Outro levantamento, baseado no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), revela que, por dia, o Brasil registra seis abortos em meninas de 10 a 14 anos estupradas.
O assunto mobilizou ainda mais população do país contra esse tipo de crime em agosto deste ano, conforme lembra a reportagem. “Religiosos conservadores e grupos de extrema direita no país perseguiram uma menina de 10 anos que teve autorização da Justiça para realizar aborto no Espírito Santo. Ela ficou grávida após ser estuprada pelo tio, por quem era violentada desde os 6 anos. O criminoso está preso’, diz o texto.
Em 2018, de acordo com o Anuário de Segurança Pública, o Brasil registrou mais de 66 mil casos de violência sexual, o que corresponde a mais de 180 estupros por dia. Entre as vítimas, 54% tinham até 13 anos. Foi a estatística mais alta desde 2009, quando houve a mudança na tipificação do crime de estupro no Código Penal brasileiro. O atentado violento ao pudor passou a ser classificado como estupro.
A reportagem especial da revista Política Democrática Online também mostra que, em sessão remota, o Senado Federal aprovou, no dia 9 de setembro, a criação do Cadastro Nacional de Pessoas Condenadas por Crime de Estupro, que deve conter, obrigatoriamente, características físicas, impressões digitais, perfil genético (DNA), fotos e endereço residencial da pessoa que recebeu condenação judicial. O texto seguiu para sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
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Novos conselheiros e diretores da FAP são eleitos em reunião online
Luciano Rezende e Caetano Araújo serão os próximos presidente do Conselho Curador e diretor-geral da fundação, respectivamente
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
O prefeito de Vitória (ES), médico Luciano Rezende (Cidadania), foi eleito o novo presidente do Conselho Curador da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), para o biênio 2020-2022. Em eleição conjunta, também foram eleitos os integrantes da próxima diretoria da entidade, que terá como diretor-geral o sociólogo Caetano Araújo, consultor do Senado e professor da UnB (Universidade de Brasília). A eleição foi realizada, neste sábado (26), de forma virtual, durante reunião ordinária, com transmissão ao vivo pela página da FAP no Facebook. Todos assumirão seus mandatos no dia 7 de novembro (veja lista de nomes ao final do texto).
Confira o vídeo da reunião sobre eleição da FAP
Sediada em Brasília e fundada em 2000, a FAP é vinculada ao Cidadania e atua para promover o estudo e a reflexão crítica da sociedade, de maneira a construir referências técnicas e culturais relevantes para a defesa, consolidação e reforma do Estado Democrático de Direito. O objetivo da fundação é ser referência para a cultura e a política democrática no Brasil, com base nos valores da transparência, sustentabilidade, solidariedade, reformismo, ética, equidade, democracia e cosmopolitismo.
Confira aqui o Relatório do Seminário de Planejamento Estratégico da FAP da FAP
A reunião online foi coordenada pelo atual diretor-geral da FAP, jornalista Luiz Carlos Azedo, que recebeu elogios dos conselheiros pelos resultados de sua gestão. O próximo presidente do Conselho Curador da fundação, que termina seu segundo mandato de prefeito de Vitória em 31 de dezembro e vai ocupar o lugar do ex-senador Cristovam Buarque, parabenizou a atual diretoria pelo planejamento estratégico, que foi discutido em três seminários online.
“O planejamento estratégico está muito bem feito. É um plano de voo”, disse Rezende, destacando orientação de Azedo sobre a possibilidade de a FAP interagir com organizações e movimentos internacionais nos próximos anos, além de continuar com suas frequentes publicações, eventos e cursos de formação política. “A Fundação Astrojildo Pereira presta um serviço de formação absolutamente necessário em um ambiente de política tão rasa e desqualificada. É uma luz na escuridão”, ressaltou.
Interlocução
Desde sua fundação, a FAP teve como diretriz o diálogo com o mundo da cultura e da ciência, de acordo com o diretor-geral eleito. “Ao longo dos anos, essa diretriz se consolidou, no cultivo de parcerias diversas, no meio acadêmico e artístico. Hoje, demos um passo à frente e integramos grupos de interlocução permanentes com outras fundações partidárias e movimentos sociais”, disse Araújo, que atualmente integra a diretoria-executiva da FAP.
Em um país marcado por intensa instabilidade política e guerras ideológicas, agravadas ainda mais por causa da crise sanitária da pandemia do coronavírus, a fundação terá, cada vez mais, de fortalecer sua luta pela defesa da democracia e dos valores republicanos. “Vivemos uma conjuntura marcada pelo risco do retrocesso da ordem democrática. Nesse quadro, a FAP terá que assumir com firmeza a defesa permanente do Estado de Direito, além de manter sempre a abertura para o diálogo com todos os democratas”, analisa o sociólogo.
Araújo também lembra que, em 2022, o país vai celebrar três datas relevantes: os centenários da Semana de Arte Moderna e do Partido Comunista e o bicentenário da independência. “As três datas serão motivo para um calendário de debates e comemorações nos quais estarão em discussão a identidade e o projeto de pais, o balanço do que foi alcançado até agora e as principais vulnerabilidades que precisamos superar no futuro próximo”, antecipou ele.
O diretor financeiro eleito para o próximo biênio, engenheiro civil Raimundo Benoni Franco, afirmou que a FAP tem “papel extremamente relevante e indispensável”. “Tem como função principal motivar o debate, construir argumentos técnicos e culturais, para ter visão democrática e progressista e ajudar a sociedade brasileira”, pontuou. Ele, que é ex-presidente do Fórum Nacional de Ouvidores do Setor Elétrico, também tem ampla experiência em gestão de políticas públicas e executiva.
“Minha experiência na ouvidoria me traz muita lucidez sobre índices de controle e atuação de qualquer instituição”, afirmou Benoni. Além da sua capacidade técnica, ele pretende levar para a fundação muita sensibilidade política para criar ambiente de maior harmonia possível e fazer a instituição exercer sua missão de contribuir com a formação de quadros e discussões técnicas de ideias para fortalecer a democracia brasileira.
Integração
Cofundador do Movimento Acredito, José Frederico Lyra Neto é um dos integrantes da diretoria eleita e confirma a integração da FAP com grupos de inovação política. “Faço parte de uma nova geração que olha para a política como forma de mudar o Brasil e a sociedade e entende a importância do passado e da formação. Quero ajudar muito com políticas públicas e conexão com movimentos políticos”, afirmou.
Fundador e coordenador nacional do núcleo Diversidade23 do Cidadania, o psicólogo Eliseu de Oliveira Neto destacou que, cada vez mais, a FAP busca maior pluralidade de representações em sua composição, integrando “novas vozes” para enriquecer os debates. “A fundação tem obrigação com educação política dos jovens do Brasil e espero que a gente possa cumpri-la”, acentuou.
O atual presidente do Conselho Curador da FAP, Cristovam Buarque, disse que continuará participando das ações da fundação e colaborando com os novos conselheiros. “Desejo que o Conselho aproveite o momento que virá, naquilo que é mais ou menos devaneio de muitos de nós, de buscar rumos para o país. Agora vai ser uma exigência concreta. Terminando as eleições municipais, a gente vai começar a debater o futuro do Brasil”, salientou.
Professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), o historiador Alberto Aggio, que também deixará a diretoria da FAP e passará a integrar o Conselho Curador, disse que há muitos desafios a serem enfrentados. “O principal deles é que essa fundação vinculada ao Cidadania seja, como diz o Cidadania, seja um novo partido. Tem que colaborar para que esse partido não seja, ou não se mantenha inercialmente, o mesmo PCB desde 1922 porque a sociedade é fundamentalmente distinta e nós ainda mantemos essa cultura política de maneira inercial. Esse é um desafio extraordinário”, afirmou. “Espero que a nova diretoria e o novo conselho curador possam seguir essa trilha de maneira exitosa”, asseverou.
Veja, abaixo, composição da Fundação Astrojildo Pereira para o biênio 2020-2022
» DIRETORIA EXECUTIVA
- Caetano Ernesto Pereira De Araújo (Diretor Geral)
- Raimundo Benoni Franco (Diretor Financeiro)
- Ana Stela Alves De Lima
- Ciro Gondim Leichsenring
- Jane Monteiro Neves
- José Frederico Lyra Netto
- Marco Aurelio Marrafon
» CONSELHO CURADOR
- Luciano Santos Rezende (Presidente do Conselho Curador)
- Bazileu Alves Margarido Neto (Vice-Presidente do Conselho Curador)
- Juarez Amorim (Secretário Executivo)
- Alberto Aggio
- Alexandre Youssef
- Arlindo Fernandes De Oliveira
- Dora Kaufmann
- Dulce Galindo
- Eliana Calmon
- Eliseu de Oliveira Neto
- George Gurgel de Oliveira
- Ivair Augusto Alves dos Santos
- Jane Maria Vilas Bôas
- Leandro Machado da Rosa
- Lenise Menezes Loureiro
- Ligia Bahia
- Luiz Carlos Azedo
- Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira
- Maria Terezinha Carrara Lelis
- Sérgio Besserman
- Sionei Ricardo Leão de Araújo
- Tibério Canuto de Queiroz Portela
- Vinícius De Bragança Müller e Oliveira
Suplentes
- Luzia Maria Ferreira
- Cezar Vasquez
- Miguel Arcangelo Ribeiro
- Indaiá Griebeler Pacheco
- José Maria Alencar
» CONSELHO FISCAL
- Benjamin Sicsu (Presidente do Conselho Fiscal)
- Marluce de Paula
- Carlos Alberto Muller Lima Torres
Suplentes
- Paulo Morais Santa Rosa
- José Arnor Brito Silva
» CONSELHO CONSULTIVO
- Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque (Presidente do Conselho Consultivo)
- Nestor Borba (Secretário Executivo)
- Alexandre Pessoa
- Amílcar Baiardi
- Anderson Martins
- André Gomyde Porto
- Any Machado Ortiz
- Elimar Pinheiro do Nascimento
- Gisele Santoro
- Hamilton Garcia de Lima
- Henrique Mendes Dau
- Ivanir dos Santos
- Joaquim Falcão Filho
- José Antônio Segatto
- José Arlindo Soares
- José Jorge Tobias de Santana
- Jose Luiz Oreiro
- Juliet Neves Matos
- Luciano Pinho
- Luiz Sérgio Henriques
- Manuel Thedim
- Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez
- Mauricio Rudner Huertas
- Paulo Baía
- Paulo Fábio Dantas Neto
- Pollyana Fatima Gama Santos
- Raquel Dias
- Renata Eitelwein Bueno
- Rogério Baptistini Mendes
- Sérgio Camps de Morais
- Sérgio José Cavalcanti Buarque
O que caracteriza a mentalidade bolsonarista? João Cezar de Castro Rocha responde
Em artigo publicado na revista mensal da FAP, professor da Uerj cita narrativa conspiratória do Orvil
Cleomar Almeida, assessor de comunicação FAP
A mentalidade bolsonarista é caracterizada, por meio da guerra cultural, a ponta de lança de um projeto autoritário, com base no resgate insensato da Doutrina de Segurança Nacional, no alinhamento cego à matriz narrativa conspiratória do Orvil e na adesão náufraga ao sistema de crenças Olavo de Carvalho. A análise é do professor Titular de Literatura Comparada da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e ensaísta João Cezar de Castro Rocha, em artigo publicado na revista Política Democrática Online de setembro.
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A publicação mensal é produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que disponibiliza, gratuitamente, todos os conteúdos em seu site para os internautas. Rocha observa que a ascensão da direita é anterior à emergência do bolsonarismo, o que, segundo ele, favoreceu sua possibilidade de êxito.
“Em boa parte dos estudos acerca do fenômeno, o efeito é tomado como causa. O bolsonarismo não possibilitou o triunfo eleitoral da direita, mas, pelo contrário, a ascensão paulatina da direita, articulada desde meados da década de 1980, preparou a vitória do Messias Bolsonaro no segundo turno em 2018”, analisa o professor da Uerj.
O ensaísta lembra que as manifestações de rua da direita explodiram em março de 2016, depois de se iniciarem em março de 2015, e ampliadas em abril, agosto e dezembro do mesmo ano. Os atos, de acordo com o analista, revelaram ao país uma organização sólida de grupos conservadores, com destaque para movimentos articulados nas redes sociais, que, com grande desenvoltura, tomaram os céus de assalto, não para defender a revolução, porém, todo o oposto, para derrubar o único partido de esquerda que chegou à presidência do Brasil.
Rocha explica que O Orvil é o modelo narrativo adotado pelo bolsonarismo. “Trata-se de documento-chave que oferece o relato de uma permanente ‘ameaça comunista’, fortalecendo o discurso da atual extrema-direita no Brasil, pois se trata do livro de cabeceira da família Bolsonaro”, afirma o professor da Uerj.
O livro, conforme observa o autor do artigo, foi preparado pelo Exército entre 1986 e 1989, cujo objetivo era denunciar a “ameaça comunista”. “A ascensão da direita, um movimento de duas décadas, explodiu em 2015 e 2016, porém sua intensidade foi preparada lentamente por meio da criação de uma linguagem própria, saturada de clichês anticomunistas com ressonâncias anacrônicas da Guerra Fria, ademais do recurso a uma moldura narrativa com base nas tentativas de tomada do poder por parte da esquerda brasileira, “naturalmente” em acordo com o movimento comunista internacional, numa vasta trama de proporções apocalípticas.
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Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
As propostas de reforma tributária não são nada animadoras para a população em geral, conforme avalia o consultor jurídico e professor do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público) Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal. “A lista de perdedores é imensa”, alerta o especialista, em entrevista que concedeu à revista Política Democrática Online de setembro, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília.
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Existem hoje três propostas de reforma tributária, em tramitação no Congresso Nacional: uma oriunda da Câmara dos Deputados (PEC nº 45); outra apresentada no Senado (PEC nº 110), e, por fim, a proposta de criação de uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), encaminhada pelo Poder Executivo, para a qual se solicitou tratamento de urgência no Congresso Nacional.
“[A lista de perdedores] começa com os mais de 850 mil contribuintes, tributados no regime do lucro presumido do IRPJ e cumulativo do PIS/COFINS, alcançando pequenos e médios prestadores de serviço, comerciantes e industriais”, afirma. “Nesse contingente, incluem-se os serviços de educação e saúde, o que inevitavelmente implicaria elevação dos preços das mensalidades escolares e das consultas médica”, ressalta.
Na avaliação de Maciel, para justificar o aumento da tributação dos serviços de educação e saúde, argumenta-se que quem faz uso desses serviços são ricos, desconhecendo a imensa demanda da classe média. “De mais a mais, essa oneração haveria de sobrecarregar o SUS e a rede pública de ensino, gerando custos para o setor público”, analisa.
Na longa lista de perdedores, até o livro foi incluído. “Desde 1946, o livro é desonerado de tributos. A remuneração de um escritor corresponde a 10% do preço de capa. A CBS pretende taxar os livros com uma alíquota de 12%, o que equivale a confiscar aquela remuneração”, critica ele. Além disso, os livros didáticos representam cerca de 50% do total comercializado, sendo que grande parte é adquirida pelos governos. Trata-se, portanto, de uma ideia estapafúrdia. Mais grave, sem nenhum valor arrecadatório.
Outro alvo desse aumento de carga tributária, segundo o ex-secretário da Receita Federal, é o agronegócio, precisamente o setor quem tem sustentado o modesto desempenho do PIB brasileiro. “Pretende-se tributar o setor pesadamente, na contracorrente do que se faz no resto do mundo”, afirma.
No Brasil, 98% dos produtores rurais são pessoas físicas equiparadas a jurídicas, que produzem e vendem para a indústria processadora sem transferir crédito. Segundo o consultor jurídico, a indústria processadora de produtos de origem animal e vegetal toma um crédito presumido, na apuração do PIS/COFINS, que varia de 40 a 60%.
“No projeto da CBS, o crédito presumido é reduzido para 15%, e se elimina a isenção dos insumos. Em decorrência, haveria redução da margem do produtor ou da indústria ou então elevação dos preços para o consumidor final, o que é lamentável.
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Pós-doutor em comunicação publicou análise na revista Política Democrática Online de setembro
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
A guerra de narrativa na internet abre um grande campo de atuação para “robôs militantes”, principalmente, no período das eleições. “São eles os novos cabos eleitorais. E nós, eleitores, amamos os robôs, porque eles defendem nossos desejos, mas que os fatos insistem em atrapalhar”, analisa o pós-doutor em comunicação e diretor da AP Exata – Inteligência Digital, Sergio Denicoli, em artigo publicado na revista Política Democrática Online de setembro.
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A publicação é produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília, e todos os conteúdos podem ser acessados, gratuitamente, no site da entidade. Em seu artigo, o especialista destaca como as narrativas ganham cada vez mais destaque e poder, principalmente, com a estratégica de mimética, reforço das repetições, provocados pelo conhecidos memes. T
“Há uma pandemia? Basta os robôs dizerem que não é verdade a gravidade da situação, e está decretado o fim da quarentena. A Amazônia está em chamas? Chamem os robôs e os orientem a dizer que isso é uma mentira baseada em um complô internacional, para nos roubar a floresta. Cientistas têm provas? Os robôs não acreditam nelas, porque tudo pode ser contestado com os mais básicos e convincentes argumentos”, exemplifica
Ele pondera que essa história de amor com os robôs pode levar, certamente, a um final “infeliz”. “Enquanto estivermos encantados pelos robôs, estaremos cegos de paixão. E, como Aristóteles mesmo nos disse, ‘a lei é a razão livre da paixão’. Ou seja, ainda estamos muito longe de voltarmos a avistar a firme terra do racional”, afirma. “Mas, quando a paixão acabar, sobrarão os corações despedaçados, ávidos pela verdade, que irá florescer em meio à terra arrasada, onde um dia os sofistas imperaram”, continua.
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Em nova edição da revista online e mensal da FAP, crítica de cinema cita ‘estado hipnótico’
“Ao sentar-se em uma sala escura, com a atenção totalmente voltada para a tela, o espectador entrava em uma espécie de estado hipnótico, revivendo sensações do passado, seguidas de um certo alívio ao final da sessão”, observa a crítica de cinema Lilia Lustosa, em artigo que produziu para a edição de setembro da revista Política Democrática Online. A publicação é editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que disponibiliza todos os conteúdos, em seu site, gratuitamente.
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De acordo com Lilia, cinema e psicanálise nasceram praticamente juntos. “Muito cedo percebeu-se que a nova arte tinha um poder catártico semelhante ao da nova corrente psicológica que surgia naquele final de século 19”, afirma ela, em seu artigo. Toda essa mistura pode provocar um sentimento que, segundo ela, muitas vezes, terminava por converter-se em ação ou em transformação.
Em sua análise, a crítica de cinema cita um episódio que viveu em Buenos Aires, onde, conforma ressalta, teve a oportunidade de constatar esse poder do cinema ao assistir ao filme Refugiado (2014), de Diego Lerman, em uma comunidade, fruto de uma ação promovida pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em conjunto com uma ONG local.
O objetivo, de acordo com Lilia, era incentivar mulheres vítimas de violência doméstica a se pronunciarem sobre o mal que vinham sofrendo, quem sabe até criando coragem para denunciar seus agressores.
Segundo a crítica de cinema, o filme, que conta a história de uma mulher grávida que foge de casa e do marido, levando consigo o filho de 7 anos, despertou sentimentos profundos na plateia. “Uma senhora, acompanhada do filho pequeno, declarou haver-se identificado muito com a protagonista, afirmando que o que viu na tela era exatamente o que vivia em seu dia a dia”, destaca.
“A verdade é que, apesar de já ter lido mil vezes sobre a força catártica do cinema, sobre sua capacidade de sensibilização ou mesmo de persuasão, características tão exaltadas pelos vanguardistas russos ou mesmo pela Igreja Católica com suas encíclicas Vigilanti Cura e Miranda Prorsus, nada se compara a vivenciar seu efeito na vida real”, acentua.
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Mundo de riscos e desafios é tema de webinar da FAP com Elimar Nascimento
Professor da UnB debaterá assunto, abordado em livro de sua autoria, diretamente com internautas
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Leitores poderão conversar diretamente com o autor do livro Um mundo de Riscos e Desafios (216 páginas) para debaterem o assunto, durante webinar da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), editora da obra, no dia 6 de outubro, das 19h às 20h30. Na sala virtual, o sociólogo e professor da UnB (Universidade de Brasília) Elimar Pinheiro do Nascimento discutirá, entre outros assuntos, sustentabilidade e democracia. A transmissão será realizada por meio do site e da página da entidade no Facebook.
O livro está à venda na internet. Ao longo de sete capítulo, o autor aborda os seguintes assuntos: sustentabilidade; crise ambiental e democracia; possibilidade de recriar a democracia; modernidade, globalização e exclusão social; a dinâmica dos que ficam dentro e fora, no contexto da globalização e exclusão; o pluralismo da sociedade; e os excluídos necessários e os excluídos desnecessários.
Assista ao vivo!
A degradação ecológica, provocada pelo crescimento da produção e do consumo, conforme abordado no livro, deve ser abordada durante o webinar, que se torna ainda mais essencial no momento em que o Brasil e o mundo passam por uma intensa destruição do meio ambiente.
A discussão online também vai analisar a degradação moral, que é provocada pela intensificação da desigualdade social. Isto porque o autor considera que a sociedade vive em um mundo perigoso, com crises de múltiplas naturezas e incertezas crescentes.
“Uns se preocupam com o vazio e a falta de futuro dos humanos, o consumismo e o aumento de doenças como depressão, câncer e crescimento das taxas de suicídio. Outros, com a degradação ambiental, com o aumento da perda da biodiversidade e riscos crescentes dos eventos críticos climáticos”, escreve o sociólogo.
Webinar da Biblioteca Salomão Malina discute livro de José Saramago
Internautas poderão participar de encontro online do Clube de Leitura para discutir obra As intermitências da morte
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Análises sobre o livro As intermitências da morte (Companhia das Letras), de José Saramago, publicado em 2005, serão discutidas, no dia 5 de outubro, em encontro virtual do Clube de Leitura Eneida de Moraes, da Biblioteca Salomão Malina, mantida pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília. Internautas poderão assistir à transmissão ao vivo pelo Facebook da biblioteca ou participar diretamente da sala virtual.
Interessados em participar da sala virtual deverão solicitar link do zoom por meio do whatsapp oficial da biblioteca (61 984015561). A retransmissão será realizada pelo site e pela página da FAP no Facebook, com a possibilidade de o público participar também na parte de comentários. As sessões do clube de leitura são realizadas, normalmente, na primeira segunda-feira do mês.
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Na apresentação do livro, de 208 páginas, Saramago, com bom humor e amargura, registra que "não há nada no mundo mais nu que um esqueleto", referindo-se à representação tradicional da morte. É por isso que, de acordo com a editora, só um grande romancista conseguiria desnudar ainda mais a terrível figura.
Apesar da fatalidade, de acordo com a apresentação, a morte também tem seus caprichos. “Cansada de ser detestada pela humanidade, a ossuda resolve suspender suas atividades. De repente, num certo país fabuloso, as pessoas simplesmente param de morrer. E o que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico logo se revela um grave problema”, diz um trecho.
Idosos e doentes, de acordo com o livro, agonizam em seus leitos sem poder "passar desta para melhor". “Os empresários do serviço funerário se veem ‘brutalmente desprovidos da sua matéria-prima’. Hospitais e asilos geriátricos enfrentam uma superlotação crônica, que não para de aumentar. O negócio das companhias de seguros entra em crise. O primeiro-ministro não sabe o que fazer, enquanto o cardeal se desconsola, porque "sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja", afirma.
O texto também diz que ficam expostos os vínculos que ligam o Estado, as religiões e o cotidiano à mortalidade comum de todos os cidadãos. “Mas, na sua intermitência, a morte pode a qualquer momento retomar os afazeres de sempre. Então, o que vai ser da nação já habituada ao caos da vida eterna?”, questiona
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Reforma tributária, estupros e paixão por robôs são destaques da Política Democrática
Produzida pela FAP, revista mensal tem acesso totalmente gratuito no site da entidade
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Impactos da reforma tributária, estupros contaminados por guerra ideológica e a crescente relação das pessoas com robôs na internet, em meio a um intenso conflito de narrativas, são destaques da edição de setembro da revista Política Democrática Online, lançada nesta quinta-feira (24). Todos os conteúdos podem ser acessados gratuitamente no site da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília e que produz e edita a publicação.
Clique aqui e veja revista Política Democrática Online de setembro!
No editorial, a publicação destaca a defesa da democracia e o combate à corrupção. “A defesa da democracia exige a preservação da fronteira entre decisões da política, nas quais vigora o princípio da maioria, e decisões da justiça, que dependem da aplicação das leis por um corpo de funcionários qualificado”, diz. “A resposta democrática às falhas da Justiça é a reforma das regras, não a contestação das sentenças”, continua.
Na economia, a revista destaca entrevista exclusiva com o consultor jurídico e professor do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) Everardo Maciel, que foi secretário da Receita Federal durante os anos de 1995 a 2002, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele analisa as três propostas de reforma tributária, em tramitação no Congresso Nacional: uma oriunda da Câmara dos Deputados (PEC nº 45); outra apresentada no Senado (PEC nº 110), e, por fim, a proposta de criação de uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), encaminhada pelo Poder Executivo, para foi solicitado tratamento de urgência no Congresso Nacional.
“A lista de perdedores é imensa”, critica Maciel. “Começa com os mais 850 mil contribuintes, tributados no regime do lucro presumido do IRPJ e cumulativo do PIS/COFINS, alcançando pequenos e médios prestadores de serviço, comerciantes e industriais. Nesse contingente, incluem-se os serviços de educação e saúde, o que inevitavelmente implicaria elevação dos preços das mensalidades escolares e das consultas médicas”, analisa o consultor.
Já a reportagem especial destaca histórias e dados de vítimas de estupro no país. A cada hora, quatro crianças e adolescentes de até 13 anos são estupradas no país, segundo o Anuário de Segurança Pública 2019, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública com informações de todas as unidades da Federação. Outro levantamento, baseado no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), mostra que, por dia, o Brasil registra seis abortos em meninas de 10 a 14 anos estupradas.
Outra abordagem de comportamento humano é analisada em um artigo sobre a relação das pessoas com robôs na internet. “Há uma pandemia? Basta os robôs dizerem que não é verdade a gravidade da situação, e está decretado o fim da quarentena. A Amazônia está em chamas? Chamem os robôs e os orientem a dizer que isso é uma mentira baseada em um complô internacional, para nos roubar a floresta”, analisa o pós-doutor em comunicação Sérgio Denicoli, diretor da AP Exata – Inteligência Digital.
Já a mentalidade bolsonarista é assunto para análise do professor titular de Literatura Comparada da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e ensaísta João Cezar de Castro Rocha. “Trata-se de reduzir o outro ao mero papel de adversário, inimigo a ser eliminado. Por isso, muito mais importante do que somente derrotar o Messias Bolsonaro é superar o próprio bolsonarismo”, alerta.
A revista Política Democrática Online de setembro de também tem artigos sobre política e cidadania, proposta de reforma administrativa, recessão, perspectivas da economia, cinemateca brasileira, cinema argentino, história política do Chile e as eleições dos Estados Unidos.
A publicação é dirigida pelo embaixador aposentado André Amado e tem o conselho editorial formado por Alberto Aggio, Caetano Araújo, Francisco Almeida, Luiz Sérgio Henriques e Maria Alice Resende de Carvalho.
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RPD || Reportagem Especial: Estupros aterrorizam vítimas e inflam guerra ideológica
A cada hora, quatro crianças e adolescentes de até 13 anos são estuprados no país; especialistas veem aborto como questão de saúde pública
Cleomar Almeida
“Ele me colocou no colo, passou a mão em mim e, depois, tirou a roupa e começou a me acariciar na minha cama”. A declaração é de uma menina de 11 anos de idade que foi estuprada, aos 9 anos, em casa, pelo padrasto, enquanto a mãe estava no supermercado, na região do Gama, a 35 quilômetros de Brasília. “Ele me machucou muito, mas depois pediu para ficar calada porque senão minha mãe iria me bater”, conta.
Os nomes não são divulgados para preservar a identidade da criança e da família, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A menina foi obrigada a conviver com o agressor durante quatro anos, período que durou o relacionamento da mãe com o padrasto. Ele foi embora depois da separação, no ano passado. A família disse que não registrou o caso na polícia por medo de ameaças.
“Ele me levou pra cama outras cinco vezes para colocar [o órgão genital] em mim, mas também passava a mão nas minhas partes toda vez que ia na minha casa. Eu não falava nada porque tinha muito medo de ele me matar”, conta a criança. “Hoje tenho medo de ficar sozinha em qualquer lugar”, acrescenta.
A cada hora, quatro crianças e adolescentes de até 13 anos são estuprados no país, segundo o Anuário de Segurança Pública 2019, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública com informações de todas as unidades da Federação. Outro levantamento, baseado no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), mostra que, por dia, o Brasil registra seis abortos em meninas de 10 a 14 anos, estupradas.
Estupro e aborto ainda são tabus no país, embora se permita a interrupção da gravidez em caso de estupro, ao lado de duas outras situações: anencefalia e risco de morte para a mãe. Ao arrepio das disposições legais, grupos extremistas se aproveitam para aprofundar suas batalhas ideológicas contra vítimas, deixando-as ainda mais vulneráveis, como ocorreu com a menina do Espírito Santo, que teve o nome divulgado indevidamente.
Só no primeiro semestre deste ano, o Ministério da Saúde registrou 642 internações de vítimas de estupro. Além disso, o Brasil tem média anual de 26 mil partos de mães com idades de 10 a 14 anos. Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares do SUS. É crime fazer sexo com menor de 14 anos no país.
“Qualquer gravidez de uma menor de 14 anos é um estupro presumido. Isso significa que essa gravidez é resultado de uma violência sexual”, afirmou a antropóloga Débora Diniz, fundadora do Instituto Anis de Bioética. “Obrigar menina, tão miudinha, a se manter grávida é um ato de tortura do Estado brasileiro”, disse.
Em geral, os dados de crimes sexuais são subnotificados, já que nem todas as vítimas registram o caso na polícia ou procuram socorro de profissionais de saúde. Muitas vezes, nem dá tempo, já que também há casos de vítimas de estupro assassinadas pelos criminosos.
"Há uma naturalização desta violência. O pessoal já nem presta mais atenção em menina de 13 ou 14 anos grávida. O pessoal está começando a prestar atenção na gravidez de 10, 11 anos de idade", afirmou a advogada Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, que atua no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes.
Em 2018, de acordo com o Anuário de Segurança Pública, o Brasil registrou mais de 66 mil casos de violência sexual, o que corresponde a mais de 180 estupros por dia. Entre as vítimas, 54% tinham até 13 anos. Foi a estatística mais alta desde 2009, quando houve a mudança na tipificação do crime de estupro no Código Penal brasileiro. O atentado violento ao pudor passou a ser classificado como estupro.
Naquele ano, o aumento nos casos de estupro teve sua maior parcela entre vítimas do sexo feminino (82%) e acompanhava uma alta em outras modalidades de crime contra mulheres, como feminicídio e agressão doméstica.
Nos últimos dez anos, o Brasil registrou, em média, uma interrupção de gravidez por razões médicas por semana envolvendo meninas de 10 a 14 anos. Em 2020, foram ao menos 34 ocorrências nesta faixa etária e, considerando mulheres de todas as idades, o número salta para 1.022.
“Enquanto o aborto não for tratado sob a perspectiva da saúde, enquanto houver julgamentos moralistas ou ele for abordado pelo viés religioso ou individual, vamos dificultar que meninas e mulheres tenham acesso à interrupção da gestação, que é um passo importante para sair deste ciclo tão traumático da violência sexual”, disse a defensora pública Paula Sant'Anna, coordenadora do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública de São Paulo.
Na avaliação da assistente social Nathália Diorgenes, que pesquisa aborto e racismo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atua na Marcha Mundial das Mulheres, o estupro está enraizado na estrutura social. “O estupro é um crime social. Um homem comete, mas toda a sociedade legitima. Quando essas coisas acontecem, você diz que o estupro nesse país é bem-vindo. Esse é o recado do fundamentalismo religioso”, lamentou.
Em meio a toda guerra ideológica, a educação sexual é o melhor caminho na prevenção da violência sexual, segundo a advogada Luisa Lins, que é integrante da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa) e da Frente Nacional Contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto. “Não existe outra forma de proteção senão a educação sexual. Punir, prender e castrar não são formas de prevenção. A educação sexual é responsabilidade do Estado e de toda a sociedade para cuidar das crianças”, destacou.
No caso da vítima do Gama, citada no início desta reportagem, a família tenta agir para amenizar o trauma da criança com auxílio de professores da educação regular, que foram informados sobre o seu caso após ela apresentar muita dificuldade de interação social quando as aulas ainda eram presenciais. Um psicólogo também faz seu acompanhamento. “Meu sonho é me tornar advogada para defender quem não tem força”, conta a menina.
Propostas querem tornar crimes imprescritíveis e inafiançáveis
Mulheres se mobilizam para aprovação das Propostas de Emenda à Constituição (PECs) 64/2016, referente ao estupro, e 75/2019, que torna imprescritível e inafiançável também o feminicídio. O objetivo é tornar imprescritíveis e inafiançáveis, sujeitos à pena de reclusão, os crimes de racismo, estupro e feminicídio.
Por causa das limitações impostas pelo instituto da prescrição é possível que algumas vítimas não consigam ver punido criminalmente o agressor nem recebam a indenização por dano moral que lhes é devida. Vítimas de estupro têm até 20 anos após a prática dos crimes para denunciarem o agressor. Após esse prazo, o crime prescreve e o criminoso não pode mais ser punido. Em regra, na área cível, o prazo de prescrição é de 3 anos.
A PEC 64/2016 já foi aprovada no Senado e está em tramitação na Câmara dos Deputados desde agosto de 2017. Em sua justificativa, o texto observa que "o estupro é um crime que deixa profundas e permanentes marcas nas vítimas, sendo que a ferida psicológica dificilmente cicatriza". Além disso, de acordo com o texto, “a coragem para denunciar um estuprador, se é que um dia apareça, pode demorar anos”. Já a PEC 75/2019 segue a mesma linha da primeira e já foi aprovada pelo Senado, mas também ainda está em análise na Câmara dos Deputados.
“As vítimas continuam clamando por justiça e buscando formas de receber o devido ressarcimento pelos danos físicos e morais sofridos”, explica a advogada Luiza Nagib Eluf, que foi promotora e procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo e secretária nacional dos Direitos da Cidadania do Ministério da Justiça, no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Autora de sete livros, dentre os quais A paixão no banco dos réus (Editora Saraiva), Luiza escreveu um artigo e fez um apelo ao Congresso Nacional para aprovação das duas PECs. “A realidade dos fatos, no Brasil, não deixa dúvidas de que a Constituição Federal precisa ser aperfeiçoada para que a proteção aos direitos da mulher se torne, finalmente, uma realidade”, afirmou.
País terá cadastro de pessoas condenadas
Em sessão remota, o Senado Federal aprovou, no dia 9 de setembro, a criação do Cadastro Nacional de Pessoas Condenadas por Crime de Estupro, que deve conter, obrigatoriamente, características físicas, impressões digitais, perfil genético (DNA), fotos e endereço residencial da pessoa que recebeu condenação judicial. O texto seguiu para sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O Projeto de Lei 5.013/2019, de autoria do deputado federal Hildo Rocha (MDB-MA), também prevê que, em caso de condenado em liberdade condicional, o banco de dados deverá conter os endereços dos últimos três anos e as profissões exercidas nesse período. Na avaliação dos parlamentares, o cadastro é um avanço importante para frear "uma estatística assustadora no Brasil".
Para viabilizar o cadastro, o texto prevê a cooperação entre União, Estados e municípios para validação, atualização dos dados e acesso ao banco de informações. Os recursos para o desenvolvimento e a manutenção do cadastro serão do Fundo Nacional de Segurança Pública. As informações do cadastro devem simplificar e agilizar a investigação dos casos de estupro, além de servirem como instrumento de prevenção.
Código Penal
O crime de estupro é definido no Código Penal como "constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso". A pena é de reclusão de 6 a 10 anos.
A lei também define como crime de estupro de vulnerável "ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos" ou com "alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência". A pena é de reclusão de 8 a 15 anos.
O estupro e o estupro de vulnerável são crimes hediondos (Lei 8.072, de 1990). Por isso, são inafiançáveis e não alcançados pelos benefícios de anistia, graça ou indulto.
*Cleomar Almeida é jornalista, assessor de comunicação da FAP