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Arte de protesto mobiliza jovens de periferia pela preservação da vida, destaca Política Democrática
Reportagem contou mais de 50 movimentos que reúnem a juventude no Distrito Federal
O engajamento de jovens de periferias do Distrito Federal em movimentos socioculturais são o destaque da nona edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira). De acordo com a reportagem, eles têm saído cada vez mais do anonimato e usam poesias, letras de música e outras formas de manifestação político-cultural como “arte de protesto”.
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Os jovens sobreviventes da guerra às periferias se mobilizam, conjuntamente, para fortalecer a maior arma de suas comunidades pela vida: a conscientização. A reportagem destaca que, assim como em outras partes do país, o número de movimentos socioculturais tem aumentado em Brasília e cidades próximas.
Dessa forma, os jovens deixam de ser socialmente invisíveis para travarem uma incessante luta por garantia de direitos. Eles já não se perdem nos números dos mais diversos levantamentos, que, às vezes, até se contradizem por conta das distintas fontes de dados, embora sejam importantes para a definição e a melhoria de políticas públicas. Cada vez mais, eles têm saído do anonimato para ocupar ruas, praças, parques e regiões centrais das cidades e mostrar suas artes. Só no Distrito Federal, há mais de 50 movimentos que reúnem jovens de periferia, conforme apurou a reportagem.
“Na escola, ainda criança, já era xingada por causa do meu cabelo. Por isso, passei a escovar a franja e enchê-lo de creme para não ficar alto. Me chamavam de bombril. O bullying e o racismo são muito perversos, mas o empoderamento veio com o tempo”, afirma a assistente social Luana Rocha de Queiroz, de 22 anos, conhecida como Nega Lu.
Para o estudante Werick Heslei Pereira da Silva, de 20, é preciso vencer o estigma de que “ser da periferia é feio”. “A periferia é muito rica. O samba veio da periferia e a capoeira ganha força no contexto de pessoas marginalizadas. A guerra pintada contra a periferia reforça uma face cruel do poder simbólico. A burguesia acha que quem é da periferia tem que limpar chão e não pode ascender na vida, mas não é assim”, diz ele.
A poesia como protesto chega de repente para a balconista de padaria Naiara de Jesus Barbosa, de 27 anos, conhecida como Araian Poeta. “O que me inspira é minha visão sobre a realidade, o sentimento do momento, como revolta, amor, aflição, tristeza. Ultimamente, estou sentindo mais revolta porque cada notícia é gritante”, afirma.
O estudante João Vitor Brito Araújo, de 20, diz que seus sonhos são o impulso para usar a arte como manifestação. “É preciso viver com sonhos. Meu maior sonho é dar uma casa para a minha mãe, mais conforto pra ela. E conseguir ter o conforto que mereço com a minha arte. Quero pelo menos ter sossego onde moro”, acentua.
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Em entrevista exclusiva à revista produzida e editada pela FAP, antropólogo cita Mensalão e Lava Jato
Medidas como a mudança proposta pelo presidente Jair Bolsonaro sobre a aquisição e o porte de armas, entre outras, beneficiam “criminosos profissionais” em detrimento do cidadão comum. A crítica é do antropólogo Roberto Kant de Lima, em entrevista à nona edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira).
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Lima é coordenador do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Administração Institucional de Conflitos (NEPEAC/PROPPI/UFF), e membro da Academia Brasileira de Ciência (ABC) – que há cerca de 20 anos faz pesquisa de campo em instituições judiciárias e policiais do Brasil e dos Estados Unidos.
Para ele, o decreto que está no Congresso vai fortalecer a ideia de um poder não institucional. “Trata-se, no fundo, de legalizar uma situação que, pelas leis atuais, ainda é considerada de competência federal. E, portanto, ainda sujeita a certos controles, como considerar ilegal a posse e o porte de arma sem licença. Isso poderá não ser mais possível no futuro. E quem tem mais interesse nisso não são os ‘cidadãos de bem’, mas criminosos profissionais”, completa.
A partir do Mensalão, de acordo com o antropólogo, houve uma primeira tentativa de estender o poder de punição às classes mais favorecidas. “Mediante um trabalho hercúleo, o ministro Joaquim Barbosa deixou claro ser possível tratar de punição no nível do Supremo Tribunal Federal como instância de instrução do processo”, afirma. “O desafio era fazer frente ao grande problema da prerrogativa de função, privilégio no qual se confunde o funcionamento da instrução judicial na primeira instância – interrogatório de réus e testemunhas, perícias etc. – com o exame de recursos da segunda instância e de instâncias superiores”, diz.
Já a Lava Jato é, em grande medida, segundo o pesquisador, questionada por conta dos defeitos constantes de inquéritos policiais, que permitem muitas vezes anulações e prescrições de processos criminais. “A lerdeza do andamento ordinário dos processos, da primeira instância às instâncias superiores, também abre a possibilidade de interferências seguidas nos processos, até sua conclusão pela autoridade do juiz/juízes”, analisa. “O processo penal desconfia do acordo entre as partes, e diz a doutrina que mesmo que as partes estejam de acordo, o juiz pode continuar pesquisando, para descobrir a verdade real”, continua.
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Caetano Araújo avalia perspectivas do Cidadania na sociedade
Análise de sociólogo foi publicada na oitava edição da revista Política Democrática online
Há um novo partido na política brasileira, segundo o sociólogo e consultor legislativo do Senado Caetano Araújo, em artigo publicado na oitava edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira). “Nos últimos meses, o Partido Popular Socialista deu a largada no rumo de sua própria transformação, num processo que pretende, ao mesmo tempo, maior pluralidade interna e maior convergência política”.
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De acordo com o autor, de um lado, há o propósito de abrir-se para os novos movimentos da sociedade, de caminhar na direção de uma maior diversidade política dos seus filiados. “Ao mesmo tempo, também está manifesta a intenção da convergência política, o propósito de definir os pontos centrais de uma agenda transformadora, com capacidade de congregar a todos”, avalia.
Araúo diz que, hoje, dois congressos depois do início do processo, a composição do partido continua a se ampliar, o nome já é outro, Cidadania, e está prevista, até o final de 2019, a definição dos pontos fundamentais do programa e do estatuto da nova sigla. “Esse será o debate fundamental. Há espaço na sociedade brasileira para um partido com o histórico, o projeto e os objetivos do Cidadania? Qual é esse espaço? Se esse espaço existe, o que fazer para ocupá-lo?”, questiona o consultor legislativo do Senado.
A resposta a essas e outras perguntas, segundo ele, fará a diferença entre mais uma sigla no quadro partidário e um partido de peso, representante de uma corrente de opinião importante no país. “A questão da integração na nova ordem mundial, que separa integracionistas ou cosmopolitas de isolacionistas, mostra-se fundamental em cada enfrentamento político ou eleitoral, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, afirma, em outro trecho.
Estão em jogo, conforme avalia o sociólogo, o alcance dos organismos de regulação internacional e a participação neles; os processos de integração regional; e a política adequada face aos fenômenos da migração e dos refugiados. “Por diversos caminhos, dos quais o mais premente é a mudança climática, corremos o risco permanente de uma catástrofe ambiental e o enfrentamento político dessa questão divide, no mundo inteiro, sustentabilistas e negacionistas. A questão central aqui é a mudança da economia mundial, na direção de fontes de energia renováveis, em substituição ao petróleo e o carvão”.
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Ambivalência das instituições militares impõe problemas para o Estado de Direito Democrático, diz José Antônio Segatto
Professor da Unesp afirma que faz análise histórica a partir de declaração de Bolsonaro
A percepção do poder e da política impregnou até o âmago a cultura e a práxis das corporações militares e é ressuscitada em determinados momentos e circunstâncias, afirma o professor titular de Sociologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) José Antônio Segatto. Em artigo na revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), ele diz que “a natureza transigente e ambivalente das instituições militares, renovadas ao longo do tempo, coloca inúmeros problemas para o Estado de Direito Democrático”.
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De acordo com o autor, o pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro – em cerimônia do Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio de Janeiro, em 7 de março –, advertindo que “democracia e liberdade só existem quando as respectivas Forças Armadas assim o querem”, não foi um lapso; muito menos uma casualidade do improviso. “Remonta ao final do século XIX, com a incorporação de noções como ordem e progresso, soldado, cidadão e ditadura republicana”.
Animadas por elas, conforme Segatto, derrubaram o Império de um só golpe, como se fosse uma parada, à qual o povo assistiu bestializado e que, no dizer de Aristides Lobo, implantaram a República e governaram o país por um quinquênio. “Foi reatualizada nos anos 1920 pelo movimento tenentista – levante do Forte de Copacabana em 1922, revolta em São Paulo em 1924 e Coluna Prestes em 1925/26 –, embasada na tese de que, quando governantes não estivessem cumprindo a lei ou fossem incapazes de manter a ordem, competiria às Forças Armadas intervir e depor o governo, mesmo que legitimamente constituído”, escreve.
Agregada, a tal concepção situava-se em outra, a dos militares como salvadores da pátria, já que o povo – ignaro, amorfo, sem consciência – não tinha condições de lutar e vencer as injustiças, a corrupção e os desmandos das oligarquias. “Na década seguinte, esses postulados e posturas ganharam versão mais acabada por meio de formulações do general Góes Monteiro”, afirma.
“Sem dissimular seu desprezo pela política e pelos políticos, pelos partidos e pelas eleições, pelo liberalismo e pelas instituições de representação, ele elaborou uma doutrina de defesa externa e segurança interna, calcada na ordem e na paz social, no nacional-estatismo e no desenvolvimento desde cima, no Estado centralizado e autoritário, sob a tutela dos militares ou, mais especificamente, do Exército”, diz.
Esse projeto, de acordo com o professor da Unesp, foi complementado pela Doutrina de Segurança Nacional – forjada na lógica da Guerra Fria e incubada na Escola Superior de Guerra (ESG, 1949) – e informou a intervenção política dos militares nas cinco décadas posteriores. Em 1937 – após o expurgo de militares nacionalistas e/ou de esquerda.
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Eneida de Queiroz escreve sobre paraense homenageada em clube de leitura da FAP
Historiadora aborda importância de jornalista e militante política para o país
A historiadora do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), romancista e youtuber Eneida de Queiroz analisa a importância de a Biblioteca Salomão Malina, da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), abrir um clube de leitura em homenagem à Eneida de Moraes, paraense jornalista, escritora, militante política e pesquisadora brasileira. “Tenho certeza de que ela desejaria uma atmosfera alegre e um lugar de mulheres falando alto, sem medo, impondo a voz e o que pensam”, afirma a autora, em artigo na oitava edição da revista Política Democrática online.
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A seguir, leia trechos do artigo de Eneida de Queiroz:
Acredito que os nomes perseguem seus donos. Não apenas seus significados etimológicos, mas também a carga histórica que carregam. Diz Machado de Assis que Capitu é nome de mulher tão magnética, que chega a ser descrita com olhos de ressaca, prontos para te dragar e afogar, exatamente como morreu seu suposto amante Escobar: afogado no mar do Flamengo.
Se você é desses que apreciam nomes indígenas, cuidado com o Moacir que sonha para seu pequeno, pois em tupi quer dizer “filho do sofrimento” ou “o que faz sofrer”, informação de José de Alencar, em seu romance Iracema.
Moacir foi o filho que a bela índia teve com o português Martin. Uma riqueza que ela pariu e morreu e que Martin levou consigo para Portugal. Alguma analogia com as riquezas do novo mundo levadas à Europa? Pois reparem que Iracema nunca foi nome indígena e nada mais é que um acrônimo de América... Qual desavisado desejaria dizer que seu filho é “o que faz sofrer”? O meu nome é Eneida.
E não sou uma senhora de idade: não faz muito tempo era só uma criança tendo que lidar com esse nome ao lado de tantas Priscilas, Julianas e Marianas. Aos nove anos, ao ser perguntada por um novo coleguinha como me chamava: respondi. E o menino perguntou: é sério? Eu poderia dizer que meu nome é a mitológica fundação da civilização latina. Eu poderia falar da Guerra de Tróia, de como os gregos massacraram aquele povo, da bravura de Heitor morrendo para defender a existência de seus conterrâneos.
O mesmo Heitor que antes de morrer entrega a espada de Tróia ao guerreiro Enéias, dizendo-lhe para fugir com ela e contar a todos o que aconteceu ali. Toda a longa saga de Enéias, suas aventuras para permanecer vivo e casar com Lavínia, a filha do rei Latino, da região do Lácio (atual Itália): chama-se Eneida. Enéias aparece na Ilíada de Homero, mas é na Eneida, poema de Virgílio, que sai glorificado como o fundador da civilização latina, pois seus descendentes mitologicamente fundariam Roma, nas figuras dos gêmeos Rômulo e Remo. E por falar em Lácio, o nosso português é, segundo poema de Camões, a última flor do Lácio. Como se vê, nós somos todos frutos da Eneida.
Só isso me bastava para calar qualquer Lucas ou Gustavo que propusesse zombar do meu nome. Mas eu só tinha nove anos e respondi: é sério sim... Afinal, nunca foi por Enéias, Tróia, Grécia ou Roma que meu pai escolheu meu nome. Ele me explicou uma vez, tentando me mostrar a beleza da razão do nome, quem foi a Eneida original da homenagem feita: uma escritora paraense.
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Conservar Floresta Amazônica é essencial para o agronegócio, diz Guilherme Accioly à Política Democrática online
Em artigo publicado na revista da FAP, economista faz alerta sobre investidas da bancada ruralista no Congresso Nacional
Cleomar Almeida
O economista Guilherme Accioly diz que o agronegócio é fundamental para a economia brasileira. Segundo ele, o setor contribui com cerca de 24% no PIB, gera um em três empregos e é responsável por quase metade das exportações brasileiras. “Somos uma potência no setor. Entretanto, todo esse sucesso pode vir a ser destruído com a participação decisiva de representantes do agronegócio no Congresso Nacional”, afirma ele.
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Em artigo publicado na oitava edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania, o economista ressalta que diversas iniciativas em curso visam a diminuir o arcabouço legal da proteção ambiental no tocante ao desmatamento, em especial o da floresta amazônica. Ele, que trabalhou por 37 anos no BNDES, dez deles no Fundo Amazônia, entende que a proteção dos demais biomas é também fundamental, mas a maior floresta tropical do mundo é insubstituível por diversos motivos, um em particular.
“É simples. A agricultura. Desde que o mundo é mundo, depende essencialmente de dois fatores: terra e água. Pode-se produzir, com baixa produtividade, sem tecnologias avançadas, sem sementes aprimoradas, sem maquinário”, assinala. “Sem água e terra, não há produção agropecuária. No limite, até sem terra é possível (aquicultura, produção hidropônica), mas sem água, não dá. Ocorre que boa parte da água que irriga o agronegócio no Centro-oeste, Sul e Sudeste se origina na Floresta Amazônica”.
O autor também destaca que a umidade chega do oceano, no Caribe, soprada pelos ventos alísios, vem se renovando pelo ciclo chuva/transpiração das árvores, é refletida na Cordilheira dos Andes e carregada pela atmosfera para aquelas regiões, principais produtoras agropecuárias brasileiras. “Não é pouca coisa. O volume de água que chega às principais regiões produtoras por meio desse fenômeno é equivalente à vazão do Rio Amazonas, o maior do mundo. Sem a floresta, o agronegócio fica sem água, se inviabiliza (as cidades, também)”, diz.
O eventual aumento na produção decorrente da utilização de áreas a serem desmatadas não chega perto da perda pela provável seca, que afetaria inclusive essas mesmas áreas desmatadas.
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Hostilidade como procedimento é método de governo, afirma Marco Aurélio Nogueira em artigo na Política Democrática online
Para professor da Unesp, em 2018, correntes democráticas e de esquerda privilegiaram mais as diferenças entre elas e deixaram campo aberto para a ascensão vitoriosa da extrema-direita
Cleomar Almeida
Uma República democrática não pode vicejar em meio a impropérios oficiais e oficiosos que superpõem o perfunctório ao importante, o contingencial ao fundamental, as miudezas aos grandes planos estratégicos, o bate-boca nas redes às batalhas cívicas pelas reformas indispensáveis. É o que diz o professor titular de Teoria Política da UNESP (Universidade Estadual Paulista), Marco Aurélio Nogueira, em artigo publicado na oitava edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania.
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Nogueira foi diretor do Ippri (Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais) da Unesp (2011-2015), em São Paulo. Atualmente, coordena o Neai (Núcleo de Estudos e Análises Internacionais), vinculado ao Instituto. Ele é também colunista do Estadão.
“Uma República democrática com uma democracia sacudida por frêmitos e arroubos autoritários, pelo desgoverno, pela má qualidade da representação parlamentar e pelo funcionamento errático do Poder Judiciário só pode sobreviver aos solavancos, sem conseguir ganhar estabilidade”, afirma, para acrescentar: “Em um quadro com tais características, nenhum governo consegue governar”.
A hostilidade como procedimento é um método de governo, de acordo com o autor. “Cria crises e inimigos para a eles atribuir as dificuldades do governo e, ao mesmo tempo, para agregar sua base mais fanatizada. `Estou tentando, cumpro o prometido, mas o sistema não me deixa governar´, repete o presidente em seu mantra”, observa o professor da Unesp.
A culpa seria sempre da “velha política”, como ironiza o autor. De acordo com ele, em 2018, no Brasil, com o sistema político abrindo falência e a sociedade mostrando claro apetite anti-establishment e a situação econômica em franca piora, as correntes democráticas e de esquerda privilegiaram mais as diferenças entre elas e deixaram campo aberto para a ascensão vitoriosa da extrema-direita.
“Mostraram incompetência e ausência de visão estratégica. Algumas seguiram a carreira solo para buscar autoafirmação, outras, para tentar conter o desgaste, outras ainda para perseguir uma revanche redentora”, analisa Nogueira. Cada uma a seu modo, avalia, prepararam o terreno para a eleição de Jair Bolsonaro, sem conseguir compreender as razões de sua progressiva afirmação.
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Nossa era é a dos conflitos ‘localizados’, diz Ronaldo Sandenberg à Política Democrática online
Em artigo na revista da FAP, embaixador aposentado avalia importância da ONU para relações diplomáticas
Cleomar Almeida
Para uma geração inteira de diplomatas brasileiros, a ONU, apesar de suas deficiências, é o mais avançado instrumento mundial para promover e salvar a concórdia e a paz entre os Estados. A avaliação é do embaixador aposentado Ronaldo Sandenberg, em artigo publicado na oitava edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania.
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Sandenberg chefiou as embaixadas em Moscou e Madri e, por duas vezes, a missão do Brasil junto às Nações Unidas. Ele presidiu o Conselho de Segurança da ONU, onde representou o Brasil em duas ocasiões. No governo de Fernando Henrique Cardoso, assumiu a chefia da Secretaria de Assuntos Estratégicos e foi, também, ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação. Além disso, presidiu, por dois mandatos seguidos, a (Anatel) Agência Nacional de Telecomunicações.
“Nossa era é a de conflitos “localizados”, intervencionismo militar, fracassos no campo das negociações sobre armas nucleares e químicas, bem como de instabilidade econômica, migrações em massa, destruição do meio ambiente e perduração da crise social em grande parte do planeta”, escreve, em um trecho.
De acordo com o embaixador aposentado, pode-se sugerir que a ONU seja um caso muito especial, o de um “organismo vivo” que reage às mutações da cena internacional. “Havendo a Carta da ONU fixado o sentido e os próprios limites do sistema internacional, seria lícito esperar que, ao findar a Guerra Fria, a organização houvesse passado a servir de base e inspiração para o aperfeiçoamento da estrutura das relações internacionais, o que, na prática, não ocorreu”, observa ele.
A diplomacia hoje mudou, segundo o autor, por interessar aos mais variados setores do governo, da sociedade e da economia. “Sem exagero, a diplomacia compõe a primeira linha de defesa externa do País, num mundo em mutação, e pode, por seu turno, promover os avanços internacionais. Salvo em certos recantos, não mais está em moda a utilização de meios militares para solucionar as crises. A cena internacional se baseia numa sólida tendência que privilegia as soluções negociadas.”
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Política Democrática destaca dez anos do programa Minha Casa, Minha Vida
Reportagem especial da oitava edição da revista mostra que famílias têm o desafio de encontrarem alternativas para saírem do endividamento
Cleomar Almeida
Os dez anos do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, e o endividamento das famílias ao financiarem créditos para realizarem o sonho da casa própria são destaques da reportagem especial da oitava edição da revista Política Democrática online. Produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), a publicação mostra que, em uma década, o programa serviu de base para financiar R$ 263,6 bilhões, de acordo com o Ministério de Desenvolvimento Regional.
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Apenas no ano passado, o valor financiado foi de R$ 39,2 bilhões, o que equivale a 15% do total da série histórica, conforme mostra a reportagem. A pasta passou a controlar neste ano a divulgação de dados sobre o programa com financiamentos da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil e não repassou informações sobre inadimplentes.
Ao lançar o programa, de acordo com a reportagem, o governo Lula tinha como meta reduzir o déficit habitacional no país, que, em 2009, era calculado em 5,7 milhões de domicílios pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No ano passado, a Caixa informou que 14,7 milhões de pessoas, 7% da população brasileira, compraram um imóvel pelo programa.
Em abril deste ano, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse à imprensa que o banco tem 70 mil imóveis devolvidos, já que os então proprietários, ao se mudarem, tiveram de passar a pagar por serviços básicos em condomínios, por exemplo. Isso fez com que o valor das dívidas aumentasse. O balanço do banco já registrou perdas de, ao menos, R$ 2,8 bilhões, com a inadimplência do Minha Casa, Minha Vida.
Por outro lado, em três anos, o número de imóveis leiloados pela Caixa saltou 115%, passando de 13.134 unidades, em 2015, para 28.291, em 2017. Procurado pela reportagem, o banco não apresentou dados mais recentes nem se pronunciou sobre o tema. Até o ano passado, porém, a instituição financeira informava que via como “natural” a renegociação de dívidas em atraso e que tentava várias possibilidades para facilitar o pagamento por parte dos devedores.
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Em entrevista exclusiva, presidente do Insper faz alerta a agentes econômicos
A reforma da Previdência proposta é importante para estancar a sangria, mas não gerará nenhuma economia, nenhum alívio fiscal, nem mais dinheiro para se investir, por exemplo, em educação. A avaliação é do presidente do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), o economista Marcos Lisboa. Em entrevista à oitava edição da revista Política Democrática online, ele diz que a retomada do investimento, medida fundamental para que a economia saia da letargia em que se encontra, exige que os agentes econômicos enxerguem o mapa da reconstrução do ambiente institucional e econômico.
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Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do governo Lula, nos anos 2003 a 2005, Lisboa exerceu a função de diretor-executivo e vice-presidente do Itaú Unibanco até 2010. Ele também é colunista da Folha de S. Paulo. Em 2010, conquistou o prêmio “Economista do Ano”, concedido pela Ordem dos Economistas do Brasil.
“Não consigo visualizar o país crescendo de forma sustentável mais que 1% ao ano, um pouquinho mais, um pouquinho menos”, afirma. Segundo ele, o Brasil crescerá em cima da inflação. “Vai faltar energia. Não, não haverá investimento diante da desconfiança crescente em relação a um país que se está tornando hostil ao setor privado. Dinheiro até tem para comprar coisas que estão prontas; para construir novas coisas, não”, acrescenta.
Para Marcos Lisboa, na situação conjuntural e estrutural em que a economia brasileira se encontra hoje, o crescimento potencial cairá para algo em torno de 1%. Mas ele não se considera o “pessimista de plantão”, mas diz que que “alguns setores viveram um otimismo que desconsiderava a falta de uma agenda organizada”. Em outro trecho, ele afirma que o problema estrutural do Brasil foi uma degradação institucional ao longo de muito tempo, sobretudo na última década, quando se registrou retrocesso imenso em todos os sistemas.
Além disso, de acordo com o economista, “a corrupção é o efeito colateral desse Estado grande que a gente voltou a ter, não para fazer política social, não para fazer política de educação, não para investir em ciência e tecnologia, mas o Estado grande para se ficar rico”. Ele lembra que isso já ocorreu no passado. “E não aprendemos. No que deu o projeto Geisel, nos anos 70? Na crise dos 80 e começo dos anos 90: fechou-se a economia, achou-se que construindo fabricas, produzindo internamente, o país ficaria rico. Só que se perdeu o controle do gasto público”.
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Com design mais moderno e interativo, revista da FAP busca melhoria da qualidade de conteúdo oferecido ao público de graça
Cleomar Almeida
Comprometida com a melhoria da qualidade de seu trabalho disponibilizado ao público gratuitamente, a FAP (Fundação Astrojildo Pereira) lançou, nesta quinta-feira (27), a oitava edição da revista Política Democrática online. Neste mês, a publicação estreia o seu novo projeto gráfico – mais moderno e interativo com o propósito de valorizar o design de imagens e textos –, destacando entrevista com o economista Marcos Lisboa, do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa). Para ele a proposta da reforma da Previdência é importante para estancar a sangria, mas, conforme avalia, não gerará economia nem alívio fiscal.
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Com design mais arrojado e harmônico, o novo projeto gráfico da Política Democrática online representa um marco da evolução da sua qualidade em todos os formatos de conteúdo. Visualmente, o leitor já perceberá nítida diferença no uso de cores e outros elementos gráficos que poderão tornar a leitura mais leve e equilibrada. De acordo com a direção da FAP, a revista continuará oferecendo conteúdo e altíssima qualidade ao público, principalmente com análises do contexto político brasileiro e em defesa de garantia de direitos, além de uma grande reportagem especial sobre assunto atual, relevante e de interesse público.
Na entrevista, que é destaque desta edição, o economista e presidente do Insper analisa que, na situação conjuntural e estrutural em que a economia brasileira se encontra hoje, o crescimento potencial cairá para algo em torno de 1%. No entanto, ele não se considera o “pessimista de plantão” e diz que que “alguns setores viveram um otimismo que desconsiderava a falta de uma agenda organizada”.
Os dez anos de lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, é tema da reportagem especial desta edição. Com o título “Sonho da casa própria transforma vida de famílias endividadas em pesadelo”, a reportagem detalha como os brasileiros que recorreram ao financiamento da moradia têm de encontrar alternativas em meio à crise econômica que assola o país.
Desde o seu lançamento, o Minha Casa, Minha Vida serviu como base de financiamento de R$ 263,6 bilhões até maio deste ano, de acordo com o Ministério de Desenvolvimento Regional. Apenas no ano passado, o valor financiado foi de R$ 39,2 bilhões, o que equivale a 15% do total da série histórica. A pasta passou a controlar neste ano a divulgação de dados sobre o programa com financiamentos da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil e não repassou informações sobre inadimplentes, segundo a reportagem.
Já o editorial, que leva o título “A estratégia do desmonte e as trincheiras da resistência”, aponta que a agenda governamental mostrou duas faces diferentes, em cinco meses do governo do presidente Jair Bolsonaro. “Há, de um lado, uma agenda econômica, com suas reformas, que padece, até agora, da incompetência política do governo. De outro lado, uma agenda retrógrada que tem por objetivo declarado o retorno a um passado não muito distante, nos campos do meio ambiente, da mobilidade urbana, dos costumes, além da sustentação e fortalecimento das hierarquias de gênero, classe e raça”, diz um trecho.
A edição também contempla uma charge do ilustrador JCaesar e outros oito artigos sobre meio ambiente e agronegócio, diplomacia mundial, literatura. Dirigida por André Amado e editada por Paulo Jacinto, a revista também tem, em seu conselho editorial, os seguintes nomes: Alberto Aggio, Caetano Araújo, Francisco Almeida, Luiz Sérgio Henriques e Maria Alice Resende de Carvalho.
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Autores contam suas histórias no lançamento do Clube de Leitura Eneida de Moraes
Realizado pela FAP, evento no Espaço Arildo Dória, conjugado com a Biblioteca Salomão Malina, teve participação do público e entrada gratuita
Cleomar Almeida
“Desde criança, eu inventava histórias. Plantava feijões na minha infância e cada um deles tinha um nome”, disse a romancista e historiadora Eneida Queiroz. “Hoje sou historiadora, leio mais livro de pesquisa do que romance. No entanto, sou mais romancista”, afirmou ela.
Ao lado de outros três autores, a escritora participou do lançamento do Clube de Leitura Eneida de Moraes, criado em homenagem à escritora, jornalista, militante e pesquisadora paraense que viveu de 1904 a 1971. O evento foi realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), no Espaço Arildo Dória, localizado em cima da Biblioteca Salomão Malina, no Conic, em Brasília.
Com transmissão ao vivo pela sua página no Facebook, a FAP mostrou a participação do público no evento, em interação com os autores que contaram suas histórias e as motivações para serem leitores e escritores de obras literárias.
A historiadora e romancista Eneida de Queiroz é autora de livros, entre os quais Úmida Trama e A Mulher e a Casa. Já o jornalista Rubens Valente, que escreveu livros como Os Fuzis e as Flechas, destacou a importância da leitura inicial para criar o hábito. “Comparo a literatura com [a prática de] andar de bicicleta. Tenho muita crítica a quem ataca leitor de youtuber. Melhor quem lê youtuber do que não está lendo nada. É como andar de bicicleta. Você vai aprendendo e aprimorando”, afirmou ele.
“As grandes alegrias da minha profissão estão nos livros. Com os livros, abri portas que nunca imaginava”, disse Valente. Ele tem trabalhos também sobre os índios na ditadura.
Imigrante libanesa, editorialista do jornal Correio Braziliense e ex-professora do Instituto Rio Branco, a escritora Dad Squarasi, autora de livros como Dicas da Dad e a Arte de Escrever Bem, também compareceu ao lançamento do clube de leitura.
“Quando cheguei ao Brasil, falava árabe, francês e espanhol. Foi fácil aprender português. Lia qualquer coisa, em qualquer ordem. Interrompia leitura, lia revista, jornal. Tinha muito gosto pelas letras e os professores sempre achavam que eu escrevia bem. Ganhei minha vida na área da escrita”, disse Dad, destacando sua trajetória até a chegada ao território nacional.
O escritor alagoano Daniel Barros, referência em romance policial e escritor dos livros Canto Escuro, Enterro sem Defunto e Enquanto a Noite Durar, compareceu ao evento e disse como foi conquistado pelo hábito de escrever. “Meu gosto por escrever foi por conta de histórias que ouvia na infância”, lembrou.
A mesa de conversa dos autores teve a mediação do produtor cultural Paulo Souza, responsável pelo perfil no Instagram Ponto para Ler, mesmo nome de um canal voltado para a divulgação da literatura. “Um clube de leitura no coração de Brasília é um motivo pelo qual devemos estar muito felizes. Acredito que viver este momento, ver o Conic sair das cinzas, é um privilégio para poucos”, disse. Ele ressaltou que o clube de leitura é uma aposta para resgatar a movimentação cultural no centro da capital federal.