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Política Democrática: Eleição escancarou intolerância na sociedade, dizem especialistas
Em artigos publicados na revista Política Democrática online, sociólogo e economista avaliam campanhas eleitorais e democracia
O período eleitoral escancarou a intolerância na sociedade, revelando o clima de tensão e ódio entre adversários que vai exigir, do presidente eleito neste domingo (28), um grande esforço para desarmar os espíritos. No entanto, o contexto brasileiro serve para mostrar que a democracia entra em crise porque não tem resposta às novas demandas da sociedade, provindas de uma profunda mudança social.
A avaliação é de analistas políticos autores de artigos publicados na edição de lançamento da revista Política Democrática online, produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP). Com acesso totalmente gratuito, a publicação foi lançada no dia 23 de outubro.
Em seu artigo, que recebeu o título “Ameaças à democracia”, o sociólogo Elimar Pinheiro do Nascimento explica que uma das dificuldades na construção de respostas por parte dos governos democráticos reside no que ele chama de “morte das ideologias”. Segundo o autor, a ideologia sobrevivente é o liberalismo.
No entanto, conforme acrescenta Elimar, o próprio liberalismo “torna-se cada vez mais incapaz de dar respostas aos novos problemas que emergem das mudanças estruturais da sociedade, particularmente oriundas da disseminação das novas tecnologias e da crise ambiental”.
Além de não ter considerado a importância de temas ambientais, o período eleitoral não explorou outros campos necessários para o desenvolvimento da sociedade, de acordo com o economista Sérgio Buarque. Ele é autor do artigo “Atropelado pelas emergências”, que também está publicado na revista.
De acordo com Sérgio, a campanha também escondeu os temas econômicos e fiscais incômodos que devem ser enfrentados pelo próximo presidente. Com isso, segundo ele, desmobilizou a sociedade para a necessidade de medidas que são inevitáveis ao reequilíbrio das finanças públicas. “Propostas enganosas e simplistas foram vendidas como mágicas para todos os males do Brasil”.
Leia mais:
Política Democrática: Com polarização partidária, voto torna-se muito volátil, diz Denicoli
Artigos destacam os desafios impostos pela velocidade do mundo digital nestas eleições, o papel do cinema na construção da democracia e o novo livro de Yuval Noah Harari, “21 lições sobre o século 21”, além dos trabalhos do cartunista JCaesar
Por Cleomar Almeida
Interpretar os reflexos das redes sociais no dia a dia e, especialmente, nas eleições é o grande desafio imposto pela velocidade do mundo digital sobre processo eleitoral e a intensa troca de informações entre as pessoas que estão conectadas. A avaliação é do pós-doutor em Comunicação Sérgio Denicoli, no artigo “A verdade do oráculo digital”, publicado na edição de lançamento da revista Política Democrática online.
Em sua análise, Sérgio Denicoli reforça que o período eleitoral está profundamente marcado por polarização entre esquerda e direita e, nesse contexto, de acordo com ele, “o voto torna-se muito volátil”. “E a mudança da opção do eleitor, dentro do mesmo espectro ideológico, ocorre na mesma velocidade da transmissão de dados nos ambientes online”, escreve ele.
Ainda segundo o analista, não pode ser encarada como “exata” a verdade do eleitor. No entanto, conforme ele ressalta, “deve ser vista a partir de tendências”. “É na ciência de dados que se consegue perceber que a onda informativa se está levantando, na direção de quem ela está indo e com que velocidade”, acrescenta na publicação, produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP).
Além das análises de Sérgio Denicoli e outros analistas políticos, a revista também se preocupa em colaborar com produções do meio cultural. Nesse sentido, o internauta pode conferir os trabalhos do cartunista JCaesar, que servem de ironia ao contexto da eleição presidencial de 2018.
Mais adiante na revista, no artigo “Um olhar crítico sobre a democracia”, o cineasta e escritor João Batista de Andrade discorre sobre o documentário “Construindo Pontes”, dirigido por Heloisa Passos, e que mostra os conflitos entre um pai, conservador e comprometido com os governos da ditadura militar, e a filha, de esquerda.
“O cinema tem quase sempre um olhar crítico sobre a sociedade, mesmo que as críticas se abrandem, às vezes de forma quase total, pela busca de ganhar o público ou exigências da Indústria Cinematográfica”, pondera João Batista, no artigo.
Na revista, o internauta também pode conferir a resenha da doutora em Mídias Digitais pela USP Dora Kaufman sobre “21 lições sobre o século 21”, o terceiro livro de Yuval Noah Harari. Ela destaca que o autor “enumera, descreve e tece comentários sobre alguns dos principais temas da atualidade”.
Leia mais:
A íntegra do artigo “A verdade do oráculo digital”
Quadrinhos do cartunista JCaesar
Análise “Um olhar crítico sobre a democracia”
Resenha do livro “21 lições sobre o século 21”
Política Democrática: O que aprender com o primeiro turno e os perfis de presidenciáveis
Analistas reforçam reflexos das manifestações de 2013 nas eleições de 2018 nos artigos publicados na primeira edição da revista
Por Cleomar Almeida
Eleitores devem ir às urnas no próximo domingo (28) com a consciência de que o próximo presidente da República terá enormes desafios pela frente, principalmente para resolver demandas de ajuste fiscal e de reformas política, tributária e da previdência. Tudo isso diante de uma onda conservadora que toma conta do país e que polariza ainda mais uma disputa eleitoral cujo resultado, ao menos por enquanto, tem mostrado bastante reflexo das manifestações de 2013.
Essas avaliações estão contempladas em três dos oito artigos de analistas políticos publicados na edição digital da Revista Democrática, lançada nesta quarta-feira (24). A publicação é produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em Brasília.
Confira as análises na edição de lançamento da revista Política Democrática online:
»Clique aqui e leia o artigo Lições do Primeiro turno
No artigo “Lições do primeiro turno”, o sociólogo Caetano Araújo analisa que a rejeição ao atual modelo de sistema político derrotou grandes lideranças dos dois campos que polarizaram a política nacional nos últimos 25 anos. “Nessa linha, o voto de 2018 nasceu das manifestações de 2013, cresceu com as revelações da Lava Jato e atingiu seu ponto mais alto com a incapacidade demonstrada pelos maiores partidos de reagir a essa insatisfação”, escreve ele.
Na avaliação de Caetano, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) tiveram diferenças cruciais durante o período eleitoral, cada um a seu modo. “Bolsonaro e seu campo tiraram proveito das três ondas: a rejeição ao sistema, a demanda por segurança e o conservadorismo nos costumes. O PT, por sua vez, foi identificado com o sistema, pagou parte do preço da falência da segurança pública e tornou-se o alvo do conservadorismo nos costumes. A seu favor, apenas o monopólio, na percepção do eleitor, sobre a agenda das políticas sociais”, acrescentou o sociólogo.
»Clique aqui para ler os artigos Perfis Bolsonaro e Haddad
Em outros dois artigos que mostram o perfil de Bolsonaro e de Haddad, separadamente, o professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília Creomar Lima Carvalho de Souza avalia que os candidatos são frutos de diferentes fenômenos. O primeiro, líder nas pesquisas de intenção de voto, é, segundo o analista político, “fruto de uma conjuntura nova”.
Essa conjuntura, segundo Creomar, tem dois aspectos. “De um lado, o desgaste natural provocado pela dicotomia PT-PSDB e, de outro, o renascimento de um discurso de matriz conservadora em termos valorativos permitiram construir uma candidatura presidencial competitiva”, afirma o professor.
Já Haddad, de acordo com Creomar, “é visto pelos críticos dentro de seu próprio partido como o mais tucano dos petistas e considerado pelos seus adversários como mero títere do ex-presidente Lula da Silva”. No segundo turno, a tarefa do petista, acrescenta o professor, é “promover a maior virada eleitoral desde o renascimento da democracia brasileira e tornar-se presidente da república”.
FAP lança revista Política Democrática digital
Totalmente on-line e com design responsivo, publicação tem acesso gratuito e traz análises, entrevista e reportagens especiais
Em celebração aos 30 anos da democracia e a quatro dias do segundo turno das eleições no Brasil, a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) lança, nesta quarta-feira (24), a revista Política Democrática em formato totalmente on-line e com design responsivo. A publicação contempla análises de renomados articulistas, entrevista exclusiva e reportagens especiais, as quais poderão ser acessadas, de graça, pelos internautas.
Nesta edição de lançamento do formato digital, Política Democrática destaca o drama de imigrantes oriundos da Venezuela que peregrinam no maior êxodo da história da América Latina e conta, em vídeos, fotografias e textos, histórias de quem atravessou a fronteira com o Brasil, em busca de sobrevivência. Repórteres da FAP viajaram a Caracas para mostrar, ainda, os reflexos do colapso político e socioeconômico que assola o país presidido por Nicolás Maduro.
Além disso, a revista também reservou, assim como para outras análises, um espaço para entrevista com a economista Monica de Bolle, única mulher latino-americana a integrar a equipe do Peterson Institute for International Economics, nos Estados Unidos e diretora do Programa de Estudos Latino Americanos da Johns Hopkins University, em Washington, D.C. Na avaliação dela, a agenda fiscal deverá ser prioridade do novo presidente.
Objetividade
Com o propósito de entregar conteúdo de altíssima qualidade para o público em seu novo formato, a revista reuniu um time de profissionais capazes de fazer análises do contexto brasileiro, de forma mais objetiva possível, especialmente das eleições de 2018. “O critério de seleção foi a alta capacidade profissional e interpretativa dos jornalistas e acadêmicos que assinaram as matérias, convicção que, estamos certos, justificará plenamente o título de Política Democrática”, diz o diretor da revista, André Amado.
Em relação às análises, André avalia que a publicação mostra opiniões baseadas em reflexões acadêmicas ou em experiências pessoais, que, por isso, segundo ele, “ganham legitimidade além do marco habitual e distorcido dos maniqueísmos ideológicos”. “Seu lançamento, entre os dois turnos das eleições, incorpora apreciação dos resultados da primeira volta e afina as perspectivas para a reta de chegada das candidaturas, apesar do clima visceral com que se vêm desenrolando as campanhas de um e de outro”, afirma o diretor, referindo-se aos candidatos do PT, Fernando Haddad, e do PSL, Jair Bolsonaro, à Presidência da República.
» Para acessar a revista, clique na imagem acima ou no link abaixo:
http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/2018/10/24/revista-politica-democratica-online/
Relevância e agilidade
O período eleitoral, de acordo com o editor da revista, Paulo Jacinto Almeida, faz com que a revista sirva como palco de debates sobre os projetos propostos para o país. “É de extrema relevância neste momento em que estamos escolhendo o próximo presidente da República”, destaca ele. “É a continuidade de um projeto existente desde o início do século, que vem debatendo política, democracia, esquerda e cultura na conjuntura brasileira e se torna fundamental ao auxiliar o internauta com informações e análises sobre este momento decisivo em nossa história”, acrescenta.
O editor ressalta que a publicação digital poderá ser acessada em qualquer plataforma, como celular, tablet ou desktop, e a qualquer momento. Segundo ele, a nova revista poderá otimizar um fator cada vez mais importante na sociedade do conhecimento: o tempo. “Ele (internauta) ganha agilidade e praticidade para se manter informado e acessar análises de temas cruciais para o nosso país”, diz Paulo.
A seguir, confira a relação de conteúdos da revista e seus respectivos autores:
*Lições do primeiro turno (Caetano Araújo)
*O que esperar de Jair Bolsonaro (Creomar Lima Carvalho de Souza)
*O que esperar de Fernando Haddad (Creomar Lima Carvalho de Souza)
*A verdade do oráculo digital (Sergio Denicoli)
*Quadrinhos (JCaesar)
*Reportagem de capa: Um país à beira do abismo (Cleomar Almeida e Germano Martiniano)
*Um olhar crítico sobre a democracia (João Batista de Andrade)
*Por quem os sinos dobram (Alberto Aggio)
*Ameaças à democracia (Elimar Pinheiro do Nascimento)
*Entrevista com Monica de Bolle: Agenda fiscal terá de ser prioridade do próximo presidente (André Amado, Caetano Araújo, Creomar de Souza e Priscila Mendes)
*Fernando Gasparian e a morte do nacional-desenvolvimentismo (Jorge Caldeira)
*Yuval Noah Harari investiga as inquietações do presente em “21 lições para o século 21” (Dara Kaufman)
*Atropelado pelas Emergências (Sérgio C. Buarque)
Hamilton Garcia: Os perigos que se avizinham e o antídoto
Fala-se muito na campanha em fascismo e bolivarianismo, mas se o segundo expressa um objetivo explícito da política petista (vide “#EleNão! ou #ElesNão!”) – não obstante sua eludição tática por Haddad neste segundo turno –, o primeiro diz algo de potencial sobre o candidato mais bem cotado ou como ele pode vir a se tornar realidade a depender da marcha dos acontecimentos, se vitorioso for.
Olhando-se para a frente de direita que se formou em torno de Bolsonaro no rastro da crise do impeachment, vê-se um amálgama de convicções conservadoras cristãs e liberistas associadas ao antipetismo, ao par de um desenvolvimentismo lastreado no positivismo, ideologia basilar do Exército Brasileiro. Em condições normais de temperatura e pressão, não obstante o currículo e a vontade do Capitão, o novo governo teria, para ter sucesso, que se desenrolar dentro da normalidade democrática, e, para tal, contaria com grande respaldo social, popular e empresarial, e perspectiva de governabilidade no Congresso, não obstante a sombra neopatrimonialista da bancada do Centrão.
Ocorre, porém, que a falência do sistema político e a crise estrutural do modelo liberal-rentista de democratização, a par da elevada temperatura política bafejada pelo PT como tática de sobrevivência ao Petrolão, conspiram contra essa normalidade, junto com a falta de concatenação programática da frente bolsonarista e a perspectiva bolivariana da “resistência ao fascismo” – ambas podendo suscitar movimentos violentos na sociedade.^
Para tornar mais sombrio o quadro, enquanto na fase lulopetista foi possível “distribuir" os ganhos econômicos com a exuberância comercial do protagonismo chinês e da bolha ocidental – desperdiçando as chances de um “salto à frente”, em termos produtivos, com uma inclusão social pelo trabalho/aprendizado –, na fase bolsonarista o Brasil estará obrigado a enfrentar seus velhos e novos problemas e dificuldades, o que exigirá sacrifícios até aqui não admitidos pelos grupos dominantes – inclusive os aninhados nas altas esferas do Estado e nas corporações financeiras.
É certo, por outro lado, que algo se pode fazer na frente econômica com resultados positivos no curto-prazo para o governo – dois anos talvez –, seja simplificando os procedimentos normativos arrecadatórios, abrindo novas possibilidades de comércio com os países ricos, sustentando um câmbio de maiores possibilidades comerciais para a indústria e mesmo surfar na esperada onda da retomada econômica adiada pelo naufrágio precoce do Governo Temer. Ocorre que tal agenda, sem tocar nos problemas estruturais de longo-prazo da economia, pode propiciar apenas um fôlego, um novo vôo de galinha dentre tantos já vistos desde a recessão dos anos 1980.
No médio e longo-prazos, os gargalos estruturais tenderão a amplificar as fraturas existentes no seio da coalizão de direita, que, uma vez no governo, se transformará numa coalizão mais ampla, incluindo o liberalismo pragmático e mesmo o neopatrimonialismo, derrotado em sua dúplice aliança com o PSDB e o PT. Neste caso em especial, as perdas vitais dos segmentos neopatrimoniais, impostas pelos fatos, tenderá a afastá-los do governo na perspectiva de voltarem ao poder numa aliança com o lulopetismo que, para ser viável, teria que ser precedida de uma nova maquiagem moderadora dos “companheiros".
Bolsonaro se mantém à proa da disputa flertando com uma ruptura com o sistema – como ficou claro em seu último pronunciamento às manifestações verde-amarelo –, mas parece fadado, por suas alianças liberais e a correlação de forças no interior do aparato militar, a, por enquanto, inaugurar apenas uma ruptura com o mecanismo (neopatrimonial) – o que não é pouco, nem fácil! –, o que significaria, de fato, uma troca na direção do bloco histórico em crise, responsável pela transição democrática desde 1985, e cuja hegemonia é detida pelo capital financeiro, que conheceu, até aqui, dois formatos: o liberal-patrimonialista de Sarney&Collor e o social-patrimonialista de LILS, com um híbrido em Itamar&FHC.
A nova direção liberal-conservadora sobre o velho pacto democrático teria como objetivo pôr ordem no modelo, revertendo a bagunça deixada por Mantega&cia e, de quebra, despejando as oligarquias neopatrimoniais do poder, abrindo assim espaços para maior racionalização do Estado e ajudando a reverter as expectativas negativas sobre o país, recompondo o ambiente propício ao crescimento e à retomada do emprego.
Operar tal mudança, necessária mas não suficiente para nos recolocar na rota do desenvolvimento, além do custo político elevado, pode não surtir os efeitos esperados pela população, o que a levaria ao desencanto e consequente fortalecimento da oposição, o que poderia animar os bolsonaristas, apoiados no setor desenvolvimentista de sua coalizão, a uma tournant no sentido de um novo bloco histórico, o que exigiria um programa econômico voltado para a produção e não simplesmente para o consumo, deslocando o sistema financeiro global de seu papel atual de fiador principal de nossa estabilidade macroeconômica e política.
A hipotética viragem, a depender do contexto político em que ocorra e do álibi que o lulopetismo poderá lhe fornecer, no curto-prazo, provocaria forte inquietação nos mercados e, por consequência, abalaria a frente governativa de centro-direita, podendo levar, inclusive, à suspensão das garantias constitucionais (estado de sítio) ou até mesmo a medidas mais graves no caso da ausência de consenso no Estado de como lidar com a crise.
Paradoxalmente, a previsível resistência petista ao “fascismo" pode render bons frutos à nova política, quer em termos do isolamento das oposições na sociedade, quer do alinhamento defensivo do Estado contra a ameaça de caos que ela pode encerrar, abrindo espaços para uma uma reforma política conservadora, inclusive com mudanças constitucionais para restringir o pluralismo político e aumentar a estabilidade governamental (voto distrital puro).
No caso de não se conseguir produzir tal consenso no âmbito do Estado, o prolongamento do cenário caótico, em meio a conflitos de rua entre esquerda e direita, pode assistir ao aparecimento de milícias paramilitares em ambos os extremos, abrindo espaços para a emergência de um inédito movimento fascista no país – cujos braços armados, diga-se de passagem, já se encontram virtualmente constituídos, embora ainda não plenamente politizados.
Neste cenário sombrio (hipotético), tal como na eleição em curso, nos fará falta uma terceira via capaz de suplantar o petismo e impedir, de novo, a vitória da extrema-direita. O problema aqui é que a desorientação da centro-esquerda é ainda mais forte que as perdas parlamentares sofridas pelo PSDB, PPS e Rede, ao fim do primeiro turno das eleições, o que compromete seu protagonismo na oposição – qualquer que seja o resultado do segundo turno.
O antídoto ao perigo que se insinua está numa frente política capaz de enfrentar o virtual desafio do novo bloco histórico autoritário, de extrema-direita, colocando, à semelhança deste, o foco da inclusão na retomada da produção industrial como resposta ao esgotamento da fórmula financista, baseada em consumo e endividamento das famílias, ao mesmo tempo que procura restaurar a governabilidade e preservar a democracia por meio de uma reforma política que racionalize o sistema partidário (representação) por meio de um modelo eleitoral misto, com listas pré-ordenadas, e medidas punitivas efetivas aos partidos cujos representantes se envolvam em crimes tipificados contra o bem público.
Seja como for, é chegada a hora de se enfrentar a crise política e econômica que o oportunismo político e a incompetência intelectual,varreram, desde 1988, para debaixo do tapete.
Não está escrito nas estrelas que o bolsonarismo derivará em fascismo – isto não faz parte da nossa tradição republicana e para tal existem freios conhecidos, embora não infalíveis –, mas é certo que entre as variáveis propícias para tal está a natureza da oposição que se fará ao (provável) novo governo, e, nela, Ciro Gomes se constitui numa esperança de solução democrática. Torçamos para que ele se coloque à altura da tarefa, nesta fase delicada de nossa vida republicana.
FAP renova conselho e lança Revista Política Democrática online
Durante a reunião, realizada no último sábado (20), também foram incorporados representantes da Rede Sustentabilidade
Por Priscila Mendes
A Fundação Astrojildo Pereira elegeu os novos integrantes para a gestão 2018-2020 no último sábado (20), durante Reunião Ordinária e Extraordinária do Conselho Curador, realizada no auditório da Biblioteca Salomão Malina, no Conic.
Além de reeleger o senador Cristovam Buarque como presidente do Conselho Curador e renovar o mandato de alguns dirigentes, a FAP deu um passo importante na aproximação entre a Rede Sustentabilidade e o Partido Popular Socialista (PPS). Foram incorporados ao quadro da Fundação dois novos membros indicados pela direção da Rede, que também são dirigentes da Fundação Rede Brasil Sustentável: o economista Bazileu Alves Margarido Neto, eleito vice-presidente do Conselho Curador, e a antropóloga Jane Villas Boas. Os nomes foram anunciados pelo porta-voz nacional da Rede, Pedro Ivo Batista, que esteve presente à reunião.
Revista
Na ocasião também foi apresentada a versão online da Revista Política Democrática (acima, foto exclusiva da capa da revista), que será lançada ainda nesta semana. O diretor da revista, o embaixador André Amado, explicou como a RPD Online, dotada dos mais modernos recursos de multimídia, será um meio de intervenção nas questões cruciais da agenda política do país.
"A versão online dá continuidade ao projeto da publicação impressa que, desde o começo do século, procura debater política, democracia, esquerda e cultura na conjuntura brasileira. A ideia é, simultaneamente, multiplicar o número de leitores e fazer crescer ainda mais, por meio do mundo digital, a discussão e a repercussão sobre o mundo da política."
COMPOSIÇÃO GESTÃO FAP 2018-2020
PRESIDENTE DE HONRA
* Luiz Verneck Vianna
CONSELHO CURADOR
* Cristovam Buarque (Presidente do Conselho)
* Bazileu Alves Margarido Neto (Vice-Presidente)
* Maria Amélia Enriquez (Sec. Executiva)
* Ana Stela Lima
* André Gomyde Porto
* Any Machado Ortiz
* Carlos Alberto Muller Lima Torres
* Elimar Pinheiro Nascimento
* Hercídia Coelho
* Jane Neves
* Jane Villas Boas
* José Antônio Segatto
* Marco Aurélio Nogueira
* Marcos Vinícius Furtado da Silva Oliveira
* Maria Alice Resende de Carvalho
* Maria Terezinha Carrara Lelis
* Nestor Borba
* Paulo Fábio Dantas Neto
* Pollyana Gama
* Rogério Baptistini Mendes
* Samuel da Silva Pinto
* Sergio José Cavalcanti Buarque
* Sionei Leão
Suplentes
* Indaiá Griebeler Pacheco
* Hamilton Garcia
* Fabiana Arantes de Araújo Mendes
* Guilherme Mendes
* Paulo Santa Rosa
DIRETORIA EXECUTIVA
* Luiz Carlos Azedo (Diretor Geral)
* Lenise Loureiro (Diretora Financeira)
* Alberto Aggio
* Caetano Araujó
* Ciro Gondim Leichsenring
* Luzia Maria Ferreira
* Miguel Ribeiro
CONSELHO FISCAL
* Aldo Pinheiro da Fonseca
* Luciano de Freitas Pinho
* Amilcar Baiardi
Suplentes
* Mauricio Huertas
* Sonia Francine Gaspar Marmo
CONSELHO CONSULTIVO
* George Gurgel de Oliveira (Presidente do Conselho Consultivo)
* Antonio Carlos Máximo
* Antonio Silva Magalhães Ribeiro
* Arlindo Fernandes de Oliveira
* Cléia Schiavo Weyrauch
* Davi Emerich
* Dina Lida Kinoshita
* Eduardo Rocha Silveira Junior
* Gilvan Cavalcante de Melo
* Gisele Louise Serzebelo Correa Santoro
* Inocêncio de Sousa Gorayeb
* João Batista de Andrade
* João Câmara Filho
* José Jorge Tobias de Santana
* José Maria Gomes Monteiro
* Lucília Helena do Carmo Garcêz
* Luis Avelino Lima
* Luiz Sérgio do Nascimento Henriques
* Maria Inês Azevedo de Oliveira
* Martín Cézar Feijó
* Mércio Pereira Gomes
* Paulo Elisiário Nunes
* Paulo Guedes
* Raimundo Jorge Nascimento de Jesus
* Raul Belens Jungmann Pinto
* Renata Eitelwein Bueno
* Sérgio Camps de Morais
* Ulrich Hoffmann
* Vladimir Carvalho da Silva
Maurício Huertas: O Brasil que eu quero e vou buscar em 7 de outubro
O Brasil que eu quero, parodiando a campanha que se encerra na TV, é muito mais justo, colorido, feliz, fraterno, sustentável e igualitário. Tem espaço para as nossas crenças e ideias, para a sua e a minha ideologia e para o livre desejo de viver, cada um como bem entender, respeitando o direito de todos e a múltipla diversidade.
No Brasil que eu quero, como ensinaram na insistente chamada global, o celular devia ficar deitado, mas o povo necessita seguir de pé, firme, altivo, combativo, alerta. Em berço esplêndido, só vai repousar eternamente a nossa história. Porque o dia-a-dia é de luta incessante, travada nas ruas e nas redes sem descanso. É a nossa hora!
No Brasil que eu quero, está liberado o porte de ALMA. Todo cidadão de bem precisa e merece andar AMADO. No Brasil que eu quero, cabe preto, cabe branco e cabe índio. Cabe mulher, cabe homem e cabe aquilo que para mim ainda parece indefinido. Cabem os direitos humanos e os direitos dos bichos.
No Brasil que eu quero cabe tudo e todo mundo, menos o ódio, a intolerância e o preconceito. Porque grita mais alto o orgulho do que cada um é e ainda pode ser, com o devido respeito. Pode ser hétero, pode ser gay, pode ser trans, pode ser ou não ser. Rico ou pobre, jovem ou velho, sulista ou nortista, conservador ou liberal. Pode ser ateu, evangélico, católico, espírita e macumbeiro. Pode querer. Pode não querer. Sim é sim. Não é não.
No Brasil que eu quero, nossos filhos vão à escola. Não vão para o farol pedir esmola. Voam alto nos sonhos de criança, não viram avião do tráfico como única esperança. Tem creche, tem merenda, tem bala e doce, não tem bala perdida. No Brasil que eu quero tem casa, tem emprego, tem segurança e riqueza dividida. Tem praça, tem parque, tem saúde preventiva, médico e hospital para quem precisa.
No Brasil que eu quero a política é a oportunidade da mediação dos interesses, palco de negociação da coisa pública, não o teatro da esperteza interesseira dos oportunistas da República. É a independência dos poderes, que funcionam em harmonia. Não a ladainha dos poderosos, que transformam a democracia em circo, o plenário em picadeiro e a tribuna em rinha. É o espaço para a vocação dos bons, não o despacho para a invocação do mal.
No Brasil que eu quero não precisamos de falsos heróis, salvadores ou profetas. Dispensamos saídas extremistas à direita ou à esquerda. Preferimos a mão dupla, mais acessível, acolhedora, mediadora, equilibrada, ambidestra. O Brasil que eu quero está logo ali no horizonte do dia 7. Está ao alcance do meu e do seu dedo. Pois então que apontemos certo na urna para o Brasil que queremos.
*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente
FAP Entrevista: Ana Stela Lima
A máquina de propaganda do PT, mentirosa e populista, impede que o discurso do centro ganhe aderência nacional, avalia Stela
Por Germano Martiniano
Faltando exatos sete dias para as eleições brasileiras, o Datafolha, na última sexta-feira (28), publicou que Bolsonaro e Haddad seguem na liderança da corrida presidencial e fariam hoje o segundo turno. Ciro estacionou e Alckmin subiu de 8 para 10 pontos percentuais.
Como descreveu Demétrio Magnoli, sociólogo, nesta semana para o jornal A Folha de São Paulo, este quadro em que Haddad enfrentaria Bolsonaro no segundo turno é tudo o que petista quer para desfilar seu discurso a favor da democracia, do multiculturalismo e do assistencialismo aos mais pobres.
Mesmo a sete dias das eleições, Ana Stela Alves de Lima, bancária, presidente do Sindicato dos Bancários de Campinas e dirigente da FAP, ainda acredita que pode haver uma mudança deste quadro polarizado. Stela também disse em entrevista para FAP que o não sucesso do centro político, por enquanto, se dá por conta da propaganda do PT, que faz uma campanha mentirosa.
“A máquina de propaganda do PT, mentirosa e populista, sempre é mais eficiente para apontar problemas e culpados no governo dos outros, vide a questão educação em São Paulo”, disse Stela para FAP Entrevista.
A FAP Entrevista é uma série que está sendo publicada aos domingos e, agora, às quartas-feiras, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
FAP Entrevista - Após essa última pesquisa do Datafolha, pode-se dizer que as chances do centro político chegaram ao fim?
Ana Stela Lima - Não, em uma semana ainda é possível que as coisas mudem, já temos situações como esta em várias eleições.
Demétrio Magnoli, sociólogo, escreveu em seu último artigo que um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro é tudo o que o petista quer, pois poderá usar o discurso da democracia, do multiculturalismo, dos representantes do pobres, por exemplo. Haddad contra Bolsonaro no segundo turno é vitória certa para o PT?
Com esta situação no segundo turno, Haddad e Bolsonaro, a decisão será entre o ruim e o pior. Bolsonaro não é alternativa, o PT é o PT, mas ainda será possível que os partidos de centro exijam compromissos que deem a eles governabilidade em troca da não venezuelizacao.
No que o centro político errou e como reconstruí-lo?
O centro político que está na disputa fez a política certa, mas a máquina de propaganda do PT, mentirosa e populista, sempre é mais eficiente para apontar problemas e culpados no governo dos outros, vide a questão educação em São Paulo.
Haddad prometeu, caso ganhe a eleição, diminuir os spreads bancários. A proposta faz parte do pacote de medidas populistas do governo petista, no entanto, pode levar à redução dos créditos bancários. Como bancária e sindicalista, qual sua visão sobre essa proposta e do modelo assistencialista do PT?
O período de ouro para os banqueiros foi no governo Lula. Nunca o sistema financeiro nacional tinha ganho tanto dinheiro até então. Dilma tentou aumentar a concorrência bancária dando gás aos bancos públicos para oferecerem credito mais barato. Os bancos privados seguraram o crédito e aguardaram acabar o fôlego dos bancos públicos e então tudo voltou ao normal para eles. Pelo que temos visto, os bancos vão baixar os juros e diminuir o spreed bancário por conta da concorrência com as fintechs, das cooperativas de crédito, da retomada econômica, que diminui o risco para eles e da queda da taxa de juros Selic, que os obriga a emprestar para seus clientes ao invés de comprar títulos do governo que são seguros, rentáveis e não exigem esforço.
Como a senhora avalia o modelo nacional desenvolvimentista do PT e do plano econômico de Paulo Guedes para o Brasil?
Modelo desenvolvimentista todo mundo gosta, precisa explicar melhor como não vão continuar quebrando o país. O Paulo Guedes também tem ideias que todos querem para equilibrar as contas do estado. Precisa explicar o que fazer com o povo.
Hoje temos uma vertente da esquerda que se aproxima do liberalismo econômico, que é a favor de um estado regulador e não provedor. O Brasil, com todas suas mazelas sociais, necessita de estado assistencialista?
O estado não pode perpetuar a dependência dos cidadãos. Também neste quesito reformas, que realmente são necessárias, há de se levar em conta os interesses que estão em jogo. A reforma da previdência, por exemplo, se faz necessária porque, entre muitas outras coisas, aumentou a expectativa de vida da população, mas não se pode dar a previdência para os banqueiros cuidarem.
O que a senhora espera do Brasil, como um todo, cidadãos, classe política, empresas e todas nossas organizações para os próximos quatro anos?
Seja como for, tudo está certo. A população terá que aprender a pensar em política de forma mais consciente. Os políticos já estão vendo consequências de mau uso do dinheiro público como nunca se viu. A sociedade enfim está mostrando realmente o que pensa e com isso também vemos o seu lado egoísta e preguiçoso, buscando algum super herói que lhe resolva os problemas. Mas tudo isso já estava aí, faltava escancarar. Acho que podemos sair melhores de tudo isso.
Filmes debatem fatos políticos e históricos no mês das eleições
Programação do Cineclube Vladimir Carvalho vai tratar sobre ditadura chilena, João Goulart, Revolução de 30, campanha de Bill Clinton e Segunda Guerra
Por Cleomar Rosa
Brasil, Chile, Estados Unidos e Polônia serão representados na programação de outubro do Cineclube Vladimir Carvalho, no Espaço Arildo Dória, no Conic, próximo à Rodoviária do Plano Piloto de Brasília (DF). As sessões, realizadas sempre às terças-feiras, seguem o cronograma e a proposta de difusão de conhecimento e cultura da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), mantenedora do cineclube. A entrada é gratuita.
No mês das eleições, os filmes vão tratar de fatos políticos e históricos como a situação política e social chilena na época do ditador Augusto Pinochet, o presidente João Goulart que foi eleito democraticamente e deposto, a Revolução de 30 no Brasil, a campanha presidencial de Bill Clinton e a história de um jovem ligado à frente nacionalista durante a Segunda Guerra Mundial.
O filme NO (Chile) vai abrir a programação no dia 2 de outubro. No dia 9, o público poderá conferir a Revolução de 30 (Brasil). A exibição de Dossiê Jango acontecerá no dia 16, The War Room (Estados Unidos) será a atração do dia 23, enquanto Cinzas e Diamantes (Polônia) vai fechar a lista de filmes exibidos no mês no dia 30. As sessões terão início às 18h30 e, ao final de cada uma, haverá roda de conversa sobre o tema do filme exibido.
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Dirigido por Pablo Larrain, em 2012, o filme NO mostra que, em 1988, no Chile, o governo ditatorial convoca um plebiscito para perguntar se a população apoia os militares. Um militar fica responsável pela campanha do Não, com ideias ousadas para convencer o povo a acabar com o regime militar. O filme tem classificação de 12 anos e 1h58 de duração.
O filme de Larrain tem relação com o episódio de outubro de 1972, que serviu como um marco para o regime militar chileno. Na época, os caminhoneiros paralisaram o país pela primeira vez, protestando contra a autoridade nacional do transporte. A crise econômica impulsionou os militares a depor o então presidente do país, Salvador Allende, um ano depois.
Já Dossiê Jango retrata a situação vivida por João Goulart, presidente eleito no Brasil democraticamente, mas que acabou deposto. O filme traz a questão de sua morte misteriosa à tona e tenta esclarecer fatos obscuros da história do país.
O filme Revolução de 30, dirigido por Sylvio Back, em 1980, no Brasil, é uma colagem de mais de 30 documentários e filmes de ficção dos anos 1920, com cenas inéditas do histórico episódio de destituição do então presidente Washington Luís e de ascensão de Getúlio Vargas ao governo do país. É permitido para pessoas com idade a partir de 14 anos e tem 1h58 de duração.
No caso brasileiro, outubro de 1930 serviu como período de intensas movimentações e mudanças políticas. No dia 24 daquele mês, a junta provisória militar assumiu o comando do país, após depor Washington Luís com apoio de grupos que fizeram incursões armadas no território nacional. Getúlio Vargas assumiu o governo dez dias depois com apoio da junta, que lhe transferiu o poder.
Eleições e Segunda Guerra Mundial
Don Alan Pennebaker é quem dirigiu o documentário The War Room, em 1993, nos Estados Unidos, mostrando como os “generais” George Stephanopoulos e James Carville e seus colaboradores revolucionaram a campanha presidencial de Bill Clinton, em 1992. O grupo articulou uma das grandes viradas políticas americanas. O filme tem 1h36 de duração.
Em outubro de 1992, à véspera da eleição para presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton se encorajou ainda mais, fortalecendo sua imagem perante o seu eleitorado. Ele foi eleito o 42º presidente dos EUA, no dia 3 de novembro daquele ano. Ele recebeu quase 45 milhões de votos, 43% do total. George Bush, que tentava a reeleição, teve 38%.
Já o drama Cinzas e Diamantes, de 1958, e com direção de Andrzej Wajda, mostra a história de um jovem rebelde ligado à frente nacionalista. No último dia da Segunda Guerra Mundial, ele recebe a missão de assassinar um líder comunista. Perturbado pela transformação repentina de aliados em inimigos, o jovem decide aproveitar a vida por uma noite, quando se apaixona por uma garçonete e pensa em desistir da luta.
Com capacidade para 65 lugares, o Cineclube Vladimir Carvalho fica na parte superior do Espaço Arildo Dória, dentro da Biblioteca Salomão Malina – mantida pela Fundação Astrojildo Pereira. Todos os filmes serão exibidos em uma tela de projeção retrátil de 150 polegadas, com imagem de ótima qualidade. Participe!
Hamilton Garcia: Os candidatos e suas estratégias para a superação da crise política
A quinze dias do primeiro turno, faço uma pequena pausa nas reflexões acerca dos desvãos da esquerda ("A que herança renunciamos" e "A evolução da esquerda"), para discutir os projetos que se descortinam nas eleições presidenciais-congressuais que se aproximam visando superar o impasse aberto por um Congresso Nacional dominado por interesses corporativos que ameaçam a própria governabilidade do país.
A crise política que estamos vivenciando tem múltiplos aspectos e determinantes, mas nenhum deles associado ao protagonismo da extrema-direita ou dos militares – pelo menos até aqui. Na verdade, o fenômeno político do bolsonarismo-olavismo e a reemergência do militarismo, fazem parte dos corolários da crise, embora prometam, a partir de agora, ter um papel ativo no jogo armado pelo eleitor em 2019.
Tampouco a crise por vir deriva exclusivamente das características do presidenciável a ser ungido pelas urnas, como alguns analistas insistem em afirmar – geralmente por falta de empatia com algum candidato. Ela afetará a todos – não obstante assuma diferentes contornos e desdobramentos à depender do eleito – e isto por um motivo conhecido. O parlamento a ser eleito, de acordo com as normas conhecidas, num cenário político anômico (gestado nos 13 anos de desmandos do lulopetismo no poder), em presença de uma cultura política não reformada – pautada no favor –, tende a produzir o mesmo efeito político observado desde 2003: uma crescente autonomização do parlamento com base no protagonismo dos “trezentos picaretas”, no qual Lula se apoiou para surfar a onda chinesa das commodities e ressuscitar o mito do “pai dos pobres” – que o PT tanto penou, nos anos 1980-90, para sepultar.
A crise, da qual falo, não tem nada a ver com a refração natural de uma assembleia democrático-pluralista tendente a moderar as exacerbações plebiscitárias da eleição presidencial – como a literatura internacional prescreve nas democracias-liberais avançadas –, mas com um corpo de representantes desnaturados, baseados em partidos majoritariamente esvaziados de significado próprio, que substituem os laços orgânicos com a sociedade por laços mecânicos, por meio da corrupção ativa/passiva e do aparelhamento (debilitante) da máquina pública, tornando-se, assim, incapazes de representar e processar adequadamente as demandas eleitorais.
É sob tal superestrutura que a super-coligação de Alckimin não serve como antídoto para a crise de governança que vivemos, que tende a se desdobrar em ingovernabilidade em face do esgotamento do modelo parasitário (neopatrimonial) de governo. Ao contrário, a solução tucana – na difícil hipótese de chegar ao segundo turno – pode ser vista como mais propensa a agravar a crise dada, justamente, as características de sua coalizão eleitoral, cujos partidos, em sua grande maioria, se nutrem da manipulação irracional do gasto público.
Seu antípoda natural, Haddad – este com chances de chegar à próxima etapa –, atado à “Ideia”, se eleito, será prisioneiro dela sem a margem (desperdiçada) por Dilma, o que tende a colocá-lo no mesmo pântano de Alckimin, embora em termos bem menos orgânicos, dado que seu partido (PT) é de inserção ainda mais recente no sistema neopatrimonial de poder que o PSDB – o que eleva seu pedágio de aceitação, como se viu no Mensalão-Petrolão. Claro, ele poderá enfrentar o "golpismo" da sua "base aliada” com os poderes hipnóticos do Osho (1) petista, no ministério e na mobilização popular, mas, para tal, precisará da ajuda do STJ e do STF – o que pode não ser suficiente para evitar uma crise ainda mais grave.
A novidade em termos do enfrentamento do impasse anunciado está, na verdade, nos outros três candidatos competitivos, Bolsonaro, Ciro e Marina, que apresentam alternativas ainda não testadas para superar o escolho parlamentar do neopatrimonialismo.
Marina, em trajetória cadente mais uma vez, postula a construção de uma frente ampla de forças republicanas vocacionada para enfraquecer o poder do centrão, diminuindo os custos do governo e abrindo brechas para a autorreforma do Estado. Mas, seu ponto fraco foi a falta de protagonismo pré-eleitoral, desperdiçando as oportunidades abertas pelo cismo popular de 2013 para fincar os fundamentos de seu projeto frentista, deixando-se consumir na tarefa endógena de construção da REDE – aparentemente entendida por seu grupo como uma operação não-integrada à luta política geral.
Já Ciro, cerceado pelo mito que ajudou a cultivar, flerta com a ideia do novo bloco histórico dispondo-se a formar coalizões de classe (de caráter desenvolvimentista) articuladas a projetos políticos nacionais, mas, assim como Marina, não soube traduzir este propósito em ação efetiva pré-eleitoral no contexto acima apontado – o que também pode lhe custar caro na disputa pelo segundo turno.
Por fim, Bolsonaro, consolidado em primeiro lugar, exatamente por ter feito seu dever de casa pré-eleitoral, denunciando, desde 2003, a esquerda golpista (bolivariana), os devaneios identitários e a cumplicidade tucana, pretende enfrentar o centrão empunhando a espada de Dâmocles do intervencionismo militar. Ocorre, porém, que esta espada, pode ter dois gumes, como nos mostram os desencontros observados na própria campanha do Capitão depois do atentado por ele sofrido: pode tanto servir para domesticar a bancada fisiológica do congresso, como para podar seu próprio poder em proveito dos generais do Alto Comando Militar. Das candidaturas competitivas, é a dele que apresenta o maior grau de imprevisibilidade – vide o efeito ilusivo de Paulo Guedes sobre o “mercado" –, não obstante ser também aquela que melhor proveito pode tirar do poder dissuasório dos militares, se conseguir apaziguar sua própria retaguarda.
Até que ponto e em qual momento a ingovernabilidade sistêmica, contratada pela ausência de reforma político-eleitoral, vai se apresentar ao candidato vitorioso, não é possível determinar, mas é certo que o fará em algum momento – Ciro fala numa janela de seis meses de sincronismo parlamentar com o Presidente eleito –; naturalmente, a depender do grau de resistência que seu programa encontre na sociedade e no Estado.
O fato, contudo, é que o tempo político foi encurtado pela crise econômica e não há pela frente nada que se assemelhe à bolha econômica providencial do período Lula (2003-2008), muito pelo contrário, como nos mostra a disputa comercial entre EUA e China. Isto faz com que o próximo presidente tenha que jogar suas fichas no curto-prazo, como Ciro tem defendido, torcendo para que elas sejam capazes de neutralizar o poder de veto do parlamento para uma virada em direção a um novo patamar de desenvolvimento que sustente os gastos públicos racionais e os anseios de prosperidade da maioria da população pelo trabalho.
Notas
1 Mestre indiano que, nos anos 1960, desenvolveu, nos EUA, uma técnica de relacionamento com a espiritualidade sem que fosse necessário negar os hábitos e vícios do mundo material, como o sexo livre e o dinheiro; vide <www.nexojornal.com.br/expresso/2018/03/30/Quem-foi-Osho.-E-por-que-est%C3%A3o-fazendo-uma-s%C3%A9rie-sobre-sua-vida> em16/09/18.
2 Universidade Estadual do Norte-Fluminense (Darcy Ribeiro).
Livro de Luiz Sérgio Henriques discute reformismo da esquerda e democracia
Às vésperas das eleições, obra traz análises do contexto político contempladas em artigos publicados pelo autor no jornal Estado de S. Paulo
Por Cleomar Rosa
A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) vai lançar, nesta segunda-feira (24/09), o livro Reformismo de Esquerda e Democracia Política (Verbena Editora), do pensador e integrante do conselho consultivo da instituição Luiz Sérgio Henriques. O evento será realizado, a partir das 18h30, no Restaurante La Fiorentina, em Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ).
A obra, que será lançada em um período de intensa turbulência política e polarizações partidárias no país, reúne artigos publicados por Luiz Sérgio, entre 2010 e 2018, no jornal O Estado de S. Paulo. No livro, o autor explica, com detalhes, o panorama da esquerda ocidental e sua relação com a sociedade brasileira.
Considerado um dos pensadores mais refinados do país, o autor aborda o tema fazendo profundas análises do que é a própria esquerda. Além disso, entre outros pontos, ele mostra a relação dela com aspectos de política e cultura, faz uma leitura a partir da perspectiva socialdemocrata e elenca as aproximações entre Itália e Brasil.
A obra também contempla análises de corrupção e instituições, assim como comportamentos de indignação. “Hoje, a indignação dos jovens – e não tão jovens – merece tornar-se força transformadora e capacidade hegemônica, o que só é possível através de uma democracia renovada por atores comprometidos com um explícito regime de liberdades”, diz um trecho.
Ao longo de 303 páginas, o livro apresenta, ainda, análises críticas sobre a inflação brasileira ao longo de 2014, o comunismo e o PT, assim como ponderações sobre o que o autor chama de “déficit da esquerda.”
Outro ponto fundamental é que o livro discute a Lava Jato, partidos e democracia. “Difícil calcular, ainda, o impacto e o alcance de uma operação como a Lava Jato não só sobre usos e costumes como também sobre o sistema partidário, este elemento central da vida democrática”, diz outro trecho.
Em seu livro, Luiz Sérgio também observa que PT e PMDB “não são agremiações irrelevantes.” Na avaliação dele, o PT “corporificou majoritariamente a ‘nova esquerda’ tal como construída no País redemocratizado”, enquanto o PMDB “constituiu o instrumento decisivo para a derrota do regime militar, manteve capilaridade em todo o território, mesmo depois do desaparecimento de suas lideranças históricas e de sua evidente involução programática.”
Em uma das apresentações da obra, o professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Rubem Barboza Filho destaca que Luiz Sérgio é, além de pensador de esquerda, “um dos mais lúcidos e sofisticados intelectuais brasileiros.” Para ele, a relevância do livro se confirma, sobretudo, pelo momento político no Brasil.
De acordo com Rubem, a esquerda tem o seu “movimento pedagógico, dirigente e criativo” a ponto de ser imprescindível para a democracia, com suas regras, alternância de poder e a grande missão de garantir proteção aos mais fracos “perante um capitalismo globalizado e também impiedoso.”
No prefácio, o professor de Teoria Política e coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marco Aurélio Nogueira, destaca o “estilo precioso” de Luiz Sérgio. Segundo ele, o texto “elegante e provocativo” ajuda o leitor a pensar sobre a cultura atual “em suas inflexões mais à esquerda ou mais liberais, e sobre a política que se desfaz e se refaz por obra da complexidade e da velocidade.”
Luiz Sérgio Henriques também é um dos principais tradutores das obras de Antonio Gramsci no país, edita o site Gramsci e o Brasil e a página Esquerda Democrática (que podem ser acessados em www.gramsci.org e https://www.facebook.com/esqdemocratica, respectivamente).