Folha de S. Paulo
Rubens Valente: Jair desmentiu Bolsonaro
Agenda das 964 audiências e conversas mantidas pelo presidente desmontam a promessa de 'governo para todos'
"Governarei para todos”, disse o presidente na diplomação em 10 de dezembro de 2018, no TSE. “Construirei uma sociedade sem discriminação ou divisão”, repetiu na posse, em 1º de janeiro.
Quem percorrer os 964 compromissos da agenda de Jair Bolsonaro em audiências, almoços e jantares da posse na Presidência até esta sexta-feira (2) embarcará numa viagem lisérgica por cultos evangélicos, jogos de futebol, expoentes da bancada da bala, o cantor Amado Batista e o locutor de rodeios Cuiabano Lima. E empresários, muitos e riquíssimos empresários e seus poderosos grupos de pressão.
Também perceberá para quem Bolsonaro governa. Ele recebeu altos executivos das multinacionais Exxon e Shell, mas nenhum representante dos petroleiros brasileiros contrário à venda dos ativos da Petrobras. Falou várias vezes com ruralistas, mas com nenhum porta-voz legítimo dos sem-terra, quilombolas ou indígenas (fez só uma live com um grupo de índios sem representatividade, levados ao Planalto por ruralistas).
Bolsonaro não manteve audiência com nenhum representante reconhecido da comunidade LGBTQ, mas teve oito encontros com pastores evangélicos. Também participou de um certo Ato de Consagração do Brasil a Jesus Cristo por Meio do Imaculado Coração de Maria.
No Rio, Bolsonaro foi à formatura de paraquedistas do Exército, mas não recebeu em audiência nenhuma organização dos milhares de cariocas das comunidades carentes que sofrem com milícias, narcotraficantes e execuções extrajudiciais. No Planalto, não teve audiência com líderes sem-teto, ambientalistas, cientistas, antropólogos, escritores, professores e cineastas de relevo, embora tenha recebido um grupo identificado como “Youtubers de Direita”.
A agenda comprova que aquele Bolsonaro estadista nunca passou de uma ficção. O verdadeiro Jair, parcial, sectário e divisionista, governa só para um lado do Brasil desde o primeiro dia.
Demétrio Magnoli: O espelho não mente
Bolsonaro, como antes dele o PT, abomina o pluralismo e o suprimiria, se pudesse
Jair Bolsonaro e o PT desnudaram-se, quase simultaneamente, em fiéis autorretratos. No Brasil, o presidente asqueroso festejou uma ditadura do passado, comemorando o assassinato de Estado de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB. Horas antes, em Caracas, na reunião do Foro de São Paulo, representantes do partido de Lula festejaram uma ditadura do presente que já tem, em Fernando Albán e no capitão Rafael Acosta, seus próprios Santa Cruz. Tão diferentes, tão iguais: quando se olham no espelho, cada um vê, refletida, a imagem do outro.
“O presidente da OAB declarou guerra à gestão Bolsonaro, protegendo criminosos contra o governo. Assim como os terroristas comunistas haviam declarado guerra aos governos militares. E não há guerra sem que haja efeitos colaterais.” Na carta raivosa de um bolsonarista, emergem os signos de uma lógica compartilhada: a política como guerra permanente, o impulso do extermínio físico do “inimigo”.
Troque as senhas ocas de um discurso ritual —“terroristas comunistas” por “agentes do imperialismo”, “governos militares” por “poder bolivariano”— e, mágica!, agora quem fala é Mônica Valente, a representante oficial petista no ato de solidariedade a Nicolás Maduro. Quando Bolsonaro ergue um brinde aos torturadores do DOI-Codi, como ignorar o brinde petista aos seviciadores do Sebin? Almas gêmeas: Bolsonaro inveja a tortura que, por um acidente da história, não infligiu; o PT inveja a tortura que, por um acaso da geografia, não aplicou.
A guerra pode ser interpretada como continuação da política (Clausewitz), mas o inverso só é verdadeiro nas ditaduras. Nas democracias, o pluralismo assenta-se na crença de que ninguém —nenhuma corrente política— possui o monopólio da verdade ou da virtude. Daí, as convicções democráticas de que a oposição cumpre papel positivo, apontando alternativas às ações do governo, e de que a crítica veiculada pela imprensa ajuda a limitar o exercício excessivo do poder pelas autoridades. Bolsonaro, como antes dele o PT, abomina o pluralismo —e o suprimiria, se pudesse.
Os populismos nascem no chão da democracia, pelo voto popular, mas desencadeiam insurreições autoritárias que almejam destruí-la. “Nós” contra “eles”: o “inimigo do povo”, na narrativa do PT, converte-se no “inimigo da pátria”, na versão de Bolsonaro. Quem não recordou, ao ouvir Bolsonaro sobre Glenn Greenwald, as palavras de Lula sobre Larry Rohter? De uma pulsão exterminista à outra, giramos em círculos sem sair do lugar.
Pepe Mujica descobriu que o regime de Maduro “é uma ditadura, nada além disso”. O raio esclarecedor tocou-o, finalmente, com a publicação do relatório da ex-presidente chilena Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para direitos humanos, que descreve as prisões arbitrárias, as torturas e os assassinatos extrajudiciais cometidos sistematicamente na Venezuela. Mas, para interditar a hipótese de repúdio diplomático uruguaio à tirania chavista, o líder da facção dos ex-tupamaros na aliança governista acrescentou que ela, a ditadura, “pertence a eles”, os venezuelanos.
À luz da democracia, o adendo tático de Mujica está errado. As ditaduras, inclusive as “estrangeiras” e as “do passado”, pertencem a todos nós. Isso é o que está escrito nas leis nacionais e nos tratados internacionais de direitos humanos. Os corpos mortos, mutilados, de Albán e do capitão Acosta, assim como o cadáver desaparecido de Fernando Santa Cruz e de tantos outros, são parte de nós, da aventura humana no mundo. Hoje, no Brasil, são algo mais: pertencem ao presente e demarcam uma encruzilhada civilizatória.
As celebrações paralelas do terror de Estado —a do PT, em Caracas; a de Bolsonaro, em Brasília— explicitam projetos políticos simétricos. Inimigos-irmãos, eles se merecem. Nós os merecemos?
*Demétrio Magnoli, sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP.
Folha de S. Paulo: 'A democracia corre risco de termos a ditadura pelo voto', diz ex-ministro de FHC
Para José Carlos Dias, Comissão Arns reedita união da sociedade civil em 'luta contra o ódio'
Ricardo Kotscho, da Folha de Paulo
SÃO PAULO - Na mesma sala do 26º andar do Edifício Itália, no centro de São Paulo, onde defendeu 512 presos e perseguidos políticos pela ditadura militar, o advogado criminalista José Carlos Dias mostra disposição para começar tudo de novo.
Aos 80 anos, Dias lidera a Comissão Arns Contra a Violência, criada em março, agora integrada por CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
As três entidades da sociedade civil recentemente renovaram suas direções nacionais e tiveram importante papel na redemocratização durante a campanha das Diretas-Já, em 1984. O movimento será oficialmente lançado em Brasília, no próximo dia 8, na sede da OAB.
Ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, em 1999 e 2000, e ex-presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, nos tempos de dom Paulo Evaristo, o advogado conta o que levou à criação da Comissão Arns.
“Nós nos unimos na luta contra a violência e o ódio”, diz, e faz uma advertência: “A democracia hoje corre risco de termos a ditadura de volta pelo voto”.
Na última entrevista que concedeu à Folha, pouco antes de morrer, o escritor Antonio Callado disse: “Lutei sempre do lado certo. Perdi todas”.
Esse não é o caso de José Carlos Dias, que também lutou sempre do mesmo lado, ganhou muitas batalhas e perdeu outras, mas ainda não desistiu.
O que levou a sociedade civil a se mobilizar novamente, com a criação da Comissão Arns Contra a Violência?
Foi a necessidade de nós reatarmos aquela união que se deu na luta pelas Diretas-Já. Naquela época, nós estávamos todos juntos no mesmo palanque. Depois, nós nos separamos e nos iludimos e hoje estamos vivenciando uma situação terrível. Nós nos unimos de novo na luta contra o ódio e a violência. Nas vésperas do segundo turno, eu disse que só o Bolsonaro era capaz de me fazer votar no PT.
Em que momento você sentiu esse clima de intolerância?
Eu fui junto com outros agentes do direito entregar um manifesto de apoio ao Haddad e, ao sair do hotel para pegar um táxi, passou um carro com duas mulheres que começaram a me insultar, me chamaram de “comunista e filho da puta”. Não posso imaginar agora como podemos continuar divididos quando nós estamos lutando contra um inimigo comum. Até dentro da mesma família tinha pessoas se digladiando.
Na sua família isso aconteceu também?
Também. No fim de dezembro, eu e o Paulo Sérgio Pinheiro começamos a conversar sobre a necessidade de nós nos unirmos outra vez. Marcamos uma reunião na casa dele com outras pessoas, entre elas o Bresser Pereira, a Margarida Genevois, Antonio Mariz de Oliveira, Paulo Vannuchi, André Singer e Belisário dos Santos Junior. Resolvemos criar uma comissão com o nome do nosso padroeiro dom Paulo Evaristo, porque ele foi a síntese de toda a oposição séria deste país desde a criação da Comissão de Justiça e Paz, em 1972.
No ato de criação da Comissão Arns, em março, vocês calcularam mal a presença de público, metade das pessoas teve que ficar em pé do lado de fora. Muita gente estava se reencontrando depois de muito tempo...
É verdade, foi uma beleza. O diretor da Faculdade de Direito da USP abriu para nós o salão nobre, mas acharam que era muito grande e aí se optou pela sala dos estudantes, que tem muita tradição, mas é pequena. Uma comissão foi formada pelos 20 fundadores e outras pessoas de várias entidades foram aderindo com o tempo. O objetivo da Comissão Arns é zelar pela preservação dos direitos humanos e denunciar as graves violações desses direitos no atual governo.
Diante disso, a democracia e o Estado de Direito correm risco nesse momento?
Eu acho que a democracia corre risco de termos de novo a ditadura, agora pelo voto. Porque nós temos como presidente uma pessoa absolutamente desequilibrada. Tenho muito receio de um retrocesso nas conquistas democráticas que tivemos nos últimos 30 e tantos anos. A sociedade civil hoje tem pulmões que a fazem respirar, e a Comissão Arns pretende ser um desses pulmões.
Como jurista, que análise faz das revelações feitas pelo site The Intercept Brasil sobre os diálogos mantidos entre o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato?
É inacreditável imaginar-se que um juiz e um procurador fiquem trocando figurinhas e preparando as jogadas para condenar alguém, para forjar provas. Eu estou absolutamente decepcionado com o Supremo Tribunal Federal. Esse último gesto do Toffoli, envolvendo a pessoa do filho do presidente...
É inimaginável que ele monocraticamente impeça o progresso das investigações e ainda por cima marque para novembro o julgamento pelo plenário. Teria que ser na primeira sessão depois do recesso. Espero que a Procuradoria-Geral da República tome uma posição de contestação a essa decisão do Toffoli.
Até o momento, não se nota nenhuma reação da sociedade civil a todos esses fatos e a Lava Jato continua com forte apoio popular segundo as pesquisas. O que explica esse silêncio?
A sociedade foi induzida em erro, imaginando que a Lava Jato fosse imparcial, fazendo investigações em todos os campos. Hoje, aberta a barriga, o que se vê é a manipulação entre Ministério Público e magistratura. O Moro enganou muita gente. Deu a impressão de que era um juiz independente e, agora, feita essa laparotomia exploratória, o que se vê é que os intestinos estão misturados de tal forma que não existe a preservação da independência. É um grande desaponto.
Que avaliação o sr. faz dos primeiros seis meses do governo Bolsonaro?
Eu tenho um sentimento de medo, indignação e tristeza.
Quais serão os próximos passos da Comissão Arns?
Nós temos o dever agora de debater o problema da violência no plano nacional, com os olhos voltados para as graves violações de direitos humanos em todos os campos —o meio ambiente, a liberdade de expressão, educação, saúde, enfim, é uma variedade de temas que temos de pautar.
Quem vai comandar a Comissão Arns?
Por proposta minha, nós escolhemos o Paulo Sérgio Pinheiro, mas ele está no exterior porque ainda tem a missão da ONU na Síria coordenada por ele, não podia aceitar. Sugeri que fosse outra pessoa, apresentei vários nomes, mas está todo mundo querendo que eu seja. Acho que vai sobrar pra mim. Vou começar tudo de novo...
Como o sr. vê o papel dos militares no governo, com tantos generais em postos de comando no Palácio do Planalto?
Eu acho que nunca teve tantos... Mas eu tenho a impressão de que eles estão muito mais civilizados do que o presidente. O papel deles é conter a fúria do presidente.
Folha de S. Paulo: FHC critica 'incontinência verbal' de Bolsonaro e contesta fala sobre ditadura
Tucano disse que presidente contraria documentos oficiais em caso do pai do chefe da OAB
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou nesta quarta-feira (31) a "incontinência verbal" de Jair Bolsonaro (PSL) e somou-se à onda de repúdio contra o presidente pelas afirmações sobre o pai do presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz.
Em uma rede social, o tucano escreveu que Bolsonaro "despreza os limites do bom senso por sua incontinência verbal".
"Contraria documentos oficiais sobre o pai do presidente da OAB e dá vazão a rompantes autoritários. Prejuízo para ele e para o Brasil: gostemos ou não foi eleito. O que diz repercute e afeta nossa credibilidade", afirmou FHC.
Um dia antes, no mesmo perfil, o ex-presidente fez um apelo por sensatez e razão, "diante da barbárie do presente", sem mencionar pontos específicos.
Desde que Bolsonaro chegou à Presidência, FHC tem feito comentários negativos sobre o atual presidente. Em abril, disse que o governo era pior do que ele esperava e não tinha feito nada até aquela altura. Em janeiro, declarou-se de oposição ao atual ocupante do Planalto.
Mais cedo, nesta quarta, Bolsonaro disse que não quebrou o decoro ao dizer que poderia explicar ao presidente da OAB como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985). A declaração de dois dias atrás provocou uma série de repercussões entre políticos e entidades.
"Não tem quebra de decoro. Quem age desta maneira perde o argumento", afirmou o presidente em Brasília. Capitão reformado do Exército, ele defende a atuação dos militares na ditadura e, para se contrapor a setores da esquerda, tem dito que "não pode valer um lado só da história".
Como mostrou a Folha, documentos oficiais desmontam a versão de Bolsonaro sobre a morte de Fernando Santa Cruz. O presidente disse que o servidor público foi morto por militantes de esquerda, mas a tese contraria toda a série de relatórios produzidos pela própria ditadura sobre Fernando.
O ativista político desapareceu em fevereiro de 1974, após ter sido preso junto de um amigo chamado Eduardo Collier por agentes do DOI-Codi, órgão de repressão do regime militar, no Rio.
A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos emitiu no último dia 24 um atestado de óbito de Santa Cruz, no qual informa que ele morreu em 1974 de forma "violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985".
Colega de partido de FHC, o governador João Doria também se posicionou contra as declarações de Bolsonaro e disse ser "inaceitável que um presidente da República se manifeste da forma que se manifestou em relação ao pai do presidente da OAB".
"Foi uma declaração infeliz", afirmou Doria na segunda-feira (29). O gesto foi interpretado como um sinal de afastamento do tucano em relação a Bolsonaro, mas o governador negou isso no dia seguinte. Ele falou que mantém boas relações com o presidente e não torce "pelo tropeço" dele.
Bruno Boghossian: Governantes estimulam infrações e instalam anarquia ambiental no país
Ao desautorizar punições, Bolsonaro e governador incentivam o descumprimento da lei
Do alto de um palanque, o governador do Acre baixou uma nova lei ambiental no estado. "Não pague nenhuma multa, porque quem está mandando agora sou eu", afirmou Gladson Cameli (PP), batendo orgulhosamente no peito.
O ex-senador sempre condenou as punições aplicadas a produtores rurais por desmatamento, mas parece ter se embriagado com o poder depois que assumiu o novo cargo.
Num evento realizado no fim de maio, Cameli criticou o órgão estadual de fiscalização e repetiu três vezes que as multas ambientais já não valem mais nada. "Não pague, não. Eu que estou mandando", declarou.
Sob o pretexto de evitar abusos e proteger a atividade econômica, alguns governantes decidiram partir para a anarquia. As regras de preservação continuam valendo, mas agora vêm acompanhadas de um estímulo à prática de crimes.
O governador do Acre pode até estar incomodado com punições que considera injustas, mas a Constituição estabelece que os estados têm o dever de fiscalizar qualquer ação que prejudique o meio ambiente.
O desmatamento quadruplicou no Acre nos últimos seis meses, segundo dados do Imazon. O repórter Fabiano Maisonnave perguntou a Cameli quantas multas foram aplicadas por seu governo nesse período. O governador não quis responder.
O presidente Jair Bolsonaro também já emitiu um salvo-conduto do tipo. Em abril, ele gravou um vídeo para avisar às madeireiras que os agentes do Ibama estavam proibidos de queimar caminhões e tratores usados no desmatamento ilegal.
O decreto 6.515, editado em 2008, autoriza a destruição desses equipamentos no local da ocorrência, mas o presidente virou o jogo e anunciou que o governo abriria um processo administrativo contra os fiscais.
Enquanto incentiva o descumprimento da lei, o governo fecha os olhos para as transgressões. Ao jogar dúvidas constantes sobre os dados que apontam um avanço do desmatamento na Amazônia, Bolsonaro deixa os infratores mais tranquilos.
Ruy Castro: O falso mito
Curupira, Boitatá, Saci-Pererê e outros querem processar Bolsonaro
Tinha de acontecer. Ao ver o presidente Jair Bolsonaro ser chamado de "Mito! Mito!" por claques profissionais e inocentes úteis, onde quer que apareça, os verdadeiros mitos brasileiros resolveram se unir e protestar contra o que consideram uma usurpação de seus direitos na lenda nacional. Os mitos são figuras simbólicas, que pertencem ao folclore —lendas construídas pelo povo, com o objetivo de nos ensinar ou explicar alguma coisa, mas sempre benignas.
A Mula-Sem-Cabeça, por exemplo, é uma mulher que foi seduzida por um padre e, por isso, nas noites de quarta-feira, transforma-se num animal que, apesar de sem cabeça, relincha e lança chispas pelas narinas. O Boto é o contrário. Nos fins de tarde na Amazônia, aparece para as moças como um rapaz de branco, engravida-as e, depois, novamente boto, volta para o rio. Os dois têm uma conotação moral, mas Bolsonaro só deve ver neles imoralidade.
O Saci-Pererê é o menino negro, de uma perna só, cachimbo na boca e carapuça vermelha, que dá o exemplo pelo contraste, tipo "não façam o que eu faço". Por isso cria confusão na floresta, assusta o gado, lança pistas falsas, joga uns contra os outros. É o que Bolsonaro está fazendo com o país, só que para valer.
Os mais revoltados são o Curupira e o Boitatá —por serem os protetores das florestas e de seus habitantes. O Curupira é o menino de cabelos ruivos e pés com os calcanhares para frente. Os pés ao contrário são para despistar os caçadores, pecuaristas, mineradores, grileiros e outros que não hesitam em devastar ou matar os que interferem com seus interesses. O Boitatá é a cobra-de-fogo, o fogo purificador, também guardião dos animais e das árvores. Gosta de aparecer à noite, quando os depredadores se julgam a salvo, para lhes infundir pavor.
Para eles, o mito Bolsonaro é não apenas falso, como prega e pratica o contrário do que se espera dos mitos dignos deste nome.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
Bruno Boghossian: Bolsonaro conduz o país aos porões da selvageria
Declarações repulsivas, baseadas na divisão e no ódio, são seu modo de governar
Aquele deputado falastrão que atacava minorias, exaltava torturadorese defendia a matança generalizada já fazia mal ao Brasil. Na cadeira de presidente, ele ameaça conduzir o país inteiro aos porões da degradação e da selvageria.
Jair Bolsonaro faz política há décadas usando a divisão e o ódio como combustíveis. Esse método produziu as declarações repulsivas que lhe renderam fama e, agora, integram sua maneira de governar.
O ataque grotesco ao presidente da OAB mostra que Bolsonaro está disposto a descer muitos degraus. Numa tentativa indecorosa de desqualificar Felipe Santa Cruz, ele passou a desfiar versões sobre o desaparecimento de seu pai na ditadura, sem respaldo em informações objetivas.
Bolsonaro trabalha o tempo todo para demonizar críticos, adversários, instituições que possam restringir seus movimentos ou qualquer um que sirva de contraponto ao governo. Tenta tratá-los como inimigos para despertar aversão a esses personagens entre seus apoiadores.
Esse é o primeiro recurso do presidente em momentos delicados. Serve para acusar ambientalistas de seguirem os interesses de ONGs estrangeiras, para negar apoio a governadores de partidos rivais ou para atribuir falsamente um crime a um jornalista que incomoda sua equipe.
O ódio muitas vezes atropela os deveres do governante. Na onda do "bandido morto", o presidente se recusou a comentar o massacre de 58 pessoas numa penitenciária do Pará. "Pergunta para as vítimas dos que morreram lá o que eles acham", ironizou. Ninguém esperava lágrimas pelos detentos, mas o desdém mostra que Bolsonaro prefere ignorar uma questão grave como a guerra de facções criminosas no país.
Pouco interessa se as palavras do presidente são manifestações genuínas ou se fazem parte de uma estratégia sofisticada. No poder, elas produzem efeitos práticos. Alimentam visões desumanas do mundo, reforçam seus instintos autoritários e revelam uma incapacidade evidente de lidar com os problemas nacionais.
Hélio Schwartsman: Um presidente detestável
Falta a Bolsonaro a decência mínima, que nos faz reconhecer o próximo como semelhante
Já tivemos ditadores como Getúlio Vargas, Médici e Geisel, que ordenaram ou pelo menos toleraram crimes muito mais graves do que Jair Bolsonaro jamais cometerá, mas nenhum deles se revelou um ser humano tão destestável quanto o atual presidente. Falta ao chefe do Executivo aquela decência mínima, que nos faz reconhecer o próximo como um semelhante.
Não ignoro que, na política, é preciso às vezes levantar bandeiras polêmicas e antagonizar adversários. Só que existem modos e modos de fazê-lo. Se o presidente insiste em defender o golpe de 64, não precisaria enaltecer a tortura institucionalizada, que representa a forma mais covarde de violência que o Estado pode infligir contra o indivíduo. Se acha que as políticas identitárias foram longe demais, poderia apenas dizê-lo, sem necessidade de disparar ofensas contra minorias.
De modo análogo, se Bolsonaro deseja criticar um jornalista, o que é pleno direito seu, poderia questionar aspectos técnicos de seu trabalho ou mesmo seus pressupostos filosóficos. Quando opta por atacar sua vida pessoal, dá mostras de que ou não entendeu a dinâmica da liberdade de imprensa ou tem problemas de caráter mesmo.
Se nutre uma desavença com alguém, deveria circunscrever sua animosidade contra o adversário. Ao insultar seus familiares, que já não podem defender-se, exibe uma faceta cruel e desumana. Traduzindo isso para uma linguagem que o presidente talvez seja capaz de alcançar: "a mãe não, pô!".
A principal missão de um governante é produzir bem-estar e distribuí-lo de forma tão equânime quanto possível.
Historicamente, porém, alguns dirigentes se destacaram por atuar como reserva moral da nação, equilibrando sabedoria e compaixão para levantar e arbitrar questões decisivas. Ainda é cedo para dizer se Bolsonaro conseguirá cumprir o primeiro objetivo, mas no segundo ele já fracassou —como líder e como ser humano.
Elio Gaspari: A ‘realidade paralela’ de Bolsonaro
Se Jair Bolsonaro conversasse com os septuagenários veteranos da “tigrada” da ditadura, não teria chamado o general da reserva Luiz Rocha Paiva de “melancia” (verde por fora, vermelho por dentro). Ele foi um dos principais colaboradores na manutenção do site Terrorismo Nunca Mais. Talvez também não tivesse sugerido que Fernando Santa Cruz, desaparecido desde 1974, quando tinha 26 anos, foi executado por militantes de esquerda. Fernando era o pai do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que tinha menos de 2 anos quando ele desapareceu.
O caso de Fernando Santa Cruz exemplifica, como poucos outros, o assassinato de uma pessoa que tinha vida legal, família constituída e domicílio conhecido. Ele morreu no último mês do governo Médici. A política de extermínio das organizações armadas brasileiras que agiam nas cidades já tinha esfriado, pois elas haviam sido esmigalhadas. Em novembro, um comando do DOI de São Paulo matou Sônia Maria Lopes de Moraes, da Ação Libertadora Nacional, e Antônio Carlos Bicalho Lana, que se escondiam no litoral paulista. Em dezembro, o Centro de Informações do Exército sequestrou em Buenos Aires e matou no Rio o ex-major Joaquim Pires Cerveira e João Batista Rita, que haviam militado na Vanguarda Popular Revolucionária. Depois disso, nada. (Do Natal de 1973 ao final de 1974, mataram cerca de 40 militantes do PCdoB nas matas do Araguaia, inclusive os que se renderam. Ou, numa realidade paralela, foram todos resgatados por um disco voador albanês) Nesse período, deu-se a decapitação da liderança do Partido Comunista, que não pegou em armas.
Fernando Santa Cruz havia sido preso no Recife em 1966, quando era menor de idade. Desde 1968 tinha vida legal. Trabalhou no Ministério do Interior e mudou-se para São Paulo, onde trabalhava no Departamento de Águas e Energia Elétrica. Durante o carnaval de 1974, Fernando estava no Rio e marcou um encontro com o amigo Eduardo Collier, militante da APML. Temia ser preso e falou disso com a família.
Um policial de apelido “Marechal” disse que ele estava preso num quartel da guarnição de São Paulo. Daí em diante, nada. A mãe de Fernando, Elzita Santa Cruz, morta há pouco, foi uma leoa e bateu em todas as portas. Os senadores Franco Montoro e Amaral Peixoto perguntaram pelo paradeiro de Fernando da tribuna da Casa. Elzita escreveu ao comandante da guarnição do Rio e ao marechal Juarez Távora. O velho tenente de 1930 enviou a carta ao general Golbery, chefe do Gabinete Civil do presidente Ernesto Geisel, que assumira em março. Meses depois, ela interpelou o próprio Golbery. Na busca por Fernando, teve a ajuda do marechal Cordeiro de Farias, comandante da Artilharia da FEB na Itália. Nada. O ministro da Justiça, Armando Falcão, informava que estava foragido, vivendo “na clandestinidade”. Mentira.
Nenhuma família de militante executado fingiu que ele desapareceu.
Bolsonaro pode ter sua realidade paralela, mas o general Rocha Paiva nunca foi “melancia”, nem Fernando Santa Cruz foi executado pela APML. Por falar nisso, Rubens Paiva não foi resgatado por comparsas. Quem diz isso são oficiais que estavam no quartel da PE do Rio em 1971.
Marcelo Leite: Bolsonaro lidera República da Ignorância
Ministro Guedes quer negociar oxigênio da Amazônia, mas não é o único na Esplanada a pontificar sobre o que desconhece
Há ministros que dizem besteiras sobre ciência e desenvolvimento por oportunismo ou má-fé, como Ricardo Salles (Meio Ambiente). Outros, por conveniência e farisaísmo, como Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia). Outros ainda, por pura ignorância, como Paulo Guedes (Economia).
Começando pelo último, o mais recente. Guedes, seguindo a liderança do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sentado a seu lado, deitou falação sobre a Amazônia num evento da Suframa. Deu um show de desconhecimento sobre a floresta.
Para bajular o capitão, pôs-se a discorrer sobre as riquezas materiais e biológicas da Amazônia, “que nenhum outro país tem”: minérios, gás e, principalmente, biodiversidade. E, claro, oxigênio.
Oxigênio?!
O superministro não prima pela clareza. Sua referência ao elemento químico imprescindível à vida se deu no contexto de um argumento sobre negociações comerciais com os Estados Unidos. O proverbial toma-lá-dá-cá: vocês deixam entrar o etanol, nós deixamos entrar o milho etc.
Aí ele disse que questionaria os negociadores americanos: “Vocês reconheceriam nosso direito de propriedade sobre o oxigênio?” —largou Guedes. “Nós produzimos oxigênio para o mundo.” Sugeriu que Manaus se tornasse a capital mundial de transações com oxigênio e carbono.
Não, ministro, não é nada disso. O senhor caiu no conto do “pulmão verde do mundo”, um equívoco pedestre. O erro indica que a pessoa faltou nas aulas ginasianas de botânica.
Árvores produzem oxigênio durante o dia. Empregam energia solar para fazer fotossíntese, ou seja, utilizam gás carbônico (CO2) do ar para sintetizar carboidratos, num processo que tem oxigênio (O2) como subproduto.
Durante o dia, note bem. À noite, as plantas respiram como nós: consomem oxigênio e expelem gás carbônico. Num sistema em equilíbrio, não há superávit de O2 para vender. Pulmão verde uma ova.
Ocorre que a floresta amazônica não se encontra em equilíbrio. Ela já perdeu uns 800 mil km2, 20% da área original, mais da metade disso só nas últimas três décadas.
Multiplicado esse número pelas 30 ou 40 mil toneladas de biomassa em cada quilômetro quadrado de mata, tem-se uma ideia de quanto CO2 o desmatamento lançou na atmosfera com a queima e a decomposição de toda essa matéria vegetal. O CO2 é um gás do efeito estufa, que agrava o aquecimento global e nos projetou na crise climática que o planeta enfrenta.
Não se trata, portanto, de produzir oxigênio para o mundo, mas de parar de poluir a atmosfera e de azucrinar o clima da Terra. Com todo o respeito, ministro Guedes, o senhor está mal informado.
Marcos Pontes, por seu turno, não teve pudor de lançar hidrogênio na fogueira da reputação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) iniciada por Bolsonaro. Depois das ofensas do presidente contra o instituto, em lugar de defendê-lo, disse que vai convocar o diretor do Inpe para dar explicações sobre possíveis falhas na metodologia do monitoramento florestal.
Para um ex-astronauta, cujo feito não foi mais que uma viagem de turismo espacial, mais ainda um beneficiário do complexo espacial erguido sob as asas da Aeronáutica em São José dos Campos (CTA, ITA, Inpe, Embraer), é um acinte. Vale tudo para se manter no cargo.
De Ricardo Salles, Damares Alves, Abraham Weintraub e Osmar Terra é melhor nem falar. Com Pontes e Guedes, formam o primeiro escalão zureta da República da Ignorância que Bolsonaro instaurou e lidera em Brasília, secundado por Huguinho, Zezinho e Luizinho.
*Marcelo Leite é jornalista especializado em ciência e ambiente, autor de “Ciência - Use com Cuidado”.
Folha de S.Paulo: Comissão de mortos e desaparecidos vai pedir explicações a Bolsonaro
Presidente disse ter informações sobre circunstâncias do desaparecimento de pai do presidente da OAB
Rubens Valente, da Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A Cemdp (Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos) vai pedir explicações ao presidente Jair Bolsonaro sobre ele ter dito que tem informações a respeito do desaparecimento do servidor público Fernando Santa Cruz, ocorrido no Rio em 1974, aos 26 anos de idade, e pai do atual presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz.
Segundo depoimentos do ex-analista do DOI-CODI, uma unidade da repressão militar, Marival Chaves, Fernando Santa Cruz foi assassinado, junto com outros ex-integrantes da organização de esquerda AP (Ação Popular), numa operação executada por conhecidos militares da repressão, como o então coronel do Exército Paulo Malhães (1937-2014), que assumiu ter conhecimento de diversos atos de tortura e assassinato de opositores políticos.
Nesta segunda-feira (29), Bolsonaro disse que tem informações sobre o que aconteceu com Santa Cruz, mas não explicou o quê.
"É muito grave essa declaração. Ele [Bolsonaro] está transformando um dever oficial, que é dar informações aos familiares, que ele já deveria ter cumprido, em uso político contra um crítico do seu governo", disse a presidente da Cemdp, a procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga.
"É lamentável a declaração sob qualquer aspecto. Ele dizer que sabe e usar isso, é uma forma de reiterar a tortura dos familiares. E o mais grave, ele usa um golpe tão baixo contra uma pessoa que ele ataca politicamente", disse Eugênia.
A Cemdp vai reiterar os termos de um ofício encaminhado à Presidência da República no começo do governo Bolsonaro no qual as famílias assinalaram a necessidade de adoção urgente de ações, pelo chefe do Executivo, a fim de localizar mortos e desaparecidos e prestar informações aos familiares.
A carta foi resultado de um encontro nacional de familiares de mortos e desaparecidos. A Cemdp foi criada em 1995, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, e hoje é vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Os familiares de Santa Cruz são historicamente dos mais engajados na longa batalha para obter informações sobre desaparecidos e mortos na ditadura militar (1964-1985). A mãe de Fernando, Elzita Santos Santa Cruz Oliveira, morreu em junho aos 104 anos de idade e ao longo dos últimos 45 anos não deixou de procurar informações sobre o destino dado ao corpo de seu filho, segundo Eugênia.
"Dona Elzita é um dos símbolos dessa luta. O presidente mexe com aquilo que é mais caro aos familiares, saber o destino dos seus entes queridos", disse a procuradora.
Parentes de Santa Cruz, como seu irmão Marcelo, regularmente participam de encontros e discussões entre os familiares de mortos e desaparecidos.
De acordo com as investigações feitas ao longo dos anos por órgãos público e pelos familiares, o recifense e ex-aluno de direito Fernando Santa Cruz não integrava quadros de luta armada quando desapareceu, no dia 23 de fevereiro de 1974, no caminho para Copacabana, no Rio, junto com o amigo Eduardo Collier Filho, ex-aluno de direito na Universidade Federal da Bahia.
Ambos integravam um pequeno grupo de esquerda chamado APML (Ação Popular Marxista-Leninista), que era uma dissidência da AP. Na época do desaparecimento, Santa Cruz era servidor público do Departamento de Águas e Energia Elétrica, em São Paulo.
Como era Carnaval, ele foi ao Rio se encontrar com familiares. Ele tinha sido preso em 1966 por integrar o movimento estudantil no Recife. Sua irmã, Rosalina, também foi presa e barbaramente torturada na ditadura.
Leandro Colon: Moro do Twitter desmente Moro do Senado
Ao contrário do que disse a senadores, ministro teve acesso a investigação sobre hackers
Os registros de áudio e das notas taquigráficas do Senado —um arquivo oficial, autêntico e não editado— guardam as palavras do ministro Sergio Moro (Justiça) aos senadores no depoimento de 8 horas e 30 minutos em 19 de junho.
Disse o ministro às 9h36 sobre o caso dos hackers: “A investigação está sendo realizada com autonomia pela Polícia Federal. Eu já disse mais de uma vez no passado: o meu papel, como ministro da Justiça, é um papel estrutural, apenas para garantir também a autonomia dos órgãos vinculados ao Ministério da Justiça. Então, eu não acompanho, pari passu, cada um desses acontecimentos.”
Ele voltou ao assunto às 11h32. “Relativamente à investigação, são duas questões: a investigação é sigilosa. Então, não se pode informar fatos relativos a essa investigação, sob risco de ineficácia; e, dois, eu, como ministro da Justiça, não tenho o papel de, vamos dizer assim, atuar nessas investigações diretamente. Meu papel é mais estrutural”, afirmou.
Às 16h48, Moro declarou aos senadores: “Eu, de todo modo, estou afastado, vamos dizer assim, da condução concreta desse inquérito. Essa é uma atribuição da Polícia Federal.”
Na terça-feira (23), depois de ser preso, Walter Delgatti Neto prestou depoimento à PF em que confessou ser o autor dos ataques aos celulares das autoridades e a fonte que repassou os dados ao The Intercept Brasil.
Às 14h09 do dia 24, Moro postou em sua conta no Twitter: “Parabenizo a Polícia Federal pela investigação do grupo de hackers, assim como o MPF e a Justiça Federal. Pessoas com antecedentes criminais, envolvidas em várias espécies de crimes. Elas, a fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime.”
Na quinta (25), às 14h04, ele escreveu: “Pelo apurado, ninguém foi hackeado por falta de cautela”. O ministro telefonou para informar autoridades que foram atacadas e anunciar a destruição das mensagens.
Ele não se afastou da investigação e ainda repassou fatos dela. O Moro do Twitter desmentiu o do Senado.