época

Helio Gurovitz: Bolsonaro, a imprensa e o ardil do populismo

Bolsonaro, a imprensa e o ardil do populismo Jair Bolsonaro ainda é uma esfinge. A campanha eleitoral, ditada pela polarização e pelo discurso raivoso, não permitiu que suas propostas fossem analisadas em detalhes, nem submetidas a debates com visões antagônicas. Seu programa de governo começa a ganhar forma agora, ditado pelas circunstâncias das articulações políticas. Sua personalidade será decisiva para determinar o êxito do governo.

Nas primeiras declarações e movimentos depois da vitória, ele procurou se mostrar sereno e conciliador, em contraste com a rebeldia, a agressividade e as ofensas que marcaram a carreira de deputado e a campanha. Tentar vislumbrar a realidade que existe atrás do “mito” Bolsonaro continua a ser um desafio, diante da falta de conhecimento de qualidade sobre sua ascensão. Quem estiver interessado em conhecer em profundidade o novo presidente terá enorme dificuldade.

Com exceção de um livro publicado pelo próprio filho Flávio no ano 2000, a única biografia disponível de Bolsonaro saiu neste ano. Publicada pelo jornalista Clóvis Saint-Clair diante da oportunidade oferecida pela corrida eleitoral, tem os defeitos inerentes a um livro produzido às pressas.

Sem acesso a Bolsonaro ou testemunhos de sua trajetória, o texto se resume a reunir o material já publicado sobre as principais polêmicas da carreira dele até o início da campanha (sem, portanto, as últimas decisões nos tribunais, nem o atentado de que foi vítima). O estilo é pobre, apoiado em chavões (como “nem tudo são flores”), metáforas gastas (Cavalão, apelido de Bolsonaro no Exército, dá azo a imagens hípico-equinas recorrentes, como “coice”, “páreo” ou “pule de dez”) e falhas de revisão (como “extratos (sic) sociais”). Mas o livro tem o mérito de reproduzir com fidelidade as declarações de Bolsonaro, sem omitir o contexto.

Está tudo lá na íntegra. Entrevistas e pronunciamentos com loas à ditadura e à tortura, ofensas a gays, mulheres e minorias, até os embates com parlamentares, como Maria do Rosário ou Jean Willys, que lhe renderam a censura dos pares no Congresso e processos na Justiça. Saint-Clair obviamente se opõe a Bolsonaro. Sua posição política fica clara quando chama Dilma Rousseff de “presidenta”. Mas ele não deixa que isso interfira na forma como lida com a informação. Seu trabalho jornalístico ao reproduzir as polêmicas é honesto e preciso. Só por isso, seu livro tem valor como referência.

O maior valor, contudo, está em ilustrar o principal desafio diante dos jornalistas ao cobrir o novo governo. Saint-Clair mostra que Bolsonaro é, em suas próprias palavras, “mais berro que argumento”. O presidente eleito segue a cartilha de populistas como Donald Trump, Hugo Chávez ou o próprio Luiz Inácio Lula da Silva ao declarar guerra ao jornalismo profissional e eleger veículos da imprensa como inimigos políticos.

Profere bravatas sob medida para provocar sensibilidades “politicamente corretas” e despertar controvérsias e a reação irada nas páginas dos grandes jornais. Só que, ao morder a isca dos “berros”, a imprensa apenas contribui para alimentar a retórica populista e confirmar a opinião do séquito de fiéis que Bolsonaro conduz com destreza pelas redes sociais. Não é coincidência que seu primeiro pronunciamento depois de eleito tenha sido numa delas, nem que os grupos de mensagens por celular tenham sido tão relevantes em sua campanha.

Seria demais ignorar declarações escandalosas ou ofensivas. Mas há uma lição a aprender com os erros da imprensa americana na cobertura do governo Trump, ao transformar todo tuíte em manchete.

O que define um presidente é menos o que diz e mais o que faz.

Bolsonaro está apoiado numa rede articulada de ideólogos, pensadores e políticos do mundo todo. Representa aspirações legítimas da maioria dos brasileiros na economia, na segurança e nos costumes. É para elas que os jornalistas deveriam voltar os olhos, em vez de cair no ardil óbvio dos arroubos ofensivos e dos ataques à “mídia”. Entender como e por que ele conseguiu captá-las tão bem é a missão que cabe ao jornalismo — e a novas biografias.


Monica De Bolle: Conversa na Igreja Universal

A bancada evangélica, para minha surpresa, defende a abertura comercial sob diretrizes não apenas razoáveis, mas absolutamente recomendáveis.

Conversa na Igreja Universal “Da soleira do La Crónica, Santiago fita a Avenida Tacna sem amor: carros, edifícios desiguais e desbotados, esqueletos espalhafatosos de pôsteres flutuando na névoa, o meio-dia cinzento. Em que momento havia o Peru se arruinado?” Essa é a abertura de Conversa no Catedral, de Mario Vargas Llosa, um de meus romances políticos prediletos.

Outro de meus romances políticos favoritos é O leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, belíssima crônica da unificação italiana no século XIX. Os atropelos e impasses políticos e a tentativa da aristocracia de manter sua relevância política em meio às grandes mudanças são muito bem resumidos pelo personagem Tancredi na célebre frase: “Para que tudo permaneça igual, é preciso que tudo mude”.

Nas eleições de 2018, houve impressionante renovação no Congresso brasileiro, incluindo a bancada evangélica, que cresceu — agora são 199 deputados e 4 senadores. A Frente Parlamentar evangélica, composta por diversas agremiações, é quatro vezes maior do que as bancadas do PT e do PSL individualmente, embora haja sobreposições. Recentemente, li o manifesto da frente evangélica lançado em 24 de outubro, intitulado O Brasil para os brasileiros — afinal, não apenas essa bancada tem significativa representação na Câmara, como também já havia declarado apoio ao presidente eleito Jair Bolsonaro antes do primeiro turno. O documento está estruturado em quatro eixos: a modernização do Estado, a segurança jurídica, a segurança fiscal e a “revolução na educação”.

Como parte do primeiro eixo, o manifesto defende a redução do número de ministérios para 15. Destacam-se o Ministério da Economia, englobando o Ministério da Fazenda e do Planejamento; o Ministério do Agronegócio, englobando o Ministério da Agricultura e o do Meio Ambiente; e o Ministério da Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, um pot-pourri. Tudo bem alinhavado com o que tem defendido Bolsonaro.

O terceiro eixo, o da segurança fiscal, fala em obter superávits fiscais consecutivos, ao mesmo tempo que propõe a simplificação do sistema tributário, concentrando-o na renda, não no consumo. Diante da calamidade das contas públicas federais e estaduais, defender superávits e simplificações tributárias não são, no momento, objetivos compatíveis. A bancada evangélica defende ainda a independência do Banco Central para proteger a economia de “governos populistas e perdulários”, proposta também defendida por Bolsonaro a despeito de seu superministro da economia ter falado recentemente na gestão do câmbio e das reservas, ações que cabem ao Banco Central.

A Frente Parlamentar também é a favor da reforma da Previdência e do combate aos privilégios, “com a igualdade de regras entre as aposentadorias do setor privado e do setor público”, evidentemente sem destacar quem são os principais beneficiários dos privilégios, como os militares que apoiam Bolsonaro. Se o Brasil realmente tiver como pauta tudo o que ali está, há espaço para uma ampla integração do país aos fluxos de comércio e investimento internacionais.

O quarto eixo, o da “revolução educacional” é, ao meu ver, o mais problemático. O Brasil está entre os piores colocados no exame Pisa, da OCDE, sobretudo em leitura e matemática. Há muito o que fazer para melhorar a educação no país. Contudo, o manifesto se perde em ideias tacanhas, como a de afirmar que “escolas e universidades públicas se tornaram instrumentos ideológicos que preparam os jovens para a Revolução Comunista”.

Lembra a Guerra Fria que contextualizava a Conversa no Catedral, de Vargas Llosa. Fala numa “destruição de valores” que contribuiu para a “violência contra a civilização judaico-cristã”. Quer “libertar a educação pública do autoritarismo da ideologia de gênero”.

Ou seja, pretende-se, a partir desses anseios, usar argumentos que podem facilmente resvalar para a formação de jovens sem pensamento crítico, algo que já está em nítida falta entre a elite intelectual brasileira. Mudar tudo para nada mudar é o risco dessas propostas que integram a ideologia dos que estão no entorno do presidente eleito. O Brasil ficou para lá de complicado desde o último 28 de outubro.


Paulo Roberto Pires: Diante do fascismo

“Vocês vão dizer que estou tentando assustar vocês com esses paralelos”, pondera Stanley. “E, quer saber? Estou mesmo.”

“Intelectual”, escreveu Millôr Fernandes, “é um cara capaz de chamar a galinha em meia dúzia de línguas diferentes, mas pensa que quem põe ovo é o galo.” Foi o debate da galinha que nos últimos meses mobilizou intelectuais e comentaristas empenhados, sabe-se lá com que fins, em destacar a impropriedade de definir como “fascista” a teoria e a prática de Jair Bolsonaro e seus seguidores. Preferiu-se discutir se marola é tsunami a organizar uma eventual fuga para as montanhas. Hoje, cheios de razão, estão prestes a morrer afogados.

E tome Hannah Arendt, Norberto Bobbio, George Orwell e mal disfarçada Wikipédia para explicar por que seria exagero, tergiversação ou ignorância associar fascismo à peculiar concepção de sociedade que se traduz nos atos e planos do capitão, sua família, seu economista, seus generais e recrutas. Provou-se, por evidente, que Bolsonaro não é Stálin, Hitler ou Mussolini. Agora, com a besta à solta, quando se intimida, agride e mata em nome do que o rigor não deixa dizer, os zeladores do léxico político balbuciam, em tom moral, paráfrases de Pedro e o lobo: tanto se gritou — em vão, insistem — contra o fascismo que diante da ameaça real corre-se o risco de ninguém acudir.

Na Itália de 1975, Pier Paolo Pasolini levava bordoada da esquerda e da direita pela suposta impropriedade política e ideológica de apontar o ressurgimento do fascismo. Gay e comunista, o cineasta não delirava, é claro, com uma volta dos camisas-negras, mas denunciava sem rodeios como o fascismo era normalizado. Toda homogeneização, do consumismo ao racismo, visava, segundo ele, “à reorganização e à normalização brutalmente totalitárias do mundo”. Fazia do fascismo uma palavra de combate, perfeitamente inteligível, e temia ser vítima do que denunciava. Foi massacrado por um garoto de programa poucas horas depois de dar uma entrevista que, quando publicada no La Stampa, ganhou do repórter Furio Colombo o título que o próprio Pasolini recomendara: “Estamos todos em perigo”.

Jason Stanley nasceu em 1969, é especializado em filosofia da linguagem e dá aulas em Yale. Nos últimos dez anos, tem estudado propaganda política e acaba de lançar
How fascism works (Como funciona o fascismo), livro curto e elucidativo que mostra como e por que o discurso de Donald Trump é comparável, e não só retoricamente, a alguns dos mais notórios líderes fascistas da história — que por sua vez inspiram movimentos espalhados pelo mundo. Num vídeo para o New York Times, Stanley enumera essas ocorrências à medida que contornos de mapas piscam na tela — o do Brasil é o terceiro a aparecer.

No Tinder ideológico, Bolsonaro dá match no perfil de liderança fascista traçado por Stanley. Na base de tudo, a mitificação do passado e seu uso para controlar o presente: a ditadura é a ordem perdida a ser recuperada. A política é oculta sob imperativos morais: “Campanhas anticorrupção estão frequentemente no cerne de movimentos políticos fascistas” e os conduzem ao poder por eleições. O antiintelectualismo garante o discurso da nação, “atacando e desvalorizando” a universidade e todo tipo de educação que não leve ao reforço de ideias dominantes — estudos de gênero, por exemplo, são duplamente indesejáveis, pois questionam a família patriarcal e geram a “ansiedade sexual” manifesta no preconceito.

Na política fascista, o debate público é substituído por manifestação de raiva e imposição de medo, criando uma “irrealidade” facilmente controlável. Exalta-se uma hierarquia “natural” de fortes sobre fracos, homens sobre mulheres, brancos sobre negros, héteros sobre gays — qualquer abalo dessa ordem implica a vitimização do dominador. O fascista, lembra Stanley, nem sempre quer conquistar o mundo ou organizar o extermínio. Seu objetivo é naturalizar, como democrático, o autoritarismo.

O risco não está, portanto, só naquilo que um fascista eleito possa fazer, mas no que ele autoriza. Advertiu-se muito sobre o ovo da serpente, mas no Brasil o estrago foi feito enquanto se esperava o ovo do galo.

*Paulo Roberto Pires é jornalista e professor de comunicação na UFRJ


Época: A crise e as eleições por dois respeitados intelectuais brasileiros

Por Ruan de Sousa Gabriel, de O Globo / Época

A greve dos caminhoneiros torna mais aguda a crise política que o Brasil vive?
ANDRÉ SINGER - A crise que estamos vivendo agora é decorrência da ruptura inconstitucional que ocorreu em 2016. A derrubada da Dilma por um golpe parlamentar, por uma manobra, representou um esgarçamento da democracia. A fraqueza do governo Temer, que fica visível com a crise dos caminhoneiros, é consequência dessa ruptura institucional. É um governo que tem muita dificuldade para encaminhar uma solução para uma situação desta gravidade. Infelizmente, o que estamos vivendo é consequência de um conjunto de decisões muito mal encaminhadas desde aquela época. Temos de conseguir atravessar este período difícil para chegar até as próximas eleições dentro de condições normais, dentro do calendário normal e, com isso, conseguir virar essa página. A legitimidade do governo Temer é muito baixa. Portanto, ele tem muita dificuldade para solucionar situações como esta que estamos vivendo. A crise é consequência da ruptura institucional e do esgarçamento da democracia que começou a ocorrer com o impeachment da ex-presidente Dilma.

BRASILIO SALLUM - Nossa democracia está em crise. Essa crise se manifestou no impeachment de Dilma e nas tentativas de impedir o presidente Temer. O exercício do poder ficou muito difícil. A situação na qual ocorreram as paralisações dos caminhoneiros já era uma situação de fragilidade. Temer não tem força para dirigir o processo. A greve dos caminhoneiros não enfraqueceu o governo. O governo já estava fraco. O Estado brasileiro não consegue definir seus rumos. Não é uma crise nova. Estamos em crise há muito tempo. O impeachment da Dilma foi uma “solução” institucional que não superou a crise. É uma crise grave, que afetou muito a organização do Estado brasileiro, deslegitimando todo o sistema político, que se assentava num solo de corrupção. A greve dos caminhoneiros revelou a fragilidade do governo, as dificuldades do governo para exercer autoridade. Mas tudo isso já vem de muito tempo.

Foi golpe?
AS - Foi golpe. É preciso reconhecer que a Constituição prevê o impeachment, mas exige a comprovação de crime de responsabilidade, o que jamais ficou demonstrado. Logo depois da reeleição de Dilma, diversas forças políticas, como o PSDB, começaram a questionar a legitimidade da presidente. Nos bastidores, Eduardo Cunha começou a trabalhar para que a presidente não concluísse seu mandato. E a extrema-direita começou a fazer manifestações pelo impeachment imediatamente, uma pauta que, na época, ninguém assumia. Até o PSDB era crítico da ideia de um impeachment sem base. Essa falta de embasamento jurídico persistiu. O impeachment de Dilma claramente não se sustenta do ponto de vista legal. É por isso que eu afirmo que, sim, houve um golpe parlamentar.

BS - Não foi golpe. O termo “golpe parlamentar” é uma figura de retórica que foi utilizada por quem perdeu. Collor também falava em “golpe parlamentar”. Temos de reconhecer o valor das regras democráticas. Os perdedores da disputa democrática não devem desqualificar as regras. Não se pode dizer que o impeachment não tem base jurídica ou que dois terços da Câmara e do Senado são golpistas porque concluíram que as pedaladas fiscais constituem crime de responsabilidade. Os perdedores podem discordar da tese, mas isso não transforma os outros em golpistas. Infelizmente, esse discurso do “golpe” se manteve, o que prejudica a democracia, pois desqualifica as regras segundo as quais vivemos. Mas, principalmente, esse discurso do “golpe” é um equívoco político tremendo porque tira do principal partido de esquerda do país a capacidade de negociar ao desqualificar seus adversários e transformá-los em inimigos.

Por que Dilma caiu se, diferentemente do que aconteceu no impeachment de Collor, não havia um amplo consenso das forças políticas em favor de sua destituição?
AS - Também por isso podemos falar em golpe. Para derrubar Dilma, formou-se uma maioria relativa para atender ao número de votos que a Constituição exige. No entanto, não se formou nenhum consenso capaz de um impedimento, ao contrário do que ocorreu na época do ex-presidente Collor. Naquela época, havia um consenso no Congresso e na sociedade de que o mandato tinha de ser interrompido porque havia crime de responsabilidade. Nada disso aconteceu agora. Repito: formou-se uma maioria relativa, mas não um consenso que garantisse, além de razões legais, bases sociais e políticas para sustentar o impedimento.

BS - No impeachment de Collor, houve um consenso entre as forças políticas que tinham promovido a redemocratização e a Constituição de 1988. Essas forças políticas democratizantes se articularam numa frente para evitar que Collor atuasse antidemocraticamente. Ele agia de forma extremamente voluntarista, não seguia as regras do presidencialismo de coalizão. Collor tinha uma coalizão precária e suspeitas de corrupção pessoal. No caso de Dilma, houve uma sucessão de equívocos da presidente, que tinha uma extraordinária dificuldade de manejar o sistema político — além de uma crise econômica terrível. Nos dois casos, eram presidentes voluntaristas e incapazes de manejar as demandas do Congresso. O que torna extraordinário o impeachment de Dilma é que não havia acusação de corrupção contra ela. Ela caiu por inabilidade política.

Qual o peso da economia na queda de Dilma?
AS - Enorme. É difícil quantificar, porque também houve a Lava Jato e a formação de uma frente antirrepublicana, comandada por Eduardo Cunha e Michel Temer. Mas, claro, a economia pesou muito. A ex-presidente tomou decisões econômicas consistentes. O problema não foi de competência. Não quero dizer que não tenha havido erros técnicos, mas, sim, que houve um plano econômico defensável e consistente, que respondia às demandas dos principais setores industriais, como desvalorização do real, queda dos juros e medidas de proteção à indústria. A nova matriz econômica era consistente, mas perdeu o apoio dos industriais. Dilma fez tudo isso para alavancar o investimento industrial, mas os empresários começaram a reclamar que o governo era muito intervencionista. Mas o governo intervinha em favor da indústria. Há um paradoxo político aí. De fato, em meados do primeiro mandato, Dilma perdeu uma base de apoio fundamental e não conseguiu se recuperar dessa perda.

BS - Tremendo. Houve a junção de duas coisas: crise econômica e suspeita de corrupção. O ritmo da economia caiu violentamente a partir de 2014. A crise, combinada à percepção de corrupção no governo petista, criou um mal-estar que justificou a paulatina oposição dos empresários, que, inicialmente, apoiavam Dilma.

Houve sete impeachments na América Latina entre 1992 e 2015. Esse número elevado contribui para a instabilidade das democracias da região?
AS - O impeachment é um recurso constitucional para ser usado muito raramente. Na América Latina, o impeachment está se tornando uma espécie de semiparlamentarismo. Governos muito fracos são interrompidos, o que é um recurso típico de regimes parlamentaristas. Nestes, os governos caem quando não têm mais maioria parlamentar. Mas, na América Latina, não há parlamentarismo, e sim presidencialismo. Esse uso do impeachment é uma completa distorção de sua finalidade.

BS - As democracias latino-americanos têm demonstrado extraordinária resistência. Os governos civis se mantiveram. Nos últimos 30 anos, os principais países do continente têm apresentado crescimento econômico medíocre se comparado ao desenvolvimento econômico pujante que ocorreu entre os anos 1930 e 1980. Depois dos anos 1980, houve uma queda assustadora do ritmo de crescimento. Nesse contexto de pobreza relativa, a preservação das regras democráticas é positiva. As quedas de presidentes simplesmente atestam que um presidente não pode governar de forma voluntariosa. Quando um presidente ultrapassa certos limites, ele não se sustenta mais. Ou se sustenta apenas na base da opressão.

O parlamentarismo garantiria democracias mais estáveis?
AS - Esse discurso confirma a hipótese do uso indevido do impeachment. No caso da presidente Dilma, o impeachment foi usado nesse espírito semiparlamentarista por forças que estavam, sim, muito inclinadas a sugerir a implantação do parlamentarismo no Brasil. Isso é ruim. Impeachment é uma coisa. Adoção do parlamentarismo é outra discussão. Eu defendi o parlamentarismo no plebiscito de 1993. No entanto, a política brasileira real acabou se configurando com a oposição entre um partido popular e um partido de classe média. Embora haja também um terceiro partido, que eu chamo de partido do interior, o MDB. A adoção do parlamentarismo inviabiliza a possibilidade de o partido popular chegar ao poder, porque o Parlamento tende a ser dominado pela aliança entre o partido de classe média e o partido do interior. Foi essa a aliança do impeachment. Na prática, o parlamentarismo no Brasil funcionaria como um filtro. Só chegariam ao poder aqueles que conseguissem compor com um Congresso dominado pela aliança desses dois partidos. No presidencialismo, o confronto entre o partido de classe média e o partido popular permite que as grandes questões brasileiras sejam decididas a cada quatro anos na eleição presidencial, quando a população se manifestar.

BS - O parlamentarismo é sempre mais estável, porque a queda de primeiros-ministros é corriqueira. A adoção do parlamentarismo não vale a pena porque a população já mostrou adesão ao presidencialismo. Melhorias podem ser implementadas para tornar o sistema presidencialista mais democrático e funcional, como mudar as regras eleitorais para que o Congresso esteja em sintonia com a sociedade. Atualmente, os representantes estão muito dissociados dos representados. O vínculo entre representantes e representados é fundamental para fortalecer o Parlamento e fomentar uma independência em relação ao Executivo que não seja voluntarista, mas em sintonia com os eleitores.

Um presidente forte, que conte com a legitimidade do voto popular, poderia reorganizar o sistema partidário?
AS - Não sei se o próximo presidente, se possuir a necessária capacidade de negociação, seria capaz de estancar a fragmentação partidária. No melhor dos cenários, ele seria capaz de agilizar uma reforma política, o que depende do Congresso, que nunca quer debater esse tema por entender que se beneficia da atual fragmentação do sistema.

BS - Um presidente forte é um presidente que carrega o prestígio eleitoral. Isso lhe garante uma janela de oportunidade para propor reformas. A reforma política deve ser prioridade.

Como possibilitar a renovação política?
AS - É preciso estabelecer um consenso na sociedade em torno de mecanismos como o voto em lista fechada. O eleitorado brasileiro está pouco informado e tende a achar que o voto em lista fechada reforça as burocracias partidárias em detrimento da liberdade do eleitor. Mas não é isso, sobretudo se, junto com a lista fechada, estabelecermos mecanismos como primárias que obriguem os partidos a se abrir para a votação de todos os cidadãos na hora de escolher os candidatos. Há uma série de mecanismos institucionais que poderiam ser adotados para, progressivamente, evoluirmos para uma democracia mais participativa, transparente, ideológica e representativa. Mas não sou otimista no que se refere a uma renovação dos quadros políticos, porque os partidos não estão conseguindo responder às demandas da população. Os partidos precisam prestar contas e tornar crível seu compromisso de mudar suas práticas para recuperar credibilidade. Não tenho nada contra quem defenda renovação política, mas será muito difícil uma renovação que descarte toda uma camada de políticos profissionais que sabem como o sistema funciona porque estão nele há décadas. Nenhum país que eu conheça conseguiu fazer isso, senão por meio de uma revolução. O Brasil enfrenta uma crise complexa, mas não há processo revolucionário em curso. É possível que, em 2019, vejamos mais ou menos as mesmas figuras no Congresso Nacional.

BS - A Operação Lava Jato mostrou que o sistema político é baseado em corrupção há muito tempo. Precisamos alinhavar sistemas eleitorais que sejam mais representativos e mais baratos. Temos de reduzir os custos das campanhas para que o dinheiro do fundo partidário seja suficiente e não haja um estímulo para políticos profissionais absorverem dinheiro de empresas que prestam serviços ao Estado. O voto distrital misto é um meio razoável de baratear as campanhas e aumentar a representatividade.

A polarização PT-PSDB — mesmo que representada por forças políticas próximas a esses partidos — tende a se repetir nas eleições de 2018?
AS - A polarização entre uma alternativa de classe média e uma alternativa popular tende a se repetir. Como essas alternativas vão se representar é um enigma. O panorama está muito confuso. Em que pesem todos os problemas que enfrentam, PT e PSDB continuarão a ser partidos importantes, pela experiência adquirida, pela capacidade de chegar aonde outros partidos não chegam, pelas lideranças que detêm. E também pelos programas que apresentam, que, de alguma maneira, recolocam as grandes questões nacionais, como a intervenção ou não do Estado na economia. PT e PSDB vão preservar algum grau de influência, mas não sei se será a mesma influência que tiveram entre 1994 e 2014.

BS - Seria desejável a repetição dessa polarização, com candidatos como Geraldo Alckmin e Ciro Gomes. Alckmin é um liberal democrata, um homem experiente, que não promete nenhuma maluquice. Ele tem capacidade de governo, é um homem de partido e não está envolvido em corrupção. Ciro é personalista, mas não representa um risco de ruptura. Apesar do personalismo, ele vai se articular com outros partidos. Foi governador, tem experiência administrativa. Não podemos ter um principiante na Presidência.

Lula não poderá concorrer e os outros pré-candidatos disputam seu espólio eleitoral. Quem será o herdeiro político do lulismo?
AS - É difícil fazer previsões porque é uma situação completamente inédita. Minha aposta é que o ex-presidente Lula, chegado o momento, terá um comportamento racional. Ele sabe que detém vários ativos — votos, liderança, popularidade — que podem garantir a sobrevivência do PT. O PT não é pouca coisa. Continua sendo o maior partido brasileiro. Acredito que Lula fará um movimento no sentido de preservar o PT. Em um momento que é difícil determinar, acredito que ele indicará o nome que seja mais interessante para o PT.

BS - Não vejo outras pessoas que tenham essa capacidade que Lula tem, de ser uma esquerda de composição. O PT, como os outros partidos, não produziu novas lideranças. Não se renovou. As lideranças políticas que temos hoje vieram da redemocratização e envelheceram sem que novos líderes fossem produzidos.

Ciro quer ter um empresário como vice em sua chapa. Ele repete o movimento lulista de 2002 ao acenar para a esquerda ao mesmo tempo que convida um patrão para compor sua chapa? O empresário José Alencar foi vice de Lula.
AS - A filiação do industrial Benjamin Steinbruch ao PP para ser vice de Ciro indica o movimento de aproximação do programa lulista, que é de transformação dentro da ordem. Ciro entendeu o que o lulismo fez e procura repetir essa fórmula. O problema é que ele não é do PT. O PT é central para o futuro do lulismo. O ex-presidente Lula apostou no futuro ao ficar no Brasil e se entregar à Polícia Federal e, assim, perpetuar sua liderança e o lulismo. Pesa bastante o fato de Ciro não ser do PT. Ele tem adotado um movimento de se afastar do PT, o que dificulta a possível incorporação dele ao futuro lulista. Não entendo muito bem por que ele faz esse movimento de aproximação do lulismo e afastamento do PT.

BS - Ciro é uma liderança personalista, não é um homem de partido. É um candidato forte. É provável que lideranças petistas o apoiem. Ele tem capacidade de atrair quadros lulistas. Mas, repito, ele não é um homem de partido, é uma liderança personalista. Espero que, se chegar à Presidência, consiga moderar seus impulsos para lidar com o Congresso.

O lulismo é capaz de sobreviver sem Lula e sem o PT?
AS - Lulismo sem Lula é como peronismo sem (Juan Domingo) Perón (presidente argentino). Lula plantou uma perspectiva que deve durar. Ele continua atuando, mesmo restrito pela prisão. Os lulistas estão fazendo um grande esforço para que ele continue a ser um líder, mesmo na prisão. Não vejo como o lulismo possa continuar sem o PT.

BS - O lulismo não sobrevive sem Lula. O mais preocupante é que o petismo aparentemente se transformou em lulismo. O PT não é mais um partido capaz de projetar um programa e lutar por ele. A possibilidade de o PT continuar como partido será definida neste ano. Do jeito como as coisas estão andando, o PT pode desaparecer como referência, porque ele depende pura e simplesmente de Lula. O partido vive uma situação muito complicada: ele precisa definir uma maneira de seguir sem a candidatura Lula e propor um programa para o país. Eu temo que, ao insistir na tática de defender a candidatura Lula, o partido perca sua relevância.


João Gabriel de Lima: Lula irá polarizar um país despolarizado?

A comoção em torno da ordem de prisão contra Lula pode gerar um efeito colateral importante. O de polarizar um cenário que, ao contrário do que diz o senso comum, estava despolarizado. O que existe no Brasil de hoje é um esgarçamento da cultura democrática, que torna difícil o diálogo essencial ao debate público. É a isso que as pessoas costumam se referir quando usam o termo “polarização”. Mas está errado.

A palavra “polarização” se transformou num clichê e numa mistificação. Como todo clichê, simplifica uma realidade complexa. Trata-se de mistificação porque, ao se comparar os cenários das eleições presidenciais de 1994 para cá, deduz-se que o Brasil ficou menos polarizado, e não mais.

A hora da política

Como o nome sugere, ocorre polarização quando dois partidos políticos atraem, a exemplo do norte e do sul magnéticos, eleitores de diversas tendências ideológicas. Dois, não mais que dois – da mesma maneira que a terra tem apenas duas calotas polares. O Brasil esteve polarizado entre PT e PSDB em seis eleições presidenciais, entre 1994 e 2014. Uma polarização curiosa, entre dois partidos que, a rigor, surgiram do mesmo grupo de intelectuais paulistas. Os que se reuniram para ler “O Capital”, de Karl Marx, nos anos 1950, e posteriormente fundaram o “think tank” Cebrap, nos anos 1970, ocasião em que se aproximaram de sindicalistas como Lula. Na quadra democrática, o PSDB ziguezagueou entre esquerda e direita, e o PT entre ideias econômicas liberais e intervencionistas. PT e PSDB alternaram fase e defasagem até medirem forças pela primeira vez, em 1994. Tiveram um momento de grande consonância de ideias (embora fingissem que não) na passagem de bastão de Fernando Henrique a Lula, entre 1998 e 2006. Depois, se afastaram de vez.

A eleição atual, com múltiplas candidaturas e alto grau de imprevisibilidade, pode representar o fim desta polarização. Ela já foi comparada várias vezes à de 1989 – época em que o Brasil, como hoje, estava despolarizado. No primeiro pleito após a redemocratização, o campo da esquerda se dividia entre Lula, Mario Covas e Leonel Brizola. A direita tinha Fernando Collor, Paulo Maluf e Guilherme Afif Domingos (curiosamente, todos esses nomes, em diferentes ocasiões e intensidades, tiveram algum tipo de relacionamento com o PT). O lendário deputado Ulysses Guimarães, o “senhor Constituinte”, candidato que representava a situação – o PMDB do presidente José Sarney – era considerado “de centro”.

Cabe aqui uma pequena digressão sobre os significados dos termos “esquerda” e “direita” no mundo moderno. A principal referência neste campo é o filósofo italiano Norberto Bobbio, que em 1994 atualizou os dois conceitos para o cenário pós-Muro de Berlim. Resumindo o pensamento de Bobbio, esquerda e direita representam duas maneiras diferentes de promover inclusão social. A esquerda se preocupa com a igualdade – obtida através de políticas públicas, que são financiadas com aumento de impostos. Já a proposta de valor da direita é a da prosperidade – menos impostos, mais crescimento econômico, mais oportunidades. Por este critério, note-se, os governos de Lula e de Fernando Henrique são igualmente de esquerda. Ambos aumentaram impostos e financiaram programas sociais.

É simplista, no entanto, falar apenas em “esquerda” e “direita” hoje. O cenário é bem mais variado e interessante. Há várias esquerdas e várias direitas. No mesmo ano de 1994, o sociólogo inglês Anthony Giddens notou que esquerda e direita poderiam se dividir também no campo da economia (mais ou menos nacionalistas, mais ou menos afinadas com o mainstream da globalização) e da cultura (mais ou menos abertos no capítulo das liberdades individuais, em temas como drogas, aborto ou casamento gay). Bobbio e Giddens são as duas principais referências para pensar direita e esquerda nos dias de hoje.

Cruzando os dois critérios e adaptando-os à realidade brasileira, surgem pelo menos três direitas e quatro esquerdas em nosso cenário. Uma direita liberal, globalista na economia e sem opiniões fortes na área cultural. Uma direita conservadora, globalista na economia e restritiva em termos de liberdades individuais. Uma direita nacionalista, defensora de maior intervenção do Estado na economia. À esquerda, teríamos os social-democratas, liberais na economia e defensores de políticas de inclusão fortes. Os nacionalistas, que defendem gastos do Estado não apenas na área social, mas também políticas setoriais de incentivo à economia. Essas duas vertentes pregam a convivência com o “capitalismo” – ao contrário da esquerda tradicional, que se define como “anticapitalista” e crê que “um outro mundo é possível”. Por fim, existe uma esquerda cultural, focada no tema das liberdades individuais (leia quadro). Ambas – esquerda e direita – abrigam também minorias autoritárias, o que subiria o número de posições de sete para nove.

Tal variedade, presente em 1989, pode ser notada hoje também. Uma direita nacionalista, herdeira do estatismo do regime militar, era representada por Paulo Maluf (hoje seria Bolsonaro, apesar de ter escolhido um economista liberal para coordenar seu programa; o saudosismo da ditadura militar faz parte da receita do candidato). Guilherme Afif Domingos, que defendia um vasto programa de privatizações, era a direita liberal em 1989 -- hoje seria João Amoedo. Fernando Collor representava uma terceira vertente, que não se confundia com nenhuma das duas, e derivava de um slogan publicitário – “o caçador de Marajás”. Para as próximas eleições, o governador paulista Geraldo Alckmin tenta se equilibrar na corda-bamba do centro, outrora ocupado por Ulysses Guimarães.

À esquerda, Lula representava os tradicionais, campo para o qual seu partido parece ter voltado hoje – e que já há algum tempo é ocupado por Guilherme Boulos e pelo PSOL, principalmente o do Rio de Janeiro. Próxima a este campo está Manuela D’Ávila, cujas intervenções nas redes sociais remetem aos temas da esquerda cultural. Nas eleições de 2014 Marina Silva ocupou posição tipicamente social-democrata – liberal na economia e com agenda social forte – e se espera que faça o mesmo no próximo pleito. Em 1994, quem ocupava esse posto era Mario Covas com seu “choque de capitalismo”. Ciro Gomes, que se aproximou do grupo desenvolvimentista liderado pelo ex-ministro tucano Luiz Carlos Bresser-Pereira, seria o representante da esquerda nacionalista – campo que, em 1989, era ocupado por Leonel Brizola, a reivindicar a herança de Getúlio Vargas.

O que há de positivo nesse cenário fragmentado é que, no mundo ideal, o debate eleitoral poderia ser bastante rico. O Brasil tem vários problemas concretos a resolver: inclusão social, crescimento econômico, segurança pública e combate à corrupção, para ficar nos itens de agenda que mais aparecem nas pesquisas. Seria interessante se cada uma das várias correntes acima apresentasse suas ideias para atacar tais questões – a rigor, os candidatos e seus times já estão fazendo isso em entrevistas à imprensa. Esse debate essencial, como em 2014, pode ficar em segundo plano se a temperatura emocional subir muito – e se ocorrer, aí sim, algum tipo de polarização, com os “haters” de Lula de um lado e os “lovers” de outro.

Talvez as próximas semanas mostrem, no entanto, que o país não se divide apenas entre “lovers” e “haters” de Lula. Há também posições intermediárias. Os que gostam dele, mas acham que sua prisão se justifica do ponto de vista jurídico. Os que não gostam, mas não veem culpabilidade clara no caso do tríplex. E há ainda – quem sabe a maioria – os que, à esquerda e à direita, gostando ou não gostando de Lula, querem mesmo é que o combate à corrupção não pare por aí, e se estenda aos que escaparam da cadeia por causa do foro privilegiado (caberá ao eleitor decidir, em outubro, se dá ou não uma nova chance a tais políticos). Existem vários tons de cinza entre “lovers” e “haters”, da mesma maneira que existem múltiplas esquerdas e direitas. A realidade costuma ser mais complexa que os clichês e as mistificações.

Talvez, no entanto, as emoções se acirrem. Se isso ocorrer, corremos o risco de perder, mais uma vez, a oportunidade de conversar seriamente sobre o país que queremos ser.

*João Gabriel de Lima é jornalista, ex-diretor de Redação de Época e prepara livro sobre a polarização PT/PSDB


O cientista político Luiz Werneck Vianna é otimista sobre as instituições brasileiras

Para ele, reclamar de golpismo é um recurso velho, que faz lembrar a era Vargas

A presidente Dilma Rousseff foi convocada pelo Tribunal de Contas da União  a explicar as pedaladas fiscais do Orçamento de 2014 e é investigada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela denúncia de que sua campanha pela reeleição recebeu doações irregulares. Uma condenação pode abrir caminho para a cassação do mandato e do vice-presidente, Michel Temer. Os próximos na linha de sucessão da República, os presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e do Senado Federal, Renan Calheiros, também são alvos de investigações e podem vir a ser denunciados. A remota possibilidade de uma perda total na cúpula do Executivo e do Legislativo não preocupa o cientista social Luiz Werneck Vianna. Ao contrário. A independência para conduzir investigações que põem em risco os mandatários do país, afirma Werneck, mostra a força das instituições do país.

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