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RPD || Dora Kaufman: Transformação digital acelerada é desafio crucial
Qualificação e requalificação dos profissionais em razão do avanço acelerado das tecnologias são necessárias para evitar o cenário de desemprego em massa e aumento da desigualdade
A crise socioeconômica provocada pela Covid-19 tornou visível a premência da sociedade em enfrentar desafios cruciais. As mudanças na prática de negócios, provavelmente, consolidarão formas totalmente novas de trabalhar. As primeiras evidências sugerem que os empregadores devem acelerar a automação, ampliando a possibilidade de uma “recuperação sem empregos”. Além do deslocamento do mercado de trabalho, em paralelo emerge uma inédita forma de relacionamento ‘homem-máquina’ que demanda novas habilidades dos profissionais.
Documentos de políticas públicas de distintos países contemplam o desenvolvimento de habilidades como estratégico. O profissional do futuro irá lidar com questões complexas e multidisciplinares que requerem, além de conhecimentos técnicos, habilidades de lógica, análise crítica, empatia, comunicação e design. É um equívoco, amplamente difundido, considerar a automação ameaça apenas aos trabalhadores com baixa qualificação, que tendem a desempenhar tarefas rotineiras e repetitivas. Na verdade, o avanço acelerado das tecnologias – particularmente os algoritmos preditivos de inteligência artificial – substituirá igualmente as funções cognitivas. A qualificação e requalificação dos profissionais é crítica para evitar o cenário de desemprego em massa e aumento da desigualdade.
Relatório do Fórum Econômico Mundial (“Relatório”), publicado em 21 outubro 2020, analisa o cenário atual do trabalho impactado por “dupla interrupção”: a pandemia causada pela Covid-19 e o avanço da automação. Seu pressuposto é que o desenvolvimento e o aprimoramento das habilidades e capacidades humanas por meio da educação e aprendizagem são os principais motores do sucesso econômico, do bem-estar individual e da coesão social. A escassez de habilidades e de competências compromete a capacidade das empresas de aproveitar o potencial de crescimento proporcionado pelas novas tecnologias.
Principais conclusões do Relatório: a) o ritmo de adoção das tecnologias deve se acelerar em algumas áreas; b) a adoção de novas tecnologias pelas empresas transformará tarefas, empregos e habilidades até 2025, e 43% das empresas pesquisadas indicam redução da força de trabalho devido à integração de tecnologias; c) as lacunas de competências continuam a ser altas: em 2025, 44% das habilidades que os funcionários precisarão para desempenhar suas funções com eficácia serão alteradas; d) mais de um quarto dos empregadores espera reduzir temporariamente sua força de trabalho, e um em cada cinco espera fazê-lo permanentemente; e) na próxima década, uma parcela não desprezível dos empregos recém-criados será em ocupações totalmente novas, ou ocupações existentes com conteúdos e requisitos de competências transformados; e (f) na ausência de esforços proativos, a desigualdade provavelmente será exacerbada. O setor público precisa fornecer apoio mais forte para a qualificação e a requalificação de trabalhadores em risco ou deslocados.
A atuação do Fórum é respaldada localmente pelas políticas públicas dos países. Nos EUA, por exemplo, o governo convocou o setor privado a se comprometer com a qualificação/requalificação de sua força de trabalho por meio do Pledge to America’s Workers: mais de 415 empresas do setor privado já se comprometeram com 14,5 milhões de oportunidades de aprimoramento de carreira nos próximos cinco anos. No final de 2019, a França criou uma conta de competências individuais com uma aplicação móvel dedicada à formação profissional e aprendizagem ao longo da vida. Sob a “moncompteformation.gouv.fr”, 28 milhões de trabalhadores elegíveis em tempo integral e parcial receberão € 500 anualmente diretamente em sua conta para gastar em qualificação e aprendizagem contínua, com trabalhadores pouco qualificados e aqueles com necessidades especiais recebendo até € 800 anualmente. Cingapura, recentemente, complementou sua pioneira Iniciativa do Futuro de Competências com a implantação do Pacote de Suporte de Treinamento Aprimorado (ETSP), para apoiar trabalhadores e organizações em investimentos sustentáveis em requalificação e qualificação durante a Covid-19.
No Brasil, carecemos de política pública e de ecossistemas favoráveis. Uma das consequências disso é a convivência de alta taxa de desemprego com número crescente de vagas em aberto por falta de profissionais qualificados. Algo precisa ser feito, e com urgência.
*Doutora em Mídias Digitais pela USP, pós-doutora pela COPPE-UFRJ e pesquisadora dos impactos sociais de Inteligência Artificial em seu pós-doutorado no Centro de Tecnologias da da Inteligência e Design Digital (TID D|PUC-SP), sob supervisão de Lucia Santaella, e participa do grupo de IA do Instituto de Estudos Avançados e do Centro de Pesquisa Atopos, ambos da USP.
RPD || Ciro Gondim Leichsenring: Adivinhando o futuro
Adequado planejamento amostral das pesquisas eleitorais é requisito para a exatidão do levantamento de dados, permitindo uma fiel correspondência com o resultado das urnas, avalia Ciro Leichsenring
Pesquisas eleitorais em qualquer lugar sempre abrem espaço a dúvidas e suspeitas de direcionamento de resultados. Diante disso, é importante dar uma dimensão mais real das dificuldades envolvidas em sua realização e situar os contextos dentro dos quais as pesquisas de intenção de voto se situam.
Fundada em 1890 em Nova York, a revista Literary Digest, voltada para a publicação de artigos de opinião, tornou-se um fenômeno editorial atingindo um público de milhões de leitores. Em 1916, ano de eleição presidencial, decidiu fazer uma consulta a seus assinantes, encartando na revista, que era semanal e distribuída pelo correio, uma cédula eleitoral em que constavam os nomes dos candidatos ao cargo de presidente dos Estados Unidos. Solicitava aos leitores que indicassem o candidato de sua preferência e remetessem a cédula para o escritório da revista. Com base nessa simulação, previu a vitória do então candidato democrata Woodrow Wilson. Repetiu o procedimento nas eleições seguintes, acertando todos os resultados até 1932. Em 1936, no entanto, com uma base de 10 milhões de eleitores identificados em listas telefônicas e compradores de automóveis, obteve o retorno de 2,4 milhões de cédulas, que indicavam o então candidato republicano Alfred “Alf” Landon como o virtual vencedor da disputa com 57% das preferências, contra 43% de Franklin Delano Roosevelt, que concorria à reeleição.
Enquanto isso, George Gallup, que havia criado a Gallup Organization em 1935, realizava estudo nacional, com amostra planejada a partir de critérios estatísticos, em que entrevistava 50 mil eleitores, abrangendo todo o eleitorado americano. Os resultados obtidos apontavam a vitória de Roosevelt com um placar de 56% a 44%. Dias depois, as urnas registraram a vitória de Roosevelt, reeleito com 61% dos votos populares.
A margem de erro estipulada para uma amostra probabilística de 50 mil casos, com nível de confiança de 95%, é de apenas + ou - 0,44%. Tendo esses parâmetros como referência, cabe perguntar: Gallup acertou ou errou em sua previsão?
Pesquisas de intenção de voto são eventos estáticos dentro de um processo dinâmico que é a consolidação da decisão de voto pelo eleitor. A decisão é um caminho que se revela por aproximações sucessivas. No início das campanhas eleitorais, as possibilidades de escolha apenas se insinuam para o eleitor típico, com baixo nível de engajamento político. À medida que a campanha evolui, o eleitor gradualmente vai ajustando suas escolhas com as informações recebidas, até chegar à decisão final, que pode até mesmo ser a de não votar, anular o voto ou votar em branco.
Uma série de variáveis condiciona este processo, entre os quais podemos destacar os seguintes pontos. Os índices de abstenção são bastante relevantes, pois favorecem algumas candidaturas e prejudicam outras, a depender do perfil sociodemográfico e geográfico dos votantes. Em 2020, o índice de abstenção no segundo turno das eleições municipais brasileiras atingiu 29,5% dos eleitores inscritos.
Acidentes de percurso na campanha, como fake news, denúncias de malfeitos ou comportamentos inadequados, atentados ou acidentes geram mudanças de atitudes. Estrutura partidária e recursos financeiros são elementos importantes nas campanhas, pois impactam na exposição das candidaturas e programas de governo.
A divulgação de resultados das pesquisas eleitorais, em si, tem significativa relevância na intenção de voto, uma vez que a posição dos candidatos no ranking de preferências do eleitorado produz efeitos, positivos e negativos, na arrecadação de recursos, na mobilização partidária, na formalização de alianças. Lembremo-nos do voto útil.
Cada um desses elementos, isoladamente ou em articulação com os demais, influencia a escolha do eleitor, contribuindo para a sua decisão final.
Nesse contexto, as pesquisas estão sempre correndo contra o tempo em relação ao movimento do eleitorado, pois, de um dia para o outro, tudo pode mudar sem que as pesquisas, defasadas temporalmente, possam captar o sentido da mudança. No entanto, como o episódio Gallup revelou, o adequado planejamento amostral é um requisito decisivo para a exatidão do levantamento de dados, criando condições para uma fiel correspondência com o resultado das urnas. Dados de 30 pesquisas, concluídas em média dois dias antes da última eleição, divulgados no site Poder 360 (Ibope, 26 e Datafolha, 4) revelam que apenas 15 tiveram acertos dentro da margem de erro. Nenhum resultado coincidiu exatamente com os números das urnas. No entanto, em 26 casos, o nome do vencedor foi apontado corretamente e, em 3, apontaram empate, registrando-se apenas um erro na indicação do vencedor.
Em pesquisas desse tipo, apontar a tendência correta é fundamental.
(*) Psicólogo, atuou por mais de 40 anos com pesquisas de mercado e opinião e foi presidente do Conselho da Sociedade Brasileira de Pesquisas de Mercado e vice-presidente executivo da mesma instituição. Em 1974, começou sua militância no então PCB, que evoluiu para PPS e, posteriormente, Cidadania.
RPD || Zulu Araújo: Entre daltônicos, pessoas de cor e o racismo
Jovens representam 77% dos 33 mil negros mortos anualmente no Brasil. Cobranças de medidas efetivas para dar um basta na tragédia que é o racismo estrutural brasileiro ganham força em todo o país
A barbaridade da qual foi vítima o cidadão João Alberto Silveira Freitas, no estacionamento do supermercado Carrefour em Porto Alegre, que resultou na sua morte, foi um catalisador sem precedentes da indignação que paira no Brasil, de há muito, no tocante à violência racial e ao racismo contra a comunidade negra brasileira. Naquelas cenas brutais que o Brasil inteiro presenciou, estava simbolizado, em estado bruto, aquilo que os intelectuais chamam de Racismo Estrutural.
As denúncias sobre o recrudescimento do racismo no país vêm de longe e têm funcionado quase como um mantra no movimento negro brasileiro, embora boa parte da sociedade faça ouvidos de mercador para essa tragédia. Até mesmo importantes setores do Executivo, Legislativo e Judiciário que deveriam combater essas mazelas terminam estimulando-as por omissão. Mas os fatos estão ficando tão escandalosos que não dá mais para esconder, nem deixar de se indignar.
Até porque as causas do racismo e da discriminação no país não são episódicas, mas históricas. Ignorar os efeitos nefastos que mais de 350 anos de escravidão produziu não é uma opção política, é uma estupidez. Estupidez essa que não só possibilita a exclusão de milhões de pessoas do exercício da sua cidadania plena, bem como tem ceifado a vida de outros milhares.
Não surpreende mais ninguém que a juventude negra brasileira tem sido o alvo preferencial dos aparatos de segurança pública e privada, assim como de gangues e milícias que proliferam país afora. Os números do Atlas da Violência falam por si só: essa juventude representa 77% dos jovens assassinados no país, algo em torno de 33 mil jovens mortos anualmente. Até mesmo organismos internacionais, como Unesco, Anistia Internacional e Unicef têm-se mobilizado por meios de campanhas, alertando o governo brasileiro para a gravidade da situação.
Autoridades, instituições públicas e privadas e até mesmo a imprensa, quase sempre complacente com estes episódios, se indignaram e estão cobrando medidas efetivas para que possamos dar um basta nessa tragédia que é o racismo estrutural brasileiro. O fato soou como um alerta, ou melhor, como um recado de que o ocorrido nos Estados Unidos com o afrodescendente americano George Floyd não era exclusividade de lá, como muitos por aqui tentam insinuar, e que por isto mesmo a sociedade brasileira precisava reagir.
Mas, apesar de toda a comoção, as declarações de duas principais autoridades públicas do país foram decepcionantes. Uma afirmou que era daltônico e, portanto, não se manifestaria sobre o assunto; e a outra desconheceu a existência do racismo em nosso país, fazendo uso de uma expressão racista: “no Brasil, o que existe são pessoas de cor em situação de desigualdade”.
Lamentavelmente, essas declarações terminam por funcionar quase como um passaporte para impunidade, tanto no que diz respeito à violência praticada no país, desde sempre, como para a reparação histórica, tão importante para nosso povo. E, em grande medida, são autoexplicativas para a gravidade do problema racial no Brasil.
Afinal, um país que viveu um dos mais longos períodos escravistas da história da humanidade e que tem a maioria de sua população de origem africana vivendo em condições sub-humanas – submetidas a toda sorte de violência, nos mais baixos extratos sociais em quaisquer itens que são pesquisados, como educação, saúde, moradia, emprego e renda – não pode ter essa realidade desconhecida.
Em verdade, no Brasil, não só existe racismo, como ele é estrutural, condiciona, e normatiza praticamente todas as relações no país, sejam elas de caráter interpessoal, econômica, social, política, cultural ou religiosa. E não obteremos sucesso na promoção da igualdade racial, nem a plenitude democrática, se não reconhecermos a existência do racismo e, daí, não gerarmos políticas públicas que tanto o combatam como promovam a igualdade.
Ainda bem que parcela significativa da sociedade brasileira tem não só se manifestado de forma indignada ante o atual quadro de desigualdades no país, mas também começa a se mobilizar para sua superação. E, neste sentido, o movimento negro brasileiro precisa liderar este processo e estabelecer uma agenda política que, além da mobilização da comunidade negra, crie mecanismos de incorporação e participação dos não negros nessa luta, visto que o racismo constitui um prejuízo para toda a sociedade e não só para os negros.
Toca a zabumba que a terra é nossa!
(*) Zulu Araújo é Arquiteto, Gestor Cultural, Mestre em Cultura e Sociedade, Ex-Presidente da Fundação Palmares, Diretor Geral da Fundação Pedro Calmon/Secult/Ba. e militante do Movimento Negro Brasileiro.
RPD || Alberto Aggio: Bolsonaro, Ano 2
Bolsonaro impinge aos brasileiros um cotidiano de infelicidade, sem nos legar obra alguma. Sequer exerce sua responsabilidade primária: a de governar, avalia Alberto Aggio em seu artigo
No final do ano passado publiquei um artigo com o título Bolsonaro, Ano 1. Mobilizei, intencionalmente, a demarcação temporal recorrendo àquilo que Benito Mussolini estabeleceu para a Itália quando instituiu o fascismo. Contava-se a sequência dos anos da “Era Fascista”, com início em 1922, ano da tomada do poder com a “Marcha sobre Roma”. Como todo aspirante a “revolucionário”, Mussolini acalentava a ideia de alterar o tempo histórico.
Imagino que Bolsonaro tenha, por um instante, cultivado pensamento semelhante, especialmente quando, com menos de três meses de governo, traiu uma de suas posições de campanha e passou a se apresentar como candidato a reeleição em 2022. Mussolini realizou uma obra na Itália nos anos do fascismo. Uma obra infame que deixou marcas. Bolsonaro nos impinge um cotidiano de infelicidade, sem nos legar obra alguma. Sequer exerce sua responsabilidade primária: a de governar.
O Ano 2 – como dizem os jovens – “deu mal” para Bolsonaro. Ao final de 2020, seu destino é cada vez mais incerto, com popularidade declinante e problemas políticos de grande magnitude. Com a derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas, perdeu seu principal referente ideológico. O isolamento internacional do País é sem precedentes, depois de desavenças com a China e a União Europeia. Sob pressão, Bolsonaro estará forçado a uma readequação na política externa. Não haverá futuro caso não se supere a redução do Brasil a “País pária” na ordem mundial, admitido de bom grado pelo chanceler Ernesto Araujo.
Nas eleições municipais, os candidatos que se vincularam à imagem do presidente foram derrotados nas capitais e grandes cidades, com raríssimas exceções. O que indica movimento claro de redirecionamento do voto dado em 2018. É o resultado da postura errática de Bolsonaro nestas eleições, ora se afastando, ora se envolvendo na disputa. Mas o problema é anterior e advém do fracasso na montagem de um partido de apoio integral ao presidente, o Aliança pelo Brasil. Sem partido, Bolsonaro agiu por impulso, de forma temerária. O resultado não poderia ter sido diferente.
O ano termina confirmando a dispersão das lideranças bolsonaristas em cada canto do país. Esse processo começou com as defenestrações promovidas pelo presidente nos quadros do seu governo, atingindo o ápice com a demissão do ex-ministro Sérgio Moro. O resultado foi uma miríade de candidatos bolsonaristas e ex-bolsonaristas batendo cabeça, sem coesão nem unidade. As eleições municipais mostraram a que ponto chegou a fragilidade do bolsonarismo enquanto movimento, muitos duvidando inclusive da sua real existência.
Bolsonaro teve um momento de recuperação ao longo do ano em função do “auxílio emergencial” distribuído aos mais vulneráveis em razão da paralisia econômica imposta pela pandemia. Mas isso durou pouco. A retomada do emprego ainda não foi robusta o suficiente para gerar confiança e projetar nova alta em sua popularidade. E, na contracorrente, as ameaças de retorno da inflação, bem como as dificuldades da indústria, com o represamento dos investimentos, mantiveram a luz vermelha acesa.
Assim, no meio do mandato, temos um presidente enfraquecido e o Centrão – sua âncora de salvação – com mais poder depois de fechadas as urnas. Para Bolsonaro, não há mais espaço para a retomada da “guerra de movimento” do Ano 1 –, momento no qual blogueiros, ladeados pelos filhos do presidente e parlamentares golpistas, pediam intervenção militar, no auge das manifestações antidemocráticas que chegaram a realizar um “bombardeio fake” sobre o STF. A perspectiva de imposição imediata de um regime iliberal, com apoio militar, acabou ficando para trás.
O Ano 2 foi marcado, assim, por uma mudança tática: passou-se à “guerra de posições”. Esta demanda entrincheiramento, movimentos cuidadosos e conquistas parciais, daí a necessidade de protagonismo do Centrão. Entretanto, Bolsonaro também aí se mostra inepto. Despreparado para o exercício do governo, Bolsonaro sequer consegue ganhar uma posição no contexto dramático de combate à pandemia, empreendendo “gestão” desastrosa que não evitou os mais de 175 mil mortos em menos de 12 meses. Sem mencionarmos questões mais estruturais como as reformas tributária e administrativa, que só avançam a despeito do governo.
Sem liderança e sem rumo, a filiação de Bolsonaro a algum partido do Centrão tornou-se disputa rasa, quase um leilão, com vistas a um transformismo que garanta ao presidente um “novo” protagonismo em 2022. Num cenário ainda difuso, já se pode divisar, contudo, outros transformismos em projeção, todos visando alcançar o poder nas próximas eleições.
Se, no Ano 1, o governo foi uma “usina de péssimas ideias”, no Ano 2 a imagem é de “desolação”. 2022 já começou e aos brasileiros importa superar a pandemia que nos assola, bem como a crise que desorganiza a Nação depois da sanha destruidora que se instalou no poder. Só assim se poderá conceber em que termos avançaremos para o futuro, depois da breve – assim esperamos – “era Bolsonaro”.
RPD || Jorio Dauster: Do Catcher ao Apanhador, um percurso de acasos
Mais reconhecido por seu trabalho empresarial e diplomático, Jorio Dauster se dedica à literatura desde a década de 1960, traduzindo grandes autores, como Salinger e Nabokov, entre outros
Já lá vão mais de seis décadas, quando eu passava uns tempos em Washington na casa de minha irmã, recebi das mãos do cunhado um pocket book fininho, com umas 200 páginas, que já era cult nos Estados Unidos. Comecei a ler naquela noite mesmo e não sei a que horas fui dormir, fascinado com a história do rapaz de 17 anos que, expulso da escola, vaga por três dias em Nova York tentando evitar o confronto com os pais. Eu próprio, como algumas dezenas de milhões de adolescentes em todo o planeta, reconheci no angustiado protagonista todas aquelas dúvidas e aflições que o mundo adulto nos impõe em termos de acomodação a uma realidade muitas vezes envolta em hipocrisia e falsidade.
Estou falando, obviamente, de Holden Caufield, a figura icônica que J.D. Salinger eternizou em sua obra-prima The Catcher in the Rye, lançada em 1951. Terminada a leitura, senti uma vontade irreprimível de traduzir o livro, provocado até mesmo pelas três últimas frases: “É engraçado. A gente nunca devia contar nada a ninguém. Mal acaba de contar, a gente começa a sentir saudade de todo mundo.”
Já no Brasil, preparando-me para o exame do Instituto Rio Branco, reencontro um velho colega, Álvaro Alencar. Conversa vai, conversa vem, descubro que ele também quer ser diplomata e deseja traduzir o Catcher. Coincidência dupla, planos de trabalho conjunto que renderam muitas rodadas de chope e nem uma página de texto. Fast forward na fita da memória e, passados mais alguns anos, já ambos no Itamaraty, resolvemos pôr mãos à obra quando nos dizem que um colega mais antigo, Antônio Rocha, também está vertendo o livro. Fomos procurá-lo para anunciar a “competição”, e o tranquilo Rocha, ele próprio escritor, nos deseja boa sorte, pois apenas fazia aquilo por amar o texto e como grande exercício literário. Obviamente, foi recrutado ali mesmo para a rara e curiosa tarefa de uma tradução a seis mãos!
Por conta de nossas tarefas profissionais, não sei quanto tempo levou para que cada qual apresentasse o terço do texto que lhe coube por sorteio. O fato é que, por ser considerado à época subversivo, depois do golpe de 31 de março de 1964, eu fui chamado de Genebra, onde participava da I Conferência de Comércio e Desenvolvimento, e posto em casa durante seis meses enquanto ocorriam inquéritos e coisas do gênero no Itamaraty. Como meus dois companheiros de tradução já haviam sido removidos para o exterior, dediquei incontáveis horas daquele recesso forçado a repassar a versão brasileira frase por frase, tratando de homogeneizar a linguagem dos três num livro que é intrinsecamente coloquial, pois representa de fato o depoimento gravado do Holden na clínica de repouso em que foi internado para se recuperar de seu evidente nervous breakdown. Exemplo desse cuidado é que não cabe nenhuma conjunção adversativa – tipo “contudo”, “todavia” e “entretanto” – na fala de um rapaz que só emprega “mas”. A outra dificuldade foi conciliar expressões e gírias, já que o Rocha era nordestino, eu e Álvaro, cariocas. A circunstância de que o texto resistiu à passagem do tempo me parece uma boa indicação de que o exercício valeu a pena.
Mas restavam dois problemas: o título, cuja tradução literal parecia esdrúxula, e – pequeno detalhe prático – quem imprimiria a obra, já que nos havíamos lançado na empreitada por puro amadorismo, sem que ninguém nos tivesse encomendado coisa nenhuma.
Depois de grandes elucubrações, nós três tínhamos resolvido dar à versão brasileira o título de A sentinela do abismo, retirando-o do mesmo contexto em que o autor o buscara no original, a saber a fala em que Holden diz à irmã Phoebe que, quando crescesse, queria ficar escondido num campo de centeio para salvar qualquer das crianças que, ali brincando, se aproximasse de um precipício. Mas, quem diria: indignado com a tradução feita em outras línguas, Salinger (já então um eremita) dera ordens expressas à sua editora a fim de exigir as versões literais como condição para a venda dos direitos em outros idiomas. De nada valeram minhas tentativas, até mesmo em contato direito com uma agente em Nova York, explicando que “apanhador” no Brasil era usado para quem catava papéis nas ruas ou bolas chutadas para fora em campos de futebol improvisados, que centeio só aparecia no nome de um pão comido por gente rica... Pura perda de tempo– mas entendi que era melhor assim depois de saber que tinham tacado um estrambótico El cazador (sic) oculto em espanhol, um meloso L’atrappe-coeur em francês, um ensandecido Agulha no palheiro (!!!) em português de Portugal.
Por fim, numa daquelas noites encantadas que o Rio então oferecia de graça, fui à mítica cobertura de Rubem Braga em Ipanema, bem pertinho da Nascimento Silva 107 onde, poucos anos antes, Tom Jobim ensinara a Elizete Cardoso as canções do Canção de Amor Demais. Vista fabulosa, papo magnífico no pomar suspenso, uísque do bom – mas o grande cronista não tinha ideia de quem fosse J.D. Salinger e muito menos do sucesso mundial do Catcher. Mas me tranquilizou, dizendo que faria chegar o manuscrito às mãos de seus dois sócios na Editora do Autor – Fernando Sabino e Walter Acosta. Assim foi feito, o Apanhador viu a luz do dia em 1965 e recebemos, no total, a principesca quantia de 100 dólares, que deu para eu comprar o bom par de sapatos de que precisava na época. O livro continuou na Editora do Autor depois que Braga e Sabino se afastaram para fundar a Sabiá – e nem sei quantas edições teve ao longo de mais de meio século no Brasil. Pelo número de pessoas que até hoje me procuram para dizer o que significou em suas vidas a leitura do Apanhador, acho que daria para encher o Maracanã com emoção maior que a de um Fla-Flu.
RPD || Bazileu Margarido: Política ambiental liderando o atraso
Bolsonaro promoveu retrocesso recorde na área ambiental desde o início de seu governo. Desastre da gestão governamental impactou diretamente na imagem do Brasil no exterior
O mundo caminha celeremente para uma economia de baixo carbono. No final do ano passado, o Conselho Europeu comprometeu-se com o objetivo de neutralizar as emissões de carbono até 2050. A agenda de implementação dessa decisão tem sido intensa, com a definição de estratégias setoriais e instituição do Fundo de Transição Justa, de 100 milhões de Euros, para apoiar a substituição de indústrias intensivas em carbono.
A mesma meta vem sendo estabelecida por vários países, como a Coreia do Sul, o Japão e a Inglaterra. A eleição de Joe Biden reforça essa tendência, afastando da Casa Branca o negacionismo climático. Isso irá provocar impactos profundos no mundo todo.
Setores intensivos em carbono, como energia e transportes, estão passando por uma revolução tecnológica de amplo alcance. A energia solar é a fonte que mais cresce no mundo e as projeções indicam que, até 2050, será a maior fonte mundial de eletricidade. As principais montadoras de veículos já estabeleceram prazos (que não ultrapassam 2030) para tirar os motores a combustão de suas linhas de montagem.
A Europa discute a precificação do carbono no mercado internacional, com a instituição de um mecanismo para que produtos manufaturados paguem uma “taxa de carbono” ao ingressarem no Mercado Europeu, previsto para entrar em vigor em 2023. Ou seja, “amanhã”.
Enquanto isso, agravamos nosso isolamento político e econômico com uma política ambiental irresponsável. Os reflexos já são sentidos. Em junho passado, um grupo de 30 empresas globais de investimento, que administram US$ 3,7 trilhões, enviou cartas a embaixadas brasileiras em 9 países alertando o governo brasileiro sobre o avanço do desmatamento na Amazônia, o que pode interferir nas decisões de investimento.
A política ambiental também está colocando em risco a implementação do Acordo EU-MERCOSUL. Assinado após anos de duras negociações, dificilmente será ratificado pelo parlamento dos países envolvidos por não cumprirmos a cláusula ambiental.
O agronegócio, nossa “galinha de ovos de ouro”, não passará ileso por essas transformações. A Estratégia da Fazenda ao Prato, uma das medidas em curso na Comissão Europeia, prevê um sistema de certificação de origem dos produtos agropecuários e florestais, o que pode facilitar o embargo daqueles provenientes de áreas de desmatamento.
Não se trata apenas de desconsiderar as mudanças de longo prazo nas estratégias mundiais de desenvolvimento. A política ambiental do governo Bolsonaro está destruindo as bases institucionais que podem construir pontes de diálogo para a inserção do Brasil nesse cenário.
A Secretaria de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente e a Subsecretaria Geral de Meio Ambiente, Energia e Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores foram extintas logo de início. Após muita pressão da sociedade, o governo anunciou a meta de zerar as emissões até 2060. Além de ser insuficiente, tem pouco crédito pois não está suportada em ações efetivas, principalmente em relação à nossa maior fonte de emissão – desmatamento.
O Ibama está sucateado e não consegue executar nem o que restou de seu exíguo orçamento. O exemplo mais emblemático é a contratação de brigadistas, que só ocorreu quando o fogo se alastrava sem controle. Para agravar, o governo paralisou o Fundo Amazônia, que tem cerca de R$ 2,9 bilhões em doações, sendo que 60% seriam destinados ao próprio Ibama ou a órgãos ambientais estaduais.
Quem tenta trabalhar é punido. O ex-diretor e dois chefes de fiscalização foram degolados logo após uma série de operações contra garimpeiros que atuam em terras indígenas. O fiscal que multou o presidente por pesca ilegal em 2012 foi afastado da chefia do Centro de Operações Aéreas e a multa foi anulada.
Por outro lado, os nomeados deixam a boiada passar, eliminando a autorização ambiental para a exportação de madeira retirada das florestas do país, fato comemorado pelas madeireiras que atuam ilegalmente, e cancelando multas aplicadas pela equipe técnica, como no caso de um prédio de luxo em área de preservação, numa das regiões mais caras de Salvador, por exemplo.
O Ministério do Meio Ambiente age como se não tivesse responsabilidade na fiscalização de crimes ambientais. O resultado todos sabem: a área desmatada na Amazônia, que já havia saltado 34,41% em 2019, prossegue em alta e cresceu mais 9,5% em 2020, batendo o recorde de desmatamento da década com mais de 11 mil Km².
O INPE também sofre o mesmo processo de desconstrução. Após a difamação de seu presidente (Ricardo Galvão, a quem Bolsonaro acusou de estar a serviço de ONGs) e sua demissão, vieram o estrangulamento orçamentário, a redução da estrutura de comando e, por fim, a usurpação das suas funções, com o anúncio da compra de um satélite pelas Forças Armadas, por R$ 145 milhões, para fazer o mesmo que os satélites do INPE fazem.
O Brasil deveria buscar inserção positiva na economia mundial através da diversificação e agregação de valor à sua pauta de exportações e do investimento em inovação e tecnologia e nas novas oportunidades que estão surgindo na transição para uma economia de baixo carbono.
Há um cardápio extenso de atividades econômicas que deveriam ser incentivadas para a recuperação da economia pós-COVID. O Brasil tem grande potencial de desenvolvimento da bioeconomia, das fontes distribuídas de energia renovável e limpa, da agricultura de baixo carbono, da exploração sustentável de florestas nacionais, da universalização do saneamento ambiental, entre outras.
Esses investimentos têm capacidade para gerar milhões de empregos verdes e atrair capital externo ávido por um portfólio de atividades sustentáveis para satisfazer as exigências de um novo consumidor mais consciente dos limites das bases naturais que dão sustentação ao desenvolvimento.
Insistir na ocupação da Amazônia pela grilagem de terra, por pastos para criação extensiva de gado e pela mineração ilegal só vai nos levar ao atraso e ao isolamento político e econômico.
Livro Grando, Presente registra legado democrático de ex-prefeito de Florianópolis
Obra recém-lançada pela FAP detalha experiência de gestão pública democrática, progressista e popular
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
A história política e o legado do ex-prefeito de Florianópolis Sérgio Grando, que morreu de câncer em 2016, aos 69 anos, são registrados em livro recém-lançado, pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), como lição de uma grande liderança do campo democrático e progressista. A obra Grando, Presente (224 páginas) reúne 15 textos de personalidades, intelectuais, amigos e familiares, além de acervos fotográficos e de registro da vitória do primeiro prefeito comunista eleito para administrar a capital catarinense, no período de 1993 a 1996.
Militante social e político dos mais ativos, Grando carregava em si mesmo a pluralidade de referências: o combatente da resistência democrática, o profissional da educação, o líder sindical, o organizador do PCB (Partido Comunista Brasileiro) no retorno à legalidade, o legislador – eleito vereador por duas vezes e deputado estadual – e o prefeito de Florianópolis. Ele também foi professor da Ufsc (Universidade Federal de Santa Catarina) e de cursos pré-vestibulares e colégios. Além disso, trabalhou para a ONU (Organização das Nações Unidas).
Confira o vídeo do pré-Lançamento do Livro "Grando, Presente!"
“Neste momento difícil para a democracia que o Brasil atravessa, precisamos recuperar o exemplo de militância de Sérgio Grando, resgatar sua memória e divulgá-la entre os mais jovens. Exemplo de firmeza e consequência na luta, mas também de abertura, de convencimento, de diálogo em torno do fundamental”, afirma o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, na apresentação do livro. O partido é uma evolução da identidade política do PCB que, posteriormente, também foi chamado de PPS (Partido Popular Socialista).
O livro foi organizado pela viúva do ex-prefeito,a socióloga e educadora Cleide Maria Marques Grando, que morreu em março deste ano e deixou um texto pronto para a publicação. A obra também teve organização da cientista social e educadora Elaine Regina Pompermayer Otto, pós-graduada em administração de projetos culturais, e do bacharel em administração e advogado Francisco de Assis Medeiros.
Frente Popular
A obra detalha a experiência de gestão pública democrática, progressista e popular de um governo municipal eleito num momento de florescência democrática, no contexto a recém-nascida Constituição democrática de 1988. A eleição de Grando, em 1992, concretizou o sucesso da união de várias forças progressistas e da esquerda democrática, numa composição vitoriosa da Frente Popular, integrada por oito partidos (PPS, PT, PDT, PSB, PC, PV, PCdoB e PSDB), na disputa das eleições municipais naquele ano.
“Sua administração precisava marcar novos rumos para a vida de Florianópolis. A transformação foi o eixo principal de uma administração de 4 anos”, afirmam Elaine e Francisco. Eles contam que orçamento participativo, urbanização de áreas carentes, humanização da cidade, transporte coletivo e cestão do povo foram pilares da inversão de prioridades como marcas de um “governo transparente, popular, democrático e revolucionário”.
Em seu texto, o economista, professor e vereador de Florianópolis Afrânio Boppré (PSOL), que foi vice-prefeito de Grando e secretário municipal de Finanças no primeiro ano de governo, observa que “de lá para cá desfilaram governos vinculados a uma perspectiva de sociedade elitista e relacionados a práticas corruptas, fisiológicas, clientelistas e tecnocráticas”. Mesmo assim, segundo ele, “a vitória da Frente Popular com o seu consequente efetivo exercício de governo mostrou-se estar à frente de seu tempo”.
No texto que produziu para o livro antes de sua morte, Cleide Maria Marques Grando, importante mulher na administração da Frente Popular, lembra que o ex-prefeito iniciou suas atividades políticas no grêmio estudantil. “Dedicou-se à área da Educação, muito embora o Meio Ambiente, em especial a disponibilidade de água para as futuras gerações, estivesse sempre presente no exercício de sua profissão”, conta. Como primeira-dama do município de Florianópolis, ela presidiu a Associação Florianopolitana de Voluntários.
“[Grando] sempre indagava: ‘Escola para quem e para quê?’. E completava: ‘Escola para que todas as crianças recebam a herança cultural da humanidade e se tornem capazes de ampliar esta herança, agindo de forma crítica e criadora, possibilitando o seu desenvolvimento global’”, lembra o texto de Cleide Maria. Todas as áreas tiveram marcos importantes na gestão de Grando, como saúde, desenvolvimento social e habitação.
Sensibilidade
Coordenador geral da Rede de ONGs da Mata Atlântica, o professor do Centro de Ciências Biológicas da Ufsc João de Deus Medeiros, registra em seu relato a preocupação de Grando com o meio ambiente. “Grando não era exatamente um ambientalista, porém, sempre mostrou sensibilidade ao tema, de maneira que as bandeiras do Partido Verde foram incorporadas, sem grandes dificuldades, na Frente Popular”, diz. Medeiros também é ex-diretor do Conselho Federal de Biologia, do Departamento de Áreas Protegidas e do Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente.
Produzido com ampla liberdade editorial em respeito à memória de Grando, o livro também tem críticas ao próprio partido que registrou a candidatura dele. “Grando foi o primeiro prefeito de capital eleito pela sigla PPS. Apesar dessa conquista para o partido, não há nenhuma anotação desse fato, e mesmo não há referência ao seu nome, como liderança expressiva, no site oficial do PPS nacional, nem estadual”, afirma o sociólogo e professor aposentado do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Ufsc, Remy José Fontana. Ele foi presidente do PCB de Florianópolis (1986-1989) e coordenador da Campanha Eleitoral da Frente Popular em 1988.
Grando e a Frente Popular, de acordo com Fontana, não eram antagonistas radicais dos mercados ou dos empresários. “Tinham correta apreensão da realidade local, de suas estruturas, da lógica dos interesses predominantes, mas também das possibilidades de promover alguma inflexão contemplando interesses mais abrangentes”, afirma. “Não pretendiam impugnar a “livre iniciativa”, ou atribuir-lhe um caráter exclusivamente predatório e egoísta. Mas questionavam a presunção desta presentar-se como valor supremo estruturante dos destinos da cidade. E certamente se opunham às pretensões hegemônicas extremadas com que estes interesses restritos se projetavam sombriamente sobre a sociedade”, ressalta.
Além de análises sobre o perfil de Grando e notícias na imprensa sobre o seu governo, o livro publica acervo fotos da Casa da Memória Florianópolis, as quais foram gentilmente cedidas à FAP para publicação na obra. Os registros são da solenidade de posse do Governo da Frente Popular, ocorrida no dia 1º de janeiro de 1993, na antiga sede da Câmara Municipal de Vereadores, hoje Museu Florianópolis Sérgio José Grando.
A seguir, veja a lista de todos os conteúdos do livro Grando, Presente:
- Apresentação (Roberto Freire)
- Introdução (Elaine Regina Pompermayer Otto e Francisco de Assis Medeiros)
- Textos de personalidades, intelectuais, amigos e familiares
- Um governo à frente de seu tempo (Afrânio Boppré)
- Este bateu forte no coração do povo! (Aldori Pinheiro)
- O Militante... O Companheiro (Cleide Maria Marques Grando)
- O Governo Sérgio Grando (1993-1996), a Frente Popular e a Saúde e o Desenvolvimento Social em Florianópolis – reflexões tardias sobre as realizações da gestão (Flávio Magajewski)
- Grando, o aprendiz da esperança (Homero Gomes)
- Sérgio Grando, um Grande Ser (João de Deus Medeiros)
- Grande Grando, presente! (Luis Miguel Vaz Viegas)
- Grando: habilidade e coerência em favor da justiça social, da liberdade e da preservação ambiental (Nelson Wedekin)
- Grando, prefeito. Contexto, desafios, realizações e legado (Remy José Fontana)
- Meu irmão mais velho (Silvia Eloisa Grando Águila)
- Grando e a Consciência Solidária (Padre Vilson Groh)
- Outros textos sobre Grando
- Uma trajetória de generosidade e conciliação (Carlos Damião)
- Lei bem-vinda (Flávio José Cardozo)
- Vitória do povo e da coerência (Moacir Pereira)
- O Operário da Física e da Poesia (Sérgio da Costa Ramos)
- Material do Acervo da Assembleia Legislativa de Santa Catarina
- Sérgio Grando
- A vitória de Grando e a mídia
- Registros na mídia sobre a morte de Grando
- Aos 69 anos, morre o ex-prefeito de Florianópolis, Sérgio Grando
- Morre, aos 66 anos, o ex-prefeito de Florianópolis Sérgio Grando
- Nota de falecimento da Assembleia Legislativa
- Registro no Portal da FGV
- Corpo do ex-prefeito Sérgio Grando é sepultado em Florianópolis
- Ex-prefeito de Florianópolis, Sérgio Grando, morreu de câncer, neste sábado
- Homenagens
- Museu de Florianópolis Prefeito Sérgio José Grando
- Decreto no 20.074, de 22 de março de 2019
- Publicações
- Acervo Fotográfico
Escritora Laís Moreira Silva participa de webinar da Biblioteca Salomão Malina
Evento online terá transmissão em tempo real, a partir das 18h, na página da biblioteca no Facebook
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
A Biblioteca Salomão Malina, mantida pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira) em Brasília, realiza nesta segunda-feira (14), a partir das 18h, webinar com a escritora Laís Moreira Silva, autora do livro A Rosa de Cristal. O evento online integra o projeto Conheça o escritor e será transmitido em tempo real na página da biblioteca no Facebook e no site da entidade.
Assista ao vídeo!
Laís Moreira Silva reside em Brasília, Distrito Federal e atua como professora de Língua Inglesa pela Secretaria de Educação desde 2011. Sempre foi apaixonada por literatura e se tornou aspirante à escritora ainda na faculdade, com o incentivo de seus professores.
Publicado em 2019, A Rosa de Cristal narra uma história que ilustra, a todo o leitor que se sente sozinho ou incapaz de mudar, que tudo pode ser possível com um pouco de vontade e muita imaginação. A escritora aborda o bullying por uma perspectiva diferente ao escrever a história de Luísa.
Luísa é uma garota de dez anos que sofre, diariamente, bullying por ser diferente. Finalmente, uma oportunidade inusitada aparece para que possa se ver livre de tudo o que a atormenta. Mas estaria ela disposta a abrir mão de si mesma e de sua essência só para pertencer a um grupo? Seria possível desistir de seu “eu verdadeiro” sem sequer saber quem realmente ela é?
Ler o livro é uma oportunidade à reflexão em uma jornada de descobertas e indagações sobre o que torna as pessoas iguais às demais, mesmo com suas ricas diferenças, e até onde devem abrir mão de quem realmente são só para não se encaixarem nos padrões exigidos pela sociedade.
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Biblioteca Salomão Malina transmite final da batalha de poesias do Slam-DéF
Evento online tem participação de poetas e poetisas da periferia do Distrito Federal
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
A Biblioteca Salomão Malina, mantida pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira) em Brasília, transmite nesta quinta-feira (10) a final da batalha de poesias do Slam-DéF. O evento online terá transmissão em tempo real na página da biblioteca no Facebook.
Em novembro, o Slam-DéF realizou batalha classificatória para preencher a última vaga da final com poetas e poetisas que se inscreveram, até o dia 19 de outubro, por meio de formulário na internet. Outra semifinal de candidatos foi realizada no dia 22 de outubro, também de forma virtual, em razão das regras de distanciamento social recomendadas por autoridades sanitárias durante a pandemia do coronavírus.
Assista ao vídeo!
Assim como nas edições presenciais, que eram realizadas até o início da pandemia da covid-19, a competição contará com a participação de jurados voluntários, convidados pelo coordenador e produtor do Slam DéF, Will Júnio. Eles também participarão virtualmente para votar nas melhoras performances poéticas dos inscritos.
Interessados podem solicitar mais informações por meio do whatsapp oficial da Biblioteca Salomão Malina (61 984015561).
O slam nasceu em Chicago, Estados Unidos, nos anos 1980. Chegou ao Brasil duas décadas depois. No Distrito Federal, começou em 2015, com o Slam-DéF, que também atua no Entorno. O grupo integra diversas pessoas de qualquer idade, cor, raça, etnia e orientação sexual.
Webinar da Biblioteca Salomão Malina mostra dica de organizar livros
Evento será realizado nesta quinta-feira (3), com participação das bibliotecárias Marina Grande e Thalyta Jubé
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Internautas receberão dicas de como organizar seu acervo de livros de forma simples e personalizada, em webinar, nesta quinta-feira (3), que será realizado pela Biblioteca Salomão Malina, mantida pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Brasília. O evento terá transmissão online pela página da biblioteca no Facebook.
A fundação realizará a retransmissão em tempo real em seu site. As dicas serão compartilhadas pela bibliotecária Marina Grande, em evento que terá mediação da coordenadora da Biblioteca Salomão Malina, Thalyta Jubé.
Confira o vídeo!
"Muitas pessoas têm coleções de livros em casa, mas não sabem como otimizar a organização deles. Marina Grande dará dicas para pessoas que não possuem conhecimento técnico em biblioteconomia, mas que desejam manter sua biblioteca pessoal organizada", afirma Thalyta.
Sobre Marina Grande
Nasceu na África do Sul e morou em Moçambique até os 7 anos de idade. Mudou-se para Brasília e seguiu com a educação bilíngue. Graduada em Biblioteconomia pela biblioteconomia pela UnB (Universidade de Brasília), Marina, desde o primeiro semestre, fez estágio nas mais diversas bibliotecas (escolar, de escritório de advocacia, órgãos públicos, para deficientes visuais). Também já atuou com restauração de obras raras e em empresas no exterior.
Em 2012, teve sua primeira cliente para a organização de sua biblioteca pessoal. Desde então, nunca mais saiu desse nicho. Em 2016, decidiu expandir sua área de atuação se especializou em organização residencial, empresarial e digital. Em seu perfil no Instagram (@marinagrandepo), compartilha dicas de organização.
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André Amado analisa como grandes autores de romances seduzem seus leitores
Em artigo publicado na Política Democrática Online de novembro, embaixador aposentado analisa obras de argentino, britânico e moçambicano
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Com exemplos de três universos culturais distintos, mas que convergem na técnica, o embaixador aposentado e diretor da revista Política Democrática Online, André Amado, analisa como os grandes escritores procuram transformar os leitores em seus cúmplices na construção de uma obra de ficção. Os detalhes estão na edição de novembro da publicação, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília.
Clique aqui e acesse a revista Política Democrática Online de novembro!
Todos os conteúdos da publicação podem ser acessados, gratuitamente, no site da FAP. Em seu artigo, Amado analisa a abertura dos romances Sobre héroes y tumbas (do argentino Ernesto Sábato), A balada de Adam Henry (do britânico Ian McEwan, com tradução de Jorio Dauster) e Venenos de Deus, remédios do diabo (do moçambicano Mia Couto).
O embaixador aposentado analisou os trechos retirados das primeiras páginas das obras. “Ernesto Sábato seduz o leitor pela maneira como lida com a noção de tempo, maestria literária que é uma promessa de que a repetirá mais adiante na narrativa”, afirma. “Ian McEwan recorre a jogo mais sutil. Com o apoio de detalhes, em geral secundários, do ambiente doméstico, opõe o melancólico ao sofisticado e deixa no ar a questão: será o presente estéril ou ainda haverá esperança de futuro”, acrescenta.
Já Mia Couto retrata, também de entrada, a vida de um casal, cuja rotina consiste em suportar-se, como observa o autor do artigo. “Aqui a pergunta não é tanto se, mas como as relações haverão de evoluir”, diz. Segundo Amado, os três escritores procedentes de universos culturais tão distintos convergem na técnica de, no início, não mais do que insinuar a história que desenvolverão, quando, então, passam a convidar o leitor a se sentar a seu lado, para acompanhá-lo na textura da trama, no traçado dos personagens, na solução dos conflitos, no afivelamento dos fios soltos da narrativa.
“É assim que os grandes escritores procuram transformar os leitores em seus cúmplices na construção de uma obra de ficção. Eles têm plena consciência de que, em literatura, o leitor é fisgado pela intriga, pela curiosidade, até mesmo pela aspiração – em muitos casos, inconfessa – de querer ser o coautor do que está sendo concebido”, afirma o diretor da revista Política Democrática Online.
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Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Borgen (Castelo) é uma série televisiva escandinava que tem feito sucesso no mundo inteiro não tem detetives, nem mafiosos e tampouco navegadores vikings como tema, mas tem conquistado os brasileiros. A análise é do jornalista Henrique Brandão, em artigo que publicou na revista Política Democrática Online de novembro, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília. Todos os conteúdos podem ser acessados, gratuitamente, no site da entidade.
Clique aqui e acesse a revista Política Democrática Online de novembro!
“Mas qual é o segredo da série entre os brasileiros?”, questiona o Brandão, para, em seguida, explicar. Antes, porém, o jornalista lembra que a série é um drama político contemporâneo, que mostra os jogos de interesses que se desenvolvem na política dinamarquesa. Chama-se. O nome vem da forma como se referem ao Palácio de Christianborg, local que abriga as três esferas do poder dinamarquês.
“A série foi exibida na Dinamarca entre 2010 e 2013, o que deu nova dimensão ao folhetim foi o fato de a Netflix tê-la comprado e incluído as três temporadas (10 episódios cada) na programação. O êxito foi tanto que a gigante do streaming pensa em nova leva de episódios”, afirma o autor.
Na avaliação de Brandão, a série atrai os brasileiros porque, segundo ele, mostra com naturalidade a forma como a política é encarada na Dinamarca. “Ocupar altos cargos na administração pública ou nas esferas de base da estrutura partidária não é encarado como algo proveitoso, do qual se deve tirar vantagens, mas como parte da vida coletiva”, acentua.
Por isso, de acordo com o autor do artigo publicado na revista Política Democrática Online, brasileiros veem na série a futura primeira-ministra indo de bicicleta para o Parlamento, assim como vários de seus pares, e surpreendem com o fato de como a liturgia inerente ao cargo soa pouco pomposa por lá.
“Para além da indiscutível qualidade artística, é na comparação entre as realidades dos dois países que a série se impôs por aqui”, diz o jornalista. “A diferença entre as sociedades – a nossa comparada com a deles – é enorme”, acrescenta. Para se ter uma ideia, ele lembra, em 2011, a Dinamarca foi considerada, segundo o índice de Gini, o país com o menor grau de desigualdade social do mundo.
“Em tempos de enfrentamentos toscos e baixarias vis, acompanhar a trajetória de Birgitte Nyborg é um bálsamo. A série acabou atraindo desde comunistas convictos até o mais empertigado dos liberais. Um feito e tanto”, avalia.
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