elio gaspari
Elio Gaspari: Temer deveria zerar mimo do STF
Depois que o Senado aprovou o aumento de salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal, o presidente eleito Jair Bolsonaro disse o seguinte:
“Complica para a gente, quando fala em fazer reforma da Previdência, tirar dos mais pobres e aceitar um reajuste como esse. Está nas mãos do Temer. Não sou o Temer, se fosse, você sabe qual seria minha posição. (...) Não tem outro caminho no meu entender, até pela questão de dar exemplo.”
Faltam 48 dias para Temer passar a faixa a Bolsonaro. Será no mínimo um péssimo exemplo jogar uma bomba que poderá chegar a R$ 4 bilhões anuais no Orçamento de um governo que nem começou. Mas isso não é tudo.
O Senado aprovou o mimo ao apagar das luzes da legislatura por 41 votos a favor, 16 contra, 20 ausências e uma abstenção. A sessão foi presidida pelo senador Eunício Oliveira, que disputou a reeleição e foi mandado para casa. Metade da bancada que votou a favor do aumento perdeu a cadeira, como Romero Jucá, ou desistiu do Senado, como Aécio Neves. Por ordem alfabética, o primeiro senador solidário com o reajuste dos ministros foi Acir Gurgacz, que cumpre pena de quatro anos e seis meses na penitenciária da Papuda.
A votação foi uma clássica xepa de feira. O aumento tramitava no Senado desde 2016, mas Eunício Oliveira levou-o ao plenário em regime de urgência. O relator do projeto na Comissão de Assuntos Econômicos, senador Ricardo Ferraço, deu parecer contrário e votou contra o reajuste.
Na sua conta, elevando-se o salário dos ministros de R$ 33.763 para R$ 39.293 provoca-se um efeito cascata que, com o tempo, vai se espalhar por toda a administração. Na mesma sessão, os senadores votaram também o aumento do salário da procuradora-geral da República. Por mais razão que tenham os ministros com seus salários, nenhum deles passará necessidades com um salário de R$ 33.763 e outros pequenos confortos. Na maioria, são pessoas patrimonialmente seguras por fortuna familiar, acumulação, sucesso profissional e mesmo por empreendedorismo.
O senador Eunício e muita gente boa garantem que o aumento irá só para os 11 ministros ou, quem sabe, só para os juízes dos tribunais superiores. Quem já viu uma comissão de frente entrar na Marquês de Sapucaí sem que houvesse atrás uma escola de samba pode acreditar nisso.
Juízes e desembargadores admitem a possibilidade de trocar alguns de seus penduricalhos depois que houver a propagação do aumento, mas não há quem garanta o sucesso dessa manobra. Muitos juízes, como Sergio Moro, recebem o auxílio-moradia e veem nele um complemento salarial. Seu derivativo carioca, o doutor Marcelo Bretas, acumula o mimo com o da mulher, que a ele tem direito pelos seus próprios méritos. (O fato de morarem no mesmo apartamento seria irrelevante.)
O troca-troca de mimos por penduricalhos nunca foi explicado direito. Se há aí um toma lá dá cá, alguém precisa mostrar a planilha com a conta, porque até agora a Viúva só dá, nunca toma.
Os salários da Justiça estão defasados, mas não se desembaralha o novelo com mimos para ministros acompanhados de inexequíveis promessas de contenções. Tudo ficaria melhor se, em vez de uma xepa de feira, Temer vetasse o aumento aprovado para os ministros, e Jair Bolsonaro chamasse sua turma para fazer a conta direito, mostrando-a aos contribuintes.
Um veto de Temer lustrará seu fim de governo e permitirá que a questão seja zerada, para ser discutida numericamente por um governo livre de ganchos processuais.
Elio Gaspari: Os livreiros querem tungar os leitores
Está na Casa Civil da Presidência um pleito das guildas de comerciantes e editoras proibindo a concessão de descontos superiores a 10% durante o primeiro ano de venda de um livro. Se bobear, Temer sacramenta essa tunga no bolso dos leitores. A origem do pleito é uma majestosa demonstração do atraso de empresários e do oportunismo de suas corporações. Ela deriva do que seria uma crise do mercado de livros, exemplificada nas dificuldades financeiras que afogam as duas maiores redes do país, a Cultura e a Saraiva. Uma está em recuperação judicial, devendo em torno de R$ 150 milhões a bancos e fornecedores. A outra já fechou vinte lojas e sua dívida estaria em R$ 400 milhões.
Não há crise no mercado de livros. Como no de parafusos, o setor passou pelas dificuldades de todos os empresários. Neste ano o mundo dos livros cresceu 5,7% e seu faturamento aumentou em 9,3%. Também não existe crise de livrarias, pois há redes que vão muito bem, obrigado. A Cultura e a Saraiva enroscaram-se nas próprias gestões. Quem lhes manteve o crédito devia saber o que fazia. Se Temer quiser ajuda-las, pode liderar uma vaquinha. Quando as grandes redes de livrarias estavam comendo as pequenas, louvava-se a destruição criadora do capitalismo. Havia até editoras que imprimiam seus livros na China. Agora, cavalgam um falso problema e foram ao escurinho de Brasília para recorrer à capacidade destruidora do corporativismo. Grandes livreiros quebram e a conta vai para a freguesia, instituindo-se um tabelamento de preços.
O mercado de livros, como o de jornais, passa pelo choque da era digital. Primeiro surgiu a Amazon, revolucionando o setor com seu sistema de vendas. Depois veio o ebook, que compete com os volumes impressos. Assim é a vida, o automóvel quebrou as fábricas de carruagens, o CD matou o disco de vinil e a internet matou o CD. Como em Pindorama canta o sabiá, no século XIX, quando os Estados Unidos e a Europa expandiam suas ferrovias, os plutocratas lutavam para preservar a escravidão.
Em 1994, todos os donos de redes de livrarias e de grandes editoras brasileiras tinham mais patrimônio que Jeff Bezos, um papeleiro de 30 anos que pensava em criar um varejão eletrônico. Ele começou a Amazon com menos de 200 mil dólares, vendendo só livros. Metade do capital foi-lhe emprestado pelos pais e Bezos avisou que as chances de perderem tudo era de 70%. Hoje a Amazon está encostando no trilhão de dólares em valor de mercado. Esse gigante surgiu dando descontos. As guildas dos livreiros nacionais querem socializar um falso problema suprimindo-os.
Um grande Rio Branco
Está nas livrarias “Juca Paranhos , o Barão do Rio Branco”, de Luís Cláudio Villafañe Santos. É uma excepcional biografia do patrono da diplomacia brasileira, uma grande figura (1m82cm), a quem o país deve uma área equivalente à dos estados de Pernambuco, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul somados. Escrita por um diplomata de carreira, mostrou o personagem em sua intrigante grandeza. Retrata um conservador (melhor dizendo, um reacionário). Rio Branco foi monarquista enquanto pôde, achou a Abolição uma coisa precipitada e não gostava de novidades, entre elas os elevadores. Juca Paranhos era menor que seu pai, o Visconde de Rio Branco (1m92cm), teve uma juventude boêmia, engravidou, e bem mais tarde, casou-se com uma dançarina de cabaré. Costuma-se lembrar que ele começou a carreira como cônsul em Liverpool, ficando a impressão de que puseram-no no canil. Engano, era o cargo melhor remunerado do Império e Paranhos passava boa parte do tempo em Paris.
Pesquisa notável, dela surge um Barão mestre da esgrima burocrática, da manipulação da imprensa e do culto à própria glória. Tudo isso a serviço do país, numa época em que as grandes potências retalhavam a África. Morreu no gabinete de trabalho sem fazer fortuna. Villafañe Santos desmonta, como “clara mistificação”, a ideia de que Rio Branco aproximou o Brasil dos Estados Unidos. A boa relação com Washington já existia. Esse grande personagem deixou uma pergunta: Por que o Barão, tendo engravidado a dançarina com quem manteve uma relação de pouco ou nenhum afeto, teve com ela outros quatro filhos?
SAÍDA EXEMPLAR
Pode-se discutir a maneira como Michel Temer entrou no Palácio do Planalto, mas ele está saindo de forma exemplar. Temer convidou Jair Bolsonaro para acompanha-lo na reunião do G-20 que se realizará em Buenos Aires no fim deste mês. Se ele quiser, poderá ir com sua própria comitiva. Em 2016, quando Temer entrou no Planalto, havia apenas uma funcionária para recebê-lo e os computadores estavam apagados.
DELFIM AVISA
O professor Delfim Netto está convencido de que em 2019 a economia poderá crescer, revertendo o mal estar que já dura três anos. Em 1968, quando a oposição ia para a rua pedindo “Democracia e Desenvolvimento”, Delfim era ministro da Fazenda e sabia que o “Milagre Brasileiro” estava logo adiante. Veio o crescimento e ninguém se incomodou com a ditadura.
SISTEMA S
Paulo Guedes quer mexer na caixa preta do Sistema S. Trata-se de um cofre que em 2017 arrecadou compulsoriamente R$ 16,4 bilhões nas folhas de pagamento das empresas. O Sistema S é dinheiro na veia para o sindicalismo patronal, onde uma casta de dirigentes eterniza-se nos cargos. Às vezes ajudam os poderosos da ocasião. Uma nora de Lula foi funcionária do Sesi.
O último ministro da Fazenda que pensou em mexer com os barões do Sistema S foi Joaquim Levy. Apanhou de todos os lados. Guedes poderia conversar com ele, para saber de onde virão os tiros, que já começaram.
CABRAL VIVE
Sérgio Cabral rala na cadeia condenações que somam 183 anos, seu filho perdeu nas urnas o mandato de deputado federal e sua rede continua a povoar cadeias. Isso não quer dizer que esteja fora de combate. Seu cunhado Cézar Vasquez, atual superintendente do Sebrae do Rio, batalha pela recondução. Está na cadeira desde 2010.
Junto iria a presidente do Sindicato dos Joalheiros do estado, Carla Pinheiro. Os ourives do Rio foram mimados por Cabral com incentivos fiscais e dois deles mimaram-no com joias livres de nota fiscais.
O VELHO NOVO
Jair Bolsonaro nomeou a deputada Tereza Cristina (DEM-MS) para o Ministério da Agricultura. Parlamentar respeitada e líder da bancada ruralista, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias vem de uma velha cepa da oligarquia de Mato Grosso. É neta e bisneta de governadores.
Lá atrás, os oligarcas brigavam feio pelas terras devolutas onde se plantava erva-mate. Hoje defendem o agrotóxico. Desde a Regência os Corrêa da Costa governaram o estado onze vezes. Se nos séculos passados as matriarcas mandavam na sombra e bordavam em público, a nova ministra é engenheira agrônoma e empresária.
PREVIDÊNCIA
Michel Temer ainda não se convenceu de que deve tomar iniciativas fatiando alguns itens da reforma da Previdência.
Elio Gaspari: Bolsonaro precisa desacelerar
O que o governo do general egípcio Al-Sisi fez com o chanceler brasileiro Aloysio Nunes Ferreira foi uma molecagem. Cancelou a visita oficial de quatro dias que ele faria ao país a partir de amanhã. O convite partiu dos egípcios, e 20 empresários brasileiros já estavam no Cairo. Nunes Ferreira foi atingido por uma bala perdida do tiroteio trumpesco em que se meteu o candidato Jair Bolsonaro. Foi molecagem dos egípcios, porque ele não é ministro do governo do presidente eleito, mas de Michel Temer, um descendente de sírios.
Bolsonaro poderia ser Donald Trump, mas parece-se com o filipino Rodrigo Duterte, outro governante pitoresco e agressivo. Ambos têm um lado folclórico, mas Trumps abeque não pode mexer comas instituições. A decisão do candidato de levara embaixada do Brasil para Jerusalém é uma simples imitação do que fez o presidente americano. Não atende à essência das relações com Israel e prejudica os interesses nacionais com uma parte do mundo árabe.
Não foi o primeiro caso. A retórica anti-chinesa do candidato ricocheteou. O discurso anti ambientalista que contaminou sua campanha a partir de queixas do setor agropaleolítico vem sendo discretamente moderado. Isso não acontece porque Bolsonaro decidiu agradar à turma das ONGs, mas porque ouviu os grandes exportadores, que não querem tisnar suas marcas nos mercados consumidores. Diplomacia e comércio exterior funcionam direito quando trabalham em silêncio. O governo de Michel Temer começou dando caneladas mas aquietou-se. Em silêncio, poderá conseguir o fim do embargo russo às importações de carne.
Bolsonaro prometeu extraditar o asilado Cesare Battisti. Depois de receber o embaixador italiano, o presidente eleito reconheceu o óbvio: é preciso esperar apalavra do Supremo Tribunal Federal. Até lá, pode-se apenas lembrar que nos anos 60 viveu no Brasil como exilado o ex-primeiro ministro francês Georges Bidault, um dos chefes civis da organização terrorista OAS. Foi recebido no governo João Goulart e morou em Campinas durante o governo do marechal Castelo Branco.
Mesmo lidando com seus futuros ministros, Bolsonaro comete lapsos de sinceridade. Deu carta branca a Sergio Moro. Tudo bem, sabe-se que as cartas brancas são aquelas em que há mais texto, mas quando ele diz que “naquilo que nós somos antagônicos, vamos buscar o meio-termo, sou favorável à posse de arma; se a ideia dele for o contrário, tem que chegar a um meio-termo”. Só o tempo dirá onde se situa o meio termo de Moro. Uma coisa é certa, se um advogado sugere um meio-termo a um juiz, arrisca receber ordem de prisão.
Referindo-se ao plano de reforma da Previdência do superministro Paulo Guedes, o presidente eleito disse que “não está batido o martelo”. Perfeito, mas prosseguiu: “Tenho desconfiança, sou obrigado a desconfiar para buscar uma maneira de apresentar o projeto.” Ao explicar, Bolsonaro mostrou que desconfia confiando. Inverteu o lema do marechal Floriano Peixoto de “confiar desconfiando”. Ele dera carta branca ao Barão do Rio Branco, mas mandara vigiá-lo em Nova York, para saber se estava metido em conspirações monarquistas. (Não estava e nunca soube da vigilância.)
Elio Gaspari: Moro no governo dos ‘humanos direitos’
Sergio Moro lustrou a biografia de Jair Bolsonaro e de seu futuro governo ao aceitar o superministério da Justiça. Foi um tiro na mosca, pois seu trabalho à frente da Lava-Jato tornou-se um marco na História da política nacional, faxinando a corrupção do andar de cima.
Ao se sentar na cadeira, será apresentado a outro tipo de corrupção sistêmica, aquela que ofende os direitos dos cidadãos. Ele entrará num governo em que o futuro ministro da Defesa, general da reserva Augusto Heleno, disse que “direitos humanos são basicamente para humanos direitos”. Desfolhando as mazelas da criminalidade nacional, acrescentou: “É um absurdo tratar isso como uma situação normal. É situação de exceção que merece tratamento de exceção”.
Quais tratamentos de exceção Moro sancionará, ninguém sabe.
O futuro governador do Rio de Janeiro, oficial da reserva da Marinha, singra um discurso apocalíptico e anuncia que “não vai faltar lugar para colocar bandido, cova a gente cava e presídio, se precisar, a gente bota em navio em alto-mar.” Pura demagogia, e Witzel conhece a história dessas cadeias flutuantes. Elas se chamavam “presigangas” e eram usadas na Colônia e no Império. A última “presiganga” de que se tem notícia funcionou no navio Raul Soares, onde puseram presos políticos em 1964.
Os discursos repressivos de hoje têm amplo apoio popular, o que os torna mais perigosos, pois quando ficar demonstrada a vacuidade do palavrório, os demagogos mudarão de assunto.
Sergio Moro diz que a sua prioridade será o combate à corrupção e ao crime organizado. Por falta de experiência na área criminal do andar de baixo, descobrirá isso quando cair sobre sua mesa o caso de alguma roubalheira que usava um posto de gasolina da Baixada Fluminense para lavar dinheiro da corrupção e do tráfico. Puxando os fios, como ele fez em Curitiba, será fácil descobrir poderes que se instalaram no século passado, sobreviveram à ditadura, aninhados nos desvãos dos DOI e ressurgiram com a redemocratização, sambando na avenida e negociando nos palácios.
Hoje, como sempre, os ferrabrás ganham desenvoltura quando sentem-se amparados pela opinião pública. Alguns ministros da Justiça, como Seabra Fagundes e Milton Campos, sentiram o cheiro de queimado e foram-se embora. Outros, como o professor Luís Antônio da Gama e Silva, redator do AI-5, inebriaram-se. Cada um escolhe seu caminho, e Moro escolherá o seu.
Pode-lhe ser útil a lembrança do que ocorreu com Carlos Medeiros Silva quando se sentou naquela cadeira, em 1966. Um coronel que servia no gabinete apresentou-se:
— Ministro, vim conhecê-lo. Sou o representante da linha dura aqui no ministério.
Medeiros era um mineiro miúdo e discreto. Cioso da autoridade, sobretudo da sua, respondeu:
— Coronel, agradeço muito seus relevantes serviços, mas o senhor está dispensado. Agora, o representante da linha dura aqui sou eu.
O ‘Posto Ipiranga’ contatou Moro
“Isso já faz tempo, durante a campanha foi feito um contato”, disse o general da reserva Hamilton Mourão na última quarta-feira.
O vice-presidente eleito referia-se à primeira sondagem da equipe do candidato Jair Bolsonaro para atrair o juiz Sergio Moro. O intermediário, segundo o general, foi Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga” do capitão.
Segundo Moro, “isso não tem uma semana”. Portanto, teria acontecido depois do dia 27 de outubro. Mourão falou em “semanas”. Quantas?
Moro e Guedes prestariam um grande serviço à moralidade pública se esclarecessem a data precisa desse contato, até porque o próprio presidente eleito mostrou-se confuso ao tratar do episódio.
O esclarecimento seria desnecessário para qualquer outra pessoa, mas Moro interferiu no processo eleitoral no dia 1º de outubro, quando liberou um trecho da colaboração do ex-ministro petista Antonio Palocci. Foram 11 páginas de parolagem que ganharam a previsível repercussão, pois faltavam seis dias para o primeiro turno.
O “contato” teria ocorrido “durante a campanha”, o que é esquisito, mas seria jogo limpo. Se ele aconteceu antes da liberação do depoimento de Palocci, teriam sujado o jogo, e a conduta de Moro deveria ser analisada pelo Ministério Público e pelo Conselho Nacional de Justiça.
A ação do Judiciário está contaminada pela onipotência. Felizmente o Supremo Tribunal Federal derrubou todos os atos relacionados com o arrastão realizado em 17 universidades de nove estados nas últimas semanas. Todas as ações foram determinadas por juízes.
No início de outubro completou-se um ano do suicídio de Luiz Carlos Cancellier, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina mandado para a cadeia por uma magistrada e proibido de entrar na instituição.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota, pretendia votar em Bolsonaro, mas digitou 13. Resolveu fazer uma assinatura da “Folha de S. Paulo”, para entender como o presidente eleito acabará com o jornal de Octávio Frias de Oliveira e de seus filhos.
Lendo o que disseram Jair Bolsonaro e seus oráculos, o governo pretende cortar a publicidade oficial de jornais e emissoras que mentem. Por cretino, Eremildo teme que acabem aqueles que recebem publicidade oficial para mentir.
Mercado e ‘mercado’
Paul Volcker acaba de publicar nos Estados Unidos um livro de memórias. Nele conta a sua épica batalha para derrubar a inflação de dois dígitos no final do século passado. É uma ode ao serviço público, escrita por um funcionário que, aos 91 anos, ainda usa o roupão que comprou em 1953.
Com 2,01 metros, Volcker foi para a direção do Fed em 1979. Ganhava US$ 110 mil anuais e mudou-se para Washington com US$ 57.500. Alugou uma quitinete de estudante e, uma vez por semana, levava para a casa da filha suas roupas sujas. A mulher do homem mais poderoso da finança mundial, diabética e sofrendo de artrite reumática, ficou em Nova York, teve que arrumar um emprego e alugou um dos quartos do apartamento do casal.
Para a turma do papelório:
Volcker refere-se dezenas de vezes ao mercado. Num trecho, lidando com o que seria a credibilidade do presidente do Fed na praça, escreveu “mercado”, entre aspas. Quem vive no Brasil sabe como são diferentes o mercado e o “mercado”.
Para quem está de olho em um cargo na ekipekonômica de Bolsonaro:
Um dia Volcker foi chamado à Casa Branca e levado para a biblioteca (onde não haveria grampo, acredita). Lá, diante de um silencioso presidente Ronald Reagan, o chefe da Casa Civil, James Baker, disse-lhe: “O presidente ordena que você não suba os juros antes da eleição”.
Volcker conta: “O que fazer? O que dizer? Fui-me embora, sem abrir a boca.”
Reagan já morreu, mas o chefe da Casa Civil, Baker, que está vivo, contestou apenas o fraseado e a palavra “ordena”. De qualquer forma, os juros ficaram onde estavam.
Elio Gaspari: Arrume a quitanda, capitão
Desde a hora em que a candidatura de Jair Bolsonaro encorpou, sua vitória era ao menos uma possibilidade. Abertas as urnas, ele levou a Presidência da República, elegeu três governadores e deu carona aos candidatos vitoriosos no Rio, São Paulo e Minas Gerais. Seu partido tinha oito deputados e ficou com 52. Vendaval semelhante não acontecia desde 1974. Naquela eleição, o eleitorado derrotou a ditadura. Nesta, derrubou peças de dominó. O voto anti-PT não foi tudo. Veio também um recado em relação aos costumes e outro, temível, associado à segurança pública. Talvez o ano de 1968 tenha terminado no Brasil durante seu cinquentenário. (A bandeira “Seja Marginal, Seja herói”, de Hélio Oiticica, é de 68.)
Quem achava que boi, Bíblia e bala eram coisas de outro Brasil, calado, acordou com o estrondo de um país onde o boi empurra a economia, metade da população é favorável à pena de morte, e a Bíblia é o livro mais lido. Infelizmente, as turmas da bala e o setor paleolítico da turma do boi têm uma relação violenta com o andar de baixo.
Os golpistas e os demófobos votaram em Bolsonaro e em seus candidatos, mas nem todos os seus eleitores podem ser considerados golpistas ou demófobos. A relevância de cada grupo será medida ao longo do mandato do capitão, e caberá a ele administrar a quitanda, defendendo a República de golpes, demofobias e, sobretudo, melhorando a administração pública. Nos dias seguintes à vitória, tudo são planos, promessas e ambições, mas Bolsonaro foi eleito para fazer um serviço que durará quatro anos, e pouco se sabe de seus projetos específicos.
Um rápido episódio ocorrido num hotel da Barra da Tijuca na segunda-feira mostra que o capitão precisa tomar conta da quitanda. O economista Paulo Guedes estava numa poltrona num saguão de hotel e começou uma entrevista. Irritou-se com uma pergunta sobre o Mercosul e deu uma resposta desconexa, pontilhada por uma impropriedade, pois na sua formação essa zona de comércio nada teve de ideológica. O Mercosul foi criado em 1991, durante o governo de Fernando Collor de Mello, e nele só estavam o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Até aí, tudo bem.
Depois de se irritar, Guedes reclamou da situação em que estava, espremido na poltrona, cercado de microfones diante de perguntadores desorganizados. Reclamou: “Eu não vou falar assim, não. Tem que ser organizado. Está muito desorganizado (...) São perguntas completamente desconexas. (...) Não é possível falar com 30 pessoas de uma vez só. Não dá, é simples como isso. Olha a posição em que eu estou.”
Tinha toda a razão, mas quem provocou a bagunça foi ele quando aceitou conversar com jornalistas naquela posição. O doutor pode consultar os arquivos em busca de uma cena semelhante com Pedro Malan, ministro da Fazenda de FHC. Ele nunca desqualificou perguntas nem elevou a voz. Ter jornalistas farfalhando por perto faz bem ao ego, mas exige bons modos.
Tom araque o doutor entenda de economia e aprenda a conversar com repórteres. Quitandas têm regras. As berinjelas devem ficar à vista do freguês, e o caixa, atrás do balcão. Nada teria custado a Guedes dizer que não falaria num saguão, muito menos espremido numa poltrona. Uma palavrinha ao gerente do hotel seria suficiente para que desse uma entrevista confortável, calma e, sobretudo, informativa.
Jair Bolsonaro colecionou pérolas de impropriedades dando entrevistas em corredores e batendo boca com colegas na Câmara. Agora, o jogo é outro. Ele não deve ser imitado, pois a quitanda precisa de arrumação.
Elio Gaspari: Os recuos de Bolsonaro foram um aviso
O candidato acreditava que óleo de pirarucu curava reumatismo ou queria que os outros acreditassem?
Jair Bolsonaro disse que fundiria os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Agora diz que pode mudar de ideia. Juntar a Fazenda com o da Indústria? Pensou melhor e vai desistir. Abandonar o acordo climático de Paris? Ameaçou, mas vai ficar. Encrencar com a China? Nem pensar. Formar uma base parlamentar baseada em princípios programáticos? Tudo bem, mas está catando ministros na cesta onde o eleitorado jogou candidatos do DEM.
Bolsonaro encantou o mercado ao reconhecer que não entende de economia e por isso faria do doutor Paulo Guedes o seu "Posto Ipiranga". Como ele nunca produziu um prego, os papeleiros passaram a cultivar a ideia de que Guedes também precisaria de seus "Postos Ipiranga". De posto em posto, quem quiser comprar um prego acabará procurando uma velha e boa loja de ferragens, onde os pregos nacionais custam mais caro que os chineses.
A sabedoria convencional ensina que promessa de candidato é uma coisa, realidade de governante é outra. Mesmo assim, Bolsonaro ficou fora da curva. Quando ele falou numa reconstrução da base parlamentar a partir de princípios, sabia que estava vendendo óleo de pirarucu como cura de reumatismo.
No caso das fusões de ministérios, do vale-tudo ambiental e das relações com a China, exercitava o próprio primarismo. Ele pode querer agradar ruralistas interessados na expansão da área de cultivo da soja no Cerrado, mas precisa combinar com as grandes empresas internacionais que comercializam o grão e precisam defender suas marcas.
Matar gente na periferia das grandes cidades causa constrangimentos pelo mundo afora, mas esse sentimento é difuso. Agredir o meio ambiente compromete a reputação dessas grandes empresas.
Não se pode dizer que Bolsonaro recuou. Fernando Haddad recuou na sua ideia de forçar uma Assembleia Constituinte. Já sua autocrítica em relação às roubalheiras petistas é apenas um truque. Só se recua de uma posição onde se esteve, e Bolsonaro nunca esteve de fato nas posições que defendia há meses, ou há anos, quando defendia o fuzilamento de Fernando Henrique Cardoso. Eram truques, como o de Donald Trump garantindo que Barack Obama tinha nascido no Quênia.
Elio Gaspari: ‘Não quero ter parte nisso’
Na noite de domingo o Brasil terá escolhido um novo presidente da República. O resultado virá da vontade dos eleitores e, seja qual for o voto que se tenha dado, cada um deles terá parte no que vier a acontecer. Milhões de pessoas que votaram em Dilma Rousseff ou em Aécio Neves tiveram motivos para se arrepender mas, como hoje, era um ou outro. O arrependimento acompanhou também os eleitores de Fernando Collor em 1989 e de Jânio Quadros em 1960. Nenhum deles elegeu-se sugerindo medidas que pudessem prenunciar uma ameaça às instituições democráticas.
O caso agora é outro. O deputado Eduardo Bolsonaro tratou de uma situação hipotética de conflito com o Supremo Tribunal Federal e disse que bastariam um cabo e um soldado para fechá-lo. Um general da reserva, eleito deputado federal pelo PSL depois de ocupar a Secretaria de Segurança de Natal, defendeu o impeachment e a prisão de ministros do Supremo: “Não tem negociação com quem se vendeu.” Antes dele, um general da reserva que disputaria sem sucesso um cargo eletivo disse que “Corte que muda de decisão para beneficiar criminoso não é Corte, é quadrilha”.
O general Hamilton Mourão, também da reserva e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, elaborou sobre o mecanismo do “autogolpe”. Noutra digressão, mencionou as virtudes de uma Constituição redigida por sábios e ratificada num plebiscito. Jair Bolsonaro prometeu o fim do “ativismo” e anunciou que “os marginais vermelhos serão banidos da nossa pátria”. Como?
Essas foram afirmações de candidatos, feitas em diferentes contextos, às vezes partindo de situações hipotéticas. Não se deve esquecer que o deputado petista Wadih Damous, numa argumentação que nada teve a ver com a retórica bolsonarista, já sugeriu “fechar o Supremo Tribunal Federal” para criar uma Corte Constitucional. O doutor foi um dos marqueses da OAB.
Bolsonaro já prometeu mais de uma dezena de providências que dependem de reformas constitucionais. Elas precisam do voto de três quintos da Câmara e do Senado. Serão necessários 308 dos 513 deputados e 49 dos 81 senadores. Mesmo tendo formado a segunda maior bancada da Câmara, o PSL não os tem. Como pretende consegui-los, é outra história. Admitindo que os consiga, será o jogo jogado, e a vida seguirá. Se não conseguir, vem aí uma crise anunciada.
O eleitor ficou entre a cruz e a caldeirinha. Até o dia da posse, tudo será encanto e sedução. Como ensinou Marco Maciel, “as consequências vêm depois”. A essência da questão está na parte que caberá a cada um quando elas chegarem.
Há casos em que o cidadão tem que traçar a linha que não atravessará. No dia 29 de maio de 1966, o marechal Cordeiro de Farias entrou no gabinete do presidente Castelo Branco. Ele acabara de capitular diante da candidatura do ministro da Guerra, Artur da Costa e Silva, e Cordeiro era o seu ministro do Interior. Aos 65 anos, estivera em todas as encrencas militares da primeira metade do século, da Coluna Prestes à deposição de João Goulart. Como general, comandou a Artilharia Divisionária da FEB na Itália.
No encontro, Cordeiro disse ao presidente: “Você é generoso com o Costa e Silva, eu sou justo. Você sabe que ele vai afundar o país, pois é incapaz, e eu não quero ter parte nisso.”
Cordeiro deixou o ministério e foi para casa. Costa e Silva assumiu em 1967 e afundou o país em 1968, baixando o Ato Institucional nº 5.
Numa manhã de agosto de 1976, em cena emocionante, o velho marechal entrou, de bengala, no saguão onde se velava o corpo de Juscelino Kubitschek. Doze anos antes, havia votado pela sua cassação, mas não teve parte na ascensão de Costa e Silva.
Elio Gaspari: Breve tratado dos chatos de eleição
Conversar sobre política exige um mínimo de intimidade, alguma educação e, acima de tudo, um propósito
Faltando pouco para o segundo turno, está à solta o chato eleitoral. É um personagem que tenta transformar qualquer conversa em discussão política para defender seu candidato. Assim como sempre haverá gente que enfia o dedo no nariz, não há como evitar que ele exista. Pode-se limitar o alcance de sua chateação cortando-se polidamente o assunto. O general Alfredo Malan tinha uma fórmula: “Política e jogo de cartas me dão sono”. (Não era verdade, mas funcionava.)
Há dois tipos de chatos eleitorais.
O primeiro, benigno, é o militante. Ele supõe que sua palavra iluminada pode conseguir um voto para seu candidato. Esse chato pode ser neutralizado com uma simples mudança de assunto. O melhor remédio é deixá-lo falar o tempo que quiser. Interrompê-lo será estimulá-lo.
O segundo chato eleitoral, maligno, quer vender seu candidato, mas há nele algum tipo de insegurança. Fez sua escolha mas busca apoio, cumplicidade.
Esse é o tipo mais desagradável e perigoso, porque precisa de uma discussão. Afinal, só assim poderá se convencer que fará o certo, pois mais gente decidiu como ele. Quanto mais corda recebe, mas enfático ou radical se torna. Nesse caso o culpado pela chateação será quem lhe deu corda. (Trocar ideias com um eleitor de Bolsonaro tem uma complicação exclusiva, pois o candidato não quer debater as suas.
Se nenhum recurso der certo, pode-se recorrer ao truque do deputado Temperani Pereira. Depois de ouvir uma exposição de um colega ele lhe disse: “Sua opinião me deixa incorrobúvel e imbafefe”.
Depois comentou: “Quero ver ele achar essas palavras no dicionário”.
MEDO MÚTUO
O pior sinal do tamanho do ódio e do medo que se espalharam pela política pode ser comprovado nas ruas. Não há carros com adesivos dos candidatos.
OLGA BENÁRIO
Chegou ao mercado um lote de uma centena de cartas de Olga Benário, a mulher de Luís Carlos Prestes. Há algumas fechadas, outras lhe eram endereçadas e muitas que teriam sido manuscritas por ela.
Olga foi presa com Prestes em 1936. Meses depois Getúlio Vargas deportou-a para a Alemanha. Grávida, ela teve um pedido de habeas corpus negado pelo Supremo Tribunal Federal. Em 1942, Olga foi mandada para a câmara de gás no campo de Bernburg.
RETROVISOR
Diante do desempenho do empresário Romeu Zema na disputa do pelo governo de Minas fica uma pergunta inútil para quem está assustado com a situação do Rio de Janeiro.
O que aconteceria se o partido Novo tivesse lançado o economista Gustavo Franco e se ele topasse disputar o palácio Guanabara?
O ex-presidente do Banco Central deixou o PSDB e filiou-se ao Novo quando ele era apenas uma ideia.
GENERALÔMETRO
Como os generais voltaram ao noticiário, vale a pena usar um filtro para medir o peso de suas opiniões junto à tropa.
As posições de generais que estão na reserva geralmente valem pouco. Muitas vezes, nada.
Generais da ativa, quando falam, é bom prestar atenção. É difícil, mas deve-se ouvir sobretudo o silêncio dos generais da ativa que não falam.
1968, 1978
Faltou sorte a Jair Bolsonaro na quinta-feira, dia 11, quando ele disse numa entrevista que seu objetivo é trabalhar para criar um “Brasil semelhante àquele que tínhamos 40, 50 anos atrás”.
Há 50 anos, no mesmo dia 11 de outubro, no Superior Tribunal Militar, o general Pery Bevilaqua votou pela concessão de um habeas corpus para o estudante Honestino Guimarães. Ele sustentava que juízes militares não deviam julgar atos políticos de civis e disse o seguinte: “Quando a política entra por uma porta do quartel, a disciplina sai pela outra —tal desvirtuamento da finalidade das Forças Armadas (...) está comprometendo seriamente a disciplina”.
A anarquia militar prevaleceu em 1968, e o general Pery foi tirado do STM. Honestino desapareceu em 1971. Em 1978, o general lançou o Comitê Brasileiro pela Anistia.
MORO SE EXPLICA
Pode-se fazer tudo pelo juiz Sergio Moro, menos papel de bobo.
Explicando ao Conselho Nacional de Justiça por que divulgou um petisco da colaboração do ex-comissário Antônio Palocci seis dias antes do primeiro turno, ele ofereceu três pérolas.
Numa disse que “o conteúdo do depoimento sequer se revestiu de grande novidade”. Tem toda a razão.
Noutra informou que “caso fosse intenção influenciar nas eleições teria divulgado a gravação o vídeo do depoimento, muito mais contundente do que as declarações escritas e que seria muito mais amplamente aproveitada para divulgação na imprensa televisiva ou na rede mundial de computadores”. Se não havia o propósito, resta saber qual a intenção dessa frase a esta altura do campeonato, mesmo sabendo-se que as malfeitorias do detento Palocci são notórias.
Na terceira, informou: “Não foi, ademais, o Juízo quem inventou o depoimento de Antônio Palocci Filho ou os fatos nele descritos”. Ainda bem.
DUAS JOIAS
Chegaram à livrarias americanas dois grandes livros. Um é “Capitalism in America”, de Alan Greenspan, o famoso ex-presidente do Fed, em parceria com o jornalista Adrian Wooldridge. O outro é “These Truths” (“Essas Verdades”), da professora Jill Lepore, de Harvard.
Ambos contam a história dos Estados Unidos, de Cristóvão Colombo a Donald Trump. Greenspan e Wooldridge produziram uma monumental descrição do que vem a ser a “destruição criadora” do capitalismo americano. Lidam com estatísticas com a clareza dos santos. Uma frase que só Greenspan poderia assinar, vale o livro. Referindo-se a Alexander Hamilton, o formulador das bases da economia americana diz seguinte: “Ele era um gênio nato do calibre de Mozart e Bach”.
“Capitalism in America” é uma cantata à construção (e destruição) do andar de cima. “These Truths”, da professora Lepore, conta a mesma história, olhando para o andar de baixo, com os pobres, os negros, os índios e as mulheres.
Os dois livros têm desfechos semelhantes.
Greenspan e Wooldridge: “Donald Trump é a coisa mais próxima de um populista latino-americano produzida nos Estados Unidos”.
Lepore: “A eleição de Trump trouxe uma onda. Vários comentaristas anunciaram o fim da República. A retórica de Trump foi apocalíptica e absoluta”.
Muita gente do “mercado” deveria ler pelo menos o livro de Greenspan. Ele diz: “No Brasil neofeudal, o governo deu imensos pedaços de terra aos grandes proprietários. Na América capitalista, ele deu terras às pessoas comuns, com a condição de que irrigassem o solo com seu trabalho”.
PISQUE PARA NEIL
Está nos cinemas e nas livrarias “O Primeiro Homem”, com a história do piloto Neil Armstrong, o americano que pisou na Lua em 1969. Grande sujeito, exemplo das virtudes do homem simples. Foi uma celebridade modesta e fria. Pouco antes de seguir viagem, um jornalista perguntou-lhe o que gostaria de levar para a Lua. “Mais combustível”, respondeu.
Quando ele morreu, em 2012 aos 82 anos, sua família pediu: “Quando você sair à noite, vendo a Lua sorrir, pense em Neil Armstrong e mande-lhe uma piscadela”.
Elio Gaspari: Caveira!
Comparar Jair Bolsonaro a Donald Trump pode ser até chique, mas é o mesmo que viver na Barra da Tijuca pensando que se está em Miami. A alma da retórica do capitão está bem mais longe, nas Filipinas. Seu presidente chama-se Rodrigo Duterte, prometeu reformas econômicas e celebrizou-se pela política de combate à criminalidade, sobretudo ao tráfico de drogas.
Visitando o quartel do Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio, Bolsonaro disse à tropa que “podem ter certeza, chegando (à Presidência), teremos um dos nossos lá em Brasília”. Em seguida, deu o grito de guerra da corporação: “Caveira!”
Comparado com Duterte, Bolsonaro é uma freira, pois o presidente filipino vai além: “Hitler matou três milhões de judeus. Temos três milhões de viciados, eu gostaria de matá-los.” Está cumprindo. Em dois anos de governo, morreram 4.500 pessoas, segundo as estatísticas oficiais, e 12 mil, segundo organizações da sociedade civil.
Como Bolsonaro e Donald Trump, Duterte manipula sua incontinência verbal. Põe na roda a mãe de quem lhe desagrada, do Papa ao presidente Barack Obama. Quando uma missionária australiana foi morta e estuprada, ele disse que lastimava o crime porque ela “era tão bonita, foi um desperdício”. Em alguns casos, desculpou-se.
Aos 75 anos, tem o cabelo curto e negro de tintura, gosta de andar de motocicleta, teve um divórcio agreste, propala sua virilidade e as virtudes da pílula azul. Ele diz que “meu único pecado são os assassinatos extrajudiciais”.
O nome desse jogo é “Esquadrão da Morte”, coisa conhecida nas Filipinas e no Brasil. O de cá brilhou durante o governo de Juscelino Kubitschek, glamourizado pela imprensa com o nome de “Homens de Ouro”. Chefiava a polícia do Rio de Janeiro o general Amaury Kruel. Anos depois, seus colegas de tropa disseminavam histórias comprometedoras sobre sua honorabilidade. Mais tarde, surgiu a Scuderie Le Cocq, cujo símbolo era uma caveira. Seu presidente era o detetive Euclides Nascimento. Em 1971, ele comandava também uma quadrilha de contrabandistas à qual anexou-se o capitão Ailton Guimarães Jorge, com subalternos que estiveram lotados no DOI do I Exército. Em São Paulo, a estrela do “Esquadrão” era o delegado Sérgio Fleury, o matador de Carlos Marighella. As patrulhas de Fleury, como as de Duterte, penduravam cartazes em traficantes mortos. Faltava dizer que eram bandidos de quadrilhas rivais.
Se “execuções extrajudiciais” fossem remédio, o Brasil seria uma Dinamarca. Em 1970, uma pesquisa realizada no Rio e em São Paulo mostrou que 46% dos entrevistados estavam a favor do “Esquadrão”.
Há uns 20 anos, quando surgiram as primeiras milícias nas cidades brasileiras, houve quem achasse que elas eram remédio contra o crime. Passou o tempo, e os problemas agora são dois: o crime e as milícias. A ideia do combate aos bandidos partindo da suposição de que “direitos humanos” não devem ser confundidos com “direitos dos manos” (palavras de Jair Bolsonaro) pode estatizar algumas “boas” milícias.
Em dezembro de 1993, quando a polícia colombiana botou para quebrar no combate aos bandidos e conseguiu matar o traficante Pablo Escobar, símbolo do narcotráfico latino-americano, os louros da vitória foram para o presidente César Gaviria. Conhecendo a questão da violência e do tráfico, no ano passado ele escreveu um artigo intitulado “O presidente Duterte está repetindo meus erros”.
O filipino respondeu: “Isso só seria possível se eu fosse um idiota, como você”.
A popularidade de Duterte está em 75%. Vive-se melhor na Colômbia.
Elio Gaspari: O delegado viu paz e amor na suástica
Quem marcou a barriga da jovem inverteu a perna do S, mas sabia muito bem o que estava fazendo
Uma jovem de 19 anos contou na terça-feira à polícia de Porto Alegre que na noite anterior vestia uma camiseta com o slogan “Ele Não”, desceu de um ônibus e foi agredida por três pessoas. Contou ainda que, imobilizada, fizeram-lhe seis talhos na barriga, marcando-a com uma suástica.
Ainda não se conhecem as circunstâncias do episódio, e na quinta-feira a jovem, que não teve o nome revelado, desistiu da denúncia. A investigação prossegue. Um dia antes da desistência, o delegado Paulo César Jardim, tendo visto uma fotografia dos ferimentos, deu uma entrevista aos repórteres Kelly Matos e Pedro Quintana com suas observações preliminares.
Ele repetiu seis vezes que ali não havia uma suástica. Informando que é um “especialista nesta área”, revelou que a cruz gamada do nazismo não tem aquele formato, pois a perna do “S” estava invertida. Segundo Jardim, “o que temos é um símbolo milenar religioso budista, símbolo de amor, paz e harmonia”. (A fotografia está na rede, bem como os 16 minutos do áudio da entrevista.)
Quando lhe perguntaram se havia sentido em uma pessoa marcar a canivete um “símbolo de amor, paz e harmonia”, ele respondeu o seguinte: “Quem fez, foi, sei lá (...) Papai Noel, enfim, o que a gente tem é isto”. Categórico, acrescentou: “Não é uma suástica, isso eu afirmo com absoluta convicção”.
O delegado foi didático: “O movimento neonazista, quando ele iniciou, a partir de 1930, ele precisava ser representado por símbolo, um lado esotérico, (...) O que é que aquelas pessoas que circundavam Hitler decidiram? Decidiram que buscariam um símbolo que trouxesse confusão e trouxesse harmonia para o povo alemão. Então o que é que eles pegaram? Pegaram o símbolo budista de paz, amor e fraternidade e inverteram ele”.
Tudo errado. O nazismo (nada a ver com “neo”) bem como a suástica surgiram em 1920, e ela não chegou à Alemanha pelo caminho da cultura indiana. Até sua apropriação pelo Partido Nacional Socialista, tinha vários significados, inclusive o de trazer sorte. Para Hitler, tratava-se de um símbolo do arianismo e da pureza racial.
Sejam quais forem as circunstâncias do episódio, quando aparece uma pessoa com uma suástica na barriga e um delegado como o doutor Jardim diz o que ele disse, algo de muito ruim está acontecendo.
Paris, 8 de junho de 1942
Hélène Berr tinha um diário. Tinha 21 anos, era judia e rica. Passava os dias na Sorbonne estudando literatura inglesa, tocava violino e estava apaixonada, de bem com a vida. Ela escreveu:
“Hoje é o primeiro dia em que me sinto num feriado. O tempo está glorioso e a chuva de ontem trouxe ar fresco. Os pássaros estão cantando. É também o primeiro dia em que vou usar a estrela amarela. Esses são os dois lados da vida de hoje: juventude, beleza e ar puro, tudo numa só linda manhã: a barbaridade e o mal, representados nesta estrela amarela.”
Enquanto Anne Frank escreveu seu diário no sótão de Amsterdã onde vivia escondida com a família, Hélène vivia o ocaso da paz dos judeus franceses. Deportada para a Alemanha, três meses antes da libertação de Paris, ela morreu em 1945 no campo de concentração de Bergen-Belsen, pouco antes da chegada das tropas inglesas.
Quem marcou a barriga da jovem gaúcha inverteu o traço da suástica, mas sabia o que estava fazendo.
Caos jurídico
Juízes e procuradores estragaram o equilíbrio da eleição, comprometeram a neutralidade dos poderes constituídos e afetaram a qualidade de suas próprias posturas.
O juiz Sergio Moro liberou um pedaço desconexo e inconclusivo da colaboração do ex-ministro Antonio Palocci, atual hóspede da Federal de Curitiba. Fez isso seis dias antes da eleição.
O juiz Marcelo Bretas, a quem se deve o encarceramento de Sérgio Cabral, felicitou publicamente os dois senadores eleitos pelo Rio de Janeiro.
Já o Ministério Público Federal de Brasília soltou a informação de que o economista Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga” de Jair Bolsonaro, está sendo investigado porque encontraram-se “indícios relevantes” de malfeitos nas suas transações financeiras com fundos de pensão estatais. Fez isso dias antes do segundo turno da eleição.
Moro e o MP de Brasília não precisavam permitir que suas ações fossem confundidas com o calendário eleitoral. Bretas não precisava botar suas preferências eleitorais na vitrine.
Os doutores atiraram para todos os lados. Falta de sorte para quem os paga acreditando que são servidores neutros ou, pelo menos, discretos.
Já o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Antonio Dias Toffoli, diz que a deposição de João Goulart, em 1964, não foi “golpe” nem “revolução”, mas “movimento”. Faltou encaixar o “movimento” no Ato Institucional nº 5, que suspendeu o habeas corpus e fechou o Congresso.
As palavras de Toffoli ofendem a memória de Francisco Campos, um tremendo jurista, encantado por ditaduras. Foi ele quem construiu o conceito de “revolução” ao redigir o preâmbulo do Ato Institucional de abril de 1964. Campos não se incomodaria com o descarte da palavra que usou. Como zelava pelo vernáculo e pelo direito, sofreria ao saber que um regime teria virado um “movimento”.
Recordar é viver
Quem estudou o maremoto da eleição acha que sua origem está nas manifestações de 2013, quando milhões de pessoas tomaram as ruas para reclamar de tudo.
Em abril já havia acontecido protestos contra os aumentos de tarifas de transportes em Porto Alegre e Goiás. Nas noites de 6 e 7 de junho, a PM paulista transformou o centro da cidade numa praça de guerra.
Na noite do dia 10, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad estavam em Paris, participando de um evento. À noite, num jantar, fizeram uma dupla interpartidária e cantaram “Trem das Onze”.
Abin
Está passando em branco na campanha presidencial o tema do fortalecimento da Abin. A Agência Brasileira de Inteligência seria um órgão capacitado a informar ao presidente da República quem são os colaboradores que pretende levar para o governo.
Como a Abin sucedeu ao falecido Serviço Nacional de Informações, herdou a urucubaca do ancestral. A documentação conhecida do SNI permite dizer que ele funcionava como guarda pretoriana, metia-se onde não devia e tinha uma competência pra lá de discutível. Hoje a Abin tem servidores concursados e deve ser capaz de informar que um gatuno, gatuno é.
Olhando-se para os prontuários de muitas autoridades nomeadas nas últimas décadas, percebe-se que os presidentes ignoram fatos básicos, como se não soubessem que a avenida Atlântica é paralela à Nossa Senhora de Copacabana.
Utilizando-se o filtro consultivo da Abin, fica registrado que ela mostrou o que havia de podre na biografia do escolhido e retira-se de quem nomeia o álibi do “eu não sabia”.
Elio Gaspari: Jaques Wagner entra em campo
Fernando Haddad e o comissariado petista querem costurar uma “frente democrática” para derrotar Jair Bolsonaro e puseram em campo o ex-ministro e ex-governador da Bahia Jaques Wagner. Se conseguirem, no mínimo, levantam o nível da campanha.
Wagner é competente, e seu desempenho na Bahia comprova isso. Governou o estado de 2007 a 2015, elegeu o sucessor que, por sua vez, acaba de se reeleger. Se lhe faltasse credencial, no início do ano defendia uma chapa com Ciro Gomes e Haddad na vice. Foi atropelado pelo oráculo de Curitiba, recolheu-se e foi tratar de sua campanha para o Senado.
As duas principais pontas dessa costura são Ciro Gomes e Fernando Henrique Cardoso. Ciro tem um capital eleitoral e já disse que “ele não”. Ainda falta para que entre na campanha de Haddad. Ele seria um corpo estranho no estilo que Haddad apresentou no primeiro turno. A questão será saber em que tipo de campanha e de propostas cabem os dois.
Só o tempo dirá onde o PT estava com a cabeça quando atropelou-o e, sobretudo, quando Dilma Rousseff descumpriu a palavra dada ao irmão de Ciro, que lhe oferecia uma cadeira de senadora pelo Ceará. Roberto Mangabeira Unger, velho amigo dos Gomes, já conversou com Haddad.
A ponta de Fernando Henrique Cardoso é mais delicada. Ele está fechado em copas, numa dupla negativa: “Não concordo com o reacionarismo cultural e o descompromisso institucional de uns vitoriosos e tampouco com a corrupção sistêmica e com o apoio ao arbítrio na Venezuela e em outros países.” Para tirá-lo dessa posição, será necessária muita conversa. Mesmo assim, FHC sabe o peso biográfico de um eventual silêncio. São duas costuras possíveis para Jaques Wagner.
Uma parte do fenômeno Bolsonaro saiu do rancor petista, da eternizada adoração oracular a Lula e, sobretudo, da resistência dos comissários à autocrítica. Muitas pessoas podem até votar em Haddad, mas se o preço for defender a moralidade petista no balcão de uma lanchonete, acabam votando no capitão. O rancor produzido pela onipotência virou veneno e ainda está lá.
Mesmo depois do massacre de domingo, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse o seguinte: “Nós vamos fazer um chamamento a todos os democratas. (...) Não temos restrição, se as pessoas tiverem noção do que está em jogo no Brasil e defenderem a democracia, têm que estar nessa caminhada.”
Quem a ouvisse acreditaria que falava a uma plateia de militantes. “Têm que estar”, por que, cara pálida? A causa democrática não precisa do toque de clarim do PT, é justo o contrário.
A ideia segundo a qual o programa do PT precisa apenas de ajustes é suicida. Quem propõe uma frente democrática não fala essa língua, até porque, felizmente, os comissários já jogaram no mar a proposta de uma Constituinte. A maior frente já construída na política brasileira foi a das Diretas Já, de 1984. Nela entrou até Tancredo Neves, que, com fina percepção, a considerava “necessária, porém lírica”.
Na sua fala ao “Jornal Nacional”, Jair Bolsonaro desautorizou a sugestão de Constituinte de sábios e a referência ao “autogolpe” de seu vice Hamilton (e não Augusto) Mourão. Fica combinado assim. Faltou esclarecer o significado de uma frase na sua saudação de domingo: “Vamos botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil.”
Sem ativistas, não há democracia. Não existiriam o PT, nem o PRTB de Levy Fidelix com seu Aerotrem. Bolsonaro também precisa de um filtro moderador, mas talvez a banda golpista de seu eleitorado nem o queira.
Elio Gaspari: A utilidade do fator arrependimento
Numa eleição influenciada pelo voto contra, talvez seja melhor pensar no risco embutido nessa decisão
Hoje o eleitor poderá escolher entre 13 candidatos. Nos últimos 29 anos, os brasileiros elegeram quatro pessoas para a Presidência: Fernando Collor, FHC, Lula e Dilma. Pode-se dizer que uma boa parte dos eleitores de Collor e Dilma se arrependeram do voto. Muita gente que preferiu Aécio Neves também deve ter se arrependido, e essa história mostra o risco embutido em eleições que desembocam em votos contra.
Quem já votou para presidente terá mais facilidade em lidar com o fator arrependimento, quer pelos candidatos em quem votou, quer por aqueles em que se orgulha de não ter votado.
Em todos os casos, pode-se ir à seção eleitoral movido pelo voto contra A ou B. No caminho, vale a pena pensar no fator arrependimento. No dia da eleição, o voto contra pode ser glorioso como uma vitória no futebol. Ao contrário das disputas esportivas, eleição elege e o candidato assumirá a Presidência em janeiro. Daí em diante o eleitor recebe a parte que lhe cabe desse latifúndio.
Muitos eleitores de Dilma, Collor e, lá atrás, Jânio Quadros arrependeram-se ou arrumaram justificativas fúteis para suas escolhas. Muitos colloridos votaram contra Lula, sabendo quem era a turma do “Caçador de Marajás”.
Os janistas votaram contra a turma de Juscelino Kubitschek, mas sabiam que Jânio era, no mínimo, “a UDN de porre” (palavras de Afonso Arinos, referindo-se à União Democrática Nacional, o partido que se ajoelhou para Jânio).
Eleições embebidas em votos contra produzem vencedores, mas a experiência mostra que, em pelo menos dois casos, entregaram o Brasil a presidentes desastrosos.
Receita para um autogolpe
Numa digressão genérica, o general Hamilton Mourão, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, referiu-se ao mecanismo do “autogolpe”, a que um governo recorreria, numa situação de grave crise política. “Já houve em outros países. Aqui nunca houve.”
Houve em 1965, 1968, 1969 e 1977, mas deixa pra lá, porque foram autogolpes dentro de um regime ditatorial. Vale a pena revisitar o autogolpe tentado, sem sucesso, por Jânio Quadros.
Jânio assumiu a Presidência em janeiro de 1961, teve uma relação hostil com o Congresso e com as lideranças de sua própria base. Na manhã de 25 de agosto, sem ter falado com ninguém, renunciou ao cargo.
No dia seguinte, ele disse ao jornalista Carlos Castello Branco, seu assessor de imprensa: “Nada farei por voltar, entrementes considero minha volta inevitável. Dentro de três meses, se tanto, estará na rua, espontaneamente, o clamor pela reimplantação do nosso governo”. Muita gente achava boa a ideia e havia antecedentes na cena internacional. Um mês depois da posse de Jango, a CIA informava ao presidente John Kennedy que a ideia da volta de Jânio ganhava força.
O autogolpe de Jânio fez água porque foi um lance solitário, amalucado. Além disso, o vice era João Goulart, mal visto nas Forças Armadas e seu adversário.
Num exercício de passadologia misturada com o presente, se o vice de Jânio fosse um parceiro fiel como o general Mourão e os dois renunciassem juntos, a Constituição de 1988 diz que “far-se-á eleição 90 dias depois”. Ambos poderiam se candidatar, pois se tivessem continuado no cargo estariam habilitados para disputar a reeleição.