entrevista
Livro de Fausto Mato Grosso resgata a história do PCB em Campo Grande (MS)
Lançamento, em conjunto com Instituto Histórico e Geográfico de MS, terá sessão de autógrafos com o autor, Fausto Mato Grosso. Obra traz artigos, discursos e informações sobre a atuação dele como vereador pelo PCB na década de 1980, logo após a redemocratização do país
Por Germano Martioniano
Documentos, artigos e histórias que contam a trajetória de Fausto Mato Grosso como vereador de Campo Grande durante o período de 1983-1988, frente às principais questões da época, como a transição da ditadura para a democracia, afirmação ideológica da esquerda, urbanização e outras, integram o livro Política, Esquerda e Democracia, com lançamento previsto para o próximo dia 1º de junho, às 19h, no auditório do IHGMS, na AvenidaCalógeras 3000, em Campo Grande (MS).
O lançamento, em conjunto com Instituto Histórico e Geográfico de MS, terá sessão de autógrafos com o autor, o próprio Fausto Matto Grosso, que é engenheiro civil, professor aposentado da UFMS e ex-militante do PCB. “Minhas principais intervenções na Câmara Municipal de Campo Grande, principalmente meus discursos, durante o mandato entre 1983 e 1988, foram reunidas nesse livro”, informa o ex-vereador, que classifica a obra mais como um documentário. “Pela natureza do meu mandato, esse material acabou se transformando no “diário oficial” do PCB, como tem sido caracterizado por alguns pesquisadores e jornalistas. Por isso tenho chamado esse livro de documentário”, completa Matto Grosso.
Fausto Mato Grosso conversou com a FAP e aprofundou alguns dos temas tratados no livro, fazendo paralelos com algumas questões atuais, como o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida em São Paulo e o papel da esquerda na atual conjuntura política do país. “O mais próprio seria falar em esquerdas. Existe uma velha esquerda e uma nova esquerda em formação com as suas respectivas nuances”, enfatizou o autor.
Confira, a seguir, alguns trechos da entrevista com Fausto Mato Grosso:
FAP - O que motivou o senhor a escrever e porque define este livro, de sua época como vereador em Campo Grande (MS), como um documentário?
Fausto Mato Grosso - O PCB em Mato Grosso do Sul, apesar de ter sido um partido pequeno, exerceu grande influência na política estadual, fortalecendo a frente democrática contra a ditadura. Fomos o maior partido da esquerda até 1990, ou seja, até 10 anos após a fundação do PT. Pode-se dizer que quem quiser contar a história política estadual nesse período, tem que falar de nós. Atribuo a isso, o grande interesse, de pesquisadores, especialmente das universidades locais, sobre a nossa história. O que tem levado a que vários velhos militantes sejam constantemente procurados como fonte para entrevistas e depoimentos. Por essa razão, comecei a organizar informações sobre a atuação do PCB. Todo o material de vídeo das nossas campanhas foi entregue à guarda do Centro de Documentação da Universidade Federal da Grande Dourados. Meus artigos de jornais, desde 1984, foram organizados em um blog para acesso público. Minhas principais intervenções na Câmara Municipal de Campo Grande, principalmente meus discursos, durante o mandato entre 1983 e 1988, foram reunidas nesse livro. Pela natureza do meu mandato, esse material acabou se transformando no “diário oficial” do PCB, como tem sido caracterizado por alguns pesquisadores e jornalistas. Por isso tenho chamado esse livro de documentário.
Como o senhor avalia a situação atual das metrópoles brasileiras, tomando como ponto de partida o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo?
O avanço da urbanização no País foi saudado como sinal de progresso. As cidades, afinal, são o lócus da economia mais moderna, de inovação, de cultura e conhecimento, de reunião de talentos e de capital humano. Por outro lado, a urbanização carrega consigo imensos desafios econômicos, sociais e ambientais, dos quais o nossas metrópoles não tem conseguido dar conta. A contradição entre as potencialidades de um grande aglomerado urbano e a amplitude dos problemas, tem se resolvido no sentido da perda da qualidade de vida da população. O inchaço das nossas cidades gerou uma pressão muito forte sobre a infraestrutura, gerando problemas de trânsito e habitação, de energia e abastecimento d´água, de bolsões de pobreza, de criminalidade e deficiências nos sistemas de ensino e saúde. As nossas cidades se transformaram em verdadeiras bombas-relógios. Sendo a urbanização uma tendência irreversível, temos que enfrentá-la com uma profunda reforma urbana, tendo como fundamento a exigência de que a terra urbana cumpra a sua função social, o que poderia ajudar a resolver os problemas habitacionais atuais. Essa reforma tem de ser combinada com política de incentivo à regionalização do desenvolvimento, que poderia gerar novas centralidades urbanas, organizadas em novas bases e já contando com as novas tecnologias urbanas das cidades inteligentes e humanas.
O livro também representa uma reflexão sobre a esquerda e a democracia, uma vez que o senhor era vereador pelo PCB logo após o fim da ditadura militar. Como foi fazer parte do Partido ainda na ilegalidade e depois atuar políticamente após a legalização em 1985?
Fui eleito vereador pela sigla do PMDB, onde atuávamos, e assumi a legenda do PCB imediatamente após a sua legalização em 1985. Fui vereador comunista durante a guerra fria e a ditadura e exerci a parte final do meu mandato ainda antes da vigência da Constituição de 1988, o que gerava um intensivo acompanhamento das forças de segurança e dos órgãos de informações. O exercício do mandato foi à combinação da afirmação ideológica, enquanto comunista, com a pauta democrata, afinal, não estávamos “infiltrados” no PMDB, considerávamos fazer parte dele, fomos seus construtores. O desafio era não nos deixar isolar, isso fazia mais difícil a repressão e a perseguição política. Lembro-me de um veterano dirigente do partido que, o tempo todo, nos lembrava: “temos que ser peixe n´água”, mais do que afirmar nossas diferenças, tínhamos que nos caracterizar como iguais. Isso nos beneficiava com certa proteção da sociedade.
Como o senhor avalia, hoje, a esquerda e a democracia brasileiras?
Temos que tratar o tema da esquerda com uma visão pluralista, o mais próprio seria falar em esquerdas. Existe uma velha esquerda e uma nova esquerda em formação com as suas respectivas nuances. As primeiras tendem a pensar o mundo novo, como criado pelo passado, deterministicamente. Fazem política com o olhar no retrovisor, guiando-se pela experiência de um mundo que já acabou. Por outro lado, têm aquelas que estão de olhos nas forças motrizes da revolução do conhecimento. Que tem em conta as relações sociais novas que estão surgindo da robótica avançada, da biotecnologia e da inteligência artificial. Buscam explorar a possibilidade um caminho novo, ainda desconhecido, e tem se desdobrado no diálogo com o mundo que está nascendo. Faz política olhando para a frente. Outra questão que divide as esquerdas é a questão democrática. Embora no discurso todas se apresentem como favoráveis à democracia, umas têm a democracia como uma questão tática e outras emprestam um valor universal, estratégico, à democracia. A democracia, na minha visão, é meio e fim na construção do mundo novo que seja uma alternativa à barbárie. É importante que mantenhamos os valores que são caros aos socialistas: a equidade, a solidariedade, a justiça social e a paz, articulados com valores novos que já nos demanda nosso tempo de mudanças.
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Devo admitir que, em um primeiro momento, logo após acertar essa entrevista, a minha ideia de como seria o economista Samuel Pessôa não fugia do estereótipo. Pelo menos não daquele imaginado por alguém formado em humanas, como eu: cerimonioso, talvez até contido e muito provavelmente excêntrico. Além, é claro, de “gênio”, como amigos no mercado fizeram questão de frisar assim que souberam da notícia.
– Para mim foi super estranho, por que a notícia que foi divulgada, acho que numa quarta-feira, se me lembro bem, era sobre obstrução de Justiça. O presidente tinha obstruído a Justiça. Gravíssimo. Quando eu ouvi o áudio, o que tinha lá era uma possível prevaricação. Não estava totalmente claro.
– Isso, ele de fato ouviu um monte de barbaridades e não fez nada, nem na hora…
– …E nem depois […]. A minha avaliação é de que o Rodrigo Janot foi açodado. E depois isso ficou muito claro que houve açodo, tanto é que ele teve de recuar.
– Açodado ele ou o Lauro Jardim?
– Eu acho que […], bom, depois eu chego na imprensa, tem o Lauro Jardim e tem a Globo, acho que dá para entender tudo, mas primeiro, sobre o Rodrigo Janot, ele foi açodado. Tanto que o processo precisou ser desfeito e a gente descobriu depois aquele imbróglio envolvendo o Miller (procurador Marcello Miller) atuando dos dois lados do balcão. Uma coisa esquisitíssima. Viemos a saber depois que o Joesley não deu todas as informações. Ele enganou a Procuradoria e, dadas todas essas irregularidades, o acordo de delação precisou ser desfeito. Então, claramente foi mal feito. A minha interpretação é de que esse açodo se deveu ao interesse da procuradoria em reduzir o poder do Temer por que ele estava para aprovar a reforma da Previdência. Essa é a minha avaliação, eu não consigo provar isso […]
– Claro…
– […] E por que eu acho isso? Porque, ao contrário do que foi noticiado, a reforma da Previdência produziria uma forte mudança em relação aos servidores públicos. Não era só uma reforma do regime geral da Previdência. Para aquele servidor que ingressou antes de 2003, havia uma expectativa de que, cumprindo alguns anos, ele poderia se aposentar com o benefício da integralidade do vencimento e da paridade dos aumentos futuros em relação ao vencimento do ativo. Esses dois princípios, paridade e integralidade. E a reforma previa que para aqueles ingressantes no serviço público federal antes de 2003 se beneficiassem da paridade e da integralidade, eles teriam de trabalhar até os 65 anos, se fossem homens, e 62, se fossem mulheres. Isso gerava um impacto grande no gasto público. Não só porque seriam pagas menos aposentadorias, mas porque todos esses servidores teriam de trabalhar mais tempo e haveria menos necessidade de trocar servidores. E o impacto dessa medida seria cavalar porque, seis meses depois, se aprovada a reforma, ela também valeria para os regimes estaduais. Agora, eu entendo que uma pessoa que fez um concurso com uma expectativa de se aposentar aos 50, 55 anos, com paridade e integralidade, não queira que mudem as regras no meio do jogo. Ela não está preocupada com o Tesouro Nacional. Ela está preocupada é com a vida dela. Eu entendo isso. Também é um lado da moeda, né? Tem o equilíbrio das contas públicas e tem a expectativa de direitos que as pessoas têm, dadas as regras vigentes dos concursos quando elas passaram. Eu acho que isso tudo explica o açodo da procuradoria.
– Pois é, durante aqueles dias eu cheguei a ouvir que o Janot seria um cara simpático à esquerda, assim como a gente também escuta esse tipo de coisa envolvendo os ministros do Supremo, mas o que você está me dizendo…
– …Eu acho que foi por corporativismo. A gente está vendo, nesses anos do ajuste fiscal, que o corporativismo é fortíssimo. O corporativismo do Judiciário e das carreiras de elite do serviço público brasileiro são muito fortes. Essa é a minha avaliação. Repito, não consigo provar isso, mas tem o outro tema […]. Quer dizer, como que ecoou na imprensa? Eu acho que o Lauro Jardim é desses jornalistas que vive do “furo”, né? Um jornalista respeitado e muito bem informado…Houve um certo descuido, na minha opinião. Eu não acho que a Globo tinha algo contra o Temer. Não acho que ela tinha uma agenda contra o governo. Agora, eu acho que ela carrega um estigma por atos do passado. Uma imagem que eu acho injusta. Eu gosto da Rede Globo. Acho que ela fez e faz programas importantes…Penso na minissérie Grande Sertão Veredas, produzida na década de 80, que é linda. Toda a dramaturgia produzida e que tem um impacto imenso na nossa cultura…Eu acho a Globo uma empresa que produz conteúdo de boa qualidade. E não é melhor do que as outras por ser monopólio ou alguma coisa do tipo, mas por trabalhar bem. Eu vejo gente dizer: “ah, o Jornal Nacional é uma porcaria”…Eu via os jornais lá fora, quando eu morava nos Estados Unidos, e não acho muito diferente…Sei lá, é uma coisa meio padrão, eu imagino que um jornal daquele modelo não vai ser muito diferente do que é, mas, de fato, a esquerda e os intelectuais conseguiram pregar esse selo. Está associado com uma relação que a Globo teve com a ditadura, décadas atrás, e o erro que cometeram na edição do debate entre o Lula e o Collor em 89. Eu não acho que a derrota do Lula se deve àquilo, mas teve um peso. E também de certa avaliação que várias pessoas fizeram, e nesse ponto eu discordo de que a Globo teria pegado pesado com o PT agora, nesse processo do impedimento da presidente. Dizem que tinha muita reportagem, que era todo dia…Eu realmente não achei que a Globo foi especialmente errada no jornalismo dela. Tanto no mensalão quando agora. De todo modo, quando apareceu uma possível notícia importante que pegava o governo, eles foram compelidos…vamos dizer que a decisão jornalística pesou mais do que o cuidado com a apuração da notícia. E aí eu acho que a Globo cometeu um grande erro: na hora que a notícia inteira veio a público e ela viu que tinha errado, deveria ter feito um mea culpa. E não fez.
– Pelo contrário, fez um editorial, depois, pedindo a renúncia do presidente…
– …Eu acho que poderiam ter pedido a renúncia dele por prevaricação, o que é muito grave, mas não foi aquilo o noticiado. Teve até aquela jornalista, a Vera Magalhães…ela fez direitinho, no YouTube…eu já lia o que ela escrevia, mas a partir daquele momento ela virou uma referência pra mim, pela maneira como ela se comportou. Foi exemplar. E chamou a culpa pra ela, não ficou falando dos outros. Achei muito legal a postura da Vera […], então eu acho que é isso. Não tinha uma agenda da Globo, mas teve essa soma de fatores…Agora, eu acho que a culpa disso tudo é do Temer.
– Não tinha nada que se reunir com alguém do naipe do Joesley…
– …com ninguém do naipe do Joesley, às dez da noite, fora da agenda, o cara dando o nome errado para entrar… foi gravado? Dançou. Se houve açodo do Janot, não muda esse fato. Quem gerou o motivo que destruiu a possibilidade da aprovação da Reforma foi o próprio presidente.
– Você acha que, dado todo esse cenário, a equipe econômica atual conseguiu lidar da melhor forma possível?
– Eu acho que houve um erro… quer dizer, não sei se foi da equipe econômica, é muito difícil avaliar isso estando de fora, mas eu acho que houve um erro apontado pelo Marcos (Lisboa) desde o início, com muita clareza e publicamente. Eu até fui menos vocal do que ele, fui leniente no momento, mas que depois se mostrou grave: não rever aqueles aumentos salariais, feitos lá atrás, quando eles assumiram. Tinha aquele escalonamento de aumentos salariais que a Dilma havia negociado com o sindicato dos servidores públicos e o Temer deveria ter revisto, dada a natureza do problema fiscal. Quando o Temer assumiu e descobriu-se que a situação era muito grave, não dava para manter […]. Ficou uma situação anacrônica em que estados não podem emitir dívida e segurando salário dos servidores estaduais, enquanto a União, que pode emitir dívida, dando aumentos reais de salários para os servidores na situação em que o país estava. E esse impacto no orçamento não é pouca coisa. Então esse foi um erro e acho que foi um erro importante. Tirando isso, a equipe é espetacular e fez um trabalho excelente. Diante das circunstâncias, fez o que dava para fazer.
– Uma coisa que eu queria te perguntar, desde quando marcamos essa entrevista, é o seguinte: qual é a sensação de dominar um assunto tão importante para o País e perceber que esse entendimento não consegue superar as campanhas de desinformação? Que o Brasil patina mesmo após um momento tão grave, que deveria servir de aprendizado?
– Então […] O que é esse patinar? Esse patinar é justamente não haver aprendizado. Tem alguma coisa no nosso processo social, na forma como a nossa sociedade funciona, que a gente não aprende com os eventos. Talvez aprenda até, mas seja um aprendizado muito lento. Eu vejo, por exemplo, as declarações do pré-candidato Ciro Gomes, ou leio a entrevista do economista Nelson Marconi, meu colega na Fundação [Getulio Vargas], e me parece que não houve aprendizado com o período que vivemos nesse passado recente. Tem uma dificuldade, que não é só brasileira, é também argentina e venezuelana, ligada à existência de um núcleo na Academia, em economia, que são os heterodoxos. Que têm uma visão diferente do mundo. E eu acho que essa visão é meio amalucada. Por exemplo, eu vejo esse pessoal falando…eles acreditam, no meu modo de entender, numa economia do moto-perpétuo. E o que é a economia do moto-perpétuo? É o seguinte: o Estado aumenta o gasto dele, e, claro, para aumentar o gasto ele tem de aumentar a dívida…mas esse impacto é tão grande sobre o crescimento e na receita de impostos, que, no final do dia, depois de todos esses efeitos, a relação dívida/PIB cai. É um mundo maravilhoso, uma coisa meio pedra filosofal… e tem gente relevante que acredita nisso. Agora, o que eu faço quando uma parte grande dos profissionais de economia tem visões de mundo que no meu entender são totalmente amalucadas? […] Veja, esse grupo de pessoas que pensam de maneira muito diferente existe em todo lugar, na França, nos Estados Unidos, no Chile… agora, nesses lugares acontece alguma coisa que essas pessoas nunca viram o ministro da Fazenda, nunca viram o secretário do Tesouro Nacional ou o presidente da República […]. Estão na Academia, fazendo lá as suas críticas, umas pessoas ouvindo, outras não ouvindo e vida que segue. Não têm relevância na formulação da política econômica do País. Elas podem fazer uma formulação crítica que gere literatura, uma reflexão que resulte em algum eco, mas não vão lá formular a política econômica. No Brasil elas vão. Na Argentina, na época da Cristina, tinha aquele sujeito lá de costeletas [Axel Kicillof, ministro de Cristina Kirshner entre 2013 e 2015], na Venezuela tem outro lá…agora, olha o Chile. Saiu o Piñera, entrou a Bachelet, que todo mundo diz que é de esquerda, e olha lá os ministros dela: é MIT, Stanford, Princeton… não tem gente maluca. É gente mais social-democrata. Aí sai a Bachelet, entra o Piñera e pegam um cara de Chicago, outro de Minnessota, do Arizona…sei lá, um cara mais de centro-direita. Do ponto de vista da economics, da teoria positiva, todos pensam igual. A Bachelet não põe gente que acredita no moto-perpétuo. Aqui, quando a esquerda ganha, fazem isso.
– Deixa eu te fazer uma pergunta que eu fiz para o Marcos: quando o Lula assumiu, todo mundo ficou com medo, mas ele não botou fogo em Roma. Pelo contrário…
– …muito pelo contrário! Ele foi mais conservador […]. Deixa eu te dizer uma coisa: eu votei no Lula em 2002. E o motivo é muito simples. Não tenho nada contra o José Serra, muito pelo contrário, ambos somos palmeirenses, mas eu tenho um pé atrás com o intervencionismo a lá Getulio Vargas nos anos 50, o segundo PND do Geisel… eu acho que isso não funciona. O Brasil cresceu ali por outros motivos e eu sei que o Serra é um cara muito intervencionista. Ele tem saudades lá dos anos 50 e para mim era muito claro que o Lula, por ter vindo do povo, sofreu muito com a inflação. Quem é pobre e viveu os anos 80, 90, sabe que a inflação machuca. Então, era muito claro para mim que o Lula seria conservador na economia pela própria experiência de vida […]. Olha, antes de entrar nisso eu preciso voltar um pouco sobre o porquê do nosso aprendizado ser tão lento. Acho que um dos motivos é que entre os nossos profissionais de economia não existem acordos mínimos.
– Não existem?
– Exato, não existem. Como falei antes, você tem profissionais de economia para quem o gasto público se autofinancia eternamente. Essas pessoas […] Você olha para a Coreia. A Coreia, em 1960, era 1/3 do Brasil em renda per capita, hoje é três vezes mais. Eles construíram um dos melhores sistemas educacionais do mundo. Ou seja, se eram quase analfabetos em 1940, hoje todo mundo estuda no ITA, faz o PISA… as taxas de poupança da Coreia são 35% do PIB. As famílias da Coreia poupam muito e a carga tributária é baixa. O Estado, apesar de tributar pouco, produz com eficiência metrô, estradas e infraestrutura. Então veja, parece que isso explica o crescimento econômico, mas tem um monte de economista que acha que educação, poupança, contas equilibradas, uma política econômica fiscal e macroeconômica em ordem, são desimportantes. Que a Coreia ficou rica por causa do BNDES deles, dos campeões nacionais deles…que os fundamentos são consequência e não a causa. Entende? E essas pessoas são muito atrativas para o populismo.
– …estamos melhores agora do que há 2 anos, há 3 anos, mas a tinta ainda não deveria estar fresca para essas pessoas?
– …eu vou te falar uma coisa: vai lá em Campinas e converse com os economistas da nova geração. Eles vão te dizer que a crise foi culpa do Levy. Do ajuste fiscal do Levy. Nunca fizeram uma conta. São incapazes de fazer um artigo técnico rigoroso, bem estimado, e submetê-lo a uma revista brasileira de economia. Qualquer revista. E o fato de serem incapazes de produzir um paper acadêmico de alto nível, com as melhores técnicas, que sustentem essa visão amalucada deles, não faz com que eles tenham dúvida. E ainda assim eles continuam achando…
– …mas então é uma questão de fé? Não vira fé?
– Vira! Eu acho que essas pessoas têm uma relação religiosa com o conhecimento. Eu acho isso. Acho que uma boa parte da heterodoxia brasileira, de Campinas e da UFRJ, é religiosa. Eles não olham dados, não constroem modelos que possam ser estimados estatisticamente e não testam as hipóteses deles. Eles acreditam. É um ato de fé.
– Escuta, você mencionou o Ciro…
– Isso…
– A pergunta é: você não fica aflito quando ouve o Ciro falar? Não te causa certo receio? Inclusive pelo fato dele ser capaz de distorcer dados e datas, por falar em rever medidas…
– Em primeiro lugar eu devo dizer que compartilho do seu medo. E acho que as chances do Ciro chegar no segundo turno são elevadíssimas. No meu entender, o Ciro Gomes tem o melhor discurso da política brasileira. Ele tem um português muito bonito. Ele fala bonito sem ser pedante. Eu adoro ouvir o Ciro Gomes falar…
– Mas tem de tirar o conteúdo…
– Exatamente. Se você tirar o conteúdo, é o melhor. O estilo dele… é um discurso melhor do que o do Lula, inclusive. Se você notar, nos discursos do Ciro Gomes não tem uma muleta linguística. Não tem “sabe”, “aí”, “né”…é tudo conectado, sujeito, predicado, vocabulário rico… é um anti-Dilma. Só fala barbaridades, mas eu fico pensando […]. No ano passado, ele veio fazer uma palestra na Escola de Sociologia e Política, aqui na Vila Buarque, e eu fui. Inclusive para conhecer um pouco o pensamento dele. E eu fiquei ouvindo ele e pensando, “ora, eu sou um professor de economia, se eu tivesse de debater com ele, como que eu desmontaria as bobagens que ele está falando?”…e não seria fácil, porque eu precisaria me explicar demais. Você tem toda a razão, ele pega um dado e distorce um pouco. Vou dar um exemplo. Nessa palestra […] Ele adora falar mal do FHC. É uma coisa engraçada, o FHC saiu há 15 anos, mas ele tem lá um problema. O FHC não fez ele ministro e ele ficou amargurado. A gente pode até discutir um pouco futebol e amargura, porque eu tenho uma tese sobre isso envolvendo a campanha da seleção na Copa da África do Sul…
– Opa! Vamos, claro!
– …mas, sobre o Ciro, a relação que ele tem com o FHC é amargurada, de dor… Então, lá pelas tantas, ele falou: “ah, a dívida externa com o FHC chegou a x”. Eu não chequei, provavelmente o número estava certo. Tenho certeza que estava certo. E ele continuou: “A gente tinha uma dívida pública tal, em tal data, e era 60% do PIB, o que eles estão reclamando da dívida agora?”, foi alguma coisa assim. Bem, a gente sabe, o país tem uma história complicada, vinha de uma hiperinflação e fez uma estabilização. O PSDB cometeu os seus erros e os seus acertos; uma parte da dívida pública naquela época era denominada em dólares, houve o risco do Lula ganhar e o PT é um partido que ficou vinte anos só falando bobagem. Quando o risco deles ganharem aumentou, o mercado se assustou e o risco-país explodiu, levando junto aquela parte da dívida denominada em dólares. Pois bem, como a gente estava falando, o Lula assumiu de uma maneira muito responsável, pôs um ministro da Fazenda espetacular, meio gênio (Antônio Palocci) e aí o câmbio voltou, fazendo a dívida cair. Obviamente, quando foi discursar, o Ciro pegou o pico da situação. Ele não contextualizou que tinha uma parte dolarizada, apenas pinçou o momento ideal para fazer o seu argumento. Essa desonestidade o Ciro comete a rodo. Hoje mesmo, na Folha, aquela seção em que checam as falas dos políticos, pegaram umas quatro dele. Ele faz isso o tempo todo e, como fala bem, com muita fluência, você acha que os dados estão certos. A forma contamina o conteúdo […]. Por outro lado, o legado dele e do irmão dele, quando estiveram à frente do Estado do Ceará, é positivo. O que é uma ótima notícia para o Brasil. Agora o crime estourou lá, ficou meio chato, mas o saldo é positivo. Também lá ele foi um homem de responsabilidade fiscal. Sempre teve cuidado com as contas públicas. Quando ele foi ministro do Itamar Franco, substituindo o Ricupero, foi um cara super liberal. Brigou com a FIESP para abrir mais a economia. Então ele é um cara paradoxal. O discurso dele hoje é brizolista, intervencionista, nacional-desenvolvimentista dos anos 50, não tem nada a ver com a ação dele. Eu olho e acabo ficando super… em inglês tem aquela palavra, puzzled… eu fico apatetado. Fico me perguntando “por que ele virou brizolista?”. Por que ele quer esse intervencionismo que só deu errado?
– Mudando de assunto, hoje você é colunista em um jornal importante, mas como essa vontade de se comunicar com o público surgiu?
– É engraçado isso, Vitor, mas a economia demora a entrar […]. Para você virar um bom economista acadêmico, que faz pesquisas de alto nível, é super difícil, requer muito trabalho, mas é uma coisa que dá para aprender com uma maior rapidez. Os jovens tendem a ser melhores nisso, por serem mais criativos, mais inventivos…Agora, você ter um conhecimento econômico amplo e conseguir usar isso para falar sobre o mundo, pelo menos para mim, demorou décadas. E como eu sou formado em Física, eu tinha sempre uma certa insegurança de ter vindo de outra área. Tinham umas coisas básicas que eu não havia estudado…depois eu estudei tudo, estudei contas nacionais a fundo, mas eu demorei muitos anos para me sentir proprietário desse conhecimento e desse saber. Com independência intelectual para usar ele, para conversar com você, para falar publicamente, escrever em um jornal… só comecei a fazer essas coisas cinco anos atrás.
– E você consegue pensar em um momento específico?
– […] a minha passagem pelo gabinete do senador Tasso Jereissati foi fundamental para que eu me transformasse no que eu sou hoje. Acho que, para um profissional de economia, trabalhar no gabinete de um senador atuante, ativo no Senado e na Câmara, é uma experiência única. E eu fui muito abençoado, porque trabalhar com um político do nível do Tass foi uma das experiências profissionais mais gratificantes que eu tive. Um privilégio.
– Por falar em Tasso… Você acha que o PSDB foi o adversário ideal para o PT, por não ter sido tão combativo na oposição quanto os petistas foram durante os governos tucanos? É possível fazer essa crítica?
– Eu acho que não. Acho que não dá. Eu acho que a maneira como o PSDB fez oposição é a maneira correta.
– Mesmo?
– Acho. A nossa Constituição é de 1989. Desde então, já foram aprovadas mais de cem emendas constitucionais. Temos um sistema que os cientistas políticos chamam de democracia consensualista, que é um sistema cujas regras são todas desenhadas para obrigar a construção de consensos o tempo todo. Há imensas instâncias de negociação e muitos grupos com poder de veto. A gente pode mudar o sistema, mas ele foi feito assim. O presidente é eleito com 18% do Congresso. Então, ter uma oposição predatória, como o PT foi, é muito disfuncional.
– Eu não estou defendendo o “quanto pior, melhor”…
– …mas eu acho que o erro do PSDB não foi esse, no papel da oposição. O erro foi não ter digerido bem a derrota em 2002 e as qualidades e os defeitos durante os oito anos que eles ficaram na Presidência da República. Não defenderam o próprio legado […]. A transição de poder é normal, mas, se quando você perde, você defende o seu legado e olha a longo prazo, quando a sua vez de voltar chegar você estará pronto.
José Roberto de Toledo: As limitações de Bolsonaro
Após entrevista, páginas de apoio ao presidenciável tiveram que defender seu candidato
Bastou um “Oi?” espantado da jornalista para Jair Bolsonaro viralizar nas mídias sociais – mas, desta vez, de um jeito bem diferente do que ele está acostumado. Em vez de atacar rivais, as páginas de apoio ao presidenciável pró-ditadura tiveram que defender seu candidato. O motivo? Sua admissão pública de que não entende nada de economia. A repercussão negativa da entrevista reforçou a hipótese de que quanto mais Bolsonaro se expuser a perguntas, mais solavancos sua candidatura sofrerá.
O deputado e militar reformado enfrenta um dilema. Se quiser voltar a crescer na preferência dos eleitores, ele precisa se popularizar. Campanha pela internet, onde Bolsonaro produz mais interações do que qualquer outro candidato a presidente, é boa para quem pede voto porque não há contraditório. Ele só fala o que quer e não ouve o que não quer. Mas a campanha virtual tem limites: só atinge o eleitorado das classes de consumo A, B e C.
Eleitores maduros e pobres, das classes D e E, não passam o dia no Facebook ou no Instagram, como o jovem e típico eleitor de Bolsonaro. Os bolsonaristas são quatro vezes mais comuns entre os mais ricos do que entre os mais pobres, segundo o último Ibope: 24% a 6%, no cenário com Lula e Alckmin. Por conta dessa elitização, o “buzz” sobre Bolsonaro é três vezes maior nas mídias sociais do que nas pesquisas de intenção de voto.
Essa super-representação na internet faz a candidatura do militar reformado parecer maior do que é. As carências não ficam evidentes, mas existem. Sem um partido grande para lhe dar palanque e estrutura de campanha nos Estados nem tempo de propaganda na TV e rádio, restam poucos meios para o deputado atingir o eleitor pobre: as entrevistas na mídia tradicional e, quando a campanha começar oficialmente, os debates na TV. O episódio de sexta-feira mostrou que aí ele pode se complicar.
Bolsonaro respondia descontraidamente a perguntas dos telespectadores lidas pela jornalista Mariana Godoy. Até que apareceu uma pegadinha: “Qual sua opinião sobre o tripé macroeconômico?”. A primeira reação do deputado foi rir. Depois, terceirizou a resposta: “Quem vai falar de economia por mim é minha equipe econômica no futuro”. Mas não parou por aí.
“O pessoal exige de mim conhecimento em economia, então teria que exigir entendimento em medicina: eu vou indicar o ministro da Saúde.” Continuou eximindo-se da necessidade de falar sobre temas técnicos e exaltando o desempenho econômico dos presidentes militares. Foi aí que a entrevistadora soltou o “Oi?” estupefato e espontâneo que fez a alegria da internet. “Deixaram o Brasil com muita inflação; fizeram a dívida externa”, rebateu. Bolsonaro bem que tentou, mas não foi convincente na tréplica.
Os bolsonaristas acusaram o golpe. O incômodo ficou evidente pela quantidade de memes sobre o assunto que eles publicaram no Facebook desde então. Todos tentam desqualificar ex-presidentes em matéria econômica, para equipará-los a seu candidato. Mas nenhum ousou fazer o que nem Bolsonaro teve coragem de arriscar: dizer que ele entende do assunto.
Com 13% a 18% das intenções de voto no Ibope – dependendo do rol de adversários –, Bolsonaro está no limiar da passagem para o segundo turno. Excluindo-se quem diz que vai votar em branco ou anular, ele tem entre 16% e 19% do que seriam os votos válidos, nos cenários com Lula candidato. Por comparação, o petista passou ao turno final contra Collor em 1989 com 17%.
Diante do seu desempenho de sexta e da falta de voto dos demais candidatos, Bolsonaro poderia se dar ao luxo de restringir sua campanha à internet e evitar novas entrevistas. Vai que ouve outro “Oi?” por aí.
André Lara Resende: “Sem credibilidade fiscal, outras políticas são impotentes”
O economista, que ajudou a conceber o Plano Real, inflama o debate sobre os juros altos, mas reitera que não há solução fora do corte de gastos
André Lara Resende faz parte de um seleto grupo de economistas que, desde a juventude, integra cúpulas de governo. Desde os anos 1980, ele auxiliou a equipe de José Sarney a formular o Plano Cruzado, debateu hiperinflação com Fernando Collor e integrou a equipe criadora do Plano Real no governo de Fernando Henrique Cardoso. Doutor em economia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e hoje pesquisador sênior na Universidade Columbia, em Nova York, Lara Resende chocou parte de seus pares em 13 de janeiro. Ele escreveu um artigo para o jornal Valor Econômico em que colocava em xeque um pilar da estabilização da moeda. Alertava para o que considera evidências de que juros altos causem, no longo prazo, inflação alta. Provocou reações entre colegas renomados, como Marcos Lisboa e Samuel Pessoa, que refutaram a tese. Em 27 de janeiro, voltou à carga, num novo artigo no Valor. Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, em entrevista a ÉPOCA de 30 de janeiro, afirmou que a suposição de Lara Resende deveria ser amadurecida na academia antes de afetar políticas reais, pois o povo não pode ser cobaia de modelos matemáticos. O jornalista Elio Gaspari, no jornal O Globo de 8 de fevereiro, afirmou que Fraga estava “patrulhando” Lara Resende – ao que Fraga replicou que não estava interditando o debate e que Gaspari tratara o tema de forma sensacionalista. Em entrevista a ÉPOCA, a primeira que deu desde que escreveu o artigo, Lara Resende afirma que quis trazer ao Brasil um debate global. “Está em curso nos países desenvolvidos uma revisão conceitual dos fundamentos da política monetária”, explica. “A maioria dos economistas brasileiros, compreensivelmente imersos no turbilhão da crise, não acompanha com atenção esse debate.”
ÉPOCA – O senhor levantou, recentemente, o debate sobre a eficácia dos juros altos contra a inflação. Foi alvo de críticas. Sentiu-se mal compreendido pelos colegas?
André Lara Resende – De forma alguma. Acho que o debate tem sido interessante e muito útil. As razões da baixa eficácia dos juros altos no Brasil vêm sendo discutidas há tempos entre os economistas. Em paralelo, a partir da experiência heterodoxa dos bancos centrais depois da crise financeira de 2008, está em curso nos países desenvolvidos uma revisão conceitual dos fundamentos da política monetária [o esforço de um governo para lidar com a inflação, tendo como principal instrumento os juros]. O arcabouço teórico da macroeconomia contemporânea ficou anacrônico e precisa de revisão profunda. Acho que a maioria dos economistas brasileiros, compreensivelmente imersos no turbilhão da crise do país, não acompanha com atenção esse debate. Nos Estados Unidos, onde os ânimos andam ainda mais tensos, a política monetária não está entre os temas mais candentes.
ÉPOCA – Sua tese associada à experiência da “nova matriz econômica” de Dilma Rousseff (que baixou rapidamente os juros e os manteve baixos, ao que se seguiu um período de inflação alta). Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, referiu-se a ela como “atalho”. Aplicar a tese numa economia de histórico inflacionário, como o Brasil, não é arriscado?
Lara Resende – O ponto mais controverso que expus é a hipótese de a taxa de juros, se mantida por muito tempo num determinado nível, levar as expectativas e a própria inflação a convergir para ela. O resultado surpreende porque reverte a tradicional relação entre a taxa de juros e a inflação. Embora aparentemente heterodoxa, é resultado lógico dos modelos macroeconômicos contemporâneos de referência. A hipótese não pode ser entendida como um atalho para baixar a inflação. Ao contrário: o ponto central do novo arcabouço macroeconômico é a chamada Teoria Fiscal do Nível de Preços, segundo a qual a verdadeira âncora da inflação é o equilíbrio fiscal [o equilíbrio das contas públicas]. Sem ele, a política monetária é pouco eficiente e pode até mesmo ser contraproducente. Por isso, as políticas monetária e fiscal devem ser coordenadas.
ÉPOCA – Se a saída está na organização das contas públicas, é possível afirmar que a condução dos juros no Brasil, desde que a inflação voltou a subir, não surtiu efeito?
Lara Resende – Não sei dizer se a política monetária foi inútil nem se a queda da inflação agora resulta dos juros altos. Isso exigiria um estudo empírico cuidadoso. Mas causa estranheza que a inflação tenha demorado tanto a cair, apesar da recessão gravíssima e da taxa de desemprego alta dos últimos dois anos.
ÉPOCA – A queda da inflação e dos juros mostra que o pior da crise já passou?
Lara Resende – Ao menos em relação à economia, sim. Mas é difícil ser muito otimista. A crise política ainda está longe do fim, a incerteza é detratora do investimento e sem ele a recuperação fica comprometida. É provável que o Produto Interno Bruto se estabilize e cresça um pouco, mas nossas questões estruturais graves ainda estão aí para ser resolvidas. É preciso modernizar o Estado, hoje oneroso e ineficiente, abrir a economia, hoje excessivamente concentrada e fechada à competição externa, e avançar muito na educação. Só assim haverá ganho consistente de produtividade, que é a chave para o crescimento sustentado.
A verdadeira âncora da inflação continua a ser o equilíbrio fiscal.
ÉPOCA – Cortar gasto público é difícil. A política de juros atual e passos como a aprovação da PEC do teto do gasto público bastam para que se retome o crescimento?
Lara Resende – Cortar é sempre difícil, mas não há alternativa. Estamos à beira de uma crise fiscal séria, como fica evidente pela situação dos estados. Sem credibilidade fiscal, a política monetária é impotente. O gasto público no Brasil está próximo de 40% da renda, no patamar de países desenvolvidos, mas com serviços públicos da pior qualidade. O Estado custa caro e oferece pouco. É uma calamidade a situação da segurança, da saúde e da educação, áreas em que o Estado é fundamental. Modernizá-lo é urgente.
ÉPOCA – O senhor foi um criador do Plano Real. De lá para cá, o meio econômico se tornou mais avesso ao debate?
Lara Resende – Não acho que haja maior aversão ao debate. As pessoas sempre foram muito mais conservadoras do que se imaginam. Entendo o papel de um conservadorismo político e social ilustrado. Mas o conservadorismo intelectual me espanta, pois parece uma contradição. Desde cedo, desconfiei da ortodoxia para combater inflações crônicas, como a do Brasil na segunda metade do século XX. Rudiger Dornbusch, meu professor no MIT, sempre questionou o que ele considerava minha insistência em dar atenção a argumentos não convencionais sobre inflação. De volta ao Brasil, desenvolvi, com um grupo de economistas, as bases conceituais sobre a inércia dos processos inflacionários crônicos. Ocorreu-me que o problema poderia ser resolvido pela indexação da própria moeda. Publiquei minha proposta sobre o tema e a repercussão foi grande. A reação da grande maioria dos analistas, com algumas exceções, a mais influente delas sendo Mário Henrique Simonsen, foi extremamente crítica. Fui convidado a expor a tese em Washington e escrevi, com Pérsio Arida, um artigo que serviu de base para o Plano Real.
ÉPOCA – O Banco Central foi conservador ao não baixar os juros antes?
Lara Resende – Acho que a política monetária, e não a fiscal, deveria ter sido mais expansionista [ou seja, os juros deveriam ter caído para aquecer a economia] logo após a crise financeira internacional de 2008. Mas não se pode afirmar que o Banco Central tenha sempre sido mais conservador que o necessário.
ÉPOCA – Em 2011, o então presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, cortou juros num período em que a economia estava superaquecida e a inflação em trajetória de alta. Foi muito criticado. Na visão de muitos, isso ajudou a causar o desastre econômico.
Lara Resende – O corte dos juros em 2011 foi infeliz, sobretudo por dar a impressão de que decorria da pressão da Presidência da República. Apesar disso, acho que a política monetária contribuiu pouco para o desastre econômico. O BC tem quadros competentes e, milagrosamente, a diretoria sempre foi ocupada por profissionais qualificados. A catastrófica gestão econômica dos governos do PT, depois do primeiro mandato do presidente Lula, se deve muito mais a uma visão patrimonialista arcaica do Estado, combinada com uma política fiscal absolutamente irresponsável.
ÉPOCA – O senhor conversou com o presidente do Banco Central,Ilan Goldfajn, sobre a nova tese a respeito de juros?
Lara Resende – Não, mas não tenho dúvida de que ele e sua diretoria sejam altamente qualificados. Eu seria mais agressivo na redução dos juros a partir de agora, mas compreendo as razões para ser cauteloso. Para um banqueiro central, é fundamental estabelecer a reputação de independência em relação a pressões espúrias. A queda da taxa de juros precisa ser entendida como parte de uma política coerente e não como uma irresponsabilidade voluntarista. É nesse sentido que considero importante a discussão aberta, não restrita aos especialistas, das questões propostas em meu artigo.
Fonte: epoca.globo.com
Entrevista com Felipe Salto
Entrevistamos Felipe Salto que é economista pela FGV/EESP e tem mestrado em Administração pública e governo também pela FGV. Atualmente é professor dos cursos de pós-graduação executiva na mesma instituição e já trabalhou sete anos na Tendências Consultoria, na área de macroeconomia, onde se tornou especialista na cobertura das contas públicas brasileiras.
Desde 2015, trabalha no Senado Federal, como assessor econômico dos senadores José Serra e José Aníbal. Escreve artigos para o Estadão, Folha e Valor, além de manter o Blog do Salto.
Felipe Salto publicou, em 2016, em parceria com Mansueto Almeida Jr., atual secretário de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda, o livro ‘Finanças Públicas: da contabilidade criativa ao resgate da credibilidade’, pela Editora Record. O livro, organizado pelos dois economistas, é um compêndio de diagnósticos e propostas para recuperar o equilíbrio fiscal e a credibilidade das contas públicas brasileiras.
Confira a entrevista que fizemos sobre políticas econômicas, contas públicas e ajuste fiscal.
- Salto, como chegamos a esse descalabro fiscal? Foi só a atuação com políticas anticíclicas que se exauriram ou há mais fatores? Talvez um pouco de political budget cycle em 2014?
Há uma crise de crescimento econômico sem precedentes. O pior biênio da série histórica do IBGE, que começa em 1901, será 2015-2016, com taxas negativas de 3,8% e 3,3%. O tombo do PIB desbancou a arrecadação do governo e, com isso, exacerbou nossos problemas fiscais. Digo exacerbou porque eles não apareceram neste ano ou no ano anterior. O ovo da serpente foi posto no governo Lula. Veja: a taxa de crescimento real anual do gasto era 3,5%, no segundo governo FHC. Ela avançou para 7,4%, no primeiro governo Lula e para 9,5% no segundo. Isto é, aproveitamos muito mal o período da bonança externa. Usamos esse excedente externo gerado pela alta das commodities para turbinar o consumo, muito mais do que o investimento. A esse processo somaram-se as práticas da contabilidade criativa, que começaram já em 2009, com os chamados abatimentos dos gastos do PAC da meta de superávit primário. À época, escrevi com Maílson da Nóbrega o primeiro artigo que alertava para isso é para os riscos desse novo caminho de expansão fiscal desmedida e não contabilizada. Saiu no Estadão: “Contabilidade criativa turva meta fiscal“. De lá pra cá, foi a derrocada. Apostaram no gigantismo dos bancos públicos, no manejo unilateral das variáveis macroeconômicas, como o juro, e no intervencionismo sem fim. Deu no que deu.
- E quais são as opções disponíveis para sair do atoleiro fiscal atual e voltar a termos contas públicas em ordem?
A PEC do Teto é uma boa medida , mas tem de ser complementada. Fiz simulações que apontam para um desbalanceamento dessa proposta. No curto prazo, pouco efeito e, no longo, um superávit exagerado. É preciso ajustá-la urgentemente, colocando limites auxiliares explícitos para o gasto com pessoal, impedindo assim que o ajuste recaia sobre investimentos e gastos sociais. Além disso, o prazo é muito longo. Dentre 88 países analisados em recente estudo do FMI, nenhum deles adotou regra similar para um período tão longo. É bom que o governo tenha algum grau de discricionariedade e que a recuperação da atividade possa se refletir em mais e melhores políticas públicas. Outras medidas que o governo deveria tomar: limitar a dívida da União, como manda a constituição e na linha de projeto de resolução cujo texto substitutivo foi apresentado ano passado pelo senador José Serra; securitizar a dívida ativa (vender créditos tributários), o que renderia pelo menos R$ 55 bilhões à União; interromper todos os reajustes salariais e contratações no serviço público; reduzir à metade os subsídios e subvenções; elevar a CIDE e reduzir juros. Sobre esta última medida, cada ponto de Selic a menos são R$ 25 bilhões de economia fiscal, sem mencionar os efeitos sobre as empresas, que estão atoladas. A depressão, o hiato do produto extraordinariamente aberto e a convergência das expectativas de inflação para patamares baixos justificam a queda imediata do juro.
- Dessas opções disponíveis, quais as mais eficazes do ponto de vista econômico? Elas conflitam com suas viabilidades políticas?
O mais eficaz é promover ajustes rápidos e intensos e, depois, apostar no gradualismo. O prédio está pegando fogo e, neste caso, tem de chamar os bombeiros. Não adianta ficar sinalizando, sinalizando e não agir! A revisão de todos os contratos de compras do setor público com o privado é também um caminho que já deveria ter sido adotado. Ele poderia render de R$ 12 a R$ 14 bilhões ao erário por ano. Nesta semana, participei de debate na FGV-SP e o professor Yoshiaki Nakano nos contou sobre como conduziu o ajuste fiscal no governo Covas, quando foi secretário da Fazenda. Há muita, mas muita ineficiência no governo. Combater isso é gerar economia ganhando de quebra a confiança da população para as outras medidas e reformas é fundamental. A viabilidade política se dá pelo exercício da liderança, inspirando confiança nas pessoas. Para isso, é preciso ter um bom plano, uma mescla de ações. E é preciso ter convicção sobre isso.
- Como mencionado, carro-chefe do governo Temer é a PEC 241. Quais são suas qualidades e seus riscos? Ela será suficiente para conter o problema fiscal? E ainda mais importante: vai ser aprovada?
Como já comentei, a PEC é a principal medida do governo e está desbalanceada. Ela tem pelo menos quatro problemas, como escrevi em artigo para o Instituto Teotônio Vilela: o prazo é longo demais; o teto geral (inflação passada) conflita com as 14 vinculações e/ou indexações presentes no gasto primário federal; o esforço a curto prazo é nulo e a longo prazo é altíssimo (o primário poderá superar 6% do PIB); e as exceções fixadas no texto, como os créditos extraordinários, prejudicam a força da PEC. Acho que o governo tem um longo caminho pela frente. É muito positivo que tenha eleito o problema fiscal como o prioritário, mas não há bala de prata. Só a PEC não nos retirará do atoleiro. Disso não tenho dúvida. Nesse sentido, as declarações recentes do governador Alckmin estão corretas.
- Mesmo que a PEC seja aprovada, outra questão que fica é: vai ser respeitada? Tínhamos a LRF que foi desrespeitada. Por que devemos acreditar que desta vez é diferente?
Aí é que está. Se a Lei de Responsabilidade Fiscal estivesse sendo seguida à risca, não precisaria de PEC do Teto. Aliás, não teríamos chegado na situação calamitosa de dívida de quatro trilhões com déficit nominal de 600 bilhões de reais e custo médio de 8,7% em termos reais. É coisa de louco. Se a regra de ouro estivesse valendo, jamais estaríamos galopando na dívida pública para financiar salários, aposentadorias e gasto corrente em geral, com investimentos estagnados em 0,6% do PIB. Vale lembrar que a regra de ouro diz que só se pode fazer dívida nova se for para investimentos. Ainda assim, sejamos otimistas: o novo governo, pelo menos, tem um bom diagnóstico do quadro fiscal. Precisa, no entanto, de uma estratégia mais ampla, complexa e detalhada. Mais difícil: precisa comunicar tudo isso muito bem e convencer deputados e senadores.
- Se a PEC não é uma bala de prata, como falamos, quais outras medidas fiscais são urgentes para que o Brasil não quebre mais para frente? Previdência? Saúde universalizada? Educação superior gratuita? Como vender cortes em “direitos sociais” e aliar a necessidade econômica de se fazer ajustes com o lado político?
Não há que se cortar os direitos e conquistas sociais. A política fiscal só tem sentido dentro de um contexto em que sirva para dar as melhores respostas sobre a alocação dos recursos públicos dadas as demandas sociais. Não se pode atropelar a sociedade. A política é a construção – e a reconstrução – constante do Estado. O Estado, por sua vez, é a lei, a ordem jurídica, a Constituição e a garantia do seu cumprimento, pela burocracia técnica e pelos políticos. O crescimento econômico é, nesse sentido, um objetivo central para qualquer governo. Como disse o mestre de todos nós, economistas, o professor Edmar Bacha: “sejamos francos, não há ajuste sem recuperação da atividade”. E desde já, que fique claro: não há contradição alguma. Em economia, é assim mesmo, tudo é circular, o ajuste afeta a confiança, que afeta os juros, que afeta o investimento e o crescimento econômico. Mas este, por sua vez, é imprescindível para recuperar receitas e produzir novamente um quadro mínimo de financiamento sustentável das políticas públicas. Por isso é tão importante buscar fatores exógenos a todos esses processos: concessões e privatizações e expansão de acordos comerciais são dois vetores essenciais. O juro também pode ajudar, neste momento, repito, pois a economia está deprimida, a inflação cedendo e o buraco só aumentando. Vamos continuar a receitar antibiótico para curar pneumonia, quando o diagnóstico é de pedra nos rins?
- Por fim, você e o Mansueto Almeida acabaram de lançar o livro “Finanças Públicas. Da Contabilidade Criativa ao Resgate da Credibilidade”. Seja um vendedor do livro e nos diga: por que devemos comprar (e mais importante, ler) o livro? Que lições ficam para o futuro? E vamos recuperar a credibilidade fiscal?
O livro é uma iniciativa de quando eu ainda estava na consultoria Tendências. Maílson me incentivou e escreveu um dos melhores capítulos do nosso compendio, que é sobre o histórico de construção e destruição das instituições fiscais no Brasil. Mansueto se animou e entrou na parceria comigo quando ainda estava no IPEA. Conseguimos reunir gente muito boa. Ali você vai encontrar diagnóstico, mas também muitas propostas. Marcos Mendes escreve sobre gastos com pessoal. Pedro Maciel, sobre a crise dos estados. Outro capítulo interessantíssimo é o do ex-presidente do Bacen, Gustavo Loyola, que avança sobre o tema intrincado do relacionamento entre a autoridade monetária é o Tesouro Nacional. Modestamente, o trabalho é mais um tijolinho para ajudar a construir o futuro do nosso país. Em última análise, para ajudar a construir o Brasil com que todos sonhamos: mais fraterno, mais desenvolvido e mais justo socialmente.
Fonte: terracoeconomico.com.br
"O Analfabeto Político", de Brecht, por Rolando Boldrin no #ProgramaDiferente
Entre as várias falas polêmicas de Lula ao contra-atacar a força-tarefa da Operação Lava Jato, após ser denunciado à Justiça pelo Ministério Público Federal, está a referência que o ex-presidente faz aos servidores públicos que, segundo ele, apesar de serem concursados e possuírem diploma, seriam "analfabetos políticos". Reveja.
"O Analfabeto Político" é também o título de uma reflexão atemporal de Bertolt Brecht (1898-1956), poeta alemão, dramaturgo e diretor de teatro. O #ProgramaDiferente aproveita a oportunidade para relembrá-la com uma belíssima interpretação de Rolando Boldrin, ator, apresentador de TV, cantor e compositor que em 2016 completa 80 anos de idade. Assista.
#ProgramaDiferente debate os 66 anos de televisão no Brasil
No aniversário de 66 anos da primeira transmissão de TV no Brasil, o #ProgramaDiferente debate o momento de mudanças culturais e tecnológicas que coloca em xeque a televisão como tradicionalmente a conhecemos. Assista.
Em 18 de setembro de 1950, Assis Chateaubriand inaugurava a TV Tupi, em São Paulo, com aparelhos espalhados por ele mesmo pela cidade, para que os paulistanos pudessem conhecer aquela novidade extraordinária e até então inacessível. Era quase mágica: um rádio com imagens! Passados 66 anos, com a internet, as redes sociais e as novas tecnologias, a TV vive um momento de profundas transformações.
Nunca se produziu tanto conteúdo e nunca houve tantas formas de acessá-lo quanto hoje – por TV paga, internet, smartphones e novas plataformas. É sobre essa revolução comportamental, que dá ao espectador cada vez mais o poder de escolher o que assistir, que o programa desta semana propõe uma reflexão sobre o assunto.
Tem de tudo: entrevista especial com o jornalista e crítico de televisão Mauricio Stycer, tem imagens da inauguração de diversas emissoras, tem Silvio Santos, Xuxa, Jô Soares, Marcelo Adnet, Fabio Porchat, Lima Duarte, Jimmy Fallon... num programa especial sobre a TV dedicado ao ator Domingos Montagner, protagonista da novela Velho Chico, que morreu nesta semana e comoveu o país inteiro.
Criação de Marcelo Tas e Fernando Meirelles: O repórter Ernesto Varela, direto dos anos 80, mais atual do que nunca, para o #ProgramaDiferente
O tipo de reportagem que o #ProgramaDiferente faz hoje, abordando assuntos e personalidades de forma direta, indiscreta e irreverente, não chega a ser novidade. O repórter Ernesto Varela, que perguntava aquilo que todo mundo queria saber, mas ninguém tinha coragem de perguntar, já fazia isso há mais de 30 anos. Para quem não conhece, é uma criação genial de Marcelo Tas e Fernando Meirelles no período final da ditadura militar e que revolucionou o humor e o jornalismo.
Aqui você relembra alguns momentos memoráveis do personagem Ernesto Varela na época da campanha pelas Diretas, entrevistando o então líder sindical Lula e outras personalidades que fariam parte da história política do país, como Fernando Henrique Cardoso, Paulo Maluf, Eduardo Suplicy, Marta (bem antes de entrar para a política), com perguntas e respostas hilárias. Direto dos anos 80, mas parece mais atual do que nunca! Assista.
Assista o #ProgramaDiferente nº 75, de 11 de setembro de 2016
Dia 11 de setembro. Há exatos 15 anos essa data ficou marcada definitivamente na História pela série de atentados terroristas contra os Estados Unidos, que derrubaram as torres gêmeas do World Trade Center, mataram milhares de pessoas e pegaram o mundo de surpresa. Desde 2001, outros tantos atos de ódio e violência vem acontecendo. Como jornalistas, pouco podemos fazer, a não ser cumprir o dever de levar a informação ao maior número de pessoas e ajudá-las a refletir.
O fato é que nenhuma causa política, econômica, racial ou religiosa justifica o terrorismo: ataques cruéis e covardes, marcados pelo radicalismo e pela intolerância, que fazem suas vítimas entre cidadãos inocentes. Mas há de se valorizar o trabalho dos jornalistas no mundo inteiro, que retratam diariamente essas ameaças à democracia, à vida, à paz, à liberdade e aos direitos humanos. É disso que tratamos no #ProgramaDiferente desta semana: os 15 anos do 11 de setembro e os 10 anos de sucesso do Profissão Repórter, programa comandado pelo jornalista Caco Barcellos, um dos maiores repórteres do Brasil.
Num bate-papo mediado pelo jornalista Mauricio Stycer, com a participação de outros três integrantes e pupilos de Caco Barcellos no Profissão Repórter (Caio Cavechini, Gabriela Lian e Eliane Scardovelli), que também contaram suas experiências, foram debatidos o atual momento do país, os ingredientes de uma boa reportagem e a qualidade do jornalismo. Assista.
Otavio Mesquita e Amaury Jr. juntos você só assiste no #ProgramaDiferente
O #ProgramaDiferente flagrou o encontro bem-humorado dos apresentadores Otavio Mesquita e Amaury Jr., tradicionais concorrentes na programação da madrugada na TV, durante o lançamento do livro do empresário Alberto Saraiva e aproveitando o tema "25 Verbos para Construir Sua Vida". Assista.
Ouvimos ainda o publicitário Washington Olivetto, o presidente da RedeTV!, Amilcare Dallevo, e o governador Geraldo Alckmin, além dos próprios Otavio Mesquita e Amaury Jr., sobre os verbos de cada um para construir e mudar uma vida. Um dos maiores empresários do país, criador e presidente das redes Habib's e Ragazzo, Alberto Saraiva também concedeu entrevista exclusiva.
Magoada, a eterna Garota de Ipanema Helô Pinheiro aponta preconceito por idade para ausência na cerimônia de abertura das Olimpíadas Rio2016
Personagem mundialmente famosa desde o início da década de 60, Helô Pinheiro foi eternizada como a Garota de Ipanema na música de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Passado mais de meio século, ainda é uma das canções brasileiras mais tocadas e conhecidas no mundo em diversas versões, símbolo do Rio de Janeiro, tanto que foi um dos pontos altos na cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2016.
Porém, o desfile da top model Gisele Bündchen representando a Garota de Ipanema nos Jogos Olímpicos do Rio deixou Helô Pinheiro magoada pelo que considera um preconceito por sua idade. Aos 71 anos, a musa de Tom e Vinícius não foi nem sequer convidada para a cerimônia de abertura e entende, com razão, que merecia ter participado da homenagem. Assista.
Se até a Garota de Ipanema, uma mulher famosa e até hoje lindíssima, saudável e ativa, sofre preconceito por causa da idade, imagine o tamanho do problema que é o preconceito contra a pessoa idosa no Brasil e no mundo. Reveja o especial do #ProgramaDiferente sobre o idoso.
Alckmin fala sobre o impeachment e o "pós-PT" no #ProgramaDiferente
O governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), fala com exclusividade ao #ProgramaDiferentesobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a crise política e econômica do país, e revela também o que espera do período "pós-PT" para o Brasil. Assista.