Folha de S. Paulo

Bruno Boghossian: Antipetismo atravessa questões econômicas e turbina Bolsonaro

Motor da rejeição ao PT vale mais para alguns eleitores do que preferências sociais

O crescimento de Jair Bolsonaro e a disparada simultânea da rejeição a Fernando Haddad mostram o potencial do antipetismo como fator de definição do voto este ano. A aversão ao partido atravessa os segmentos do eleitorado, superando questões econômicas, sociais, regionais e até democráticas.

O candidato do PSL ganhou espaço em nichos que haviam erguido barreiras a seu avanço, como mulheres (27%), o Nordeste (20%) e os mais pobres (21%). Haddad parou de crescer em todos esses grupos e ainda viu sua rejeição subir 10 pontos no eleitorado feminino, chegando a 36%.

A repulsa ao PT sempre deu as caras nas grandes eleições com participação da sigla, aparecendo em todos os estratos da população com maior ou menor intensidade. O que os números do Datafolha sugerem é que Bolsonaro conseguiu aglutinar esse sentimento de maneira vigorosa na reta final do primeiro turno.

Dos eleitores que dizem não votar em Haddad de jeito nenhum, 63% escolhem Bolsonaro. O restante se pulveriza entre Geraldo Alckmin(8%), Ciro Gomes (7%) e outros. Como a rejeição ao petista disparou, o candidato do PSL ganhou mais fôlego.

A adesão indica que esse motor rigorosamente político e simbólico vale mais para alguns eleitores do que preferências e princípios sociais. Bolsonaro e sua campanha já fizeram ataques públicos às mulheres e indicaram que pretendem reduzir direitos trabalhistas, por exemplo. Mas o antipetismo fala mais alto.

A animosidade em relação ao PT transporta, de carona com Bolsonaro, grupos de interesse como o agronegócio e a bancada evangélica. Os parlamentares ruralistas e a Igreja Universal, com um braço partidário no Congresso (o PRB), declararam apoio ao presidenciável, que aceitou sorridente essas adesões.

Bolsonaro precisa de grupos políticos numerosos para governar e indicou que pretende atender às pautas dessa turma. Embora tente simbolizar renovação, o candidato abraça corporações que participam do poder há décadas (inclusive com o PT).


Mauro Paulino e Alessandro Janoni: Reação conservadora e antipetista alavanca Bolsonaro

Ascensão de Haddad no Datafolha anterior permitiu ao deputado capitalizar o discurso de oposição ao PT

Os dados divulgados pelo Datafolha confirmam a tese, já apontada pelo instituto em análises anteriores, de que o crescimento do PT nas intenções de voto alimenta também seu antagonista, Jair Bolsonaro (PSL).

A expressiva ascensão de Fernando Haddad (PT) na pesquisa de sexta-feira (28), além de nova mídia espontânea no último final de semana, em função das manifestações pró e contra sua candidatura, permitiu ao deputado capitalizar o discurso antipetista e não só intensificar apoio em segmentos onde já encontrava entusiastas como também garimpar eleitores em estratos que mais o rejeitam.

A simpatia por sua candidatura ficou ainda mais forte no Sul, entre os mais ricos e mais escolarizados, mas também se espraiou para estratos de menor renda, para o Nordeste e inclusive no segmento feminino.

Bolsonaro continua rejeitado por metade das mulheres do país, e sua taxa de intenção de voto no estrato continua muito mais baixa do que no segmento masculino, mas, depois do final de semana, o índice das que pretendem elegê-lo subiu seis pontos percentuais.

Ao se combinar variáveis demográficas e econômicas, percebe-se que esse crescimento foi de 10 pontos percentuais entre as mulheres com renda mais alta, porém se mostra significativo também em estrato de maior peso na composição do eleitorado —entre as mulheres com até dois salários mínimos, ele subiu cinco pontos percentuais.

Uma hipótese para o fenômeno é o grau de identificação de subconjuntos femininos com valores das que se mostraram nos últimos dias contra ou a favor do capitão reformado.

Um exemplo é que homens e mulheres de famílias nucleares, isto é, casados e com filhos, tendem a votar muito mais no candidato do PSL. Já entre as mães solteiras, Haddad lidera com folga: o apoio ao petista chega a 29% contra 14% do ex-deputado.

O vetor religioso também ganhou holofotes em função da declaração de apoio do bispo da Igreja Universal, Edir Macedo, a Bolsonaro. Porém, pelo menos por enquanto, não há evidência de migração expressiva de evangélicos para o candidato por conta disso —o capitão reformado já era o mais votado pelo segmento (chega a 40% de intenção de voto agora).

Nos últimos 20 dias, Haddad oscilou positivamente três pontos nesse grupo, que responde por um terço do eleitorado. Mas vale aí a observação: nenhum outro estrato do país é tão evangélico quanto as mulheres com renda de até 5 salários mínimos.

Entre os católicos, que correspondem a 55% dos brasileiros, a diferença do candidato do PSL para o petista, no entanto, é de apenas 4 pontos percentuais.

Com tais registros simbólicos propagados não só pelo noticiário na TV, como pelas propagandas eleitorais e especialmente pelas redes sociais, a reação do eleitorado se dá praticamente em tempo real, potencializada pelo sentimento de desalento e insegurança que caracterizam esta eleição.

A maioria dos brasileiros tem conta em algum desses serviços de comunicação instantânea e considera como um dos mais importantes fatores para a decisão do voto algo que esse tipo de veículo facilita: a conversa com familiares, amigos e colegas.

E para se ter uma ideia da diferença do grau de ativismo dos eleitores de cada candidato nesse tipo de rede, a taxa dos que pretendem votar em Bolsonaro e que compartilham conteúdo político pela mais rápida delas, o WhatsApp, é o dobro da verificada entre os eleitores de Fernando Haddad (40% contra 22%, respectivamente).

Com o movimento, apoiadores do capitão reformado sonham com vitória no primeiro turno. Para que isso aconteça, Bolsonaro tem que alcançar cerca de 45% do total de votos nos próximos dias, considerando-se uma taxa histórica de 10% de brancos e nulos.

Para evitar em escala nacional o que lhe ocorreu na disputa pela reeleição na cidade de São Paulo, Fernando Haddad precisa calibrar os códigos de comunicação de sua campanha com estratos de importante peso no eleitorado e que se mostram mais indecisos ou desiludidos, como as mulheres, os menos escolarizados e de menor renda, em quatro dias, e sem a ajuda de seu padrinho político.

*Paulino é diretor-geral do Datafolha e Janoni, diretor de pesquisa do Instituto


Bruno Boghossian: Algo está errado quando juízes querem ser árbitros da arena eleitoral

Tutelar o eleitor e interferir no debate político não cai bem ao Judiciário

O avanço das ações de combate à corrupção deu protagonismo inédito ao Judiciário na vida do país. O trabalho de magistrados produziu revelações que imprimiram uma marca permanente em partidos e agentes políticos. Algo está fora do lugar, entretanto, quando juízes pretendem assumir também o papel de árbitros da arena eleitoral.

Em agosto, o juiz Sergio Moro achou melhor adiar para novembro o depoimento de Lula em um dos processos que correm contra o petista. “A fim de evitar a exploração eleitoral dos interrogatórios, seja qual for a perspectiva, reputo oportuno redesignar as audiências.”

O magistrado acrescentou uma crítica ao réu nesta segunda-feira (1º) e afirmou que o ex-presidente “tem transformado as datas de seus interrogatórios em eventos partidários”.

O comentário serviu de introdução ao despacho em que o juiz tornou públicos, a seis dias da eleição presidencial, trechos da delação de Antonio Palocci. O ex-ministro acusa Lula de ter conhecimento dos esquemas de corrupção na Petrobras e diz que o PT financiou ilegalmente suas campanhas políticas.

A divulgação do depoimento, com clara influência sobre o processo eleitoral, reforçou no PT o discurso de que o Judiciário age para prejudicar o partido. Moro sabia disso e buscou uma defesa prévia: “A farsa da invocação de perseguição política não tem lugar perante este juízo”.

No Supremo, Luiz Fux também olhou o calendário ao proibir uma entrevista de Lula à Folha. O ministro julgou razoável tutelar o eleitor, “considerando a proximidade do primeiro turno”, e afirmou que declarações do ex-presidente provocariam “confusão”. A única confusão até agora se deu no tribunal, que precisará discutir o caso no plenário.

Os juízes exercem um bom ofício quando tomam decisões para garantir direitos e punir aqueles que desrespeitam a lei, em qualquer dia do ano. Interferir e tentar mediar o debate eleitoral não cai bem a quem exerce essa função —“seja qual for a perspectiva”, como escreveu Moro.


Celso Rocha de Barros: Bolsonaro fará guerra aos pobres

Achei que a ideia do anti-Lula fosse contra o que Lula tinha de ruim, não de bom

Em um tuíte de 2014 —publicado pelo jornal carioca Extra em 4 de outubro de 2016 (e depois apagado sem explicações)—, Carlos Bolsonaro defendeu que o Bolsa Família só seja oferecido a quem aceitar se submeter a laqueaduras (que impediriam as brasileiras pobres de terem filhos) ou vasectomias (que impediriam os brasileiros pobres de terem filhos).

A ideia, portanto, era que as mulheres pobres que quisessem ter filhos morressem de fome com seus filhos no colo.

A principal proposta de Bolsonaro para reduzir a mortalidade infantil, a propósito, é mandar as mulheres escovarem os dentes. Pois é, ele fala essas coisas.

Mas se não tiver jeito e o pobre acabar nascendo e sobrevivendo de algum jeito, a família Bolsonaro também tem duas sugestões para ele: trabalhar ganhando menos e morrer sem ver o filho formado.

A esquerda gosta de lembrar que Bolsonaro —cujo partido, o PSL, é o mais fiel a Temer nas votações no Congresso— votou a favor da reforma trabalhista. Isso não é nada, amigos.

Bolsonaro defende a criação de uma carteira de trabalho verde-amarela, diferente da azul porque não garante nenhum direito ao trabalhador.

Os trabalhadores mais pobres, que têm menos poder de barganha, acabariam sendo obrigados a aceitar a carteira verde-amarela e perderiam seus direitos.

Essa segmentação do mercado de trabalho arrisca aumentar de novo a distância entre os pobres e a classe média, distância que caiu durante o governo Lula.

Não sei, mas acho que quando o pessoal pediu um anti-Lula, acho que a ideia era que ele fosse “anti” o que o Lula tinha de ruim, não o que ele tinha de bom.

Mas o pessoal da carteira azul também não deve se entusiasmar, não. Pois, como vimos na semana passada, o vice de Bolsonaro defende a extinção do 13º salário e das férias.

Se você for pobre, faça a conta: pegue seu salário, deduza o que você vai perder com os cortes do Mourão, subtraia a CPMF que o Guedes vai cobrar e não se esqueça de que uma arma, a única política de segurança proposta por Bolsonaro, custa bem caro.

Bom, mas se os pobres receberem educação, estarão em melhor condição de competir no mercado de trabalho, certo?

A principal proposta de Bolsonaro para a educação é militarizar o ensino, o que o Mourão já disse que não
dá para fazer.

Bolsonaro é contra as cotas, que ajudaram a aumentar o número de pobres nas universidades.

E, na sabatina do Jornal das Dez, na GloboNews, Bolsonaro reclamou da “tara” da garotada em ter um diploma.

Ninguém é mesmo obrigado a fazer faculdade. Mas a questão é que essa escolha deve ser feita com base nas preferências pessoais de cada jovem, não na classe social em que ele nasce.

E Bolsonaro não tem a menor ideia do que fazer para ajudar os filhos dos pobres a entrarem na universidade.

E aqui você poderia dizer: ah, mas no programa de governo dele tem uma proposta de renda mínima (aquela do Suplicy). Bom, vejam como Bolsonaro reagiu quando soube, pela imprensa (que bonito), que isso estava em seu programa de governo: “Meu Deus! Kkkkkkkk! É inacreditável!”

Bolsonaro já voltou atrás em algumas dessas propostas, mas perceba o padrão: para cada ideia antipobre que ele abandona, logo cria duas novas.

E, aparentemente, o plano é mandar esse cara disputar o segundo turno contra o PT.

*Celso Rocha de Barros, servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).


Elio Gaspari: Haddad e sua teoria do parto

Numa manobra imprudente e desnecessária, o comissariado quer chegar ao segundo turno nos seus termos

Num encontro com artistas em São Paulo, Fernando Haddad, disse o seguinte:

"Não tem como se desenvolver do ponto de vista institucional sem passar por alguns partos. (...) As nações que chegaram ao desenvolvimento passaram por momentos tão dramáticos quanto o que nós estamos passando agora".

E acrescentou:

"Se a gente vencer essa etapa, nós vamos olhar para trás e, ao invés de acusar aqueles que querem votar no Bolsonaro e tudo o mais, vamos compreender que é uma parte de um sentimento que se expressou dessa maneira, como uma febre alta, mas que foi importante em determinado momento para a gente pensar que tem uma coisa errada com esse organismo aqui e vamos cuidar dele porque é muito importante para nós".

Trata-se de uma construção na qual a candidatura de Jair Bolsonaro seria uma febre alta, depois da qual nasceria um novo tempo, mas tudo gira em torno de seis palavras: "Se a gente vencer essa etapa". E se não vencer? Teria faltado combinar com Bolsonaro.

O comissariado deve refletir sobre o preço de ir para o segundo turno sem qualquer autocrítica. Afinal, no mesmo encontro, Haddad disse que "não quero repassar os erros de todos os envolvidos, porque são muitos".

Ele não quer, mas o eleitor que tem medo do que chama de "a volta do PT" gostaria que quisesse. Os comissários devem pesar os riscos da teoria do parto. Ela embute a ideia de que o PT irá para o segundo turno nos seus termos, e quem quiser que o siga. Milhões de pessoas votariam em Átila, mas não votam em Bolsonaro.

O que não se sabe é o tamanho do eleitorado que é capaz de votar até em Bolsonaro para evitar o retorno do PT ao Planalto nos termos do comissariado.

Em Minas Gerais e em São Paulo, boa parte do eleitorado tucano migrou para Bolsonaro. Querer levar o centro para o programa do PT e para a retórica de Haddad ameaça sua candidatura e contamina o governo que pode advir de sua vitória.

Em 1984, Tancredo Neves construiu a primeira conciliação da história saída da oposição. Se ele tivesse adotado a estratégia dos comissários de 2018, Paulo Maluf poderia ter sido eleito presidente.

A MARCHA DA INSENSATEZ
Em sua carta aos eleitores, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu que se busque um equilíbrio capaz de deter o que chamou de "marcha da insensatez".

Um segundo turno disputado por Jair Bolsonaro e Fernando Haddad parece inevitável, e os dois candidatos, avaliados a partir de suas posições públicas confirmam o receio de FHC.

Bolsonaro diz que nunca houve ditadura e seu vice pede uma reforma moral que livre o Brasil da preguiça do índio, da malandragem do negro e do 13º salário. Já Haddad nomeou para a tesouraria de sua campanha um companheiro, acusado pela marqueteira Monica Moura de ter negociado um mimo da Odebrecht para sua campanha à prefeitura em 2012. Como eleição é bufê, o freguês poderá ter que escolher entre os pratos da mesa: Bolsonaro ou Haddad.

A carta de FHC permite que se passeie pelas marchas da insensatez. A expressão ganhou popularidade em 1984, quando a historiadora americana Barbara Tuchman publicou o livro "The Age of Folly".

Ela contou quatro episódios da história nos quais a insensatez levou a desastres. Um deles leva a pensar no Brasil de hoje. Seu título é "Os Papas do Renascimento provocam a Secessão protestante - 1479-1530".

Os papas foram seis, alguns deles memoráveis, como Julio 2°, o protetor de Michelangelo, mas todos foram larápios, nepotistas, mais preocupados com o "centrão" dos cardeais do que com o futuro da Igreja.

Distribuíam prebendas, vendiam indulgências e bispados. Não prestaram atenção ao surgimento da imprensa (leia-se internet) e desprezavam as advertências vindas dos cleros da Alemanha e da França.

Um deles deu o barrete cardinalício a dois sobrinhos. Outro nomeou um cardeal de 14 anos. Alexandre 6º, o Borgia, teve sete filhos, elevou a depravação da Santa Sé a níveis nunca vistos e tornou-se o homem mais rico de Roma.

O papado queimou numa fogueira de Florença o dominicano moralista Girolamo Savonarola e não deu ouvidos aos padres que pediam a reforma da Igreja. Naquele mundo de privilégios o fim da corrupção parecia a porta do inferno.

Dezenove anos depois da execução de Savonarola, o monge alemão Martinho Lutero abriu o maior cisma da história da igreja, e hoje o mundo tem 900 milhões de protestantes.


Brian Winter : Oposição a Bolsonaro repete erros dos EUA

Caminho mais efetivo seria combinar ataques a uma agenda clara quanto aos problemas mais urgentes do Brasil

Nos dias finais da campanha eleitoral de 2016 nos EUA, a sociedade polida enfim se uniu contra Donald Trump.

Celebridades e políticos assinaram manifestos que o denunciavam como misógino e racista e argumentaram sobre a importância da democracia como questão de princípio.
As hashtags #NeverTrump e #NastyWomen (Trump Nunca e Mulheres Desagradáveis) tomaram o Facebook e o Twitter. Os eventos finais de campanha de Hillary Clinton incluíram expressões de apoio irrestrito por Beyoncé, Bruce Springsteen e Lady Gaga.

Para alguém que vivia em lugares como Los Angeles, Chicago e Nova York (era o meu caso), parecia não haver maneira de Trump vencer.

Estávamos errados, é claro.

Tudo isso me veio à memória nos últimos dias, em que #EleNão e #EleNunca vieram a dominar a mídia social no Brasil, e celebridades como Gilberto Gil, Mano Brown e o Black Eyed Peas vieram a público para se opor a Jair Bolsonaro.

Os países e candidatos são diferentes, eu sei, mas os argumentos são bizarramente parecidos. E pode-se perceber que um determinado segmento da sociedade brasileira —a centro-esquerda pró-democracia, o tipo de gente que lê (e escreve) colunas em jornais como a Folha— está começando a relaxar, um pouquinho. "Viu só? As pessoas civilizadas estão se unindo. Tudo vai ficar bem."

O que aconteceu nos Estados Unidos, então? Basicamente, Hillary e seus partidários se concentraram tanto na oposição a Trump que se esqueceram de falar sobre as questões que importavam para a maioria dos eleitores: desemprego, imigração e assim por diante.

Jamais esquecerei de uma mulher que estava assistindo a um comício de Trump: questionada por um repórter de TV como ela justificava votar em um homem como ele, ela respondeu: "Trump pode dizer o que quiser, desde que ajude meu marido a arrumar emprego", foi a resposta.

No Brasil, as pesquisas de opinião pública indicam que as questões mais importantes para os eleitores incluem a economia, a corrupção e o crime. A verdade é que Fernando

Haddad e o Partido dos Trabalhadores têm enorme dificuldade para lidar com as três.

O PT causou a pior recessão do Brasil em um século, seu principal líder está na cadeia, e o crime disparou nos 13 anos em que o partido esteve no poder.
Portanto, a tentação de transformar o segundo turno em referendo sobre Bolsonaro —e a democracia— será ainda mais forte para o PT.
As declarações mais incendiárias de Bolsonaro serão repetidas incessantemente na propaganda eleitoral e no Facebook, e intelectuais e celebridades falarão sobre a importância da democracia e os direitos das minorias.

Isso ecoará de modo positivo em alguns círculos, que incluem a elite —Fernando Henrique Cardoso pode apoiar Haddad, por exemplo, da mesma forma que John McCain e George W. Bush romperam com Trump.

Mas, no geral, acredito que essa estratégia se provará ainda menos efetiva do que foi o caso nos Estados Unidos.

Tragicamente, depois de quatro longos anos de escândalo e crise econômica, apenas 8% dos brasileiros dizem que a democracia representativa é uma forma de governo "muito boa", o menor total entre os 38 países pesquisados pelo Pew Research Center. Os argumentos quanto à sua importância certamente serão recebidos com pouca simpatia.

Como aqui, os eleitores em lugar disso se deixarão seduzir pela promessa de soluções simples —ainda que nada realistas— para problemas mais tangíveis.

Suponho que a versão brasileira da mulher entrevistada no comício de Trump diria: "Bolsonaro pode dizer o que quiser, desde que seu governo não roube e eu possa caminhar pela rua em segurança".

Para Haddad e o PT, isso significa que o caminho mais efetivo seria combinar ataques contra Bolsonaro a uma agenda clara quanto aos problemas mais urgentes do Brasil.

Isso inclui uma estratégia nacional mais efetiva de combate ao crime, reconhecimento dos erros passados do partido quanto à corrupção e deixar claro que a política econômica será mais parecida com a do primeiro mandato de Lula do que com a do primeiro mandato de Dilma.

Isso é pedir muito, dada a recente insistência do partido quanto a narrativas de perseguição e nostalgia. Talvez seja impossível. Mas o futuro da democracia brasileira pode depender disso.

*Brian Winter é editor chefe da revista Americas Quarterly


Demétrio Magnoli: O Trump deles e o nosso

Bolsonaro provoca amores fulgurantes e ódios incontidos em núcleos minoritários

Jair Bolsonaro imita Donald Trump. Bolsonaro sonha ser Trump. Não poucos creem que Bolsonaro é, realmente, o “nosso” Trump —e profetizam ou temem uma surpresa eleitoral semelhante à dos EUA. Contudo, ao menos do ponto de vista eleitoral, o nosso Trump ocupa lugar bem diferente do que ocupou o Trump deles.

Num nível bem simples, a distinção crucial é que o Trump original candidatou-se pelo Partido Republicano, cuja influência estende-se a quase metade do eleitorado, enquanto o Trump tropical representa uma sigla marginal. Num nível mais profundo, a diferença é que eles apelam a eleitorados opostos. O magnata emergiu como representante do “homem sem rosto”, dos órfãos da globalização —os “deploráveis”, no desastroso, preconceituoso termo cunhado por Hillary Clinton. No Brasil, os “deploráveis” rejeitam Bolsonaro e votam em Lula (ôoops, em Haddad).

Uma lenda urbana diz que o Trump original venceu graças às suas declarações machistas, homofóbicas e xenófobas. De fato, elas serviram para aquecer o núcleo minoritário de seus seguidores incondicionais. Mas o triunfo eleitoral deu-se apesar delas. O segredo da vitória trumpiana encontra-se na plataforma do nacionalismo econômico, desdobrada nas vertentes do protecionismo comercial (China) e da proteção do emprego americano (imigrantes hispânicos). O discurso antiglobalização (America First) ofereceu uma falsa resposta a dilemas verdadeiros, seduzindo os eleitores de classe média-baixa concentrados em estados decisivos do Meio-Oeste. Os brancos pobres votaram no Trump deles.

O Trump deles prometeu parar o declínio econômico por meio de uma restauração nacionalista. O nosso Trump promete parar o declínio moral por meio de um governo autoritário, ancorado no conservadorismo de costumes, ignorando as angústias materiais dos “deploráveis”, que ficam com o lulismo. Segundo as pesquisas, Lula (ôoops, Haddad) bate Bolsonaro por 57% a 22% entre eleitores na faixa de até um salário mínimo.

A seita ultraliberal brasileira que aderiu ao nosso Trump evidencia abismal ignorância histórica quando tenta mimetizar o “liberalismo” de seu ídolo americano. O Trump original combina ultraliberalismo “para dentro” (desregulamentação, corte radical de impostos) com nacionalismo econômico “para fora” (protecionismo, restrição à imigração). No Brasil, não há como replicar a duplicidade trumpiana, pois a China e os imigrantes, espantalhos do Trump deles, nada significam para a nossa massa de pobres.

Por aqui, os “deploráveis” anseiam pelo amparo estatal direto, nas formas de salário mínimo, aposentadorias e bolsas. O Estado paternalista desenhado pelo lulismo responde a tais expectativas. Já o Estado mínimo esboçado pelas sandices de Paulo Guedes interessa apenas a especuladores agnósticos e crentes fanáticos da religião secular do Deus-mercado.

O Trump original passou a campanha falando essencialmente sobre economia e emprego, enquanto Hillary desfiava o interminável novelo do multiculturalismo. O Trump tropical fala sobre homossexuais, mulheres, moral e cívica, Deus e armas, relegando o discurso econômico a um “embaixador para o mercado”.

De certo modo, o nosso Trump é Hillary, mas com sinal invertido. Precisamente por isso, provoca amores fulgurantes e ódios incontidos em núcleos minoritários de eleitores imersos numa crônica “guerra cultural”, mas apenas um circunstancial engajamento antipetista ou o solene desprezo entre os demais. Sua chance de alcançar o segundo turno deriva, exclusivamente, da extensiva rejeição ao PT e da monumental falência do PSDB.

O nosso Trump é o sonho de consumo de Haddad. No turno final, o avatar de Lula teria o duplo privilégio de falar como representante dos pobres, contra os ricos, e como campeão das liberdades e da democracia, contra o autoritarismo. É vitória certa.

*Demétrio Magnoli, sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP.


Bruno Boghossian: Crítica ao 13º ajuda PT a surfar na divisão entre ricos e pobres

Declaração de vice de Bolsonaro deve cimentar divisão de classes no 2º turno

Com pouco espaço na propaganda eleitoral, a campanha de Jair Bolsonaro começou a exportar matéria-prima para marqueteiros rivais. Uma sucessão de declarações desastradas sobre economia deixa o candidato do PSL vulnerável a ataques dos adversários e pode cimentar a tradicional divisão de classes que favoreceu o PT em disputas recentes.

Ideias defendidas por aliados de Bolsonaro nos últimos dias passam a impressão de que o deputado prepara um pacote de maldades. Mal explicadas, a proposta de criar um tributo nos moldes da CPMF para substituir outros impostos e a pancada de seu vice no 13º salárioassustam a classe média, a população mais pobre e os trabalhadores em geral.

O risco de contaminação é grande e ameaça aprofundar a oposição entre Bolsonaro e seu provável adversário no segundo turno, Fernando Haddad. O PT se beneficiou por anos de um discurso voltado ao eleitorado de baixa renda e dá sinais de que pretende investir novamente nesse segmento para vencer a disputa.

O ataque de Hamilton Mourão ao 13º ajuda os petistas a surfarem na fratura entre ricos e pobres. Os empresários brasileiros podem até aplaudir alguma mudança no pagamento, mas o vice de Bolsonaro aproxima Haddad dos 46% que recebem o valor extra: assalariados, funcionários públicos e aposentados.

A polêmica parece feita sob medida para o PT. O partido, afinal, usa como linha mestra o discurso de que o governo Michel Temer retirou direitos dos trabalhadores.

O assunto provocou a mais intensa reação pública do candidato do PSL a um aliado até agora. Político profissional, Bolsonaro calculou o tamanho do perigo, disse que a crítica ao 13º é “uma ofensa a quem trabalha” e proibiu o vice de participar de eventos públicos até a eleição.

Adversários ignoraram o esforço. “Campanha de Bolsonaro é contra o 13º salário”, disparou a propaganda de Geraldo Alckmin na TV. O tucano se antecipa aos petistas e tenta tirar uma casquinha do caso para derrubar o rival do segundo turno.


Folha de S. Paulo: Lewandowski, do STF, autoriza Folha a entrevistar Lula na prisão

Jornal argumentou que decisão da 12ª Vara Federal em Curitiba que negou a permissão impôs censura à atividade jornalística

Por Reynaldo Turollo Jr.

BRASÍLIA
O ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a colunista Mônica Bergamo, da Folha, a entrevistar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na prisão.

Lula está preso em Curitiba desde 7 de abril após ser condenado em segundo grau na Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O despacho é desta sexta-feira (28) em uma reclamação feita pelo jornal, que argumentou ao STF que uma decisão da 12ª Vara Federal em Curitiba que negou a permissão para a entrevista impôs censura à atividade jornalística e mitigou a liberdade de expressão, em afronta a decisão anterior do Supremo.

“Não há como se chegar a outra conclusão, senão a de que a decisão reclamada [da Justiça em Curitiba], ao censurar a imprensa e negar ao preso o direito de contato com o mundo exterior, sob o fundamento de que 'não há previsão constitucional ou legal que embase direito do preso à concessão de entrevistas ou similares', viola frontalmente o que foi decidido na ADPF 130/DF”, escreveu o ministro.

No julgamento da citada ADPF (arguição de descumprimento de preceito fundamental), o Supremo garantiu “a 'plena' liberdade de imprensa como categoria jurídica proibitiva de qualquer tipo de censura prévia”.

“O STF, em inúmeros precedentes, mesmo antes do julgamento da ADPF 130, já garantiu o direito de pessoas custodiadas pelo Estado, nacionais e estrangeiros, de concederem entrevistas a veículos de imprensa, sendo considerado tal ato como uma das formas do exercício da autodefesa”, afirmou Lewandowski.

“Ressalto, ainda, que não raro, diversos meios de comunicação entrevistam presos por todo o país, sem que isso acarrete problemas maiores ao sistema carcerário [...] Portanto, permitir o acesso de determinada publicação e impedir o de outros veículos de imprensa configura nítida quebra no tratamento isonômico entre eles, de modo a merecer a devida correção de rumos por esta Suprema Corte”, concluiu.

O ministro determinou que a Justiça em Curitiba seja comunicada da decisão e que agende, em acordo com a Folha, a data da entrevista.


Bruno Boghossian: Temer busca carona com próximo presidente para lustrar biografia

Emedebista tenta usar transição para preencher embalagem vazia do ajuste fiscal

Sem gasolina há meses, Michel Temer quer pegar uma carona com o próximo presidente. O passageiro já ousa dar orientações para o sucessor e chega a sentenciar que “dificilmente” o novo governo conseguirá seguir uma rota diferente da atual. “Quem poderá fazê-lo?”, perguntou, na semana passada.

Temer fala como se a escolha do próximo presidente e sua participação na transição pudessem ajudá-lo a recuperar algum poder. Foi sua impopularidade, no entanto, que contaminou as pautas elaboradas durante seu mandato —e não o contrário.

Em viagem a Nova York, Temer decidiu “anunciar” (e não “sugerir”) que faria uma reforma da Previdência logo depois da eleição. “Procurarei o presidente eleito, seja ele quem for, e tenho certeza de que ele atentará para o fato de que a medida é indispensável”, afirmou.

A intenção pode ser nobre, dada a situação precária das contas do país, mas Temer deixa de levar em consideração que o grupo eleito em outubro terá muito mais força do que ele para apresentar uma agenda ao Congresso, mesmo antes de subir a rampa do Planalto.

O governo atual deixa um legado de projetos não aprovados que podem ou não ser aproveitados pelo próximo presidente. Basta lembrar que o PT rechaça a ideia de Temer de mudança nas aposentadorias. O time de Jair Bolsonaro até concorda com o projeto, mas certamente tentará impor sua marca ao texto.

Temer até conseguiu reverter a recessão aberta pela gestão Dilma Rousseff e começou a reequilibrar os cofres públicos. O país, no entanto, está longe de retomar o crescimento e o emprego.

Na prática, o presidente quer diluir as fronteiras de seu mandato para insinuar que criou uma “doutrina” capaz de dar resultados nos próximos anos e lustrar sua biografia.

Depois de sofrer uma pane seca que paralisou a votação de assuntos importantes, Temer tenta deixar como legado a embalagem do ajuste fiscal, esperando que seu sucessor preencha o espaço vazio.


Bruno Boghossian: Movimento do centrão mostra que partidos já ganharam a eleição

Aspecto gelatinoso do bloco permitirá adesão tanto a Haddad quanto a Bolsonaro

Os movimentos da quinzena final de campanha dão uma certeza a esta eleição imprevisível: o centrão já ganhou. No dia 1º de janeiro, parlamentares do bloco estarão no plenário da Câmara para aplaudir o presidente empossado. Por ora, tudo indica que esse cidadão não será Geraldo Alckmin, candidato apoiado pelo grupo. Os sorrisos dos deputados estarão largos mesmo assim.

O desempenho fraco do tucano ao longo de toda a disputa precipitou as deserções e os flertes públicos de muitos políticos de sua chapa com Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Alckmin foi confrontado com articulações constrangedoras, feitas à luz do dia, por alguns de seus aliados com os adversários.

Dirigentes do centrão passaram a discutir internamente o caminho que deverão seguir no segundo turno entre o PT e o PSL. O formato gelatinoso do bloco, sem orientação ideológica clara, permite que as siglas se alinhem a qualquer um dos lados.

Os petistas, embora traídos no impeachment de Dilma Rousseff, sabem que precisarão de musculatura no Congresso. O partido mostrou, em seus 13 anos no poder, que topa seguir a tabela de preços do presidencialismo de coalizão.

Boa parte do centrão, no entanto, quer mesmo apoiar Bolsonaro, o político que promete não formar um governo político. Ressalvada a proposta absurda de sua equipe para impor obediência obrigatória às bancadas, o candidato do PSL também sabe que precisará construir uma maioria no Congresso. Os deputados já começam a treinar o sorriso.

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Alguns eleitores de Bolsonaro acreditam que há uma maquinação internacional contra o candidato. Alegam nas redes sociais que o Itamaraty mentiu no telegrama, revelado pelos repórteres Marina Dias e Rubens Valente, que reproduz um relato de ameaça de morte feito por uma ex-mulher do deputado. O papel está lá, mas esses apoiadores insistem em usar teias de conspiração fajutas como rede de segurança.


Marcos Troyjo: A essência da doutrina Morte pela China

Diagnóstico de assessor de Donald Trump embasa guerra comercial dos EUA contra Pequim

Peter Navarro era um economista fora da “premier league” do debate norte-americano de politicas públicas até a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais em 2016.

Sua maior notoriedade vinha de um duo livro-documentário sobre os efeitos perniciosos da ascensão econômica e política da China.

Dado o elevado grau de interdependência entre EUA e China —e, a bem dizer, entre Europa e China— muitos acreditavam (eu inclusive) que uma guerra comercial de maiores proporções jamais se tornaria realidade.

Menos provável ainda seria a chance de reedição de uma Guerra Fria, ainda que seus embates se dessem menos no campo estratégico-militar e mais no econômico-comercial.

A constatação, no entanto, é a de que os diagnósticos de Navarro se transformaram em pilares da atual cosmovisão de Washington para um mundo em que a China arremete.

É forte a perspectiva, robustecida também pela análise comparada de como países experimentaram a Grande Recessão de 2008, que o menos afetado por turbulências graves que sacodem os mercados financeiros é a China.

Tal visão se ampara na noção de que a China, detentora de caudalosas correntes de comércio nas quais é quase sempre polo superavitário, repousa sobre maciças reservas internacionais.

A China é a principal credora soberana do governo dos EUA, sob a forma dos títulos do Tesouro Americano que tem apetitosamente comprado ao longo dos anos.

Mesmo com toda a crítica vocalizada por Pequim na última década —centrada nos “insustentáveis padrões” de endividamento americano— ou ainda a sugestão (para inglês ver) da necessidade de uma nova moeda internacional de referência, a China, mais do que qualquer nação, está, segundo Navarro e assessores, vertebrada para encarar oscilações na economia global.

A doutrina da “Morte pela China” enxerga também uma cartografia em que se operou uma reorientação do Greenwich geoeconômico. Novas —e cada vez mais intensas— filiações à economia chinesa como bússola bem merecem o nome de sinodependência.

Em 2010, a revista The Economist chegou a criar um índice de sinodependência, cujo objetivo é mensurar a performance das ações de companhias dos EUA que mais mantêm fluxos de negócios com a China. No entanto, o conceito de sinodependência é útil em dimensões mais amplas.

A sinodependência tem também um molde inicial concatenado por Washington. Foi laboratorialmente planejada na Casa Branca de Richard Nixon, tendo o então secretário de Estado Henry Kissinger como engenheiro e mestre de obras.

O objetivo era criar, mediante concessões de acesso ao mercado dos EUA, uma cisão no comunismo como força geopolítica. A meta foi alcançada. As relações entre China e EUA ajudaram a levar economicamente a União Soviética ao ostracismo.

O corolário para a China nestes últimos 40 anos é o resgate de 800 milhões de pobres e miseráveis para a esfera do emprego e consumo e a consolidação de uma classe média de 300 milhões de pessoas.

Os EUA, nessa ótica, também lucraram com a crescente sinodependência. Seu antagonista geopolítico desapareceu. Empresas americanas passaram a utilizar a China para desovar funções empregatícias menos qualificadas e remuneradas.

Assim, ainda que em território chinês, mantiveram na conta de seu Produto Nacional Bruto parte importante da manufatura de baixo valor agregado. Isso, segundo a doutrina “Morte pela China”, deixou a indústria americana preguiçosa e complacente.

Nos anos 1940, George Kennan, ministro-conselheiro da Embaixada dos EUA em Moscou, redigira um “Longo Telegrama” (mais tarde adaptado e publicado na forma de artigo sob pseudônimo “Mr. X” na revista Foreign Affairs com o título “Fontes da Conduta Soviética”). O texto virou a referência para o delineamento de toda politica exterior dos EUA que vigorou de Truman a Bush pai.

Se, de fato, os EUA vierem a engajar-se numa guerra fria com a China, muitas das bases para tais ações externas estarão assentadas na doutrina da “Morte pela China” formulada por Navarro.

*Marcos Troyjo é diplomata, economista e cientista social, é diretor do BRICLab da Universidade Columbia