Fundação Astrojildo Pereira
Biblioteca Salomão Malina retoma atendimento presencial em Brasília
Unidade da FAP adotará uma série de medidas de enfrentamento à pandemia da Covid-19 para retomar o atendimento. Local conta com acesso gratuito à internet e acervo de mais de 3,5 mil livros para empréstimo
Brasília voltou a ter, nesta quarta-feira (30/6), mais uma opção de local de estudo e leitura, com acesso gratuito à internet e mais de 3,5 mil livros para empréstimo, sem qualquer custo, no Conic, no meio da capital federal. Mantida pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), a Biblioteca Salomão Malina foi reaberta ao público quase um ano e meio depois de suspender atendimento presencial por causa da pandemia da Covid-19.
O técnico em enfermagem e recém-graduado em filosofia Carlos Gustavo Araújo dos Santos, de 29 anos, é um dos que já comemoram a reabertura da unidade mantida pela FAP. “A biblioteca significa muito para mim”, destaca. “Quando estava fazendo meu trabalho de conclusão de curso, foi o meio acessível de estudo e pesquisa por ter acervo com livros de qualidade disponibilizados gratuitamente”, afirma.
Conheça a Biblioteca Salomão Malina!
A biblioteca foi reaberta com restrição de funcionamento, das 10h às 16h, sem fechamento no horário de almoço. Oito pessoas, no máximo, poderão usar o local no mesmo momento, considerando a necessidade de distanciamento social e outras medidas de enfrentamento à pandemia. Não há necessidade de agendamento prévio. Em 2019, no ano antes da crise sanitária global, a unidade da FAP atendeu a mais de 6 mil pessoas.
Durante o período em que ficou fechada para atendimento presencial, a biblioteca manteve as atividades administrativas e aumentou a quantidade de livros editados pela FAP à venda na internet. Já são 32 títulos disponíveis para aquisição em plataformas digitais sobre assuntos de interesse público, como política, meio ambiente e democracia, entre outros. Veja relação de todos ao final desta reportagem.
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Além de oferecer serviços de leitura e estudo em ambiente climatizado, a Biblioteca Salomão Malina faz doação de livros. Em maio, a Library of Congress Office, uma das maiores bibliotecas de Washington (EUA), fez o mais recente pedido de doação de livros do acervo da unidade mantida pela FAP.
A solicitação foi realizada pela bibliotecária sênior e representante da Library of Congress Office em Brasília, Elen Rocha. Ela também já enviou algumas publicações doadas pela biblioteca da FAP para a Biblioteca Jurídica em Washington, que, em seu acervo virtual (https://catalog.loc.gov/), disponibiliza 72 títulos relacionados à Fundação Astrojildo Pereira.
Confira a localização da Biblioteca Salomão Malina
Plano de retomada
Para retomar o atendimento presencial gradativamente, a Biblioteca Salomão Malina elaborou um plano, seguindo rigorosamente os protocolos de enfrentamento à pandemia da Covid-19. Como não há necessidade de agendamento prévio para as pessoas terem acesso ao local, a unidade vai disponibilizar todas as informações necessárias ao público logo na porta de entrada.
O controle de vagas disponíveis no espaço será sinalizado na porta principal da entrada da biblioteca da seguinte forma: um caderno em espiral plastificado com as numerações de 0 a 8 ficará pendurado na porta de vidro, sinalizando a quantidade de vagas disponíveis, à medida em que os leitores chegarem para utilizar o espaço ou o deixarem.
Na entrada da biblioteca, será aferida a temperatura de cada usuário, com orientação da utilização do álcool em gel nas mãos. O usuário deverá fazer a assinatura no caderno de presença, com canetas previamente higienizadas, e receberá a chave do guarda volumes, também higienizada.
Serão adotados os seguintes protocolos na biblioteca:
» Disponibilização de álcool em gel na entrada;
» Disponibilização de álcool 70% em borrifadores para os próprios usuários higienizarem mesas e cadeiras, quando acharem necessário. (Antes da pandemia, já havia essa prática na biblioteca);
» Aferição de temperatura de todos os usuários, visitantes e funcionários antes de entrar no ambiente. Caso a temperatura detectada seja superior à 37,8°C, a pessoa será orientada a procurar os serviços de saúde e não poderá entrar na biblioteca;
» Sinalização na entrada da biblioteca: informações sobre a obrigatoriedade do uso de máscaras, sobre o distanciamento de 2 metros entre as pessoas e sobre higienizar as mãos com álcool em gel;
» Proibir a entrada e a circulação de qualquer pessoa nas dependências da biblioteca sem o uso de máscaras, garantindo que estas sejam utilizadas de forma correta, cobrindo totalmente a boca e o nariz, e estejam bem ajustadas ao rosto, sem deixar espaços laterais;
» Excepcionalmente, a biblioteca poderá fornecer máscara a visitante que não possua;
» Solicitar aos usuários e visitantes que observem todas as orientações de prevenção à Covid-19 adotadas na biblioteca.
» A mesa coletiva poderá ser ocupada apenas por quatro pessoas, sentadas de forma intercalada, sendo a mesa subdividida por placas de proteção de acrílico, delimitando os espaços;
» Os dois sofás terão um de seus assentos demarcado para não ser utilizado;
» Das três baias individuais de estudo, apenas duas estarão disponíveis. A baia do centro será isolada para manter o distanciamento mínimo de 2 metros entre as pessoas;
» Demarcação com fitas no chão, a cada 2 metros, para o distanciamento nas filas dos balcões de atendimento;
» Balcão de atendimento receberá uma estrutura em acrílico para bloquear o espaço entre o funcionário e o usuário;
» Será evitado o uso de ar condicionado e privilegiada a ventilação natural. Para isso, janelas e portas ficarão abertas;
» O acervo será isolado por separadores de fila. O leitor deverá solicitar no balcão o livro desejado e um dos funcionários irá retirar o(s) livro(s) com luvas;
» Após a utilização, os livros serão recolhidos e isolados em quarentena por 10 dias (tempo relativo para tornar corona vírus indetectável);
» Após o período de quarentena, os livros deverão retornar ao acervo;
» Não serão disponibilizados jornais e revistas para precaver qualquer tipo de contaminação em materiais bibliográficos que são compartilhados;
» O recebimento de doações de livros ficará suspensa temporariamente.
Acervo
Veja, abaixo, livros sobre o PCB disponíveis ao público na Biblioteca Salomão Malina, em Brasília
Veja, abaixo, a relação de obras da FAP à venda nos sites da Amazon, Americanas, Submarino e Shoptime
O homem de Sputnik se mantém como comédia histórica há 62 anos
Premiado, o filme O homem do Sputnik, do diretor Carlos Manga, lançado em 1959, será debatido nesta quinta-feira (22/7) em mais um evento do ciclo de webinars da Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em pré-celebração ao centenário da Semana de Arte Moderna, marcado para o ano que vem. A transmissão será realizada, a partir das 17 horas, no portal da entidade e redes sociais (Facebook e Youtube).
Assista!
Em novembro de 2015, o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Foi listado por Jeanne Santos, do Cinema em Cena, como “clássico nacional”.
A comédia narra as peripécias de um homem simples que pensa que o satélite russo Sputnik 1 caiu no galinheiro de um sítio. A notícia se espalha e ele é perseguido por espiões de todos os tipos até que a verdade vem à tona.
Na época, o estreante Jô Soares, ainda como “Joe” Soares, fez o papel de um espião americano no Brasil. A inclusão desse espião fez com que o diretor Carlos Manga perdesse uma bolsa de estágio nos EUA. O filme teria sido visto por 15 milhões de espectadores.
O enredo é marcado por um casal de caipiras comerciantes de ovos, Anastácio e Cleci, que são surpreendidos por um estrondo em seu galinheiro. Ele encontra entre suas galinhas um globo metálico. No dia seguinte, ela lê no jornal sobre o acidente com o satélite russo Sputnik e reconhece na fotografia um objeto semelhante ao que caiu em seu quintal.
Anastácio, então, leva o globo à casa de penhores e mostra-o para a funcionária Dorinha. Ela liga para o jornal onde trabalha seu namorado, Nelson, e lhe conta o fato. Alberto, jornalista inescrupuloso, ouve a conversa entre o casal e conta a novidade ao chefe do jornal.
Nelson vai ao encontro de Anastácio e pede a ele que esconda o objeto. Anastácio coloca-o dentro do poço. A notícia de que o Sputnik caiu no Brasil vira primeira página dos jornais.
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Anastácio e Clecy se transformam em celebridades. Hospedam-se no Copacabana Palace, onde recebem propostas de grupos de russos, americanos e franceses que tentam seduzir Anastácio, apresentando-lhe a cantora francesa Bebe.
Os interesses desmedidos dos estrangeiros pelo satélite levam os dois à loucura. Anastácio é raptado pelos franceses e Nelson pelos americanos. Fogem e voltam para a casa de Anastácio. Russos, americanos e franceses os seguem, disputando o valioso troféu, que ninguém sabe onde está.
Anastácio revela o local onde o Sputnik se encontra e todos se alvoroçam. Não encontram nada no poço. Ao passar pelo local, o sacristão diz que pegou o Sputnik e transformou-o em pára-raios para a igreja. Os agentes estrangeiros partem decepcionados e Anastécio Cleci voltam para casa, mas se deparam com o verdadeiro Sputnik que acabara de cair no galinheiro. (Com informações públicas)
Ciclo de Debates sobre Centenário da Semana de Arte Moderna
10º evento online da série | Modernismo, cinema, literatura e arquitetura.
Webinário sobre o filme O homem do Sputnik, direção de Carlos Manga
Dia: 22/7/2021
Transmissão: a partir das 17h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira
Bolsonaro é desastroso no combate à pandemia, diz Eliana Calmon
Ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça (STJ) também avalia que o STF não tem sido capaz de bem cumprir sua missão constitucional
Ineficiente e negacionista no combate à pandemia, o governo Bolsonaro se notabiliza também pelo desmanche dos órgãos de controle do Estado para o combate à corrupção. A afirmação é da jurista e ministra aposentada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), Eliana Calmon, em entrevista exclusiva à revista Política Democrática online de julho, lançada nesta quinta-feira (15/7). Ela também critica o Supremo Tribunal Federal.
A ministra aposentada também disse à revista que “iniciou-se no Brasil um desmanche dos órgãos de controle do Estado”. Ela se referiu à Receita Federal, ao Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), à Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla).
“Outros órgãos estão sendo cooptados para servirem ao governo e não ao Estado, tais como Polícia Federal e Abin”, afirmou ela à revista Política Democrática online. A publicação é produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília. A versão flip pode ser acessada, gratuitamente, no portal da entidade.
Veja a versão flip da 33ª edição da revista Política Democrática online (julho/2021)
Em relação à pandemia, Eliana observou que o governo falhou até no controle e divulgação de dados. “Para que nação tivesse conhecimento dos números reais da pandemia, foi necessário que um grupo independente de jornalistas credenciados tomassem as rédeas das estatísticas, indispensáveis para traçar qualquer estratégia de enfrentamento à Covid 19”, ressaltou ela.
A jurista analisou, ainda, que os reflexos da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga ações e omissões do governo Bolsonaro durante a pandemia. “A CPI que a princípio surgiu como um exagerado propósito de incriminar pessoas do governo, trouxe para o público o que se passava nas entranhas do Ministério da Saúde e o descaso com a aquisição de vacinas, única forma de ser vencida a pandemia”, disse.
Guardião da Constituição, o Supremo Tribunal Federal (STF) também não foi poupado pelas críticas da ministra aposentada. Segundo ela, “o STF não tem sido capaz de bem cumprir sua missão constitucional e por isso está a sofrer um enorme desgaste”.
Ela também classificou como “retrocesso” a possibilidade de retorno ao voto impresso, como tem sido pregado por Bolsonaro, em meio à queda de sua popularidade, para desacreditar os resultados das urnas que, inclusive, em 2018, confirmaram a vitória dele para a Presidência da República.
Confira todos os autores da 33ª edição da revista Política Democrática Online
“Acho um retrocesso falar em voto impresso. O voto eletrônico já foi usado com sucesso em diversas eleições, é um voto moderno e colocou o Brasil à frente de muitas nações desenvolvidas, além de ter acabado com a chicana reinante nas eleições anteriores”, criticou Eliana.
Na revista Política Democrática online de julho, os internautas também podem conferir reportagem especial sobre fome e artigos que abordam políticas nacional e externa, economia, meio ambiente e cinema.
Além do diretor-geral da FAP, Caetano Araújo, o escritor Francisco Almeida e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques compõem o conselho editorial da revista.
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RPD 33 || Henrique Brandão: Nelson Sargento, a mais alta patente do samba
O grande Nelson Sargento, patrimônio inquestionável do samba e figura emblemática de um modo de ser carioca. Admirado, tanto por moradores dos morros quanto do asfalto, faleceu aos 96 anos, no dia 27 de maio.
Sua partida deixou órfãos aqueles que admiravam seu samba e se divertiam com as inúmeras histórias que contava, sempre carregadas de frases originais e imagens que ele mesmo criava. “Ainda não estou dando comida para bicicleta”, costumava dizer para afirmar que estava lúcido, com a cabeça boa, apesar da idade avançada.
Embora associado à Estação Primeira de Mangueira, Escola de Samba da qual foi baluarte e presidente de honra, Nelson, com seu carisma, extrapolava o universo da Verde e Rosa: era reverenciado em qualquer agremiação, seja qual fosse a cor do estandarte. Sempre elegante, ele circulava com desenvoltura em qualquer ambiente que gravitasse em torno do samba: das quadras das escolas às rodas espalhadas pelos diversos bairros do Rio de Janeiro. A geração formada no movimento de renascimento da Lapa, que teve o samba como força motriz, o tinha em alta conta. Reconhecia nele uma figura importante, como não só um dos últimos representantes de uma época heroica, mas também uma pessoa que dialogava e convivia de igual para igual com as novas gerações de sambistas, sem qualquer traço de empáfia.
Nascido Nelson Matos – o apelido Sargento vem da década de 1940, quando serviu no Exército –, passou a infância no Morro do Salgueiro, na Tijuca. Mudou-se para a Mangueira aos 12 anos, quando sua mãe foi viver com o pintor de paredes, Alfredo Lourenço, conhecido como “Português”. Foi morar no Chalé, uma localidade que ficava bem no alto do Morro da Mangueira. Com seu peculiar humor, dizia para quem o queria visitar: “se virar o morro de cabeça para baixo, minha casa é a segunda, à esquerda de quem sobe.”
Já com o apelido incorporado ao nome artístico, Nelson Sargento iniciou a carreira de compositor na Estação Primeira. Tinha como parceiro o padrasto, que também o introduziu no ofício de pintor. Juntos, fizeram os sambas-enredo com os quais a escola conquistou o bicampeonato de 1949/50. Em 1955, compuseram Cântico à natureza, considerado um dos mais bonitos sambas-enredo de todos os tempos (“Oh, primavera adorada! /Inspiradora de amores/Oh, primavera idolatrada! / Sublime estação das flores”).
O início da carreira de sambista, para além da quadra mangueirense, começou nos anos de 1963/65, no Zicartola (acrônimo de Zica e Cartola), restaurante na Rua da Carioca que foi ponto de encontro de bambas, jovens universitários e intelectuais.
Por conta dessa experiência, em 1965, foi convidado por Hermínio Bello de Carvalho e Elton Medeiros para participar do show Rosa de Ouro, ao lado de Paulinho da Viola, do próprio Elton Medeiros, de Anescarzinho e de Jair do Cavaquinho. Em entrevista ao O Globo em 2019, Nelson lembra daquele momento: “O Elton foi em Mangueira e deixou um recado para eu ir ao Teatro Jovem (local do show), para um trabalho. Como eu era pintor de paredes, na época, achei que seria para pintar o teatro. Só quando cheguei lá soube que precisavam de mais um compositor de samba para o grupo do espetáculo (…). Continuei pintando minhas paredes, mas dali em diante fui conhecendo mais gente e comecei a me profissionalizar”.
A convivência com a Velha Guarda da Mangueira foi fundamental para torná-lo um compositor respeitado. De todos, Cartola desempenhou papel decisivo. “Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve”, costumava repetir em seus shows.
Assim como seus pares de geração, Nelson Sargento demorou para construir uma discografia própria. Seu primeiro álbum solo, Sonho de um Sambista, é de 1979, gravado no embalo do sucesso que fez no ano anterior: Agoniza mais não morre, na voz de Beth Carvalho (1946-2019). Virou seu samba mais famoso, hoje um clássico (“Samba, agoniza, mas não morre/alguém sempre te socorre/Antes do suspiro derradeiro”). Nesse mesmo disco lançou Falso Amor Sincero, uma música com o bom humor característico do sambista (“O nosso amor é tão bonito / Ela finge que me ama / E eu finjo que acredito”).
Pelo que simboliza na tradição mangueirense, por sua trajetória e liderança entre os sambistas, Nelson Sargento, não à toa, representou o Zumbi dos Palmares no enredo História para ninar gente grande, que deu o último título do carnaval à Verde e Rosa, em 2019. E tornou-se unanimidade no mundo do samba, como bem traduziram Aldir Blanc e Moacyr Luz no samba Flores em Vida (Pra Nelson Sargento), feito em sua homenagem: “Sargento apenas no apelido/ Guerreiro negro dos Palmares/ Nelson é o Mestre Sala dos Mares/Singrando as águas da Baía”.
Henrique Brandão é jornalista
RPD 33 || Sergio Leo: Brasil, entre o marketing e a contenção de danos
“Contenção de danos” é a expressão usada em conversas reservadas no Itamaraty sobre a política externa, após a substituição do polêmico Ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, notável por sua defesa pública da condição de “pária internacional” para o Brasil, com ataques às Nações Unidas e a aliados históricos do país no Mercosul e na Europa. À parte do discurso conciliatório do novo ministro, Carlos França, há sinais preocupantes sobre os principais desafios da diplomacia brasileira nos próximos meses.
França, diplomata de boa reputação profissional, mas de experiência limitada, assumiu, em abril, com uma defesa do “diálogo multilateral” oposta à catilinária antiglobalista do antecessor. Diplomatas em missão no exterior se dizem mais à vontade para tomar decisões segundo a tradição da diplomacia, e, com a ajuda da derrota eleitoral do ex-aliado Donald Trump, acabou o alinhamento automático com os Estados Unidos nas instituições multilaterais. Em temas essenciais, porém, a mudança é insuficiente para trazer ao país o protagonismo que teve no passado recente.
A atuação do Itamaraty nas negociações das Nações Unidas sobre o aquecimento global, por exemplo, é contida pelo negacionismo climático de Jair Bolsonaro, pela suspeita simpatia da cúpula palaciana com desmatadores e garimpeiros e pela visão ultrapassada de soberania, de seus generais sobre a Amazônia. Pior: há sinais de que se limita a iniciativas de marketing a principal estratégia das autoridades em Brasília nesse campo.
Desde seu discurso de posse, em que repetiu o mantra tradicional sobre a matriz energética limpa do Brasil e a produtividade da agricultura brasileira, que permite maior produção com menos danos à cobertura vegetal nativa, o novo ministro foi incapaz de dar resposta para o que, de fato, tirou do país o papel de protagonista na questão do clima: o desmonte feito na fiscalização ambiental, com demissão de fiscais de carreira e mudanças nas regras, que facilitaram as queimadas e o desmatamento recorde na floresta.
O Itamaraty já garantiu o aluguel de um espaço expositivo em Glasgow, na Escócia, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o clima nessa cidade, no fim do ano. A ideia? Uma mostra de propaganda sobre o que o país tem feito em matéria de meio ambiente.
Neste ano, o Brasil assume a presidência temporária do Mercosul, outro desafio. Mas nas negociações com o segundo maior país do Mercosul, a Argentina, às voltas com uma crise inflacionária e fiscal e pressões políticas, a equipe do Ministro da Economia, Paulo Guedes, quer forçar o corte nas tarifas comuns de importação, sem nenhum gesto diplomático para lidar com pressões dos empresários e políticos na Argentina, um de nossos maiores mercados para bens industrializados.
A volta da esquerda ao poder, na Bolívia e no Peru, e o avanço de movimentos populares, na Colômbia e no Chile, reduzem também o estímulo a concessões por parte dos governantes argentinos, que comemoraram as pesquisas eleitorais no Brasil, animando expectativas de queda do governo Bolsonaro e, até quem sabe, a volta à Presidência de Luís Inácio Lula da Silva.
E há o desafio da cada vez mais agressiva competição por hegemonia entre Estados Unidos e China, uma das prioridades anunciadas no Senado americano pelo diretor da CIA, William Burns, que veio ao Brasil na semana passada. O que era para ser uma viagem discreta, foi alardeada pelo Planalto, que, numa gafe diplomática, divulgou até o endereço da residência privada do embaixador dos EUA, Todd Chapman, como local do encontro. O próprio Bolsonaro, em conversa gravada com apoiadores, vazou que o avanço da esquerda no continente foi um dos temas da conversa. Não chegou, porém, a contar que também foi discutida outra séria preocupação americana, a presença da China no fornecimento de tecnologia 5G para a Internet no Brasil.
A gafe de Bolsonaro é reveladora das prioridades de sua “diplomacia”: prover material para as teses conspiratórias e para os temas contra a esquerda que alimentam sua base política nas redes sociais. Despreocupado com as consequências, para a imagem e interesses do país, de seus atos e pronunciamentos sobre temas diplomáticos, Bolsonaro, com a demissão de Araújo, apenas descartou um auxiliar mais empolgado, que somava às impropriedades diplomáticas do chefe algumas de sua própria lavra. Ao substituto, Carlos França, restou operar nas brechas onde ainda se pode fazer diplomacia; e se preparar para o rescaldo do que sobra da política externa brasileira, após as violências cometidas pelo Presidente da República.
Sergio Leo é jornalista e escritor, atua na imprensa desde 1983. Trabalhou nos principais jornais do país, nas revistas IstoÉ e IstoÉ Dinheiro, foi colunista no Valor Econômico e diretor de Comunicação na Febraban. Também colaborou nas revistas Notícias (Argentina) e na Rádio UBA, de Buenos Aires. Hoje, colabora nos sites El País Brasil e Revista Piauí, entre outras publicações. Em 2008, ganhou o Prêmio Sesc de Literatura com o livro Mentiras do Rio (ed. Record). Em 2014, publicou, pela Nova Fronteira, o livro-reportagem “Ascensão e Queda do Império X” sobre o fracasso empresarial do ex-bilionário Eike Batista.
Filme Ganga Bruta teve pioneirismo, mas foi alvo de críticas
Cleomar Almeida, coordenador de Publicações da FAP
Marcado pela desenvoltura e autenticidade na predileção de seu diretor Humberto Mauro por temas brasileiros, o filme Ganga Bruta permanece como o primeiro longa nacional a usar conscientemente proposições da psicanálise, como símbolos fálicos. À época, o cineasta fez chacotas da crítica e foi chamado de Freud de Cascadura, em alusão ao bairro suburbano carioca.
Assista!
Na quinta-feira (8/6), o filme será analisado no oitavo evento online do ciclo de debates em pré-celebração à Semana de Arte Moderna, que ocorreu de 13 a 17 de fevereiro de 1922 e segue como marco artístico-cultural brasileiro. O webinário será realizado pela Biblioteca Salomão Malina, mantida pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), ambas em Brasília, a partir das 17 horas.
Considerado um dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos em votação da Abraccine em 2016, Ganga Bruta é a história de um jovem que, na noite do casamento, ao saber que foi enganado pela noiva, mata-a, alucinado. Absolvido, vai a uma pequena cidade, para serviços de construção. Lá encontra outra linda mulher, mas Sônia é noiva de Décio.
O jovem apaixona-se por ela, bebe para esquecer e a bebida lhe dá uma covarde força. Agora, o desespero é de Décio, ao saber que perdeu Sônia. E ele procura o outro, para um desforço a fim de que reste apenas um para o amor de Sônia, como observa texto da especialista Alice Gonzaga.
A palavra ganga significa rotineiramente impureza, mas, no jargão dos garimpeiros das Minas Gerais, é a cobertura áspera, bruta e feia que envolve a pepita de ouro ou diamante. A ganga enganaria o observador desatento.
O filme utiliza, entre outras locações, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e a Fábrica de Cimentos Portland, então em construção, e atualmente localizada no município de São Gonçalo-RJ. Na época, a atriz Dea Selva tinha 14 anos quando foi selecionada para viver a protagonista feminina, e os vestidos usados por ela exploram motivos modernistas e art-déco.
Ator protagonista, Durval Bellini era remador do Flamengo e participou das Olimpíadas de Los Angeles em 1932, interrompendo as filmagens. Na condição de Polícia Especial, conforme observa a especialista, foi o carcereiro de Luis Carlos Prestes, após sua prisão em 1935.
Confira os eventos já realizados – Pré-celebração Semana de Arte Moderna
“O afamado diretor de fotografia Edgar Brasil faz uma ponta na cena do bar, e o produtor Adhemar Gonzaga faz uma participação na cena do açude. Em algumas cenas, o ator Durval Bellini, de tão forte que era, carrega o câmera nos ombros”, afirma Alice.
Inicialmente, Humberto Mauro comandou um dos mais importantes ciclos regionais cinematográficos do país, o de Cataguases, assinando cinco filmes: “Valadião, o Cratera”; “Na Primavera da Vida”; “Thesouro Perdido”; “Brasa Dormida” e “Sangue Mineiro”.
Logo depois, iniciou o ciclo carioca, com inúmeras produções, entre elas, as aqui analisadas, “Lábios sem Beijo” e “Ganga Bruta” e, por fim, seguimos com o estudo do último longa-metragem produzido por Humberto Mauro no retorno para casa, em Volta Grande.SERVIÇO
Ciclo de Debates sobre Centenário da Semana de Arte Moderna
8º evento online da série | Modernismo, cinema, literatura e arquitetura.
Webinar| O modernismo no cinema brasileiro: Ganga Bruta, de Humberto Mauro
Dia: 8/7/2021
Transmissão: a partir das 17h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira
Observação: Para solicitar participação diretamente do debate online, envie solicitação para o WhatsApp oficial da Biblioteca Salomão Malina – (61) 98401-5561. (Clique no número para abrir o WhatsApp Web).Leia também:
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Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP
Os grandes movimentos modernos do século 20, como o Tropicalismo, Concretismo e a Vanguarda Paulista, inspirados nas ideias da Semana de Arte Moderna de 1922, tiveram profunda interface com o cinema. A avaliação é do doutor em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) Ciro Inácio Marcondes.
No artigo “A aventura modernista do cinema brasileiro”, que publicou na revista mensal Política Democrática online de junho (32ª edição), ele também observa a importância da Semana de Arte Moderna de 1922, que completará 100 anos em fevereiro do próximo ano. A publicação é produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em Brasília.
Veja a versão flip da 32ª edição da Política Democrática Online: junho de 2021
“Isso suscita diversas questões quanto ao desempenho e dispersão do nosso modernismo (e da nossa cultura moderna em geral) no contexto brasileiro, um século depois”, escreve, no artigo publicado na revista da FAP. Ele também é crítico de cinema e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB).
Em seu artigo, ele levanta uma pergunta que chama de “intrigante”. “Por que o cinema, forma de arte então nascente e signo para o trator de linguagem e expressão da modernidade em diversos países, não foi contemplado pelos artistas do hoje mítico evento paulistano?”, questiona, no texto.
Em seguida, ele lembra que, ainda em 1924, reformulando seu primeiro manifesto, Oswald de Andrade publicaria, no poema “Falação”, o que parece uma síntese das ambições que visionaria o cinema moderno brasileiro, décadas depois: “O Carnaval, O Sertão e a Favela, Pau-Brasil, Bárbaro e nosso”.
“É verdade que nosso cinema, apesar de desprezado pela primeira intelligentsia modernista – ainda que seus recursos de montagem aparecessem na poesia de Oswald, Manuel Bandeira e Menotti Del Picchia – não deixou de absorver influência da própria estética do cinema de vanguarda internacional”, observa.
O autor do artigo cita como exemplos os filmes mudos São Paulo Sinfonia da Metrópole (Rodolfo Lustig e Adalberto Kemeny, 1929) e Limite (Mário Peixoto, 1931), que, segundo ele, dialogaram com o expressionismo, o impressionismo, o construtivismo, o cubismo e o dadaísmo. “Essas vanguardas transitavam com forte confluência entre artes na Europa – e o cinema era peça central delas”, diz.
Confira todos os autores da 32ª edição da revista Política Democrática Online
Para ler a íntegra do artigo “Limite chega aos 90 anos, atual e surpreendente”, basta acessar a versão flip da revista mensal da FAP.
Essa e outras discussões estão presentes no ciclo de debates “O modernismo no cinema brasileiro”, realizado de forma on-line, todas às quintas-feiras, quinzenalmente, até o aniversário da Semana de Arte Moderna, pela FAP, com a participação de Marcondes, do cineasta Vladimir Carvalho e de outros convidados.
Os internautas também podem conferir entrevista exclusiva do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e reportagem especial sobre profissionais em campo de guerra nos hospitais, diante de novas variantes do coronavírus. A publicação mensal da FAP também tem artigos sobre políticas nacional e externa, economia, meio ambiente e cinema.
Além do diretor-geral da FAP, Caetano Araújo, o escritor Francisco Almeida e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques compõem o conselho editorial da revista.
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Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP
Obra de vanguarda plástica e narrativa realizada por Mário Peixoto, aos 22 anos, o filme “Limite” é um produto raro, marco do cinema brasileiro e mundial, na avaliação do jornalista e crítico de cinema Henrique Brandão. “Uma contribuição artística extraordinária”, diz ele, em artigo que publicou na revista Política Democrática online de junho (32ª edição).
Com o título “Limite chega aos 90 anos, atual e surpreendente”, o artigo foi publicado na revista mensal produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em Brasília. Todos os conteúdos podem ser a acessados, gratuitamente, na versão flip, no portal da entidade.
Veja a versão flip da 32ª edição da Política Democrática Online: junho de 2021
“Neste ano será comemorado 90 anos do lançamento do filme Limite, considerado por muitos críticos e pesquisadores o melhor filme brasileiro de todos os tempos”, afirma o jornalista, ressaltando a qualidade da obra cinematográfica.
De acordo com ele, para além das listas, quase sempre reducionistas, Limite é um filme raro no panorama do cinema brasileiro. “Tanto por sua forma ousada, que depois desses anos todos continua a surpreender a quem o assiste, como por sua trajetória, cheia de contratempos”, analisa.
O artigo publicado na revista mensal aponta que as peculiaridades começam pelo autor, Mário Peixoto (1908-1992). Filho de família abastada (era descendente de Joaquim José de Souza Breves, maior produtor de café do Império, grande traficante de escravos e dono de vastas terras no Sul fluminense), ainda jovem foi estudar na Inglaterra.
“Na Europa, provavelmente tomou contato com o cinema e as vanguardas europeias. Limite foi seu primeiro e único filme, realizado aos 22 anos”, afirma Brandão. Ele lembra que a inspiração para a fita, segundo depoimento do próprio Mário, veio ao acaso, em uma banca de jornal enquanto caminhava por Paris.
Na avaliação do crítico de cinema, “o filme começa e termina exatamente com a mesma epifania que teve na banca de jornais da capital francesa”. “Limite não é de fácil degustação. Sua narrativa não é linear, sua história não é muito clara”, afirma.
Os personagens, conforme registra o artigo publicado na Política Democrática online de junho, sequer têm nome. “São intitulados, nos letreiros de abertura, como a mulher número um, o homem número um e a mulher número dois. Os três encontram-se em um barco à deriva. Cada qual conta sua história, em flashback”, conta.
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Para ler a íntegra do artigo “Limite chega aos 90 anos, atual e surpreendente”, basta acessar a versão flip da revista mensal da FAP.
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Além do diretor-geral da FAP, Caetano Araújo, o escritor Francisco Almeida e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques compõem o conselho editorial da revista.
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RPD || Ciro Inácio Marcondes: A aventura modernista do cinema brasileiro
Em fevereiro de 2022, celebraremos redondos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, e isso suscita diversas questões quanto ao desempenho e dispersão do nosso modernismo (e da nossa cultura moderna em geral) no contexto brasileiro, um século depois. Uma pergunta emerge, intrigante: por que o cinema, forma de arte então nascente e signo para o trator de linguagem e expressão da modernidade em diversos países, não foi contemplado pelos artistas do hoje mítico evento paulistano? Afinal, ainda em 1924, reformulando seu primeiro manifesto, Oswald de Andrade publicaria, no poema “Falação”, o que parece uma síntese das ambições que visionaria o cinema moderno brasileiro, décadas depois: “O Carnaval, O Sertão e a Favela, Pau-Brasil, Bárbaro e nosso”.
É verdade que nosso cinema, apesar de desprezado pela primeira intelligentsia modernista – ainda que seus recursos de montagem aparecessem na poesia de Oswald, Manuel Bandeira e Menotti Del Picchia – não deixou de absorver influência da própria estética do cinema de vanguarda internacional, como pode ser visto nos filmes mudos São Paulo Sinfonia da Metrópole (Rodolfo Lustig e Adalberto Kemeny, 1929) e Limite (Mário Peixoto, 1931), que dialogaram com o expressionismo, o impressionismo, o construtivismo, o cubismo e o dadaísmo. Essas vanguardas transitavam com forte confluência entre artes na Europa – e o cinema era peça central delas.
Porém, foi nas gerações seguintes de filmes, considerando o caráter errático de nossa produção, que o cinema brasileiro conseguiu “antropofagizar” (para usar um termo modernista) melhor os desdobramentos que nossa cultura literária e visual moderna demonstraria em sucessivas manifestações. Seguindo o verso de Oswald: o “Carnaval” das chanchadas, a “Favela ” no neorrealismo brasileiro de Nelson Pereira dos Santos e Alex Viany, o “Sertão ” no Cinema Novo, o “Bárbaro e nosso” no Cinema Marginal. Como veremos, a influência dos sucessivos modernistas na literatura, na pintura, na música e na arquitetura iria além de mero conteudismo: no Tropicalismo, no Concretismo, na Vanguarda Paulista – os grandes movimentos modernos do século 20 tiveram profunda interface com o cinema.
Alguns casos, porém, foram notórios e mais diretos. Joaquim Pedro de Andrade, por exemplo, era afilhado de Manuel Bandeira, e fez um curta sobre ele (O Poeta do Castelo, 1959); uma contida, mas expressiva adaptação de Drummond (O Padre e a Moça, 1966); e uma livre biografia de Oswald (O Homem do Pau-Brasil, 1981). Seu Macunaíma (1969), porém, anárquico, iconoclástico, alegórico, tudo ao mesmo tempo, não só trouxe o texto de Mário de Andrade aos anos de chumbo, como cimentou a passagem sem rédeas ao Cinema Marginal.
Outros autores de diferentes fases do modernismo brasileiro também foram adaptados à luz do pensar específico do cinema: Walter Lima Jr. trouxe o lirismo regionalista de José Lins do Rego (Menino de Engenho, 1965); Nelson Pereira dos Santos, a aridez editorial de Graciliano Ramos (Vidas Secas, 1963); Roberto Santos, o estupor diabólico de Guimarães Rosa (A Hora e a Vez da Augusto Matraga, 1971). Já nos anos 80, Suzana Amaral adaptou, em linguagem cinematográfica derivada da nouvelle vague, o simbolismo de protesto de Clarice Lispector (A Hora da Estrela, 1985).
E não foi só no campo das adaptações literárias que o modernismo prosperou no cinema brasileiro. Diálogos mais profundos, no ideário dos manifestos, na música, na pintura e na arquitetura modernas (aí já destacadas do pioneiro “ismo” dos anos 20), ocorreram no âmbito do Cinema Novo. Por exemplo, a alegoria das estruturas profundas do Brasil nos filmes de Glauber Rocha (que chegou a filmar e montar, numa mistura de Eisenstein com Paulinho da Viola, o enterro de um dos célebres pintores da Semana de 22, em Di Cavalcanti, 1977), ou nos conflitos da modernização automotiva em São Paulo S.A. (1965), de Luís Sérgio Person. A alegoria se tornaria vocabulário comum também no final dos anos 60, com filmes como Brasil Ano 2000, de Walter Lima Jr. (1969), que radicaliza a mistura de gêneros, e dos anos 70, com Bye Bye Brasil (Cacá Diegues, 1979), que pensa a nação como performance modernista.
Ainda que de maneira não evidente, o Cinema Marginal, com sua implosão dos ideários alegóricos do Cinema Novo, radicalizou o coloquialismo e as propostas de leitura de nação almejadas pelo modernismo, caminhando aí já para uma estética pós-moderna. Dali saíram Júlio Bressane, Rogério Sganzerla, Helena Ignez, Carlos Reichenbach, Andrea Tonacci, Ozualdo Candeias, entre tantos outros, que, cada um à sua maneira, propuseram se descolar do princípio unitário do modernismo e investir num solipsismo gutural. É daí que comparece, como descendentes, uma parte desafiadora da produção contemporânea, finalmente desalinhada das propostas de 22, em filmes como Tatuagem (Hilton Lacerda, 2013), Batguano (Tavinho Teixeira, 2014), Febre (Maya Da-Rin, 2020) e, é claro, o canibalesco Bacurau (Kléber Mendonça Filho, 2019).
Seria, no entanto, injusto não lembrar do trabalho que Júlio Bressane tem feito década após década no sentido de refletir, via linguagem cinematográfica, os destinos dos projetos modernista e moderno brasileiros, em filmes de constante reinvenção, muitos deles de baixo orçamento e produção semi-independente, sempre espiando nossa tradição, mas mirando um futuro para a linguagem de diversas artes, conforme se pensou em 1922. Não à toa, ele adaptou com radicalidade, em 1996, o primeiro romance de Oswald de Andrade, Memórias Sentimentais de João Miramar, no filme Miramar. Parece testemunho daquilo que o sociólogo Paulo Prado escreveu no prefácio do primeiro livro de poesia de Oswald (Poesia Pau-Brasil), em 1925: “O manifesto que Oswald de Andrade publica encontrará nos que leem (essa ínfima minoria) escárnio, indignação e mais que tudo – incompreensão”. Porém, talvez, não tanto da parte do cinema.
Essa e outras discussões estão presentes no ciclo de debates “O modernismo no cinema brasileiro”, realizado de forma on-line , todas as quintas-feiras, quinzenalmente, até o aniversário da Semana de Arte Moderna, pela Fundação Astrojildo Pereira. Participação deste que escreve, do cineasta Vladimir Carvalho e de outros convidados.
Ciro Inácio Marcondes é doutor em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), crítico de cinema e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB).
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de junho (32ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
Fonte:
RPD || Henrique Brandão: Limite chega aos 90 anos, atual e surpreendente
Neste ano será comemorado 90 anos do lançamento do filme Limite, considerado por muitos críticos e pesquisadores o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Para além das listas, quase sempre reducionistas, Limite é um filme raro no panorama do cinema brasileiro – tanto por sua forma ousada, que depois desses anos todos continua a surpreender a quem o assiste, como por sua trajetória, cheia de contratempos.
As peculiaridades começam pelo autor, Mário Peixoto (1908-1992). Filho de família abastada (era descendente de Joaquim José de Souza Breves, maior produtor de café do Império, grande traficante de escravos e dono de vastas terras no Sul fluminense), ainda jovem foi estudar na Inglaterra. Na Europa, provavelmente tomou contato com o cinema e as vanguardas europeias. Limite foi seu primeiro e único filme, realizado aos 22 anos.
A inspiração para a fita, segundo depoimento do próprio Mário, veio ao acaso, em uma banca de jornal enquanto caminhava por Paris: “vi em um folheto da revista “Vu” (visto) a fotografia de um rosto de mulher abraçado pelos punhos algemados de um homem. Aquilo me perseguiu. Via [na sequência] um mar de fogo e uma mulher agarrada a um pedaço de barco naufragado”. A valer o relato do autor, ele foi fiel à sua fabulação. O filme começa e termina exatamente com a mesma epifania que teve na banca de jornais da capital francesa.
O cinema, na época da realização de Limite, era arte recente. A chegada do trem à Estação Ciotat, dos irmãos Lumière, foi a primeira exibição pública de um filme, em 28 de dezembro de 1895, em Paris, apenas 36 anos antes do filme de Mário Peixoto ser exibido. Em 1931, quando foi lançado, numa sessão no dia 17 de maio, no cinema Capitólio, na Cinelândia, no Rio de Janeiro, o que fazia sucesso com o público eram as comédias, filmes com muita movimentação ou então românticos. Tudo o que Limite não é. Além disso, desde 1929, o cinema sonoro passou a atrair cada vez mais a atenção do público, ávido por novidades.
A obra foi muito mal-recebida pela crítica e pelo público. Mário Peixoto, magoado, recolheu o filme e jurou nunca mais exibi-lo. Manteve a promessa durante anos. Até que, em 1971, Saulo Pereira de Mello (1933 -2020), fã confesso de Limite, o assistiu ainda jovem, levado pelas mãos do seu professor de Física, na Faculdade Nacional de Filosofia, Plínio Sussekind Rocha, resolveu empreender uma batalha pela recuperação dos negativos do filme, já em estado avançado de deterioração.
Ainda bem que o fez. Graças a seu empenho, hoje é possível assisti-lo em quase sua totalidade. Infelizmente, algumas partes se perderam. Nada que atrapalhe o conjunto da obra.
Limite não é de fácil degustação. Sua narrativa não é linear, sua história não é muito clara. Os personagens sequer têm nome: são intitulados, nos letreiros de abertura, como a mulher número um, o homem número um e a mulher número dois. Os três encontram-se em um barco à deriva. Cada qual conta sua história, em flashback.
Mas isso pouco importa. O foco não é a história de cada um. O que chama a atenção é a linguagem poética: o encadeamento de imagens, as rimas visuais. A montagem (a cargo do próprio Mário Peixoto) faz uso de aliterações para sublinhar a angústia dos personagens; os enquadramentos originais de vários planos, com angulações inusitadas, e a ousadia de alguns travellings (movimentos de câmera), reforçam o clima onírico do filme. Tudo isso faz de Limite um produto raro, um marco do cinema brasileiro e mundial.
Um aspecto que vale destacar é o papel central da fotografia de Edgar Brazil. Sem ela, o filme não iria longe. Quem o vê, hoje, ainda fica impressionado pelos planos-sequência e movimentos de câmera difíceis de serem feitos com a tecnologia existente na época. Mário Peixoto parece reconhecer a participação fundamental de Edgar Brazil: o nome do fotógrafo aparece nos créditos com destaque, logo na abertura.
A trajetória conturbada de Limite e de seu autor (Mário Peixoto passou o resto de sua vida recluso em uma ilha, em Angra dos Reis), acrescenta camadas de curiosidade e uma aura de mistério em torno do filme. O fracasso comercial, seu quase desaparecimento, o posterior – e justo – reconhecimento artístico, tudo isso torna a fita um produto incomum na história do cinema nacional. Para além das intempéries de sua carreira, merece ser visto pela sua contribuição artística extraordinária. Não há nada igual a Limite.
Para quem quiser ver – ou rever – o filme, vai aqui o link: https://www.youtube.com/UeEArblJiMs
Henrique Brandão é jornalista e crítico de cinema.
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de junho (32ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
Fonte:
Crítica de cinema aponta filme que completa percurso de sucesso
Cleomar Almeida, Coordenador de Produção da FAP
Testemunho singular de seu tempo, o filme Nomadland, de Chloé Zhao, completa um percurso de sucesso, tendo vencido também quatro prêmios Spirit, os “Oscars” do cinema independente: melhor filme, melhor realização, melhor montagem e melhor fotografia. É o que lembra a crítica de cinema Lilia Lustosa, em artigo publicado na revista Política Democrática Online de maio (31ª edição).
Produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania, a publicação tem todos os seus conteúdos disponibilizados, na íntegra, gratuitamente, no portal da entidade.
Veja a versão flip da 31ª edição da Política Democrática Online: maio de 2021
“Não podemos ignorar que os prêmios se têm tornado cada vez mais políticos, já não mais bastando apresentar novidades tecnológicas ou temas originais. É preciso defender uma causa, ter um propósito, contribuir de alguma maneira com o bem-estar da humanidade”, afirma Lilia.
“Quem não está gostando nada dessas mudanças nas premiações são os fãs do glamour e do cinema de entretenimento. Alegam que os filmes já não mais divertem, uma vez que preferem apontar o dedo, fazendo-nos sentir culpados pelas atrocidades de todo o mundo”, diz a crítica de cinema.
Ela lembra que o historiador Marc Ferro afirmou que os filmes são também um testemunho singular de seu tempo e mostram um lado que nem sempre queremos ver. “São permeados de lapsus que nos escapam a olho nu, mas que jamais se escondem das lentes das câmeras, que, como espelhos, revelam o funcionamento real das nossas sociedades”, salienta.
“Que chegue logo o dia em que os filmes possam voltar a ser felizes e despreocupados! As causas? Ah, essas não podem ser deixadas de lado!”, afirma, para continuar: “Porque cinema é arte, mas arte também é política. Que o diga Nomadland e o belo discurso de Chloé Zhao no Oscar, que, com seus cabelos trançados e a cara lavada, fez-nos enxergar o que de fato é luxo nessa vida”.
Veja todos os autores da 31ª edição da revista Política Democrática Online
A íntegra da crítica de Lilia está disponível, no portal da FAP, para leitura gratuita na versão flip da revista Política Democrática Online, que também tem artigos sobre política, economia, tecnologia e cultura.
O diretor-geral da FAP, sociólogo Caetano Araújo, o escritor Francisco Almeida e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques compõem o conselho editorial da revista. O diretor da publicação é o embaixador aposentado André Amado.
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Caminho para o Brasil é ‘tirar Bolsonaro da presidência’, diz Marina Silva
Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP
Depois de bater o recorde recente da explosão de desmatamento na Amazônia por dois meses seguidos, o Brasil só tem um caminho para se sustentar como nação, de acordo com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede): “Tirar Bolsonaro da frente da presidência”. Segundo ela, o país virou “terra arrasada”.
A ex-ministra ressalta que as possibilidades de retirada de Bolsonaro da presidência estão previstas na Constituição. “É a eleição ou o impeachment”, diz, em entrevista ao portal da Fundação Astrojildo Pereira (FAP). “Ele está inviabilizando o Brasil do ponto de vista de saúde pública, ambiental, econômico e social. Com Bolsonaro, não haverá esperança para o meio ambiente em hipótese alguma”, assevera.
Destruição
Marina Silva vai discutir a política ambiental brasileira e os desafios da sustentabilidade, na segunda-feira (31/5), a partir das 19 horas. Ela e outros ex-ministros do Meio Ambiente têm presença confirmada no primeiro dos dois eventos online do Observatório da Democracia já agendados. Portais e redes sociais da FAP e de outras 10 entidades parceiras farão a transmissão em tempo real (veja a relação de todas ao final desta reportagem).
Em abril, pelo segundo mês seguido, a Amazônia bateu novo recorde recente de desmatamento, de acordo com dados do Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo o levantamento, foi também o pior abril da série histórica atual, que tem início em 2015, com dados mais precisos.
Leia também: Bolsonaro vê Amazônia como espaço para ocupação predatória, diz ex-presidente do Ibama
No mês passado, os alertas de desmatamento do Deter superaram 580 km² de destruição na floresta, um salto de quase 43% na devastação em comparação com o mesmo mês em 2020, que registrou cerca de 406 km² de desmate. Até então, o recorde para o mês era de 2018, com 489 km² desmatados. Março já havia registrado recorde, com mais de 367 km² de desmatamento.
Na quarta-feira (26/5), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tirou sigilo de investigação que envolve o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em suposto esquema de contrabando de produtos florestais.
“Essa é uma agenda, além dos graves problemas, de conivência com contraventores”, critica Marina Silva, ressaltando os trabalhos da Operação Akuanduba, da Polícia Federal, deflagrada no dia 19 de maio.
Na avaliação dela, o cenário brasileiro é um só. “O que existe é um verdadeiro desmonte, uma terra arrasada, de toda a proteção ambiental brasileira, a desconstrução da Política Nacional do Meio Ambiente e do Sistema Nacional do Meio Ambiente”, critica Marina Silva.
Íntegra da entrevista concedida pela ex-ministra ao portal da FAP
Qual a sua avaliação da política ambiental no Brasil hoje?
Na verdade, a minha avaliação é de que não existe uma política ambiental hoje. O que existe é um verdadeiro desmonte, uma terra arrasada, de toda a proteção ambiental brasileira, a desconstrução da Política Nacional de Meio Ambiente e do Sistema Nacional de Meio Ambiente. O governo desmontou a estrutura de proteção ambiental existente no Brasil e agora está tentando bombardear o arcabouço legal no Congresso Nacional, mudando licenciamento, alterando a lei que protege os povos indígenas, como tentaram hoje (26/5) fazer a mudança no Estatuto dos Povos Indígenas para que o governo possa reaver parte das áreas que já foram demarcadas. Nós não temos uma política ambiental. Essa é a verdade.
No início, após o resultado das eleições, houve um grande alvoroço dizendo que o Brasil estava com novo Congresso, uma nova política, uma nova cara, mas esse Congresso, em alguma medida, também tem respaldado essas ações contra o meio ambiente. A senhora concorda com isso?
Infelizmente, no quesito de proteção ambiental, o Congresso tem maioria de parlamentares altamente conservadora e uma parte significativa de pessoas reacionárias, inclusive, que estão espalhadas em diferentes partidos, com raras exceções. São visões que querem desenvolvimento do início do século 20, em prejuízo da proteção das florestas, dos recursos hídricos, das mudanças climáticas, da política de combate aos efeitos do aquecimento global, enfim. Se não fosse a mobilização da sociedade e a resistência da oposição nas pessoas dos parlamentares que fazem essa resistência e a mobilização da sociedade, já teríamos inúmeros retrocessos em vários aspectos da legislação brasileira.
A gente assiste, com frequência, ao governo apresentar dados, e essas entidades que se organizam socialmente rebatem com outras informações, acompanhamentos técnicos. A senhora acredita que a existência desses movimentos também representa resistência ao governo e em defesa do meio ambiente?
Os movimentos da sociedade civil, em grande parte, fazem a resistência e têm conseguido algumas vitórias, ainda que temporárias, porque têm que ficar o tempo todo vigilantes para que não se seja surpreendido com o rolo compressor do governo, que toda hora tenta, através de [emendas] jabutis, colocar leis para desmontar todo o arcabouço legal da proteção ambiental do nosso país. Então, a política ambiental é a política que cortou o orçamento do Ibama, tirou o serviço florestal do Ministério e o colocou no Ministério da Agricultura, que tentava tirar a Funai do Ministério da Justiça e colocar no Ministério da Agricultura, que tentou acabar com o próprio Ministério do Meio Ambiente, do ponto de vista institucional. Não acabou, institucionalmente, mas está acabando, na prática. É o governo que promoveu o aumento do desmatamento em 2019 e 2020 em mais de 40%, algo em torno de 47%. Agora, em abril, tivemos um dos maiores desmatamentos do mês de abril registrados nos últimos anos. Então, é terra arrasada. Essa é uma agenda, além dos graves problemas, de conivência com contraventores. Há as investigações que estão sendo feitas pela Polícia Federal, agora a quebra do sigilo do ministro, o afastamento de dez pessoas da confiança do ministro por estarem fazendo, segundo as investigações, aquilo que eles chamam de corrupção institucional e de corrupção em relação à regulamentação, que é mudar as regras para deixar a lei em conformidade com o crime. Eles chamam de corrupção normativa, quando você muda a lei para conformar a lei à ação dos criminosos, como foi o caso a exportação de madeira para os Estados Unidos, que deu origem à operação que fez a busca e apreensão do ministro Ricardo Salles.
Rádio FAP – Podcast Marina Silva
Com um governo como este que o Brasil tem, qual é o desafio tanto para o meio ambiente quanto para nação? Como se busca e se alcança a sustentabilidade de uma nação como o Brasil a partir de agora?
O principal caminho é ir pelos meios previstos na nossa Constituição, que é a eleição ou impeachment, e tirar Bolsonaro da frente da presidência do Brasil. Ele está inviabilizando o Brasil do ponto de vista de saúde pública, ambiental, econômico e social. Com Bolsonaro, não haverá esperança para o meio ambiente, em hipótese alguma. Então, esse é o grande desafio. As pesquisas mostram que mais de 70% [da população] querem ver as florestas e a biodiversidade protegidas, mas o governo promove exatamente o contrário. Agora, com o governo, que tem a noção do que está em jogo, dos prejuízos que estão sendo causados e o próprio interesse econômico do país, em função da política desastrosa, [o desafio] é recuperar as políticas que já vinham dando certo, como era o caso do plano de prevenção e controle do desmatamento; apoiar cada vez mais a agenda de desenvolvimento sustentável, como o programa de agricultura de baixo carbono, que permite que o Brasil dobre sua produção sem precisar mais destruir florestas; investir na bioeconomia para criar alternativas para o novo ciclo de prosperidade; recuperar as instituições que foram enfraquecidas completamente, como é o caso do Ibama, ICMBio e Inpe; além do fortalecimento do serviço florestal, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, e todas as políticas que precisam ser implementadas de forma transversal.
O desafio da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável não é tarefa de um ministério. É tarefa de todas as instituições públicas do governo federal e todos os ministérios. É uma agenda que, no mundo inteiro, é transversal. E fico muito feliz de saber que, em 2003, quando assumi o Ministério do Meio Ambiente, a primeira coisa que falei era que a política ambiental seria pautada pelo controle e participação social, pela transversalidade da política ambiental, pelo fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente e desenvolvimento sustentável. Essas diretrizes são as que o mundo começa a trabalhar. É só ver Estados Unidos, Canadá, Japão, União Europeia, Reino Unido, todos os países ocidentais que compreenderam o desafio que está posto no mundo da grave crise ambiental circunstanciado com problema da mudança climática.
SERVIÇO
Política Ambiental brasileira e os desafios da sustentabilidade
Data: 31/5/2021
Transmissão: a partir das 19 horas
Onde: portais e redes sociais da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) (Facebook e Youtube) e outras entidades parceiras
Realização: Observatório da Democracia
2º Webinar da Semana do Meio AmbienteCrise climática e a Amazônia brasileira
Data: 7/6//2021
Transmissão: a partir das 19 horas
Onde: portais e redes sociais da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) (Facebook e Youtube) e outras entidades parceiras
Realização: Observatório da Democracia
Entidades participantes:
- Observatório da Democracia
- Fundação Astrojildo Pereira (Cidadania);
- Fundação Lauro Campos/Marielle Franco (PSoL);
- Fundação Leonel Brisola/Alberto Pasqualini (PDT);
- Fundação João Mangabeira (PSB);
- Fundação Maurício Grabois (PCdoB);
- Fundação Ordem Social (PROS);
- Fundação Rede Brasil Sustentável (Rede);
- Fundação Verde Herbert Daniel (PV);
- Instituto Claudio Campos;
- Fundação Ulysses Guimarães (MDB);
- Fundação Teotônio Vilela (PSDB).
Fonte: