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Filmes destacam o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

Colegas e Bicho de Sete Cabeças serão exibidos ao público com entrada gratuita. Ao final das sessões, haverá conversa com especialistas

Por Cleomar Rosa

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) divulgou, nesta quinta-feira (13), a programação dos filmes que serão exibidos ao longo de setembro no Cineclube Vladimir Carvalho, no Conic, próximo à Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília (DF). Em alusão ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado no dia 21 deste mês, o filme Colegas será exibido na próxima terça-feira (18) e o Bicho de Sete Cabeças, no dia 25. As sessões começarão às 18h30. A entrada é gratuita.

As exibições dão continuidade à programação do cineclube, reaberto ao público no dia 4 de setembro, após uma ampla reforma no local. A proposta é mostrar obras cinematográficas que têm relação com o respectivo mês de exibição delas no local. Ao final das sessões, haverá rodas de conversa entre o público e especialistas.

Dirigido por Marcelo Galvão e lançado em 2012, Colegas (aventura/comédia dramática) tem duração de 1h34 e conta a história de três jovens que viviam juntos em um instituto para portadores da Síndrome de Down. Um dia, eles decidem fugir para se aventurar e realizar o sonho de cada um, envolvendo-se em muitas aventuras e confusões. A classificação do filme é para pessoas a partir de 10 anos.

Já o Bicho de Sete Cabeças, dirigido por Laís Bodanzky, conta o drama vivido por pai e filho. Lançado em 2000, e com classificação para pessoas a partir de 14 anos, o filme mostra que a situação entre os dois chega ao seu limite, até que o pai decide internar o filho em um manicômio, onde o rapaz enfrenta condições terríveis de tratamento. O longa-metragem tem duração de 1h30.

Responsável pelo cineclube, Alexandre Marcelo Bezerra de Menezes Queiros diz que a proposta é exibir filmes brasileiros e estrangeiros no local todas as terças-feiras. Segundo ele, com isso, o cineclube volta a ser um importante ponto de difusão cultural e de produção do conhecimento, a partir dos diálogos que ocorrem ao final dos filmes.

Com capacidade para 65 lugares, o Cineclube Vladimir Carvalho fica em uma parte do Espaço Arildo Dória, onde também está a Biblioteca Salomão Malina, todos mantidos pela Fundação Astrojildo Pereira. Tudo para garantir conforto e praticidade às pessoas. Todos os filmes serão exibidos em uma tela de projeção retrátil de 150 polegadas, com imagem de ótima qualidade.

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Brasília volta a ter cineclube de graça com nova programação


Cinema e literatura

O cineclube leva ao público de Brasília uma nova opção de fortalecimento da cultura, na opinião de Alexandre Queiros. A direção da FAP entendeu que a retomada das programações é mais uma forma de atender às demandas dos usuários da Biblioteca Salomão Malina, assim como às do público em geral, produzindo e difundindo conhecimento por meio do cinema e de obras literárias.

A biblioteca recebe, em média, 30 pessoas por dia. No local, o público tem à disposição espaços específicos para leitura e estudo, assim como mesa coletiva e ambientes individuais. Além das obras literárias, a biblioteca também disponibiliza jornais do dia (O Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e o Correio Braziliense) e revistas da semana, como a Veja e a Piauí, além de rede wi-fi grátis. Para fazer empréstimo dos livros, os interessados precisam apenas fazer um cadastro pessoalmente com apresentação de documento oficial com foto e comprovante de residência.

 

 

 


Pessoas com deficiência encontram oportunidade de trabalho na FAP

Mantida pelo Partido Popular Socialista, a FAP é a primeira fundação privada a fechar parceria com a Apae-DF para o programa de inclusão social

Por Cleomar Rosa

Às 6h25, a higienizadora de livros Rafaela de Faria Pugas, de 24 anos, levanta e se arruma para pegar o ônibus, uma hora depois, perto da casa na qual vive com os pais, em Planaltina, no Entorno do Distrito Federal (DF). No percurso de 60 quilômetros até Brasília, onde trabalha, ela segue pensando num futuro com possibilidades de mais perspectivas e menos exclusão. Sonha cursar gastronomia ou letras.

Rafaela faz tratamento para autismo e, desde o dia 20 de agosto, trabalha no acervo de livros da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), instituição mantida pelo Partido Popular Socialista (PPS). É a primeira fundação privada a realizar parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Distrito Federal (Apae-DF) para o programa de inclusão social que coloca em prática o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

“Estou gostando muito do trabalho, do local e das pessoas. Eu me sinto preparada para trabalhar”, diz Rafaela, que concluiu o ensino médio. “Estava com dificuldade de encontrar emprego”, conta ela. A parceria com a FAP também celebra os 10 anos do início de contratações por meio do programa de inclusão da Apae-DF junto a instituições em Brasília.

Na fundação, Rafaela encontra o seu colega de trabalho, Domilson da Silva Xavier, de 20 anos, outro beneficiado pela parceria. Ele mora em Itapoã, no Entorno do DF, e tem deficiência intelectual. Juntos, durante a jornada de trabalho de 20 horas semanais, eles também têm direito a intervalo e fazem ginástica laboral.

Durante a manhã, de segunda a sexta-feira, os dois são responsáveis pela higienização de cada folha dos livros da FAP, que regula o vínculo com eles por meio de um contrato de trabalho. Depois da limpeza, as obras ficam disponíveis ao público para consulta e empréstimo na Biblioteca Salomão Malina, localizada no Conic, perto da Rodoviária do Plano Piloto. A biblioteca tem 6,5 mil livros.

Competência
Segundo o gerente administrativo da FAP, Gustavo Loiola da Silva, Rafaela e Domilson recebem da fundação todo o suporte necessário para o desempenho da função. Além da competência e das habilidades profissionais, a instituição valorizou, como critério de seleção, a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

A demanda da FAP começou a ser planejada em agosto de 2017, quando a coordenadora da Biblioteca Salomão Malina, Thalyta Jubé, passou a analisar o acervo de livros. Com isso, foram identificadas a necessidade de higienização e a de reparação em 500 obras.

A bibliotecária Joana Darc Pereira de Jesus atua como instrutora dos higienizadores de livro e atesta a importância do programa para a socialização deles. “Eles trabalham em um lugar normal, assim como todos os funcionários da fundação, e sem qualquer tipo de discriminação no ambiente. Com isso, abre-se a possibilidade para desenvolverem ainda mais as habilidades que têm”, ressalta.

Antes de serem encaminhados para esse trabalho, Rafaela, Domilson e Joana Darc passaram por treinamento no Programa de Conservação de Bens Culturais  da Apae. A proposta é promover a qualificação profissional de pessoas com deficiência intelectual diretamente na área de higienização, conservação e pequenos reparos de livros e documentos impressos.

Responsável técnica do programa pela Apae, Mônica Kanegae explica que a higienização é fundamental para manter as obras em bom estado de conservação. Ela diz que os livros, normalmente, acumulam sujeira e poeira por ficarem expostos em prateleiras.

A limpeza das obras pode ser feita com borracha, trincha ou lixa. “Dependendo da acidez do livro, é muito delicado. Tem que tomar cuidado para não quebrar”, explica. Ela ressaltou que, a partir dos anos 1960 e 1970, houve uma melhora na qualidade do papel com a retirada adequada da lignina extraída da madeira para a produção dele.

Símbolos de comemoração
Rafaela e Domilson simbolizam a comemoração dos 10 anos de início de contratação de pessoas com deficiência por meio de parcerias realizadas pela Apae-DF. Desde 2008, 62 pessoas com deficiência começaram a trabalhar em órgão públicos, em Brasília, apoiados por 11 instrutores, que são formados por meio de um convênio firmado entre a associação e a Fundação Universidade de Brasília. O convênio começou a vigorar em 2006.

Além da FAP, nove órgãos públicos valorizam o trabalho dessas pessoas na capital do país. O primeiro deles foi a Câmara dos Deputados. Depois, o programa também foi adotado pelo Senado Federal, Supremo Tribunal Federal (STF), Ministério das Relações Exteriores e Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Em seguida, o programa se expandiu por meio de parcerias com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Superior Tribunal de Justiça (STJ), Ministério da Justiça e a Advocacia-Geral da União (AGU).

Rafaela e Domilson torcem para que o programa se estenda ainda mais para outras instituições públicas e privadas. Eles concordam que o Estatuto da Pessoa com Deficiência deve ser respeitado e colocado em prática, em vez de ficar apenas no papel. “Estou muito feliz e espero crescer muito ainda com o trabalho”, afirmou o jovem.


Biblioteca Salomão Malina renova acervo e conta com 6,5 mil livros para empréstimo

Obras são provenientes de compras, permutas e doações. Local integra a Fundação Astrojildo Pereira (FAP), no Conic, em Brasília

Por Cleomar Rosa

Estudantes, pesquisadores e demais segmentos da população de Brasília têm à disposição 1.674 novos livros do ramo de ciências sociais na Biblioteca Salomão Malina, no Conic, um importante ponto de cultura urbana próximo à Rodoviária do Planto Piloto. Com as novas aquisições, a biblioteca pública, que integra a Fundação Astrojildo Pereira (FAP), passa a oferecer à população um acervo de 6,5 mil obras para empréstimo. A FAP é a fundação mantida pelo Partido Popular Socialista (PPS).

Entre os novos livros adquiridos - e que estão à disposição de todos os frequentadores da biblioteca - estão obras como As consequências da modernidade, de Anthony Giddnes; Modernidade líquida, de Zygmunt Bauman; A Revolução Global: História Do Comunismo Internacional 1917-1991, de Silvio Pons; Pensadores da Nova Esquerda, de Roger Scruton; História Da Riqueza No Brasil, de Jorge Caldeira; A Quarta Revolução de John Micklethwait; Uma Breve História da Humanidade - Sapiens, de Yuval Noah Harari; Pós-Guerra - História da Europa desde 1945 e Pensando o século XX, de Tony Judt; a série sobre a Ditadura, de Elio Gaspari (quatro volumes) e Redes de Indignação e Esperança, de Manuel Castells, entre outras.

Os empréstimos são feitos após um simples cadastro dos usuários no local e sem qualquer custo. Além de livros, a biblioteca oferece ao público jornais diários e revistas semanais, como a Veja e a Piauí e jornais como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Valor Econômico, O Globo, Correio Braziliense, por exemplo, para leitura no local e rede wi-fi grátis, em um ambiente climatizado. O acervo predominante é do ramo de ciências sociais, com obras de história, sociologia, filosofia, economia e política.

Do total do novo acervo, a fundação comprou 140 novos livros, no valor de R$ 6.382,19, de acordo com a coordenadora da biblioteca, Thalyta Jubé. Segundo ela, 34 obras foram adquiridas por meio de permuta, enquanto outras 1,5 mil foram doadas por usuários do local, integrantes da diretoria ou conselheiros da FAP e simpatizantes do Partido Popular Socialista (PPS).

As doações começaram em setembro de 2017 e a mais recente foi cadastrada neste mês de agosto. Interessados ainda podem fazer novas doações. Antes de disponibilizá-las ao público, a biblioteca realiza uma seleção conforme o perfil do acervo. As obras que têm perfis diferentes são doadas, posteriormente, pela biblioteca, com o intuito de favorecer a cultura.

Para consultar o acervo da biblioteca, clique aqui e aqui.

Eixos temáticos
Conselheiro da FAP, Caetano Ernesto Pereira de Araújo explica que o acervo da biblioteca se baseia em três linhas temáticas, prioritariamente. A primeira, segundo ele, é sobre a história do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do Partido Popular Socialista (PPS).

A segunda linha temática envolve obras de grandes escritores brasileiros que foram filiados ao PCB. Ele citou, por exemplo, Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado. “Há diversos outros. A influência do PCB nas artes e no meio intelectual foi muito forte”, afirmou o conselheiro.

O terceiro eixo temático é mais teórico. “Tem as obras da teoria marxista e do leninismo, que inspirou a formação de partidos comunistas no mundo”, disse o representante da FAP. Ele ressaltou, ainda, que a biblioteca conta com obras que surgiram a partir das formulações marxistas e obras de teóricos que pensam uma esquerda pós-comunista.

Sistema informatizado
A Biblioteca Salomão Malina está em processo de nova catalogação de todas as obras em um sistema informatizado, que também serve para o cadastro de usuários e empréstimo de livros. “As novas aquisições possibilitam aos usuários mais opções de pesquisa a conteúdos mais atuais e relevantes para a formação de opinião e formação crítica”, diz Thalyta Jubé.

Para utilizar o serviço de empréstimo de livros, o usuário deve se cadastrar pessoalmente no balcão de atendimento e apresentar documento oficial com foto e comprovante de residência. Cada pessoa tem direito à retirada de até dois livros por vez. A devolução da obra fora do prazo (dez dias consecutivos) implica em pagamento de multa de dois reais, por dia de atraso e para cada obra.

Além de consulta e empréstimos de livros, a biblioteca disponibiliza ao público um quiosque cultural, onde as pessoas podem pegar gratuitamente as publicações da FAP e outros livros de diversos temas. O local fica aberto de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.

Memória viva
Inaugurada em 28 de fevereiro de 2008, a Biblioteca Salomão Malina se tornou um importante espaço de incentivo à produção do conhecimento em Brasília. Sua missão é servir como instrumento para análise e discussão das complexas questões da atualidade, aberta a todo cidadão. Ela foi reinaugurada em 8 de dezembro de 2017, após uma ampla reforma.

A biblioteca leva o nome do último secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB), entre 1987 e 1991. Ele ingressou no PCB no início dos anos 1940 e, durante sua vida, passou alguns anos presos e cerca de 30 anos na clandestinidade. Seus livros foram o embrião da biblioteca.

Salomão Malina combateu, como oficial da força Expedicionária Brasileira (FEB), nos campos da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele foi agraciado, por sua bravura, com a cruz de combate de Primeira Classe, a maior condecoração do Exército Brasileiro. Também atuou como diretor do Jornal Imprensa Popular, do PCB, nos anos de 1950.

Serviço
Biblioteca Salomão Malina
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.
Endereço: Conic - Setor de Diversões Sul – Bloco P – Edifício Venâncio III, Loja 52, em Brasília (DF), próximo à Rodoviária do Plano Piloto.

 

Confira as novas aquisições da Biblioteca Salomão Malina

http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/wp-content/uploads/2018/08/lista_aquisicoes.pdf

 

 

Confira a lista de livros catalogados na Biblioteca Salomão Malina
http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/wp-content/uploads/2018/08/livros_catalogados.pdf

 

Confira a lista de livros cadastrados na Biblioteca Salomão Malina

http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/wp-content/uploads/2018/08/livros_cadastrados.pdf

 

 

 


Brasília volta a ter cineclube de graça com nova programação

Fundação Astrojildo Pereira (FAP) retoma exibições no Cineclube Vladimir Carvalho no dia 4 de setembro, após fazer ampla reforma no local

Por Cleomar Rosa

Brasília volta a ter, no próximo mês, mais um ponto de difusão de produções audiovisuais e do conhecimento. A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) vai retomar, no dia 4 de setembro, a partir das 18h30, as atividades do Cineclube Vladimir Carvalho, no Conic, um importante ponto de cultura próximo à Rodoviária do Plano Piloto. O documentário Barra 68 – Sem Perder a Ternura será exibido ao público na data do lançamento da nova programação do cineclube. A entrada é gratuita. As exibições de outros filmes brasileiros e estrangeiros também estão previstas para todas às terças-feiras, a partir do mesmo horário.

Depois de passar por uma reforma e ser reinaugurado em dezembro de 2017, o cineclube iniciou um processo de redefinição de suas atividades e será reaberto ao público com cadeiras almofadadas e removíveis. A primeira exibição será no dia 4 de setembro, e aborda a luta de Darcy Ribeiro, nos anos 1960, para criar e implantar a Universidade de Brasília (UnB). Tem duração de 1 hora e 22 minutos.

Com direção do próprio cineasta Vladimir Carvalho, de 83 anos, cujo nome batizou o cineclube, o documentário mostra, ainda, a série de agressões sofridas pela comunidade da UnB desde o golpe militar até os anos de 1968, ano em que cerca de 400 estudantes foram agredidos e presos em uma quadra de esportes. O período da ditadura militar no Brasil é de 31 de março de 1964 a 15 de janeiro de 1985.

Produzido em 2000 e lançado no ano seguinte, o filme foi bem recebido, à época, pelo público de festivais nacionais. A obra cinematográfica parte de um depoimento de Darcy Ribeiro no momento em que revela o seu sonho de criar, em Brasília, uma universidade autônoma que representasse o grande centro de pensamento da crítica nacional.

Conversa com Vladimir Carvalho  
No dia da exibição, o público terá a oportunidade de conversar pessoalmente com Vladimir em uma roda de discussão sobre o documentário. Para ele, a invasão à UnB foi uma barbárie. “Havia pessoas que tinham filhos lá na universidade. Foi muito marcante para Brasília, já que foi uma agressão ao lugar sagrado, que é lugar do conhecimento”, afirmou.

A nova proposta do Cineclube Vladimir Carvalho, que homenageia o nome do cineasta paraibano radicado em Brasília, é exibir produções audiovisuais que abordem temas que tenham alguma relação com o respectivo mês de sua apresentação no local.

“Vamos apresentar filmes brasileiros e filmes estrangeiros até para também trabalharmos com produções de mostras competitivas francesas e alemãs, por exemplo, e realizar parcerias com os festivais de cinema regionais”, afirma o responsável pelo cineclube, Alexandre Marcelo Bezerra de Menezes Queiros. “A ideia do cineclube é ter, ao final de toda exibição, uma roda de conversa sobre o tema abordado no filme, porque isso ajuda a difundir a cultura”, acrescenta.

Com capacidade para 65 lugares, o Cineclube Vladimir Carvalho fica em uma parte do Espaço Arildo Dória, onde também está a Biblioteca Salomão Malina, todos mantidos pela Fundação Astrojildo Pereira. Tudo para garantir conforto e praticidade às pessoas. Todos os filmes serão exibidos em uma tela de projeção retrátil de 150 polegadas, com imagem de ótima qualidade.

Cinema e literatura
A reabertura do cineclube leva ao público de Brasília uma nova opção de fortalecimento da cultura, na opinião de Alexandre. A direção da FAP entendeu que a retomada das programações é mais uma forma de atender às demandas dos usuários da Biblioteca Salomão Malina, assim como às do público em geral, produzindo e difundindo conhecimento por meio do cinema e de obras literárias.

A biblioteca recebe, em média, 30 pessoas por dia. A coordenadora do local, Thalyta Jubé, lembra que o público tem à disposição espaços específicos para leitura e estudo, assim como mesa coletiva e ambientes individuais. Além das obras literárias, a biblioteca também disponibiliza jornais do dia e revistas da semana, além de rede wi-fi grátis. Para fazer empréstimo dos livros, os interessados precisam apenas fazer um cadastro pessoalmente com apresentação de documento oficial com foto e comprovante de residência.

Assim como Alexandre, a coordenadora da biblioteca acredita que a retomada das atividades do cineclube, com exibições programadas, representa mais uma opção de atração cultural para o público em Brasília.

Serviço
Reabertura do Cineclube Vladimir Carvalho, com a exibição do documentário Barra 68 – Sem Perder a Ternura.
Data: 4 de setembro de 2018, às 18h30.
Onde: Cineclube Vladimir Carvalho, no Espaço Arildo Dória, no Conic, próximo à Rodoviária do Plano Piloto de Brasília.

 

 


Seminário nacional reforça apoio à criação de cotas para candidaturas de negros 

Carta Política de Salvador foi criada e aprovada ao final do Seminário Nacional Representação Política e Ações Afirmativas, realizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em Salvador (BA)

Por Cleomar Almeida

Instituir cotas de 20% para candidaturas de afrodescendentes, assim como já ocorre em concursos públicos, é fundamental para aumentar o número de negros na política e possibilitar a discussão, a criação e a execução de políticas públicas que atendam às minorias sociais. Essa meta foi reforçada e divulgada, neste domingo (12), pela coordenação do Coletivo Igualdade 23/PPS, nas plenárias finais do Seminário Nacional Representação Política e Ações Afirmativas, realizado no Hotel PortoBello Ondina Praia, em Salvador (BA).

O seminário teve duração de dois dias e foi realizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em parceria com o Coletivo Igualdade 23/PPS. O documento, aprovado com o nome Carta Política de Salvador, foi produzido como resultado de todas as discussões levantadas no evento e  também deve servir para pautar as propostas dos candidatos nas eleições. No primeiro dia, os participantes abordaram a representatividade de afrodescendentes nos espaços de poder e o racismo institucional. Em seguida, discutiram a necessidade de políticas públicas em defesa da igualdade racial que devem ser executadas, efetivamente, nas áreas de educação, trabalho e segurança.

A coordenação do Coletivo Igualdade 23 informou que a carta será compartilhada com os demais representantes do núcleo em outros Estados, após videoconferências que serão realizadas em até 15 dias. No documento, os integrantes da coordenação reforçaram a necessidade de apoio à aprovação do projeto de lei 6.912/2002, que garante em seu corpo ações afirmativas favoráveis à população brasileira afrodescendente. Eles querem, de forma específica, a aprovação de um apensado que altera a redação do parágrafo 30 do artigo décimo da Lei 9.504, instituindo cotas de 20% para candidaturas de afrodescendentes.

Outros pontos

A carta sugere, ainda, como estratégias para políticas de Estado, o enxugamento  da máquina pública e o aumento de fiscalização para o combate à sonegação, assim como o combate às fraudes nas cotas para afrodescendentes e à corrupção na administração pública. O documento também cita, entre outros pontos, atuação para que seja criado novo modelo de segurança pública contra o extermínio da juventude negra.

“O racismo nas instituições públicas e privadas, bem como o introjetado no senso comum da sociedade, tem incidência direta na diminuta representatividade de afrodescendentes nos cargos eletivos”, diz um trecho da carta. “É uma mazela social que continuaremos a combater.”

De acordo com os integrantes da coordenação do Coletivo Igualdade 23, a representatividade de afrodescendentes em espaços de decisão, como as casas legislativas e o Executivo, é fundamental para a discussão, a criação e a implementação  de políticas sociais e econômicas. Segundo ele, essas ações podem refletir em todos os âmbitos sociais, principalmente entre as minorias, como, por exemplo, os afrodescendentes, indígenas, as mulheres e pessoas com deficiência.


Racismo institucional deve ser combatido de forma efetiva, dizem autoridades e pesquisadores

Discussão ocorreu na primeira mesa do Seminário Nacional Representação Política e Ações Afirmativas, realizado pela Fundação Astrojildo Pereira, em Salvador (BA)

Por Cleomar Rosa

O racismo institucional em toda a sociedade, inclusive dentro dos partidos políticos, deve ser combatido, de forma efetiva, para que aumente a representatividade dos negros na política brasileira. A avaliação é de professores, pesquisadores e autoridades que se reuniram, na tarde deste sábado (11), na primeira mesa do Seminário Nacional Representação Política e Ações Afirmativas, realizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em parceria com o Coletivo Igualdade 23/PPS, no Hotel Portobello Ondina Praia, em Salvador (BA).

A secretária de Reparação Municipal de Salvador, professora doutora Ivete Sacramento, criticou o uso político e inapropriado pelos partidos da causa dos negros. “Todos os partidos têm um setor, um núcleo ou uma coordenação racial. Virou moda”, afirmou. “Mas que coordenação é essa? Por que precisa ter uma coordenação racial e qual é esse discurso? O grande problema é o discurso. Se é racial, se é pra defender a causa negra, o discurso tem que ser negro, de combate ao racismo e de enfrentamento ao racismo institucional nos próprios partidos”, disse ela, que foi a primeira reitora negra no Brasil e a primeira pessoa a lavrar a primeira ata do movimento negro em Salvador.

Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o professor Babalawo Ivanir dos Santos ressaltou que, no Brasil, as causas do movimento negro não nasceram em nenhum partido político. “Lembro que todos os partidos eram contra cotas (na educação)”, afirmou. Para ele, as causas de movimento da sociedade devem ser maiores que os partidos. “Quando você está a serviço de uma causa, ela é maior do que o partido”, pontuou. O professor destacou que a comunidade negra tem perdido representação política e sugeriu que o caminho de candidaturas minoritárias, como a dos negros, é construir alianças com outras minorias para se fortalecerem e manterem a coerência, aspecto que, segundo ele, os eleitores valorizam.

Fortalecimento da democracia

O fortalecimento da democracia brasileira é outro ponto que deve ser considerado no fortalecimento da representatividade negra no país. Na avaliação do professor de Relações Internacionais e Ciência Política da Universidade Católica de Brasília (UCB), Creomar Souza, “a democracia brasileira, como a maioria das democracias no planeta, é de baixa qualidade”. “Vivemos numa democracia disfuncional”, afirmou. Segundo ele, nesse caso, há um desvio do que é a pessoa eleita para um mandato e outro relacionado à representação. “Temos elegido representantes com alguma constância e eles parecem divorciados da realidade”, disse.

O presidente estadual do PPS na Bahia, Joceval Rodrigues, destacou que os negros devem ser representados com qualidade na política, e não apenas quantitativamente. “Se existe exclusão do povo negro, que é a maioria da população brasileira, das instâncias de poder, será que essa não seria a grande causa de os representantes estarem tão perdidos?”, questionou ele, ressaltando que a população precisa se sentir representada. “Não só por ser negra, mas por trazer a contribuição da sua história para o seu povo”, ponderou.

O Congresso Nacional tem apenas 3% dos eleitos que se autodeclaram negros, de acordo com dados da Justiça Eleitoral que passaram a ser exigidos a partir das eleições de 2014. Por outro lado, os negros representam 54% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Plenárias finais

O primeiro dia do seminário, que começou com a discussão sobre a representatividade de afrodescendentes nos espaços de poder e o racismo institucional, vai terminar com o debate sobre políticas públicas pró-igualdade racial na segurança, no trabalho e na educação. O evento termina, neste domingo (12), com a realização de plenárias com integrantes das coordenações estaduais e nacional do PPS.

No segundo e último dia do seminário, um documento será produzido com os principais pontos discutidos. Ele vai nortear as ações do Coletivo Igualdade 23 nos próximos anos, mas também deve ser útil na indicação de pautas de campanha dos candidatos nestas eleições para que, posteriormente, sejam incluídas em programas de governo e executadas como políticas de Estado.

 


Seminário nacional defende o aumento da representatividade dos negros na política

Evento será realizado neste sábado e domingo (11 e 12/8) pela Fundação Astrojildo Pereira, em Salvador (BA), com a participação de autoridades e pesquisadores de universidades brasileiras

Por Cleomar Rosa

Mostrar estratégias para o aumento do número de pessoas negras e de outras minorias sociais em cargos do alto escalão do Executivo e do Legislativo e debater a sub-representação afrodescendente nas esferas de poder são os principais objetivos do Seminário Nacional Representação Política e Ações Afirmativas. Com a presença de professores e pesquisadores de universidades brasileiras, o evento será realizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em parceria com o Coletivo Igualdade 23/PPS, hoje e amanhã (10 e 11/8), no Hotel PortoBello Ondina Praia, em Salvador (BA).

O evento será aberto ao público e com entrada gratuita. No primeiro dia, os participantes vão discutir a representatividade de afrodescendentes nos espaços de poder e o racismo institucional, assim como as políticas públicas em defesa da igualdade racial que devem ser executadas, efetivamente, nas áreas de educação, trabalho e segurança. O segundo dia será dedicado a mais discussões e à elaboração e à aprovação de um documento para a redução dessa desigualdade étnico-racial, assim como daquela que atinge pessoas com deficiência, indígenas e mulheres.

O Congresso Nacional tem apenas 3% dos eleitos que se autodeclaram negros, de acordo com dados da Justiça Eleitoral que passaram a ser exigidos a partir das eleições de 2014. Em 2016, Bahia foi o Estado que registrou o maior número de candidatos que se autodeclararam negros, segundo o levantamento oficial. Na avaliação dos professores e pesquisadores que estarão no evento, todo esse cenário de desigualdade confirma um gravíssimo problema que precisa ser solucionado, urgentemente, no país.

Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o professor Babalawo Ivanir dos Santos diz que os partidos políticos têm dificuldade de compreender e reconhecer a representação negra, indígena e de outros segmentos minoritários da sociedade. “Vemos partidos com discurso liberal, mas não vemos a presença de negros neles, como se não tivessem negros competentes nas áreas de educação, economia e planejamento, por exemplo”, afirma. Segundo ele, os poucos negros nos cargos de alto escalão ocupam pastas com baixíssimo orçamento. “Quando não muito, viram assessor. A meritocracia é branca”, ressalta.

Sub-representação X viabilidade eleitoral
O professor de Relações Internacionais e Ciência Política da Universidade Católica de Brasília (UCB), Creomar Souza, afirma que, no país, “há um acúmulo de sub-representação”. “Mulheres, negros e pobres estão sub-representados. A democracia brasileira é de baixa qualidade”, analisa. Além de mostrar dados, Souza vai discutir, no evento, os limites da viabilidade eleitoral dos candidatos afrodescendentes e como podem, assim como os representantes de demais grupos minoritários, construir suas narrativas eleitorais diante do que ele chama de “dificuldade de ter posse de poder nas estruturas partidárias”.

Esse panorama brasileiro, que se repete às vésperas de mais uma eleição, chama a atenção para a importância de ações afirmativas no país, na avaliação do mestre em ciências jurídicas e sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Carlos Alberto Medeiros. Ele avalia que, a partir do processo de cotas na educação e do aumento do uso das redes sociais, o reconhecimento da capacidade de pessoas negras passou a provocar mudanças na economia, na política e nos outros setores da sociedade. “Agora tudo é racismo? Sempre foi, mas as vítimas não reagiam”, afirma.

Professor da Universidade de Brasília (UnB) e executivo público da Secretaria de Saúde de São Paulo, Ivair Augusto Alves dos Santos diz que é muito importante considerar o tripé que envolve educação, trabalho e segurança na elaboração e execução de políticas públicas eficazes para a juventude negra e pobre, maior alvo de crimes no país. “Tem de romper esse ciclo vicioso de não ter programas de empregabilidade. Os programas de ações afirmativas precisam ser ampliados e melhorados”, analisa, ressaltando a urgente necessidade de tirar os jovens da criminalidade.

A gravidade de todo esse cenário fez a Organização das Nações Unidas (ONU) lançar, no final do ano passado, no Brasil, uma campanha contra a violência, já que, em média, a cada 23 minutos um jovem negro é morto no país, segundo o Mapa da Violência. Outro estudo, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, também confirmou como a população negra está mais exposta à violência. Segundo o levantamento, as pessoas negras representam 54% da população, mas são 71% das vítimas de homicídio. De 2005 a 2015, conforme essa última pesquisa, o número de brancos assassinados caiu 12%, e o de negros subiu 18%.

Eleições 2018
O seminário termina, no domingo (12), com a realização de plenárias com integrantes das coordenações estaduais e nacional do PPS. O documento que será produzido com os principais pontos discutidos no evento vai nortear as ações do Coletivo Igualdade 23 nos próximos anos, mas também deve ser útil na indicação de pautas de campanha dos candidatos nestas eleições para que, posteriormente, sejam incluídas em programas de governo e executadas como políticas de Estado.

“Os partidos políticos precisam ter ligação direta com a sociedade. Quem sabe seus sonhos e as suas necessidades é a própria sociedade”, diz Romero Rocha, integrante da coordenação nacional do Coletivo Igualdade 23, núcleo de cooperação do PSS. Ele ressaltou que o documento também ficará disponível a integrantes de outras siglas partidárias e às demais pessoas da sociedade em geral. “Essa discussão não pode ficar fechada nos partidos. Ela interessa a toda a sociedade”, afirma.

Programação


Hamilton Garcia: Da social-democracia ao liberalismo-social

Se, como vimos no artigo anterior, os comunistas adulteraram o socialismo crítico de Marx&Engels em prol do socialismo mítico das mais variadas tendências — do stalinismo ao bolivarianismo, passando pelo petismo —, os socialdemocratas fizeram o mesmo em prol de um realismo político de resultados incertos: infecundos quando as crises do sistema capitalista polarizavam a sociedade, fecundo quando a normalidade política adversa (guerra fria) obrigou concessões aos trabalhadores.

No primeiro caso, o alinhamento nacionalista do pré-I Guerra (1914-1918) — motivado, entre outras coisas, por conquistas econômico-sociais, no âmbito nacional, derivadas da institucionalização ocorrida nas décadas anteriores — levaria à divisão do movimento dos trabalhadores entre reformistas e revolucionários, no segundo, o pacto social-liberal (welfare state) possibilitou o funcionamento de um sistema semirregulado que levou as sociedades ocidentais ao maior nível de igualdade desde o advento do capitalismo. O novo pacto funcionaria bem até os anos 1970, quando os sucessivos choques do petróleo, os avanços tecnológicos e a aceleração da globalização das cadeias produtivas — com intensa participação nipônica, entre outras —, criaram as condições para a poderosa fuga de capitais oriundos dos EUA e da Europa, que agora ameaçam sua prosperidade.

Se Eduard Bernstein (1850-1932) iniciara a formulação de suas teses revisionistas, a partir do exílio londrino de 1888, sob as vistas de Engels, tentando manter os liames da política social-democrática com uma teoria socialista não-utópica, propondo o debate público, a partir de 1899[i], acerca das evidências de que o capitalismo não só era capaz de superar suas crises, como também de alcançar graus ainda mais elevados de desenvolvimento — ao contrário da previsão de Marx&Engels, o que apontava novos desafios ao movimento operário, agora no sentido do reformismo —, a reação do PSD alemão e de Karl Kautsky (1854-1938) — principal teórico marxista depois da morte de Engels — fora, antes, de garantir, respectivamente, uma prática sem teoria (empirismo) e de manter a “doutrina marxista” relativamente protegida da prática socialista — concepção que Lênin adotou em direção oposta, ou seja, assentando a ação numa “doutrina” com ares de crença.

Se com Bernstein, malgrado as divergências possíveis, temos a tentativa de manter a teoria viva guiando a ação política — a grande inovação marxista fora, exatamente, como já se disse, a de situar a ação socialista no âmbito do desenvolvimento histórico objetivo revelado pelo materialismo-histórico —, na resistência ortodoxa de Kautsky e na abstinência intelectual sindical, o mal, que amoleceria a racionalidade crítica na social-democracia desde então, seria de pensar as conquistas populares no seio do capitalismo como mera forma de ampliação do Estado, sem levar em conta que a manutenção de sua configuração capitalista tornaria as conquistas obtidas não apenas relativamente superficiais, como essencialmente provisórias, à depender das injunções do capitalismo internacional e dos rearranjos geopolíticos.

Não obstante, a pax social-democrática se impôs no pós-II Guerra (1939-1945), apesar da associação difícil com um liberalismo até então liberista — exclusivamente guiado pelo mercado —, e beneficiado pelo fato de que a tragédia civilizatória do stalinismo na Rússia desarmou qualquer possibilidade de uma alternativa comunista no Ocidente, levando os movimentos comunistas de resistência ao fascismo a se desarmarem em benefício do novo pacto democrático, onde eles comporiam uma oposição partidária ativa, embora minoritária, e um movimento sindical de maioria comunista fadado a reforçar a legitimidade do novo regime.

De fato, o único país onde os comunistas foram capazes de superar o tímido papel de coadjuvantes, a que o novo sistema os condenara, foi na Itália, onde, sob a liderança de Palmiro Togliatti (1893-1964) e a inspiração de Antonio Gramsci (1891-1937), o PCI foi capaz de desenvolver uma política de assimilação da democracia-liberal mantendo seus laços com o sindicalismo e uma relativa distância — não obstante insuficiente — da URSS, mesmo tendo seu caminho ao poder obliterado pelo veto branco à participação em governos ao preço, como mostrou posteriormente a Operação Mãos Limpas, de uma corrupção generalizada no âmbito do Estado.

Nada disso, porém, serviu como anteparo à social-democracia quando a crise econômica corroeu as bases de seu pacto social a partir dos anos 1980, levando à onda neoliberal que não apenas abalou seu prestígio eleitoral, mas levou-a a adotar políticas econômicas semelhantes à dos conservadores, contra os interesses sindicais, na tentativa de não perder as bases pluriclassistas conquistadas nas três décadas anteriores.

Ao cabo, o aprofundamento da crise fez emergir novas forças políticas de esquerda dos escombros do comunismo e da SD, mas elas têm manifestado, até aqui, alguns dos velhos cacoetes irracionalistas já conhecidos — em nova roupagem (“pós-moderna”) — que, em pleno revival da crise no seio do capitalismo ocidental, os obriga a um certo retomo aos temas do socialismo de Marx&Engels, embora sem qualquer compromisso com sua teoria crítica, que implicaria esquadrinhar as razões do malogro da esquerda até aqui, seja da experiência soviética ou do esgotamento da fórmula social-democrática, o que abre margem não só para a repetição de velhos métodos esquerdistas (a doença infantil), como também para a reaparição de equívocos políticos que sinalizam grave incompreensão da história e abrem margem para o transformismo das forças políticas tradicionais, inclusive a reemergência da extrema-direita adormecida desde a derrota do nazifascismo.

O apoio de grande parte desta neoesquerda ao chavismo e ao orteguismo — para não falar do lulopetismo — lança sombras tenebrosas sobre nossa capacidade de aprender com a história, visto que estes movimentos da periferia ocidental nada mais são que manifestações atávicas de um século de modernizações periféricas dependentes do imperialismo, que nos legou a atrofia do desenvolvimento político e econômico não só da burguesia, como do operariado e das camadas médias tecno-industriais, encetando os modelos capitalistas híbridos da América-Latina com seu vasto cabedal de desigualdades combinadas, hipostasiadas em ampla carência econômica e profunda dualidade civilizatória.

Neste sentido, a adesão tardia a uma social-democracia em declínio não oferece à esquerda brasileira nenhum antídoto à trágica realidade do “socialismo do século XXI”; antes, oferece-lhe ainda mais espaços para reproduzir-se em meio a um pensamento social prisioneiro de utopias resilientes às duras lições da história.

 

[i] Vide Socialismo Evolucionário, ed. Zahar-ITV/RJ, 1997, passim.


FAP e Verbena Editora lançam, nesta segunda (30), coletânea de entrevistas de Luiz Werneck Vianna

Obra faz uma leitura da conjuntura politica brasileira desde o primeiro mandato de Lula até os dias atuais

Por Germano Martiniano

A Fundação Astrojildo Pereira, em parceria com a Editora Verbena lançam, nesta segunda-feira (30/07), o livro Diálogos gramscianos sobre o Brasil atual, do cientista social Luiz Werneck Vianna. A obra é uma coletânea de entrevistas realizadas com Werneck desde o inicio do governo Lula, em 2003.

O lançamento será às 18h30 no Restaurante La Fiorentina, Av. Atlântica, 458A, Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ) e será precedido por uma sessão de autógrafos com o autor. O evento também terá a presença de diversos intelectuais brasileiros.

“Werneck Vianna é um dos intelectuais mais importantes do nosso país e este livro faz uma leitura da conjuntura politica brasileira no período que abrange o primeiro mandato de Lula até os dias de hoje”, informa Luiz Carlos Azedo, diretor geral da FAP. “De certa forma, esta obra antecipou muito do que aconteceu em nossa política, desde um texto famoso sobre o Estado Novo do PT, no qual Werneck define a natureza do governo Lula, chegando, atualmente, a judicialização da política brasileira, através da Operação Lava-Jato”, enfatizou Azedo.

“A realidade brasileira não se encaixa em esquemas teóricos fechados e dogmáticos, por isso é um luxo para FAP editar uma obra do Werneck Vianna, que é nosso presidente de honra”, afirmou o diretor da FAP.

Werneck Vianna, Gramsci e outros intelectuais
Werneck é um intelectual marxista, não ortodoxo, que tem como uma de suas características incorporar em suas análises a contribuição de autores brasileiros não marxistas, que possuem uma formação liberal e positivista, mas que contribuíram na compreensão da realidade brasileira.

Já sua relação com Gramsci, para Alberto Aggio, historiador e especialista no filósofo italiano, Werneck, talvez seja o mais produtivo interprete brasileiro do pensamento gramsciano. “Desde o seu clássico Revolução Passiva - iberismo e americanismo no Brasil, publicado em 1996, a sua interpretação de Gramsci tem influenciado as leituras sobre as mudanças vividas pelo Brasil nas últimas décadas”, avalia o historiador.

Aggio também afirma que as mudanças no mundo, que influenciam decisivamente as relações sociais, foram interpretadas na coletânea de entrevistas sob um olhar inovador dos conceitos de Gramsci. “O livro traz um Gramsci vivo e estimulador da reflexão sobre a realidade e não um clássico que tem suas formulações repetidas ad nauseum. O valor deste conjunto de entrevistas é imenso e merece ser lido, debatido e assimilado, mesmo que não tenhamos concordância integral com os argumentos ali expostos”, concluiu o historiador.


FAP Entrevista: Maria Alice Rezende

"Não há propriamente uma partidarização do Judiciário e sim a ocupação de um vazio deixado pela fraqueza do sistema político no encaminhamento de soluções para a crise política e social do país", diz Maria Alice Rezende

Por Germano Martiniano

Nesta segunda-feira (30) será lançado, no Rio de Janeiro, o livro “Diálogos gramscianos sobre o Brasil atual”, de Luiz Werneck Vianna, que é uma coletânea de entrevistas realizadas com o sociólogo desde o inicio do governo Lula, em 2003, até os dias atuais. O prefácio da obra ficou a cargo da também socióloga Maria Alice Rezende, a entrevistada deste deste domingo da série FAP Entrevista, que a Fundação Astrojildo Pereira está publicando, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, tem o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.

Licenciada em História pela PUC do Rio de Janeiro (1975), Mestre em História Social pela UNICAMP (1983) e Doutora em Sociologia pelo IUPERJ, Maria Alice escreveu, em conjunto com Werneck Vianna, há vinte anos, o livro “Corpo e alma da magistratura brasileira”. Questionada na entrevista à FAP sobre o atual momento do judiciário brasileiro, ela foi enfática: “Não há propriamente uma partidarização do Judiciário e sim a ocupação de um vazio deixado pela fraqueza do sistema político”.

Em relação ao livro de Werneck, Maria Alicia considera que o autor, apesar do momento político brasileiro e todas as dificuldades inerentes a ele, valoriza a democracia como uma conquista superior da sociedade brasileira. “Werneck Vianna aponta para o fato de que nesse cenário político brasileiro, aparentemente desolador, há algo que a sociedade conquistou irreversivelmente: a democracia política”, destacou a socióloga.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista de Maria Alice Rezende de Carvalho:

FAP Entrevista - Werneck tem se consolidado como uma referência clássica dos estudos sociais no nosso país e é também um intelectual público. Por que este tipo de intelectual parece ausente no Brasil de hoje?
Maria Alice Rezende - A reflexão social no Brasil obedeceu a um processo de institucionalização universitária, que conhece permanente e crescente especialização. Tal fato parece estar na origem disso que você identifica como uma diminuição da presença do intelectual público no Brasil. De fato, o intelectual público singular, como Werneck Vianna, capaz de intervir na vida nacional, escasseia. Mas esse tipo de intelectual vem sendo substituído por intelectuais coletivos, por agências intelectuais que, inclusive, extrapolam o ambiente universitário, tendo como objeto o país, suas vicissitudes, suas potencialidades.

As entrevistas de Werneck, agora reunidas em livro, que lugar ocupam na obra deste intelectual?
Penso que o livro "Diálogos gramscianos ..." é particularmente interessante para a divulgação do pensamento de Werneck Vianna, pois ele combina a erudição do autor, a perspectiva histórica de que sempre faz uso em suas análises, com a sensibilidade dos grandes analistas de conjuntura. Além disso, as entrevistas resumem a original combinação que Werneck instituiu entre Antonio Gramsci e Alexis de Tocqueville, sobretudo na valorização das associações da sociedade civil - os chamados grupos intermediários, em Tocqueville, e as agências privadas de hegemonia, em Gramsci.

Quais respostas o livro de Werneck poderia dar para o atual momento político brasileiro?
Uma resposta abrangente - a democracia como forma superior de luta e como via nobre para a construção de uma sociedade cada vez mais justa e livre, que mire o socialismo. Penso que nesse livro, Werneck Vianna aponta para o fato de que nesse cenário político brasileiro, aparentemente desolador, há algo que a sociedade conquistou irreversivelmente: a democracia política.

A linha de estudos sobre o Judiciário, da qual a senhora também participou junto com Werneck, credencia muito a ambos na cena atual. Estamos, afinal, diante de uma “revolução dos santos” protagonizado pelos operadores do Direito? Em que medida há abusos e interferências em outras esferas?
Há vinte anos, o livro "Corpo e alma da magistratura brasileira", de autoria dele e minha, cumpriu o importante papel de apresentar um novo ator da democracia: o juiz de Direito. A análise que empreendemos naquele contexto nos credenciou a produzir, agora, uma outra pesquisa, novamente a pedido da Associação dos Magistrados Brasileiros, sobre o perfil da magistratura atual, em que alguns de seus quadros se comportam orientados por uma perspectiva ativista e salvacionista. Estamos tentando traçar um quadro mais preciso dessa nova geração de magistrados, respeitando sua diversidade e os elementos constitutivos da identidade daquele grupo profissional.

Terá avançado a partidarização do Judiciário além de um ponto tolerável?
Não há propriamente uma partidarização do Judiciário e sim a ocupação de um vazio deixado pela fraqueza do sistema político no encaminhamento de soluções para a crise política e social do país.

A senhora é uma grande estudiosa do fenômeno histórico das cidades brasileiras. O Brasil urbano que se construiu a partir do século XX é um bom lugar para se viver ou necessita de reformas profundas dentro do contexto de democratização? Quais seriam as reformas?
É claro que as cidades brasileiras necessitam de profundas e urgentes reformas, principalmente aquelas voltadas à superação da imensa desigualdade reinante no mundo urbano brasileiro. As cidades em que vivemos expõem a tragédia de uma história de exclusão e de subjugação das classes subalternas. É ali que se joga o futuro da democracia brasileira.

Por que o comunismo democrático brasileiro das décadas de 60, 70 e 80 esgotou-se, não conseguindo ser um vetor para as instituições brasileiras? E qual o destino daquilo que se chama pós-comunismo?
Penso que a experiência do "comunismo democrático" não se esgotou simplesmente. Houve, por parte dos setores dogmáticos do PCB, um alijamento das vanguardas que lutavam pela democracia política. Mas o que se pode dizer é que há consenso na esquerda moderna quanto à necessidade de deslocamento do horizonte do comunismo, pois o que se impõe à cena contemporânea é a luta anti-capitalista, socialista. Fica para a história a resolução dos dilemas para a construção de uma sociedade comunista...

Sobre os movimentos sociais, por que eles foram se despolitizando e se afastando da política, assim como, a política se afastou deles?
Sob a égide dos governos do PT, os movimentos sociais, tal como aponta Weneck Vianna em suas entrevistas, foram estatalizados, perderam sua autonomia e luz própria.


Carlos Alberto de Medeiros - Seminário Bauman e o mal-estar da nossa sociedade

Carlos Alberto de Medeiros, tradutor das obras de Zygmunt Bauman no Brasil, mostra como o autor tem o dom magistral de transmitir ideias complexas com uma linguagem acessível. Ele participou do Seminário Bauman e o mal-estar da nossa sociedade, no último dia 23, realizado pela Fundação Astrojildo Pereira com apoio do Coletivo Igualdade 23, do PPS, e da Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB).

https://www.youtube.com/watch?v=9v5x6gJivcY