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O Estado de S. Paulo: Generais descrevem atuação em missões de paz: 'Não há rotina'

Carlos Alberto Santos Cruz e João Carlos Vilela Morgero, que comandaram tropas brasileiras na missão de paz no Haiti, narram experiências das Forças Armadas no exterior - da relação com a população local à boa imagem do futebol brasileiro

Marcelo Godoy e Paulo Beraldo, O Estado de S.Paulo

Assim como os contra-almirantes Eduardo Wieland e Sérgio Berna Salgueirinho (veja mais), os generais Carlos Alberto dos Santos Cruz e João Carlos Vilela Morgero comandaram contingentes brasileiros em tropas de paz. 

Santos Cruz comandou a força de paz no Haiti por dois anos e três meses e depois a força para imposição da paz na República Democrática do Congo, enquanto Morgero liderou o contingente brasileiro no Haiti em 2005, e participou de algumas das principais crises que marcaram o início da presença brasileira na força de paz das Nações Unidas.   

Quais as principais mudanças trazidas pela participação em forças de paz e missões individuais para o Exército brasileiro?

Não é só o Exército e as Forças Armadas que aprenderam. O próprio governo percebeu que, para utilizar as Forças Armadas como instrumento de projeção externa, ele tinha de aplicar recursos em preparação e equipamentos e isso foi feito. Durante todo o período do Haiti os recursos extraorçamentários que saíram do governo para as Forças Armadas foram muito bons e permitiram fazer uma preparação excelente.

O governo teve consciência de que tinha de fazer isso para ter uma representação boa no exterior. Dentro do Exército, a conscientização foi de treinamento e preparação. Você não pode ir para uma tarefa sem estar preparado. O investimento que já existia no Exército foi muito reforçado assim como a seleção de pessoal. Houve um aprofundamento da cultura da preparação para desempenhar bem e não fazer besteira, dos técnicos aos combatentes.

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O general Carlos Alberto Santos Cruz em missão no Congo. Foto: Sylvain Liechti/ONU

A logística mudou muito?

Nossa logística era toda baseada em meios militares e ali aprendemos a envolver civis na logística operacional. Por exemplo, se você quiser um equipamento no Haiti, você contrata uma empresa civil e ela vai colocar o material em 30 dias dentro da base e faz o desembaraço alfandegário, faz tudo. O uso de empresas civis na logística foi um avanço.

O senhor esteve em dois tipos de missões: de manutenção da paz e de imposição da paz. Do ponto de vista de regras de engajamento, o que os militares aprenderam?

Você precisa ter regras bem definidas e praticar as regras exaustivamente em treinamento. Do quartel à prática tem uma distância grande. Dizer que você só pode usar a arma com efeito letal quando se sentir em perigo de vida, isso é um princípio. Mas, na prática, que momento é esse na cabeça de cada pessoa, não é fácil. Você só resolve isso com treinamento exaustivo das diversas situações com características práticas para que aquele conceito se fixe e faça o sujeito desenvolver reflexos de acordo com ele.

Qual o papel da liderança do oficial nessa hora?

O papel do oficial em missão de paz é sempre o mesmo. Ele tem de estar junto com a tropa e participar de tudo. Não pode se distanciar do pessoal. Eu nunca servi na tropa brasileira. Meu caso era diferente, como force commander. Até um nível de batalhão você tem de estar junto.Como force commander você tem de estar junto porque na ONU tem diversos países e diversas culturas com interesses diferentes. Só a liderança pessoal consegue puxar todo mundo.General Carlos Alberto Santos Cruz

Como foi seu primeiro dia no Haiti?

Cheguei em uma sexta-feira, final do dia e vindo de Miami para o Haiti e no outro dia era a solenidade de passagem de função. Logo após a cerimônia, houve uma recepção na casa do embaixador brasileiro. Depois do almoço, eu estava desarrumando a mala e tocou o telefone disseram que tinha havido um tiroteio. Perguntei: Morreu alguém? Não. Então continuei desarrumando a mala. Vai fazer o quê? Você tem de ter calma e tranquilidade.

Quando o senhor chegou estava começando o processo de pacificação de Cité Soleil?

De 2004 a 2005, o trabalho foi em Bel Air. Em 2006, foi em Cité Militaire. Em 2007, era Cité Soleil. O destino me reservou Cité Soleil. Com toda a limpeza feita nas duas comunidades anteriores, as gangues se concentraram em Cité Soleil.

Perdeu alguém em razão do confronto armado?

Não, mas teve gente ferida. teve acidentes, mas não por ação violenta.

Como se faz para controlar as comunicações de uma tropa com aparelhos celulares e câmaras, quando isso é necessário por razões de segurança e sigilo de operações?

É uma coisa incontrolável. Tem de haver a proibição de certas divulgações para não prejudicar o sigilo, mas é muito difícil manter 100%. Tudo pode ser filmado e gravado e transmitido online. O único jeito é fazer tudo certo e corretamente. Isso é bom até, pois não deixa haver deslize e tudo mundo se cuida. Há o problema do sigilo, que, às vezes, é necessário do ponto de vista operacional para preservar a vida de quem está na ação. O sigilo é somente necessidade operacional; fazer o certo é obrigação.

Entre a Haiti e o Congo, o senhor voltou ao Brasil. Pôde verificar o impacto da presença no Haiti em ações do Exército?

O que acho que acrescentou foi a validade do treinamento e da preparação. O elemento tem de ser bem preparado. Ele não pode entrar em certas situações sem ter um mínimo de experiência. Por exemplo, no Haiti, iam só soldados, cabos ou sargentos temporários que tivessem mais de dois anos de trabalho. Não ia o recruta.

Como era a comunicação dos militares com as populações do Haiti e do Congo?

A população toda do Haiti fala o crioulo, que se originou do francês. O francês é falado só pela população de nível melhor. No Congo, há 250 dialetos. Há línguas estruturadas, como o suahili e o zingala. São línguas oficiais do país, sendo o francês uma delas. É fácil falar em francês com uma autoridade, mas quando você vai para o terreno, você precisa de um tradutor, pois as pessoas falam outro idioma.É preciso contratar intérpretes, pois as patrulhas têm de sair com intérprete. Sem eles, você não sabe o que está acontecendo. Tem de contratar cem, 200, 400 em uma missão.General Carlos Alberto Santos Cruz

O senhor foi procurado pela ONU quando o M-23 ocupou a cidade de Goma?

Sim. Era o Ban Ki-moon o secretário-geral. Em abril, fizeram o contato comigo por telefone. Eles me consultaram. Eu recebi o convite e não gastei mais de cinco segundo para aceitar. Se você é do ramo, você gasta dois, três segundos para decidir. Se você não é do ramo ou tem algum problema gasta mais tempo. Se não, perguntou, tá resolvido. Depois de aceitar, teve trâmite de documentação, que passa pelo Itamaraty, Ministério da Defesa, exame médico e essa burocracia dura 30 dias. Mas a decisão é na hora.

A primeira missão do senhor lá foi organizar a retomada da Goma?

Sim. Era o ponto-chave da coisa, uma cidade de um milhão de habitantes cercada. Foram oito dias de combate. O M-23 recuou 25 quilômetros ao norte de Goma e teve um movimento para frente, onde eles ficaram em dois lugarejos juntos, onde houve novo embate em outubro. E dali eles saíram e foram para a fronteira com Uganda, a cerca de 40 quilômetros dali. Na fronteira,, perderam a última batalha para gente. Os remanescentes quando estavam a sete quilômetros da fronteira entraram na vegetação e foram embora para Uganda. Restaram bandos armados menores.

O senhor esteve sob fogo no Congo?

Sim, em diversas ocasiões. Havia fogo de artilharia, katiushas e outros lançadores múltiplos. Eles tinham artilharia, eles desertaram do exército do Congo e levaram muita munição e equipamento. A brigada da ONU tinha infantaria, artilharia e forças especiais e mecanizadas e helicópteros de ataque. 

Há três anos se discute a participação de tropas brasileiras em missão na República Centro-Africana? Qual sua avaliação? 

Tem de ver o que o país politicamente quer com participação na República Centro-Africana, pois não tem relações comerciais e culturais. A primeira coisa a definir é por que iria. No Haiti era mais fácil enxergar a presença regional. A primeira visão disso tem de ser política, tem de ser o poder político e o Itamaraty. É preciso definir o que se quer politicamente com a participação. 

O que agregou em termos de projeção do poder brasileiro as missões do Haiti e do Congo?

Respeito, profissionalismo do nosso pessoal, respeito pelo País. Enxerga-se o País com Forças Armadas responsáveis e com uma sociedade responsável. Essa imagem positiva traz respeito em todos os foros internacionais.

Confira, agora, a entrevista com o general  João Carlos Vilela Morgero

Morgero comandou o contingente brasileiro no Haiti em 2005, e participou de algumas das principais crises que marcaram o início da presença brasileira na força de paz da ONU.

Qual era a rotina do senhor durante o comando no Haiti?

Não havia uma rotina diária, pois sempre havia ocorrências que exigiam medidas e ações, algumas vezes preventivas, outras vezes dissuasórias. De qualquer modo, realizávamos uma série de atividades para manter a auto estima e elevar o moral da tropa. O planejamento para as operações se baseava em um trabalho minucioso de inteligência realizado pela tropa, e em dados obtidos junto aos demais contingentes e do próprio estado-maior do force commander. Para manter a tropa em condições físicas, morais e psicológicas capaz de enfrentar as dificuldades inerentes à missão, realizávamos treinamento físico, reuniões para atualização dos acontecimentos, com a finalidade de explorar alguma ação importante, destacar acertos e erros; além das reuniões sociais pelo menos uma por semana.

Nosso dia começava as seis da manhã. Porém, eu acordava às 5h15, fazia uma corrida ou caminhada durante esse tempo. As 6h15 todos deveriam estar prontos para o treinamento físico, exceto os militares que estivessem de serviço ou em patrulhas. As 7h15 já estávamos tomando o café da manhã. As 8h, nos reuníamos para repassar as ocorrências do dia e da anterior, e as atividades planejadas para aquele dia. A partir daí, nos deslocávamos para cumprir as diversas missões; patrulhamento, presença nas áreas de atuação, contato com a população, tropas vizinhas de outros países. Por volta das 14h, tínhamos percorrido toda nossa área de atuação e retornávamos à base, quando as ruas estivessem tranquilas, do contrário permanecíamos nas ruas até a solução dos conflitos.

Quais as principais operações que o contingente brasileiro participou sob o seu comando? Qual a mais desafiadora delas?

Foram realizadas várias operações. Na apresentação que fizemos ao encerramento da missão do segundo contingente estão detalhadas todas as operações. A mais desafiadora foi a retomada da casa do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, ocupada por quase sessenta rebeldes, ex-militares armados, que haviam sido expulsos do Exército.

Quais os principais desafios o senhor e sua tropa enfrentavam no dia a dia relacionados à logística, ao clima e à comunicação com a população?

Relacionados a logística, podemos dizer que recebemos do Exército um bom armamento, equipamentos novos, coletes e capacetes balísticos, munição, viaturas mecanizadas Urutu, viaturas sobre rodas (caminhões, viaturas médias) em número suficiente para cumprir as diversas missões. Além disso, recebemos algumas viaturas tipo Land Rover das Nações Unidas. O clima do período do segundo contingente era mais quente, porem não nos trazia grandes transtornos. Isso porque, em Porto Príncipe sempre soprava uma brisa marítima que amenizava a temperatura. O equipamento que utilizávamos era bastante pesado (colete e capacete balístico, colete tático individual, onde levávamos, pistola carregada, dois carregadores e cantil, além do fuzil parafal). A segurança dos militares sempre foi prioridade máxima.

Como era a relação com a população local?

O contato com a população era constante e foi melhorando a cada dia. Em uma das nossas primeiras operações, eu me recordo de levarmos para o centro de Bel Air, assistência médica e odontológica, distribuição de medicamentos, cestas básicas, corte de cabelo, apresentação de vídeos das Forças Armadas, distribuição de folders e revistas, figurinhas da seleção brasileira. Aliás, uma das mais solicitadas era de Ronaldo e de Ronaldinho Gaúcho. Foi tão grande o sucesso com a população que passamos a realizar em todas as operações.

Com evoluiu a relação com a polícia haitiana?

Demorou um pouco, pois percebemos que eles tinham um grande ressentimento em relação à população que apoiava o ex-presidente. Depois de dois meses, já fazíamos operações com eles, a confiança foi sendo conquistada dia a dia. Aos poucos, a polícia do Haiti foi percebendo que a nossa missão era ajudá-los a reerguer o país do caos que se encontrava.

Como era a relação da tropa brasileira com outros contingentes da ONU no Haiti. Algum contingente em específico demonstrava maior ou melhor relacionamento com o brasileiro?

O relacionamento com os outros contingentes era excelente, sempre buscávamos interação trocando informações, recebendo-os na base brasileira para confraternizações. Um fator que facilitava muito esse relacionamento era o force commander da Minustah ser brasileiro. Creio que o relacionamento mais difícil foi com o contingente jordaniano, mas aos poucos fomos conseguindo ganhar a confiança deles e executarmos ações juntos.

Qual a importância da presença brasileira no Haiti para a formação dos oficiais brasileiros, desde os comandantes de pequenas frações de tropa até para os generais que passaram pelo país?

Com certeza, a participação dos militares brasileiros no Haiti, trouxe um amadurecimento profissional desde o soldado até o general, principalmente para os militares mais novos. A participação nessa missão real nos trouxe experiência e fortaleceu o espírito de corpo, colaboração, companheirismo, autoestima e responsabilidade, atributos que sempre cultuamos em nossa profissão, mas que foram ressaltados em todas as operações de que participávamos. Considero que esses aspectos contribuíram para uma maior aproximação entre os militares de todos os postos e graduações, criando um excelente espírito de corpo.

Qual o impacto da presença no Haiti nos procedimentos operacionais e regras de engajamento da tropa adotados pelo Exército? Houve alteração de ações em operações de Garantia de Lei e Ordem que o senhor se recorde após seu retorno ao Brasil?

Houve uma grande evolução e aperfeiçoamento dos procedimentos operacionais, após o emprego no Haiti. Nesse período o Exército já tinha em sua constituição uma Organização Militar, denominado Centro de Avaliação e Adestramento do Exército, que fazia a avaliação anual das organizações militares operacionais, onde eram verificados os padrões de adestramento, assim como as regras de engajamento. Isso eu pude comprovar quando comandei a segunda Divisão de Exército e, posteriormente, o Comando Militar do Sudeste.

A cada emprego operacional fazemos uma APA (Análise pós Ação), seguindo um protocolo do nosso Sistema de Lições Aprendidas, por meio do qual todos os erros e acertos percebidos durante uma determinada operação ou exercício, são discutidos e analisados, de forma a se estabelecer um padrão adequado de conduta para a tropa. Com certeza, muitos dos ensinamentos colhidos nas operações no Haiti servem de base, até os dias atuais nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem, com os devidos aperfeiçoamentos necessários.

Pode-se dizer que o crime organizado haitiano era a principal força adversa enfrentada pela Minustah?

No período de atuação do segundo contingente, não havia um crime organizado, mas, sim, atuação de gangues, uma polícia haitiana despreparada e os ex-militares, grupo de rebeldes que com a extinção das Forças Armadas, ficaram desempregados, sem comando. Os ex-militares que foram presos, por ocasião da retomada da casa do ex-presidente Aristides, nos deram muito trabalho, devido à morosidade do governo em solucionar a situação dos mesmos.

O contingente brasileiro sob seu comando sofreu baixas?

Felizmente, não sofremos nenhuma baixa de gravidade. Foram muitos poucos, sem grandes gravidades, em razão dos enfrentamentos que tivemos.

O senhor, depois que retornou ao Brasil, passou pela 2.ª DE e pelo CMSE. Em ambos os comandos, havia unidades que tinham ou tiveram contingentes deslocados para o Haiti. Como o senhor percebia o impacto da experiência haitiana nos militares que voltavam da ilha?

Os militares que voltavam do Haiti traziam uma experiência que poderia dizer de veteranos. No período que exerci o comando da 2.ª Divisão de Exército, participamos de duas grandes operações: a visita do presidente dos EUA e a visita do papa Bento XVI, em ambas operações a participação dos militares que passaram pelo Haiti foi um fator determinante para o sucesso.Era nítido o grau de adestramento e autoconfiança na atuação dos militares que estiveram no Haiti. Essa experiência passava do mais antigo para os mais novos. Eu mesmo apliquei muito da experiência obtida naquela missão.General João Carlos Vilela Mogero

O senhor se recorda como foi o seu primeiro dia no Haiti?

O meu primeiro dia foi longo demais. Depois da solenidade de assunção do comando, na parte da manhã, após levar as autoridades para o aeroporto de Porto Príncipe, inclusive o comandante militar do Sudeste, general Sérgio Pereira Mariano Cordeiro, o meu antecessor e grande amigo general Américo Salvador de Oliveira, comandante do primeiro contingente, quando retornava do aeroporto para a Base da Brigada, fomos surpreendidos com a invasão da casa do ex-presidente Aristides pelos ex-militares, considerados rebeldes pelo governo haitiano. Foram dois dias e duas noites de intensas negociações, inclusive com a presença do general Augusto Heleno, force commander da missão.

A ordem que recebemos foi de retomar a casa, confiscar todas as armas e conduzir os militares presos à magistratura de polícia. Essa, na minha opinião, foi uma das operações mais tensas e demoradas, que exigiu muita serenidade, paciência e bom senso, pois qualquer deslize poderia ter resultado numa grande tragédia. O bom senso, o treinamento da tropa e a ação de comando dos militares em função de comandantes prevaleceu e conseguimos cumprir a missão sem disparar um tiro sequer. Essa operação foi determinante para isolar o segmento dos ex-militares.

E seu último dia, como foi?

O último dia, quando acabei de passar o comando para o coronel Adilson Mangiavacchi foi uma sensação enorme do dever cumprido e a missão concluída com êxito. A substituição era feita por escalões. Eu e meu estado-maior fomos os últimos do segundo contingente a deixar a ilha. Se não me falha a memória, isso ocorreu em 15 de junho de 2005.Tudo o que sabemos sobre:Exército BrasileiroHaiti [América Central]

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Marcelo Godoy: Documento de general expõe mapa da cloroquina e a 'cadeia de comando' para produzi-la

Em resposta ao TCU, comandante da 1.ª Região Militar detalhou quem foi responsável pelos pedidos e ordens para que o laboratório do Exército produzisse milhões de comprimidos

Caro leitor,

Enquanto Jair Bolsonaro exige até certificado de reservista para aprovar vacinas, coube ao general André Luiz Silveira, comandante da 1.ª Região Militar, no Rio, a tarefa de explicar por que o Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército (LQFEx) produziu mais de 2 milhões de comprimidos de cloroquina para combater a covid-19 se, desde março, o tratamento era contestado pela comunidade científica. O militar teve de justificar ao Tribunal de Contas União (TCU) também por que o insumo farmacêutico ativo - cloroquina difosfato - foi comprado na Índia por um preço em dólar 77% superior ao adquirido em 2019 pelo laboratório.

Após o estudo Solidarity, feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com 11 mil pacientes em 32 países e 400 hospitais, mostrar a inutilidade da cloroquina contra o vírus Sars-Cov 2, não há mais quem defenda a droga para tratar os doentes - exceto Jair Bolsonaro e os bolsonaristas. O general fez sua reposta em 31 de julho - antes da publicação do estudo da OMS. E usou a lei 13.979 e na MP 926/2020, que afrouxaram os critérios para as compras públicas na área da Saúde durante a pandemia, para se justificar. 

A argumentação do general se baseou no fato de que cumpriu a legislação para a compra e afirmou que a variação do preço do produto se justificava pelo aumento do preço da mercadoria no mercado internacional. A história mostra ser comum o aparecimento de espertalhões diante do pânico da peste. O medo das epidemias e das doenças incuráveis é combustível para mercadores de esperanças. Há quem venda a cura da aids. Há quem ofereça remédio contra a covid-19. O presidente não queria que a economia parasse, que o desemprego aumentasse e sua reeleição fosse para o vinagre. Exigiu coragem dos maricas e divulgou a cloroquina. 

Mas a lei só dispensa a licitação e reduz suas exigências para a "aquisição de insumos necessários ao combate á covid-19". Eis aqui o problema: é a cloroquina necessária para combater a covid-19? Se não serve, se havia dúvida razoável durante os atos do governo, a legalidade dos procedimentos de compra pode ser questionada? Essa é a lógica que estava por trás da apuração do TCU. Algo semelhante à aquisição de respiradores médicos inadequados para os pacientes com covid-19.

O general contou no ofício ao TCU - documento revelado pelo jornalista Luiz Fernando Toledo, no site Fiquem Sabendo - que o preço de US$ 230 por quilo do insumo farmacêutico era o valor de mercado do produto, incluindo o frete da Índia - onde é produzido - para o Brasil. No ano passado, o mesmo quilo valia US$ 130. Ao justificar a compra, o general foi além. Apontou toda a cadeia hierárquica responsável pela LQFEx ter produzido o medicamento, que tem validade de dois anos.

Diz que o governo mobilizou o Itamaraty - embaixada em Nova Deli - que informou que a empresa indiana Alcon Biosciences Pvt Ltd poderia fornecer 3 mil quilos ao Brasil.  O general se queixou das notícias da imprensa e disse que LQFEx é uma repartição séria, que integra o Complexo Industrial da Saúde (CIS) com outros 20 laboratórios públicos. Ele produz medicamentos para doenças negligenciadas, como tuberculose e hansenpiase, que a indústria farmacêutica não tem interesse em fazer. E lamentou: "Infelizmente não há cicatrização social do dano causado pela desinformação provocada".  

Em seguida, o general citou portarias dos Ministério da Saúde e da Defesa e a mensagem 116/2020, do Centro de Coordenação de Logística e Mobilização (CCML) do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), que pôs sob coordenação do EMCFA a cadeia produtiva e a distribuição de medicamentos para covid-19. Até aí, nada de mal. É o que ocorre em qualquer plano de mobilização. A polêmica começa com a nota informativa nº 5/2020 do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (DAF), do Ministério da Saúde, que regulamentou o uso da cloroquina em casos graves.

A nota traz como justificativa para a medida quatro trabalhos. Dois deles são de pesquisadores de Marseille (França), do grupo do médico Didier Raoult, o homem que 'inventou' o uso da cloroquina contra a covid-19. Ele assina um dos trabalhos. Os outros dois são sobre os efeitos da droga em pacientes cardíacos e um que desaconselhava seu uso contra a covid-19. Este é da pesquisadora Rachel Riera, do Núcleo de Avaliação de Tecnologias em Saúde, do Hospital Sírio-Libanês (NTAS-HSL) e foi publicado no dia 20 de março, sete dias antes da nota do ministério.

Sobram, portanto, os trabalhos dos franceses. A atuação de Raoult  e seus estudos sobre a covid-19 foram bombardeados pela comunidade científica francesa. O que era contestação aos métodos no início, virou há duas semanas em acusação de charlatanismo, com direito a processo no Conselho Francês de Medicina contra Raoult, conforme mostrou o jornal Le Monde. Foi com base em trabalhos de equipes ligadas a Raoult que o ministério liberou o uso da cloroquina para ser distribuída à rede SUS.

O general revelou em seguida o mapa da cloroquina. Contou que, sob a coordenação da Saúde e da Defesa, distribuiu-se 1 milhão de comprimidos de 150 mg em razão de pedidos feitos nos dias 13 e 28 de abril. São Paulo recebeu 316 mil. Em 2.º no ranking da cloroquina estava o Amazonas, com 160 mil comprimidos. Na época, Manaus enterrava os mortos em covas coletivas. O Rio ganhou 100 mil. Seis Estados ocuparam a última posição, com 5 mil comprimidos (Alagoas, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí, Sergipe e Tocantins). Entre os militares, quem mais recebeu a droga foi a Marinha. O Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio, ficou com 16,8 mil comprimidos, número superior ao entregue a 11 Estados. Já o Hospital Central do Exército, também no Rio, ganhou 9,6 mil. E o Hospital das Forças Armadas, em Brasília, 6,5 mil.   

Em 20 de maio, o Ministério da Saúde expandiu o uso da cloroquina para casos leves. A medida foi feita por meio de nota informativa da secretaria executiva da pasta, ocupada pelo coronel Antônio Élcio Franco Filho, um dia antes. A nota lista mais de 40 trabalhos para justificar por que a cloroquina devia ser utilizada contra a covid-19. Mais uma vez estão ali quatro trabalhos do francês Raoult. Nenhum dos outros artigos atestava a eficácia do fármaco,  exceto um feito por médicos militares espanhóis.

Em 7 de julho, o LQFEx mandou outra remessa de 1,024 milhão de comprimidos para os Estados. Desta vez, só 12 receberam a droga - o campeão foi o Rio Grande do Sul, com 323 mil comprimidos. São Paulo, Rio e Amazonas não constam da lista. Onze capitais foram agraciadas com o remédio. Vitoria (54 mil), Porto Velho (40 mil)  e Maceió (30 mil) lideraram a lista. Para o general, não se podia exigir outra conduta do LQFEx diante das demandas e da convocação da Defesa. Para justificar a decisão de fabricar cloroquina, ele alegou não haver tratamento consagrado contra a covid-19 ou consenso na comunidade médica a respeito de seu uso.

Não é bem assim. Desde maio a cloroquina foi excluída pela OMS das opções de tratamento da doença, assim como pelos médicos que observam a ciência. Em junho, foi a vez da FDA americana revogar a licença para seu uso emergencial contra o coronavírus.  Todos a consideram ineficaz, como a farinha dos placebos. E seu principal advogado - o francês Didier Raoult - se vê agora às voltas com as acusações de seus pares. Se há médicos que a recomendam no Brasil, é porque há bolsonaristas entre os médicos. 

Por fim, o general afirmou que não poderia ser exigida outra conduta do LQFEx, alegando que a produção de cloroquina, "por seu baixíssimo custo", equivalia "a produzir esperança a milhões decorações aflitos com o avanço e os impactos da doença no Brasil e no mundo".  O general resumiu o discurso do governo: produzir esperança para si e para os seus em vez de ciência. Ainda que isso signifique atrasar a vacinação - esta sim uma opção eficaz contra a covid-19. Bolsonaro diz não estar nem aí para o fato de uma dezena de países começarem a vacinar nesta semana. E é defendido por militares ouvidos pela coluna sob o argumento que ele está certo em exigir que as vacinas sejam seguras. Ninguém questiona por que os outros páises foram eficientes onde o Brasil fracassou.

Se o bolsonarismo não fosse esse estado de espírito que acredita em qualquer coisa que escuta, talvez tivessem razão os militares críticos ao governo que enxergam apenas cinismo nos colegas do partido militar interessados em se manter no poder. O homem que se diz preocupado com a segurança da vacina gastou milhões com uma "esperança" inútil, a cloroquina. Diante da ação do presidente, o ofício do general André Luiz Silveira mostra o mapa da droga e parte de sua cadeia de comando. É um desses documentos que a Justiça e a História deviam guardar. A primeira para indagar os chefes do general. A segunda para contar às gerações futuras como a pandemia chegou a 190 mil mortos no Brasil.


O Estado de S. Paulo: Missões de Paz e Guerra

As histórias desconhecidas dos militares brasileiros da ONU

Textos e dados: Marcelo Godoy e Paulo Beraldo / Design: Vitor Fontes

Fabiano foi ao Timor Leste e viu cabeças cortadas, foi cercado por guerrilheiros e salvou a vida de Xanana Gusmão, o líder da independência do País. Leonel foi feito refém para ser usado como moeda de troca entre os sérvios e as Nações Unidas. Bruno viu aldeões serem caçados por um leão enquanto milicianos hutus massacravam a minoria tutsi em Ruanda. Romeu, que combateu os comunistas no Brasil, tornou-se amigo dos guerrilheiros esquerdistas de El Salvador. A história desses homens ajuda a contar passagens desconhecidas da presença de militares brasileiros em áreas de conflito ao redor do mundo.

ENTREVISTA GENERAL SANTOS CRUZ

Desde que, em 1989, voltou a estar presente em forças de paz, o Brasil enviou homens em missões individuais ou contingentes de tropa para 50 missões em todos os continentes. Ao todo, cerca de 48 mil militares enfrentaram desafios tão distintos quanto leões das colinas de Ruanda ou um cativeiro na Bósnia enquanto seus colegas eram transformados em escudos humanos. A linha que divide a paz e a guerra nem sempre era clara nas missões dos capacetes azuis. Ou por ação dos beligerantes, ainda incapazes de fazer as armas calarem, ou porque a própria missão dos homens das Nações Unidas previa a possibilidade de se usar a força para manter a ordem ou estabilizar uma região.








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Essa é uma história de indivíduos diante de crises que marcaram o fim do século passado e o começo deste. É possível considerar suas histórias como típicas de um fenômeno que uniu as Forças Armadas ao Itamaraty: a decisão de fazer da presença desses militares um dos principais instrumentos da diplomacia do País que buscava um lugar ao sol para o Brasil entre as nações após o término da Guerra Fria. É o que diz o general Adhemar da Costa Machado Filho, que esteve em Angola comandando os homens da força de paz Unavem 3.









“O Brasil acertadamente aceitou participar da missão, pois essa postura muito contribuiu para nos inserir entre os grandes ‘players’ das missões de paz.” Com ele concorda o ex-chanceler Celso Lafer: “Essa participação é uma combinação do soft power da presença com essa dimensão do papel das Forças Armadas que, sem entrar em conflito, contribuem para a manutenção da paz. É um custo que vem junto com as aspirações de uma presença do Brasil no plano internacional.”







Neste ano, o País ficou pela primeira vez em 21 anos, desde a missão no Timor Leste, sem contingente de tropa entre os capacetes azuis. Isso ocorreu por causa da retirada da fragata Independência da força de paz do Líbano, a Unifil. A embarcação chegou no sábado, dia 26, ao Brasil. O Ministério da Defesa alega que a saída ocorreu porque a Marinha decidiu concentrar seus recursos na defesa e na segurança do Atlântico Sul. A decisão não impede que os militares do País voltem no futuro a atuar com tropa entre os capacetes azuis.







As histórias desses militares nas missões permitem jogar luz sobre o processo de pacificação da América Central e a influência de seu modelo nas sucessivas tentativas de paz na antiga África portuguesa. Ou acompanhar o impacto das crise em Ruanda e na Bósnia sobre os capacetes azuis, que levaria à mudança do formato das forças da ONU. O fim da Guerra Fria impulsionara ainda a criação de novos Estados nacionais, como a Eritreia, e viu o temor de uma pandemia mortal, com o surto de ebola na África Ocidental, substituir o medo do holocausto nuclear. “As evidências demonstram que a ONU estava melhor organizada e preparada para atuar no Timor Leste do que na ex-Iugoslávia. A atuação no Timor Leste é considerada um caso de sucesso”, afirmou o general João Batista Bezerra Leonel Filho.

Os militares voltaram ao País marcados pelas missões. O general Adhemar lembra que passou a “dar valor às coisas simples, deixando o ranço burocrático de lado”. O paraquedista Franklimberg de Freitas, que comandou em Moçambique a primeira tropa brasileira a atuar no exterior desde 1967, inaugurou uma prática que seria comum nos anos seguintes: o uso dessa experiência em Operações de Garantia da Lei e Ordem (GLO) no Brasil. Seus homens voltaram direto para a Operação Rio, em 1994, participando do combate ao narcotráfico em morros e comunidades cariocas. Mais tarde, seriam os veteranos do Haiti.







“O próprio governo percebeu que, para utilizar Forças Armadas como um veículo de projeção externa, tinha que aplicar recursos em treinamento, preparação e equipamentos básicos. E isso foi feito durante todo o período do Haiti. Os recursos foram muito bons. Deu para fazer uma preparação excelente”, disse o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que comandara os brasileiros no Haiti e a brigada de intervenção da ONU, no Congo. “A cultura da preparação que já existia ficou muito reforçada e todos tiveram suas especialidades aperfeiçoadas”. Depois, ele se tornaria ministro de Jair Bolsonaro, como tantos outros que estiveram nessas missões.

Por fim, o historiador francês Marc Ferro escreveu que as pessoas passam pela história ao mesmo tempo em que a história compõe com elas o seu drama. “Alguém pode se prevenir contra o roubo e o incêndio, mas não pode fazer o mesmo com a história.” Foi isso o que esses militares descobriram em suas missões.






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Editor executivo multimídia: Fabio Sales / Editora de infografia multimídia: Regina Elisabeth Silva / Editores assistentes multimídia: Adriano Araujo, Carlos Marin, Glauco Lara e William Mariotto / Designer multimídia: Vitor Fontes / Infografia multimídia: Diogo Shiraiwa / Editor-coordenador de Política e Internacional: Eduardo Kattah / Editores de Política: Tiago Dantas e Marta Cury / Editor assistente de Política: Vítor Marques / Reportagem: Marcelo Godoy e Paulo Beraldo / Edição: Marcelo Godoy (textos), Cláudio da Luz (áudio e vídeo) e Ricardo Nascimento (vídeo) / Foto de abertura: Marcos Michael/JC Imagem 

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Igor Gielow: Não queremos fazer parte da política nem deixar ela entrar nos quartéis, diz chefe do Exército

Em meio à crise Mourão-Bolsonaro, general Pujol se distancia da participação de fardados no governo

O comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, fez uma rara manifestação na qual buscou delimitar seu distanciamento da ala militar do governo Jair Bolsonaro.

"Não queremos fazer parte da política, muito menos deixar ela entrar nos quartéis", afirmou durante uma live do IREE (Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa) Defesa e Segurança.

Ele respondia a um questionamento do ex-ministro da Defesa na gestão Michel Temer (MDB) Raul Jungmann, presidente-executivo do instituto, sobre o papel dos militares na política, tema que acompanha o governo Bolsonaro desde a campanha eleitoral.

A conversa foi mediada também pelo general da reserva Sérgio Etchegoyen, presidente do conselho do instituto e ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) também no governo Temer.

A fala ocorre no momento em que Bolsonaro está estremecido, novamente, com seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão, devido a divergências na política ambiental. Na gestão do capitão reformado do Exército, 9 dos 23 ministros são de origem fardada.[ x ]

Pujol, conhecido por ser um homem de poucas palavras, não criticou os colegas que estão no governo —a começar pelo seu chefe, o general Fernando Azevedo, ministro da Defesa.

Mas ressaltou que "se for para chamar [um militar para o governo], é decisão do Executivo". Nem tampouco viu problemas nisso, citando que o Supremo Tribunal Federal requisita desde 2018 um general para assessorar seu presidente, cargo que foi ocupado por Azevedo na gestão Dias Toffoli.

Mas é na segunda parte de sua formulação que o recado fica dado. Assim como disse à Folha após a vitória de Bolsonaro em 2018 o antecessor de Pujol, Eduardo Villas Bôas, a Força teme a politização dos quartéis na esteira da militarização da política.

Esse movimento tornou-se uma preocupação no Alto Comando do Exército durante o período de maior radicalização de Bolsonaro na Presidência, entre abril e junho deste ano.

Enquanto o presidente frequentava manifestações golpistas pedindo o fechamento do Supremo e do Congresso, havia o temor de que o baixo oficialato se empolgasse com a retórica de Bolsonaro.

No topo da cadeia alimentar do setor, a Defesa chegou a endossar uma ameaça velada do general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) ao Supremo.

Com o paroxismo da crise e a prisão do ex-assessor do clã presidencial Fabrício Queiroz no fim de junho, Bolsonaro acabou se retraindo e compondo com o centrão, o que abafou o risco de um impeachment ou outra ruptura.

Ato contínuo, a ala militar do governo se viu submersa parcialmente, só para frequentar o noticiário quando há escaramuças com os setores radicais do bolsonarismo no poder, como a briga entre o vice Mourão e o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) demonstrou.

De forma geral, porém, os fardados tendem a considerar que saíram do holofote. "Não nos metemos no que não nos diz respeito", afirmou Pujol.

O próprio comandante do Exército foi tragado para a confusão quando, no começo de maio, Bolsonaro considerou trocá-lo pelo amigo Luiz Eduardo Ramos, general que comanda a Secretaria de Governo.

A discussão foi tornada pública pela Folha, obrigando Ramos a negar veementemente a hipótese. Vez ou outra, o tema ressurge, embora a possibilidade seja considerada nula por oficiais da ativa.

A insatisfação de Bolsonaro com Pujol decorria da atitude do comandante em relação à pandemia do novo coronavírus, para a qual ele mobilizou o Exército em sua maior operação desde o envio de pracinhas para combater o nazismo na Segunda Guerra Mundial na Itália.

Pujol inclusive negou um aperto de mão, oferecendo o cotovelo a Bolsonaro, numa solenidade militar antes da discussão sobre a eventual troca de comando.

Na live, o comandante afirma que só se preocupa com assuntos militares, e que se alguém tem de falar de política, é o general Azevedo em reuniões de ministros.