Fábio Alves

Fábio Alves: Guedes sob pressão

Se ministro conseguir entregar alguma reforma, reputação ficará menos arranhada

Paulo Guedes chega ao fim do seu segundo ano no cargo com a credibilidade seriamente abalada perante analistas e investidores do mercado financeiro, público que foi um dos primeiros eleitores a abraçar a campanha do então candidato presidencial Jair Bolsonaro, em 2018, em razão do apoio irrestrito ao seu escolhido para ministro da Economia.

Mas a imagem de Guedes no mercado passou de respeito e admiração para ceticismo nas palavras do ministro ou até mesmo chacota. Nos últimos dias, corre em mensagens de grupo de WhatsApp entre economistas e investidores a figurinha de Guedes, dedo indicador em riste e um leve sorriso no rosto, com a seguinte legenda: “Semana que Vem”, numa alusão ao histórico do ministro de prometer entregar propostas da agenda econômica sempre para um futuro próximo.

Outra figurinha mostra um posto Ipiranga em chamas, numa referência ao fato de que o mercado deixou de acreditar que Bolsonaro ainda dá a Guedes carta branca para resolver e decidir todos os assuntos da área econômica, ao contrário da campanha presidencial, quando Guedes era chamado de “Posto Ipiranga” pelo agora presidente.

A figurinha mostra o posto em chamas porque o ministro se envolveu em disputas públicas com a ala política e desenvolvimentista do Palácio do Planalto em temas como investimentos, teto de gastos e fontes de financiamento de programas de transferência de renda, sofrendo alguns reveses.

“Ele está desacreditado”, sentencia um gestor estrangeiro. “Faz um papel de distrair de um lado, enquanto o Congresso impõe sua vontade, de outro.”

Esse gestor diz que para a credibilidade do ministro ser mantida requer alguma entrega de resultados. “Quais ele entregou, objetivamente?”, indaga. “A reforma da Previdência aconteceu mais a despeito dele do que por causa dele. Lembra a capitalização?”

O problema, na visão desse gestor, é o tempo perdido em não se aprovar reformas que aumentem a produtividade, reduzam desigualdades e controlem o gasto público. “Falta visão de futuro: ele vê mais as árvores do que a floresta. E ela continua pegando fogo”, diz.

O que tem causado bastante desconforto no mercado é a quantidade de ruído nos preços dos ativos, em particular na cotação do dólar, devido a constantes declarações de Guedes em eventos ou em entrevistas à imprensa.

A mais recente aconteceu na semana passada quando o ministro disse que fará “o que for necessário” para reduzir a dívida pública (que deve superar 96% do PIB neste ano) e citou a possibilidade de “até vender um pouco de reservas”.

Um renomado investidor em juros e câmbio critica duramente a fala do ministro, dizendo que Guedes confunde estoque (o que o governo tem de dívida) com fluxo (que é o que o governo tem de resultado – receita menos despesa – no ano).

“Ao vender parte das reservas internacionais para diminuir a dívida bruta, lembrando que as reservas já têm efeito sobre a dívida líquida, Guedes está diminuindo a dívida bruta, a líquida se mantém estável e ele perde um seguro essencial – como são as reservas – diante da delicada situação fiscal do Brasil”, observa o investidor acima. “Mas ele não cuida do maior problema, que é o fluxo, o qual, para ser resolvido, precisa de reformas a fim de diminuir o tamanho do Estado (custo) e aumentar o PIB potencial (receitas).”

Já o economista-chefe de um importante fundo de investimentos diz que é preciso dividir em dois períodos a avaliação de Guedes. “No primeiro ano no cargo, o desempenho dele foi muito bom, com uma participação fundamental na aprovação da reforma da Previdência e uma narrativa de modernização do Estado e continuidade da agenda de reformas, que manteve o tema em voga no Congresso”, explica. “Mas, já no fim do ano passado, as dificuldades em coordenar projetos e negociar consensos parece que começou a pesar contra. Tudo isso foi sendo agravado com a crise política e a pandemia do coronavírus.”

A questão agora é que as promessas de Guedes encontram ouvidos moucos no mercado, especialmente quando se trata de privatização. O ministro agora quer vender os Correios, o Porto de Santos, a Eletrobrás e a Pré-Sal Petróleo (PPSA) até o fim de 2021. Pouca gente leva fé nisso.

Mas se o ministro conseguir entregar alguma reforma em 2021, como a PEC emergencial, sua reputação ficará menos arranhada.


Fábio Alves: Copom sob fogo cruzado

O vaivém do BC causa ruídos. O Fed adotou uma sinalização firme, concorde-se ou não

A próxima decisão do Copom sobre a taxa Selic se transformou num debate polêmico e acirrado acerca do dilema que a autoridade monetária enfrenta neste momento de crise internacional, deflagrada pelo impacto do surto do novo coronavírus na economia global e pela guerra de preços do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita.

O dilema do Banco Central é o seguinte: cortar a Selic, colocando pressão sobre o dólar ao reduzir o diferencial de juros entre o Brasil e o exterior, em particular as taxas praticadas nos Estados Unidos, ou manter os juros inalterados em 4,25% e não desancorar o câmbio, mas deixar de injetar um necessário estímulo em meio à desaceleração da economia global e à resposta coordenada de redução de juros pelos bancos centrais mundiais.

Se há uma disputa ferrenha entre analistas e investidores sobre o Copom cortar ou não os juros, na reunião marcada para o próximo dia 18, a culpa é, em grande parte, do próprio BC, que vem emitindo sinais contraditórios sobre os próximos passos da política monetária, tornando a calibragem das expectativas confusa.

Basta lembrar que, no comunicado da sua última reunião, em fevereiro, o Copom sinalizou que interromperia o ciclo de corte de juros.

Em meio ao pânico com o coronavírus, no dia 3, logo depois que o Federal Reserve (Fed) fez um corte emergencial dos juros americanos em 0,50 ponto porcentual, o BC divulgou uma nota dizendo que “o impacto sobre a economia brasileira proveniente da desaceleração global tende a dominar uma eventual deterioração nos preços dos ativos financeiros”.

Foi a deixa para o mercado interpretar que o Copom cortaria juros em março, ficando a dúvida se a redução seria de 0,25 ou 0,50 ponto. Mas, na segunda-feira, o diretor de política monetária do BC, Bruno Serra, disse ser “importante reforçar que o atual estágio segue recomendando cautela para a política monetária”, o que alguns viram como um recuo da nota emitida na semana passada. Mais tarde, Serra voltou a amenizar o tom ao afirmar que, em relação a outros países, o BC brasileiro tem a vantagem de poder usar a política monetária.

Esse vaivém do BC causa ruídos. O Fed decidiu adotar uma sinalização firme de afrouxamento monetário, concordando-se ou não com a sua decisão.

Os que defendem a manutenção da Selic dizem que um corte de juros vai exacerbar a escalada do dólar, ao reduzir o fluxo de capital externo em busca de retornos mais elevados. E uma depreciação cambial pode colocar pressão de alta na inflação. Até agora, não se viu um repasse cambial indesejável aos preços.

Os que defendem um corte de juros argumentam que o diferencial de juros já está maior desde que o Fed fez o corte da taxa básica, para a faixa entre 1,0% e 1,25%. Além disso, são crescentes as apostas de que o Fed vai reduzir os juros em 1 ponto, para zero, na sua reunião também no dia 18.

Essa corrente de analistas diz que a redução do diferencial de juros explica apenas uma pequena parte da recente alta do dólar, com fatores domésticos (como a frustração no crescimento do PIB e o embate entre Jair Bolsonaro e o Congresso, minando as perspectivas para as reformas) e externos (valorização global do dólar) tendo influência maior.

Um renomado economista diz que sua projeção atual de crescimento do PIB brasileiro neste ano, de 1,5%, deve ser revisada para baixo por conta do impacto do coronavírus. Ele não descarta um crescimento de apenas 0,5% neste ano. Para ele, um corte da Selic, de 0,5 ponto, se faz necessário, uma vez que o governo não tem espaço fiscal para estimular a economia.

O choque do coronavírus, com a queda nos preços de commodities, em especial o tombo do petróleo, terá um efeito desinflacionário, ou até deflacionário, para o Brasil. Sem falar que, desde que a crise se agravou, houve um aperto considerável nas condições financeiras do País, o que pode contaminar os canais de crédito.

Se o Copom não cortar a Selic, estará endossando esse aperto num momento de desaceleração da economia. Quanto à disparada do dólar, a culpa não é dos juros: o BC precisa agir mais energicamente e anunciar uma intervenção cambial mais ampla.


Fábio Alves: O fim da euforia com a recuperação da zona do euro

O crescimento não será tão forte quanto o que se esperava na virada do ano passado

Há, neste momento, uma desconfortável correlação entre o ritmo da atividade econômica e o desempenho da Bolsa brasileira: após um período de euforia, ambos passam por um processo de revisão para baixo das expectativas.

Quanto ao PIB, houve até quem projetasse, em determinado momento, um crescimento de 1% no quarto trimestre de 2019. Agora, depois da decepção dos indicadores de atividade referentes a novembro e de alguns para o mês de dezembro, como a produção industrial, as estimativas de expansão no quarto trimestre migraram para 0,5%.

Em relação à Bolsa, depois de atingir a máxima histórica intraday de 119.593,10 pontos no dia 24 de janeiro passado, o Ibovespa cedeu mais de 7 mil pontos até bater a mínima intraday de 112.134,40 pontos no pregão da segunda-feira.

Contribuíram para esse recuo do Ibovespa fatores ligados à geopolítica mundial, como o ataque aéreo dos Estados Unidos que matou o líder militar do Irã, e também o temor do impacto nas economias global e chinesa com o surto do coronavírus.

Mas é o desempenho aquém do esperado dos últimos indicadores da economia o pano de fundo da consolidação do Ibovespa para um patamar mais abaixo do recorde histórico. Isso porque havia aposta de que um crescimento mais robusto do PIB brasileiro em 2020, por volta de 2,5%, poderia atrair um fluxo maior de investidores para a Bolsa, em especial de estrangeiros, além de turbinar os resultados das empresas.

Não à toa a grande expectativa em relação aos indicadores de atividade referentes a dezembro de 2019 que serão divulgados esta semana: vendas do varejo (hoje), serviços (amanhã) e o índice de atividade econômica do Banco Central, IBC-Br (sexta-feira).

Conforme pesquisa do Projeções Broadcast, as vendas do varejo ampliado, que incluem o setor de veículos e de material de construção, devem cair 0,2% em dezembro ante novembro.

Uma frustração com esse indicador, ou seja, se a queda for maior do que o consenso das estimativas aponta, poderá deflagrar uma nova rodada de revisão para baixo do PIB, uma vez que um desempenho mais fraco da atividade econômica na virada de 2019 para este ano acaba resultando num carrego mais baixo para as estimativas de 2020.

Não se deve esperar, contudo, que as projeções para o crescimento do PIB em 2020 desabem. Por enquanto, a situação é: a economia brasileira segue em recuperação, embora em ritmo mais lento do que o esperado até o início do ano. Em outras palavras: o crescimento não será tão forte quanto o que se esperava no meio da euforia que tomou conta do mercado na virada do ano passado.

Na mais recente pesquisa Focus, do BC, a projeção de expansão do PIB neste ano segue em 2,30%. Se os indicadores de atividade a serem divulgados nesta semana voltarem a decepcionar, é possível que esse consenso das estimativas do PIB na pesquisa Focus comece a recuar, embora de forma gradual.

No entanto, se a fraqueza observada até o momento nos indicadores do quarto trimestre seguir contaminando a atividade econômica no primeiro trimestre de 2020, não se pode descartar que a projeção do crescimento do PIB neste ano possa cair até o patamar de 2%.

Por outro lado, se o resultado das vendas do varejo, serviços e IBC-Br de dezembro surpreender positivamente, o mercado não vai se animar tanto, pois deverá esperar uma consistência maior do desempenho da atividade econômica – se isso perdurar ao longo do primeiro trimestre deste ano – antes de retomar as apostas de crescimento de 2,50%.

De qualquer forma, o que se discute neste momento não é se a recuperação da economia brasileira corre risco de não acontecer, mas sim a magnitude dessa retomada, afinal uma revisão para baixo das projeções do PIB neste ano de 2,30%, atualmente, para 2,0% – no cenário mais pessimista – não é uma diferença que mude o cenário totalmente. Desastre era se o PIB voltasse a crescer apenas 1%, como nos últimos anos.

Afeta, contudo, um pouco o sentimento. Não só dos empresários, como também dos investidores. Fica difícil ver o Ibovespa disparar para novos recordes de alta ou até recuperar os 119 mil pontos se a aceleração da economia perder fôlego. E ainda nem se sabe a magnitude do impacto do coronavírus sobre o PIB brasileiro.


Fábio Alves: Subestimando o vírus

Há ainda muitas incertezas sobre a magnitude e duração da crise do coronavírus

É crescente o temor de que analistas internacionais tenham subestimado o impacto do surto do coronavírus nas economias chinesa e global nas suas projeções iniciais e que os investidores não tenham precificado totalmente esse impacto nos ativos de risco, como as bolsas de valores.

Há ainda muitas incertezas sobre a magnitude e duração da crise com o surto do coronavírus, que vão desde a confiabilidade dos dados reportados pelo governo chinês até a taxa de disseminação e de controle do vírus, o que poderá afetar o tempo em que o comércio e a indústria ficarão fechados, assim como a extensão das restrições de circulação de pessoas e de produtos.

O feriado do Ano Novo Lunar, por exemplo, foi estendido oficialmente pelo governo da China em uma semana até o domingo passado, mas as autoridades de, pelo menos, 24 províncias chinesas ordenaram que escolas e fábricas seguissem fechadas até a próxima segunda-feira, dia 10. Nos cálculos da rede de TV americana CNBC, essas 24 províncias respondem por 80% do PIB e 90% das exportações chinesas.

Até a segunda-feira, conforme dados da Comissão Nacional de Saúde da China, foram confirmados 20.438 casos de coronavírus e o total de mortes aumentou para 425. Na atualização anterior, haviam 17.205 casos confirmados e 361 óbitos. Fora da China, foram registrados 162 casos em 24 países, com duas mortes.

Mas pesquisadores da universidade americana Johns Hopkins estimam que, até o dia 31 de janeiro, havia 58 mil pessoas infectadas pelo coronavírus apenas na China continental. Esse número inclui os casos não reportados às autoridades de pessoas sem sintomas ou com sintomas leves da doença. Ou seja, o surto pode ter uma magnitude muito maior do que o imaginado.

Na semana passada, os analistas do banco JPMorgan reduziram sua projeção do PIB mundial no primeiro trimestre de 2020 em 0,3 ponto porcentual, mas alertaram, em nota a clientes, que essa revisão inicial pode ter sido “muito pequena”.

Mais ainda: os analistas do JPMorgan dizem que, diante da interrupção nos gastos dos consumidores e da produção nas fábricas, em razão da extensão dos feriados e do fechamento de espaços públicos e de empresas, a desaceleração da economia chinesa poderá ser maior do que o 1,4 ponto porcentual de redução prevista por eles na projeção para o PIB chinês neste primeiro trimestre de 2020.

Por enquanto, os analistas do JPMorgan consideram o surto do coronavírus um choque de demanda, afetando vendas no varejo e gastos com turismo, mas se as fábricas permanecerem fechadas por muito mais tempo do que o previsto, especialmente nas províncias com indústrias integradas nas cadeias globais de produção, a doença também resultará num choque de oferta. Os analistas do banco americano dizem ainda que, como mais de 25% das exportações brasileiras vão para a China, cada 1 ponto porcentual de queda no PIB chinês reduz o crescimento do PIB brasileiro em 0,2 ou 0,3 ponto.

“Espero novas revisões para baixo das projeções do crescimento do PIB global, com o mercado convergindo para um impacto negativo de 1 a 2 pontos porcentuais no crescimento do PIB chinês (no trimestre)”, diz o estrategista macro sênior da Nordea Asset Management, Sebastien Galy. “Suspeito que muito pouco desse choque no crescimento global tenha sido precificado nos preços das ações negociadas em bolsas.”

Todavia, os indicadores de atividade econômica para o mês de janeiro em vários países, incluindo China e Estados Unidos, ainda não refletiram o impacto do surto do coronavírus no consumo ou na produção. Isso significa que a reação dos mercados globais, especialmente em bolsa e câmbio, tem ficado a reboque unicamente do noticiário sobre novos casos e mortes do vírus – ou de anúncios de restrição de voos e de circulação de pessoas, através da não concessão de vistos, por exemplo.

Quando os indicadores de atividade ao redor do mundo começarem a fraquejar, a partir de fevereiro, em razão do impacto do surto do coronavírus nas economias chinesa e global, não se pode descartar uma nova rodada de forte correção nos preços dos ativos de risco. No Brasil, a pesquisa Focus, do Banco Central, ainda não captou revisões para baixo do desempenho da economia, com o consenso das estimativas apontando um crescimento de 2,30% do PIB. Mas isso pode mudar em breve.


Fábio Alves: O petróleo e o PIB

Cada 10% de alta no preço do petróleo, PIB mundial perde 0,15 ponto em um ano

O temor de um conflito militar entre americanos e iranianos levou à alta no preço do petróleo e reacendeu dúvidas sobre a recuperação da confiança de consumidores e do investimento global neste ano.

Isso depois que a expectativa com a assinatura da fase 1 de um acordo comercial entre Estados Unidos e China, para dia 15, e também com uma saída (Brexit) negociada do Reino Unido da União Europeia injetou um maior otimismo em relação ao crescimento da economia global em 2020, após o ano passado ter sido marcado por uma desaceleração sincronizada do PIB mundial.

Após o ataque aéreo ordenado pelo presidente americano Donald Trump que matou o general iraniano Qassim Suleimani em Bagdá, na sexta-feira, o preço do barril do petróleo Brent chegou a superar a barreira de US$ 70, mas ao fim da sessão de negócios da segunda-feira, a cotação já havia cedido para o patamar de US$ 68, ou apenas US$ 2 acima do patamar negociado antes do ataque.

Ou seja, o estrago causado pelo ataque que matou o líder militar do Irã tem sido relativamente limitado até o momento e reflete a aposta de investidores de que o conflito não desembocará numa guerra em larga escala entre os EUA e o Irã. Todavia, os iranianos já prometeram vingar a morte do seu general. Uma retaliação é amplamente esperada. A dúvida é se um ataque iraniano a alvos americanos será de tal magnitude que ficaria inevitável uma guerra entre os dois países, arrastando aliados no Oriente Médio.

Nesse cenário, uma disparada no preço do petróleo não poderia ser descartada. Isso teria um impacto significativo sobre o consumo e o investimento global neste ano. É bom lembrar que, desde que bateu no patamar de US$ 58 no início do outubro, o preço do barril de petróleo já subiu mais de 17%.

Nos cálculos de Joseph Lupton, economista do banco JPMorgan, a cada 10% de aumento no preço do petróleo cerca de 0,15 ponto porcentual é retirado do PIB mundial em um ano. “A recente alta no preço do petróleo deve provavelmente elevar a inflação e reduzir o gasto dos consumidores.”

James Sweeney, economista do banco Credit Suisse, lembra que cinco das últimas seis recessões nos EUA foram precedidas por uma alta no preço do petróleo. “Houve várias mudanças dramáticas que devem tornar a economia americana mais resiliente a choques de petróleo”, diz Sweeney. “O gasto de consumidores com gasolina é historicamente baixo e as taxas de poupança estão elevadas, o que ajudam a acomodar preços mais altos.”

Por outro lado, o crescimento do setor de energia nos EUA fez com que o país deixasse de ser importador líquido de derivados de petróleo e que, portanto, a alta no preço dessa commodity pode ter até o efeito de elevar investimentos no setor. “Um choque global no preço do petróleo é um risco ao crescimento e se os preços continuarem subindo, a preocupação é com os efeitos não lineares na confiança e nas condições financeiras”, argumenta Sweeney.

Todavia, a expectativa ainda é de que o crescimento da economia global melhore neste ano em relação a 2019. Isso se deve a percepção de que a postura ainda acomodatícia dos principais bancos centrais vai absorver o impacto negativo de riscos geopolíticos, com o conflito EUA e Irã tomando o lugar do nervosismo com a guerra comercial entre americanos e chineses ou um Brexit duro. O Federal Reserve (Fed) já sinalizou que deve manter inalterados os juros americanos ao longo deste ano. O Banco Central Europeu (BCE) segue mantendo as taxas negativas. A China deve seguir injetando estímulos monetário e fiscal.

Ainda resta dúvida, especialmente nos EUA, se a fraqueza na indústria, que foi a mais afetada pela guerra comercial, poderia se espalhar para outros segmentos da economia americana, contaminando o setor de serviços. Mas a aposta dos analistas é de que o pior já passou em termos de confiança dos empresários e consumidores globais. E que o desempenho da economia mundial ganhe fôlego até o fim deste primeiro semestre. Isto é, se o conflito entre EUA e Irã não descambar para uma guerra em grande escala e se as negociações comerciais entre americanos e chineses continuem avançando.